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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO A EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE NOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA BETINA ZAPELINI SECCHI Itajaí SC, novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO

A EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE NOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

BETINA ZAPELINI SECCHI

Itajaí SC, novembro de 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURS CURSO DE DIREITO

A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

BETINA ZAPELINI SECCHI

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientador: Prof. Msc. Alexandre Macedo Tavares

Itajaí - SC, novembro de 2008

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ii

AGRADECIMENTO

Primeiramente agradeço à Deus, por permitir-

me concretizar mais um sonho, dando-me

forças para enfrentar todas as dificuldades

encontradas nestes anos na Universidade.

Agradeço à minha família, por se fazer

sempre presente, me apoiando e motivando

em todos os momentos. Em especial,

agradeço a meus pais e minha irmã pela

compreensão nos diversos momentos de

ausência, pelo esforço despendido e pela

educação recebida.

À meu professor e orientador Alexandre

Macedo Tavares pela disponibilidade, auxílio,

incentivo e pelos conhecimentos transmitidos

no decorrer do estudo.

Minha gratidão se dirige também a todos os

meus amigos pelo afeto e apoio constantes e

por sempre torcerem por mim. À eles meu

reconhecimento pela dedicação e estímulo.

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iii

DEDICATÓRIA

“Descobri como é bom chegar quando se

tem paciência, e para chegar onde quer

que seja, aprendi que não é preciso dominar

a força, mas a razão. É preciso antes de

qualquer coisa, querer!”

Amyr Klink

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iv

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí - SC, novembro de 2008

Betina Zapelini Secchi Graduando

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v

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Betina Zapelini

Secchi, sob o título A Extinção de Punibilidade nos crimes contra a ordem

tributária, foi submetida em 17 de novembro de 2008 à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: Alexandre Macedo

Tavares e João Thiago Fillus, e aprovada com a nota 8,5 (oito pontos e

cinco décimos).

Itajaí - SC, 17 de novembro de 2008.

Prof. Msc. Alexandre Macedo Tavares Orientador e Presidente da Banca

Prof. Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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vi

ROL DE CATEGORIAS

Conduta delituosa

Ação ou omissão consciente e dirigida a determinada finalidade,

referindo-se ao comportamento do ser vivo, racional, juntamente com a

manifestação da vontade, não sendo considerada nos casos do agente

agir involuntariamente.

Crime

“É antes de tudo, um fato, entendendo-se por tal não só a expressão da

vontade mediante ação (voluntário movimento corpóreo) ou omissão

(voluntária abstenção de movimento corpóreo), como também o

resultado (effectus sceleris), isto é, a conseqüente lesão ou periclitaçao de

um bem ou interesse jurídico penalmente tutelado.”1

Direito Tributário

“É a disciplina jurídica dos tributos, com o que se abrange todo o conjunto

e princípios e normas reguladores da criação, fiscalização e arrecadação

das prestações de natureza tributária.”2

Ilícito Penal Tributário

Responsabilidade subjetiva, o elemento volitivo é necessário, é necessária

a existência de culpa ou dolo, a intenção do agente na prática do delito,

visando benefício, para exonerar-se ou diminuir o tributo devido.

1 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. V.1, Tomo II, 5. Ed., Rio de Janeiro:

Forense, 1978, p. 148.

2 AMARO, Luciano da Silva. Direito Tributário Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p.

04.

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vii

Infração Tributária

“Toda ação ou omissão que, direta ou indiretamente, represente o

descumprimento dos deveres jurídicos estatuídos em leis fiscais.”3

Tributo

“Art. 3º do CTN: Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em

moeda ou cujo valor nela possa se exprimir, que não constitua sanção de

ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa

plenamente vinculada.”4

Obrigação Tributária

Elo entre duas ou mais pessoas, fruto de uma relação jurídica, sendo assim,

a obrigação tributária, se particulariza, no campo dos tributos, pelo objeto

que será sempre uma prestação de natureza tributária, podendo ser dar

uma soma pecuniária ao sujeito ativo, fazer algo ou não fazer algo, sendo

através do objeto que a obrigação revela sua natureza tributária.

3 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. Ed.17, São Paulo: Saraiva, 2005.

p. 510.

4 Vade Mecum universitário de direito/ Anne Joyce Angher, organização. 3. Ed. São

Paulo: Rideel, 2007. Código Tributário Nacional.

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................. X

INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

CAPÍTULO 1........................................................................................ 4

TEORIA GERAL DO CRIME ................................................................. 4

1.1 CONCEITO DE CRIME ......................................................................................4 1.1.1 CONCEITO FORMAL ............................................................................................4 1.1.2 CONCEITO MATERIAL ..........................................................................................5 1.1.3 CONCEITO ANALÍTICO ........................................................................................6 1.2 DA CONDUTA DELITUOSA ...............................................................................7 1.2.1 DA TIPICIDADE ...................................................................................................7 1.2.2 DA ANTIJURICIDADE............................................................................................8 1.2.3 DA CULPABILIDADE ...........................................................................................12 1.3 OBJETO DO CRIME ........................................................................................15 1.4 SUJEITOS DO CRIME ......................................................................................15 1.4.1 SUJEITO ATIVO .................................................................................................15 1.4.2 SUJEITO PASSIVO ..............................................................................................16 1.5 QUALIFICAÇÃO LEGAL E DOUTRINÁRIA DOS CRIMES ................................17 1.5.1 CRIMES DOLOSOS E CULPOSOS ...........................................................................17 1.5.2 CRIMES COMUNS, PRÓPRIOS E DE MÃO-PRÓPRIA ..................................................19 1.5.3 CRIME DE DANO E DE PERIGO .............................................................................20 1.5.4 CRIMES MATERIAIS, FORMAIS E DE MERA CONDUTA ................................................21 1.5.5 CRIMES CONSUMADOS E TENTADOS ....................................................................22 1.5.6 CRIMES SIMPLES, PRIVILEGIADOS E QUALIFICADOS .................................................23

CAPÍTULO 2...................................................................................... 25

TEORIA GERAL DA OBRIGAÇÃO E INFRAÇÃO TRIBUTÁRIA........... 25

2.1 DIREITO TRIBUTÁRIO: CONCEITO ..................................................................25 2.2 ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO ...........................................................26 2.3 RECEITA PÚBLICA E TRIBUTO..........................................................................27 2.4 ELEMENTOS CARACTERIZADORES DO TRIBUTO............................................30 2.5 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA : CONCEITO ........................................................32 2.5.1 ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA...................................................................32

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2.5.2 NASCIMENTO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA ...........................................................34 2.5.3 SUJEITO ATIVO E PASSIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA ...........................................35 2.5.4 OBJETO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA ...................................................................36 2.5.5 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA X CRÉDITO TRIBUTÁRIO ...................................................37 2.6 INFRAÇÃO TRIBUTÁRIA: CONCEITO .............................................................38 2.7 CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS .........................................39 2.8 PRINCÍPIOS INFORMADORES DAS INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS ......................41 2.8.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.................................................................................41 2.8.2 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA...................................................42 2.8.3 PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA .............................................................42 2.8.4 PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO BENEVOLENTE ........................................................43

CAPÍTULO 3...................................................................................... 45

EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE NOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA....................................................................................... 45

3.1 DIREITO TRIBUTÁRIO PENAL E DIREITO PENAL TRIBUTÁRIO...........................45 3.2 CARACTERES DO ILÍCITO PENAL TRIBUTÁRIO...............................................47 3.3 A DIFERENÇA DE RESPONSABILIDADE APLICÁVEL ÀS HIPÓTESES DAS INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS E DOS ILÍCITOS PENAIS TRIBUTÁRIOS ................48 3.4 A LEI Nº 8.137/90 E OS TIPOS PENAIS TRIBUTÁRIOS .....................................50 3.5 A IMPRESTABILIDADE DA DEFLAGRAÇÃO DA AÇÃO PENAL ANTES DO EXAURIMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL .................................53 3.6 CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE........................................................53 3.6.1 PAGAMENTO DA DÍVIDA ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA (LEI Nº 9.249/95) ...56 3.6.2 O ADVENTO DA LEI Nº 10.684/03 E A EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE MEDIANTE

PAGAMENTO A QUALQUER TEMPO................................................................................56 3.6.3 O PARCELAMENTO DO DÉBITO COMO CONDIÇÃO RESOLUTÓRIA DA SUSPENSÃO DA

PUNIBILIDADE PENAL ..................................................................................................58 3.6.4 ANISTIA ..........................................................................................................59 3.6.5 DENÚNCIA ESPONTÂNEA ...................................................................................61

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 65

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ................................................ 69

ANEXOS ........................................................................................... 72

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RESUMO

Mediante a utilização do método indutivo objetivou-se

analisar os pressupostos de admissibilidade, o sentido e o alcance das

excludentes de punibilidade nos crimes contra a ordem tributária. Através

da pesquisa, obtiveram-se os seguintes entendimentos: a) há a concessão

do poder judicial na hipótese de ser primário e de bons antecedentes b) a

denúncia espontânea constitui um direito subjetivo potestativo dos

contribuintes, vez que por este pode ser utilizado unilateralmente, isto é,

independentemente da vontade e/ou do prévio consentimento da

Administração tributária; c) a confissão acompanhada do pedido de

parcelamento do débito não configura denúncia espontânea; d) a anistia

afasta a sanção administrativa-tributária; e) o pagamento antes da

denúncia, exclui a punibilidade, enquanto o parcelamento suspende a

pretensão punitiva.

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INTRODUÇÃO

O núcleo da presente monografia é a investigação

dos aspectos fundamentais das excludentes de punibilidade nos crimes

contra a ordem tributária, assim como seu alcance e efeitos jurídicos, à luz

do Código Tributário Nacional, da doutrina nacional e da jurisprudência.

O estudo desse tema é de extrema significância na

ordem tributária atual, justificando uma pesquisa aprofundada, não

somente pele sua importância prática, mas pela falta de consenso entre a

doutrina e jurisprudência, no que se refere ao seu alcance e pressupostos

de admissibilidade.

Esta pesquisa tem como objetivos: institucional,

produzir monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí – Univali; geral, investigar as notas peculiares

das causas extintivas da punibilidade, nos moldes como retratada pelo art.

107 do Código Penal; específicos, 1) Identificar a diferença entre direito

tributário penal e direito penal tributário; 2) Analisar algumas das mais

relevantes excludentes da punibilidade tributária e quais os caracteres de

um ilícito penal; e, 3) Investigar os aspectos estruturantes das excludentes,

no cenário jurídico nacional.

Para a investigação do objeto e alcance dos objetivos

propostos, adotou-se o método indutivo5, operacionalizado com as

técnicas6 do referente7, da categoria8, dos conceitos operacionais9 e da

5 O método indutivo consiste em ‘pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e

colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral’. [Pasold, 2001, p. 87].

6 “Técnica é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma

instrumental para realizar operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou

mais bases lógicas investigatórias”. [Pasold, 2001, p. 88].

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pesquisa bibliográfica, em conjunto com as técnicas propostas por

Colzani10, dividindo-se o relatório final em três capítulos.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base os

seguintes problemas:

1ª Nos casos de infração penal objetiva, é necessária

a vontade do agente?

2ª É possível iniciar a ação penal antes do exaurimento

do processo administrativo?

3ª É possível a extinção de punibilidade, mediante

pagamento a qualquer tempo?

Diretamente relacionadas a cada problema

formulado, foram levantadas as seguintes hipóteses:

a) O contribuinte, ao não cumprir com sua obrigação

de pagar o tributo, através de uma conduta omissiva

ou comissiva, havendo o resultado previsto na

descrição normativa, independe a sua intenção para

ser caracterizado ilícito;

b) Não é possível iniciar a ação penal antes que o

processo administrativo encontre-se imprescindível,

7 Referente “é a explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o

seu alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especial-

mente para uma pesquisa”. [Pasold, 2001, p. 63].

8 Categoria “é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma

idéia”. [Pasold, 2001, p. 37].

9 Conceito Operacional é a “definição para uma palavra e/ou expressão, com o desejo

de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. [Pasold, 2001,

p. 51].

10 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para elaboração do trabalho científico.

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para que gere a justa causa, e assim possa ocorrer a

persecução penal;

c) No caso do pagamento a qualquer tempo,

extingue-se a punibilidade, sendo que foi sanada a

obrigação tributária devida.

Para uma melhor abordagem das questões que

norteiam o instituto das Excludentes de Punibilidade nos crimes contra a

ordem tributária, o trabalho foi dividido em três capítulos.

No primeiro capítulo tratar-se-á a respeito de crime,

com ênfase em seu conceito, o objeto, os sujeitos e suas qualificações.

No segundo capítulo, discorrer-se-á acerca do Direito

Tributário, bem como seu conceito, abordando o tributo, seus elementos,

bem como a obrigação tributária, e a conseqüente infração, a relação

de causa e efeito retratada pelo ilícito e pela sanção, e os princípios que

os norteiam.

No terceiro e último capítulo, investigar-se-á os

aspectos estruturantes das excludentes de punibilidade no Direito

Tributário Brasileiro, notadamente a questão dos seus pressupôs de

admissibilidade, e como beneficia o contribuinte.

O presente relatório da pesquisa se encerra com as

considerações finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, estabelecendo-se breve síntese de cada capítulo e

demonstração sobre as hipóteses básicas da pesquisa, verificando se as

mesmas restaram ou não confirmadas.

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CAPÍTULO 1

TEORIA GERAL DO CRIME

1.1 CONCEITO DE CRIME

1.1.1 Conceito formal

O conceito formal do crime é o que apresenta o crime

como um fato típico e antijurídico, gerado por uma conduta humana, seja

ela por ação ou omissão, contrária ao direito, prevista e punível pela lei,

tida como reprovável, como dispõe Damásio de Jesus: “Sob o aspecto

formal, crime é um fato típico e antijurídico. A culpabilidade, constitui

pressuposto da pena.”11

No seu conceito formal, configura-se o crime pela

conduta humana, infringindo uma lei penal, como mostra Nelson Hungria

afirmando :

(…) o crime é, antes de tudo, um fato, entendendo-se por

tal não só a expressão da vontade mediante ação

(voluntário movimento corpóreo) ou omissão (voluntária

abstenção de movimento corpóreo), como também o

resultado (effectus sceleris), isto é, a conseqüente lesão ou

periclitação de um bem ou interesse jurídico penalmente

tutelado.12

Partindo do conceito formal, que identifica o crime

pela conduta humana constituída de um fato que se subsume a uma

11 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal/parte geral. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 151.

12 HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal. v.1, Tomo II, 5. ed., Rio de Janeiro :

Forense, 1978, p. 148.

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norma penal incriminadora, denominada fato típico, não torna-se

essencial para sua consideração que a conduta seja contrária ao direito,

portanto antijurídica.

Existe ainda a necessidade de que diante da

tipicidade e da antijuricidade, o agente seja culpável, que abrange em

especial a reprovação social.

Crime é um fato típico e antijurídico, tendo como

pressuposto da pena a culpabilidade; o fato típico consiste em

determinado comportamento humano, negativo ou positivo, que gera um

resultado, previsto em lei penal como uma infração.

1.1.2 Conceito material

No conceito material busca-se a essência do delito,

diante de ações nocivas à coletividade, e seu reflexo na sociedade,

como aponta Damásio de Jesus:

(…) delito é a ação ou omissão, imputável a uma pessoa,

lesiva ou perigosa a interesse penalmente protegido,

constituída de determinados elementos e eventualmente

integrada por certas condições, ou acompanhada de

determinadas circunstancias previstas em lei.13

A conduta humana que gera lesão ou expõe a perigo

a sociedade, e assim um bem juridicamente tutelado legalmente, é tida

como crime, como aponta José Frederico Marques: “Sob o ponto de vista

material, o conceito de crime visa aos bens protegidos pela lei penal.

Dessa forma, nada mais é que a violação de um bem penalmente

protegido.”14

13 JESUS, Damásio E. de, Direito penal/ parte geral. p.151.

14 MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. v.2, São Paulo : Saraiva, 1965. p. 85.

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O conceito material de crime é de relevância jurídica,

uma vez que destaca como razão determinante a conduta humana

sujeita à sanção, sendo encontrada no desenvolvimento de correntes que

o caracterizavam como um fato social, e negavam o direito como uma

expressão autônoma.

1.1.3 Conceito analítico

O conceito analítico se caracteriza por definir o crime

de forma tripartida, ou seja, como uma ação ou omissão, típica,

antijurídica e culpável.

A conceituação analítica tem várias vantagens, como

demonstra a analogia de Luis Alberto Machado:

Ainda que formalmente, a água seja água, e materialmente

seja um líquido insípido, inodoro e incolor que serve para,

entre outras coisas, saciar a sede, analiticamente sua

composição é H2O.15

Enquanto a ação designa a atividade, a omissão é a

falta dela, transgredindo a expectativa jurídica diante de um fato

imperativo e necessário. A conduta típica, por sua vez, é o fato concreto

correspondente a previsão legal; antijurídica, quando determinado ato é

típico e não está protegido por qualquer excludente de ilicitude, sendo

juridicamente proibido.

Embora haja inúmeras divergências doutrinárias, a

corrente dominante analisa o crime diante destes três elementos, vistos

como pressupostos para a caracterização do mesmo.

15 MACHADO, Luiz Alberto. Direito Criminal. Parte Geral. São Paulo : Editora Revista dos

Tribunais, 1987. p.107.

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1.2 DA CONDUTA DELITUOSA

Conduta é ação ou omissão consciente e dirigida a

determinada finalidade, referindo-se ao comportamento do ser vivo,

racional, juntamente com a manifestação da vontade, não sendo

considerada nos casos do agente agir involuntariamente.

Abrange duas formas: a ação, que se manifesta por

intermédio de um movimento corpóreo tendente a uma finalidade, e a

omissão que não é um simples não fazer, mas sim não fazer alguma coisa,

impõe um comportamento, que por não ocorrer, configura o crime.

1.2.1 Da tipicidade

Por obra da tipicidade a conduta humana deve

corresponder a algum tipo penal, para ser considerada delituosa; é

preciso compreender a natureza do fato injusto, como mostra Hans Welsel,

criador da teoria finalista da ação, citado por Romeu Falconi: “injusto é

tudo aquilo que não nos é permitido fazer”.16

É necessário ainda que esse “injusto” se revista de

grande relevância no mundo do direito, como explica Romeu Falconi:

(…) todos esses atos – condutas humanas-, devem ser

valorados de per si, para que possamos aquilatar o injusto

culpável praticado, que nos fornecerá finalmente o tipo

penal – o crime.17

Portanto, evidencia-se que é preciso analisar cada

ação de forma peculiar, como aponta o mesmo autor:

(…) tanto é ilícito estacionar em local proibido, como é o

porte de armas, ou o disparo na via pública, ou o homicídio

16 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. 3. Ed. São Paulo: ícone, 2002. p. 154.

17 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. p. 154.

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ao final praticado. O conteúdo axiológico há de ser

considerado, para a aplicação da sanção. No momento de

valorar o injusto, não se poderá considerar iguais os

exemplos.18

Condutas diferentes, em suas potencialidades diversas,

serão valoradas sempre proporcionalmente ao mal possivelmente

causado, se a lei não tipifica, ou seja, não prevê tal hipótese como

delituosa.

Como dispõe Damásio de Jesus, o fato típico vem

implícito de certos elementos:

1) Conduta humana dolosa ou culposa; 2) resultado (salvo

nos crimes de mera conduta); 3) nexo de causalidade entre

a conduta e o resultado (salvo nos crimes de mera conduta

e formais); 4) enquadramento do fato material (conduta,

resultado e nexo) a uma norma penal incriminadora.19

Sucintamente, a tipicidade consiste simplesmente na

concretização de um fato, abstratamente descrito como criminoso pela

lei.

É desse modo que a vida se desenvolve num clima

jurídico, considerando assim o direito às condutas como permitidas ou

proibidas, e este não teria eficácia se não fosse feito de forma idônea

para obter a obediência a seus imperativos.

1.2.2 Da antijuricidade

A antijuridicidade abrange a conduta definida como

ilícita, como expõe Damásio de Jesus:

18 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. p. 155.

19 JESUS, Damásio E. Direito penal/parte geral. p. 260.

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Antijuricidade é a relação de contrariedade entre o fato típico e o ordenamento jurídico. A conduta descrita em

norma penal incriminadora será ilícita e antijurídica quando

não for expressamente declarada lícita. Assim, o conceito

de ilicitude de um fato típico é encontrado por exclusão: é

antijurídico quando não declarado lícito por causas de

exclusão da antijuridicidade.20

A antijuricidade é uma valoração acerca do

comportamento humano diante de uma natureza lesiva, pois como

ensina o mesmo autor:

(…) de nada serve que um fato encerre em si as

características de uma espécie delituosa abstrata; não

basta que o agente tenha com vontade e consistência

pretendido realizar um comportamento delituoso se faltar o

objeto jurídico do crime, qual seja, o interesse tutelado pela

norma.21

Damásio de Jesus, citando Welsel, explicita que:

(…) antijuridicidade é uma característica da ação, e mais

exatamente, a relação que expressa um desequilíbrio entre

ação e ordenamento jurídico, enquanto o injusto é a ação

antijurídica como conjunto, i e, o objeto, com seu atributo

valorativo. 22

A distinção entre o injusto, a antijuridicidade e a

ilicitude praticamente não existe, pois se aplica tais expressões como

sinônimas.

A antijuridicidade divide-se em formal e material,

diretamente ligada com o conceito formal e material do crime, onde

formalmente abrange o aspecto do ponto de vista da lei, enquanto 20 JESUS, Damásio E. de. Direito penal/parte geral. p.155.

21 JESUS, Damásio E. de. Direito penal/parte geral. p.356.

22 JESUS, Damásio E. de. Direito penal/parte geral. p. 357.

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materialmente, analisa-o sob o ângulo dos bens tutelados pela norma

penal.

A antijuridicidade ainda aparece de maneira objetiva

e subjetiva, respectivamente. A primeira existe independente de vontade,

culpa ou imputabilidade do sujeito, o grau de lesividade que determinada

conduta gera, existindo tanto na conduta do imputável, quanto do

inimputável. Já a segunda analisa as ordens e proibições que compõem o

ordenamento jurídico, não havendo a ilicitude sem culpa, constituindo-se

primordial à vontade humana.

1.2.2.1 As excludentes de antijuricidade

As causas da exclusão da antijuricidade estão

dispostas no artigo 23 do Código Penal Brasileiro:

Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício

regular de direito;

O Estado de necessidade apresenta-se contido na

circunstância em que para proteger um direito próprio ou de outrem, é

necessário lesionar o interesse alheio, como afirma Ronaldo Silva:

(…) existe no estado de necessidade um conflito de bens-

interesses. A ordem jurídica, considerando a importancia

deles igual, aguarda a solução para proclamá-la como

legítima.23

23 SILVA, Ronaldo, Manual do Direito Penal. Volume 2, 6 ed. Itajaí, 1994. p. 12.

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Existem requisitos à configuração do estado de

necessidade:

a) que seria a situação de perigo, abrangendo como

requisitos o perigo atual;

b) a ameaça a Direito próprio ou alheio;

c) situação não causada voluntariamente pelo sujeito;

d) inexistência do dever legal de arrostar (encarar sem

medo) perigo, enquanto que o outro requisito seria a

conduta lesiva, que exige a inevitabilidade do

comportamento lesivo;

e) inexigibilidade de sacrifício do interesse ameaçado;

f) conhecimento da situação de fato justificante.

A segunda causa excludente é a legítima defesa,

definida no art. 25 do Código Penal, nos seguintes moldes:

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando

moderadamente dos meios necessários, repele injusta

agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.24

Ronaldo Silva citando Nelzel, conceitua legítima

defesa como “a defesa necessária para resistir a uma agressão antijurídica

atual levada contra quem defende ou contra um terceiro; sua idéia

fundamental é o direito não precisa ceder ante o injusto.”25

Como ensina Romeu Falconi:

(…) age acobertado pelo estrito cumprimento do dever

legal quem tem obrigação de cumprir certo encargo que,

24 Código Penal Brasileiro, Lei N 2.848/ 40.

25 SILVA, Ronaldo, Manual do direito penal. p.19.

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pela sua natureza, convencionalmente seria figura criminal

típica.26

O exercício regular do direito bastante se confunde

com o estrito cumprimento do dever legal, sendo que este último é

constituído por força de uma obrigação imposta por lei, nos limites dessa.

1.2.3 Da culpabilidade

A culpabilidade consiste na consciência do homem de

se reprovar, como se censurar diante de determinados fatos e

circunstâncias.

Encontra-se estruturada sobre o tripé imputabilidade,

consciência do injusto e exigibilidade de conduta conforme a norma

jurídica penal.

A imputabilidade, como aponta Romeu Falconi:

(…) é a capacidade de entender do agente, se ausentes

esses pressupostos, não há em falar em agente

imputável,(...) a imputabilidade funciona sob dois

pressupostos, ou seja: condição que é a resultante de um

ilícito; conseqüência, que é a aplicação da norma jurídica

penal.27

Enquanto a consciência do injusto abrange a diretriz

de que toda pessoa, por mais despreparada que seja, tem a mínima

noção do que é justo e injusto, contido na sua conduta, a exigibilidade da

conduta conforme a norma jurídica, como aponta Romeu Falconi

”constitui condição de exigibilidade da aferição da culpabilidade”.

26 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. p.219.

27 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. p.157.

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1.2.3.1 As excludentes de culpabilidade

Já sob análise do conceito de culpabilidade e ciência

de seus elementos, quando se falta algum deles não subsiste a

culpabilidade. Embora o crime subsista, o sujeito não é culpado.

Tem-se as seguintes causas de exclusão da

culpabilidade:

� erro de proibição, previsto no art. 21, caput,

Código Penal;

� coação moral irresistível, prevista no art. 22, 1ª

parte, Código Penal;

� obediência hierárquica, previsto no art. 22, 2ª

parte, Código Penal;

� inimputabilidade por doença mental ou

desenvolvimento mental incompleto ou

retardado, prevista no art. 26, caput, Código

Penal;

� inimputabilidade por menoridade penal, prevista

no art. 27, Código Penal;

� inimputabilidade por embriaguez completa,

proveniente de caso fortuito ou força maior,

prevista no art. 28, parágrafo 1º, Código Penal.

No erro de proibição, explica Damásio de Jesus :

Se o sujeito não tem a possibilidade de saber que o fato é

proibido, sendo inevitável o desconhecimento da proibição,

a culpabilidade fica afastada, o sujeito diante do erro,

supõe licito o fato por ele cometido. Ele supõe inexistir a

regra de proibição.28

28 JESUS, Damásio E. de, Direito penal/parte geral. p.487.

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Na coação moral irresistível, percebe-se o emprego de

força física ou grave ameaça sobre determinada pessoa para que ela

cometa algum ato ou não. A coação física é o emprego de força bruta,

enquanto que a moral é o emprego de grave ameaça contra alguém.

A obediência hierárquica aparece nos casos em que o

superior hierárquico manifesta uma vontade a um funcionário que lhe é

subordinado, no sentido de que o mesmo a realize. Neste caso só é

punível o autor da ordem, por ser uma excludente de culpabilidade.

A inimputabilidade por doença mental ou

desenvolvimento mental incompleto ou retardado, ocorre quando o

agente, em detrimento da sua condição, é inteiramente incapaz de

entender o caráter ilícito de sua conduta, bem como em certos casos há

a diminuição da responsabilidade do agente, em decorrência de

problemas psíquicos, por duas diretrizes de entendimento: o intelectivo,

quando diz respeito a capacidade de entendimento do caráter ilícito, e

volitivo, característico à capacidade de dirigir o comportamento de

acordo com o entendimento de que socialmente ele é reprovado.

Os menores de dezoito anos, são considerados

absolutamente incapazes, portanto, inimputáveis, não praticando crimes

ou contravenções penais, mas apenas atos infracionais.

A inimputabilidade por embriaguez proveniente de

caso fortuito implica sobre o fato de que um sujeito embriagado pode

progredir da ligeira excitação gerada pelo álcool, até o estado de

paralisia e coma. A embriaguez voluntária não se sujeita a excludente de

culpabilidade, que só aparece nos casos em que ela ocorreu

acidentalmente, causada de forma completa, e perante caso fortuito ou

força maior, em que o agente não tem consciência de seus atos.

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1.3 OBJETO DO CRIME

Objeto do crime, como define Damásio de Jesus “é

aquilo contra que se dirige a conduta humana que o constitui. Para que

seja determinado, é necessário que se verifique o que o comportamento

humano visa.”29

Há duas espécies de objeto: jurídico e material. Objeto

jurídico é o bem que o ordenamento jurídico tutela, que se constitui em

tudo o que é capaz de suprir as necessidades do homem, como a vida, a

integridade física, o patrimônio, a honra entre outros.

O objeto material é o objeto determinado, pessoa ou

coisa sobre a qual recai a conduta do sujeito ativo, como exemplo o

homem vivo no homicídio.

1.4 SUJEITOS DO CRIME

Por sujeito entende-se quem participa do crime, em

qualquer dos seus pólos, ativo ou passivo, podendo em ambos os casos

haver o concurso, denominado por litisconsórcio. Pode ser ativo, quando

no pólo maior, há dois ou mais agentes, enquanto que no passivo há mais

de uma vítima, e misto, quando em ambos os sujeitos (ativo e passivo)

encontra-se mais de um agente.

1.4.1 Sujeito ativo

Sujeito ativo é aquele que pratica o fato descrito na

norma penal incriminadora. Somente o homem pode praticar uma

ilicitude.

29 JESUS, Damásio E. de. Direito penal/parte geral. p. 179.

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Sua terminologia é bastante variada: o legislador

refere-se ao sujeito ativo através de agente; no inquérito policial recebe a

denominação de indiciado; durante o processo recebe o nome de

denunciado, acusado, ou réu; quando já proferida sentença, será

chamado de sentenciado, preso, condenado, recluso ou detento; no

ponto de vista biopsíquico, é criminoso ou delinqüente.

Como aponta Romeu Falconi: “é a pessoa física – ser

humano – que, ativa, ou negativamente (ação ou omissão) realiza ou

ajuda a realizar o tipo penal, praticando o ilícito penal, ou pelo menos

tentando.”30

Logo, evidencia-se que o ser humano que através de

sua ação ou sua omissão pratica um ato ilícito, figura como sujeito ativo

do crime.

1.4.2 Sujeito passivo

É todo ser que, de alguma forma, tem algum bem ou

interesse juridicamente relevante lesado.

Segundo Damásio de Jesus, há espécies de sujeito

passivo:

Se o crime é, sob o aspecto formal a violação da norma

penal, substancialmente é a lesão de um bem por ela

tutelado, assim, sempre há um sujeito passivo juridicamente

formal em todo crime, pelo simples fato de ter sido

praticado, independentemente de seus efeitos. Esse sujeito

passivo formal é o Estado, titular do mandamento proibitivo

não observado pelo sujeito ativo. Por outro lado,

considerado o crime sob prisma material, há sempre aquele

30 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. p. 145.

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que sofre a lesão do bem jurídico de que é titular (vida,

integridade física, honra, patrimônio, etc.).31

Ainda no que abrange o sujeito passivo, esclarece o

mesmo autor:

Todo homem como criatura viva, pode ser sujeito passivo

material de crime, quaisquer que sejam suas condições

biopsíquicas permanentes (idade, sexo, raça, inteligência,

etc.), transitórias (vida intra-uterina), ou momentâneas

(sono, estado de ebriez etc.). Não importam também suas

condições jurídicas, de cidadania, de família ou de

restrições legais civis ou penais.32

Indubitável, portanto, que o incapaz pode ser

agente passivo do delito, uma vez que o recém-nascido pode ser vítima

de infanticídio, o menor em fase escolar pode ser sujeito passivo de crime

de abandono intelectual, entre outros.

1.5 QUALIFICAÇÃO LEGAL E DOUTRINÁRIA DOS CRIMES

1.5.1 Crimes dolosos e culposos

Na definição legal apresentada pelo art. 18, inciso I, do

Código Penal, o crime se diz doloso “quando o agente quis o resultado ou

assumiu o risco de produzi-lo”, enquanto que no seu inciso II, define o

crime culposo quando “o agente deu causa ao resultado por

imprudência, negligência ou imperícia.”.

Ao assumir o risco de produzir o resultado, o agente

está agindo de forma dolosa. É o dolo, pois, a vontade livre e consciente

do agente na realização de uma conduta típica. É o querer realizar algo

que sabe ser ilícito. Como elementos do dolo, aparecem a consciência

31 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal/parte geral. p.172.

32 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal/parte geral. p .173.

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da conduta e do resultado, a consciência da relação causal objetiva

entre a conduta e o resultado e a vontade de realizar a conduta e

produzir o resultado.

Nas suas espécies, existe o dolo direto, onde o agente

visa a certo e determinado resultado, enquanto no indireto não é onde

certo e determinado o resultado, aparecendo de duas formas: o

alternativo, onde a vontade se dirige a um ou outro resultado, e eventual,

quando assume o risco de produzi-lo.

Dolo genérico é a vontade de realizar fato descrito na

norma penal, e específico, é a vontade de praticar o fato e produzir um

fim especial. Dolo normativo é o que porta a consciência da

antijuridicidade, e o natural é a simples vontade de fazer alguma coisa.

O dolo geral, também conhecido como erro sucessivo,

ocorre quando o agente tem a intenção de praticar determinada

conduta capaz de produzir o efeito desejado, e logo depois crendo já ter

produzido, pratica outra ação com diversa finalidade, gerando assim o

resultado da primeira.

A forma culposa constitui elemento do tipo. Na culpa

apresenta tais manifestações da inobservância do cuidado necessário:

imprudência, negligência ou imperícia. A imprudência consiste em

proceder com excesso de ousadia, não buscando o resultado, não tendo

criterioso sentido de previsibilidade.

A negligência, por sua vez, é o descuido de certas

condições, gerando perigo a outrem. Tem como pressuposto a

desatenção, não podendo ser intencional.

A imperícia tem quem não está habilitado para fazer

algum serviço, ofício ou obrigação, e o faz, sem pretensão do resultado.

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Como elementos típicos culposos estão: conduta

humana voluntária, de fazer ou não fazer; inobservância do cuidado

objetivo, manifestada na imprudência, negligência e imperícia;

previsibilidade objetiva; ausência de previsão; resultado involuntário; nexo

de causalidade; imputação objetiva e tipicidade.

As espécies são a culpa consciente, o qual o resultado

é previsto pelo sujeito, que espera que não ocorra ou que possa evitá-lo,

enquanto que na culpa inconsciente, o resultado não é previsto, embora

seja previsível.

1.5.2 Crimes comuns, próprios e de mão-própria

Crimes comuns são os que podem ser praticados por

qualquer pessoa, como exemplo homicídio, furto, estelionato.

Crimes próprios são os que só podem ser cometidos por

determinadas pessoas, pois apresenta uma particular condição ou

qualidade pessoal, que pode ser jurídica, profissional, de parentesco ou

natural, como explica Romeu Falconi:

(…) o estupro é um crime próprio quanto aos agentes, pois

somente um homem pode ser agente ativo e somente uma

mulher pode ser agente passivo. Exige-se pessoa própria

para a realização do tipo. Outra faceta versa sobre

condições de pessoas. Assim, o crime de deserção somente

poderá ser cometido por alguém que seja militar. 33

Os crimes de mão própria são aqueles que só podem

ser cometidos pelo sujeito em pessoa, como no falso testemunho, incesto

e prevaricação. Estranhos podem ser considerados partícipes, mas não

como autores, como explica Damásio de Jesus:

33 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. p.173.

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(…) estão descritos em figuras típicas que, diante de seu

injusto, são necessariamente formuladas de tal maneira que

o autor só pode ser quem esteja em situação de realizar

imediata e corporalmente a conduta punível.34

Nota-se assim a necessidade de ser praticado, tal

delito, por pessoa determinada, para que possa assim caracterizar o crime

de mão própria.

1.5.3 Crime de dano e de perigo

Crime de dano é aquele cuja figura típica contempla

o efetivo prejuízo ou ainda agride um bem juridicamente protegido, só se

concretizando com a lesão do bem jurídico (exemplo homicídio, lesões

corporais, etc.)

Crime de perigo são os que se consumam somente

com a possibilidade do dano, como exemplo, perigo de contágio

venéreo.

O perigo pode ser presumido ou concreto. Quando é

considerado por lei em face de determinado comportamento, a lei o

presume, não havendo necessidade de ser provado, decorrendo da

simples inércia do sujeito.

O perigo concreto tem a necessidade de ser provado,

por exemplo o abandono ao recém-nascido, que não é presumido,

precisando ser investigado para ser comprovado.

Perigo individual é quando expõe a risco uma

determinada pessoa, ou um grupo limitado de pessoas, resultado de

crimes contra a incolumidade individual.

34 JESUS, Damásio E. de, Direito Penal/ Parte Geral. p.188.

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Perigo comum abrange um número indeterminado de

pessoas, como um incêndio.

Perigo atual é o que está ocorrendo, assim como o

estado de necessidade.

Perigo iminente é aquele que está prestes a

desencadear-se.

Perigo futuro é o que mesmo não existindo no presente,

poderá advir em posterior ocasião.

1.5.4 Crimes materiais, formais e de mera conduta

Crimes materiais são a maioria dos crimes, que

descrevem uma ação e um resultado, sem o qual a infração não se

consuma, gerando mutações no mundo exterior, sendo assim classificados

em relação ao seu resultado.

Crimes formais se consumam pela simples

exteriorização da vontade do agente, (crimes contra a honra, por

exemplo).

Nos crimes de mera conduta, o tipo não descreve o

resultado, vez que a infração se consuma com a mera conduta, e como

por exemplo omitir socorro, quando possível fazer, sem risco pessoal.

Assim, distingue Damásio de Jesus:

Distinguem-se os crimes formais dos de mera conduta. Estes

são sem resultado; aqueles possuem resultado, mas o

legislador antecipa a consumação à sua produção. No

crime de mera conduta o legislador só descreve o

comportamento do agente, violação de domicilio,

desobediência. No crime formal o tipo menciona o

comportamento e o resultado, mas não exige a sua

produção para consumação, crimes contra a honra,

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ameaça. No crime material o tipo menciona a conduta e o

evento, exigindo a sua produção para consumação,

homicídio, aborto.35

Fica assim, evidente, que o simples fato de praticar

determinada conduta, já configura o crime, não sendo necessário o seu

resultado.

1.5.5 Crimes consumados e tentados

Consumado é quando reúne todos os elementos de

sua definição legal. A noção de consumação fica implícita quando se

define o crime tentado, expressando a total conformidade do fato

praticado pelo agente com a hipótese descrita pela norma. É de suma

importância determinar o momento consumativo do crime, variando

segundo a natureza do delito.

Os crimes tentados são quando a execução é iniciada

porém não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Apresenta como elementos o início da execução do crime e a não

consumação por circunstâncias alheias à vontade.

As formas de tentativa são explicadas por Damásio de

Jesus:

(…) quando o processo executório é interrompido por

circunstancias alheias a vontade do agente, fala-se em

tentativa imperfeita. Quando a fase de execução é

integralmente realizada pelo agente, mas o resultado não

se verifica por circunstâncias alheias a sua vontade diz-se

que há tentativa perfeita36.

35 JESUS, Damásio E. de. Direito penal/parte geral. p.191.

36 JESUS, Damásio E. de, Direito penal/parte geral. p.337.

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Evidencia-se que o dolo do crime tentado é o mesmo

do consumado, pois a vontade existe.

1.5.6 Crimes simples, privilegiados e qualificados

Crime simples é o descrito em sua forma fundamental,

isto é, a figura típica contém os elementos específicos do delito, como

conceitua Romeu Falconi: “aquele que se aperfeiçoa por um só ato,

completando o tipo penal. Chamam-se também de crime

unissubsistente.”37

Crime privilegiado é explicado por Damásio de Jesus:

(…) o legislador, às vezes, após a descrição fundamental do

crime, acrescenta ao tipo determinadas circunstancias de

natureza objetiva ou subjetiva, com função de diminuição

de pena. No homicídio, após a definição do tipo básico,

contida na cabeça do artigo, o legislador acrescentou

circunstancias de caráter subjetivo, com função de

especifica de diminuírem a pena, diz-se então que o crime

é privilegiado 38

Portanto, o privilégio se dá ao fato de determinar

certas circunstâncias que diminuirão a pena do agente do delito.

O crime qualificado é assinalado por Romeu Falconi

como:

(…) aqueles em que o dever – ser objetivo sofre alterações

no seu mínimo ou no seu máximo. Exemplo disso é o

homicídio, cuja classificação “simples” é sancionada com a

pena de seis a vinte anos. Enquanto isso no parágrafo

37 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. p.172.

38 JESUS, Damásio E. de, Direito penal/parte geral. p. 206.

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segundo do mesmo artigo, vê-se as qualificadoras do delito

alterando as penas para doze a trinta anos.39

O crime é qualificado, portanto, quando o

legislador, após descrever a figura típica fundamental, agrega

determinadas circunstâncias que aumentam a pena.

É notória a necessidade do entendimento

referente aos crimes e suas classificações, para assim tratar com mais

abrangência seus efeitos no âmbito tributário, analisando a seguir os

deveres, as formas de infrações, bem como suas espécies, elementos e

princípios.

39 FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. p.174.

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CAPÍTULO 2

TEORIA GERAL DA OBRIGAÇÃO E INFRAÇÃO TRIBUTÁRIA

2.1 DIREITO TRIBUTÁRIO: CONCEITO

É um ramo autônomo do direito correspondente as

proposições jurídicas normativas, referentes à instituição, arrecadação e

fiscalização de tributos. Seu conceito é bastante diverso, como bem

explica Zelmo Denari:

Como consideração preliminar, a de que seu âmbito é mais

restrito, pois se a atividade financeira do Estado

compreende o estudo da receita, despesa, orçamento e

crédito público, o direito tributário somente destaca, desse

conjunto heterogêneo, o sistema das receitas. Mas não

qualquer receita: somente aquelas de natureza coercitiva, vale afirmar, somente os tributos.40

Diante do desenvolvimento do direito atinente aos

tributos, tornou-se possível falar em autonomia, como simplifica Luciano

Amaro:

O direito tributário é a disciplina jurídica dos tributos, com o

que se abrange todo o conjunto de princípios e normas

reguladores da criação, fiscalização e arrecadação das

prestações de natureza tributaria.41

O Estado é quem figura no pólo ativo, e os particulares

o passivo, porém, às vezes o produto da atividade financeira será

40 DENARI, Zelmo, Curso de direito Tributário. São Paulo, Forense, 1995. p. 09.

41 AMARO, Luciano da Silva, Direito Tributário Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

p.04.

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26

arrecadado por entidades a quem a lei atribuirá a capacidade, a

aptidão para figurar como credor da prestação tributária.

Por outro lado, os entes públicos podem configurar o

pólo passivo, as empresas públicas, sociedades de economia mista e

outras entidades públicas que explorem atividade econômica, submetem-

se a ao mesmo regime tributário das empresas privadas.

Ainda sob entendimento de Alexandre Macedo

Tavares, é possível concluir que Direito Tributário é:

O ramo didadicamente autônomo do Direito que abriga um

complexo de normas, valores e princípios que lhe são

inerentes, disciplinadores do nascimento, fiscalização,

exigibilidade e extinção do tributo, fruto de uma relação

jurídica de Direito Público, instaurada entre Fisco e

contribuinte.42

Importante, por fim, ressaltar que o Direito Fiscal

embora seja mais abrangente que o Direito Tributário, são tidos como

denominações sinônimas.

2.2 ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO

Consiste em obter, criar, gerir e despender o dinheiro

indispensável às necessidades, cuja satisfação o Estado assumiu. O Direito

Financeiro trata de adquirir do particular, receitas públicas para a

consecução do “bem comum”, para determinados fins, previstos em lei.

Estes atos do Estado que justificam obter e aplicar os

recursos pecuniários advém de responsabilidades, como exemplo a

manutenção da ordem, a solução de litígios, a fiscalização de atividades,

42 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de Direito Tributario. 3 ed. Editora Momento

Atual, 2003. p. 06.

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a realização de ações sociais nos campos da saúde e educação, bem

como a prestação de outros serviços públicos.

2.3 RECEITA PÚBLICA E TRIBUTO

Encontram-se bastante diversificados os recursos

financeiros destinados aos cofres públicos, derivando de contratos

firmados pela administração, com caráter de bilateralidade, não

resultando, assim, somente da atividade impositiva do Estado, como

campo de abrangência do direito tributário.

Diante da explicação, decorre Zelmo Denari:

Há uma corrente que entende como receita pública toda

soma de dinheiro arrecadada pelo Estado, seja a título de

tributo ou renda da atividade econômica (insuscetíveis de

restituição), seja a título de caução, fiança ou empréstimo

publico (restituíveis). Não obstante, ganha proeminência

doutrinaria que diferencia entrada de receita. Aquela,

indistinta, compreensiva de quaisquer importâncias

recolhidas ao tesouro, sujeitas ou não á restituição. A

designação receita é reservada, tão somente, ás

importâncias arrecadadas em caráter definitivo, vele dizer,

não restituíveis.43

É visto, portanto, que as receitas sofrem subdivisões,

estando elas como entrada ou ingresso que é todo dinheiro recolhido aos

cofres públicos, independente de restituição, enquanto a subdivisão tida

como receita é a quantia recolhida não sujeita à restituição.

Há ainda nas Receitas uma outra divisão, originárias e

derivadas. a primeira são aquelas assemelhadas à relação jurídica

privada, caracterizada pelo particular e pela autonomia das vontades do

43 DENARI, Zelmo. Curso de direito tributário. p. 14.

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28

Estado, tendo origem no próprio patrimônio público ou na atuação do

Estado e do particular.

As receitas derivadas se contrapõe às receitas

originárias, desde que se baseiam na atividade financeira coercitiva do

Estado. São comandadas pela unilateralidade do Estado, fundamentam-

se no poder impositivo estatal, e denominam-se derivadas, porque são

obtidas dos particulares, envolvendo patrimônio alheio.

As receitas derivadas são representadas pelos tributos,

que designa as imposições legais instituídas pelo Estado visando obter

recursos financeiros, como mostra o Código Tributário Nacional:

Art. 3º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em

moeda ou cujo valor nela possa se exprimir, que não

constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada

mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

O tributo é uma prestação exigida em termos

previamente estabelecidos em lei, tratando-se de uma contribuição dada

pelos indivíduos, para o custeio das despesas coletivas.

Paulo de Barros Carvalho mostra as diversas acepções

dadas ao tributo:

O vocábulo tributo experimenta nada menos do que seis

significações diversas, são elas:

a) como quantia em dinheiro;

b) como prestação correspondente ao dever jurídico do

sujeito passivo;

c) como direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo;

d) como sinônimo de relação jurídica tributaria;

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e) como norma jurídica tributaria;

f) como norma, fato e relação jurídica.44

Cabe ressaltar as espécies de tributos existentes:

imposto, taxas, contribuição de melhoria, empréstimos compulsórios e

contribuições sociais.

O imposto é uma modalidade de tributo não vinculado

a uma atuação estatal, como dispõe Roque Antonio Carrazza:

O imposto encontra seu fundamento de validade, apenas,

na competência tributária da pessoa política, não havendo

necessidade, para que ele seja instituído e cobrado, de que

o Poder Público desenvolva, em relação ao contribuinte,

qualquer atividade especifica. É nesse sentido que muitos

juristas chamam o imposto de tributo sem causa. Sem causa

não porque ele não tenha fato imponível, mas porque não

há necessidade de a entidade tributante oferecer qualquer

contraprestação direta a quem o paga.45

Logo após o imposto, encontra-se como modalidade a

taxa, que mostra-se uma obrigação legal, vinculada ao Estado, explicado

por Alexandre Macedo Tavares nos seguintes termos:

De um modo geral, tem-se entendido que a taxa configura

uma obrigação legal cuja hipótese de incidência encontra-

se vinculada ao contribuinte. Esta atuação, consoante reza

a regra-matriz das taxas, pode consistir ou num serviço

público ou num ato de policia.46

44 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. Ed.17, São Paulo: Saraiva, 2005.

p.19.

45 CARRAZA, Roque Antonio, Curso de direito constitucional tributário. Ed.22., São Paulo:

Malheiros, 2006. p. 497.

46 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de direito tributário. p. 70.

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Ainda no que abrange as modalidades de tributo, a

contribuição de melhoria aparece como um tributo que tem como

hipótese de incidência uma referida atuação estatal, consiste na

valorização imobiliária, devido a uma obra pública, caracterizando-se

como um tributo indireto, pois vincula-se a uma obra pública, ou seja, uma

atuação do Estado.

Os empréstimos compulsórios aparecem em casos de

despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública, de guerra

externa ou sua iminência, ou até mesmo em casos de investimento

público de caráter emergencial e de relevante interesse nacional, tendo

como pressuposto para ser cobrado o tempo que perdurar o que ensejou

tal cobrança.

As contribuições sociais são as mencionadas no art. 149

da Constituição de 1988:

Compete exclusivamente à União instituir contribuições

sociais, de intervenção no domínio econômico e de

interesse nas categorias profissionais ou econômicas, como

instrumento de sua atuação nas respectivas áreas. (..)

Em suma, a contribuição social tem finalidade

constitucionalmente definida, sendo intervenção no domínio econômico,

interesse de categorias profissionais ou econômicas e seguridade social.

2.4 ELEMENTOS CARACTERIZADORES DO TRIBUTO

Há diversos elementos que compõe o tributo, divididos

em:

a) Caráter pecuniário: a prestação tributária, como prestação

em moeda, este primeiro segmento satisfaz-se com a

entrega de dinheiro aos cofres públicos.

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b) Compulsoriedade: evidencia-se que o dever jurídico de

prestar o tributo é imposto pela lei, não nascendo da

vontade das partes, mas sim da lei.

c) Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: neste

elemento encontra-se uma linguagem prescindível e

redundante como bem explica Paulo de Barros Carvalho:

O político, despreocupado com o rigor, comete dois erros

grosseiros: primeiro, ao repetir o caráter pecuniário da

prestação. Se já dissera que se trata de uma prestação

pecuniária, para que insistir com a locução “em moeda”?

Segundo, ao agregar a cláusula “ou cujo valor nela se

possa exprimir”, pois com isso ampliou exageradamente o

âmbito das prestações pecuniárias.47

d) A natureza não sancionatória de ilicitude: visa afastar certas

prestações também criadas por lei, da noção de tributo.

Como as multas pro infrações de disposições legais,

caracterizando uma sanção de ilícitos e não um tributo.

e) Instituída em Lei: somente a lei pode instituir um tributo.

Ninguém será obrigado a fazer ou não alguma coisa,

senão em virtude da lei, afastando assim, as obrigações

convencionais com fulcro numa convergência de

vontades.

f) Cobrada mediante atividade administrativa plenamente

vinculada: consiste na idéia de que integrando o conceito

do fato ao contexto da norma, a autoridade

administrativa tem o dever de apurá-lo, para exigir o

cumprimento da obrigação, através do crédito tributário,

inexistindo, portanto, qualquer juízo de conveniência ou

oportunidade.

47 CARVALHO, Paulo de Barros, Curso de direito tributário. p. 25.

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2.5 OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA : CONCEITO

A expressão obrigação tem uma enorme abrangência,

dificultando a sua exata delimitação. No Direito tal palavra aparece

como um elo entre duas ou mais pessoas, fruto de uma relação jurídica.

Sendo assim, a obrigação tributária, se particulariza, no campo dos

tributos, pelo objeto que será sempre uma prestação de natureza

tributária, podendo ser dar uma soma pecuniária ao sujeito ativo, fazer

algo ou não fazer algo, sendo através do objeto que a obrigação revela

sua natureza tributária.

Como bem explica Zelmo Denari: “É o vínculo jurídico

em virtude do qual o Estado (sujeito ativo) pode exigir de um particular

(sujeito passivo) uma prestação pecuniária (objeto), nas condições

previstas em lei (causa).”48

Em suma; há um vínculo entre o Estado e os

contribuintes, uma relação jurídica de caráter obrigacional, constituído no

objeto fundamental do Direito Tributário. A partir de um fato típico e

jurídico previsto em lei, o fato gerador, surge a obrigação.

2.5.1 Espécies de obrigação tributária

Há duas espécies de obrigação tributária, sendo ela

principal ou acessória, como revela o art. 113, parágrafo 1º e 2º do

Código Tributário Nacional:

Art. 113 A obrigação tributária é principal ou acessória.

§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato

gerador, tem por objeto o pagamento do tributo ou

penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o

crédito dela decorrente.

48 DENARI, Zelmo. Curso de direito tributário. p. 167.

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§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária

e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela

previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização

dos tributos.

§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua

inobservância converte-se em obrigação principal à

penalidade pecuniária.

A importância da relação jurídica encontra-se naquela

que tem por objeto o pagamento do tributo. Esse vínculo se dá com a

ocorrência do fato gerador do tributo.

Nota-se, portanto, que o Código Tributário Nacional

utiliza, para discriminar as obrigações principais e acessórias, a

circunstância do objeto ser ou não de caráter pecuniário, ou seja, uma

prestação de dar dinheiro, a título de tributo ou penalidade.

Ainda assim, salta aos olhos o equívoco de tal

afirmação diante do fato de que o pagamento de penalidade

pecuniária, não configura tributo, bem como mostra Alexandre Macedo

Tavares:

Acreditamos que essa prática habitual, lastreada em

simples comodidade administrativa, é que conduziu o

legislador ao erro de chancelar com a “marca tributária” o

pagamento de penalidade pecuniária; o que não é

cientificamente apropriado, pois, nunca é demais repetir:

tributo não é uma sanção, não é um castigo aplicado a

uma pessoa. 49

É chamada de acessória a obrigação tributária sem

conteúdo pecuniário, que se configura em prestações de fazer ou não

fazer, no interesse de fiscalizar ou arrecadar tributos. Foge, portanto, a

49 TAVARES, Alexandre, Fundamentos do direito tributário. p.70.

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regra de que o acessório segue o principal, já que independe da

existência de uma obrigação principal a que se subordine.

Luciano Amaro explica a obrigação acessória:

Objetivam dar meios à fiscalização tributaria para que esta

investigue e controle o recolhimento de tributos ( obrigação

principal) a que o próprio sujeito passivo da obrigação

acessória, ou outra pessoa, esteja, ou possa estar,

submetido. Compreendem as obrigações de emitir

documentos fiscais, de escriturar livros, de entregar

declarações, de não embaraçar a fiscalização etc.50

Em síntese, a obrigação acessória não requer

obrigatoriamente que haja uma obrigação principal, bastando a

probabilidade de que ela exista.

2.5.2 Nascimento da obrigação tributária

O nascimento da obrigação tributária não depende

da vontade do sujeito passivo, ou seja, não requer que o mesmo queira

obrigar-se. O vínculo obrigacional tributário abstrai a vontade do

obrigado, por isso diz-se ex lege.

Sobre este assunto discorre Luciano Amaro:

A vontade manifestada na pratica de certos atos, eleitos

como fatos geradores da obrigação tributária é abstraída.

O indivíduo pode querer auferir renda e não querer pagar

imposto, ainda assim, surge a obrigação, cujo nascimento

não depende nem da vontade, nem do conhecimento do

indivíduo.51

Conclui-se que o nascimento da obrigação não

depende da vontade das partes que ocupam os pólos ativo e passivo do 50 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 235.

51 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 232.

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vínculo jurídico, requer apenas a ocorrência de fato previsto previamente

em lei para que tal obrigação surja (fato gerador).

2.5.3 Sujeito ativo e passivo da obrigação tributária

Dispõe o art. 119 do CTN que “o sujeito ativo é a

pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir seu

cumprimento”, podendo ser a União, o Estado-membro, o Município, o

Distrito Federal, todos investidos de competência tributaria, para instituir

bem como cobrar os tributos.

Tal explicitação legal reduz o sujeito ativo às pessoas

jurídicas de direito público, porém nosso sistema admite a delegação da

capacidade tributária ativa a outras pessoas, seja elas públicas ou

privadas, que tenham a seu cargo o exercício de funções de interesse

público.

Bem exemplifica Paulo de Barros Carvalho:

O sujeito ativo, que dissemos ser o titular do direito subjetivo

de exigir a prestação pecuniária, no direito tributário

brasileiro pode ser uma pessoa jurídica pública ou privada,

mas não visualizamos óbices que impeçam que venha ser

pessoa física. Entre as pessoas jurídicas de direito público,

temos aquelas investidas de capacidade política – são as

pessoas políticas de direito constitucional interno – dotadas

de poder legislativo e habilitadas, por isso mesmo, a inovar a

organização jurídica, editando normas. Há outras, sem

competência tributária, mas credenciadas à titularidade de

direitos subjetivos, como integrantes de relações jurídicas

obrigacionais. Entre as pessoas de direito privado,

sobressaem as entidades paraestatais que, guardando a

personalidade jurídico-privada, exercitam funções de

grande interesse para o desenvolvimento de finalidades

públicas.52

52 CARVALHO, Paulo de Barros, Curso de direito tributário. p. 301.

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Por derradeiro, é notório que há possibilidade jurídica

de uma pessoa física vir a ser sujeito ativo.

Sujeito passivo, por sua vez, é a pessoa física ou jurídica

legalmente obrigada ao cumprimento da obrigação tributária.

O sujeito passivo pode ser dividido em contribuinte e

responsável, como apregoa Alexandre Macedo Tavares:

Dependendo de sua relação com o fato gerador da

obrigação, pode o sujeito passivo ser contribuinte, quando

tenha relação pessoal e direta com a situação que

constitua o respectivo fato gerador, ou responsável,

quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua

obrigação decorra de disposição expressa de lei.53

Percebe-se que contribuinte é aquele que praticou

rigorosamente a hipótese contida em lei, passível de tributação (CTN, art.

121, I), enquanto o responsável é aquele que, mesmo não revestido da

condição de contribuinte, encontra-se obrigado legalmente ao

pagamento do tributo correspondente. (CTN, art. 121, II)

2.5.4 Objeto da obrigação tributária

Objeto da obrigação tributária é a prestação

pecuniária compulsória, ou seja, a quantia devida aos cofres públicos, a

título de tributo.

Assim, tem-se como objeto da obrigação tributária

principal o comportamento do sujeito passivo, referente a obrigação de

dar, de entregar dinheiro aos cofres públicos, realizando a descrição

hipotética predeterminada em lei.

53 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos do direito tributário. p.109.

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O objeto da obrigação tributária acessória é o

comportamento humano, não condizente com a entrega de dinheiro aos

cofres públicos, configurando as prestações positivas ou negativas de

interesse da arrecadação ou fiscalização.

Importante ainda ressaltar o que conclui Alexandre

Macedo Tavares:

São exatamente esses comportamentos humanos, que

servem tanto de objeto da obrigação tributária principal

quanto de objeto da obrigação tributária acessória, que

não observados pelos destinatários da norma jurídica

[sujeito passivo], dão azo ao nascimento das

correspondentes infrações tributárias [ilícitos fiscais], os quais

desdobram-se em ilícitos administrativos tributários e ilícitos

penais tributários [delitos fiscais].54

Importante, portanto analisar, que á partir de atitudes

humanas contrárias ao que visa a obrigação tributária, que desencadeia

as infrações tributárias, bem como mais gravemente os ilícitos tributários.

2.5.5 Obrigação tributária X crédito tributário

Não se pode confundir crédito tributário com

obrigação tributária, já que o crédito decorre da obrigação principal e

possui a mesma natureza.

Como explica Alexandre Macedo Tavares, no que se

conceitua obrigação tributária:

Para que se opere o nascimento válido de uma obrigação

tributária, já vimos que se revela imprescindível que a

pessoa [física ou jurídica] realize perfeita e rigorosa a

hipótese de incidência tributária. Em outros termos, o

nascimento da obrigação tributária pressupõe realização

54 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos do direito tributário. p.113.

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de sua respectiva hipótese de incidência [chamada pelo

CTN de fato gerador]. Existe obrigação tributária, contudo, o

tributo ainda não pode ser exigido.55

Em suma, para que surja a obrigação tributária, é

necessário, inicialmente, que uma lei descreva a hipótese em que o

tributo será devido, e logo após, que uma pessoa realize a hipótese,

gerando assim a obrigação tributária. Depois de tudo ocorrido, existe a

obrigação tributária, mas o tributo ainda não poderá ser cobrado. É

necessária a formalização do crédito, que ocorrerá com o lançamento,

para que possa ser exigido o pagamento. Portanto, a obrigação tributária

antecede o crédito tributário.

2.6 INFRAÇÃO TRIBUTÁRIA: CONCEITO

A obrigação tributária, seja ela referente a um tributo,

ou quer se refira a deveres formais, encontram-se sujeita à possibilidade de

descumprimento. Assim como qualquer norma de conduta, por várias

razões o destinatário do comando pode proceder de maneira diversa a

buscada pela ordem jurídica, como bem define Paulo de Barros Carvalho:

Definimos a infração tributária, portanto, como toda ação

ou omissão que, direta ou indiretamente, represente o

descumprimento dos deveres jurídicos estatuídos em leis

fiscais. O comportamento violador do dever jurídico

estabelecido em lei tributária pode revestir as características

de meras infrações ou ilícitos tributários, bem como de

crimes fiscais, dessa maneira definidos em preceitos da lei

penal. Entre tais entidades existe uma distinção formal e,

atrás disso, uma grande diferença de regime jurídico, posto

que os crimes fiscais estão subordinados aos princípios,

institutos e formas do Direito Penal, ao passo que as

infrações contidas em leis tributarias, de caráter não-

55 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos do direito tributário. p.115.

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criminal, sujeitam-se aos princípios gerais do Direito

Administrativo.56

A noção de infração se traduz numa conduta omissiva

ou comissiva contrária ao direito. A mesma enseja a aplicação de

remédios legais que buscam repor a situação desejada pelo direito, ou

reparar o dano causado ao direito alheio, podendo ser essa infração

cumulada.

No Direito Tributário a infração acarreta

conseqüências, tendo o credor direito a impor uma sanção, e em certas

hipóteses pode ensejar punição de ordem mais severa, chamadas de

penas criminais.

2.7 CLASSIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS

As condutas derivadas da inobservância dos deveres

jurídicos tributários podem ter várias classificações. As mais usadas em seu

sentido prático são as infrações à obrigação tributária principal e aquelas

que violam simples deveres formais ou instrumentais.

Como exemplos respectivos se dariam um

comerciante que não paga um tributo devido, dentro dos prazos

estabelecidos pela legislação estadual, e uma pessoa física que faz a

declaração de rendimentos e de bens, quinze dias após o prazo

estabelecido.

As infrações também se classificam em subjetiva e

objetiva, bem explicadas por Paulo de Barros Carvalho como segue:

Infração subjetiva é aquela para a configuração de que

exige a lei que o autor do ilícito tenha operado com dolo ou

culpa. Caso de infração subjetiva é o comportamento do

56 CARVALHO, Paulo de Barros, Curso de direito tributário. p. 510.

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contribuinte do imposto sobre a renda que, ao prestar sua

declaração de rendimentos, omite, propositalmente

algumas receitas, com o objetivo de recolher quantia

menor do que a devida. As infrações objetivas, de outra

parte, são aquelas em que não é preciso apurar-se a

vontade do infrator. Havendo o resultado previsto na

descrição normativa, qualquer que seja a intenção do

agente, dá-se por configurado o ilícito. Situação típica é a

do não-pagamento de determinada quantia, a título de

imposto predial e territorial urbano, nos prazos fixados na

notificação de lançamento. Sendo irrelevante o ânimo do

devedor, não realizado o recolhimento até o final do prazo,

incorrerá ele em juros de mora e multa de mora.57

Mesmo aparecendo como princípio geral a

responsabilidade objetiva (CTN, art. 136), as infrações subjetivas aparecem

como sonegação, fraude, e conluio, além daquelas em que elege a

culpa, nos aspectos de negligência, imprudência e imperícia, como

ingrediente necessário do tipo legal.

Vale, portanto, apresentar a definição dos três ilícitos

dolosos, onde a sonegação aparece como uma ação ou omissão dolosa,

que visa impedir ou retardar, de maneira parcial ou total, o conhecimento

da ocorrência de fato gerador da obrigação, bem como sua natureza ou

circunstância, ou ainda as condições pessoais do contribuinte.

De maneira parecida, aparece a fraude, que além de

caracterizar a ação ou omissão tendendo a impedir ou retardar, total ou

parcial, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária, ainda visa

excluir ou modificar suas características, de modo a reduzir o montante do

imposto, ou evitar seu pagamento; por fim, aparece o conluio, que é o

ajuste doloso entre duas ou mais pessoas, visando os efeitos da

sonegação ou da fraude.

57 CARVALHO, Paulo de Barros, Curso de direito tributário. p. 512.

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Além do dolo como elemento imprescindível para as

infrações subjetivas, sempre que se encontrar a culpa, nas suas

modalidades de negligência, imprudência ou imperícia, dentro da

descrição normativa da infração tributária, será um fato infringente de

caráter subjetivo.

Cabe analisar a discriminação entre as duas

classificações. Na objetiva, dispõe ao autor do ilícito concentrar razões

que demonstrem a inexistência de materialidade do fato,

descaracterizando qualquer de seus elementos constituintes; cabe a ele a

prova com todas as dificuldades que lhe são inerentes. No setor das

subjetivas, em que se configura o dolo e a culpa, o ônus inverte-se,

competindo ao Fisco exibir os elementos concretos que revelem a

presença do dolo ou da culpa, tendo a incumbência intransferível de

evidenciar não só a materialidade como também o elemento volitivo que

levaria o infrator a atingir seus fins contrários às disposições da ordem

jurídica.

2.8 PRINCÍPIOS INFORMADORES DAS INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS

2.8.1 Princípio da legalidade

A legalidade é o princípio pelo qual ninguém será

obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei

(art. 5º, inciso II da CRFB/88). No Direito Tributário, este princípio, que pode

ser então chamado de princípio da legalidade tributária, significa que

nenhum tributo pode ser criado, aumentado, reduzido ou extinto sem que

o seja por lei (art. 150, inciso I da CRFB/88 e art. 97 do CTN).

Como bem ressalta Luciano da Silva Amaro:

A legalidade tributária não se conforma com a mera

autorização de lei para cobrança de tributos; requer-se que

a própria lei defina todos os aspectos pertinentes ao fato

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gerador, necessários à quantificação do tributo devido em

cada situação concreta que venha a espelhar a situação

hipotética descrita na lei.58

É necessário que a lei traga em seu texto todos os

aspectos necessários para a quantificação do tributo, e em que

circunstâncias dá-se o fato gerador, para assim analisar a situação

concreta.

2.8.2 Princípio do contraditório e ampla defesa

O princípio do contraditório e ampla defesa é

explicado no art. 5º, inciso LV, da CRFB/88: “Aos litigantes, em processo

judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o

contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.”

Na esfera do direito, ele se manifesta na oportunidade

que os litigantes têm de requerer a produção de provas e de participarem

de sua realização, assim como também de se pronunciarem a respeito de

seu resultado.

No concernente ao processo administrativo, com o

contraditório e a ampla defesa amplia-se a transparência administrativa,

surgindo o princípio de justiça, havendo equilíbrio entre as partes, sem

conotações pessoais, tornando as defesas iguais, com decisões objetivas

e concisas, conforme foi estabelecido pela vontade do legislador na

elaboração da lei.

2.8.3 Princípio da retroatividade benigna

O ordenamento jurídico cria normas visando a

prevenção de acontecimentos incertos, se uma lei torna mais grave sua

58 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 110.

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pena, esta só será aplicada a um acontecimento posterior a sua

existência, e não em casos ocorridos anteriormente.

Nos casos de acontecimentos não julgados, a lei

poderá retroagir e beneficiar o sujeito passivo da obrigação tributária.

Há duas modalidades de retroatividades previstas no

art. 106 do CTN.

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I - em qualquer caso, quando seja expressamente

interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à

infração dos dispositivos interpretados;

II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:

a) quando deixe de defini-lo como infração;

b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer

exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido

fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento

de tributo;

c) quando lhe comine penalidade menos severa que a

prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.

Por fim, resta dizer que a retroatividade benigna possui

duas exceções: que as infrações não tenham sido fraudulentas e que

delas não tenha resultado a falta de pagamento de tributo.

2.8.4 Princípio da interpretação benevolente

O Direito Tributário sofre grande influência do Direito

Penal, decorrente das infrações e respectivas penalidades, como se

observa no art. 112 do CTN, que versa sobre o princípio da interpretação

benevolente.

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Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina

penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao

acusado, em caso de dúvida quanto:

I - à capitulação legal do fato;

II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à

natureza ou extensão dos seus efeitos;

III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade;

IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua

graduação.

Portanto, segundo tal princípio, no caso de dúvida há

de ser adotada a interpretação benigna como regra (in dubio pro reo),

visando beneficiar o réu, como preceitua Alexandre Macedo Tavares:

Como corolário da estrita legalidade e tipicidade cerrada,

ocorrendo uma das hipóteses arroladas numerus clausus nos

incisos que acompanham o art. 112 do CTN, qualquer

dúvida, relativamente à aplicação da lei que regula os

crimes contra a ordem tributária ou lhes comina

penalidades, há de ser resolvida da maneira menos onerosa

ao acusado.59

Após tecer e decorrer sobre assuntos relativos a

obrigação tributária, bem como as infrações intrínsecas na mesma, parte-

se para a análise acerca da extinção da punibilidade nos casos de crime

contra a ordem tributária, objeto do 3º capítulo.

59 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de direito tributário. p. 161 - 162.

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CAPÍTULO 3

EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE NOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

3.1 DIREITO TRIBUTÁRIO PENAL E DIREITO PENAL TRIBUTÁRIO

Não se encontra inconvenientes em agrupar o estudo

dos crimes tributários sob o rótulo de Direito Penal Tributário, conduzindo a

uma abordagem propositadamente contida no direito penal, que tutela a

arrecadação do tributo.

Em oposição ao Direito Penal Tributário cunhou-se a

expressão Direito Tributário Penal, que mesmo lexicamente podendo

empregar-se como sinônimo, é utilizada para abranger o setor tributário

que comina sanções não criminais para determinadas condutas ilegais.

Tratando-se, nestes casos das infrações ou ilícitos administrativos,

aplicadas pelas autoridades administrativas, através de procedimento

administrativo.

Neste sentido, preceitua Luciano Amaro:

O direito tributário não cortou ainda o cordão umbilical com

o direito administrativo (e talvez nem haja razões para fazê-

lo). É, que, em rigor, o que se opõe às infrações e às

sanções criminais são as infrações e as sanções

administrativas, pois, enquanto aquelas são previstas no

direito penal, estas outras são previstas em leis afetas à

administração, aplicadas por autoridades administrativas,

mediante procedimento administrativo.

Mas, se a questão é de segregar e batizar, as infrações e as

sanções administrativas integrariam, numa perspectiva mais

ampla, um direito administrativo penal, dentro do qual seria

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identificável o setor do direito tributário penal, ao lado do

direito eleitoral penal e de tantos outros

subcompartilhamentos.60

Em suma, é facilmente identificável dois sistemas legais

sancionatórios atuáveis no Estado: o criminal, regido pelo direito penal,

através do processo penal, no juízo criminal; e o administrativo, aplicado

segundo as regras do direito administrativo, no procedimento

administrativo, pelas autoridades administrativas. Há, eventualmente,

determinados interesses jurídicos que são tutelados por ambos, como no

caso de arrecadação de tributos, protegido por um sistema de sanções

administrativas e por outro de sanções penais.

Vale ressaltar, porém, que as sanções administrativas

sujeitam-se ao controle de legalidade que estão submetidos, de maneira

que, se o administrado não concordar com o castigo imposto a ele, pode

levar a contrasteação judicial, no âmbito civil.

Na matéria de infrações, é notória a eleição dos

critérios utilizáveis para sua classificação, como explica Luciano Amaro:

Se se põe o foco sobre a idéia de sanção, todas as normas

sancionatórias seriam agrupadas como “direito

sancionatório”(ou coisa que o valha). Se o foco é sobre a

sanção penal, o agrupamento seria de todos os crimes e

contravenções, independentemente de se visar à tutela de

direitos do indivíduo, da coletividade ou do Estado (e aí

temos o direito penal), alocando-se noutro agrupamento as

sanções não criminais (direito administrativo penal). Se o

critério eleito levar em conta a natureza do bem jurídico

tutelado, as infrações e respectivas sanções poderiam ficar

agregadas a cada ramo do direito que disciplinasse aquele

específico bem jurídico (ilícitos tributários, de natureza

60 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 411.

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criminal ou não; ilícitos trabalhistas, criminais ou não; ilícitos

eleitorais, criminais ou não etc.)61

A lei penal tem por importância tutelar bens que não

são penais, mas civis, comerciais, financeiros, eleitorais, trabalhistas,

tributários etc.

Por conclusão não se pode confundir Direito Tributário

Penal com Direito Penal Tributário, pois como explica Alexandre Macedo

Tavares: “enquanto o núcleo do Direito Tributário Penal, é o ilícito

administrativo tributário, o núcleo do Direito Penal Tributário reside nos

delitos fiscais, isto é, nos ilícitos penais tributários.”62

3.2 CARACTERES DO ILÍCITO PENAL TRIBUTÁRIO

Primeiramente, vale ressaltar que o Código Tributário

Nacional somente disciplina os ilícitos administrativos tributários, cuja

sanção é civil com finalidade reparatória/compensatória, de índole

essencialmente patrimonial. Todavia, uma conduta de caráter material

(comissiva ou omissiva) pode assumir a roupagem de um ilícito

administrativo tributário (infrações tributárias), bem como de um ilícito

penal tributário (delitos fiscais), precisando que o aplicador do direito

distinga-os, pois enquanto o ilícito administrativo sofre uma sanção de

índole patrimonial com finalidade reparatória/compensatória, o ilícito

penal sujeita-se a uma sanção com finalidade punitiva/presuntiva, de

caráter pessoal.

O simples inadimplemento de uma obrigação tributária

descaracteriza o crime, embora configure um ilícito administrativo, como

bem explica Aliomar Baleeiro:

61 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 412.

62 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de direito tributário. p. 164.

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Somente haverá delito se, com a intenção dolosa de reduzir

tributo devido, ou de anulá-lo, o contribuinte ou responsável

praticar ato ou omissão fraudulentas, falseando a verdade

para ludibriar ou enganar a Fazenda Pública. O que se

pune, no Direito Penal, são antes ações ou omissões

desonestas. 63

Dois elementos são necessários para caracterizar a

conduta delituosa: a existência de tributo a pagar, cuja supressão ou

redução é o fim colimado pelo agente; e a prática dolosa de atos ou

omissões específicos, fraudulentos e desonestos, que sirvam como

instrumento à evasão parcial ou total do tributo devido.

Portanto, para atribuir a responsabilidade por um delito

fiscal á um contribuinte ou responsável, não basta que se apresente o fim

desejado, se tal não se encontra alcançado mediante conduta omissiva

ou comissiva consciente, praticada pelo agente.

Cabe constar que todo ilícito penal tributário

pressupõe a prática de um ilícito administrativo tributário, não sendo a

recíproca verdadeira, baseados de que um crime contra a ordem

tributária pressupõe uma irregularidade fiscal.

Se há um delito fiscal, haverá um ilícito administrativo

tributário, também tutelado no âmbito do Direito Penal Tributário.

3.3 A DIFERENÇA DE RESPONSABILIDADE APLICÁVEL ÀS HIPOTESES

DAS INFRAÇÕES TRIBUTÁRIAS E DOS ILÍCITOS PENAIS TRIBUTÁRIOS

As infrações tributárias, quanto ao animus do agente,

são classificadas como objetivas e subjetivas. A responsabilidade pelo

63 BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11. Ed. Atual. Rio de Janeiro: Forense,2001.

p.759.

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cometimento de infrações tributárias, estão sob o princípio da

responsabilidade objetiva, nos termos do art. 136 do CTN, in verbis:

Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a

responsabilidade por infrações da legislação tributária

independe da intenção do agente ou do responsável e da

efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.

O ilícito puramente fiscal é caracterizado pela simples

ocorrência do resultado previsto na norma, independente da vontade do

infrator. Vale lembrar que, em casos tais, o ônus da prova é de inteira

responsabilidade do infrator, que deverá demonstrar a inexistência

material do fato tipificado como antijurídico.

Nos ilícitos penais tributários, por sua vez, vige a

responsabilidade subjetiva, vez que o elemento volitivo é necessário; é

necessária a existência de culpa ou dolo, do agente na prática do delito,

visando exonerar-se ou diminuir o tributo devido.

Como ensina Luciano Amaro:

A pena criminal, depende do elemento subjetivo e só pode

(e deve) ser aplicada ao agente (e eventuais co-autores,

ainda que meramente intelectuais). Ou seja, não obstante a

pessoalidade da responsabilidade do agente, o terceiro

pode também ser apenado se tiver participado do delito,

como autor intelectual ou como mandante.64

Relativamente aos crimes fiscais, caberá ao Fisco a

comprovação de um dos elementos que caracterizam a intenção do

agente, indispensáveis para o resultado produzido.

64 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 422.

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3.4 A LEI Nº 8.137/90 E OS TIPOS PENAIS TRIBUTÁRIOS

No artigo 1º da Lei nº 8.137/90 estão descritas duas

modalidades típicas de crimes, como explica Andreas Eisele:

A primeira está tipificada no caput do artigo e seus incisos e

consiste em modalidade específica de conduta

assemelhada (em parte) à que configura o crime de

estelionato65, qualificada pelo objeto (tributo ou

contribuição social), sujeito passivo direto ou vítima imediata

(Fazenda Pública), e pelo meio fraudulento (condutas

descritas nos diversos incisos do caput do dispositivo).

A segunda modalidade típica está prevista no parágrafo

único do dispositivo e configura um tipo especial em

relação ao que contém a descrição do crime de

desobediência66, os elementos que caracterizam a

especialidade do tipo são o sujeito passivo imediato

específico (autoridade fiscal) e o objeto em face do qual

ocorreu o desatendimento à ordem (informações de

conteúdo fiscal).67

A Lei nº 8.137/90, no seu artigo 1º, I, discorre sobre

“omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades

fazendárias.”

Para facilitar a fiscalização e a arrecadação tributária,

a legislação determina alguns deveres, como o de prestar determinadas

informações às autoridades fazendárias, apresentar declaração de

imposto de renda, sendo que o agente deixa de prestá-las, ou presta em

65 “Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo

ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio

fraudulento.”

66 “Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público.”

67 ANDREAS, Eisele. Crimes contra a ordem tributária. 2.ed. ver., atual. São Paulo:

Dialética, 2002. p. 139.

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desacordo com a realidade dos fatos, utilizando um destes meios para a

redução ou supressão do tributo, realiza a conduta descrita no tipo deste

artigo.

No seu inciso II, aparece “fraudar a fiscalização

tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de

qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal.”

Este dispositivo descreve uma conduta instrumental,

apenas configurando um meio pelo qual será perpetrada uma fraude

contra o fisco. A simples falsidade ideológica não consubstancia o crime,

pois é indispensável que sirva de meio pelo qual o sujeito suprimiu ou

reduziu o tributo.

No concernente ao inciso III, encontra-se “falsificar ou

alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro

documento relativo à operação tributável.”

O dispositivo também prevê conduta instrumental

correspondente ao crime de falsidade material. Importante ressaltar a

distinção entre a falsidade material e ideológica, como formula

Magalhães Noronha:

No primeiro, o agente imita a verdade, quer contrafazendo,

quer alterando, mas dando sempre a aparência de

autenticidade ou genuinidade. Falsifica-se um selo, moeda,

papel de credito etc. dando-os aparência de autênticos.

Na falsidade ideológica, nada disso se passa. O documento

é perfeito, em seus elementos extrínsecos, em sua

materialidade, forma, etc., porém falso é o fato que

constitui seu teor, falso é o que ele diz ou encerra. A

falsidade material prova-se pelo confronto feito com o

documento verdadeiro, com o exame pericial; a

ideológica, por outro gênero de provas que estabeleçam a

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verdade e concomitantemente a mentira que aquele

contém.68

Dispõe o inciso IV, “elaborar, distribuir, fornecer, emitir

ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato.”

O dispositivo descreve condutas semelhantes às

configuradoras dos crimes de falsidade ideológica, falsidade material e

uso de documento falso.

A elaboração é o processo de formação do

documento em seus requisitos materiais, desde sua forma e conteúdo, até

a impressão e acabamento. Distribuir ou fornecer é entregar o documento

a terceiro para que este utilize com o objetivo de redução ou supreção do

tributo. A emissão consiste na fase de inclusão dos dados que expressam a

operação representada pelo documento, e por fim, utilizar é o ato de se

valer do documento para alcançar um fim.

O inciso V, descreve “negar ou deixar de fornecer,

quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a

venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada,

ou fornecê-la em desacordo com a legislação.”

Perante o Direito Tributário, a nota fiscal é um

instrumento de total relevância, devido a sua finalidade específica de

registrar a demonstração de fatos imponíveis, a entrada e saída de

mercadorias, bem como a prestação de serviços, razão pela qual a sua

falta de emissão caracterizam-se como uma conduta evasiva.

68 NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. V. 4, 18ª Ed. São Paulo: Saraiva, 1988. p. 156.

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3.5 A IMPRESTABILIDADE DA DEFLAGRAÇÃO DA AÇÃO PENAL ANTES DO

EXAURIMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL

Para poder iniciar com a ação penal, é necessário que

o processo administrativo esteja exaurido, ou seja, não caiba mais nenhum

recurso, já esteja encerrado, como revela a jurisprudência do STF:

EMENTA: CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.

SONEGAÇÃO (ART. 1o, II E III DA LEI No 8.137/1990). NÃO

ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. RECURSOS

PENDENTES DE APRECIAÇÃO. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA

PARA A AÇÃO PENAL. ANULAÇÃO DO PROCESSO PENAL

DESDE A DENÚNCIA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A

jurisprudência desta Corte já se firmou no sentido de que,

quando se trata de crime contra a ordem tributária, não há

causa que justifique a ação penal antes do exaurimento da

esfera administrativa (HC n. 81.611-DF, Rel. Min. Sepúlveda

Pertence, DJ de 13.05.2005). 2. Também é entendimento

pacífico deste Tribunal que, enquanto durar o processo

administrativo, não há cogitar do início do curso do lapso

prescricional, visto que ainda não se consumou o delito.69

Portanto, revela-se imprescindível o exaurimento do

processo administrativo para gerar a justa causa, da pretensão punitiva

estatal.

3.6 CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE

As causas extintivas da punibilidade, quando

identificadas, afastam a possibilidade jurídica de aplicação ou execução

de uma pena ao sujeito ativo de um delito, mesmo que o fato praticado

seja criminoso.

69 Brasil. Supremo Tribunal Federal. Recurso Habeas Corpus no 83.414-RS, Rel. Min. Joaquim

Barbosa, 23.04.2004

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Nestas causas encontra-se a reparação do dano, que

produz efeitos abrandadores da sanção a ser aplicada ao sujeito, que

diferem conforme o momento de sua implementação e extensão.

Outra causa é o perdão judicial que incide como

conseqüência da ocorrência de situação de fato especificada em lei. A

punibilidade é extinta pela ocorrência de ação posterior à conduta,

como bem explica Andreas Eisele:

Há a possibilidade de concessão de perdão judicial

(integral) ao agente, ou a exclusiva aplicação da pena de

multa referente ao fato (perdão judicial parcial, incidente

apenas sobre a pena privativa de liberdade), na hipótese

em que o sujeito, sendo primário e de bons antecedentes,

repare o dano (nesse caso, acompanhado dos acessórios

devidos) após o inicio das atividades estatais de

fiscalização, porem, anteriormente ao oferecimento da

denúncia criminal referente ao fato, pelo órgão do

Ministério Público.70

Encontra-se como outra extinção de punibilidade a

denúncia espontânea, como dispõe o art. 138 do CTN, objeto de sub item

específico.

A anistia, também aparece como causa extintiva de

punibilidade, no concernente a determinados efeitos de um ato ilícito,

previstos na norma, objeto de sub item específico

A remissão é quando o Estado como credor de receita

tributária, declara o desinteresse no valor da prestação, ou seja, é a

manifestação da Fazenda Pública, ao declarar a inexistência de interesse

em cobrar seu crédito, bem como qualquer ressarcimento pelo dano

sofrido, proveniente de crime contra a ordem tributária.

70 ANDREAS, Eisele. Crimes contra a ordem tributária. p. 116.

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A prescrição consiste na extinção de um direito, devido

a sua inépcia durante um certo prazo, um lapso temporal previsto em lei,

sem que haja qualquer aplicação ou execução à sanção

correspondente, oriunda de um ato ilícito.

Andreas Eisele, sustenta que:

Esta é uma modalidade de extinção do crédito tributário,

de efeitos declinatórios da prestação da obrigação,

consistente na perda, por parte do sujeito ativo da

obrigação tributária, do direito de propor ação judicial para

a cobrança do credito tributário, após decorridos cinco

anos de sua constituição definitiva.71

A prescrição penal impede o Estado de punir o autor

do crime, enquanto a tributária impede o Estado de cobrar a receita

devida, diferenciadas pelo termo inicial da fluência dos prazos, a primeira

na data do crime, e a segunda na data da constituição do crédito

tributário.

Por fim, encontra-se a decadência, que no âmbito

penal aparece no transcurso do prazo legal concedido à vítima ou seu

representante, para que proponha a ação penal tanto nos casos em que

possui titularidade privada, como nos casos em que precisa oferecer

representação criminal.

No Direito Tributário, a decadência decorre da perda

da possibilidade do sujeito ativo constituir o crédito correspondente

devido à fluência de prazo estabelecido em lei, para a realização do

procedimento administrativo.

71ANDREAS, Eisele. Crimes contra a ordem tributária. p. 135.

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Neste sentido, extinto o crédito tributário pela

decadência, igualmente extinta estará a punibilidade criminal,

relativamente ao não recolhimento do respectivo encargo fiscal.

3.6.1 Pagamento da dívida antes do recebimento da denúncia (Lei

nº9.249/95)

A Lei nº 8.137/90, no seu artigo 14, estabelecia como

causa excludente de punibilidade o pagamento do débito tributário, feito

antes do recebimento da denúncia.

O artigo foi revogado, e então o art.34 da Lei 9.242/95

voltou a prever a extinção da punibilidade nos moldes definidos acima.

Vale ressaltar que, sem essa possibilidade de exclusão,

o infrator, uma vez apanhado, seria levado a defender-se a todo custo e

até a última instância, já que esse seria o único caminho para se livrar da

pena criminal.

Portanto, antes do recebimento da denúncia pelo Juiz

Criminal competente, poderá obter a extinção da punibilidade mediante

o pagamento ao credor, que é a Fazenda Pública, seja ela Federal,

Estadual ou Municipal, ou mesmo alguma autarquia ou órgão que seja

credor de contribuição, bem como dos acessórios da obrigação que

compõe o crédito tributário.

3.6.2 O advento da Lei nº 10.684/03 e a extinção da punibilidade mediante

pagamento a qualquer tempo

Em 2003, com a edição da Lei 10.684, art. 9º trouxe

uma alteração no prazo para pagamento ou parcelamento, gerando

uma nova modalidade de extinção da punibilidade nos crimes tributários.

Conforme determina o referido artigo, pode o réu efetuar o pedido de

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parcelamento ou pagamento integral do débito tributário a qualquer

momento, ou seja, mesmo com processo penal em andamento.

Sendo assim, enquanto o réu estiver no regime de

parcelamento ficará suspenso o processo até o pagamento integral que,

ao final, extinguirá a punibilidade. Nesse sentido, a jurisprudência do STF

vem entendendo que o § 2º do art. 9º da Lei 10.684/03 (trata da extinção

do pagamento do débito a qualquer momento) gerou uma causa

extintiva da punibilidade que consiste no pagamento do débito tributário

a qualquer tempo.

Sabe-se que a extinção da punibilidade pelo

pagamento do tributo se relaciona ao cumprimento da obrigação

tributária, alcançando o objetivo tutelado pela norma penal, bem como

cumprindo a função intimidatória do preceito penal.

Se a razão da extinção da punibilidade está fundada

no pagamento integral do tributo devido, não há como não remeter a

incidência do princípio da retroatividade da lei penal, para extinguir a

punibilidade em todos os casos em que houver pagamento integral do

tributo, independentemente do momento.

Face a Lei 10.684/03 não ter limitado o tempo para

pagamento integral do débito, este pode ocorrer mesmo após o trânsito

em julgado da sentença penal condenatória, ou seja, na fase de

cumprimento de pena.

Sinaliza-se que o pagamento integral ou pedido de

parcelamento até o trânsito em julgado da sentença, faz com que o réu

seja considerado primário, sem antecedentes criminais, “absolvido” de

qualquer momento, uma vez que há a extinção da pretensão punitiva.

Assim, o pagamento do débito integral, mesmo após

sentença penal condenatória com trânsito em julgado deve extinguir não

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apenas a punibilidade, mas também apagar qualquer (mácula causada

ao condenado, como os antecedentes criminais, bastando ingressar com

uma revisão criminal.)

3.6.3 O parcelamento do débito como condição resolutória da suspensão

da punibilidade penal

A Lei 10.684/03, no seu art. 9º, prescreve:

Art. 9.o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente

aos crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de

dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no

2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, durante o

período em que a pessoa jurídica relacionada com o

agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de

parcelamento.

Através da análise do dispositivo supra-citado, pode-se

perceber que o parcelamento do crédito tributário é ato suficiente para

suspender o curso da pretensão punitiva do Estado, em qualquer fase do

procedimento criminal, inclusive após o recebimento da denúncia.

O parcelamento do débito permite a suspensão da

punibilidade, enquanto sua quitação implica na exclusão da punibilidade,

como mostra a jurisprudência do STF:

EMENTA: Habeas Corpus. 1. No caso concreto, o paciente

foi denunciado pela suposta prática de crimes contra a

ordem tributária (Lei nº 8.137/1990, art. 1º, incisos I e II). 2.

Nesta impetração, impugna-se decisão monocrática de

Relator do STJ que indeferiu medida liminar. No STJ, a defesa

se insurgia contra decisão indeferitória de medida liminar

proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

(TJ/SP). 3. Alegações da defesa: a) a falta de aplicação do

art. 9º da Lei nº 10.684/2003 pela decisão impugnada para a

suspensão da ação penal; b) a não-observância do

princípio da segurança jurídica; e c) o desrespeito ao

princípio da legalidade. 4. Na espécie, o oferecimento da

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denúncia ocorreu após o fim do procedimento

administrativo (quando o crédito tributário já estava

totalmente constituído), ou seja, cerca de 1 ano e 3 meses

após a finalização do competente procedimento de

apuração administrativa do débito tributário. 5. Havendo

informação nos autos, provenientes do Juízo de origem, de

que o débito tributário foi integralmente quitado, apesar da

substituição da decisão liminar impugnada neste writ por

acórdão de mérito do STJ, vislumbra-se, de plano, patente

constrangimento ilegal, apto a ensejar, ex officio, o

prosseguimento da apreciação de mérito deste habeas

corpus. 6. Mantidos os fundamentos expendidos pela

decisão liminar (DJ 29.11.2006), na linha do parecer do

Subprocurador-Geral da República e, ainda, em

consonância com a jurisprudência deste STF (HC nº

81.929/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Turma, unânime,

DJ 27.2.2004 e HC nº 85.452/SP, Rel. Min. Eros Grau, 1ª Turma,

unânime, DJ 3.6.2005), concessão da ordem de ofício (CPP,

arts. 647 e 654, § 2º). 7. Declaração da extinção da

punibilidade do paciente, nos termos do art. 9º, § 2º da Lei

nº 10.684/2003, determinando o trancamento da ação

penal.72

Notório, portanto, que ao quitar o parcelamento é

cabível a declaração de extinção da punibilidade do agente.

3.6.4 Anistia

É o perdão de infrações, decorrendo na

inaplicabilidade da sanção. Não é a sanção que será perdoada, mas sim

o ilícito, que perdoado deixa de dar lugar à sanção.

No âmbito penal a anistia é a exclusão dos efeitos

jurídico-penais do crime, entre os quais se encontra a pena, do mesmo

72 Brasil. Supremo Tribunal Federal. Recurso Habeas Corpus no 65.922 do SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Rel. Min. Eros grau, 03.06.2005

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modo, está a anistia fiscal, visto que, há o afastamento da sanção

adminitrativo-tributária ao que se refere a prática do agente, resultado de

um ilícito administrativo, por esta diretriz, afirma Andreas Eisele:

Em ambas as hipóteses, o instituto atinge apenas efeitos

específicos do ato ilícito (primordialmente a sanção), não

elidindo sua ilicitude, motivo pelo qual, ainda que anistiada

a sanção tributária, eventual tributo evadido pela conduta

que caracterizou o ilícito fiscal ainda devido. Da mesma

forma, a anistia criminal (como atinge apenas efeitos penais

do fato) não afasta os efeitos civis referentes à obrigação

de indenização de eventual dano decorrente da conduta

criminosa praticada pelo agente (obstando apenas a

aplicação ou execução da pena criminal correspondente

ao delito, e a incidência dos demais efeitos penais da

condenação).73

Importante abrir a ressalva de que a anistia não revoga

a lei que estabelece a ilicitude da conduta, somente restringe os seus

efeitos.

Tem como significado o perdão do crime, a abolição

do fato delituoso, diante dos ensinamentos de Leandro Paulsen:

É o perdão das infrações à legislação tributária e das

respectivas sanções. Não atinge o tributo em si, que persiste.

O perdão do tributo ocorre através da remissão, nos termos

do art. 172 do CTN.74

Extinguindo o caráter de reprovação da conduta,

através da anistia, acabará afetando a antijuridicidade do ato ilícito, daí

a arguta observação de Alexandre Macedo Tavares:

73 ANDREAS, Eisele. Crimes contra a ordem tributária. p. 133.

74 PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: constituição e código tributário nacional á luz da

doutrina e da jurisprudência. 2.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 200. p. 609.

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Logo, se o legislador ordinário dos Estados, do Distrito

Federal, dos Municípios ou da própria União prover a anistia

do cometimento de uma infração tributária, pela via

reflexa, estará afastando a coloração da fraude ou

falsidade ínsita às figuras penais tributárias. Noutro giro

verbal, em sendo as figuras delituosas do Direito Penal

Tributário típicas normas penais em branco, isto é, normas

penais dotadas de sanção, mas cujos elementos integrantes

do tipo, inexoravelmente, são definidos e hauridos do Direito

Tributário, afigura-se absolutamente desarrazoado e ilógico

que um sujeito seja perdoado pelo cometimento do ilícito

administrativo fiscal, porém condenado criminalmente pela

prática do ato cuja lei anistiadora fiscal retirou o invólucro

de desvalor atribuído a tal conduta lesiva. É sobretudo

teleológico o fundamento desse raciocínio jurídico!75

Em suma, a anistia abrange as penalidades

pecuniárias, configurando o perdão da penalidade pela falta cometida,

cujo escopo é impedir o surgimento do credito relativo à respectiva

sanção.

3.6.5 Denúncia espontânea

A denúncia espontânea é prevista no artigo 138 do

Código Tributário Nacional, nos seguintes termos:

Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia

espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do

pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do

depósito da importância arbitrada pela autoridade

administrativa, quando o montante do tributo dependa de

apuração.

No seu parágrafo único, aparece que não será

considerada espontânea a denúncia apresentada após o início de

75 TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de Direito Tributário, p. 142.

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qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização,

relacionado com a infração.

Trata-se de quando o agente confessa ter praticado

tal conduta, antes de ter sofrido qualquer procedimento administrativo,

como salienta Andreas Eisele:

O dispositivo veicula modalidade de exclusão da incidência

concreta das sanções administrativas, em relação ao sujeito

passivo da obrigação tributária que confessa a prática de

conduta ilícita perante a administração, antes de ter sido

submetido a fiscalização, recolhendo o valor do tributo

eventualmente evadido em decorrência daquele

comportamento.76

Entende-se que o limite temporal para o contribuinte

denunciar espontaneamente sua infração tributária é o momento anterior

a qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização

relacionada com a infração, decorrente do adjetivo "espontânea", já que

a espontaneidade deixa de existir se houver exigência de recolhimento

tributário pelo ente tributante.

Há como requisito de admissibilidade da denúncia

espontânea o recolhimento do tributo.

No entendimento de Luciano Amaro:

(…) a expressão “se for o caso” explica-se em face de que

algumas infrações, por implicarem desrespeito a obrigações

acessórias, não acarretam, diretamente, nenhuma falta de

pagamento de tributo, embora sejam também puníveis,

porque a responsabilidade não pressupõe,

necessariamente, dano.77

76 ANDREAS, Eisele. Crimes contra a ordem tributária. p. 132-133.

77 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. p.435.

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Outra interpretação possível é a apresentada por Ives

Gandra da Silva Martins:

A expressão “se for o caso”, incluída pelo legislador no texto

do projeto, evidentemente tem que ser interpretada dentro

do contexto do princípio da legalidade, que norteia não

apenas o direito tributário, mas todo o ordenamento jurídico

nacional, ou seja, de que a denúncia espontânea somente

terá de ser acompanhada do pagamento de tributos e juros

de mora, se a lei expressamente assim o determinar.78

Amplo é o campo passível do exercício da denúncia

espontânea, pois, não estabelece a lei nenhuma formalidade, ou seja, a

denúncia espontânea não está atrelada à observância de ato solene ou

modus faciendi específico.

Alexandre Macedo Tavares, em obra específica sobre

o assunto, sugere:

(…) procede concluir: a ausência de formalidade não

significa que a autodenúncia não precise ser apresentada (

declarada, comunicada, efetuada) à autoridade

administrativa, ao revés, é exatamente esse fato, exempli

gratia, que viabiliza sua concretização mediante simples

correspondência ou petição dirigida à autoridade

fazendária competente, contendo a identificação do

autodenunciante e a discriminação da natureza da

infração cometida; tudo devidamente acompanhado "se

for o caso", do comprovante do pagamento do tributo

devido e dos juros de mora .79

O Tribunal Regional da 4º Região cogitava a

possibilidade de pagar o tributo com a multa e na seqüência requerer a

78 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários ao Código Tributário Nacional. São Paulo:

Saraiva, 1998, v.2, p.274

79 TAVARES, Alexandre Macedo. Denúncia Espontânea no Direito Tributário. São Paulo:

Dialética, 2002, p.90.

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repetição de indébito, por considerar que o pagamento do tributo em

atraso antes de procedimento administrativo de fiscalização, configura a

denúncia espontânea, enquanto o Superior Tribunal de Justiça já decidiu

que o simples recolhimento de tributo em atraso, se distingue de denúncia

espontânea, de modo que a repetição de indébito do valor da multa

seria rechaçada.

Logo, como a denúncia espontânea, para sua

caracterização, pressupõe pagamento do tributo devido, e, o pagamento

do débito, a qualquer tempo, configura causa excludente de punibilidade

criminal, tem-se a denúncia espontânea como uma causa excludente de

punibilidade penal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, à

luz da legislação, da doutrina e da jurisprudência, as extinções de

punibilidade nos crimes contra a ordem tributária.

O interesse pelo tema deu-se em razão de sua

diversidade, amplitude e importância, notadamente pelo fato de ser

concebido não somente para beneficiar o contribuinte faltoso, mas

também para favorecer a Fazenda Pública, pois, ao afastar as

penalidades, estimula o cumprimento das obrigações tributárias e, por

conseqüência, o aumento da arrecadação.

Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi dividido

em três capítulos. No primeiro, viu-se que o crime é um fato, mediante

ação e omissão, valendo-se também do seu resultado, o objeto do crime

é aquilo contra que se dirige a conduta humana, tendo como sujeito ativo

quem pratica o fato descrito na norma penal incriminadora e sujeito

passivo, todo ser que de alguma forma, tem algum bem ou interesse

lesado.

Verificou-se ainda que os crimes se subdividem, em

doloso quando o agente anseia o resultado, e culposo quando há a

inobservância do cuidado necessário, caracterizando, imprudência,

negligência ou imperícia.

No mais, identificou-se que o crime consumado é

quando reúne todos os elementos de sua definição legal, enquanto os

crimes tentados teve seu início, porém não se consumou por

circunstâncias alheias à vontade do agente.

No segundo capítulo, pesquisou-se acerca do Direito

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Tributário, que se define por ramo autônomo do direito, que corresponde

as proposições jurídicas normativas, que se referem à instituição,

arrecadação e fiscalização de tributos, caracterizado pela prestação

pecuniária estabelecida em lei, dada pelos indivíduos, para o custeio das

despesas coletivas.

Verificou-se também, a obrigação tributária (principal

ou acessória), que nasce com a ocorrência do fato gerador descrito em

lei, tendo como sujeito ativo a pessoa jurídica (de direito público ou

privado) dotada do direito de exigir o cumprimento da obrigação, e o

sujeito passivo (contribuinte ou responsável), obrigado a satisfazer o

respectivo dever jurídico.

No mais identificou-se ainda, que infração tributária

material decorre do não cumprimento da obrigação tributária principal,

isto é, quando do não pagamento do tributo pelo contribuinte, e que a

infração tributária formal é uma decorrência da inobservância, pelo

contribuinte, de uma obrigação tributária acessória.

No terceiro e último capítulo, intensificou-se a pesquisa

sobre o bem delineado contorno jurídico da Extinção de punibilidade nos

crimes contra a ordem tributária, partindo da interpretação de sua regra

estruturante, centrada no art. 107 do Código Penal.

Como principais resultados da pesquisa, pode-se

ressaltar que não se pode confundir o ilícito administrativo com o ilícito

penal tributário. Este, é pautado no princípio da responsabilidade subjetiva

e pressupõe a redução total ou parcial do pagamento do tributo

mediante fraude; aquele, é pautada na teoria da responsabilidade

objetiva, de forma que a responsabilidade pelo cometimento da infração

da legislação tributária independe da intenção do agente ou do

responsável e da efetividade, natureza e extensão dos seus efeitos.

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As causas extintivas da punibilidade, quando

identificadas, afastam a possibilidade de aplicação ou execução de uma

pena, nestas causas encontram-se a reparação do dano, como o

pagamento da dívida antes do recebimento da denúncia, mediante

pagamento a qualquer tempo, sendo suspensa a ação penal, ou excluída

se quitado o débito.

Ainda visto a possibilidade da denúncia espontânea,

que se caracteriza pelo fato do contribuinte, antes de qualquer

procedimento administrativo ou medida de fiscalização, denunciar

espontaneamente sua infração tributária, bem como a anistia que

configura o perdão das infrações, decorrendo da inaplicabilidade da

sanção.

No mais, retomam-se as hipóteses levantadas e que

impulsionaram a presente pesquisa:

a) O contribuinte, ao não cumprir com sua obrigação

de pagar o tributo, através de uma conduta omissiva ou comissiva,

havendo o resultado previsto na descrição normativa, independe a sua

intenção para ser caracterizado ilícito;

b) Não é possível iniciar a ação penal, antes que o

processo administrativo encontre-se imprescindível, para que gere a justa

causa, e assim possa ocorrer a persecução penal;

c) No caso do pagamento a qualquer tempo,

extingue-se a punibilidade, sendo que foi sanada a obrigação tributária

devida.

No que toca a primeira hipótese, restou confirmada,

pois o art. 136 do CTN veicula a responsabilidade por infrações da

legislação tributária, independente da intenção do agente, bem como do

responsável, da efetividade, natureza ou extensão dos seus efeitos.

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A segunda hipótese também restou confirmada, pois

o Superior Tribunal Federal, consolidou firme entendimento no sentido de

que, resta-se imprescindível, o exaurimento do processo administrativo,

gerando a justa causa, sendo uma condição de procedibilidade da ação

penal, apurando o eventual crime cometido contra a ordem tributária.

Quanto a última hipótese, registra-se que igualmente

restou confirmada, pois a Lei 10.684, no seu art. 9º, trouxe uma alteração

no prazo para pagamento ou parcelamento, gerando uma modalidade

nova de extinção de punibilidade nos crimes tributários, podendo o réu

efetuar o pedido de parcelamento ou o pagamento integral do débito

tributário a qualquer momento, ou seja, mesmo com o processo penal em

andamento.

Por fim, fica o registro de que o presente trabalho não

tem caráter exaustivo, isto é, com o mesmo não se teve a pretensão de

tratar de todas as questões que norteiam as excludentes de punibilidade

nos crimes contra a ordem tributária, razão pela qual deve servir apenas

de ponto de partida para o necessário e contínuo acompanhamento da

evolução de entendimento doutrinário e jurisprudencial acerca desta tão

relevante matéria do Direito Tributário.

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REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

AMARO, Luciano da Silva, Direito tributário brasileiro. 3 ed. São Paulo:

Saraiva, 1999.

ANDREAS, Eisele. Crimes contra a ordem tributária. 2.ed. ver., atual. São

Paulo: Dialética, 2002.

BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11. Ed. Atual. Rio de Janeiro:

Forense,2001.

Brasil. Supremo Tribunal Federal. Recurso Habeas Corpus no 83.414-RS, Rel.

Min. Joaquim Barbosa, 23.04.2004.

Brasil. Supremo Tribunal Federal. Recurso Habeas Corpus no 65.922 do

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Rel. Min. Eros grau, 03.06.2005

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. Ed.17, São Paulo:

Saraiva, 2005.

CARRAZA, Roque Antonio, Curso de direito constitucional tributário. Ed.22.,

São Paulo: Malheiros, 2006.

COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico.

Curitiba: Juruá, 2001.

DENARI, Zelmo. Comentários ao código tributário nacional. Vol.2. Ives

Gandra da Silva Martins (coord.). São Paulo: Saraiva,1998.

FALCONI, Romeu. Lineamentos de direito penal. 3 ed, São Paulo: Ícone,

2002.

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70

HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. v.1, Tomo II, 5. ed., Rio de

Janeiro : Forense, 1978.

JESUS, Damásio E. de, 1935- Direito Penal/ parte geral. São Paulo:

Saraiva,2003.

MACHADO, Luiz Alberto. Direito Criminal. Parte Geral. São Paulo : Editora

Revista dos Tribunais, 1987.

MARQUES, José Frederico. Tratado de direito penal. v.2, São Paulo :

Saraiva, 1965.

MARTINS, Ives Gandra da Silva. Comentários ao código tributário nacional.

São Paulo: Saraiva, 1998.

NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. V. 4, 18ª Ed. São Paulo: Saraiva,

1988.

OLIVEIRA, José Jayme de Macedo. Código tributário nacional:

comentários, doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 1998.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis

ao pesquisador do direito. 6.ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2002.

PAULSEN, Leandro. Direito tributário: constituição e código tributário

nacional á luz da doutrina e da jurisprudência. 2.ed. Porto Alegre: Livraria

do Advogado, 2000.

SILVA, Ronaldo. Manual do direito penal. Volume 2, 6 ed. Itajaí, 1994.

TAVARES, Alexandre. Fundamentos de Direito Tributário. 3 ed. Editora

Momento Atual, 2003.

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71

__________. Denúncia Espontânea no Direito Tributário. São Paulo: Dialética,

2002.

Vade Mecum universitário de direito/ Anne Joyce Angher, organização.

3.ed. São Paulo: Rideel, 2007.

VOLKSWEISS, Roque Joaquim. Direito tributário nacional. Porto Alegre:

Livraria do Advogado, 1997.

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ANEXOS

LEI Nº 8.137, DE 27 DE DEZEMBRO DE 1990.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I

Dos Crimes Contra a Ordem Tributária

Seção I

Dos crimes praticados por particulares

Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir

tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as

seguintes condutas: (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)

I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades

fazendárias;

II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou

omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro

exigido pela lei fiscal;

III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda,

ou qualquer outro documento relativo à operação tributável;

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IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que

saiba ou deva saber falso ou inexato;

V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou

documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação

de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a

legislação.

Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da

autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em

horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da

dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a

infração prevista no inciso V.

Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: (Vide Lei nº 9.964, de

10.4.2000)

I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens

ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou

parcialmente, de pagamento de tributo;

II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de

contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito

passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;

III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte

beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou

deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;

IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído,

incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade

de desenvolvimento;

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V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que

permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação

contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Seção II

Dos crimes praticados por funcionários públicos

Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos

previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código

Penal (Título XI, Capítulo I):

I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de

que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total

ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de

tributo ou contribuição social;

II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou

indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu

exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa

de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou

contribuição social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3

(três) a 8 (oito) anos, e multa.

III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a

administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário

público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

CAPÍTULO II

Dos crimes Contra a Economia e as Relações de Consumo

Art. 4° Constitui crime contra a ordem econômica:

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I - abusar do poder econômico, dominando o mercado ou

eliminando, total ou parcialmente, a concorrência mediante:

a) ajuste ou acordo de empresas;

b) aquisição de acervos de empresas ou cotas, ações, títulos ou

direitos;

c) coalizão, incorporação, fusão ou integração de empresas;

d) concentração de ações, títulos, cotas, ou direitos em poder de

empresa, empresas coligadas ou controladas, ou pessoas físicas;

e) cessação parcial ou total das atividades da empresa;

f) impedimento à constituição, funcionamento ou desenvolvimento

de empresa concorrente.

II - formar acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes,

visando:

a) à fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou

produzidas;

b) ao controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de

empresas;

c) ao controle, em detrimento da concorrência, de rede de

distribuição ou de fornecedores.

III - discriminar preços de bens ou de prestação de serviços por

ajustes ou acordo de grupo econômico, com o fim de estabelecer

monopólio, ou de eliminar, total ou parcialmente, a concorrência;

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IV - açambarcar, sonegar, destruir ou inutilizar bens de produção ou

de consumo, com o fim de estabelecer monopólio ou de eliminar, total

ou parcialmente, a concorrência;

V - provocar oscilação de preços em detrimento de empresa

concorrente ou vendedor de matéria-prima, mediante ajuste ou

acordo, ou por outro meio fraudulento;

VI - vender mercadorias abaixo do preço de custo, com o fim de

impedir a concorrência;

VII - elevar sem justa causa o preço de bem ou serviço, valendo-se

de posição dominante no mercado. (Redação dada pela Lei nº 8.884,

de 11.6.1994)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.

Art. 5° Constitui crime da mesma natureza:

I - exigir exclusividade de propaganda, transmissão ou difusão de

publicidade, em detrimento de concorrência;

II - subordinar a venda de bem ou a utilização de serviço à

aquisição de outro bem, ou ao uso de determinado serviço;

III - sujeitar a venda de bem ou a utilização de serviço à aquisição

de quantidade arbitrariamente determinada;

IV - recusar-se, sem justa causa, o diretor, administrador, ou gerente

de empresa a prestar à autoridade competente ou prestá-la de modo

inexato, informando sobre o custo de produção ou preço de venda.

Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.

Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da

autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em

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horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da

dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a

infração prevista no inciso IV.

Art. 6° Constitui crime da mesma natureza:

I - vender ou oferecer à venda mercadoria, ou contratar ou

oferecer serviço, por preço superior ao oficialmente tabelado, ao

regime legal de controle;

II - aplicar fórmula de reajustamento de preços ou indexação de

contrato proibida, ou diversa daquela que for legalmente estabelecida,

ou fixada por autoridade competente;

III - exigir, cobrar ou receber qualquer vantagem ou importância

adicional de preço tabelado, congelado, administrado, fixado ou

controlado pelo Poder Público, inclusive por meio da adoção ou de

aumento de taxa ou outro percentual, incidente sobre qualquer

contratação. Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, ou multa.

Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo:

I - favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês,

ressalvados os sistemas de entrega ao consumo por intermédio de

distribuidores ou revendedores;

II - vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo,

especificação, peso ou composição esteja em desacordo com as

prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação

oficial;

III - misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para

vendê-los ou expô-los à venda como puros; misturar gêneros e

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mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à

venda por preço estabelecido para os demais mais alto custo;

IV - fraudar preços por meio de:

a) alteração, sem modificação essencial ou de qualidade, de

elementos tais como denominação, sinal externo, marca, embalagem,

especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou

acabamento de bem ou serviço;

b) divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à

venda em conjunto;

c) junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em

separado;

d) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do

bem ou na prestação dos serviços;

V - elevar o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços,

mediante a exigência de comissão ou de taxa de juros ilegais;

VI - sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem

pretenda comprá-los nas condições publicamente ofertadas, ou retê-

los para o fim de especulação;

VII - induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou

afirmação falsa ou enganosa sobre a natureza, qualidade do bem ou

serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação ou

divulgação publicitária;

VIII - destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria,

com o fim de provocar alta de preço, em proveito próprio ou de

terceiros;

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IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de

qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições

impróprias ao consumo;

Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.

Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II, III e IX pune-se a

modalidade culposa, reduzindo-se a pena e a detenção de 1/3 (um

terço) ou a de multa à quinta parte.

CAPÍTULO III

Das Multas

Art. 8° Nos crimes definidos nos arts. 1° a 3° desta lei, a pena de

multa será fixada entre 10 (dez) e 360 (trezentos e sessenta) dias-multa,

conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do

crime.

Parágrafo único. O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não

inferior a 14 (quatorze) nem superior a 200 (duzentos) Bônus do Tesouro

Nacional BTN.

Art. 9° A pena de detenção ou reclusão poderá ser convertida em

multa de valor equivalente a:

I - 200.000 (duzentos mil) até 5.000.000 (cinco milhões) de BTN, nos

crimes definidos no art. 4°;

II - 5.000 (cinco mil) até 200.000 (duzentos mil) BTN, nos crimes

definidos nos arts. 5° e 6°;

III - 50.000 (cinqüenta mil) até 1.000.000 (um milhão de BTN), nos

crimes definidos no art. 7°.

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Art. 10. Caso o juiz, considerado o ganho ilícito e a situação

econômica do réu, verifique a insuficiência ou excessiva onerosidade

das penas pecuniárias previstas nesta lei, poderá diminuí-las até a

décima parte ou elevá-las ao décuplo.

CAPÍTULO IV

Das Disposições Gerais

Art. 11. Quem, de qualquer modo, inclusive por meio de pessoa

jurídica, concorre para os crimes definidos nesta lei, incide nas penas a

estes cominadas, na medida de sua culpabilidade.

Parágrafo único. Quando a venda ao consumidor for efetuada por

sistema de entrega ao consumo ou por intermédio de outro em que o

preço ao consumidor é estabelecido ou sugerido pelo fabricante ou

concedente, o ato por este praticado não alcança o distribuidor ou

revendedor.

Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço)

até a metade as penas previstas nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°:

I - ocasionar grave dano à coletividade;

II - ser o crime cometido por servidor público no exercício de suas

funções;

III - ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao

comércio de bens essenciais à vida ou à saúde.

Art. 13. (Vetado).

Art. 15. Os crimes previstos nesta lei são de ação penal pública,

aplicando-se-lhes o disposto no art. 100 do Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de

dezembro de 1940 - Código Penal.

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Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério

Público nos crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito

informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o

lugar e os elementos de convicção.

Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em

quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de

confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a

trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.

(Parágrafo incluído pela Lei nº 9.080, de 19.7.1995)

Art. 17. Compete ao Departamento Nacional de Abastecimento e

Preços, quando e se necessário, providenciar a desapropriação de

estoques, a fim de evitar crise no mercado ou colapso no

abastecimento.

Art. 19. O caput do art. 172 do Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de

dezembro de 1940 - Código Penal, passa a ter a seguinte redação:

"Art. 172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não

corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou

ao serviço prestado.

Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa".

Art. 20. O § 1° do art. 316 do Decreto-Lei n° 2 848, de 7 de dezembro

de 1940 Código Penal, passa a ter a seguinte redação:

"Art. 316. ............................................................

§ 1° Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou

deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança

meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza;

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa".

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Art. 21. O art. 318 do Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de

1940 Código Penal, quanto à fixação da pena, passa a ter a seguinte

redação:

"Art. 318. ............................................................

Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa".

Art. 22. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 23. Revogam-se as disposições em contrário e, em especial, o

art. 279 do Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código

Penal.

Brasília, 27 de dezembro de 1990; 169° da Independência e 102° da

República.

FERNANDO COLLOR

Jarbas Passarinho

Zélia M. Cardoso de Mello

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LEI Nº 9.249, DE 26 DE DEZEMBRO DE 1995.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º As bases de cálculo e o valor dos tributos e contribuições

federais serão expressos em Reais.

Art. 2º O imposto de renda das pessoas jurídicas e a contribuição

social sobre o lucro líquido serão determinados segundo as normas da

legislação vigente, com as alterações desta Lei.

Art. 3º A alíquota do imposto de renda das pessoas jurídicas é de

quinze por cento.

§ 1º A parcela do lucro real, presumido ou arbitrado, que exceder o

valor resultante da multiplicação de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) pelo

número de meses do respectivo período de apuração, sujeita-se à

incidência de adicional de imposto de renda à alíquota de dez por

cento.(Redação dada pela Lei 9.430, de 1996)

§ 2º O disposto no parágrafo anterior aplica-se, inclusive, nos casos

de incorporação, fusão ou cisão e de extinção da pessoa jurídica pelo

encerramento da liquidação.(Redação dada pela Lei 9.430, de 1996)

§ 3º O disposto neste artigo aplica-se, inclusive, à pessoa jurídica

que explore atividade rural de que trata a Lei nº 8.023, de 12 de abril de

1990.

§ 4º O valor do adicional será recolhido integralmente, não sendo

permitidas quaisquer deduções.

Art. 4º Fica revogada a correção monetária das demonstrações

financeiras de que tratam a Lei nº 7.799, de 10 de julho de 1989, e o art.

1º da Lei nº 8.200, de 28 de junho de 1991.

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Parágrafo único. Fica vedada a utilização de qualquer sistema de

correção monetária de demonstrações financeiras, inclusive para fins

societários.

Art. 5º O inciso IV do art. 187 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de

1976, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art.187.................................................................

IV - o lucro ou prejuízo operacional, as receitas e despesas não

operacionais;

............................................................................"

Art. 6º Os valores controlados na parte "B" do Livro de Apuração do

Lucro Real, existentes em 31 de dezembro de 1995, somente serão

corrigidos monetariamente até essa data, observada a legislação

então vigente, ainda que venham a ser adicionados, excluídos ou

compensados em períodos-base posteriores.

Parágrafo único. A correção dos valores referidos neste artigo será

efetuada tomando-se por base o valor da UFIR vigente em 1º de janeiro

de 1996.

Art. 7º O saldo do lucro inflacionário acumulado, remanescente em

31 de dezembro de 1995, corrigido monetariamente até essa data, será

realizado de acordo com as regras da legislação então vigente.

§ 1º Para fins do cálculo do lucro inflacionário realizado nos

períodos-base posteriores, os valores dos ativos que estavam sujeitos a

correção monetária, existentes em 31 de dezembro de 1995, deverão

ser registrados destacadamente na contabilidade da pessoa jurídica.

§ 2º O disposto no parágrafo único do art. 6º aplica-se à correção

dos valores de que trata este artigo.

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§ 3º À opção da pessoa jurídica, o lucro inflacionário acumulado

existente em 31 de dezembro de 1995, corrigido monetariamente até

essa data, com base no parágrafo único do art. 6º, poderá ser

considerado realizado integralmente e tributado à alíquota de dez por

cento.

§ 4º A opção de que trata o parágrafo anterior, que deverá ser

feita até 31 de dezembro de 1996, será irretratável e manifestada

através do pagamento do imposto em cota única, podendo alcançar

também o saldo do lucro inflacionário a realizar relativo à opção

prevista no art. 31 da Lei nº 8.541, de 23 de dezembro de 1992.

§ 5º O imposto de que trata o § 3º será considerado como de

tributação exclusiva.

Art. 8º Permanecem em vigor as normas aplicáveis às

contrapartidas de variações monetárias dos direitos de crédito e das

obrigações do contribuinte em função da taxa de câmbio ou de

índices ou coeficientes aplicáveis por disposição legal ou contratual.

Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração

do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a

titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio,

calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação,

pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP.

§ 1º O efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à

existência de lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de

lucros acumulados e reservas de lucros, em montante igual ou superior

ao valor de duas vezes os juros a serem pagos ou creditados.(Redação

dada pela Lei nº 9.430, de 1996)

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§ 2º Os juros ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na

fonte à alíquota de quinze por cento, na data do pagamento ou

crédito ao beneficiário.

§ 3º O imposto retido na fonte será considerado:

I - antecipação do devido na declaração de rendimentos, no caso

de beneficiário pessoa jurídica tributada com base no lucro real;

II - tributação definitiva, no caso de beneficiário pessoa física ou

pessoa jurídica não tributada com base no lucro real, inclusive isenta,

ressalvado o disposto no § 4º;

§ 5º No caso de beneficiário sociedade civil de prestação de

serviços, submetida ao regime de tributação de que trata o art. 1º do

Decreto-Lei nº 2.397, de 21 de dezembro de 1987, o imposto poderá ser

compensado com o retido por ocasião do pagamento dos rendimentos

aos sócios beneficiários.

§ 6º No caso de beneficiário pessoa jurídica tributada com base no

lucro real, o imposto de que trata o § 2º poderá ainda ser compensado

com o retido por ocasião do pagamento ou crédito de juros, a título de

remuneração de capital próprio, a seu titular, sócios ou acionistas.

§ 7º O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a

título de remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor

dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de

dezembro de 1976, sem prejuízo do disposto no § 2º.

§ 8º Para os fins de cálculo da remuneração prevista neste artigo,

não será considerado o valor de reserva de reavaliação de bens ou

direitos da pessoa jurídica, exceto se esta for adicionada na

determinação da base de cálculo do imposto de renda e da

contribuição social sobre o lucro líquido.

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Art. 10. Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados

apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas

pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou

arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na

fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do

beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior.

Parágrafo único. No caso de quotas ou ações distribuídas em

decorrência de aumento de capital por incorporação de lucros

apurados a partir do mês de janeiro de 1996, ou de reservas constituídas

com esses lucros, o custo de aquisição será igual à parcela do lucro ou

reserva capitalizado, que corresponder ao sócio ou acionista.

Art. 11. Os rendimentos produzidos por aplicação financeira de

renda fixa, auferidos por qualquer beneficiário, inclusive pessoa jurídica

isenta, sujeitam-se à incidência do imposto de renda à alíquota de

quinze por cento.

§ 1º Os rendimentos de que trata este artigo serão apropriados pro

rata tempore até 31 de dezembro de 1995 e tributados, no que se refere

à parcela relativa a 1995, nos termos da legislação então vigente.

§ 3º O disposto neste artigo não elide as regras previstas nos arts.

76 e 77 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995.

Art. 12. O inciso III do art. 77 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de

1995, passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art.77.................................................................

III - nas operações de renda variável realizadas em bolsa, no mercado

de balcão organizado, autorizado pelo órgão competente, ou através

de fundos de investimento, para a carteira própria das entidades

citadas no inciso I;"F

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Art. 13. Para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo

da contribuição social sobre o lucro líquido, são vedadas as seguintes

deduções, independentemente do disposto no art. 47 da Lei nº 4.506,

de 30 de novembro de 1964:

I - de qualquer provisão, exceto as constituídas para o pagamento

de férias de empregados e de décimo-terceiro salário, a de que trata o

art. 43 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, com as alterações da

Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, e as provisões técnicas das

companhias de seguro e de capitalização, bem como das entidades

de previdência privada, cuja constituição é exigida pela legislação

especial a elas aplicável; (Vide Lei 9.430, de 1996)

II - das contraprestações de arrendamento mercantil e do aluguel

de bens móveis ou imóveis, exceto quando relacionados

intrinsecamente com a produção ou comercialização dos bens e

serviços;

III - de despesas de depreciação, amortização, manutenção,

reparo, conservação, impostos, taxas, seguros e quaisquer outros gastos

com bens móveis ou imóveis, exceto se intrinsecamente relacionados

com a produção ou comercialização dos bens e serviços;

IV - das despesas com alimentação de sócios, acionistas e

administradores;

V - das contribuições não compulsórias, exceto as destinadas a

custear seguros e planos de saúde, e benefícios complementares

assemelhados aos da previdência social, instituídos em favor dos

empregados e dirigentes da pessoa jurídica;

VI - das doações, exceto as referidas no § 2º;

VII - das despesas com brindes.

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§ 1º Admitir-se-ão como dedutíveis as despesas com alimentação

fornecida pela pessoa jurídica, indistintamente, a todos os seus

empregados.

§ 2º Poderão ser deduzidas as seguintes doações:

I - as de que trata a Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991;

II - as efetuadas às instituições de ensino e pesquisa cuja criação

tenha sido autorizada por lei federal e que preencham os requisitos dos

incisos I e II do art. 213 da Constituição Federal, até o limite de um e

meio por cento do lucro operacional, antes de computada a sua

dedução e a de que trata o inciso seguinte;

III - as doações, até o limite de dois por cento do lucro operacional

da pessoa jurídica, antes de computada a sua dedução, efetuadas a

entidades civis, legalmente constituídas no Brasil, sem fins lucrativos, que

prestem serviços gratuitos em benefício de empregados da pessoa

jurídica doadora, e respectivos dependentes, ou em benefício da

comunidade onde atuem, observadas as seguintes regras:

a) as doações, quando em dinheiro, serão feitas mediante crédito

em conta corrente bancária diretamente em nome da entidade

beneficiária;

b) a pessoa jurídica doadora manterá em arquivo, à disposição da

fiscalização, declaração, segundo modelo aprovado pela Secretaria

da Receita Federal, fornecida pela entidade beneficiária, em que esta

se compromete a aplicar integralmente os recursos recebidos na

realização de seus objetivos sociais, com identificação da pessoa física

responsável pelo seu cumprimento, e a não distribuir lucros,

bonificações ou vantagens a dirigentes, mantenedores ou associados,

sob nenhuma forma ou pretexto;

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c) a entidade civil beneficiária deverá ser reconhecida de utilidade

pública por ato formal de órgão competente da União.

Art. 14. Para efeito de apuração do lucro real, fica vedada a

exclusão, do lucro líquido do exercício, do valor do lucro da exploração

de atividades monopolizadas de que tratam o § 2º do art. 2º da Lei nº

6.264, de 18 de novembro de 1975, e o § 2º do art. 19 do Decreto-Lei nº

1.598, de 26 de dezembro de 1977, com a redação dada pelo Decreto-

Lei nº 1.730, de 17 de outubro de 1979.

Art. 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será

determinada mediante a aplicação do percentual de oito por cento

sobre a receita bruta auferida mensalmente, observado o disposto nos

arts. 30 a 35 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995. (Vide Lei nº

11.119, de 205)

§ 1º Nas seguintes atividades, o percentual de que trata este artigo

será de:

I - um inteiro e seis décimos por cento, para a atividade de

revenda, para consumo, de combustível derivado de petróleo, álcool

etílico carburante e gás natural;

II - dezesseis por cento:

a) para a atividade de prestação de serviços de transporte, exceto

o de carga, para o qual se aplicará o percentual previsto no caput

deste artigo;

b) para as pessoas jurídicas a que se refere o inciso III do art. 36 da

Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, observado o disposto nos §§ 1º e

2º do art. 29 da referida Lei;

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III - trinta e dois por cento, para as atividades de: (Vide Medida

Provisória nº 232, de 2004)

a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços

hospitalares e de auxílio diagnóstico e terapia, patologia clínica,

imagenologia, anatomia patológica e citopatologia, medicina nuclear

e análises e patologias clínicas, desde que a prestadora destes serviços

seja organizada sob a forma de sociedade empresária e atenda às

normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa; (Redação

dada pela Lei nº 11.727, de 2008) (Produção de efeitos)

b) intermediação de negócios;

c) administração, locação ou cessão de bens imóveis, móveis e

direitos de qualquer natureza;

d) prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria

creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção de riscos,

administração de contas a pagar e a receber, compra de direitos

creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de

serviços (factoring).

§ 2º No caso de atividades diversificadas será aplicado o

percentual correspondente a cada atividade.

§ 3º As receitas provenientes de atividade incentivada não

comporão a base de cálculo do imposto, na proporção do benefício a

que a pessoa jurídica, submetida ao regime de tributação com base no

lucro real, fizer jus.

§ 4º O percentual de que trata este artigo também será aplicado

sobre a receita financeira da pessoa jurídica que explore atividades

imobiliárias relativas a loteamento de terrenos, incorporação imobiliária,

construção de prédios destinados à venda, bem como a venda de

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imóveis construídos ou adquiridos para a revenda, quando decorrente

da comercialização de imóveis e for apurada por meio de índices ou

coeficientes previstos em contrato. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005)

Art. 16. O lucro arbitrado das pessoas jurídicas será determinado

mediante a aplicação, sobre a receita bruta, quando conhecida, dos

percentuais fixados no art. 15, acrescidos de vinte por cento.

Parágrafo único. No caso das instituições a que se refere o inciso III

do art. 36 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, o percentual para

determinação do lucro arbitrado será de quarenta e cinco por cento.

Art. 17. Para os fins de apuração do ganho de capital, as pessoas

físicas e as pessoas jurídicas não tributadas com base no lucro real

observarão os seguintes procedimentos:

I - tratando-se de bens e direitos cuja aquisição tenha ocorrido até

o final de 1995, o custo de aquisição poderá ser corrigido

monetariamente até 31 de dezembro desse ano, tomando-se por base

o valor da UFIR vigente em 1º de janeiro de 1996, não se lhe aplicando

qualquer correção monetária a partir dessa data;

II - tratando-se de bens e direitos adquiridos após 31 de dezembro

de 1995, ao custo de aquisição dos bens e direitos não será atribuída

qualquer correção monetária.

Art. 18. O ganho de capital auferido por residente ou domiciliado

no exterior será apurado e tributado de acordo com as regras

aplicáveis aos residentes no País.

Art. 19. A partir de 1º de janeiro de 1996, a alíquota da contribuição

social sobre o lucro líquido, de que trata a Lei nº 7.689, de 15 de

dezembro de 1988, passa a ser de oito por cento.

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Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às

instituições a que se refere o § 1º do art. 22 da Lei nº 8.212, de 24 de

julho de 1991, para as quais a alíquota da contribuição social será de

dezoito por cento.

Art. 20. A base de cálculo da contribuição social sobre o lucro

líquido, devida pelas pessoas jurídicas que efetuarem o pagamento

mensal a que se referem os arts. 27 e 29 a 34 da Lei no 8.981, de 20 de

janeiro de 1995, e pelas pessoas jurídicas desobrigadas de escrituração

contábil, corresponderá a doze por cento da receita bruta, na forma

definida na legislação vigente, auferida em cada mês do ano-

calendário, exceto para as pessoas jurídicas que exerçam as atividades

a que se refere o inciso III do § 1o do art. 15, cujo percentual

corresponderá a trinta e dois por cento. (Redação dada Lei nº 10.684,

de 2003) (Vide Medida Provisória nº 232, de 2004) (Vide Lei nº 11.119, de

205)

§ 1o A pessoa jurídica submetida ao lucro presumido poderá,

excepcionalmente, em relação ao 4o (quarto) trimestre-calendário de

2003, optar pelo lucro real, sendo definitiva a tributação pelo lucro

presumido relativa aos 3 (três) primeiros trimestres. (Renumerado com

alteração pela Lei nº 11.196, de 2005)

§ 2o O percentual de que trata o caput deste artigo também será

aplicado sobre a receita financeira de que trata o § 4o do art. 15 desta

Lei. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005)

Art. 21. A pessoa jurídica que tiver parte ou todo o seu patrimônio

absorvido em virtude de incorporação, fusão ou cisão deverá levantar

balanço específico para esse fim, no qual os bens e direitos serão

avaliados pelo valor contábil ou de mercado.

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§ 1º O balanço a que se refere este artigo deverá ser levantado até

trinta dias antes do evento.

§ 2º No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro

presumido ou arbitrado, que optar pela avaliação a valor de mercado,

a diferença entre este e o custo de aquisição, diminuído dos encargos

de depreciação, amortização ou exaustão, será considerada ganho de

capital, que deverá ser adicionado à base de cálculo do imposto de

renda devido e da contribuição social sobre o lucro líquido.

§ 3º Para efeito do disposto no parágrafo anterior, os encargos

serão considerados incorridos, ainda que não tenham sido registrados

contabilmente.

§ 4º A pessoa jurídica incorporada, fusionada ou cindida deverá

apresentar declaração de rendimentos correspondente ao período

transcorrido durante o ano-calendário, em seu próprio nome, até o

último dia útil do mês subseqüente ao do evento.

Art. 22. Os bens e direitos do ativo da pessoa jurídica, que forem

entregues ao titular ou a sócio ou acionista. a título de devolução de

sua participação no capital social, poderão ser avaliados pelo valor

contábil ou de mercado.

§ 1º No caso de a devolução realizar-se pelo valor de mercado, a

diferença entre este e o valor contábil dos bens ou direitos entregues

será considerada ganho de capital, que será computado nos resultados

da pessoa jurídica tributada com base no lucro real ou na base de

cálculo do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro

líquido devidos pela pessoa jurídica tributada com base no lucro

presumido ou arbitrado.

§ 2º Para o titular, sócio ou acionista, pessoa jurídica, os bens ou

direitos recebidos em devolução de sua participação no capital serão

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registrados pelo valor contábil da participação ou pelo valor de

mercado, conforme avaliado pela pessoa jurídica que esteja

devolvendo capital.

§ 3º Para o titular, sócio ou acionista, pessoa física, os bens ou

direitos recebidos em devolução de sua participação no capital serão

informados, na declaração de bens correspondente à declaração de

rendimentos do respectivo ano-base, pelo valor contábil ou de

mercado, conforme avaliado pela pessoa jurídica.

§ 4º A diferença entre o valor de mercado e o valor constante da

declaração de bens, no caso de pessoa física, ou o valor contábil, no

caso de pessoa jurídica, não será computada, pelo titular, sócio ou

acionista, na base de cálculo do imposto de renda ou da contribuição

social sobre o lucro líquido.

Art. 23. As pessoas físicas poderão transferir a pessoas jurídicas, a

título de integralização de capital, bens e direitos pelo valor constante

da respectiva declaração de bens ou pelo valor de mercado.

§ 1º Se a entrega for feita pelo valor constante da declaração de

bens, as pessoas físicas deverão lançar nesta declaração as ações ou

quotas subscritas pelo mesmo valor dos bens ou direitos transferidos, não

se aplicando o disposto no art. 60 do Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de

dezembro de 1977, e no art. 20, II, do Decreto-Lei nº 2.065, de 26 de

outubro de 1983.

§ 2º Se a transferência não se fizer pelo valor constante da

declaração de bens, a diferença a maior será tributável como ganho

de capital.

Art. 24. Verificada a omissão de receita, a autoridade tributária

determinará o valor do imposto e do adicional a serem lançados de

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acordo com o regime de tributação a que estiver submetida a pessoa

jurídica no período-base a que corresponder a omissão.

§ 1º No caso de pessoa jurídica com atividades diversificadas

tributadas com base no lucro presumido ou arbitrado, não sendo

possível a identificação da atividade a que se refere a receita omitida,

esta será adicionada àquela a que corresponder o percentual mais

elevado.

§ 2º O valor da receita omitida será considerado na determinação

da base de cálculo para o lançamento da contribuição social sobre o

lucro líquido, da contribuição para a seguridade social - COFINS e da

contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação

do Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP.

Art. 25. Os lucros, rendimentos e ganhos de capital auferidos no

exterior serão computados na determinação do lucro real das pessoas

jurídicas correspondente ao balanço levantado em 31 de dezembro de

cada ano. (Vide Medida Provisória nº 2158-35, de 2001)

§ 1º Os rendimentos e ganhos de capital auferidos no exterior serão

computados na apuração do lucro líquido das pessoas jurídicas com

observância do seguinte:

I - os rendimentos e ganhos de capital serão convertidos em Reais

de acordo com a taxa de câmbio, para venda, na data em que forem

contabilizados no Brasil;

II - caso a moeda em que for auferido o rendimento ou ganho de

capital não tiver cotação no Brasil, será ela convertida em dólares

norte-americanos e, em seguida, em Reais;

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§ 2º Os lucros auferidos por filiais, sucursais ou controladas, no

exterior, de pessoas jurídicas domiciliadas no Brasil serão computados

na apuração do lucro real com observância do seguinte:

I - as filiais, sucursais e controladas deverão demonstrar a apuração

dos lucros que auferirem em cada um de seus exercícios fiscais,

segundo as normas da legislação brasileira;

II - os lucros a que se refere o inciso I serão adicionados ao lucro

líquido da matriz ou controladora, na proporção de sua participação

acionária, para apuração do lucro real;

III - se a pessoa jurídica se extinguir no curso do exercício, deverá

adicionar ao seu lucro líquido os lucros auferidos por filiais, sucursais ou

controladas, até a data do balanço de encerramento;

IV - as demonstrações financeiras das filiais, sucursais e controladas

que embasarem as demonstrações em Reais deverão ser mantidas no

Brasil pelo prazo previsto no art. 173 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de

1966.

§ 3º Os lucros auferidos no exterior por coligadas de pessoas

jurídicas domiciliadas no Brasil serão computados na apuração do lucro

real com observância do seguinte:

I - os lucros realizados pela coligada serão adicionados ao lucro

líquido, na proporção da participação da pessoa jurídica no capital da

coligada;

II - os lucros a serem computados na apuração do lucro real são os

apurados no balanço ou balanços levantados pela coligada no curso

do período-base da pessoa jurídica;

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III - se a pessoa jurídica se extinguir no curso do exercício, deverá

adicionar ao seu lucro líquido, para apuração do lucro real, sua

participação nos lucros da coligada apurados por esta em balanços

levantados até a data do balanço de encerramento da pessoa

jurídica;

IV - a pessoa jurídica deverá conservar em seu poder cópia das

demonstrações financeiras da coligada.

§ 4º Os lucros a que se referem os §§ 2º e 3º serão convertidos em

Reais pela taxa de câmbio, para venda, do dia das demonstrações

financeiras em que tenham sido apurados os lucros da filial, sucursal,

controlada ou coligada.

§ 5º Os prejuízos e perdas decorrentes das operações referidas

neste artigo não serão compensados com lucros auferidos no Brasil.

§ 6º Os resultados da avaliação dos investimentos no exterior, pelo

método da equivalência patrimonial, continuarão a ter o tratamento

previsto na legislação vigente, sem prejuízo do disposto nos §§ 1º, 2º e

3º.

Art. 26. A pessoa jurídica poderá compensar o imposto de renda

incidente, no exterior, sobre os lucros, rendimentos e ganhos de capital

computados no lucro real, até o limite do imposto de renda incidente,

no Brasil, sobre os referidos lucros, rendimentos ou ganhos de capital.

§ 1º Para efeito de determinação do limite fixado no caput, o

imposto incidente, no Brasil, correspondente aos lucros, rendimentos ou

ganhos de capital auferidos no exterior, será proporcional ao total do

imposto e adicional devidos pela pessoa jurídica no Brasil.

§ 2º Para fins de compensação, o documento relativo ao imposto

de renda incidente no exterior deverá ser reconhecido pelo respectivo

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órgão arrecadador e pelo Consulado da Embaixada Brasileira no país

em que for devido o imposto.

§ 3º O imposto de renda a ser compensado será convertido em

quantidade de Reais, de acordo com a taxa de câmbio, para venda,

na data em que o imposto foi pago; caso a moeda em que o imposto

foi pago não tiver cotação no Brasil, será ela convertida em dólares

norte-americanos e, em seguida, em Reais.

Art. 27.As pessoas jurídicas que tiverem lucros, rendimentos ou

ganhos de capital oriundos do exterior estão obrigadas ao regime de

tributação com base no lucro real.

Art. 28. A alíquota do imposto de renda de que tratam o art. 77 da

Lei nº 3.470, de 28 de novembro de 1958 e o art. 100 do Decreto-Lei nº

5.844, de 23 de setembro de 1943, com as modificações posteriormente

introduzidas, passa, a partir de 1º de janeiro de 1996, a ser de quinze por

cento.

Art. 29. Os limites a que se referem os arts. 36, I, e 44, da Lei nº 8.981,

de 20 de janeiro de 1995, com a redação dada pela Lei nº 9.065, de 20

de junho de 1995, passam a ser de R$ 12.000.000,00 (doze milhões de

reais).

Art. 30. Os valores constantes da legislação tributária, expressos em

quantidade de UFIR, serão convertidos em Reais pelo valor da UFIR

vigente em 1º de janeiro de 1996.

Art. 31. Os prejuízos não operacionais, apurados pelas pessoas

jurídicas, a partir de 1º de janeiro de 1996, somente poderão ser

compensados com lucros de mesma natureza, observado o limite

previsto no art. 15 da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995.

Art. 32. (VETADO)

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100

Art. 33. (VETADO)

Art. 34. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº

8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de

1965, quando o agente promover o pagamento do tributo ou

contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da

denúncia.

§ 1º (VETADO)

§ 2º (VETADO)

Art. 35. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,

produzindo efeitos a partir de 1º de janeiro de 1996.

Art. 36. Ficam revogadas as disposições em contrário,

especialmente:

I - o Decreto-Lei nº 1.215, de 4 de maio de 1972, observado o

disposto no art. 178 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966;

II - os arts. 2º a 19 da Lei nº 7.799, de 10 de julho de 1989;

III - os arts. 9º e 12 da Lei nº 8.023, de 12 de abril de 1990;

IV - os arts. 43 e 44 da Lei nº 8.541, de 23 de dezembro de 1992;

V - o art. 28 e os incisos VI, XI e XII e o parágrafo único do art. 36, os

arts. 46, 48 e 54, e o inciso II do art. 60, todos da Lei nº 8.981, de 20 de

janeiro de 1995, alterada pela Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995, e o

art. 10 da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995.

Brasília, 26 de dezembro de 1995; 174º da Independência e 107º da

República.

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FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Pedro Pullen Parente

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LEI No 10.684, DE 30 DE MAIO DE 2003.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Os débitos junto à Secretaria da Receita Federal ou à

Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, com vencimento até 28 de

fevereiro de 2003, poderão ser parcelados em até cento e oitenta

prestações mensais e sucessivas.

§ 1o O disposto neste artigo aplica-se aos débitos constituídos ou

não, inscritos ou não como Dívida Ativa, mesmo em fase de execução

fiscal já ajuizada, ou que tenham sido objeto de parcelamento anterior,

não integralmente quitado, ainda que cancelado por falta de

pagamento.

§ 2o Os débitos ainda não constituídos deverão ser confessados, de

forma irretratável e irrevogável.

§ 3o O débito objeto do parcelamento será consolidado no mês do

pedido e será dividido pelo número de prestações, sendo que o

montante de cada parcela mensal não poderá ser inferior a:

I – um inteiro e cinco décimos por cento da receita bruta auferida,

pela pessoa jurídica, no mês imediatamente anterior ao do vencimento

da parcela, exceto em relação às optantes pelo Sistema Simplificado

de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das

Empresas de Pequeno Porte - SIMPLES, instituído pela Lei no 9.317, de 5

de dezembro de 1996, e às microempresas e empresas de pequeno

porte enquadradas no disposto no art. 2o da Lei no 9.841, de 5 de

outubro de 1999, observado o disposto no art. 8o desta Lei, salvo na

hipótese do inciso II deste parágrafo, o prazo mínimo de cento e vinte

meses;

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II – dois mil reais, considerado cumulativamente com o limite

estabelecido no inciso I, no caso das pessoas jurídicas ali referidas;

III – cinqüenta reais, no caso de pessoas físicas.

§ 4o Relativamente às pessoas jurídicas optantes pelo SIMPLES e às

microempresas e empresas de pequeno porte, enquadradas no

disposto no art. 2o da Lei no 9.841, de 5 de outubro de 1999, o valor da

parcela mínima mensal corresponderá a um cento e oitenta avos do

total do débito ou a três décimos por cento da receita bruta auferida

no mês imediatamente anterior ao do vencimento da parcela, o que

for menor, não podendo ser inferior a:

I – cem reais, se enquadrada na condição de microempresa;

II – duzentos reais, se enquadrada na condição de empresa de

pequeno porte.

§ 5o Aplica-se o disposto no § 4o às pessoas jurídicas que foram

excluídas ou impedidas de ingressar no SIMPLES exclusivamente em

decorrência do disposto no inciso XV do art. 9o da Lei no 9.317, de 5 de

dezembro de 1996, desde que a pessoa jurídica exerça a opção pelo

SIMPLES até o último dia útil de 2003, com efeitos a partir de 1o de

janeiro de 2004, nos termos e condições definidos pela Secretaria da

Receita Federal.

§ 6o O valor de cada uma das parcelas, determinado na forma dos

§§ 3o e 4o, será acrescido de juros correspondentes à variação mensal

da Taxa de Juros de Longo Prazo – TJLP, a partir do mês subseqüente ao

da consolidação, até o mês do pagamento.

§ 7o Para os fins da consolidação referida no § 3o, os valores

correspondentes à multa, de mora ou de ofício, serão reduzidos em

cinqüenta por cento.

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104

§ 8o A redução prevista no § 7o não será cumulativa com qualquer

outra redução admitida em lei, ressalvado o disposto no § 11.

§ 9o Na hipótese de anterior concessão de redução de multa em

percentual diverso de cinqüenta por cento, prevalecerá o percentual

referido no § 7o, determinado sobre o valor original da multa.

§ 10. A opção pelo parcelamento de que trata este artigo exclui a

concessão de qualquer outro, extinguindo os parcelamentos

anteriormente concedidos, admitida a transferência de seus saldos para

a modalidade desta Lei.

§ 11. O sujeito passivo fará jus a redução adicional da multa, após

a redução referida no § 7o, à razão de vinte e cinco centésimos por

cento sobre o valor remanescente para cada ponto percentual do

saldo do débito que for liquidado até a data prevista para o

requerimento do parcelamento referido neste artigo, após deduzida a

primeira parcela determinada nos termos do § 3o ou 4o.

Art. 2o Os débitos incluídos no Programa de Recuperação Fiscal –

REFIS, de que trata a Lei no 9.964, de 10 de abril de 2000, ou no

parcelamento a ele alternativo, poderão, a critério da pessoa jurídica,

ser parcelados nas condições previstas no art. 1o, nos termos a serem

estabelecidos pelo Comitê Gestor do mencionado Programa.

Parágrafo único. Na hipótese deste artigo:

I – a opção pelo parcelamento na forma deste artigo implica

desistência compulsória e definitiva do REFIS ou do parcelamento a ele

alternativo;

II – as contribuições arrecadadas pelo Instituto Nacional do Seguro

Social - INSS retornarão à administração daquele órgão, sujeitando-se à

legislação específica a elas aplicável;

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III - será objeto do parcelamento nos termos do art. 1o o saldo

devedor dos débitos relativos aos tributos administrados pela Secretaria

da Receita Federal.

Art. 3o Ressalvado o disposto no art. 2o, não será concedido o

parcelamento de que trata o art. 1o na hipótese de existência de

parcelamentos concedidos sob outras modalidades, admitida a

transferência dos saldos remanescentes para a modalidade prevista

nesta Lei, mediante requerimento do sujeito passivo.

Art. 4o O parcelamento a que se refere o art. 1o:

I - deverá ser requerido, inclusive na hipótese de transferência de

que tratam os arts. 2o e 3o, até o último dia útil do segundo mês

subseqüente ao da publicação desta Lei, perante a unidade da

Secretaria da Receita Federal ou da Procuradoria-Geral da Fazenda

Nacional, responsável pela cobrança do respectivo débito; (Vide Lei nº

10.743, de 9.10.2003)

II – somente alcançará débitos que se encontrarem com

exigibilidade suspensa por força dos incisos III a V do art. 151 da Lei no

5.172, de 25 de outubro de 1966, no caso de o sujeito passivo desistir

expressamente e de forma irrevogável da impugnação ou do recurso

interposto, ou da ação judicial proposta, e renunciar a quaisquer

alegações de direito sobre as quais se fundam os referidos processos

administrativos e ações judiciais, relativamente à matéria cujo

respectivo débito queira parcelar;

III – reger-se-á pelas disposições da Lei no 10.522, de 19 de julho de

2002, ressalvado o disposto no seu art. 14;

IV – aplica-se, inclusive, à totalidade dos débitos apurados segundo

o SIMPLES;

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V – independerá de apresentação de garantia ou de arrolamento

de bens, mantidas aquelas decorrentes de débitos transferidos de

outras modalidades de parcelamento ou de execução fiscal.

Parágrafo único. Na hipótese do inciso II, o valor da verba de

sucumbência será de um por cento do valor do débito consolidado

decorrente da desistência da respectiva ação judicial.

Art. 5o Os débitos junto ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,

oriundos de contribuições patronais, com vencimento até 28 de

fevereiro de 2003, serão objeto de acordo para pagamento parcelado

em até cento e oitenta prestações mensais, observadas as condições

fixadas neste artigo, desde que requerido até o último dia útil do

segundo mês subseqüente ao da publicação desta Lei. (Vide Lei nº

10.743, de 9.10.2003)

§ 1o Aplica-se ao parcelamento de que trata este artigo o disposto

nos §§ 1o a 11 do art. 1o, observado o disposto no art. 8o.

§ 2o (VETADO)

§ 3o A concessão do parcelamento independerá de apresentação

de garantias ou de arrolamento de bens, mantidas aquelas decorrentes

de débitos transferidos de outras modalidades de parcelamento ou de

execução fiscal.

Art. 6o Os depósitos existentes, vinculados aos débitos a serem

parcelados nos termos dos arts. 1o e 5o, serão automaticamente

convertidos em renda da União ou da Seguridade Social ou do Instituto

Nacional do Seguro Social - INSS, conforme o caso, concedendo-se o

parcelamento sobre o saldo remanescente.

Art. 7o O sujeito passivo será excluído dos parcelamentos a que se

refere esta Lei na hipótese de inadimplência, por três meses

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consecutivos ou seis meses alternados, o que primeiro ocorrer,

relativamente a qualquer dos tributos e das contribuições referidos nos

arts. 1o e 5o, inclusive os com vencimento após 28 de fevereiro de 2003.

Art. 8o Na hipótese de a pessoa jurídica manter parcelamentos de

débitos com base no art. 1o e no art. 5o, simultaneamente, o percentual

a que se refere o inciso I do § 3o do art. 1o será reduzido para setenta e

cinco centésimos por cento.

§ 1o Caberá à pessoa jurídica requerer a redução referida no caput

até o prazo fixado no inciso I do art. 4o e no caput do art. 5o.

§ 2o Ocorrendo liquidação, rescisão ou extinção de um dos

parcelamentos, inclusive por exclusão do sujeito passivo, nos termos do

art. 7o, aplica-se o percentual fixado no inciso I do § 3o do art. 1o ao

parcelamento remanescente, a partir do mês subseqüente ao da

ocorrência da liquidação, extinção ou rescisão do parcelamento

obtido junto ao outro órgão.

§ 3o A pessoa jurídica deverá informar a liquidação, rescisão ou

extinção do parcelamento ao órgão responsável pelo parcelamento

remanescente, até o último dia útil do mês subseqüente ao da

ocorrência do evento, bem como efetuar o recolhimento da parcela

referente àquele mês observando o percentual fixado no inciso I do § 3o

do art. 1o.

§ 4o O desatendimento do disposto nos parágrafos anteriores

implicará a exclusão do sujeito passivo do parcelamento remanescente

e a aplicação do disposto no art. 11.

Art. 9o É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos

crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de

1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro

de 1940 – Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica

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relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no

regime de parcelamento.

§ 1o A prescrição criminal não corre durante o período de

suspensão da pretensão punitiva.

§ 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo

quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o

pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições

sociais, inclusive acessórios.

Art. 10. A Secretaria da Receita Federal, a Procuradoria-Geral da

Fazenda Nacional e o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

expedirão, no âmbito de suas respectivas competências, os atos

necessários à execução desta Lei.

Parágrafo único. Serão consolidados, por sujeito passivo, os débitos

perante a Secretaria da Receita Federal e a Procuradoria-Geral da

Fazenda Nacional.

Art. 11. Ao sujeito passivo que, optando por parcelamento a que se

referem os arts. 1o e 5o, dele for excluído, será vedada a concessão de

qualquer outra modalidade de parcelamento até 31 de dezembro de

2006.

Art. 12. A exclusão do sujeito passivo do parcelamento a que se

refere esta Lei, inclusive a prevista no § 4o do art. 8o, independerá de

notificação prévia e implicará exigibilidade imediata da totalidade do

crédito confessado e ainda não pago e automática execução da

garantia prestada, quando existente, restabelecendo-se, em relação

ao montante não pago, os acréscimos legais na forma da legislação

aplicável à época da ocorrência dos respectivos fatos geradores.

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Art. 13. Os débitos relativos à contribuição para o Programa de

Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, bem como de suas autarquias e

fundações públicas, com vencimento até 31 de dezembro de 2002,

poderão ser pagos mediante regime especial de parcelamento, por

opção da pessoa jurídica de direito público interno devedora.

Parágrafo único. A opção referida no caput deverá ser

formalizada até o último dia útil do segundo mês subseqüente ao da

publicação desta Lei, nos termos e condições estabelecidos pela

Secretaria da Receita Federal.

Art. 14. O regime especial de parcelamento referido no art. 13

implica a consolidação dos débitos na data da opção e abrangerá a

totalidade dos débitos existentes em nome do optante, constituídos ou

não, inclusive os juros de mora incidentes até a data de opção.

Parágrafo único. O débito consolidado na forma deste artigo:

I - sujeitar-se-á, a partir da data da consolidação, a juros

equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de

Custódia - SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente,

calculados a partir da data de deferimento do pedido até o mês

anterior ao do pagamento, e adicionados de um por cento

relativamente ao mês em que o pagamento estiver sendo feito;

II - será pago mensalmente, até o último dia útil da primeira

quinzena de cada mês, no valor equivalente a, no mínimo, um cento e

vinte avos do total do débito consolidado;

III – o valor de cada parcela não poderá ser inferior a dois mil reais.

Art. 15. A opção pelo regime especial de parcelamento referido no

art. 13 sujeita a pessoa jurídica optante:

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I - à confissão irrevogável e irretratável dos débitos referidos no art.

14;

II - ao pagamento regular das parcelas do débito consolidado,

bem como dos valores devidos relativos ao PASEP com vencimento

após dezembro de 2002.

Parágrafo único. A opção pelo regime especial exclui qualquer

outra forma de parcelamento de débitos relativos ao PASEP.

Art. 16. A pessoa jurídica optante pelo regime especial de

parcelamento referido no art. 13 será dele excluída nas seguintes

hipóteses:

I - inobservância da exigência estabelecida no art. 15;

II - inadimplência, por dois meses consecutivos ou seis alternados,

relativamente ao PASEP, inclusive aqueles com vencimento após

dezembro de 2002.

§ 1o A exclusão da pessoa jurídica do regime especial implicará

exigibilidade imediata da totalidade do crédito confessado e ainda

não pago.

§ 2o A exclusão será formalizada por meio de ato da Secretaria da

Receita Federal e produzirá efeitos a partir do mês subseqüente àquele

em que a pessoa jurídica optante for cientificada.

Art. 17. Sem prejuízo do disposto no art. 15 da Medida Provisória no

2.158-35, de 24 de agosto de 2001, e no art. 1o da Medida Provisória no

101, de 30 de dezembro de 2002, as sociedades cooperativas de

produção agropecuária e de eletrificação rural poderão excluir da

base de cálculo da contribuição para o Programa de Integração Social

e de Formação do Patrimônio do Servidor Público - PIS/PASEP e da

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111

Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social –

COFINS os custos agregados ao produto agropecuário dos associados,

quando da sua comercialização e os valores dos serviços prestados

pelas cooperativas de eletrificação rural a seus associados.

Parágrafo único. O disposto neste artigo alcança os fatos

geradores ocorridos a partir da vigência da Medida Provisória no 1.858-

10, de 26 de outubro de 1999.

Art. 18. Fica elevada para quatro por cento a alíquota da

Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS

devida pelas pessoas jurídicas referidas nos §§ 6o e 8o do art. 3o da Lei no

9.718, de 27 de novembro de 1998.

Art. 19. O art. 22A da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991,

introduzido pela Lei no 10.256, de 9 de julho de 2001, passa a vigorar

com a seguinte redação:

"Art. 22A. ..........................................................................

..........................................................................

§ 6o Não se aplica o regime substitutivo de que trata este artigo à

pessoa jurídica que, relativamente à atividade rural, se dedique apenas

ao florestamento e reflorestamento como fonte de matéria-prima para

industrialização própria mediante a utilização de processo industrial que

modifique a natureza química da madeira ou a transforme em pasta

celulósica.

§ 7o Aplica-se o disposto no § 6o ainda que a pessoa jurídica

comercialize resíduos vegetais ou sobras ou partes da produção, desde

que a receita bruta decorrente dessa comercialização represente

menos de um por cento de sua receita bruta proveniente da

comercialização da produção." (NR)

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Art. 20. O § 1o do art. 126 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991,

passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 126. ..........................................................................

§ 1o Em se tratando de processo que tenha por objeto a discussão de

crédito previdenciário, o recurso de que trata este artigo somente terá

seguimento se o recorrente, pessoa jurídica ou sócio desta, instruí-lo com

prova de depósito, em favor do Instituto Nacional do Seguro Social -

INSS, de valor correspondente a trinta por cento da exigência fiscal

definida na decisão.

.........................................................................." (NR)

Art. 21. O art. 18 da Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, passa a

vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:

"Art. 18. ..........................................................................

Parágrafo único. Das decisões finais do Conselho Nacional de

Assistência Social, vinculado ao Ministério da Assistência e Promoção

Social, relativas à concessão ou renovação do Certificado de Entidade

Beneficente de Assistência Social, caberá recurso ao Ministro de Estado

da Previdência Social, no prazo de trinta dias, contados da data da

publicação do ato no Diário Oficial da União, por parte da entidade

interessada, do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS ou da

Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda." (NR)

Art. 22. O art. 20 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, passa

a vigorar com a seguinte redação: (Vigência)

"Art. 20. A base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido,

devida pelas pessoas jurídicas que efetuarem o pagamento mensal a

que se referem os arts. 27 e 29 a 34 da Lei no 8.981, de 20 de janeiro de

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1995, e pelas pessoas jurídicas desobrigadas de escrituração contábil,

corresponderá a doze por cento da receita bruta, na forma definida na

legislação vigente, auferida em cada mês do ano-calendário, exceto

para as pessoas jurídicas que exerçam as atividades a que se refere o

inciso III do § 1o do art. 15, cujo percentual corresponderá a trinta e dois

por cento.

Parágrafo único. A pessoa jurídica submetida ao lucro presumido

poderá, excepcionalmente, em relação ao quarto trimestre-calendário

de 2003, optar pelo lucro real, sendo definitiva a tributação pelo lucro

presumido relativa aos três primeiros trimestres." (NR)

Art. 23. O art. 9o da Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, passa

a vigorar acrescido do seguinte parágrafo:

"Art. 9o ..........................................................................

..........................................................................

§ 5o A vedação a que se referem os incisos IX e XIV do caput não se

aplica na hipótese de participação no capital de cooperativa de

crédito." (NR)

Art. 24. Os arts. 1o e 2o da Lei no 10.034, de 24 de outubro de 2000,

passam a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1o Ficam excetuadas da restrição de que trata o inciso XIII do art. 9o

da Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, as pessoas jurídicas que se

dediquem exclusivamente às seguintes atividades:

I – creches e pré-escolas;

II – estabelecimentos de ensino fundamental;

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III – centros de formação de condutores de veículos automotores de

transporte terrestre de passageiros e de carga;

IV – agências lotéricas;

V – agências terceirizadas de correios;

VI – (VETADO)

VII – (VETADO)" (NR)

"Art. 2o Ficam acrescidos de cinqüenta por cento os percentuais

referidos no art. 5o da Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, alterado

pela Lei no 9.732, de 11 de dezembro de 1998, em relação às atividades

relacionadas nos incisos II a V do art. 1o desta Lei e às pessoas jurídicas

que aufiram receita bruta decorrente da prestação de serviços em

montante igual ou superior a trinta por cento da receita bruta total."

(NR)

Art. 25. A Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002, passa a vigorar

acrescida do seguinte art. 5º A e com as seguintes Alterações dos arts.

1o, 3o, 8o, 11 e 29:

"Art. 1o ..........................................................................

..........................................................................

§ 3o ..........................................................................

..........................................................................

VI – não operacionais, decorrentes da venda de ativo imobilizado." (NR)

"Art. 3o ..........................................................................

..........................................................................

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II – bens e serviços utilizados como insumo na fabricação de produtos

destinados à venda ou na prestação de serviços, inclusive combustíveis

e lubrificantes;

..........................................................................

V – despesas financeiras decorrentes de empréstimos, financiamentos e

contraprestações de operações de arrendamento mercantil de pessoas

jurídicas, exceto de optante pelo Sistema Integrado de Pagamento de

Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de

Pequeno Porte – SIMPLES;

..........................................................................

IX - energia elétrica consumida nos estabelecimentos da pessoa

jurídica.

§ 1o ..........................................................................

..........................................................................

II - dos itens mencionados nos incisos IV, V e IX do caput, incorridos no

mês;

..........................................................................

§ 10. Sem prejuízo do aproveitamento dos créditos apurados na forma

deste artigo, as pessoas jurídicas que produzam mercadorias de origem

animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2 a 4, 8 a 12 e 23, e nos

códigos 01.03, 01.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08,

0709.90, 07.10, 07.12 a 07.14, 15.07 a 15.14, 1515.2, 1516.20.00, 15.17,

1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09,

2101.11.10 e 2209.00.00, todos da Nomenclatura Comum do Mercosul,

destinados à alimentação humana ou animal poderão deduzir da

contribuição para o PIS/Pasep, devida em cada período de apuração,

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crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens e serviços referidos

no inciso II do caput deste artigo, adquiridos, no mesmo período, de

pessoas físicas residentes no País.

§ 11. Relativamente ao crédito presumido referido no § 10:

I - seu montante será determinado mediante aplicação, sobre o valor

das mencionadas aquisições, de alíquota correspondente a setenta por

cento daquela constante do art. 2o ;

II - o valor das aquisições não poderá ser superior ao que vier a ser

fixado, por espécie de bem ou serviço, pela Secretaria da Receita

Federal." (NR)

"Art. 5o A - Ficam isentas da contribuição para o PIS/Pasep e da COFINS

as receitas decorrentes da comercialização de matérias-primas,

produtos intermediários e materiais de embalagem, produzidos na Zona

Franca de Manaus para emprego em processo de industrialização por

estabelecimentos industriais ali instalados e consoante projetos

aprovados pelo Conselho de Administração da Superintendência da

Zona Franca de Manaus – SUFRAMA."

"Art. 8o ..........................................................................

..........................................................................

X - as sociedades cooperativas;

XI - as receitas decorrentes de prestação de serviços das empresas

jornalísticas e de radiodifusão sonora e de sons e imagens." (NR)

"Art. 11. ..........................................................................

..........................................................................

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§ 4o O disposto no caput aplica-se também aos estoques de produtos

acabados e em elaboração." (NR)

"Art. 29. As matérias-primas, os produtos intermediários e os materiais de

embalagem, destinados a estabelecimento que se dedique,

preponderantemente, à elaboração de produtos classificados nos

Capítulos 2, 3, 4, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 23 (exceto

códigos 2309.10.00 e 2309.90.30 e Ex-01 no código 2309.90.90), 28, 29, 30,

31 e 64, no código 2209.00.00 e 2501.00.00, e nas posições 21.01 a

21.05.00, da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos

Industrializados - TIPI, inclusive aqueles a que corresponde a notação NT

(não tributados), sairão do estabelecimento industrial com suspensão

do referido imposto.

.........................................................................." (NR)

Art. 26. O art. 1o da Lei no 9.074, de 7 de julho de 1995, passa a

vigorar acrescido dos seguintes parágrafos, renumerando-se o

parágrafo único para § 1o:

" Art. 1o ..........................................................................

..........................................................................

§ 2o O prazo das concessões e permissões de que trata o inciso VI deste

artigo será de vinte e cinco anos, podendo ser prorrogado por dez

anos.

§ 3o Ao término do prazo, as atuais concessões e permissões,

mencionadas no § 2o, incluídas as anteriores à Lei no 8.987, de 13 de

fevereiro de 1995, serão prorrogadas pelo prazo previsto no § 2o." (NR)

Art. 27. (VETADO)

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Art. 28. Fica o Poder Executivo autorizado a emitir títulos da dívida

pública atualizados de acordo com as disposições do inciso I do § 4o do

art. 2o da Lei no 9.964, de 10 de abril de 2000, com prazo de vencimento

determinado em função do prazo médio estimado da carteira de

recebíveis do Programa de Recuperação Fiscal – REFIS, instituído pela

referida Lei, os quais terão poder liberatório perante a Secretaria da

Receita Federal e o Instituto Nacional do Seguro Social quanto as

dívidas inscritas no referido programa, diferindo-se os efeitos tributários

de sua utilização, em função do prazo médio da dívida do contribuinte.

Art. 29. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação,

produzindo efeitos:

I – em relação ao art. 17, a partir de 1o de janeiro de 2003;

II – em relação ao art. 25, a partir de 1o de fevereiro de 2003;

III - em relação aos arts. 18, 19, 20 e 22, a partir do mês subseqüente

ao do termo final do prazo nonagesimal, a que refere o § 6o do art. 195

da Constituição Federal.

Brasília, 30 de maio de 2003; 182o da Independência e 115o da

República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Antonio Palocci Filho

Ricardo José Ribeiro Berzoini