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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PLANEJAMENTO E GESTÃO PÚBLICA MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS NO JUIZADO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE- PB CAMPINA GRANDE, PB JUNHO-2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA - UEPB

PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISA

CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO EM PLANEJAMENTO E GESTAtildeO PUacuteBLICA

MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MEacuteLO

IMPLEMENTACcedilAtildeO DE MEDIDAS PROTETIVAS NO JUIZADO DA VIOLEcircNCIA

DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER NO MUNICIacutePIO DE CAMPINA

GRANDE- PB

CAMPINA GRANDE PB JUNHO-2014

1

MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MEacuteLO

IMPLEMENTACcedilAtildeO DE MEDIDAS PROTETIVAS NO JUIZADO DA VIOLEcircNCIA

DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER NO MUNICIacutePIO DE CAMPINA

GRANDE- PB

Trabalho de Conclusatildeo de Curso Apresentado como Preacute-requisito para Obtenccedilatildeo do Titulo de Especialista em Planejamento e Gestatildeo Publica Aacuterea de Concentraccedilatildeo Gestatildeo Publica Orientadora Profordf Drordf Geuda Anazile da Costa Gonccedilalves

CAMPINA GRANDE ndash PB

2014

Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na forma impressa como eletrocircnicaSua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que nareproduccedilatildeo figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da dissertaccedilatildeo

M528i Meacutelo Maria Marli Castelo Branco de

21 ed CDD 36283

1 Juizado de violecircncia domeacutestica 2 Medidas protetivas deurgecircncia 3 Violecircncia domeacutestica I Tiacutetulo

Digitado Monografia (Especializaccedilatildeo em Planejamento e GestatildeoPuacuteblica) - Universidade Estadual da Paraiacuteba Centro de CiecircnciasSociais Aplicadas 2014 Orientaccedilatildeo Profa Dra Gecircuda Anazile da Costa GonccedilalvesDepartamento de Administraccedilatildeo

Implementaccedilatildeo de medidas protetivas no juizado da violecircnciadomeacutestica e familiar contra a mulher no municiacutepio de CampinaGrande - PB [manuscrito] Maria Marli Castelo Branco de Meacutelo -2014 64 p il color

3

4

Agrave minha famiacutelia dedico

5

AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da

melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada

A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha

vontade de crescer

A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e

paciecircncia para juntos terminarmos este estudo

A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo

deste estudo

6

A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam

Maria Berenice Dias

7

RESUMO

A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

1

MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MEacuteLO

IMPLEMENTACcedilAtildeO DE MEDIDAS PROTETIVAS NO JUIZADO DA VIOLEcircNCIA

DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER NO MUNICIacutePIO DE CAMPINA

GRANDE- PB

Trabalho de Conclusatildeo de Curso Apresentado como Preacute-requisito para Obtenccedilatildeo do Titulo de Especialista em Planejamento e Gestatildeo Publica Aacuterea de Concentraccedilatildeo Gestatildeo Publica Orientadora Profordf Drordf Geuda Anazile da Costa Gonccedilalves

CAMPINA GRANDE ndash PB

2014

Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na forma impressa como eletrocircnicaSua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que nareproduccedilatildeo figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da dissertaccedilatildeo

M528i Meacutelo Maria Marli Castelo Branco de

21 ed CDD 36283

1 Juizado de violecircncia domeacutestica 2 Medidas protetivas deurgecircncia 3 Violecircncia domeacutestica I Tiacutetulo

Digitado Monografia (Especializaccedilatildeo em Planejamento e GestatildeoPuacuteblica) - Universidade Estadual da Paraiacuteba Centro de CiecircnciasSociais Aplicadas 2014 Orientaccedilatildeo Profa Dra Gecircuda Anazile da Costa GonccedilalvesDepartamento de Administraccedilatildeo

Implementaccedilatildeo de medidas protetivas no juizado da violecircnciadomeacutestica e familiar contra a mulher no municiacutepio de CampinaGrande - PB [manuscrito] Maria Marli Castelo Branco de Meacutelo -2014 64 p il color

3

4

Agrave minha famiacutelia dedico

5

AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da

melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada

A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha

vontade de crescer

A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e

paciecircncia para juntos terminarmos este estudo

A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo

deste estudo

6

A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam

Maria Berenice Dias

7

RESUMO

A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 3: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na forma impressa como eletrocircnicaSua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que nareproduccedilatildeo figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da dissertaccedilatildeo

M528i Meacutelo Maria Marli Castelo Branco de

21 ed CDD 36283

1 Juizado de violecircncia domeacutestica 2 Medidas protetivas deurgecircncia 3 Violecircncia domeacutestica I Tiacutetulo

Digitado Monografia (Especializaccedilatildeo em Planejamento e GestatildeoPuacuteblica) - Universidade Estadual da Paraiacuteba Centro de CiecircnciasSociais Aplicadas 2014 Orientaccedilatildeo Profa Dra Gecircuda Anazile da Costa GonccedilalvesDepartamento de Administraccedilatildeo

Implementaccedilatildeo de medidas protetivas no juizado da violecircnciadomeacutestica e familiar contra a mulher no municiacutepio de CampinaGrande - PB [manuscrito] Maria Marli Castelo Branco de Meacutelo -2014 64 p il color

3

4

Agrave minha famiacutelia dedico

5

AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da

melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada

A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha

vontade de crescer

A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e

paciecircncia para juntos terminarmos este estudo

A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo

deste estudo

6

A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam

Maria Berenice Dias

7

RESUMO

A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 4: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

3

4

Agrave minha famiacutelia dedico

5

AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da

melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada

A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha

vontade de crescer

A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e

paciecircncia para juntos terminarmos este estudo

A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo

deste estudo

6

A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam

Maria Berenice Dias

7

RESUMO

A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 5: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

4

Agrave minha famiacutelia dedico

5

AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da

melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada

A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha

vontade de crescer

A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e

paciecircncia para juntos terminarmos este estudo

A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo

deste estudo

6

A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam

Maria Berenice Dias

7

RESUMO

A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

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AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

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BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

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BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

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gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 6: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

5

AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da

melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada

A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha

vontade de crescer

A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e

paciecircncia para juntos terminarmos este estudo

A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo

deste estudo

6

A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam

Maria Berenice Dias

7

RESUMO

A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 7: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

6

A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam

Maria Berenice Dias

7

RESUMO

A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 8: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

7

RESUMO

A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 9: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

8

ABSTRACT

Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

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Senado Federal 2007

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Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 10: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Composiccedilatildeo 49

Figura 2 Fluxograma 52

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 11: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

10

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56

Graacutefico 3 Profissatildeo 56

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

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Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

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Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 12: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quadro funcional 49

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 13: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

12

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 13

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20

222 Princiacutepio da Afetividade 22

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28

231 Violecircncia de Gecircnero 30

232Violecircncia domeacutestica 33

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37

242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43

3 METODOLOGIA45

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45

32 TIPO DE PESQUISA46

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47

41 CAMPINA GRANDE- PB 47

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA

A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58

REFEREcircNCIAS 60

ANEXOS 65

ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 14: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

13

1 INTRODUCcedilAtildeO

Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno

seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as

mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade

de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se

desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo

Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como

Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria

para as mulheres brasileiras

Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos

que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade

humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia

domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente

envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os

imperativos do Direito Internacional

A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas

esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente

inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das

Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)

Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na

evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de

incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela

igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de

assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a

criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir

de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade

atribuiacuteda ao Estado

1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia

domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 15: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

14

Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em

Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM

pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho

Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial

evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio

um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como

proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a

mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e

emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e

vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito

(GROSSI 1996)

Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal

e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O

Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na

implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB

O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia

Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas

no ano de 2013

Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas

protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas

aplicadas no JVDFM

Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca

do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de

cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz

social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo

para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual

como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da

mulher

Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que

a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 16: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

15

efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a

todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que

possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema

e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno

em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede

fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos

O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se

encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os

objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica

parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash

Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se

encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho

acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as

consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

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Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

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Violecircncia Brasiacutelia 2011

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 17: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL

Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem

sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de

culturas diversas

Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou

seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)

A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa

existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias

(PEREIRA 1996)

Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras

e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com

mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo

Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o

incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)

Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com

caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica

com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos

enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees

Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre

as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e

romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o

princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos

A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe

poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo

tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se

sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava

do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil

Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas

o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 18: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

17

afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada

enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula

baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade

Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais

filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o

mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde

Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal

educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha

seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito

assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao

Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa

Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia

tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o

patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da

varonia

O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava

bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a

compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a

vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e

faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais

(RODRIGUES 2001 p 13)

No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como

objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de

vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens

Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da

pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como

princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto

protetor do patriarca

Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema

A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades

poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos

nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade

Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o

pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 19: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

18

comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos

(ROUSSEAU 1994 p 18)

Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando

a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e

heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi

mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS

2006 p 14)

Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX

culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para

conquistar os seus direitos

Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico

e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes

inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as

mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar

―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)

Conforme o pensamento de Muraro

No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu

ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes

recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao

seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e

sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)

Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos

feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam

tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente

comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas

Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg

547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter

ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo

E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as

mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia

domeacutestica

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

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que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

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As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

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Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 20: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

19

Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a

absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-

esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo

das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos

agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a

reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)

Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados

os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e

finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a

Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada

na cidade de Nova Iorque EUA

A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos

sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave

dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo

do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)

Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a

famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo

das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso

da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que

foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees

A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na

realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo

o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar

das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-

moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo

cenaacuterio na sociedade

3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 21: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

20

22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA

A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que

propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna

principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o

norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares

Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no

afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana

um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea

Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema

neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)

221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana

Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme

se segue

[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e

culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de

dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem

livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia

e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (

GIRARDI 2005 p48)

Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda

Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se

preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a

consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional

(DIAS 2006)

Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de

algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa

humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue

Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma

infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

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que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

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As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

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Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 22: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

21

Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo

primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute

impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os

princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS

2006 p52)

Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais

universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade

solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos

puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade

Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto

intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias

externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa

humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza

humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o

mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser

reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado

Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa

humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio

maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar

em simetria com ele

Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da

dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento

A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim

permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das

condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e

tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o

desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas

potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)

Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e

Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem

como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou

mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes

homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 23: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

22

Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade

a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da

sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana

222 Princiacutepio da Afetividade

Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX

e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os

ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em

uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da

dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees

interpessoais

Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente

define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das

relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar

Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo

conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino

comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto

aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais

seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define

a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar

(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001

p12)

Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra

afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica

Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido

Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental

Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela

juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal

significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu

reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do

afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que

natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS

2006 p60)

4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 24: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

23

Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo

moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo

Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A

pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores

tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da

famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana

Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o

parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste

ponto para Angeluci afeto eacute entendido como

As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter

dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a

pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe

restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais

(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade

indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista

e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes

como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o

apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser

caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou

―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos

cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama

―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido

ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo

afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)

Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento

integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa

e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou

seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e

netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar

Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em

virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros

da famiacutelia

223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

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Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 25: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

24

A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como

objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer

sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo

nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito

vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da

solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo

estaacutevel

Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994

A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer

uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao

companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo

decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo

familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min

Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)

(TARTUCE 2000 p 31)

Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo

esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica

Assim

Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o

Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado

constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de

crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e

finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade

os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)

Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar

tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade

familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a

solidariedade (LOcircBO 2009 p9)

224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar

Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres

no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da

igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 26: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

25

o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo

homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os

filhos apresentarem sugestotildees

Fica evidente que eacute

Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura

hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a

expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna

natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)

Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV

quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o

respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com

as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que

durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais

Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do

CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua

companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem

nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes

sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute

aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que

forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha

exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo

A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a

orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira

democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros

225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira

Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre

homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual

a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade

conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute

permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 27: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

26

Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer

outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que

agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo

como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)

O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite

maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem

a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns

casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a

pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de

trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar

Cortez 23082001)

Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos

do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a

favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o

Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de

competecircncia e esta deve prevalecer

Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e

companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda

dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para

cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a

redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila

226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia

A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave

propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva

da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia

estatildeo espalhados no texto constitucional

Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos

direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a

famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa

humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 28: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

27

Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo

estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana

conforme as liccedilotildees de Tepedino

Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento

da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza

e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente

com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer

direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos

princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula

geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo

pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)

Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute

natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de

1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916

Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave

mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a

sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees

(TARTUCE 2007 p 42)

Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e

patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a

responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a

dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas

estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que

seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes

Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo

de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico

jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que

configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que

colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres

Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia

de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e

anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros

Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim

dispotildee

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

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______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

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Violecircncia Brasiacutelia 2011

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Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 29: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

28

Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)

Nesse sentido o pensamento luacutecido de que

Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma

unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees

formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas

mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta

identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei

tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de

famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a

uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens

Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de

entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos

formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar

sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-

lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)

Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma

sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente

as diferenccedilas de gecircnero

23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER

A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas

manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva

a conceituar o termo em questatildeo

No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de

intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila

expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)

Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 30: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

29

O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa

a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar

seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu

domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p

15)

Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de

integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p

17)

Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de

funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em

relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade

Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem

comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e

delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou

distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)

Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser

evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve

sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum

Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos

comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito

adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento

histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu

Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto

histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as

mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e

culturais

Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta

necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento

Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada

como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias

Juriacutedicas

Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica

por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 31: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

30

camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando

que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas

nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos

Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica

violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao

imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa

com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata

em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita

de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue

Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe

uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero

231 Violecircncia de Gecircnero

O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves

relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da

famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como

ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade

A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)

difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao

enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)

No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais

desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa

relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero

como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas

relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)

Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos

aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como

acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras

Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e

de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela

nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 32: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

31

deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor

como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de

discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria

das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute

que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros

maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia

Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a

direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista

legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de

gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios

Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento

das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias

medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica

de reconhecimento

Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo

positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a

desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados

atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para

todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural

Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos

especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados

tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno

Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas

experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que

suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo

vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente

desatendida (GROSSI 1994 p 52)

Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as

desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando

equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees

Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos

as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito

baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute

assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim

um conselho social (SIMOIS1993 p 56)

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 33: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

32

Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao

longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo

aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de

Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher

Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma

de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade

pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de

muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se

separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa

Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo

deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores

econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e

mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em

posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et

al 2001 p37)

Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo

socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor

cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as

barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima

cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que

compactuar com ela

Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute

doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para

conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a

exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os

aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso

Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a

violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em

que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social

Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser

pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de

homens e mulheres

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

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BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

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gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 34: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

33

A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos

diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica

e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais

caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem

Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta

assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste

modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em

vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico

geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a

denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor

Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros

tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas

a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial

(CAMARGO 2008 p 133)

Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia

praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas

as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes

No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo

violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste

no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e

impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees

As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a

violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando

aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais

praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica

e familiar

232Violecircncia domeacutestica

A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito

privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema

atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do

conhecimento

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 35: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

34

Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma

das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e

CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado

perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a

viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)

O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os

transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A

agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006

p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de

ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino

Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em

diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social

As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees

familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg

da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos

Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo

entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que

cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera

puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com

relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995

Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma

violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria

da Penha

24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA

Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao

desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006

fez surgir uma grande conquista para as mulheres

O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo

durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 36: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

35

que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela

acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome

Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo

adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de

violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg

Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe

cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou

patrimonial

I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de

conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as

esporadicamente agregadas

II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por

indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos

naturais por afinidade ou por vontade expressa

III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou

tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo

independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)

Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico

para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher no seu artigo 7ordm tais como

I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua

integridade ou sauacutede corporal

II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause

dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e

perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas

accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila

constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia

constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo

exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe

cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo

III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a

presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada

mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a

comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a

impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao

matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo

chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de

seus direitos sexuais e reprodutivos

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 37: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

36

IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure

retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos

instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou

recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas

necessidades

V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure

caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)

No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica

psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar

tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a

mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver

poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees

domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia

crueldade e opressatildeo

Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica

como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de

afeto para definir famiacutelia

Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de

famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees

homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido

define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto

conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido

entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito

domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em

relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo

Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da

sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo

coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226

sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de

Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana

para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher

O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a

mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem

motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

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ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

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SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

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Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

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ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

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bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 38: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

37

companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas

situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve

total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no

art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para

efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime

A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas

geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar

que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a

autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras

feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas

A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como

consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado

aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios

Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que

a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees

altamente complexas

Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o

Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida

das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho

241 Medidas Protetivas de Urgecircncia

Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave

mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute

submetida por parte do seu agressor

A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher

agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas

medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e

proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia

perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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64

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 39: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

38

Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral

e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de

Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado

competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da

viacutetima de dosas filhosas

Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa

(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do

agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que

protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II

exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas

de Urgecircncia objeto do nosso estudo

Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar

o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder

Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima

para proteger sua integridade fiacutesica

Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial

da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave

mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher

protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das

consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas

As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento

para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo

diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de

medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do

crime

Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos

humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas

Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia

evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e

sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir

dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a

possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso

concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 40: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

39

As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006

explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-

penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e

as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008

p11)

Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia

impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio

eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se

prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro

instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees

Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas

em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a

dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da

prevenccedilatildeo e sauacutede

A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia

praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito

policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da

representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a

qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher

(PASINATO 2006)

A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os

direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com

caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao

seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que

a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o

atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente

e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)

Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas

como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da

discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de

13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual

pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de

Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 41: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

40

de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado

(PASINATO 2006)

Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM

solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida

do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo

divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor

O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado

nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos

referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento

da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra

Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz

no prazo de 48 (quarenta e oito) horas

I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas

protetivas de urgecircncia

II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia

judiciaacuteria quando for o caso

III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias

cabiacuteveis

Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo

juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida

sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de

imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do

Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado

sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou

cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras

de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

ameaccedilados ou violados

sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da

ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas

jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus

familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 42: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

41

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia

domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas

como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo

veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e

sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao

resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)

No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor

estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo

Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los

O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo

ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica

da mulher

De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o

marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo

eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)

Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc

o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida

sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando

confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL

2014)

A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a

restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute

resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de

induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute

adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe

multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai

acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso

prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 43: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

42

caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a

accedilatildeo (BRASIL 2014)

Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais

de natureza civil

Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou

comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento

II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao

respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor

III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos

relativos a bens guarda dos filhos e alimentos

IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos

Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou

daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar

liminarmente as seguintes medidas entre outras

I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida

II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra

venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo

judicial

III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor

IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e

danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a ofendida

Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins

previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)

Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo

preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo

criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006

Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal

caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a

requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da

autoridade policial

Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do

processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo

decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 44: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

43

Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores

acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos

administrativo-judiciais conforme descrito abaixo

Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao

agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo

sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico

Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo

ao agressor (BRASIL 2014)

Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as

aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e

habitaccedilatildeo

Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que

cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de

morte

O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave

gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em

situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de

proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo

complementares agraves casas abrigo

Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio

onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual

deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este

serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento

da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das

DEAMlsquos e dos CRAMlsquos

Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da

Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes

destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de

uma nova vida

242 Poliacuteticas Puacuteblicas

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 45: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

44

Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo

sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees

desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as

poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero

racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo

de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da

Repuacuteblica ndash SPMPR

No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas

puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As

poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o

Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores

em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade

Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA

2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a

sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de

decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus

resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando

responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores

marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se

encontram as mulheres

O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -

defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e

transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para

mulheres

Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam

direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior

diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas

accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo

Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias

existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no

PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 46: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

45

3 METODOLOGIA

31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E

FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE

O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina

Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das

Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as

determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ

Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que

determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes

agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das

mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares

Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos

Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a

Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento

e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia

domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as

estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de

capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei

Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem

de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de

atendimento agrave mulher

Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com

uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados

nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de

Campina Grande

A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se

converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia

Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da

violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de

pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e

ateacute mesmo pelo proacuteprio pai

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 47: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

46

32 TIPO DE PESQUISA

A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois

―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros

publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte

inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)

A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de

1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara

da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa

documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que

natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)

A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva

Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for

descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de

elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada

caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as

variaacuteveis (MATAR1993 p69)

Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como

qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser

caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as

questotildees subjetivas mais relevantes

Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como

uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 48: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

47

4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS

No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado

de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de

urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande

41 CAMPINA GRANDE- PB

Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste

paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de

594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade

demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o

que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE

2010)

O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais

sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde

Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual

abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo

referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e

mais seis privadas

Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio

tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste

destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute

uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para

vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a

cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada

principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia

O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta

ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do

desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios

aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking

nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este

iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do

crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 49: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

48

ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados

do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um

crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar

das desigualdades

Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para

medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos

mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a

situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda

Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em

1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute

acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de

vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)

Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve

grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria

Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de

Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as

mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e

adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias

Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social

Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de

Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes

equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher

comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo

Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os

serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano

Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado

se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei

Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino

visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas

entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no

desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo

como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de

Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

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Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

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Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 50: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

49

Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos

entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de

Jovens

Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na

preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno

as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo

Joatildeo do Mundo

42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A

MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB

A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de

Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash

PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)

A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no

preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande

(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a

seguinte estrutura

a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM

Tabela 1 Quadro funcional

CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS

Juiz de Direito 1

Juiz Substituto 1

Assessor de Juiz 2

Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e

teacutecnicos)

4

Oficiais de Justiccedila 5

Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1

Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2

Fonte JVDFM 2014

Figura 1 Estrutura Funcional

50

Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

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AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

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Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

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CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

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Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

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natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

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GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

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LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

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MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

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MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

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OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

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conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

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Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

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bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

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Page 51: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

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Fonte CNJ 2010

A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo

dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem

um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos

judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um

psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam

na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da

Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais

morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada

Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo

somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas

tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados

Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da

Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator

poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do

interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave

51

vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em

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COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

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Page 52: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

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vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita

para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda

vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na

defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de

defesa

Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem

autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte

de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei

1134006 art 25 e 28)

A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial

sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute

atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e

solicitar tais medidas

Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida

protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o

expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia

As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a

pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E

mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que

entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)

Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no

momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo

ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica

O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de

imediato mesmo antes do inqueacuterito policial

Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da

medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O

juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (

DIAS p183)

Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de

Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a

Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)

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Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

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BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

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BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

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Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

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de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

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tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

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Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

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POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

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Perseu Abramo 2004

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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64

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 53: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

52

Figura 2 Fluxograma

Fonte CNJ 2010

VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS

Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam

solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande

averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo

Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM

se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os

processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas

Tabela 2 processos deferidos no JVDFM

COR TIPOS DE PROCESSOS

TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS

TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS

TARJA CINZA BENS APREENDIDOS

TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES

TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS

Fonte JVDFM 2013

Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses

409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram

analisados 327 processos conforme tabela abaixo

Autoridade Policial

Ministeacuterio Puacuteblico

Defensoria PuacuteblicaAdvogado

Distribuiccedilatildeo ao JVDFM

Juiz de Direito

Equipe Teacutecnica Multidisciplinar

Indeferimento

Deferimento

Audiecircncia de Justificaccedilatildeo

Deferimento Indeferimento

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

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COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

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Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

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HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

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JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

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Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

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Brasil foi governado por militares

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bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 54: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

53

Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28

Nordm de processos analisados 423 23

Fonte JVDFM 2013

A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre

correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo

haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois

alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados

Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute

aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas

protetivas elencadas naquele artigo

Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada

Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas

Anaacutelise dos Pedidos

Nordm de processos existentes 1441 100

Nordm de processos analisados 327 23

Desdobramentos das Medidas Protetivas

Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32

Afastamento do Lar 92 28

Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69

21

Visitas aos filhos menores 36 11

Apenas Alimentos 26 8

Fonte JVDFM 2013

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

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COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

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mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

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em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

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GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

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HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

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MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

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SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

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Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

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bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 55: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

54

Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo

de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o

limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima

Podemos visualizar no graacutefico abaixo

Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas

Fonte Proacuteprio autor 2014

Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a

manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de

submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE

SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser

agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do

poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada

O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-

se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade

psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a

medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de

comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do

total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre

predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos

55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

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ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em

httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014

COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

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em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

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MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

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55

especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de

afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas

medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher

e de sua famiacutelia

No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo

influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de

manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia

alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado

No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge

11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de

visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito

de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que

esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos

Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali

concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou

provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara

de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias

sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros

Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis

Local da Agressatildeo e perfil do agressor

VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo

Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia

da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute

separado ou residindo em locais distintos

Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na

residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de

algo relacionado aos direitos dos seus filhos

Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante

apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo

ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para

o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e

cultos religiosos

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em

httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014

COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

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Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

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VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 57: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

56

Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as

agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima

alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento

para se resguardar da fuacuteria do agressor

Graacutefico 2 Local da Agressatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor

De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se

Graacutefico 3 Profissatildeo

Fonte Proacuteprio autor 2014

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

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COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 58: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

57

Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade

Fonte Proacuteprio autor 2014

Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos

gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de

instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue

para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder

do homem sobre a mulher

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em

httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014

COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 59: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

58

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem

agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX

adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus

costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees

proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha

passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo

proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia

Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar

contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013

Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a

importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher

quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria

da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e

proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar

O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e

penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as

medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei

Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na

legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz

respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo

fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a

inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas

consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher

Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher

oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a

instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas

protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta

medida

Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria

da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas

59

medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em

httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014

COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

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medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das

agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar

determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de

alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que

determinou mudanccedila de conduta do agressor

Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de

medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees

ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que

determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a

viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento

principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra

o agressor

No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas

capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste

tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos

movimentos feministas

Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com

aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias

para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no

municiacutepio de Campina Grande ndash PB

Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei

113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de

violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade

jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo

da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica

60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em

httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014

COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

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60

REFEREcircNCIAS

ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao

combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e

de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia

das letras 1990

AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo

Paulo Rideel 2008

ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014

BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres

a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos

AGENDE No 5 dez2004

BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova

Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro

Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia

- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012

BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF

Senado Federal 2007

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano

Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres

2013

______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres

Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de

Violecircncia Brasiacutelia 2011

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em

httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014

COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

Page 62: UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA - UEPB PRÓ … · MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MÉLO ... giving greater visibility to the crimes ... doméstica no município de Campina Grande,

61

CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores

Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v

42 p 133-139 Porto Alegre 1997

COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial

para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em

httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014

COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de

gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014

COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da

mulher Curitiba Juruaacute 2004

CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e

Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-

contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso

em 04 marccedilo 2014

CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da

Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

2007

DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006

de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos

Tribunais

DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da

Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito

das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008

GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001

GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente

natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000

62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl

Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria

Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein

bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014

65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

66

ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

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62

GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo

Revista dos Tribunais 2002

HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello

Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009

IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014

JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014

LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas

1990

MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar

de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar

Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20

junho 2014

MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar

contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007

MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014

MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos

tempos e suas perspectivas para o futuro 2010

NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo

RT 2006

63

OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010

PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo

Perseu Abramo 2004

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Porto Alegre Livraria do Advogado 2003

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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

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OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de

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PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as

mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI

Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006

POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -

Dezembro06

PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel

emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-

conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014

ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro

Lumen2004

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SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014

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Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e

Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013

SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia

psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede

Educaccedilatildeo 2007

64

SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

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65

ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

68

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SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento

Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-

dez 2002

SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a

Mulher

STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo

Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute

violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003

VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf

ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o

Brasil foi governado por militares

ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e

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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

67

ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba

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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO

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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA

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