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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA - UEPB
PROacute-REITORIA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO E PESQUISA
CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO EM PLANEJAMENTO E GESTAtildeO PUacuteBLICA
MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MEacuteLO
IMPLEMENTACcedilAtildeO DE MEDIDAS PROTETIVAS NO JUIZADO DA VIOLEcircNCIA
DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER NO MUNICIacutePIO DE CAMPINA
GRANDE- PB
CAMPINA GRANDE PB JUNHO-2014
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MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MEacuteLO
IMPLEMENTACcedilAtildeO DE MEDIDAS PROTETIVAS NO JUIZADO DA VIOLEcircNCIA
DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER NO MUNICIacutePIO DE CAMPINA
GRANDE- PB
Trabalho de Conclusatildeo de Curso Apresentado como Preacute-requisito para Obtenccedilatildeo do Titulo de Especialista em Planejamento e Gestatildeo Publica Aacuterea de Concentraccedilatildeo Gestatildeo Publica Orientadora Profordf Drordf Geuda Anazile da Costa Gonccedilalves
CAMPINA GRANDE ndash PB
2014
Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na forma impressa como eletrocircnicaSua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que nareproduccedilatildeo figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da dissertaccedilatildeo
M528i Meacutelo Maria Marli Castelo Branco de
21 ed CDD 36283
1 Juizado de violecircncia domeacutestica 2 Medidas protetivas deurgecircncia 3 Violecircncia domeacutestica I Tiacutetulo
Digitado Monografia (Especializaccedilatildeo em Planejamento e GestatildeoPuacuteblica) - Universidade Estadual da Paraiacuteba Centro de CiecircnciasSociais Aplicadas 2014 Orientaccedilatildeo Profa Dra Gecircuda Anazile da Costa GonccedilalvesDepartamento de Administraccedilatildeo
Implementaccedilatildeo de medidas protetivas no juizado da violecircnciadomeacutestica e familiar contra a mulher no municiacutepio de CampinaGrande - PB [manuscrito] Maria Marli Castelo Branco de Meacutelo -2014 64 p il color
3
4
Agrave minha famiacutelia dedico
5
AGRADECIMENTOS
A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da
melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada
A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha
vontade de crescer
A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e
paciecircncia para juntos terminarmos este estudo
A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo
deste estudo
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A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam
Maria Berenice Dias
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RESUMO
A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia
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ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
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LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
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SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
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1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
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Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
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efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
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afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
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comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia
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AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
Paulo Rideel 2008
ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014
BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres
a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos
AGENDE No 5 dez2004
BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012
BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004
BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
1
MARIA MARLI CASTELO BRANCO DE MEacuteLO
IMPLEMENTACcedilAtildeO DE MEDIDAS PROTETIVAS NO JUIZADO DA VIOLEcircNCIA
DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER NO MUNICIacutePIO DE CAMPINA
GRANDE- PB
Trabalho de Conclusatildeo de Curso Apresentado como Preacute-requisito para Obtenccedilatildeo do Titulo de Especialista em Planejamento e Gestatildeo Publica Aacuterea de Concentraccedilatildeo Gestatildeo Publica Orientadora Profordf Drordf Geuda Anazile da Costa Gonccedilalves
CAMPINA GRANDE ndash PB
2014
Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na forma impressa como eletrocircnicaSua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que nareproduccedilatildeo figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da dissertaccedilatildeo
M528i Meacutelo Maria Marli Castelo Branco de
21 ed CDD 36283
1 Juizado de violecircncia domeacutestica 2 Medidas protetivas deurgecircncia 3 Violecircncia domeacutestica I Tiacutetulo
Digitado Monografia (Especializaccedilatildeo em Planejamento e GestatildeoPuacuteblica) - Universidade Estadual da Paraiacuteba Centro de CiecircnciasSociais Aplicadas 2014 Orientaccedilatildeo Profa Dra Gecircuda Anazile da Costa GonccedilalvesDepartamento de Administraccedilatildeo
Implementaccedilatildeo de medidas protetivas no juizado da violecircnciadomeacutestica e familiar contra a mulher no municiacutepio de CampinaGrande - PB [manuscrito] Maria Marli Castelo Branco de Meacutelo -2014 64 p il color
3
4
Agrave minha famiacutelia dedico
5
AGRADECIMENTOS
A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da
melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada
A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha
vontade de crescer
A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e
paciecircncia para juntos terminarmos este estudo
A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo
deste estudo
6
A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam
Maria Berenice Dias
7
RESUMO
A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia
8
ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
Eacute expressamente proibida a comercializaccedilatildeo deste documento tanto na forma impressa como eletrocircnicaSua reproduccedilatildeo total ou parcial eacute permitida exclusivamente para fins acadecircmicos e cientiacuteficos desde que nareproduccedilatildeo figure a identificaccedilatildeo do autor tiacutetulo instituiccedilatildeo e ano da dissertaccedilatildeo
M528i Meacutelo Maria Marli Castelo Branco de
21 ed CDD 36283
1 Juizado de violecircncia domeacutestica 2 Medidas protetivas deurgecircncia 3 Violecircncia domeacutestica I Tiacutetulo
Digitado Monografia (Especializaccedilatildeo em Planejamento e GestatildeoPuacuteblica) - Universidade Estadual da Paraiacuteba Centro de CiecircnciasSociais Aplicadas 2014 Orientaccedilatildeo Profa Dra Gecircuda Anazile da Costa GonccedilalvesDepartamento de Administraccedilatildeo
Implementaccedilatildeo de medidas protetivas no juizado da violecircnciadomeacutestica e familiar contra a mulher no municiacutepio de CampinaGrande - PB [manuscrito] Maria Marli Castelo Branco de Meacutelo -2014 64 p il color
3
4
Agrave minha famiacutelia dedico
5
AGRADECIMENTOS
A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da
melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada
A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha
vontade de crescer
A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e
paciecircncia para juntos terminarmos este estudo
A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo
deste estudo
6
A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam
Maria Berenice Dias
7
RESUMO
A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia
8
ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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64
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
3
4
Agrave minha famiacutelia dedico
5
AGRADECIMENTOS
A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da
melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada
A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha
vontade de crescer
A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e
paciecircncia para juntos terminarmos este estudo
A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo
deste estudo
6
A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam
Maria Berenice Dias
7
RESUMO
A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia
8
ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
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companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
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As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
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de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
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Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
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caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
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Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
4
Agrave minha famiacutelia dedico
5
AGRADECIMENTOS
A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da
melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada
A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha
vontade de crescer
A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e
paciecircncia para juntos terminarmos este estudo
A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo
deste estudo
6
A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam
Maria Berenice Dias
7
RESUMO
A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia
8
ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
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SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
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que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
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IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
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companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
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As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
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de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
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Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
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caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
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Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
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Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
5
AGRADECIMENTOS
A Deus que sempre me mostrou o caminho a luz para que eu resolvesse da
melhor maneira os obstaacuteculos que surgiram ao longo desta caminhada
A toda minha famiacutelia que sempre acreditou em minha capacidade e em minha
vontade de crescer
A minha orientadora Dra Geuda Anazile Gonccedilalves pelo companheirismo e
paciecircncia para juntos terminarmos este estudo
A todos que direta e indiretamente foram colaboradores para a realizaccedilatildeo
deste estudo
6
A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam
Maria Berenice Dias
7
RESUMO
A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia
8
ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
6
A ferida sara os ossos quebrados se recuperam o sangue seca mas a perda da autoestima o sentimento de menos valia a depressatildeo essas satildeo feridas que natildeo cicatrizam
Maria Berenice Dias
7
RESUMO
A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia
8
ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
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de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
7
RESUMO
A violecircncia contra a mulher tem sido alvo de grandes estudos e de accedilotildees no acircmbito da violecircncia domeacutestica sem sombra de duacutevidas conferindo maior visibilidade aos delitos cometidos contra a mulher no paiacutes A Lei 113402006 conhecida com Lei Maria da Penha representa uma conquista de lutas histoacutericas contra a impunidade no cenaacuterio nacional de violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher que determina a criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher o qual implementa as Medidas Protetivas de Urgecircncia agraves viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo desse Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher na implementaccedilatildeo das medidas protetivas deferidas no ano de 2013 Como metodologia de estudo utilizou-se a pesquisa bibliograacutefica descritiva e qualitativa Conclui-se que com aplicaccedilatildeo destas medidas haacute chances de se resgatar a cidadania e a dignidade das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica oriundas de uma sociedade machista e patriarcal quando o Estado determina que a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher eacute uma responsabilidade sua e natildeo uma mera questatildeo familiar Palavras-chave Juizados de Violecircncia Domeacutestica Medidas Protetivas de Urgecircncia Violecircncia
8
ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
8
ABSTRACT
Violence against women has been the subject of extensive studies and actions in the context of domestic violence without a doubt giving greater visibility to the crimes committed against women in the country The Law 113402006 known as Maria da Penha Law represents an achievement of historic struggles against impunity in the national scenario of domestic and family violence against women that determines the creation of the Juvenile Court and Domestic Violence against Women which implements the urgent protective measures for victims of domestic and family violence The aim of this study is to investigate the contribution of this Court for Family and Domestic Violence against Women in the implementation of protective measures deferred in 2013 How study methodology was used to bibliographic descriptive and qualitative research It is concluded that with implementation of these measures there are chances to rescue the citizens and the dignity of women victims of domestic violence from a sexist and patriarchal society where the State determines that domestic violence against women is a responsibility and not merely a family matter Keywords Domestic Violence Courts Urgent protective measures Violence
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Composiccedilatildeo 49
Figura 2 Fluxograma 52
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
10
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas 54
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo 56
Graacutefico 3 Profissatildeo 56
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade 57
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
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SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
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1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
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Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
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efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
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64
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quadro funcional 49
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM 52
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013 53
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas 53
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
12
SUMAacuteRIO
1 INTRODUCcedilAtildeO 13
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 16
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL 16
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA 20
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana20
222 Princiacutepio da Afetividade 22
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar 23
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar 24
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira 25
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia 26
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER 28
231 Violecircncia de Gecircnero 30
232Violecircncia domeacutestica 33
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA34
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia37
242 Poliacuteticas Puacuteblicas 43
3 METODOLOGIA45
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE45
32 TIPO DE PESQUISA46
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS 47
41 CAMPINA GRANDE- PB 47
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA
A MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB 49
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 58
REFEREcircNCIAS 60
ANEXOS 65
ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba 65
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO 66
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA 67
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
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Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
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que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
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IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
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companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
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As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
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de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
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Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
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caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
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Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
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Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
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AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
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AGENDE No 5 dez2004
BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
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Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres
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Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de
Violecircncia Brasiacutelia 2011
61
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
13
1 INTRODUCcedilAtildeO
Apesar dos avanccedilos observados nas aacutereas da ciecircncia e da tecnologia em pleno
seacuteculo XXI eacute perceptiacutevel o crescimento da violecircncia domeacutestica Hodiernamente as
mulheres desde a infacircncia estatildeo sendo educadas em uma sociedade em que a igualdade
de direitos eacute cada vez mais uma questatildeo de dignidade e honra As mulheres se
desenvolvendo e crescendo cercadas de garantias legais conquistadas passo a passo
Exemplificando a garantia destes direitos tem-se a Lei 1134006 conhecida como
Maria da Penha que estabelece medidas de assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar1 pode representar o comeccedilo de uma nova histoacuteria
para as mulheres brasileiras
Quando se comemora mais de meio seacuteculo da Declaraccedilatildeo dos Direitos Humanos
que tem como pilar de sustentaccedilatildeo o princiacutepio da igualdade e reconhece agrave dignidade
humana o direito agrave vida e a liberdade como predominantes os problemas com a violecircncia
domeacutestica natildeo podem ser resolvidos exclusivamente pelos que estatildeo diretamente
envolvidos precisam ser vistos tanto pela ordem juriacutedica interna como tambeacutem atender os
imperativos do Direito Internacional
A Constituiccedilatildeo Federal88 prevecirc a assistecircncia de forma articulada entre as diversas
esferas governamentais para a resoluccedilatildeo dos problemas multidimensionais atualmente
inseridos no Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres ndash PNPM2 SPMPR( Secretaria das
Poliacuteticas para Mulheres Presidecircncia da Repuacuteblica p 8)
Na leitura de Faleiros (2001 p7) a violecircncia domeacutestica encontra-se enraizada na
evoluccedilatildeo cultural da humanidade manifestando-se de diversas formas e graus de
incidecircncia Apesar da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 representar um avanccedilo na jornada pela
igualdade dos sexos soacute em 07082006 a Lei 113402006 estabelece medidas de
assistecircncia e proteccedilatildeo agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar determinando a
criaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM e a partir
de entatildeo passa a ser crime a violecircncia domeacutestica contra a mulher e sua responsabilidade
atribuiacuteda ao Estado
1Art 1ordm in fine ndash Lei 113402006 (CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia
domeacutestica p 20) 2Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres Disponiacutevel em httpspmgovbrpnpmpublicacoes pnpm-2013-2015-em-22ago13pdf
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia
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AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
Paulo Rideel 2008
ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014
BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres
a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos
AGENDE No 5 dez2004
BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012
BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004
BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
14
Atendendo ao ordenamento juriacutedico foi instalado em 03 de Outubro de 2011 em
Campina Grande o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ndash JVDFM
pioneiro na Paraiacuteba objeto de estudo deste trabalho
Eacute notoacuterio o crescente aumento deste fenocircmeno entre a populaccedilatildeo mundial
evidenciando-se um problema social e de sauacutede puacuteblica acredita-se que seja necessaacuterio
um olhar mais cuidadoso e atento das autoridades governamentais atraveacutes da criaccedilatildeo e
desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas visando combater esse fenocircmeno assim como
proporcionar uma assistecircncia mais adequada agraves viacutetimas desta violecircncia
A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) reconhece a violecircncia domeacutestica contra a
mulher como uma questatildeo de sauacutede puacuteblica que afeta negativamente a integridade fiacutesica e
emocional da viacutetima seu senso de seguranccedila configurada por ciacuterculo vicioso de ―idas e
vindas aos serviccedilos de sauacutede e o consequente aumento com os gastos neste acircmbito
(GROSSI 1996)
Partindo da premissa de que as medidas protetivas garantem a seguranccedila pessoal
e patrimonial das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar questiona-se O
Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher tem contribuiacutedo na
implementaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia para as mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB
O objetivo geral deste trabalho eacute averiguar a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia
Domeacutestica e Familiar contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas
no ano de 2013
Como objetivos especiacuteficos tem-se Fazer levantamento documental das medidas
protetivas proferidas no JVDFM no ano 2013 Identificar o nuacutemero de medidas protetivas
aplicadas no JVDFM
Justifica-se este estudo pela necessidade latente de maiores esclarecimentos acerca
do tema aqui proposto tendo em vista que a garantia de direitos e a obrigatoriedade de
cumprimento das leis satildeo necessaacuterios para a efetivaccedilatildeo dos direitos do indiviacuteduo e da paz
social Satildeo fundamentais a discussatildeo acadecircmica e o debate puacuteblico acerca da questatildeo
para maiores conhecimentos e maior aprofundamento dos estudos em um tema tatildeo atual
como a violecircncia domeacutestica e os mecanismos legais de proteccedilatildeo dos direitos humanos da
mulher
Em se tratando de sua importacircncia para a sociedade em geral eacute imprescindiacutevel que
a populaccedilatildeo tenha acesso agrave informaccedilatildeo especialmente aos direitos de cada um para a
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
15
efetivaccedilatildeo do respeito aos princiacutepios norteadores da Constituiccedilatildeo Federal que garante a
todos o respeito agrave dignidade humana e proteccedilatildeo contra todo e qualquer tipo de mal que
possa a vir atingir o indiviacuteduo inserido no meio social Destaca-se a importacircncia deste tema
e sua relevacircncia em niacutevel internacional e nacional uma vez que o crescimento do fenocircmeno
em questatildeo eacute considerado um problema social e de sauacutede puacuteblica com danos a sauacutede
fiacutesica e psiacutequica da mulher e violaccedilatildeo aos direitos humanos
O presente trabalho encontra-se estruturado da seguinte forma Introduccedilatildeo - onde se
encontram a contextualizaccedilatildeo do tema a justificativa o problema de pesquisa e os
objetivos geral e especiacutefico Capiacutetulo 1 - Introduccedilatildeo Capiacutetulo 2 - Fundamentaccedilatildeo Teoacuterica
parte referente ao resgate histoacuterico e conceitual sobre o tema em foco Capiacutetulo 3 ndash
Metodologia Caracterizaccedilatildeo do Objeto de Estudo Juizado de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher no municiacutepio de Campina Grande e tipos de pesquisa onde se
encontra descrito o caminho percorrido para execuccedilatildeo da pesquisa base deste trabalho
acadecircmico Capiacutetulo 4 ndash Discussatildeo e Anaacutelise dos Resultados Por fim encontram-se as
consideraccedilotildees finais e as referecircncias utilizadas para realizaccedilatildeo do presente trabalho
16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
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16
2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
21 FAMIacuteLIA EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA E CONCEITUAL
Na perspectiva histoacuterica eacute necessaacuterio registrar que as relaccedilotildees familiares nem
sempre foram pautadas nos laccedilos do afeto ao longo do tempo receberam influecircncia de
culturas diversas
Conforme se tem conhecimento ―no estado primitivo prevalecia a endogamia ou
seja a ocorrecircncia de relaccedilotildees sexuais dentro do mesmo grupo (ENGLES 1977 p31)
A matildee era conhecida e responsaacutevel pela orientaccedilatildeo dos filhos dentro de sua casa
existindo a forccedila do matriarcado entretanto tal entendimento oferece divergecircncias
(PEREIRA 1996)
Em um estaacutegio mais adiante na vida primitiva outros fatores como guerras
e a carecircncia de mulheres levaram os homens a se relacionarem com
mulheres de outras tribos ateacute mesmo antes do que em seu proacuteprio grupo
Os historiadores fixam neste fenocircmeno a primeira manifestaccedilatildeo contra o
incesto no meio social (VENOSA 2008 p 3)
Deste modo no curso da histoacuteria o homem caminha para as relaccedilotildees individuais com
caraacuteter de exclusividade O marco deste momento histoacuterico eacute o inicio da famiacutelia monogacircmica
com a supremacia do homem como chefe de famiacutelia imperando por vaacuterios seacuteculos
enquanto a mulher sofria grandes limitaccedilotildees
Certo eacute que a famiacutelia viveu sob o manto do patriarcado em vaacuterias civilizaccedilotildees Entre
as primeiras civilizaccedilotildees de destaque que se tem notiacutecias destacam-se egiacutepcia grega e
romana Nelas o conceito de famiacutelia era de uma entidade hierarquizada onde imperava o
princiacutepio da autoridade patriarcal que abrangia a todos que a ela estavam submetidos
A famiacutelia era organizada sob o prisma religioso O pater era chefe de famiacutelia chefe
poliacutetico sacerdote e juiz Exercia autoridade maacutexima sobre os filhos e a mulher a qual natildeo
tinha direitos proacuteprios isto eacute passava da condiccedilatildeo de filha para esposa subordinando-se
sempre agrave vontade do pai e do marido Ela era considerada um ser incapaz que necessitava
do amparo e da autorizaccedilatildeo desses para a praacutetica de atos da vida civil
Por muito tempo na histoacuteria inclusive na Idade Meacutedia nas classes mais favorecidas
o casamento estava atrelado aos interesses patrimoniais e natildeo tinha qualquer conotaccedilatildeo
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
17
afetiva A religiatildeo catoacutelica tornou o casamento um dogma uma instituiccedilatildeo sacralizada
enquanto condenava agraves uniotildees livres em cujo contexto a famiacutelia era considerada a ceacutelula
baacutesica da Igreja que exercia grande influecircncia sobre a comunidade
Partindo deste raciociacutenio o conceito de famiacutelia era muito abrangente incluiacutea pais
filhos avoacutes netos parentes colaterais empregados numerosos todos vivendo sob o
mesmo teto e direccedilatildeo de um uacutenico senhor o todo poderoso chefe do clatilde
Desta forma a famiacutelia era como um Estado em miniatura regime patriarcal
educaccedilatildeo religiatildeo e justiccedila dentro do proacuteprio grupo Com autoridade maacutexima o chefe tinha
seu comando sobre toda estrutura familiar E noacutes herdeiros do Direito Romano muito
assemelhamos desta cultura que foi incorporada agraves grandes codificaccedilotildees inclusive ao
Coacutedigo Civil de 1916 por Cloacutevis Bevilaacutequa
Do ponto de vista econocircmico a famiacutelia era uma autarquia uma vez que produzia
tudo para o seu sustento Era uma famiacutelia totalmente voltada e preocupada com o
patrimocircnio A famiacutelia da qual se fala eacute a famiacutelia tradicional inspirada sob o princiacutepio da
varonia
O homem era colocado como chefe da sociedade conjugal limitava
bastante os interesses e a liberdade dos demais membros que a
compunham dessa forma percebe-se que desde os tempos remotos a
vulnerabilidade da mulher tem raiacutezes profundas na histoacuteria da civilizaccedilatildeo e
faz parte do cotidiano de homens e mulheres ateacute os dias atuais
(RODRIGUES 2001 p 13)
No dizer de Rodrigues apud Lafayette (2001 p 3) ―o Direito de Famiacutelia tem como
objeto a exposiccedilatildeo dos princiacutepios do direito que regem as relaccedilotildees de famiacutelia do ponto de
vista da influecircncia dessas relaccedilotildees natildeo soacute sobre as pessoas como sobre os bens
Assim fica evidente que a estrutura familiar era avessa a proteccedilatildeo do afeto da
pessoa humana e da sua dignidade Pode-se dizer entatildeo que essas famiacutelias tinham como
princiacutepio a autoridade a hierarquia a religiatildeo e o patrimocircnio tudo concentrado sob o manto
protetor do patriarca
Destacam-se os ensinamentos de Rousseau em relaccedilatildeo ao tema
A famiacutelia pode ser considerada entatildeo o primeiro modelo das sociedades
poliacuteticas o chefe eacute a imagem do pai o povo eacute a imagem dos filhos e todos
nascidos iguais e livres alienam sua liberdade apenas pela sua utilidade
Toda diferenccedila reside em que na famiacutelia o amor do pai por seus filhos eacute o
pagamento dos cuidados que lhes presta e que o estado o prazer de
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
18
comandar substitui este amor que o chefe natildeo tem pelos seus povos
(ROUSSEAU 1994 p 18)
Significa dizer que toda relaccedilatildeo de famiacutelia estava atrelada ao patrimocircnio reforccedilando
a ideia de Dias de que havia ―uma famiacutelia patrimonializada patriarcal hierarquizada e
heterossexual podendo estar associada agrave poligamia ou agrave monogamia Este cenaacuterio soacute foi
mudar com a Revoluccedilatildeo Industrial que daacute origem a um novo modelo de famiacutelia (DIAS
2006 p 14)
Nesse cenaacuterio a mulher sempre foi descriminada e a partir do seacuteculo XIX
culminando com a Revoluccedilatildeo Industrial engajou-se numa luta lenta e gradual para
conquistar os seus direitos
Nesta eacutepoca as mulheres comeccedilam a trabalhar fora do ambiente domeacutestico
e ganhar seus proacuteprios salaacuterios Contudo apenas as mulheres das classes
inferiores trabalhavam para contribuir com o sustento da casa jaacute que as
mulheres de classe meacutedia ou alta natildeo trabalhavam para natildeo causar
―vergonha a seus pais e maridos (COUTINHO 2004 p 16)
Conforme o pensamento de Muraro
No iniacutecio do seacuteculo XX muitas mulheres jaacute estatildeo trabalhando fora do seu
ambiente domeacutestico poreacutem com muita dificuldade na maioria das vezes
recebendo um terccedilo dos salaacuterios dos homens cujo trabalho correspondia ao
seu bem como laborando durante a madrugada em locais insalubres e
sem nenhum tipo de garantias trabalhistas (MURARO 2010 p135)
Segundo Figueiredo nos anos sessenta reacendem-se no Brasil os movimentos
feministas As mulheres se rebelam contra a discriminaccedilatildeo econocircmica pois trabalhavam
tanto ou mais do que os homens e recebiam salaacuterios inferiores aos deles e principalmente
comeccedilam a reivindicar cargos de decisotildees poliacuteticas
Na leitura de Coutinho nota-se que durante o Regime Militar foi promulgada a Lei ndeg
547368 com o fito de coibir a discriminaccedilatildeo de sexo no serviccedilo puacuteblico sem poreacutem ter
ecircxito porquanto a discriminaccedilatildeo perdurou ainda por muito tempo
E ainda corroborando com as luacutedicas palavras de outro doutrinador mostra que as
mulheres comeccedilam a lutar na segunda metade da deacutecada de setenta contra a violecircncia
domeacutestica
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
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psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
19
Com o slogan ―Quem ama natildeo mata foram agraves ruas protestar contra a
absolviccedilatildeo pela Justiccedila de homens que assassinavam suas esposas e ex-
esposas em nome da ―legiacutetima defesa da honra A eacutepoca marcou o comeccedilo
das passeatas de protesto contra a complacecircncia e a impunidade dos
agressores a inclusatildeo de estudos sobre o tema nas universidades e a
reivindicaccedilatildeo por leis e serviccedilos especiacuteficos (COSTA 2014 p56)
Na deacutecada de oitenta surgem os efeitos dos movimentos feministas Foram criados
os primeiros Conselhos de Direito da Mulher as Delegacias de Defesa da Mulher e
finalmente entrou em vigor no Brasil com algumas reservas a ―Convenccedilatildeo sobre a
Eliminaccedilatildeo de Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra a Mulher que havia sido assinada
na cidade de Nova Iorque EUA
A partir da Constituiccedilatildeo Cidadatilde com a predominacircncia do princiacutepio da igualdade dos
sexos seja como proteccedilatildeo ao desenvolvimento integral da pessoa seja em respeito agrave
dignidade da pessoa humana eacute que as mulheres conquistaram seus direitos pela redaccedilatildeo
do art 5ordm I da Constituiccedilatildeo Federal
Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a
inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave
propriedade nos termos seguintes
I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos
desta Constituiccedilatildeo (BRASIL 2014)
Importante destacar nessas breves consideraccedilotildees histoacutericas a travessia que fez a
famiacutelia e principalmente a mulher e toda a evoluccedilatildeo e transformaccedilatildeo de conceitos ao longo
das diversas civilizaccedilotildees Inicialmente teve um destaque matriarcal predominando no curso
da histoacuteria o caraacuteter patriarcal e a funccedilatildeo procacional3 e sob o manto do paacutetrio poder que
foi incorporado a diversas culturas e legislaccedilotildees
A vulnerabilidade mulher perdura haacute milecircnios em todo o mundo Ela estaacute presente na
realidade humana de todos os povos manifestando-se de diversas formas comprometendo
o princiacutepio da cidadania e o exerciacutecio dos direitos fundamentais da pessoa humana Apesar
das diversas conquistas hodiernamente a mulher passa a participar da sociedade poacutes-
moderna rompendo-se definitivamente com o modelo patriarcal construindo um novo
cenaacuterio na sociedade
3 Procacional funccedilatildeo familiar para geraccedilatildeo de filhos e perpetuaccedilatildeo da espeacutecie
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
20
22 PRINCIacutePIOS DE DIREITO DA FAMIacuteLIA
A maior conquista do Direito de Famiacutelia foi excluir da sua legislaccedilatildeo as normas que
propiciavam limitaccedilotildees de convivecircncia com os imperativos da sociedade moderna
principalmente aquelas ligadas agrave famiacutelia patriarcal No momento atual se tem no afeto o
norte para todos os relacionamentos estabelecidos nas relaccedilotildees familiares
Neste entendimento foi elaborada uma revisatildeo nas famiacutelias atuais alicerccediladas no
afeto e na igualdade dos seus componentes privilegiando o princiacutepio da dignidade humana
um dos mais fortes pilares que sustentam a famiacutelia contemporacircnea
Os princiacutepios fundamentais elencados abaixo sem a pretensatildeo de esgotar o tema
neste estudo seraacute orientado sob a perspectiva de Tartuce (2007)
221 Princiacutepio da Dignidade da Pessoa Humana
Os problemas referentes ao amparo dos direitos fundamentais do homem conforme
se segue
[] passaram a integrar vaacuterios diplomas normativos internacionais e
culminaram consagrados universalmente atraveacutes da Declaraccedilatildeo Universal
dos Direitos do Homem na Assembleia Geral das Naccedilotildees Unidas de
dezembro de 1948 ao dizer em seu Art 1 ―Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade e direitos Satildeo dotados de razatildeo e consciecircncia
e devem agir em relaccedilatildeo uns aos outros com espiacuterito de fraternidade (
GIRARDI 2005 p48)
Foram os reflexos dos fatos que marcaram a humanidade no decorrer da Segunda
Guerra Mundial e os consequentes regimes ditatoriais que motivaram o Brasil a se
preocupar com os direitos humanos e com a justiccedila social levando o constituinte de 1988 a
consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional
(DIAS 2006)
Sendo a dignidade uma qualidade intriacutenseca da pessoa humana e por se tratar de
algo intangiacutevel fica difiacutecil para os juristas definir com precisatildeo o termo dignidade da pessoa
humana Contudo vejamos a reflexatildeo que se segue
Sua essecircncia eacute difiacutecil de ser capturada em palavras mas incide sobre uma
infinidade de situaccedilotildees que dificilmente se pode elencar de antematildeo
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
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Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
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violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
21
Talvez possa ser identificado como sendo o princiacutepio de middotmanifestaccedilatildeo
primeiro de valores constitucionais carregado de sentimentos e emoccedilotildees Eacute
impossiacutevel uma compreensatildeo exclusivamente intelectual e como todos os
princiacutepios tambeacutem eacute sentido e experimentado no plano dos afetos (DIAS
2006 p52)
Continua a autora dizendo que o princiacutepio da dignidade humana consiste no mais
universal de todos os princiacutepios dele brotando os demais liberdade igualdade
solidariedade Eacute o princiacutepio dos princiacutepios pode-se dizer eis que norteia todos os atos
puacuteblicos e privados que se manifestam em sociedade
Sarlet conceitua o princiacutepio da dignidade da pessoa humana como sendo ― o reduto
intangiacutevel de cada indiviacuteduo e neste sentido a uacuteltima fronteira contra quaisquer ingerecircncias
externas (SARLET 2003 p108 - 109) Para ele o princiacutepio da dignidade da pessoa
humana eacute consagrado na Constituiccedilatildeo Federal (Art 1ordm III ) em razatildeo da proacutepria natureza
humana ou seja a importacircncia do princiacutepio sustenta-se por si soacute pelo simples motivo que o
mundo de pessoas que se tornam automaticamente titulares de direito que devem ser
reconhecidos e respeitados pelos seus semelhantes e pelo Estado
Inserido nesse contexto o reconhecimento do princiacutepio da dignidade da pessoa
humana como fundamento da Repuacuteblica Federativa do Brasil se constitui no princiacutepio
maacuteximo do ordenamento juriacutedico o que significa que todas as demais normas deveratildeo estar
em simetria com ele
Nas palavras de outro nobre doutrinador estaacute evidente o reconhecimento da
dignidade da pessoa humana no nosso ordenamento
A base da proacutepria existecircncia do Estado Brasileiro e ao mesmo tempo fim
permanente de todas as atividades eacute a criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo das
condiccedilotildees para que as pessoas sejam respeitadas resguardadas e
tuteladas em sua integridade fiacutesica e moral assegurados o
desenvolvimento e a possibilidade da plena realizaccedilatildeo de suas
potencialidades e aptidotildees (FERRAZ 1991 p19)
Quando o Art 1ordm III da CF dispotildee sobre a uniatildeo indissoluacutevel dos Estados e
Municiacutepios e do Distrito Federal constituindo-se como Estado Democraacutetico de Direito e tem
como fundamento a dignidade da pessoa humana assegura a dignidade do homem ou
mulher tal como existem e cujo direitos fundamentais a constituiccedilatildeo protege Nestes
homem e mulher estatildeo presentes todas as faculdades da humanidade
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
22
Importante frisar que o Estado deve empreender accedilotildees positivas para dar efetividade
a esse comando constitucional em prol da garantia de condiccedilotildees dignas para cada ente da
sociedade no sentido de natildeo praticar atos que violem a dignidade da pessoa humana
222 Princiacutepio da Afetividade
Diante das transformaccedilotildees sociais e juriacutedicas que tecircm ocorrido no final do seacuteculo XX
e ao raiar do seacuteculo XXI em se tratando de famiacutelia muitos doutrinadores principalmente os
ligados agrave orientaccedilatildeo do IBDFAM4 vecircm considerando o conceito de famiacutelia apoiando-se em
uma interpretaccedilatildeo extensiva da Constituiccedilatildeo Federal com respaldo no princiacutepio da
dignidade da pessoa humana considerando o afeto mola propulsora nas relaccedilotildees
interpessoais
Deste modo se evidenciam as palavras de Barros ao afirmar que o que realmente
define famiacutelia no contexto atual eacute um vinculo afetivo especial totalmente diferente das
relaccedilotildees de amizade o qual o autor nomeia de afeto conjugal ou afeto familiar
Eacute o afeto entre duas pessoas ou mais pessoas que se afeiccediloam pelo
conviacutevio em virtude de uma origem comum ou em razatildeo de um destino
comum que conjuga suas vidas intimamente tornando-as cocircnjuges quanto
aos meios e fins de sua afeiccedilatildeo ateacute mesmo gerando efeitos patrimoniais
seja patrimocircnio moral seja patrimocircnio econocircmico Este eacute o afeto que define
a famiacutelia ―o afeto conjugal Mais conveniente eacute chamaacute-lo ―afeto familiar
(ou caso se prefira ―afeto familial ou afeiccedilatildeo familiar (BARROS 2001
p12)
Embora em nenhum momento no texto constitucional seja mencionada a palavra
afeto a princiacutepio da categoria constitucional eacute portanto uma construccedilatildeo hermenecircutica
Neste entendimento Dias demonstra interessante raciociacutenio para a deduccedilatildeo do referido
Princiacutepio da ordem juriacutedica brasileira concebendo-o como direito fundamental
Ao serem reconhecidas como entidade familiar merecedora da tutela
juriacutedica as uniotildees estaacuteveis que se constituem sem selo do casamento tal
significa que o afeto que une e enlaccedila duas pessoas adquiriu
reconhecimento e inserccedilatildeo no sistema juriacutedico [] Com a consagraccedilatildeo do
afeto a direito fundamental resta enfraquecida a resistecircncia dos juristas que
natildeo admitem a igualdade entre as filiaccedilotildees bioloacutegica e socioafetiva (DIAS
2006 p60)
4 IBDFAM ndash Instituto Brasileiro de Direito de Famiacutelia
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
23
Neste diapasatildeo o direito de famiacutelia esta construiacutedo sobre os pilares de conteuacutedo
moral e eacutetico cujo foco patrimonial foi legalmente mitigado pela Constituiccedilatildeo Federal e pelo
Coacutedigo Civil abrindo espaccedilo para novos valores relevantes com a famiacutelia hodierna A
pessoa humana foi priorizada em detrimento do patrimocircnio norte das legislaccedilotildees anteriores
tudo em prol do alcance dos fins individuais de desenvolvimento humano dos membros da
famiacutelia no sentido de promoccedilatildeo da dignidade da pessoa humana
Derivando o afeto da convivecircncia familiar natildeo do sangue reconhece-se que o
parentesco soacutecio-afetivo nada mais eacute do que o reconhecimento juriacutedico do afeto Neste
ponto para Angeluci afeto eacute entendido como
As emoccedilotildees positivas que se referem a pessoas e que natildeo tecircm o caraacuteter
dominante e totalitaacuterio Enquanto as emoccedilotildees podem referir-se tanto a
pessoas quanto a coisas fatos ou situaccedilotildees os afetos constituem a classe
restrita de emoccedilotildees que acompanham algumas relaccedilotildees interpessoais
(entre pais e filhos entre amigos entre parentes) limitando-se agrave tonalidade
indicada pelo adjetivo ―afetuoso e que por isso exclui o caraacuteter exclusivista
e dominante da paixatildeo Esta palavra designa o conjunto de atos ou atitudes
como a bondade a benevolecircncia a inclinaccedilatildeo a devoccedilatildeo a proteccedilatildeo o
apego a gratidatildeo a ternura etc que no seu todo podem ser
caracterizados como a situaccedilatildeo em que uma pessoa ―se preocupa com ou
―cuida de outra pessoa ou em que esta responde positivamente aos
cuidados ou agrave preocupaccedilatildeo de que foi objeto O que comumente se chama
―necessidade de afeto eacute a necessidade de ser compreendido assistido
ajudado nas dificuldades seguido com olhar beneacutevolo e confiante Nesteo
afeto natildeo eacute senatildeo uma das formas do amor (ANGELUCI 2006 p 49)
Com o advento da CF88 evidenciou-se a ideia do afeto como um elemento
integrador na formaccedilatildeo das famiacutelias contemporacircneas A definiccedilatildeo acima se mostra completa
e aceita uma vez que engloba todos os aspectos que envolvem as relaccedilotildees afetivas ou
seja o afeto implica no dever de cuidado e de responsabilidade entre pais e filhos avoacutes e
netos companheiros e companheiras enfim todas as pessoas unidas na esfera familiar
Sendo assim o princiacutepio da afetividade eacute de suma importacircncia nas relaccedilotildees familiares em
virtude da necessidade da preservaccedilatildeo da convivecircncia familiar e do afeto entre os membros
da famiacutelia
223 Princiacutepio da Solidariedade Familiar
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
24
A Constituiccedilatildeo Federal reconhece no seu Art 3ordm inc I a solidariedade social como
objetivo fundamental da Repuacuteblica Federativa do Brasil no sentido de estabelecer
sociedade livre justa e igualitaacuteria Por motivos evidentes este princiacutepio acaba repercutindo
nas relaccedilotildees de famiacutelia que exige solidariedade entre os seus membros A este propoacutesito
vale mencionar a posiccedilatildeo que o Superior Tribunal de Justiccedila tomou aplicando o princiacutepio da
solidariedade concedendo aos companheiros o direito de alimento mesmo no caso de uniatildeo
estaacutevel
Alimentos x uniatildeo estaacutevel rompida ao advento da Lei 8971 de 29121994
A uniatildeo duradoura entre homem e mulher com o propoacutesito de estabelecer
uma vida em comum pode determinar a obrigaccedilatildeo de prestar alimentos ao
companheiro necessitado uma vez que o dever de solidariedade natildeo
decorre exclusivamente do casamento mas tambeacutem da realidade do laccedilo
familiar Procedente da Quarta turma (STJ REsp 102819RJ Rel Min
Barros Monteiro 4ordf Turma julgado 2311 1998 DJ 12041999 p 154)
(TARTUCE 2000 p 31)
Eacute necessaacuterio natildeo perder de vista a posiccedilatildeo doutrinaacuteria de Dias de modo
esclarecedor ao asseverar que a solidariedade natildeo eacute soacute patrimonial eacute afetiva e psicoloacutegica
Assim
Ao gerar deveres reciacuteprocos entre os integrantes do grupo familiar safa-se o
Estado de encargo de prover toda a gama de direito que eacute assegurado
constitucionalmente ao cidadatildeo Basta atentar que em se tratando de
crianccedila e adolescentes eacute atribuiacutedo primeiro agrave famiacutelia depois agrave sociedade e
finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade
os direitos inerentes aos cidadatildeos em formaccedilatildeo (2005 p 62)
Frisa ainda a mencionada autora que o princiacutepio da solidariedade familiar
tambeacutem implica respeito e consideraccedilatildeo muacutetuos em relaccedilatildeo aos membros da entidade
familiar desta forma partindo da oacutetica de mudanccedila de paradigma do individualismo para a
solidariedade (LOcircBO 2009 p9)
224 Princiacutepio da Igualdade na Chefia Familiar
Diante da igualdade proclamada na Constituiccedilatildeo Federal entre homens e mulheres
no seu (Art5ordm I) e em decorrecircncia loacutegica do exerciacutecio de forma igualitaacuteria do princiacutepio da
igualdade entre os cocircnjuges e companheiros (Art 226 sect 5ordm) no mesmo diploma legal surge
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
25
o Princiacutepio da igualdade da chefia familiar devendo ser exercido concomitantemente pelo
homem e pela mulher em um regime democraacutetico de colaboraccedilatildeo podendo tambeacutem os
filhos apresentarem sugestotildees
Fica evidente que eacute
Um regime de companheirismo ou colaboraccedilatildeo desaparecendo a figura
hieraacuterquica do pai dando prevalecircncia ao poder familiar Pode-se usar a
expressatildeo despatriarcalizaccedilatildeo do Direito de Famiacutelia jaacute que a figura paterna
natildeo exerce o poder de dominaccedilatildeo do passado (TARTUCE 2007 p35)
Essa tese encontra agasalho no Coacutedigo Civil vigente no seu Art1556 incs III e IV
quando se reporta sobre os deveres do casamento ressaltando a assistecircncia muacutetua e o
respeito e consideraccedilotildees muacutetuos ou seja prestado por ambos os cocircnjuges de acordo com
as possibilidades de cada um como tambeacutem eacute previsatildeo do Art1631 do mesmo Codex que
durante o casamento ou uniatildeo estaacutevel o poder familiar compete aos pais
Esta orientaccedilatildeo do poder familiar de maneira igualitaacuteria consta ainda no Art1654 do
CC trazendo as seguintes contribuiccedilotildees direccedilatildeo e educaccedilatildeo dos filhos ter os filhos em sua
companhia e guarda conceder aos filhos ou lhes negar consentimento para casarem
nomeaacute-los tutor por testamento ou documento autecircntico se o outro dos pais natildeo lhes
sobreviver ou se o sobrevivo natildeo puder exercer o poder familiar representar os filhos ateacute
aos dezesseis anos nos atos da vida civil e assisti-los apoacutes essa idade nos atos em que
forem partes suprindo-lhes o consentimento reclamaacute-los de quem ilegalmente os detenha
exigir que lhes prestem obediecircncia respeito e os serviccedilos proacuteprios de sua idade e condiccedilatildeo
A importacircncia deste princiacutepio na conduccedilatildeo da entidade familiar haacute de nortear toda a
orientaccedilatildeo dos filhos enquanto menores e reger toda a entidade familiar de maneira
democraacutetica e participativa dos cocircnjuges e companheiros
225 Princiacutepio da Igualdade entre os Cocircnjuges e Companheira
Como regem os Arts 226 sect 3ordm e 5ordm I da CF88 verifica-se a igualdade ampla entre
homens e mulheres sendo este um imperativo eacutetico da contemporaneidade segundo o qual
a lei reconhece a igualdade entre homens e mulheres no que se refere agrave sociedade
conjugal formada pelo casamento ou pela uniatildeo estaacutevel deixando claro que natildeo seraacute
permitida qualquer forma de distinccedilatildeo decorrente do sexo como aponta Tartuce (2007)
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
26
Complementando este pensamento tem-se que ―os casamentos como quaisquer
outras relaccedilotildees conjugais soacute se manteratildeo com uma renovaccedilatildeo contiacutenua de parceria jaacute que
agora o pacto amoroso pressupotildee condiccedilotildees de igualdade e natildeo mais de subordinaccedilatildeo
como era ateacute a pouco tempo (CUNHA PEREIRA 2005 p148)
O reconhecimento da igualdade entre cocircnjuges e companheiros permite
maridocompanheiro pleitear alimentos da mulhercompanheira e vice-versa como tambeacutem
a utilizaccedilatildeo de do sobrenome um do outro conforme acordarem as partes Em alguns
casos Tartuce (2007) observa que a jurisprudecircncia paulista entende que ―haveraacute direito a
pensatildeo somente por tempo razoaacutevel enquanto uma das partes se posiciona no mercado de
trabalho (TJSP Apelaccedilatildeo Ciacutevel 196277-4SP 4ordf Cacircmara do Direito Privado rel Aguilar
Cortez 23082001)
Em razatildeo dessa igualdade eacute gritante o posicionamento de alguns civilistas adeptos
do Direito Civil Constitucionalizado ainda a aplicaccedilatildeo do Art 100 I do CPC que prevecirc a
favor da mulher foro privilegiado para as accedilotildees relacionadas ao casamento No entanto o
Superior Tribunal de Justiccedila continua entendendo que se trata de norma especial de
competecircncia e esta deve prevalecer
Haacute de se observar que antes da inclusatildeo do princiacutepio da igualdade entre cocircnjuges e
companheiros como forma prevalente no nosso ordenamento natildeo se questionava a guarda
dos filhos em caso de separaccedilatildeo visto que a mulher vivia no lar e tinha disponibilidade para
cuidar deles Esta situaccedilatildeo foi revista com a entrada da mulher no mercado de trabalho a
redivisatildeo de tarefas domeacutesticas e a introduccedilatildeo do princiacutepio do melhor interesse da crianccedila
226 Princiacutepio da Funccedilatildeo Social da Famiacutelia
A ideia mais antiga da funccedilatildeo social de que se tem notiacutecia surgiu aplicada agrave
propriedade da terra Ao contraacuterio deste entendimento a funccedilatildeo social da famiacutelia natildeo deriva
da funccedilatildeo social da propriedade Sendo assim os valores que fundamentam sua existecircncia
estatildeo espalhados no texto constitucional
Quanto agrave funccedilatildeo social da famiacutelia deve-se levar em consideraccedilatildeo a questatildeo dos
direito humanos e fundamentais aplicados agraves relaccedilotildees entre as pessoas que integram a
famiacutelia que deveratildeo se desenvolver de modo a valorizar a dignidade miacutenima para a pessoa
humana em todos os seus aspectos como sejam moral emocional e afetiva
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
27
Neste entendimento eacute importante o reconhecimento de que a nossa Constituiccedilatildeo
estabeleceu como paracircmetro de todo ordenamento juriacutedico a dignidade da pessoa humana
conforme as liccedilotildees de Tepedino
Com efeito a escolha da dignidade da pessoa humana como fundamento
da Repuacuteblica associado ao objetivo fundamental de erradicaccedilatildeo da pobreza
e da marginalizaccedilatildeo e de reduccedilatildeo das desigualdades sociais juntamente
com a previsatildeo do sect 2ordm do Art 5ordm no sentido de natildeo-exclusatildeo de quaisquer
direitos e garantias mesmo natildeo expressos desde que decorrentes dos
princiacutepios adotados pelo Texto Maior configuram uma verdadeira claacuteusula
geral de tutela e promoccedilatildeo da pessoa humana tomada como valor maacuteximo
pelo ordenamento (TEPEDINO 2001 p48)
Em outras palavras e tendo em vista esses princiacutepios a famiacutelia contemporacircnea jaacute
natildeo pode ser concebida como um fim em si mesma como ocorria antes da Constituiccedilatildeo de
1988 voltada exclusivamente para o patrimocircnio atrelado ao Coacutedigo Civil de 1916
Assim quando presente a expressatildeo funccedilatildeo social da famiacutelia de imediato deve vir agrave
mente a mudanccedila de padrotildees instaurados no Direito de Famiacutelia Conforme Tartuce ―a
sociedade muda a famiacutelia se altera e o Direito deve acompanhar essas transformaccedilotildees
(TARTUCE 2007 p 42)
Em resumo a funccedilatildeo social natildeo deve ser concebida sob uma visatildeo individualista e
patrimonial Diante da realidade atual a famiacutelia possui incumbecircncia de assumir a
responsabilidade de exercitar a sua funccedilatildeo social no sentido mais amplo em que o afeto e a
dignidade da pessoa humana permeiam as entidades familiares caracteriacutesticas
estreitamente ligadas agrave solidariedade que inspira o texto constitucional na medida em que
seja capaz de propiciar um lugar privilegiado para boa existecircncia dos seus integrantes
Destaca-se neste ponto a importacircncia do estudo da funccedilatildeo social da famiacutelia reflexo
de um movimento em pleno desenvolvimento na atualidade tanto no sentido teoacuterico
jurisprudencial como legislativo Nesse contexto foi editada a Lei Maria da Penha que
configura um instrumento legislativo que possibilita a implementaccedilatildeo de medidas que
colaborem com o combate agrave violecircncia domeacutestica contra as mulheres
Observa-se que pela primeira vez na seara infraconstitucional se expressa a ideia
de que a famiacutelia natildeo eacute constituiacuteda por imposiccedilatildeo legal como o foi nas importantes e
anteriores codificaccedilotildees mas sim por vontade dos seus proacuteprios membros
Estaacute demonstrado no art 5ordm e paraacutegrafo uacutenico da Lei 1134006 que assim
dispotildee
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
28
Art 5deg Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (Brasil 2014)
Nesse sentido o pensamento luacutecido de que
Eacute imperioso reconhecer que as uniotildees homoafetivas constituem uma
unidade domeacutestica natildeo importando o sexo dos parceiros Quer as uniotildees
formadas por um homem e uma mulher quer as formadas por duas
mulheres quer as formadas por um homem e uma pessoa com distinta
identidade de gecircnero todas configuram entidade familiar Ainda que a lei
tenha por finalidade proteger a mulher fato eacute que ampliou o conceito de
famiacutelia independentemente do sexo dos parceiros Se tambeacutem famiacutelia eacute a
uniatildeo entre duas mulheres igualmente eacute famiacutelia a uniatildeo entre dois homens
Basta invocar o princiacutepio da igualdade A partir da nova definiccedilatildeo de
entidade familiar natildeo mais cabe questionar a natureza dos viacutenculos
formados por pessoas do mesmo sexo Ningueacutem pode continuar
sustentando que em face da omissatildeo legislativa natildeo eacute possiacutevel emprestar-
lhes efeitos juriacutedicos (DIAS 2006 p 111)
Baseada nestes princiacutepios a Lei Maria da Penha ganha forccedila para construirmos uma
sociedade justa e paciacutefica respeitando as diversidades sociais e culturais e principalmente
as diferenccedilas de gecircnero
23 VIOLEcircNCIA CONTRA A MULHER
A violecircncia natildeo eacute um fenocircmeno recente No entanto podemos dizer que suas
manifestaccedilotildees se multiplicam assim como os atores envolvidos assertiva esta que nos leva
a conceituar o termo em questatildeo
No dicionaacuterio Houaiss o termo violecircncia significa ―o uso da forccedila fiacutesica accedilatildeo de
intimidar algueacutem moralmente ou o seu efeito accedilatildeo destrutiva exercida com iacutempeto forccedila
expressatildeo ou sentimento vigoroso fervor (HOUAISS 2009 p 772)
Conceituando o termo violecircncia tem-se que esta eacute
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
29
O uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para obrigar a outra pessoa
a fazer algo contra a sua vontade eacute impedir a outra pessoa de manifestar
seu desejo e sua vontade Eacute um meio de manter a outra pessoa sob seu
domiacutenio Eacute uma violaccedilatildeo dos direitos humanos (TELES e MELO 2003 p
15)
Pode-se definir tambeacutem a violecircncia como ―A ruptura de qualquer forma de
integridade da viacutetima seja de forma fiacutesica psiacutequica sexual ou moral (SAFFIOTI 2004 p
17)
Segundo Durkheim (1966) a violecircncia eacute definida como um sintoma de
funcionamento ineficiente das instituiccedilotildees sociais nos processos de socializaccedilatildeo e em
relaccedilatildeo agraves normas sociais e juriacutedicas vigentes em dada sociedade
Na busca deste conceito podemos incorrer em alguns equiacutevocos que podem
comprometer uma anaacutelise mais criteriosa Desta forma ao nos propor compreender e
delimitar o fenocircmeno da violecircncia tem-se que buscar ―reunir o que o vulgo separa ou
distinguir o que o vulgo confunde (BOURDIEU et al 2004 p25)
Ou seja os conhecimentos vagos tatildeo presentes no senso comum devem ser
evitados e separados das cientiacuteficas Por essa razatildeo tratar do tema violecircncia envolve
sempre o risco da sua banalizaccedilatildeo e do uso do senso comum
Conceituar violecircncia eacute bastante difiacutecil pois de forma isolada pouquiacutessimos
comportamentos podem ser classificados como violentos Para circundarmos este conceito
adequadamente precisamos levar em consideraccedilatildeo pelo menos trecircs fatores 1) o momento
histoacuterico 2) a cultura 3) a relaccedilatildeo e o contexto no qual tal comportamento se ocorreu
Neste sentido natildeo podemos equivocadamente dissociar a violecircncia do seu contexto
histoacuterico temporal e cultural Erroneamente tentamos definir violecircncia ignorando as
mudanccedilas de comportamento ocorridas ao longo da histoacuteria das variaccedilotildees sociais e
culturais
Tratando a violecircncia como um assunto complexo que eacute a compreensatildeo desta
necessita de articulaccedilatildeo de conceitos na busca do seu entendimento e enfrentamento
Souza (1993) ressalta que historicamente a violecircncia foi mais comumente identificada
como criminalidade e por isso quase que objeto de reflexatildeo exclusiva das Ciecircncias
Juriacutedicas
Soacute mais recentemente ela passou a ser incorporada de maneira mais sistemaacutetica
por outras aacutereas do conhecimento Significa dizer que a violecircncia atinge as mais diversas
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
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A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
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Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
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que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
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IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
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As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
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de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
30
camadas da sociedade em condiccedilotildees histoacutericas sociais e culturais distintas evidenciando
que as possibilidades de construir uma vida sem violecircncia depende de mudanccedilas profundas
nas relaccedilotildees sociais em todos os acircmbitos
Arendt (1990) que possui uma das mais vigorosas reflexotildees sobre a temaacutetica
violecircncia considera que nenhum historiador ou estudioso da poliacutetica deveria ser alheio ao
imenso papel que a violecircncia sempre desempenhou nos assuntos humanos e fica surpresa
com quatildeo pouco esse fenocircmeno eacute interrogado e investigado pelos cientistas Ainda relata
em seus estudos que a violecircncia tem caraacuteter instrumental ou seja eacute um meio que necessita
de orientaccedilatildeo e justificaccedilatildeo dos fins que persegue
Observa-se no momento alteraccedilotildees histoacutericas e culturais razatildeo pela qual existe
uma farta literatura da violecircncia enfocando especificamente o tema gecircnero
231 Violecircncia de Gecircnero
O ponto central eacute a percepccedilatildeo do uso cultural do termo Gecircnero associado agraves
relaccedilotildees socialmente constituiacutedas entre homens e mulheres quer satildeo efetivadas atraveacutes da
famiacutelia da escola da religiatildeo e das relaccedilotildees de trabalho Eacute assim que ―se aprende como
ser mulher e ser homem a se comportar como tais em nossa sociedade
A maacutexima ―[] natildeo se nasce mulher torna-se mulher (BEAUVOIR 1990 p 9)
difundida em 1949 representa em poucas palavras todo o conteuacutedo da palavra gecircnero ao
enfatizar a construccedilatildeo cultural impressa no sexo (homemmasculino mulherfeminino)
No acircmbito relacional e acadecircmico gecircnero refere-se a papeacuteis sociais e sexuais
desempenhados por mulheres e homens mdash e entre eles mdash em cada sociedade numa
relaccedilatildeo inseparaacutevel de poder e saber Juntando esses referenciais Scott define gecircnero
como ―as condiccedilotildees de desigualdades presentes entre homens e mulheres sobretudo nas
relaccedilotildees hieraacuterquicas e de poder (SCOTT1995 p15)
Eacute um conceito que se refere aos papeacuteis atribuiacutedos social e culturalmente aos sexos
aleacutem de raccedilaetnia classe que satildeo determinantes haacute desigualdades associadas tais como
acesso agrave Justiccedila agrave tecnologia a sauacutede ao sistema financeiro entre outras
Segundo Scott (1990 p16) ―gecircnero constitui-se no meio de decodificar o sentido e
de compreender as relaccedilotildees complexas entre as diversas formas de interaccedilatildeo humana Ela
nos reporta ao pensamento de que somos iguais e que temos os mesmos direitos e
31
deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
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deveres que devemos apenas nos basear na palavra gecircnero para compreender melhor
como este se constituiacute dentro das relaccedilotildees e suas complexidades e natildeo como um meio de
discriminaccedilatildeo e opressatildeo que assola as mulheres nos mais diferentes acircmbitos Na maioria
das vezes as opressotildees dispostas para as mulheres ocorrem dentro do acircmbito familiar jaacute
que pesquisas apontam que esta violecircncia eacute praticada pelos seus proacuteprios companheiros
maridos fazendo com que esta se submeta agrave violecircncia
Conforme Costa (2014 p58) a desigualdade de gecircnero condicionou o acesso a
direitos os quais as mulheres reivindicam em sua plenitude e natildeo apenas do ponto de vista
legal Ao lado do direito agrave igualdade surge o direito agrave diferenccedila orientado pelos criteacuterios de
gecircnero orientaccedilatildeo sexual idade raccedila etnia e demais criteacuterios
Percebe-se que a concepccedilatildeo de igualdade pressupotildee o direito ao reconhecimento
das diferenccedilas E para que esse reconhecimento se torne concreto satildeo necessaacuterias
medidas de enfrentamento por meio da transformaccedilatildeo cultural e da adoccedilatildeo de uma poliacutetica
de reconhecimento
Baseado nesta poliacutetica de reconhecimento que se pode avanccedilar na reavaliaccedilatildeo
positiva de identidades discriminadas negadas e desrespeitadas Eacute quando se iniciam a
desconstruccedilatildeo de estereoacutetipos e preconceitos isto eacute demonstrar que determinados
atributos predefinidos como masculinos ou femininos natildeo podem ser generalizados para
todas as pessoas e a valorizaccedilatildeo da diversidade cultural
Eacute nesse contexto sob a inspiraccedilatildeo do valor da diversidade que os instrumentos
especiacuteficos para a proteccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres passam a ser elaborados
tanto no acircmbito internacional como no acircmbito interno
Opressotildees se manifestam natildeo apenas nos maus tratos que elas
experimentam nas matildeos dos proacuteprios companheiros mas no fato de que
suas necessidades baacutesicas de sobrevivecircncia como alimentaccedilatildeo habitaccedilatildeo
vestuaacuterio e cuidados com a sauacutede trabalho e renda frequentemente
desatendida (GROSSI 1994 p 52)
Segundo Basted apud Grossi (1997) a psicologia caracteriza como inferioridades as
desigualdades enfrentadas pelas mulheres que apenas tornam-se superficiais quando
equipa naturalmente estas para serem excelentes em seus papeacuteis de esposas e matildees
Satildeo boas as mulheres que trabalham e mantecircm a seus pais filhos e irmatildeos
as que satildeo capazes de renunciar a seus gostos e prazeres O requisito
baacutesico eacute que faccedilam tudo para o bem dos demais Esse discurso eacute
assimilado pelas mulheres recriando um modo de vida e constituindo assim
um conselho social (SIMOIS1993 p 56)
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Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
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A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
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Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
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que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
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Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
32
Isto retrata o sentido da culturalidade das accedilotildees desenvolvidas pela sociedade ao
longo dos anos levando a mulher a exteriorizar este comportamento muitas vezes natildeo
aceito motivo das diversas lutas que se seguiram e determinaram a criaccedilatildeo de
Convenccedilotildees Tratados e Leis na defesa dos direitos da mulher
Existe uma dificuldade em libertar-se deste contexto violento em buscar uma forma
de escapar deste cenaacuterio imposto pelos maridos e companheiros O medo da intimidade
pelo receio de uma relaccedilatildeo submissa a outro parece estar tambeacutem no cerne da negativa de
muitas das mulheres em voltar a estabelecer uma relaccedilatildeo afetiva com outro homem apoacutes se
separarem principalmente quando implica morarem na mesma casa
Devemos portanto levar em conta que uma extensiva reestruturaccedilatildeo
deveraacute ser realizada no acircmago da organizaccedilatildeo familiar em setores
econocircmicos da sociedade no sentido de favorececirc-la para que homens e
mulheres compartilhem da mesma valorizaccedilatildeo social e se relacionem em
posiccedilatildeo de desigualdade e de respeito muacutetuo (ZUWICK apud MATTOS et
al 2001 p37)
Para Strey (1998) as diferenccedilas sexuais satildeo fiacutesicas as diferenccedilas de gecircnero satildeo
socialmente construiacutedas o respeito ou o medo ao marido apesar do sofrimento eacute um valor
cultural sedimentado Entrar nessa discussatildeo eacute questionar uma forma de viver e todas as
barreiras que impedem de ter outra vida Ignorar uma situaccedilatildeo desse tipo tatildeo iacutentima
cotidiana que causa sofrimento infelicidade doenccedilas e amarguras eacute o mesmo que
compactuar com ela
Como as mulheres mesmo falam eacute difiacutecil se libertar mas eacute difiacutecil natildeo se libertar Eacute
doloroso usar tantas artimanhas inclusive na cama reprimir os proacuteprios sonhos para
conseguir viver nesse pacto do morrer (STREY1998) Estas ideias nos remetem a
exploraccedilatildeo da experiecircncia de violecircncia domeacutestica que apesar de estar envolta de todos os
aspectos anteriormente citados ganha uma roupagem especial de acordo com cada caso
Conforme o Coletivo Feminista (2008 p15) ―Violecircncia de gecircnero eacute definida como a
violecircncia sofrida pelas mulheres sem distinccedilatildeo de raccedila classe social idade ou religiatildeo em
que o sexo feminino eacute subordinado por um sistema social
Monteiro e Souza (2007) apontam que as relaccedilotildees entre um casal devem ser
pensadas como relaccedilotildees de gecircnero ou seja uma criaccedilatildeo social de papeacuteis proacuteprios de
homens e mulheres
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
33
A violecircncia de gecircnero se proliferou como expressatildeo utilizada na referecircncia aos
diversos tipos de violecircncia praticados contra a mulher tais como violecircncia fiacutesica psicoloacutegica
e sexual natildeo apenas no acircmbito familiar mas tambeacutem nas outras relaccedilotildees sociais
caracterizada pela subordinaccedilatildeo da mulher ao homem
Nos mostra Sousa com sua explanaccedilatildeo que ―A violecircncia de gecircnero se apresenta
assim como um gecircnerolsquo do qual as demais satildeo espeacutecies (SOUSA 2007 p35) Deste
modo evidente que a violecircncia contra a mulher seja uma violecircncia de gecircnero tendo em
vista sua peculiaridade uma vez cometida na maioria das vezes no acircmbito domeacutestico
geralmente por algueacutem que possui envolvimento afetivo com a viacutetima o que dificulta a
denuacutencia e puniccedilatildeo desse agressor
Outro renomado doutrinador ensina que ―a violecircncia de gecircnero pode mascarar outros
tipos de violecircncia contra a mulher pois natildeo se considera como violecircncia de gecircnero apenas
a violecircncia fiacutesica e sexual mas tambeacutem a violecircncia psicoloacutegica e a patrimonial
(CAMARGO 2008 p 133)
Segundo estudo da ONU (2006) violecircncia contra a mulher eacute todo ato de violecircncia
praticado por motivos de gecircnero dirigido contra uma mulher O termo mulher abarca todas
as pessoas do sexo feminino de qualquer idade incluiacutedas as crianccedilas e adolescentes
No Dicionaacuterio da Violecircncia contra a Mulher (Coletivo Feminista 2008) a expressatildeo
violecircncia contra a mulher refere-se agrave violaccedilatildeo dos direitos humanos das mulheres e consiste
no uso da forccedila fiacutesica psicoloacutegica ou intelectual para submetecirc-la tolher sua liberdade e
impedir a manifestaccedilatildeo de seus desejos atraveacutes de ameaccedilas ou agressotildees
As definiccedilotildees acima nos levam a uma dupla observaccedilatildeo a primeira se refere a
violecircncia contra a mulher ocorrendo num niacutevel estrutural da sociedade considerando
aspectos culturais e sociais e a outra envolve as mulheres nas suas relaccedilotildees interpessoais
praticada em sua maioria no acircmbito familiar o que nos leva a estudar a violecircncia domeacutestica
e familiar
232Violecircncia domeacutestica
A violecircncia domeacutestica entendida como todo tipo de violecircncia praticada no acircmbito
privado por pessoas que convivam ou se relacionem afetivamente com a viacutetima eacute um tema
atual que vem sendo amplamente debatido e investigado nas mais diferentes aacutereas do
conhecimento
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
34
Eacute considerada por suas proporccedilotildees como ―um problema de sauacutede puacuteblica e uma
das formas mais generalizadas de violaccedilatildeo dos direitos humanos (SILVA COELHO e
CAPONI 2007 P12) Assim violecircncia domeacutestica eacute a que ocorre no acircmbito privado
perpetrada por um membro da famiacutelia que conviva ou tenha relacionamento afetivo com a
viacutetima (COLETIVO FEMINISTA 2008)
O conceito de mulher eacute mais abrangente pois ―[] encontram-se as leacutesbicas os
transgecircneros os transexuais e as travestis que tenham identidade com o sexo feminino A
agressatildeo contra elas no acircmbito familiar tambeacutem constitui violecircncia domeacutestica (DIAS 2006
p59) Ou seja para ser sujeito passivo de violecircncia domeacutestica natildeo haacute a obrigatoriedade de
ser mulher mas de ter identidade com o sexo feminino
Tambeacutem se verifica na teoria de Martin-Baroacute (2003) que a violecircncia acontece em
diversos momentos do fazer humano mas estaacute intimamente relacionada a estrutura social
As ocorrecircncias histoacutericas culturais e as agressotildees decorrentes das relaccedilotildees
familiares nos depara com a violecircncia domeacutestica e familiar definida originalmente no art 1deg
da Convenccedilatildeo do Beleacutem do Paraacute adotada pela Assembleia Geral da Organizaccedilatildeo dos
Estados Americanos em 09061994 como sendo ―Para os efeitos desta Convenccedilatildeo
entender-se-aacute por violecircncia contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gecircnero que
cause morte dano ou sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico agrave mulher tanto na esfera
puacuteblica como na esfera privada Esta Convenccedilatildeo com o primeiro conceito americano com
relaccedilatildeo agrave violecircncia foi ratificada pelo Brasil em 07111995
Por fim a violecircncia domeacutestica apenas reproduz no ambiente domeacutestico uma
violecircncia estrutural jaacute instalada tendo a sua reduccedilatildeo concretizada no Brasil com a Lei Maria
da Penha
24 LEI 113402006 ndash LEI MARIA DA PENHA
Assim o Brasil seja como expressatildeo da Democracia seja como proteccedilatildeo ao
desenvolvimento integral da pessoa em respeito agrave dignidade das mulheres no ano de 2006
fez surgir uma grande conquista para as mulheres
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade em todas as instacircncias cuja tramitaccedilatildeo
durou vinte meses fruto do processo da OEA movido por Maria da Penha Maia Fernandes
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
35
que condenou o Brasil por negligecircncia e omissatildeo em relaccedilatildeo agrave violecircncia domeacutestica a ela
acometida fato este que resultou na criaccedilatildeo da Lei 113402006 que levou o seu nome
Uma das puniccedilotildees foi a recomendaccedilatildeo para que fosse criada uma legislaccedilatildeo
adequada a esse tipo de violecircncia Com a sua criaccedilatildeo temos legalmente o conceito de
violecircncia domeacutestica em seu artigo 5deg
Art 5o Para os efeitos desta Lei configura violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher qualquer accedilatildeo ou omissatildeo baseada no gecircnero que lhe
cause morte lesatildeo sofrimento fiacutesico sexual ou psicoloacutegico e dano moral ou
patrimonial
I - no acircmbito da unidade domeacutestica compreendida como o espaccedilo de
conviacutevio permanente de pessoas com ou sem viacutenculo familiar inclusive as
esporadicamente agregadas
II - no acircmbito da famiacutelia compreendida como a comunidade formada por
indiviacuteduos que satildeo ou se consideram aparentados unidos por laccedilos
naturais por afinidade ou por vontade expressa
III - em qualquer relaccedilatildeo iacutentima de afeto na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida independentemente de coabitaccedilatildeo
Paraacutegrafo uacutenico As relaccedilotildees pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientaccedilatildeo sexual (BRASIL 2014)
Com a entrada em vigor da Lei 113402006 tem-se atualmente um respaldo juriacutedico
para as viacutetimas das mais variadas espeacutecies de violecircncia domeacutestica e familiar contra a
mulher no seu artigo 7ordm tais como
I - a violecircncia fiacutesica entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou sauacutede corporal
II - a violecircncia psicoloacutegica entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuiccedilatildeo da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
accedilotildees comportamentos crenccedilas e decisotildees mediante ameaccedila
constrangimento humilhaccedilatildeo manipulaccedilatildeo isolamento vigilacircncia
constante perseguiccedilatildeo contumaz insulto chantagem ridicularizaratildeo
exploraccedilatildeo e limitaccedilatildeo do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuiacutezo agrave sauacutede psicoloacutegica e agrave autodeterminaccedilatildeo
III - a violecircncia sexual entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar a manter ou a participar de relaccedilatildeo sexual natildeo desejada
mediante intimidaccedilatildeo ameaccedila coaccedilatildeo ou uso da forccedila que a induza a
comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sua sexualidade que a
impeccedila de usar qualquer meacutetodo contraceptivo ou que a force ao
matrimocircnio agrave gravidez ao aborto ou agrave prostituiccedilatildeo mediante coaccedilatildeo
chantagem suborno ou manipulaccedilatildeo ou que limite ou anule o exerciacutecio de
seus direitos sexuais e reprodutivos
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
36
IV - a violecircncia patrimonial entendida como qualquer conduta que configure
retenccedilatildeo subtraccedilatildeo destruiccedilatildeo parcial ou total de seus objetos
instrumentos de trabalho documentos pessoais bens valores e direitos ou
recursos econocircmicos incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades
V - a violecircncia moral entendida como qualquer conduta que configure
caluacutenia difamaccedilatildeo ou injuacuteria (BRASIL2014)
No que diz respeito agraves formas tradicionais de violecircncia contra mulher (fiacutesica
psicoloacutegica e sexual) a Lei Maria de Penha traz inovaccedilotildees no cenaacuterio juriacutedico ao enquadrar
tambeacutem a violecircncia moral e patrimonial Dessa forma entende-se que a lei daacute respaldo a
mulher vitimada para sair do ciclo da violecircncia cabendo ao poder puacuteblico desenvolver
poliacuteticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no acircmbito das relaccedilotildees
domeacutesticas e familiares no sentido de resguardaacute-las de toda forma de negligecircncia violecircncia
crueldade e opressatildeo
Deste modo a lei trouxe grandes inovaccedilotildees ao considerar a violecircncia psicoloacutegica
como uma das formas de violecircncia contra a mulher bem como ao mencionar as relaccedilotildees de
afeto para definir famiacutelia
Conforme Dias (2006 p47) pela primeira vez a lei inova trazendo conceito de
famiacutelia ligado ao afeto e falando em indiviacuteduos abrangendo tambeacutem as uniotildees
homoafetivas e natildeo apenas os casamentos entre homens e mulheres Nesse sentido
define como famiacutelia natildeo apenas a relaccedilatildeo de casamento mas toda relaccedilatildeo de afeto
conceito que estaacute sendo utilizado atualmente pelo direito das famiacutelias Neste sentido
entendem-se como violecircncia domeacutestica as agressotildees sofridas pela mulher no acircmbito
domeacutestico ou familiar bem como a agressatildeo oriunda de relaccedilatildeo de afeto como em
relaccedilotildees de namoro natildeo sendo necessaacuterio haver ou ter havido coabitaccedilatildeo
Em 07 de agosto de 2013 a Lei Federal 1134006 completou 7 anos Agrave eacutepoca da
sua publicaccedilatildeo a lei foi muito festejada pela sociedade em geral jaacute que criou mecanismo
coibir com rigor a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher regulamentando o art 226
sect 8deg da Constituiccedilatildeo Federal e em conformidade com a Convenccedilatildeo sobre a Eliminaccedilatildeo de
Todas as Formas de Discriminaccedilatildeo contra as Mulheres e da Convenccedilatildeo Interamericana
para Prevenir Punir e Erradicar a Violecircncia contra a Mulher
O momento mais que oportuno uma vez que a praacutetica de atos violentos contra a
mulher sempre fez parte da nossa histoacuteria Muitos satildeo os casos judiciais em que o homem
motivado por sentimento de posse ―amor cego e agraves vezes por puro sadismo agride sua
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
37
companheiraesposa na tentativa de reduzir as suas frustraccedilotildees e o seu oacutedio Nestas
situaccedilotildees quando a violecircncia masculina resultou em morte o Poder Judiciaacuterio sempre teve
total capacidade para punir severamente o agressor uma vez que o crime eacute tipificado no
art121 do Coacutedigo Penal Quase sempre foi necessaacuteria a iniciativa do Ministeacuterio Puacuteblico para
efetivar e garantir da puniccedilatildeo do crime
A morte natildeo eacute a regra Restam cotidianamente os resultados das agressotildees fiacutesicas
geradores de hematomas arranhotildees e pequenas fraturas Entretanto vale aqui mencionar
que essas agressotildees corriqueiras justamente porque visam desestabilizar o orgulho e a
autoestima da mulher satildeo as que deixam marcas psicoloacutegicas mais profundas verdadeiras
feridas na alma feminina que jamais seratildeo curadas
A Cartilha Lei Maria da Penha da SPM (2014 p9) evidencia que como
consequecircncia da referida Lei passa a existir um sistema de poliacuteticas puacuteblicas direcionado
aacutes mulheres Isto somente eacute possiacutevel devido a uniatildeo de esforccedilos de diversos oacutergatildeos da
administraccedilatildeo puacuteblica federal e estadual do poder judiciaacuterio e legislativo dos Ministeacuterios
Puacutebicos Estaduais e Defensorias Puacuteblicas Todos eles articulados entre si comprovam que
a violecircncia domeacutestica como uma problema multidimensional que eacute requer soluccedilotildees
altamente complexas
Significa dizer que aleacutem da preocupaccedilatildeo com a prevenccedilatildeo e proteccedilatildeo das viacutetimas o
Estado tem a responsabilidade de implementar politicas puacuteblicas para reconstruccedilatildeo da vida
das mulheres nas aacutereas de assistecircncia social sauacutede e trabalho
241 Medidas Protetivas de Urgecircncia
Uma das inovaccedilotildees da Lei 11334006 foi conceder medidas protetivas de urgecircncia agrave
mulher que esteja em situaccedilatildeo de risco face agrave gravidade dos atos violentos que eacute
submetida por parte do seu agressor
A concessatildeo destas medidas visa acelerar a soluccedilatildeo dos problemas da mulher
agredida servindo como meio de proteccedilatildeo e garantia aos seus direitos O rol destas
medidas inseridas no ordenamento juriacutedico atraveacutes da Lei 1134006 propotildee resguardar e
proteger a integridade fiacutesica emocional sexual e patrimonial mulher viacutetima da violecircncia
perpetrada no acircmbito domeacutestico e familiar
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
38
Tais medidas protetivas objetivam intimidar agressores e garantir a integridade moral
e fiacutesica da ofendida Ou seja satildeo accedilotildees solicitadas pelas DEAMlsquos (Delegacia Especial de
Atendimento agrave Mulher) e Ministeacuterio Puacuteblico analisadas e expedidas pelo Juizado
competente obrigando o agressor a uma seacuterie de condutas que visam a seguranccedila da
viacutetima de dosas filhosas
Entende-se que a ―Lei Maria da Penha foi criada para aleacutem de sua accedilatildeo educativa
(quando altera a Lei de Execuccedilatildeo Penal em seu art 152 com o comparecimento do
agressor em programas de recuperaccedilatildeo por determinaccedilatildeo judicial) ser de fato uma lei que
protege a mulher naqueles casos mais graves criando o Tiacutetulo IV - Capitulo II
exclusivamente para tratar de sua proteccedilatildeo legal com a instituiccedilatildeo das Medidas Protetivas
de Urgecircncia objeto do nosso estudo
Muito se fala em Medidas Protetivas de Urgecircncia e apesar do termo sugestionar
o objetivo ao qual se finda este estudo eacute de bom tom conceituaacute-las De acordo com o poder
Judiciaacuterio do Estado do Cearaacute satildeo ―medidas cautelares que o juiz poderaacute conceder agrave viacutetima
para proteger sua integridade fiacutesica
Neste sentido ―Medidas Protetivas visam garantir a seguranccedila pessoal e patrimonial
da viacutetima e sua prole no primeiro momento apoacutes a denuacutencia da violecircncia domeacutestica contra agrave
mulher (DIAS 2007 p78) Abordam integralmente o enfrentamento da violecircncia agrave mulher
protege seus direitos sendo fundamental para evitar danos futuros diante das
consequecircncias das agressotildees a que satildeo submetidas
As medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha natildeo satildeo instrumento
para dar continuidade ao processo Tais medidas credenciam a viacutetima mesmo
diante da ausecircncia de um processo criminal a possibilidade de enfrentar atraveacutes de
medidas emergenciais a soluccedilatildeo de problemas iminentes quando da ocorrecircncia do
crime
Satildeo medidas que objetivam proteger e prevenir violaccedilotildees dos direitos
humanos das viacutetimas e principalmente garantir o atendimento imediato das viacutetimas
Satildeo elas que asseguram o direito fundamental das mulheres vitimas de violecircncia
evitando os desdobramentos daiacute decorrentes Elas natildeo visam o processo em si e
sim exclusivamente as pessoas envolvidas Em sua aplicaccedilatildeo o Juiz pode decidir
dependendo do caso de forma cumulativa ou isoladamente havendo a
possibilidade de serem sucedidas por outras que melhor se adaptem ao caso
concreto com o fim de respeitar os fundamentos legais
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
39
As referidas medidas estatildeo previstas nos Tiacutetulo III Capiacutetulo II da 1134006
explicadas como ―[] as medidas previstas no art 22 incisos I a III tecircm natureza cautelar-
penal [] A meu ver as medidas previstas no art 23 I e II teriam caraacuteter administrativo e
as demais (art 22 IV e V art 23 III e IV e art 24) teriam natureza civil (DIDIER Jr 2008
p11)
Dentro desse contexto a adoccedilatildeo das chamadas medidas protetivas de urgecircncia
impostas em face do agressor previstas no artigo 22 da Lei 113402006 tornou-se um meio
eficaz para conferir uma maior proteccedilatildeo agrave mulher Da mesma forma a possibilidade de se
prender preventivamente o agressor (cf artigo 20 da mesma Lei) tambeacutem eacute outro
instrumento que se mostrou importante para inibir as agressotildees
Segundo Pasinato (2006) observa-se que as medidas protetivas estatildeo organizadas
em trecircs dimensotildees as quais servem como elemento para intervenccedilatildeo e accedilatildeo do Estado a
dimensatildeo criminal a dimensatildeo da integridade fiacutesica e dos direitos a dimensatildeo da
prevenccedilatildeo e sauacutede
A primeira dimensatildeo trata das medidas criminais para a puniccedilatildeo da violecircncia
praticada contra a mulher Nesta estatildeo procedimentos como a retomada do inqueacuterito
policial a prisatildeo em flagrante preventiva ou decorrente de pena condenatoacuteria a restriccedilatildeo da
representaccedilatildeo criminal para determinados crimes e o veto para a aplicaccedilatildeo da lei 909995 a
qualquer crime que se configure como violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher
(PASINATO 2006)
A segunda dimensatildeo agrega as medidas de proteccedilatildeo da integridade fiacutesica e os
direitos da mulher que satildeo garantidos atraveacutes de um conjunto de medidas protetivas com
caraacuteter de urgecircncia para esta aliadas a um conjunto de medidas que se voltam tambeacutem ao
seu agressor Nesta dimensatildeo o Estado interveacutem atraveacutes da assistecircncia o que faz com que
a atenccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia se decirc de forma integral garantindo o
atendimento atraveacutes de equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogo advogado assistente
e social e educadoras daiacute o seu caraacuteter educativo da lei (PASINATO 2006)
Na terceira dimensatildeo estatildeo as medidas de prevenccedilatildeo e de sauacutede compreendidas
como estrateacutegias possiacuteveis e necessaacuterias para coibir a reproduccedilatildeo social da violecircncia e da
discriminaccedilatildeo baseadas no gecircnero Esta dimensatildeo foi revista atraveacutes do Decreto 7958 de
13032013 que estabelece diretrizes para o atendimento agraves viacutetimas de violecircncia sexual
pelos profissionais de seguranccedila puacuteblica e da rede de atendimento do Sistema Uacutenico de
Sauacutede e a Lei 12845 de 01082013 que dispotildee sobre o atendimento obrigatoacuterio e integral
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
40
de pessoas em situaccedilatildeo de violecircncia sexual conferindo um atendimento humanizado
(PASINATO 2006)
Nos casos de agressatildeo cada situaccedilatildeo uacutenica eacute especifica motivo pelo qual a DEAM
solicita medidas mediante a especificidade de cada queixa observando os aspectos de vida
do agressor e da viacutetima Na leitura de Sumariva (2007) estas Medidas Protetivas estatildeo
divididas em dois blocos um direcionado agrave viacutetima e outro ao agressor
O bloco determinante de instrumentos que protegem as mulheres estaacute discriminado
nos artigos 18 a 21 da referida Lei 1134006 Neles estatildeo explicitados os procedimentos
referentes ao Juiz para decidir e conceder as medidas protetivas com o encaminhamento
da mulher aos oacutergatildeos de assistecircncia judiciaacuteria descritos na integra
Art 18 Recebido o expediente com o pedido da ofendida caberaacute ao juiz
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas
protetivas de urgecircncia
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao oacutergatildeo de assistecircncia
judiciaacuteria quando for o caso
III - comunicar ao Ministeacuterio Puacuteblico para que adote as providecircncias
cabiacuteveis
Art 19 As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas pelo
juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da ofendida
sect 1o As medidas protetivas de urgecircncia poderatildeo ser concedidas de
imediato independentemente de audiecircncia das partes e de manifestaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico devendo este ser prontamente comunicado
sect 2o As medidas protetivas de urgecircncia seratildeo aplicadas isolada ou
cumulativamente e poderatildeo ser substituiacutedas a qualquer tempo por outras
de maior eficaacutecia sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem
ameaccedilados ou violados
sect 3o Poderaacute o juiz a requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou a pedido da
ofendida conceder novas medidas protetivas de urgecircncia ou rever aquelas
jaacute concedidas se entender necessaacuterio agrave proteccedilatildeo da ofendida de seus
familiares e de seu patrimocircnio ouvido o Ministeacuterio Puacuteblico
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
41
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Vecirc-se que o legislador procurou trazer maior proteccedilatildeo agraves viacutetimas de violecircncia
domeacutestica atraveacutes das medidas protetivas de urgecircncia popularmente conhecidas
como medidas cautelares ou ainda medidas de afastamento Eacute fato que a legislaccedilatildeo
veio a tutelar a mulher viacutetima de violecircncia fiacutesica psicoloacutegica moral patrimonial e
sexual e ainda proporcionar amparo legal e condiccedilotildees sociais indispensaacuteveis ao
resgate agrave sua dignidade (SUMARIVA 2007)
No segundo bloco estatildeo descritas as medidas especificas para o agressor
estas estatildeo contempladas no art 22 da referida Lei objeto de anaacutelise e decisatildeo pelo
Judiciaacuterio nos casos concretos procurando a melhor maneira para soluciona-los
O inciso I trata da suspensatildeo agrave posse ou restriccedilatildeo do porte de arma de fogo
ao agressor sendo que tal medida tem a finalidade de proteger a incolumidade fiacutesica
da mulher
De acordo com Nucci a restriccedilatildeo eacute vaacutelida para evitar trageacutedia maior ―Se o
marido agride a esposa de modo a causar lesatildeo corporal se possuir arma de fogo
eacute possiacutevel que no futuro progrida para homiciacutedio (NUCCI 2006 p879)
Como bem retrata o inciso II da lei Maria da Penha verifica-se que este prevecirc
o afastamento do agressor do lar domiciacutelio ou local de convivecircncia com a ofendida
sem no entanto interferir no direito de posse e propriedade do casal evitando
confrontos e ameaccedilas que impedem a famiacutelia de retomar a vida ao normal (BRASIL
2014)
A lei prevecirc ainda no inciso III do art 22 a possibilidade da viacutetima requerer a
restriccedilatildeo ou suspensatildeo do direito de visita aos filhos menores do casal O objetivo eacute
resguarda-los das pressotildees psicoloacutegicas advindas do genitor com o intuito de
induzir as crianccedilas a adotarem posiccedilatildeo favoraacutevel ao mesmo Esta medida sempre eacute
adotada em casos extremos onde o Juiz solicita visitas e relatoacuterios agrave equipe
multidisciplinar para verificar se a privaccedilatildeo das crianccedilas ao conviacutevio com o pai
acarretaraacute um desconforto ainda maior agrave mesma Em todos os casos este inciso
prevecirc para agressor o pagamento de alimentos provisionais ou provisoacuterios em
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
42
caraacuteter emergencial visando garantir o sustento dos dependentes enquanto durar a
accedilatildeo (BRASIL 2014)
Ademais os artigos 23 e 24 abaixo descritos tratam das demandas sociais
de natureza civil
Art 23 Poderaacute o juiz quando necessaacuterio sem prejuiacutezo de outras medidas
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitaacuterio de proteccedilatildeo ou de atendimento
II - determinar a reconduccedilatildeo da ofendida e a de seus dependentes ao
respectivo domiciacutelio apoacutes afastamento do agressor
III - determinar o afastamento da ofendida do lar sem prejuiacutezo dos direitos
relativos a bens guarda dos filhos e alimentos
IV - determinar a separaccedilatildeo de corpos
Art 24 Para a proteccedilatildeo patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou
daqueles de propriedade particular da mulher o juiz poderaacute determinar
liminarmente as seguintes medidas entre outras
I - restituiccedilatildeo de bens indevidamente subtraiacutedos pelo agressor agrave ofendida
II - proibiccedilatildeo temporaacuteria para a celebraccedilatildeo de atos e contratos de compra
venda e locaccedilatildeo de propriedade em comum salvo expressa autorizaccedilatildeo
judicial
III - suspensatildeo das procuraccedilotildees conferidas pela ofendida ao agressor
IV - prestaccedilatildeo de cauccedilatildeo provisoacuteria mediante depoacutesito judicial por perdas e
danos materiais decorrentes da praacutetica de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a ofendida
Paraacutegrafo uacutenico Deveraacute o juiz oficiar ao cartoacuterio competente para os fins
previstos nos incisos II e III deste artigo (BRASIL 2014)
Aleacutem destas medidas acima existe a possibilidade de decretaccedilatildeo da prisatildeo
preventiva do agressor em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo
criminal como descrito no Art 20 da Lei 113402006
Art 20 Em qualquer fase do inqueacuterito policial ou da instruccedilatildeo criminal
caberaacute a prisatildeo preventiva do agressor decretada pelo juiz de ofiacutecio a
requerimento do Ministeacuterio Puacuteblico ou mediante representaccedilatildeo da
autoridade policial
Paraacutegrafo uacutenico O juiz poderaacute revogar a prisatildeo preventiva se no curso do
processo verificar a falta de motivo para que subsista bem como de novo
decretaacute-la se sobrevierem razotildees que a justifiquem (BRASIL 2014)
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia
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AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
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ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
43
Ainda no sentido de proteger a integridade fiacutesica da mulher os legisladores
acrescentaram o art21 que diz respeito a natildeo exposiccedilatildeo da mulher aos atos
administrativo-judiciais conforme descrito abaixo
Art 21 A ofendida deveraacute ser notificada dos atos processuais relativos ao
agressor especialmente dos pertinentes ao ingresso e agrave saiacuteda da prisatildeo
sem prejuiacutezo da intimaccedilatildeo do advogado constituiacutedo ou do defensor puacuteblico
Paraacutegrafo uacutenico A ofendida natildeo poderaacute entregar intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo
ao agressor (BRASIL 2014)
Outra observaccedilatildeo importante eacute a articulaccedilatildeo citada com relaccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
operacional do Poder Judiciaacuterio Ministeacuterio Puacuteblico e Defensoria Puacuteblica com as
aacutereas de seguranccedila puacuteblica assistecircncia social sauacutede educaccedilatildeo trabalho e
habitaccedilatildeo
Haacute de se notar que o Poder Executivo tambeacutem se articula no momento que
cria as Casas-Abrigo com objetivo de acolher as mulheres em perigo iminente de
morte
O conceito de abrigamento proposto pelo Governo Federal diz respeito agrave
gama de possibilidades de acolhimento provisoacuterio destinado as mulheres em
situaccedilatildeo de violecircncia que se encontrem sob ameaccedila de morte e que necessitem de
proteccedilatildeo em ambiente acolhedor e seguro Estes serviccedilos e programas satildeo
complementares agraves casas abrigo
Por sua vez as Casas-Abrigo satildeo serviccedilos de caraacuteter sigiloso e temporaacuterio
onde as usuaacuterias poderatildeo permanecer por periacuteodo determinado durante o qual
deveratildeo reunir condiccedilotildees necessaacuterias para retomar o curso de suas vidas Este
serviccedilo devera atender exclusivamente mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia
domeacutestica e em risco iminente de morte com acompanhamento e encaminhamento
da mulher pelos serviccedilos especializados da rede de atendimento a exemplo das
DEAMlsquos e dos CRAMlsquos
Reforccedilando este entendimento os termos do art 35 inciso II da Lei Maria da
Penha as casas-abrigos satildeo locais de acolhimento agrave mulher e seus dependentes
destinando-se a proteccedilatildeo destes possibilitando a viacutetima e as suas proles o iniacutecio de
uma nova vida
242 Poliacuteticas Puacuteblicas
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
44
Os instrumentos especiacuteficos para concretizar as demandas das mulheres estatildeo
sendo efetivados por meio de poliacuteticas puacuteblicas Estas abrangem o conjunto das accedilotildees
desenvolvidas no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica e direcionadas para a populaccedilatildeo Satildeo as
poliacuteticas sociais ambientais econocircmicas de desenvolvimento de desigualdade de gecircnero
racial geracional entre outras Serve de base para orientaccedilatildeo deste estudo a compilaccedilatildeo
de textos publicados pela Secretaria de Poliacuteticas para Mulheres da Presidecircncia da
Repuacuteblica ndash SPMPR
No texto de Bandeira e Almeida (2004) adverte-se sobre o propoacutesito das poliacuteticas
puacuteblicas como sendo ―diretrizes e princiacutepios norteadores de accedilatildeo do poder puacuteblico As
poliacuteticas puacuteblicas se constituem em uma das formas de interaccedilatildeo e de diaacutelogo entre o
Estado e a sociedade civil por meio da transformaccedilatildeo de diretrizes e princiacutepios norteadores
em accedilotildees regras e procedimentos que (re)constroem a realidade
Sua articulaccedilatildeo com a perspectiva de gecircnero eacute recente (BANDEIRA e ALMEIDA
2004) pois historicamente era desenhada e aplicada por grupos que dominavam a
sociedade onde as mulheres natildeo estavam presentes na poliacutetica nem na tomada de
decisatildeo Atualmente seu processo de elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo ndash mas sobretudo seus
resultados ndash envolve a distribuiccedilatildeo e redistribuiccedilatildeo de poder e de recursos visando
responder a demandas principalmente dos grupos sociais excluiacutedos setores
marginalizados esferas pouco organizadas e segmentos mais vulneraacuteveis onde se
encontram as mulheres
O Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash POacuteLIS -
defende que poliacuteticas puacuteblicas possuem um ciclo onde nascem crescem maturam-se e
transformam-se Este processo se daacute atraveacutes de elaboraccedilatildeo de planos de poliacuteticas para
mulheres
Com objetivo de legitimar a sua eficaacutecia as poliacuteticas puacuteblicas ampliam e efetivam
direitos da cidadania obtidos atraveacutes de lutas sociais como tambeacutem agregam a maior
diversidade de setores da sociedade Voltando-se para as mulheres concretizam suas
accedilotildees atraveacutes do Plano Nacional de Poliacuteticas para Mulheres - PNPM regulamentado pelo
Decreto nordm 5390 de 8 de marccedilo de 2005 e referendado em 2007 e 2011 pelas Conferecircncias
existentes nestes anos Este Plano Nacional de Poliacuteticas para mulheres jaacute estaacute incluso no
PPA para sua efetivaccedilatildeo e execuccedilatildeo no periacuteodo de 2013 a 2015
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
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Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
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Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
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VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
45
3 METODOLOGIA
31 CARACTERIZACcedilAtildeO DO JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER EM CAMPINA GRANDE
O Juizado Especial de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Campina
Grande PB foi instalado em 03 de outubro de 2011 com 729 processos oriundos das
Varas Criminais do Foacuterum Afonso Campos sendo o primeiro na Paraiacuteba a atender as
determinaccedilotildees estipuladas pela Recomendaccedilatildeo nordm 9 do CNJ
Para fortalecer a implementaccedilatildeo dos Juizados o CNJ fez a recomendaccedilatildeo 9 que
determina a adoccedilatildeo de outras medidas previstas na Lei nordm 11340 de 07082006 tendentes
agrave implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas que visem a garantir os direitos humanos das
mulheres no acircmbito das relaccedilotildees domeacutesticas e familiares
Aleacutem de recomendar a criaccedilatildeo dos Juizados orienta os Tribunais de Justiccedila dos
Estados do Distrito Federal e dos Territoacuterios para que adotem medidas visando divulgar a
Lei Maria da Penha efetivando a integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio com a rede de atendimento
e constituir grupo multidisciplinar capaz de orientar accedilotildees de prevenccedilatildeo agrave violecircncia
domeacutestica contra a mulher Estas normas incluem nas bases de dados oficiais as
estatiacutesticas sobre violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher promovendo cursos de
capacitaccedilatildeo multidisciplinar em direitos humanosviolecircncia de gecircnero e de divulgaccedilatildeo da Lei
Maria da Penha voltados aos operadores de direito preferencialmente magistrados aleacutem
de promover accedilotildees de integraccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio aos demais serviccedilos da rede de
atendimento agrave mulher
Em cumprimento ao disposto no art29 da Lei Maria da Penha os Juizados de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher criados pelo Judiciaacuterio poderatildeo contar com
uma equipe de atendimento multidisciplinar a ser integrada por profissionais especializados
nas aacutereas psicossocial juriacutedica e de sauacutede a exemplo do existente na Comarca de
Campina Grande
A violecircncia pelo nuacutemero de viacutetimas e pela magnitude das sequelas emocionais se
converteu num problema psicossocial A equipe multidisciplinar do Juizado da Violecircncia
Domeacutestica e Familiar de Campina Grande para onde convergem todas as demandas da
violecircncia atua no sentido de minimizar tais mazelas Estas agressotildees partem em regra de
pessoas ligadas pelos laccedilos de afetividade como o namorado o marido ou companheiro e
ateacute mesmo pelo proacuteprio pai
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
46
32 TIPO DE PESQUISA
A metodologia utilizada para este estudo eacute caracterizada como bibliograacutefica pois
―Esta modalidade trata de levantamento bibliograacutefico publicado em forma de livros
publicaccedilotildees revistas cientiacuteficas publicaccedilotildees avulsas internet sendo portanto uma fonte
inesgotaacutevel de informaccedilotildees (MARCONI 2001 p 44)
A Pesquisa tambeacutem eacute documental jaacute que teve como base a Constituiccedilatildeo Federal de
1988 no Coacutedigo Penal mais precisamente a Lei 113402006 aleacutem dos relatoacuterios da Vara
da Violecircncia Domeacutestica de Campina Grande PB loacutecus deste estudo ―A pesquisa
documental se diferencia pela natureza das fontes pois esta forma vale-se de materiais que
natildeo receberam ainda um tratamento analiacutetico ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa (GIL 2008 46)
A forma de realizaccedilatildeo do estudo eacute descritiva
Os estudos descritivos devem ser adotados quando o propoacutesito for
descrever as caracteriacutesticas de um grupo estimar a proporccedilatildeo de
elementos numa populaccedilatildeo especiacutefica para que tenha determinada
caracteriacutestica e descobrir ou verificar a existecircncia de relaccedilatildeo entre as
variaacuteveis (MATAR1993 p69)
Quanto agrave abordagem do problema pode-se classificar uma pesquisa como
qualitativa ou quantitativa Richardson (1999) afirma que a pesquisa qualitativa pode ser
caracterizada como a tentativa de uma compreensatildeo detalhada dos significados sendo as
questotildees subjetivas mais relevantes
Os dados coletados nesta pesquisa foram submetidos agrave anaacutelise documental como
uma teacutecnica de pesquisa qualitativa Os resultados encontram-se no capiacutetulo que se segue
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
47
4 DISCUSSAtildeO E ANAacuteLISE DOS RESULTADOS
No desenvolvimento deste trabalho foi averiguado a contribuiccedilatildeo do Juizado
de Violecircncia Domeacutestica e Familiar na implementaccedilatildeo de medidas protetivas de
urgecircncia aplicadas no municiacutepio de Campina Grande
41 CAMPINA GRANDE- PB
Verifica-se no portal do IBGE que este municiacutepio estaacute localizado no agreste
paraibano estaacute a 120Km de Joatildeo Pessoa capital do estado e ocupa uma aacuterea de
594182 kmsup2 correspondendo a 128 total da aacuterea do estado e com densidade
demograacutefica de 64831 habkmsup2 Possui uma populaccedilatildeo de 385276 habitantes o
que equivale a 11 do total sendo 182205 homens e 203008 mulheres(IBGE
2010)
O municiacutepio eacute polo da microrregiatildeo Campina Grande que aleacutem dela tem mais
sete outras cidades Boa Vista Fagundes Lagoa Seca Massaranduba Puxinanatilde
Queimadas e Serra Redonda sendo polo tambeacutem da mesorregiatildeo Agreste a qual
abrange 67 municiacutepios com uma populaccedilatildeo total de 1150362 pessoas sendo
referecircncia em educaccedilatildeo superior pela existecircncia de trecircs universidades puacuteblicas e
mais seis privadas
Consta do portal da Prefeitura Municipal de Campina Grande que o municiacutepio
tem cerca de 400 mil habitantes sendo a maior cidade do interior do Nordeste
destaca-se economicamente no setor da prestaccedilatildeo de serviccedilos no comeacutercio e eacute
uma forte referecircncia na produccedilatildeo de tecnologia fabricando softwares vendidos para
vaacuterias partes do mundo com reconhecida qualidade tecnoloacutegica e funcional Hoje a
cidade se apresenta como uma excelente formadora de matildeo de obra especializada
principalmente na aacuterea de Ciecircncia amp Tecnologia
O Atlas de Desenvolvimento Brasileiro de 2013 eacute uma plataforma de consulta
ao Iacutendice de Desenvolvimento Humano Municipal ndash IDHM oferecendo panorama do
desenvolvimento humano dos municiacutepios e desigualdades entre eles nos vaacuterios
aspectos do bem-estar Aponta Campina Grande em 1301deg lugar no ranking
nacional com IDHM 0720 e 3ordm lugar na Paraiacuteba com 0720(PNUD 2010) Este
iacutendice considerado alto perto da meacutedia nacional de 0730 deve-se ao fato do
crescimento na construccedilatildeo civil e serviccedilos aparece ainda de forma crescente
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
48
ficando em 1ordm colocado dos setores que mais emprega na cidade Segundo dados
do Ministeacuterio do Trabalho e Emprego (CAGED 2012) de julho 2012 teve um
crescimento real de 086 o que demonstra um municiacutepio em ascensatildeo apesar
das desigualdades
Observam-se estas desigualdades atraveacutes do Iacutendice de Gini instrumento usado para
medir o grau de concentraccedilatildeo de renda Ele aponta a diferenccedila entre os rendimentos dos
mais pobres e dos mais ricos Numericamente varia de 0 a 1 quando que 0 representa a
situaccedilatildeo de total igualdade e o valor 1 significa completa desigualdade de renda
Observando-se que este paracircmetro para a cidade de Campina Grande e era de 061 em
1991 ndash 062 em 2000 aparece como 058 em 2010 mostrando que a desigualdade estaacute
acima de 50 mas reduzindo ao longo do tempo o que sugere melhoria nas condiccedilotildees de
vida dos cidadatildeos (ATLAS 2013)
Nos programas municipais de proteccedilatildeo agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia houve
grande avanccedilo na cidade de Campina Grande Foi criado em 2010 a Coordenadoria
Especial de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres foi criado o Centro de Referecircncia de
Atendimento agrave Mulher (CRAM) foi reestruturada a Casa Abrigo para atendimento as
mulheres em risco iminente de morte e a Casa da Esperanccedila para atender crianccedila e
adolescentes viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar aleacutem do programa de Lavanderias
Puacuteblicas para autonomia econocircmica de mulheres em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social
Existe tambeacutem outro CRAM de atuaccedilatildeo estadual que atende aleacutem das mulheres de
Campina Grande as demais mulheres do estado em situaccedilatildeo de violecircncia Estes
equipamentos sociais desenvolvem debates palestras e oficinas na semana da mulher
comemora o mecircs das matildees se insere na atividade mundial dos 16 Dias de Ativismo pelo
Fim da Violecircncia contra as Mulheres aleacutem de realizar oficinas de capacitaccedilatildeo para os
serviccedilos e suas usuaacuterias durante o ano
Quando se trata de direitos e seguranccedila das mulheres campinenses o Estado
se faz presente com a implantaccedilatildeo da Delegacia Especial da Mulher o JVDFM e a
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher Existe tambeacutem a Lei
Municipal 129 que dispotildees sobre accedilotildees soacutecio-educativas na rede puacuteblica de ensino
visando a prevenccedilatildeo de violecircncia contra mulher Conta ainda com diversas
entidades privadas sem fins lucrativos que trabalham a mulher como foco central no
desenvolvimento de suas accedilotildees Conta ainda com uma rede de sauacutede e educaccedilatildeo
como Hospital Pedro I o qual teve requerimento aprovado pela Cacircmara de
Vereadores em 14082013 para sua transformaccedilatildeo em Hospital de Referecircncia da
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
49
Mulher o Instituto de Sauacutede Elpiacutedio de Almeida- ISEA aleacutem dos diversos conselhos
entre eles os Conselhos Materno-Infantil Conselhos de Educaccedilatildeo Conselho de
Jovens
Finalmente a cidade de Campina Grande tem destaque nacional na
preservaccedilatildeo da cultura nordestina colocando em sua agenda o Festival de Inverno
as tradicionais vaquejadas e os festejos de Satildeo Joatildeo chamado de O Maior Satildeo
Joatildeo do Mundo
42 O JUIZADO ESPECIAL DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER DE CAMPINA GRANDE ndash PB
A resoluccedilatildeo nordm 34 de 10082011 autorizou a instalaccedilatildeo do Juizado de
Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Campina Grande ndash
PB criado pela Lei Complementar 96 de03122010 (LOJE)
A Inauguraccedilatildeo se deu em 3 de outubro de 2011 para o funcionamento no
preacutedio localizado na Rua Carlos Chagas nordm 47 bairro Satildeo Joseacute- Campina Grande
(PB) fazendo parte do Complexo Juriacutedico Estadual de Campina Grande com a
seguinte estrutura
a) Composiccedilatildeo funcional do JEVDFM
Tabela 1 Quadro funcional
CARGO QUANTIDADE DE FUNCIONAacuteRIOS
Juiz de Direito 1
Juiz Substituto 1
Assessor de Juiz 2
Servidores do Cartoacuterio (analistas judiciaacuterios e
teacutecnicos)
4
Oficiais de Justiccedila 5
Psicoacutelogo (Equipe multidisciplinar) 1
Assistente Social (Equipe multidisciplinar) 2
Fonte JVDFM 2014
Figura 1 Estrutura Funcional
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
50
Fonte CNJ 2010
A formaccedilatildeo desta equipe determinada pelo Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo
dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher ( CNJ2010) conteacutem
um Juiz e o seu substituto que lhe daacute assessoramento quatro servidores teacutecnicos
judiciaacuterios cinco oficiais de justiccedila e uma Equipe Multidisciplinar formada por um
psicoacutelogo e uma assistente social Na formaccedilatildeo da equipe de servidores que atuam
na unidade de Campina Grande o TJPB por meio da Escola Superior da
Magistratura (Esma) realizou um curso de capacitaccedilatildeo intitulado Reflexotildees legais
morais e comportamentais no trato da violecircncia domeacutestica judicializada
Especifica ainda este Manual a competecircncia dos JVDFMs que se daacute natildeo
somente para as medidas protetivas e para os processos de conhecimento mas
tambeacutem para a execuccedilatildeo dos seus julgados
Por determinaccedilatildeo legal O Ministeacuterio Puacuteblico aqui se insere atraveacutes da
Promotoria de Justiccedila de Defesa dos Direitos da Mulher que age como um ator
poliacutetico singular com uma nova forma de atuaccedilatildeo tendo em vista a defesa do
interesse de mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar Estas aliam agrave
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
51
vulnerabilidade social a sua condiccedilatildeo econocircmica demandando assistecircncia gratuita
para ela ou para o agressor motivo da inclusatildeo do Defensor Puacuteblico Este atua toda
vez que for verificada a hipossuficiecircncia juriacutedica da parte como por exemplo na
defesa dos acusados que natildeo constituiacuteram advogado para a apresentaccedilatildeo de
defesa
Estes dois grupos de profissionais natildeo fazem parte do Juizado possuem
autonomia funcional e administrativa e representa o compromisso do Constituinte
de permitir que todos inclusive os mais pobres tenham acesso agrave Justiccedila (Lei
1134006 art 25 e 28)
A Delegacia Especial de Atendimento a Mulher- DEAM tem papel primordial
sobre as medidas protetivas elencadas nos artigos 22 e 23 da Lei Maria da Penha eacute
atribuiccedilatildeo dessa informar agraves mulheres agredidas do seu direito de conhecer e
solicitar tais medidas
Encaminhado pela autoridade policial pedido de concessatildeo de medida
protetiva de urgecircncia ndash quer de natureza criminal quer de caraacuteter ciacutevel ou familiar- o
expediente eacute autuado como medida protetiva de urgecircncia
As medidas tambeacutem podem ser requeridas pelo Ministeacuterio Puacuteblico ou a
pedido da proacutepria ofendida por meio de advogado ou defensor puacuteblico (art19) E
mais cabe tambeacutem ao juiz de ofiacutecio conceder a medida protetiva de urgecircncia que
entender necessaacuteria art22 sect1 (DIAS 2006 p180)
Corriqueiramente as medidas protetivas satildeo solicitadas pela viacutetima no
momento que ela faz o Boletim de Ocorrecircncia (BO) na DEAM no entanto poderatildeo
ser requeridas pela Autoridade Policial Ministeacuterio Puacuteblico (MP) e Defensoria Puacuteblica
O Juiz teraacute o prazo de 48 horas para deferi-las ou natildeo podendo concedecirc-las de
imediato mesmo antes do inqueacuterito policial
Compete a autoridade policial ao ser informada do descumprimento da
medida deferida tomar as providecircncias legais cabiacuteveis( art10 paraacutegrafo uacutenico) O
juiz pode ateacute decretar a prisatildeo preventiva do agressor (atr 20 cc CPP art 313 IV) (
DIAS p183)
Para um melhor entendimento segue o fluxograma constante no Manual de
Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a
Mulher (elaborado pelo CNJ 2010 p 25)
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
52
Figura 2 Fluxograma
Fonte CNJ 2010
VARIAacuteVEL 1 ndash MEDIDAS PROTETIVAS
Para realizaccedilatildeo deste trabalho analisou-se os processos que constavam
solicitaccedilotildees de medidas protetivas no ano de 2013 no JVDFM de Campina Grande
averiguando quais medidas tiveram maior incidecircncia nesse periacuteodo
Para tanto importante destacar que a classificaccedilatildeo dos processos no JVDFM
se daacute por cores seguindo os criteacuterios abaixo Este trabalho ateve-se apenas os
processos de tarjas verdes onde estatildeo inseridas as medidas protetivas
Tabela 2 processos deferidos no JVDFM
COR TIPOS DE PROCESSOS
TARJA VERDE MEDIDAS PROTETIVAS
TARJA VERMELHA AGRESSORES PRESOS
TARJA CINZA BENS APREENDIDOS
TARJA AZUL PROCESSOSCRIANCcedilAS ADOLESCENTES
TARJA LILAacuteS PROCESSOS CONCLUIacuteDOS
Fonte JVDFM 2013
Dessa forma destacou-se o universo de 1441 processos existentes desses
409 tiveram solicitaccedilotildees de medidas protetivas pela DEAM no entanto foram
analisados 327 processos conforme tabela abaixo
Autoridade Policial
Ministeacuterio Puacuteblico
Defensoria PuacuteblicaAdvogado
Distribuiccedilatildeo ao JVDFM
Juiz de Direito
Equipe Teacutecnica Multidisciplinar
Indeferimento
Deferimento
Audiecircncia de Justificaccedilatildeo
Deferimento Indeferimento
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
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MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
tempos e suas perspectivas para o futuro 2010
NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
RT 2006
63
OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010
PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI
Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
53
Tabela 3 Nuacutemero de Medidas Protetivas Solicitadas e Deferidas em 2013
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos com pedido de medidas protetivas 409 28
Nordm de processos analisados 423 23
Fonte JVDFM 2013
A Tabela 2 evidencia que os nuacutemeros de processos pesquisados nem sempre
correspondem ao nuacutemero de pedidos de medidas protetivas ajuizadas no periacuteodo
haja vista que a pesquisa se ateve aos processos disponiacuteveis em Cartoacuterio pois
alguns estavam em carga com os advogados ou arquivados
Cumprindo determinaccedilatildeo legal do art 22 da Lei 113402006 o juiz poderaacute
aplicar de imediato em conjunto ou separadamente ao agressor as medidas
protetivas elencadas naquele artigo
Apoacutes verificaccedilatildeo de tais processos montou-se a tabela abaixo ilustrada
Tabela 4 Anaacutelises dos Processos e Desdobramento de Medidas
Anaacutelise dos Pedidos
Nordm de processos existentes 1441 100
Nordm de processos analisados 327 23
Desdobramentos das Medidas Protetivas
Aproximaccedilatildeo da Ofendida ( limite) 105 32
Afastamento do Lar 92 28
Contato com o meio de comunicaccedilatildeo 69
21
Visitas aos filhos menores 36 11
Apenas Alimentos 26 8
Fonte JVDFM 2013
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
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BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
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Senado Federal 2007
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano
Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres
2013
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Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de
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COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da
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DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006
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MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
tempos e suas perspectivas para o futuro 2010
NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
RT 2006
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OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
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PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI
Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
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SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
54
Conforme ilustrado na tabela 2 constatou-se maior incidecircncia na concessatildeo
de medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida na qual eacute fixado o
limite em metros de distacircncia que ele deveraacute manter a viacutetima
Podemos visualizar no graacutefico abaixo
Graacutefico 1 Desdobramentos das medidas protetivas
Fonte Proacuteprio autor 2014
Aleacutem do seacuterio risco agrave vida e agrave integridade fiacutesica da mulher e da famiacutelia a
manutenccedilatildeo do suposto agressor sob o mesmo teto que a viacutetima eacute uma forma de
submeter a mulher uma constante pressatildeo psicoloacutegica e ateacute desconforto moral (DE
SOUZA 2008 p135) porque ela convive com a alta probabilidade de voltar a ser
agredida a qualquer momento principalmente por ter chegado ao conhecimento do
poder puacuteblico a violecircncia contra ela praticada
O afastamento do lar possibilita que a viacutetima e os demais familiares sintam-
se pelo menos aparentemente seguros No sentido de preservar a integridade
psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo influenciar testemunhas observou-se que a
medida que proiacutebe o agressor de manter contato com qualquer meio de
comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
Nos casos analisados as medidas de afastamento do lar atingem 28 do
total de medidas concedidas evidenciando que a violecircncia domeacutestica ocorre
predominantemente no interior do lar onde residem o agressor a viacutetima filhos
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
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Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
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CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
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65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
55
especificamente crianccedilas por essa razatildeo que o juiz determina a medida protetiva de
afastamento do agressor do lar e justifica-se o alto iacutendice de concessatildeo dessas
medidas que resguarda a integridade fiacutesica psicoloacutegica moral e material da mulher
e de sua famiacutelia
No sentido de preservar a integridade psicoloacutegica da viacutetima seus filhos e natildeo
influenciar testemunhas observou-se que a medida que proiacutebe o agressor de
manter contato com qualquer meio de comunicaccedilatildeo teve consideraacutevel relevacircncia
alcanccedilando 21 das medidas concedidas no periacuteodo analisado
No que tange a restriccedilatildeo de visitas aos filhos menores a incidecircncia atinge
11 das medidas Eacute importante que o agressor natildeo volte ao lar com o intuito de
visitar os filhos para natildeo ter oportunidade de novas agressotildees Embora seu direito
de pai seja resguardado eacute salutar que haja mediaccedilatildeo entre os familiares e que
esses determinem um local para o encontro entre pais e filhos
Apesar de demonstrar uma incidecircncia menor com 8 apenas das medidas ali
concedidas eacute importante destacar que na praacutetica a solicitaccedilatildeo de alimentos provisionais ou
provisoacuterios satildeo dados em caraacuteter emergencial enquanto os casos satildeo resolvidos nas Vara
de Famiacutelia Essas medidas satildeo fundamentais contra as consequecircncias das violecircncias
sofridas pelas mulheres bem como para evitar danos futuros
Tendo em vista os processos analisados definiu-se outras duas variaacuteveis
Local da Agressatildeo e perfil do agressor
VARIAacuteVEL 2 ndash Local da agressatildeo
Cerca de 58 das ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica se deram na residecircncia
da viacutetima ou no local de coabitaccedilatildeo Isto porque haacute casos em que o casal estaacute
separado ou residindo em locais distintos
Constatou-se que 14 dos processos avaliados a agressatildeo ocorreu na
residecircncia do agressor quando as viacutetimas vatildeo em busca de seus pertences ou de
algo relacionado aos direitos dos seus filhos
Percebe-se que as agressotildees em vias puacuteblicas tecircm iacutendice relevante
apresentando um percentual de 20 dos casos analisados aqui a humilhaccedilatildeo
ofende a integridade moral da mulher Considera-se vias puacuteblicas locais de ida para
o trabalho e escola percurso de casa para escola dos filhos espaccedilos de laser e
cultos religiosos
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
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combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
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POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
56
Outro local de menor incidecircncia apresentando 8 dos casos satildeo as
agressotildees por parte do agressor ocorre nas residecircncias de familiares da viacutetima
alcanccedilando 8 dos casos onde geralmente essa procura apoio e acolhimento
para se resguardar da fuacuteria do agressor
Graacutefico 2 Local da Agressatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
VARIAacuteVEL 3 - Perfil do Agressor
De acordo os dados coletados quanto ao perfil do agressor tem-se
Graacutefico 3 Profissatildeo
Fonte Proacuteprio autor 2014
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia
das letras 1990
AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
Paulo Rideel 2008
ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014
BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres
a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos
AGENDE No 5 dez2004
BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012
BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004
BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF
Senado Federal 2007
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano
Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres
2013
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres
Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de
Violecircncia Brasiacutelia 2011
61
CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores
Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v
42 p 133-139 Porto Alegre 1997
COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial
para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em
httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014
COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de
gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014
COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da
mulher Curitiba Juruaacute 2004
CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-
contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso
em 04 marccedilo 2014
CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da
Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais
2007
DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006
de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos
Tribunais
DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da
Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito
das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008
GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001
GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente
natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000
62
GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais 2002
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009
IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014
JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014
LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas
1990
MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar
de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar
Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20
junho 2014
MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007
MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014
MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
tempos e suas perspectivas para o futuro 2010
NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
RT 2006
63
OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010
PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI
Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
57
Graacutefico 4 niacutevel de escolaridade
Fonte Proacuteprio autor 2014
Verifica-se que 47 dos agressores exercem a funccedilatildeo de auxilia de serviccedilos
gerais e 40 natildeo concluiacuteram o ensino fundamental o que evidencia que o niacutevel de
instruccedilatildeo eacute um fator catalisador que influencia o equiliacutebrio das famiacutelias e contribue
para o fortalecimento da violecircncia como mecanismo para subjugar e exercer o poder
do homem sobre a mulher
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia
das letras 1990
AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
Paulo Rideel 2008
ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014
BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres
a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos
AGENDE No 5 dez2004
BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012
BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004
BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF
Senado Federal 2007
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano
Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres
2013
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres
Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de
Violecircncia Brasiacutelia 2011
61
CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores
Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v
42 p 133-139 Porto Alegre 1997
COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial
para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em
httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014
COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de
gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014
COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da
mulher Curitiba Juruaacute 2004
CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-
contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso
em 04 marccedilo 2014
CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da
Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais
2007
DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006
de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos
Tribunais
DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da
Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito
das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008
GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001
GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente
natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000
62
GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais 2002
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009
IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014
JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014
LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas
1990
MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar
de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar
Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20
junho 2014
MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007
MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014
MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
tempos e suas perspectivas para o futuro 2010
NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
RT 2006
63
OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010
PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI
Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
58
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
As mudanccedilas culturais operadas no perfil profissional de homens e mulheres trazem
agrave tona uma nova realidade nas famiacutelias A partir da segunda metade do seacuteculo XX
adentrando o seacuteculo XXI observaram-se mudanccedilas em todas as esferas sociais nos seus
costumes e valores incidindo diretamente no modelo familiar de entatildeo Tais transformaccedilotildees
proporcionaram agrave mulher um reposicionamento na representaccedilatildeo que desempenha
passando a atuar no mercado de trabalho a participar das tomadas de decisotildees ter opiniatildeo
proacutepria e ser respeitada impondo-se em sua famiacutelia
Este trabalho averiguou a contribuiccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar
contra a Mulher no que tange a implementaccedilatildeo das medidas protetivas no ano de 2013
Assim levando em consideraccedilatildeo o problema e o objetivo deste estudo percebeu-se a
importacircncia da atuaccedilatildeo do Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher
quando da aplicaccedilatildeo de medidas protetivas de urgecircncia agraves mulheres viacutetimas de violecircncia
domeacutestica no municiacutepio de Campina Grande PB que atraveacutes da Lei 113402006 - Lei Maria
da Penha - atendeu este apelo atuando de forma a estabelecer medidas de assistecircncia e
proteccedilatildeo direcionada agraves mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica e familiar
O advento da Lei Maria da Penha trouxe equipamentos sociais para coibir e
penalizar as barbaacuteries cometidas contra as mulheres sendo o instrumento principal as
medidas protetivas de urgecircncia que tem a sua aplicabilidade legitimada atraveacutes desta lei
Verificou-se que por introduzirem mecanismos eficientes ateacute entatildeo inexistentes na
legislaccedilatildeo brasileira elas resguardaram os direitos da mulher principalmente no que diz
respeito aacute sua integridade fiacutesica Certamente as conquistas obtidas pelas mulheres satildeo
fruto de sua luta para que a desigualdade de gecircnero que inclui variaacuteveis diversas sendo a
inferiorizaccedilatildeo da mulher no contexto social econocircmico poliacutetico e cultural e todas as suas
consequecircncias decorrentes do poder do homem sobre a mulher
Vale ressaltar que a criaccedilatildeo de serviccedilos especializados de atendimentos a mulher
oriundos da Lei Maria da Penha institucionalizou-se em Campina Grande ndash PB com a
instalaccedilatildeo da DEAM e inauguraccedilatildeo do JVDFM os quais traduzem o conjunto das medidas
protetivas de urgecircncia A primeira solicita e o segundo aplica a Lei acatando e emitindo esta
medida
Na praacutetica percebeu-se que dentre de todas as contribuiccedilotildees trazidas pela Lei Maria
da Penha as medidas protetivas de urgecircncias constituem o carro chefe do combate agrave
violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher A rapidez com que foram concedidas essas
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia
das letras 1990
AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
Paulo Rideel 2008
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BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres
a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos
AGENDE No 5 dez2004
BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012
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BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF
Senado Federal 2007
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano
Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres
2013
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres
Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de
Violecircncia Brasiacutelia 2011
61
CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores
Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v
42 p 133-139 Porto Alegre 1997
COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial
para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em
httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014
COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de
gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014
COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da
mulher Curitiba Juruaacute 2004
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contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso
em 04 marccedilo 2014
CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da
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2007
DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006
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Tribunais
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Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito
das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008
GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001
GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente
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62
GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais 2002
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009
IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014
JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014
LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas
1990
MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar
de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar
Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20
junho 2014
MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007
MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014
MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
tempos e suas perspectivas para o futuro 2010
NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
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63
OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010
PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
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Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
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POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
59
medidas pelo JDVFM foi fundamental para que houvesse a interrupccedilatildeo imediata das
agressotildees Estas interrupccedilotildees determinaram judicialmente o afastamento do lar frequentar
determinados lugares a fim de preservar a integridade fiacutesica da ofendida prestaccedilatildeo de
alimento contato com a ofendida por qualquer meio de comunicaccedilatildeo entre outras o que
determinou mudanccedila de conduta do agressor
Nos casos analisados comprovou-se a maior incidecircncia na concessatildeo de
medidas que proiacutebem o agressor aproximar-se da ofendida Essas agressotildees
ocorreram dentro do lar motivo pelo qual se destacou tambeacutem a medida que
determina o afastamento do lar lugar consagrado ao aconchego excluindo a
viacutetima da probabilidade de voltar a ser agredida a qualquer momento
principalmente por ter chegado ao conhecimento do poder puacuteblico a denuacutencia contra
o agressor
No entanto a erradicaccedilatildeo ocorreraacute com a implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas
capazes de conscientizar e se possiacutevel mudar a forma de pensamento dos envolvidos neste
tipo de violecircncia por meio da educaccedilatildeo meios de comunicaccedilatildeo de massa e da atuaccedilatildeo dos
movimentos feministas
Constatou-se que o JVDFM veio justamente conter os anseios sociais com
aplicaccedilotildees da Lei Maria da Penha no que diz respeito agraves medidas protetivas de urgecircncias
para erradicar ou ao menos diminuir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher no
municiacutepio de Campina Grande ndash PB
Conclui-se que o Juizado de Violecircncia Domeacutestica e Familiar atraveacutes da Lei
113402006 aplicou as medidas protetivas assegurando a vida das mulheres viacutetimas de
violecircncia domeacutestica e familiar tendo como proteccedilatildeo a garantia legal e a atividade
jurisdicional voltada para a efetiva execuccedilatildeo da Lei Maria da Penha em prol da manutenccedilatildeo
da dignidade humana da mulher viacutetima de violecircncia domeacutestica
60
REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
combate da violecircncia contra as mulheres ndash por uma perspectiva feminista de gecircnero e
de direitos humanos In ARENDT A As origens do totalitarismo Satildeo Paulo Companhia
das letras 1990
AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
Paulo Rideel 2008
ATLAS Rancking de desenvolvimento Disponiacutevel em httpwwwatlasbrasilorgbr2013ptranking Acesso em 20 maio 2014
BANDEIRA Lourdes amp ALMEIDA Tacircnia Mara et Ali (ogs) Violecircncia contra as mulheres
a experiecircncia de capacitaccedilatildeo das DEAMs da Regiatildeo Centro-Oeste Brasiacutelia Cadernos
AGENDE No 5 dez2004
BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012
BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004
BRASIL Constituiccedilatildeo 1998 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia-DF
Senado Federal 2007
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano
Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres
2013
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres
Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de
Violecircncia Brasiacutelia 2011
61
CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores
Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v
42 p 133-139 Porto Alegre 1997
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COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de
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COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da
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CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da
Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais
2007
DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006
de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos
Tribunais
DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da
Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito
das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008
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GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente
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GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais 2002
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009
IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014
JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014
LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas
1990
MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar
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Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20
junho 2014
MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007
MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014
MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
tempos e suas perspectivas para o futuro 2010
NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
RT 2006
63
OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010
PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI
Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
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VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
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REFEREcircNCIAS
ALMEIDA Tacircnia Mara C de e BANDEIRA Lourdes Poliacuteticas puacuteblicas destinadas ao
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das letras 1990
AQUAVIVA Marcus Claudio Coacutedigo Penal e Coacutedigo de Processo Penal anotados Satildeo
Paulo Rideel 2008
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AGENDE No 5 dez2004
BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro Nova
Fronteira 1990 BEAUVOIR Simone O segundo sexo a experiecircncia vivida Rio de Janeiro
Nova Fronteira 1990 in Revista do Laboratoacuterio de Estudos da Violecircncia da UNESPMariacutelia
- Ano 2012 ndash Ediccedilatildeo 9 ndash Maio2012
BOURDIEU P O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro ed Bertrand Brasil 2004
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Senado Federal 2007
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres Plano
Nacional de Poliacuteticas para as Mulheres Brasiacutelia Secretaria de Poliacuteticas para as Mulheres
2013
______ Presidecircncia da Repuacuteblica Secretaria de Poliacuteticas Puacuteblicas para Mulheres
Diretrizes Nacionais para o abrigamento de mulheres em situaccedilatildeo de Risco e de
Violecircncia Brasiacutelia 2011
61
CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores
Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v
42 p 133-139 Porto Alegre 1997
COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial
para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em
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COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de
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COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da
mulher Curitiba Juruaacute 2004
CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-
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em 04 marccedilo 2014
CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da
Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais
2007
DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006
de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos
Tribunais
DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da
Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito
das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008
GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001
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62
GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais 2002
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009
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JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014
LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas
1990
MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar
de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar
Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20
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MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
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NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
RT 2006
63
OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
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PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
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Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
61
CARDOSO Nara Mordf Batista Mulheres em Situaccedilatildeo de Violecircncia Conjugal Fatores
Relacionados agrave Permanecircncia Rompimento e Retorno agrave Relaccedilatildeo Violenta Veritas ndeg 165 v
42 p 133-139 Porto Alegre 1997
COLETIVO FEMINISTA SEXUALIDADE E SAUacuteDE Por quecirc criar um Juizado Especial
para Crimes de Violecircncia de Gecircnero Disponiacutevel em
httpwwwmulheresorgbrviolenciaartigos10html Acesso em 20062014
COSTA Delaine et al Capacitaccedilatildeo agrave distacircncia em democracia e gecircnero curso de
gecircnero representaccedilatildeo e participaccedilatildeo poliacutetica Rio de Janeiro IBAM SPM 2014
COUTINHO Simone Andreacutea Barcelos Direitos da filha e direitos fundamentais da
mulher Curitiba Juruaacute 2004
CNJ Manual de Rotinas e Estruturaccedilatildeo dos Juizados de Violecircncia Domeacutestica e
Familiar contra a Mulher Disponiacutevel em httpwwwcompromissoeatitude orgbrwp-
contentuploads201208CNJ-Manual-Rotinas-Estruturacao-JVDFM-2010-finalpdf Acesso
em 04 marccedilo 2014
CUNHA Rogeacuterio Sanches PINTO Ronaldo Batista Violecircncia domeacutestica Lei Maria da
Penha (Lei 113402006) comentada artigo por artigo Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais
2007
DIAS Maria Berenice A Lei Maria da Penha na justiccedila a efetividade da Lei 113402006
de combate agrave violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Satildeo Paulo Ed Revista dos
Tribunais
DIDIER JUacuteNIOR Fredie OLIVEIRA Rafael Aspectos Processuais Civis da Lei Maria da
Penha (Violecircncia Domeacutestica e Familiar Contra a Mulher) In Revista Brasileira de Direito
das Famiacutelias e Sucessotildees Porto Alegre Magister v4 p 5-28 junjul 2008
GIL Antonio Carlos Como elaborar projetos de pesquisa 4edSatildeo PauloAtlas 2001
GROSSI Patriacutecia K Werba Graziela C(org) Violecircncias de gecircnero Coisas que a gente
natildeo gostaria de saber Satildeo Leopoldo Ed Unisinos 2000
62
GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais 2002
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009
IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014
JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014
LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas
1990
MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar
de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar
Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20
junho 2014
MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007
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MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
tempos e suas perspectivas para o futuro 2010
NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
RT 2006
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OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010
PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
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violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
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PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
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SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
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67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
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GRISARD FILHO Waldir Guarda Compartilhada 2ordf ed ver atul e ampl Satildeo Paulo
Revista dos Tribunais 2002
HOUAISS Antocircnio VILLAR Mauro de Salles FRANCO Francisco Manoel de Mello
Minidicionaacuterio Houaiss da Liacutengua Portuguesa Rio de Janeiro Objetiva 2009
IBGE Cidades brasileiras Disponiacutevel em httpwwwcidadesibgegovbrxtras perfilphplang=ampcodmun=250400ampsearch=paraiba|campina-grande Acesso em 22 junho 2014
JUSBRASIL Resoluccedilatildeo autoriza instalaccedilatildeo da Vara de Violecircncia Domeacutestica e Familiar contra a Mulher em Joatildeo Pessoa Disponiacutevel em httpampbjusbrasilcombrnoticias2839162resolucao-autoriza-instalacao-da-vara-de-violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher-em-joao-pessoa Acesso em 20 maio 2014
LAKATOS Eva Maria Sociologia Geral 6ordf ed revisada e ampliada Satildeo Paulo Atlas
1990
MARI Juliana Pesquisa da FGV-RJ aponta as melhores cidades para trabalhar
de Norte a Sul do paiacutes oportunidade existe mas vocecirc estaacute pronto para mudar
Disponiacutevel em httpwwwsinprorporgbrclipping2005191htm Acesso em 20
junho 2014
MELLO Adriana Ramos de (org) Comentaacuterios agrave Lei de violecircncia domeacutestica e familiar
contra a mulher Rio de Janeiro Editora Lumen Juris Ltda 2007
MTE Cadastro Geral de Empregados e Desempregados Caged ndash Lei 492365 Disponiacutevel em httpportalmtegovbrdatafiles8A7C816A38CF493C01392F6EC E0871ADPB20julho2012pdf Acesso em 20 maio 2014
MURARO Rose Marie A mulher no terceiro milecircnio uma histoacuteria da mulher atraveacutes dos
tempos e suas perspectivas para o futuro 2010
NUCCI Guilherme de Souza Leis penais e processuais penais comentados Satildeo Paulo
RT 2006
63
OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010
PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI
Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
64
SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
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OLIVEIRA Fabio Dantas Lei Maria da Penha Uma anaacutelise dos aspectos controvertidos de
ordem penal e processual penal 1ordf ediccedilatildeo Virtual Books 2010
PASINATO Wacircnia Rede de serviccedilos para enfrentamento da violecircncia contra as
mulheres em Belo Horizonte um estudo de caso In LEOCAacuteDIO Elcylene LIBARDONI
Marlene (orgs) O desafio de construir redes de atenccedilatildeo agraves mulheres em situaccedilatildeo de
violecircncia Brasiacutelia AGENDE 2006
POacuteLIS - Instituto de Estudos Formaccedilatildeo e Assessoria em Poliacuteticas Sociais ndash ndeg 26 -
Dezembro06
PORTAL DA EDUCACcedilAtildeO Violecircncia domeacutestica conceituaccedilatildeo e tipologias Disponiacutevel
emhttpwwwportaleducacaocombrpsicologiaartigos17248violencia-domestica-
conceituacao-e-tipologias2 Acesso em 20052014
ROVINSKI S L Dano psiacutequico em mulheres viacutetimas de violecircncia Rio de Janeiro
Lumen2004
SAFFIOTI Heleieth IB Gecircnero patriarcado violecircncia Satildeo Paulo Editora Fundaccedilatildeo
Perseu Abramo 2004
SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos direitos fundamentais 3ordf ed Ver Atual E ampl
Porto Alegre Livraria do Advogado 2003
SEDIS Campina Grande Disponiacutevel em httpwwwsedisufrnbrindexphp module-positionscurrais-novos-2campina-grande Acesso em 06 maio 2014
SCOTT Joan Gecircnero uma categoria uacutetil para a anaacutelise histoacuterica Traduccedilatildeo de Maria
Betacircnia Aacutevila e Cristine Dabatt Recife SOS Corpo 1990 in Agendas Transversais e
Poliacuteticas para Mulheres - SPMPR ndash Brasiacutelia- DF 2013
SILVA L L COELHO E B S amp CAPONI S N Violecircncia silenciosa Violecircncia
psicoloacutegica como condiccedilatildeo da violecircncia fiacutesica domeacutestica Interface- Comunicaccedilatildeo Sauacutede
Educaccedilatildeo 2007
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SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
65
ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
67
ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
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SOUSA F J S OLIVEIRA EN Mulheres viacutetimas de violecircncia Domeacutestica Sofrimento
Adoecimento e Sobrevivecircncia SANARE Revista de Poliacuteticas Puacuteblicas Sobral Ce N2 out-
dez 2002
SOUZA Seacutergio Ricardo de Souza Comentaacuterios a Lei de combate agrave violecircncia contra a
Mulher
STREY Marlene Neves et al (Org) Construccedilotildees e perspectivas em gecircnero Satildeo
Leopoldo EdUnisinos 2000TELES Maria Ameacutelia de Almeida MELO Mocircnica de O que eacute
violecircncia contra a mulher Coleccedilatildeo Primeiros Passos Satildeo Paulo Brasiliense 2003
VICENTINO Claacuteudio Histoacuteria memoacuteria viva Brasil periacuteodo imperial e republicano 11ordf
ediccedilatildeo Satildeo Paulo Sipione 1998) Regime Militar eacute o periacuteodo de 1964-1985 em que o
Brasil foi governado por militares
ZILBERMAN Monica L BLUME Sheila B Violecircncia Domeacutestica e Abuso de Aacutelcool e
outras Drogas Disponiacutevel em httpappseinstein
bralcooledrogasnovositeatualizacoesac_127htm Acesso em 22062014
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
66
ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
68
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ANEXOS ANEXO A ndash RESOLUCcedilAtildeO Nordm 342011 Estado da Paraiacuteba
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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
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ANEXO B ndash FICHA DE ATENDIMENTO
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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
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ANEXO C ndash DECISAtildeO JUDICIAL DE MEDIDA PROTETIVA
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