universidade do vale do itajaÍ – univali centro de ...siaibib01.univali.br/pdf/michelli...

88
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A LEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE ASSINATURA BÁSICA NA CONTA TELEFÔNICA MICHELLI MILKIEWICZ ITAJAÍ, OUTUBRO DE 2008.

Upload: doankhanh

Post on 18-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A LEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE ASSINATURA BÁSICA NA CONTA TELEFÔNICA

MICHELLI MILKIEWICZ

ITAJAÍ, OUTUBRO DE 2008.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A LEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE ASSINATURA BÁSICA NA CONTA TELEFÔNICA

MICHELLI MILKIEWICZ

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientadora: Msc. Maria da Graça Mello Ferracioli

ITAJAí, OUTUBRO DE 2008.

AGRADECIMENTO

A Deus, por tudo.

Aos meus ex-chefes da Brasil Telecom e

sempre amigos, Dr. Leonardo Reis de Oliveira

e Dra. Valéria Benedita dos Santos, pelo

incentivo à pesquisa, bem como, aos demais

colegas que estiveram comigo nos dois anos

de estágio realizado na empresa.

A minha Orientadora, Professora Maria da

Graça, pela atenção, dedicação e carinho

dispensados.

A minha família que eu amo muito e sempre

esteve ao meu lado, acreditando em mim e

me dando força nos momentos de angústia.

Aos amigos Plínio e Elizabeth De Nes por toda

ajuda e, sem a qual, eu não teria chego até

aqui.

Aos meus verdadeiros amigos, que me

confortaram e, muitas vezes, me fizeram

enxergar “o outro lado da moeda”, pessoas

essenciais em minha vida.

DEDICATÓRIA

A todos os usuários e clientes das empresas

de telefonia brasileira pela paciência

dispensada diariamente com estas, visto que

apesar das inúmeras reclamações, estão

sempre em busca de um serviço adequado,

moderno e de qualidade para todos nós

brasileiros.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí/SC, 20 de novembro de 2008.

Michelli Milkiewicz Graduando

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Michelli Milkiewicz,

sob o título A Legalidade da Cobrança da Tarifa de Assinatura Básica na

Conta Telefônica, foi submetida em 2008 à banca examinadora composta

pelos seguintes professores: Josemar Sidinei Soares (examinador), e Maria

da Graça Mello Ferraciolli (orientadora) e aprovada com a nota

____________________.

Itajaí/SC, 20 de novembro de 2007.

Maria da Graça Mello Ferracioli Orientador e Presidente da Banca

Prof. Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

C.R.F.B./88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

EMBRATEL Empresa Brasileira de Telecomunicações S/A

LGT Lei Geral de Telecomunicações

STFC Sistema Telefônico Fixo Comutado

STJ Superior Tribunal de Justiça

TELEBRÁS Telecomunicações Brasileiras S/A

TELESP Telecomunicações de São Paulo S/A

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos

operacionais.

Agência reguladora

Para Menezello (2002, p65), “a missão das agências é regular, normatizar,

controlar e fiscalizar as atividades desenvolvidas por particulares, tendo

em vista o interesse público”.

Anatel

“A Agência Nacional de Telecomunicações configura-se em uma

autarquia especial, vinculada ao Ministério das Comunicações. Portanto,

trata-se de pessoa jurídica de direito público de âmbito federal, autônoma

(embora sujeita ao controle estatal), criada por lei e com o objetivo de

praticar de forma especializada, determinada função pública. Detém

patrimônio, receitas e atribuições próprias, diferenciando-se da entidade

da Administração Direta que a criou”, conforme Moraes A. (2002, p.85).

Concessão de Serviço Público

“Concessão é uma espécie, em cujas manifestações se verifica, sempre, a

incumbência de um serviço público a uma pessoa de direito privado, que

em se nome os exerça” é o conceito de Masagão apud Di Pietro (2008, p.

272)

Contrato de Concessão de Serviço Público

Meirelles (2006, p.392) o define como “documento escrito que encerra a

delegação do poder concedente, define o objeto da concessão, delimita

a área, forma e tempo da exploração, esclarece os direitos e deveres das

partes e dos usuários dos serviços”.

Licitação

Di Pietro (2008, p. 331) conceitua “licitação como o procedimento

administrativo pelo qual um ente público, no exercício da função

administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem às condições

fixadas no instrumento convocatório, a possibilidade de formularem

propostas dentre as quais selecionará e aceitará a mais conveniente para

a celebração do contrato”.

Princípio da Legalidade

Para Meirelles (2006, p.87) “significa que o administrador público está, em

toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às

exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob

pena de praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar,

civil e criminal, conforme o caso”.

Princípio da Modicidade ou do Equilíbrio da Prestação dos Serviços

Públicos

Para Gasparini (2004, p. 285), “a modicidade impõe sejam os serviços

públicos prestados mediantes taxas ou tarifas justas, pagas pelos usuários

para remunerar os benefícios recebidos e permitir o seu melhoramento e

expansão. Assim, os serviços não devem ser prestados com lucros ou

prejuízos, mas mediante retribuição que viabilize esses interesses”.

Serviço Público

Cretella (1980, p. 55) afirma que "serviço público é toda atividade que o

Estado exerce, direta ou indiretamente, para a satisfação das

necessidades públicas mediante procedimento típico do direito público".

Tarifa

“Prestação pecuniária, decorrente da livre manifestação de vontade do

comprador, exigida pelo Estado, ou órgão estatal, ou empresa associada,

concessionária ou permissionária, em contraprestação pela aquisição de

um bem material ou imaterial. Como conseqüência, a receita obtida

através de preços públicos apresenta-se original e facultativa” Moraes B.

(1990, p. 322).

Tarifa de Assinatura Básica

“Tarifa mensal cobrada nas contas telefônicas, prevista no contrato de

concessão firmado entre a concessionária e a agência reguladora,

visando a cobertura dos custos operacionais para a disponibilização

ininterrupta dos serviços de telefonia fixa a todos os assinantes”. Brincas

(2006)1.

Taxa

Gasparini, (2004, p.287) afirma que “(...) são remunerados por taxa, os

serviços públicos em que sua utilização pelo administrado for obrigatória,

não importando, neste caso, se há, ou não, efetiva utilização”.

1 Matéria retirada da Apelação Cível interposta contra a Ação Declaratória n.° 086.05.000067-0 da Vara Única de Otacílio Costa, do escritório Marcondes Brincas de Florianópolis/SC, que efetua as defesas da Empresa Brasil Telecom, referentes aos processos de Assinatura Básica, sendo que, assinam as peças o Dr. Renato Marcondes Brincas e o Dr. Karlo Koiti Kawamura.

SUMÁRIO

RESUMO .......................................................................................................................................... XIII

INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 01

CAPÍTULO 1 ........................................ ............................................................................................ 03

TARIFA .............................................................................................................................................. 03 1.1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ..................................................................................................... 01 1.1.1 Conceito........................................................................ ................................ .......................03 1.1.2 Indelegabilidade da competência para fixar tarifas ...................................................... 04 1.1.3 Princípio do Equilíbrio ........................................................................................................... 04 1.1.4 Critérios para fixação tarifária ............................................................................................ 05 1.1.5 Critérios e procedimentos de reajuste e revisão ............................................................. 07 1.2 NATUREZA JURÍDICA DA TARIFA .............................................................................................. 09

1.2.1 Diferença entre tarifa e taxa ............................................................................................... 09 1.2.2 Elementos integrantes da tarifa .......................................................................................... 13 1.2.3 Modalidades de tarifa .......................................................................................................... 14 1.2.4 Modelo Tarifário .................................................................................................................... 15 1.2.5 A tarifa de assinatura básica na conta telefônica ........................................................... 16

CAPÍTULO 2 ........................................ ............................................................................................ 18

A EXPLORAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS ................................................................................. 18 2.1 Serviço Público ......................................................................................................................... 18 2.1.1 Conceitos ............................................................................................................................... 18 2.1.2 Elementos da definição ....................................................................................................... 19 2.1.3 Requisitos do serviço público ............................................................................................. 21 2.1.4 Princípios do serviço público .............................................................................................. 23 2.1. 5 Classificação dos serviços públicos ................................................................................. 25 2.2 Concessão de serviço público .............................................................................................. 27 2.2.1 Conceitos e características da concessão de serviços públicos ................................. 28 2.2.2 Regulamentação .................................................................................................................. 30 2.2.3 Licitação ................................................................................................................................ 31 2.2.4 Contrato de concessão de serviço público ..................................................................... 33 2.2.5 Fiscalização e intervenção na concessão ....................................................................... 37

CAPÍTULO 3 ........................................ ............................................................................................ 40

3.1 AGÊNCIAS REGULADORAS .......................... ......................................................................... 40 3.1.1 Conceito e características .................................................................................................. 40 3.1.2 Controle das Agências Reguladoras ................................................................................. 44 3.1.3 Autonomia das Agências Reguladoras ............................................................................. 46 3.2 ANATEL ...................................................................................................................................... 47 3.2.1 Natureza jurídica da Anatel ................................................................................................ 48 3.2.2 Independência da Anatel ................................................................................................... 49 3.2.3 Anatel: regulação da concorrência .................................................................................. 50

CAPÍTULO 4 ........................................ ............................................................................................ 53

A LEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE ASSINATURA BÁ SICA ................................ 53 4.1 ORIGEM ..................................................................................................................................... 53 4.1.1 O início do cenário brasileiro nas telecomunicações .................................................... 53 4.1.2 A privatização ....................................................................................................................... 55 4.2 A LEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE ASSINATURA BÁSICA NA CONTA TELEFÔNICA ..................................................................................................................................... 56 4.2.1 O princípio da legalidade ................................................................................................... 56 4.2.2 A existência de legislação específica .............................................................................. 58 4.2.3 A efetiva prestação do serviço .......................................................................................... 59 4.2.4 A expansão dos serviços através da tarifa de assinatura .............................................. 62

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 68

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ............................................................................................... 71

RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo geral, uma

análise acerca da legalidade da polêmica cobrança da tarifa de

assinatura básica nas contas telefônicas dos brasileiros, bem como, as

razões dos diversos julgados espalhados pelo país que concluíram pela

legalidade. Em um primeiro momento, trata Tarifa de forma geral,

observando a importante distinção entre esta e a Taxa. Em seguida,

aborda o que vem a ser o Serviço Público, tendo em vista sua extrema

importância, para explicar a decorrência da cobrança, trazendo alguns

conceitos e princípios, bem como, seu Contrato de Concessão. Segue

ainda, esclarecendo os objetivos e características das Agências

Reguladoras que fiscalizam o atual sistema de telefonia. Por fim, traz um

breve histórico do sistema brasileiro de telecomunicações nacional,

tratando especificamente da questão da Legalidade da referida

Cobrança, ensejando demonstrar o quanto a Tarifa de Assinatura Básica é

necessária e importante para o bom desenvolvimento e crescimento

deste setor em nosso país, e também, para cumprir as metas de

universalização exigidas pelas Agências Reguladoras.

INTRODUÇÃO

Buscando melhor compreensão sobre as relações

entre os usuários e as empresas de telefonia, esta monografia tem como

objeto a legalidade da cobrança da tarifa de assinatura básica nas

contas telefônicas dos usuários deste serviço em nosso país, procurando

esclarecer o assunto através de doutrinas e legislação.

O presente trabalho foi dividido em quatro capítulos.

No Capítulo 1, será tratada a questão da Tarifa e seus conceitos. Esta

enseja uma idéia de prestação pecuniária decorrente da vontade do

cidadão em obter, ou não, os serviços de telefonia em sua residência.

Traz, ainda, critérios de reajuste, revisão e fixação tarifária e a importante

diferença entre tarifa e taxa.

No Capítulo 2, será abordado o conceito de serviço

público, o qual se faz necessário para o complemento da pesquisa. Traz,

também, seus requisitos e princípios essenciais. Observar-se-á como

funciona o contrato de concessão deste serviço que determina o modo e

a forma da prestação, bem como, as condições de remuneração da

empresa concessionária.

O Capítulo 3 trará as agências reguladoras com seus

conceitos e características, assim como uma de suas insubstituíveis

funções, a de fiscalizar as empresas concessionárias, entre outras. Aborda,

ainda, a Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL – quanto à

sua natureza jurídica e autonomia.

O quarto e último Capítulo buscará pesquisar com

maior profundidade o tema chave desta pesquisa, qual seja, a legalidade

ou não da cobrança da tarifa da assinatura básica das contas

telefônicas, e para tanto iniciará fazendo um breve histórico do sistema

brasileiro de telecomunicações nacional e uma análise geral sobre a

legalidade da cobrança da tarifa de assinatura básica, abordando as

teorias criadas para fundamentar a suposta ilegalidade e abusividade

desta cobrança, ocasionadas, na maioria das vezes, pelo

desconhecimento da matéria.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base três

hipóteses:

a) Tarifa é uma prestação pecuniária cobrada em

decorrência da vontade do cidadão em obter, ou não, determinados

serviços .

b) Determinados serviços públicos podem ser prestados

através do regime da concessão ;

c) No Brasil os serviços de telecomunicação são

devidamente fiscalizados pelas Agências Reguladores;

d) A cobrança da tarifa de assinatura básica pelas

empresas concessionárias nas contas telefônicas é pautada pela

legalidade.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, foi

utilizado o Método Indutivo, sendo que, nas diversas fases da Pesquisa,

foram acionadas as Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito

Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.

CAPÍTULO 1

TARIFA

1.1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

1.1.1 Conceito

Antes de falar sobre a tarifa de assinatura básica, faz-

se necessária uma explanação acerca do conceito da palavra tarifa,

cujos aspectos se revestem de importância jurídica e, especialmente

econômica, Cretella (2002, p.406) dispõe que:

(...) tarifa é a determinação do quantum a ser pago

pelo usuário, fixação essa feita pelo poder público,

depois, como o quantum, em dinheiro, que o usuário é

obrigado a pagar à empresa concessionária, quando

se utiliza, em concreto, do serviço concedido.

Moraes B. (1990, p.322), conceitua preço público ou

tarifa:

Prestação pecuniária, decorrente da livre manifestação

de vontade do comprador, exigida pelo Estado, ou

órgão estatal, ou empresa associada, concessionária ou

permissionária, em contraprestação pela aquisição de

um bem material ou imaterial. Como conseqüência, a

receita obtida através de preços públicos apresenta-se

original e facultativa.

2

Tarifa é uma receita que provém da intervenção do

Estado, como poder concedente, através de suas empresas

concessionárias, onde o valor da cobrança (preço público) busca uma

justa remuneração do capital, visando uma margem de lucro que não

onere excessivamente o usuário, e também, uma melhora e expansão dos

serviços, assegurando assim, o equilíbrio econômico e financeiro do

contrato.

A tarifa é a cobrança de um serviço facultativo. Não

sendo sua exigência compulsória, não é possível considerar o preço

público como uma espécie de tributo, pois não tem por base o poder

fiscal do Estado (não é receita tributária).

1.1.2 Indelegabilidade da competência para fixar tarifas

A fixação da tarifa tem competência indelegável e

deverá ser fixada pelo próprio poder concedente (Estado). Ao particular

(empresa concessionária), cabe somente a competência para

desenvolver as tarefas atinentes à definição da tarifa ou sua revisão.

Mesmo que veiculada por lei, seria nula qualquer previsão que atribuísse

ao particular o poder de estabelecer tarifas.

Segundo Cretella (2002, p. 408), “a fixação das tarifas é,

materialmente, ato administrativo, usualmente exercido pelo Poder

Executivo”.

A tarifa adequada será calculada por ato unilateral da

empresa concessionária e será submetida à análise do concedente, o

qual tem competência privativa para aceitar ou rejeitar o entendimento.

1.1.3 Princípio do Equilíbrio

A fixação tarifária deve obedecer ao princípio do

equilíbrio (modicidade).

3

A cobrança da tarifa deve ser suficiente para viabilizar

a prestação de serviço da empresa concessionária, onde há a

remuneração do concessionário por seus custos e investimentos, e ainda,

deve atender às necessidades de expansão e melhoramento do serviço.

Se a tarifa não for economicamente justa, não se encontrará capital

privado interessado em investir e colaborar com a Administração Pública.

Segue a lição de Bielsa apud Justen Filho (2003, p.318):

(...) como o concessionário não pode converter a

exploração do serviço em um negócio lucrativo sem limites

o que implicaria enriquecimento irregular à custa dos

usuários como consequência de uma atividade própria do

Estado, este tem o dever de moderar a exploração,

mediante a revisão de tarifas, que devem ser justas e

razoáveis.

O princípio da modicidade da tarifa deve indicar

preços razoáveis, que estejam ao alcance dos usuários. Em

contraprestação, há a obrigação da manutenção de serviço adequado

por parte da concessionária. Este princípio busca o equilíbrio financeiro na

concessão de serviço público.

1.1.4 Critérios para fixação tarifária

A tarifa desempenha duas funções. Sobre elas dispõe

Cretella (2002, p.409):

(...) nas relações entre concessionário e público, a de

regular o preço das prestações de serviço, nas relações

entre concessionário e concedente, a de regular os termos

em que aquele consente a este a remuneração da sua

iniciativa e dos seus capitais. Sem um mínimo de garantias

na retribuição, ninguém iria tomar sobre os ombros a

onerosa responsabilidade jurídico-econômica da

4

exploração do serviço público. Por esse motivo, os termos

em que o concessionário poderá fixar as tarifas do serviço

são objeto de cláusula contratual, quando a concessão é

concretizada por contrato (...)

Ainda que existam modelos econômicos e jurídicos

para a fixação das tarifas, o poder concedente deve estabelecer uma

proposta que seja cabível política e socialmente, e que mantenha a

estabilidade do concessionário.

É o entendimento de Justen Filho (2003, p.374):

(...) a simples adoção do modelo de concessão já reflete

uma proposta política sobre a repartição dos encargos

atinentes ao fornecimento de utilidades essenciais. Reflete

a concepção de que o custo dessas utilidades será arcado

diretamente pelos que delas se utilizam. Celebrada a

concessão, consagra-se o postulado de que paga quem

usa e na medida em que o faz (itálico no original).

Não é possível fixar tarifas baseando-se em uma

partilha aritmética onde seriam avaliados os custos do serviço e o

consumo entre os usuários.

A redação do art. 9º da Lei 8.987 de 1995 que dispõe

sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços

públicos, explica a regra de fixação tarifária:

Art. 9 – A tarifa do serviço público concedido será fixada

pelo preço da proposta vencedora da licitação e

preservada pelas regras de revisão previstas nesta Lei, no

edital e no contrato.

§ 1º A tarifa não será subordinada à legislação específica

anterior, e somente nos casos expressamente previstos em

5

lei, sua cobrança poderá ser condicionada à existência de

serviço público alternativo e gratuito para o usuário.

§ 2º Os contratos poderão prever mecanismos de revisão

das tarifas, a fim de manter-se o equilíbrio econômico-

financeiro.

§ 3º Ressalvados os impostos sobre a renda, a criação,

alteração ou extinção de quaisquer tributos ou encargos

legais, após a apresentação da proposta, quando

comprovado seu impacto, implicará a revisão da tarifa,

para mais ou para menos, conforme o caso.

§ 4º Em havendo alteração unilateral do contrato que

afete o seu inicial equilíbrio econômico-financeiro, o poder

concedente deverá restabelecê-lo, concomitantemente à

alteração.

Observar-se-á, a seguir, como funcionam as alterações

no contrato, quanto ao reajuste e a revisão das tarifas.

1.1.5 Critérios e procedimentos de reajuste e revisão

Deverão constar no contrato os procedimentos para

reajuste e revisão das tarifas, e no edital, devem constar os critérios.

Há diferença entre o conceito de reajuste e revisão.

Conforme define Justen Filho (2003, p.263):

O reajuste corresponde à modificação do valor da tarifa

para enfrentar elevações normais de custos, relacionadas

ao fenômeno inflacionário. Tanto poderá cogitar-se de

inflação geral como de inflação setorial. Ou seja, pode-se

admitir que um determinado setor de atividades se sujeite a

variações de custos mais acentuadas, exigindo a adoção

de índices específicos. Em princípio, o reajuste será

6

promovido periodicamente - asserção que deriva das

circunstâncias nacionais, em que o fenômeno inflacionário

tem-se mantido de um modo contínuo (itálico no original).

Ainda neste rumo, dispõe Meirelles (2006, p.215):

(...) o reajustamento contratual de preços e tarifas é a

medida convencionada entre as partes contratantes, para

evitar que, em razão das elevações do mercado, da

desvalorização da moeda ou do aumento geral de salários

no período de execução do contrato administrativo, venha

a romper-se o equilíbrio financeiro do ajuste. Para que não

se altere a relação encargo-remuneração em prejuízo do

contratado, a Administração procede à majoração do

preço, unitário ou global, originariamente previsto para a

remuneração de um contrato de obra, serviço ou

fornecimento ou da tarifa inicialmente fixada para

pagamento de serviços públicos ou de utilidade pública

prestados por particulares, em ambos os casos em

conformidade com os critérios expressamente

estabelecidos no ajuste (itálico no original).

O reajuste deve ter um procedimento automático e

simples, levando em conta que se trata de uma conduta contratual,

prevista em lei, e que é de responsabilidade do poder concedente.

Havendo a omissão do poder concedente, este, consequentemente

autorizará que sejam aplicadas soluções automáticas pela

concessionária, que não pode ser prejudicada pelo silêncio do Estado

sobre o direito de reajuste.

Este reajuste acontecerá nas épocas previstas

contratualmente (geralmente de 12 em 12 meses), onde serão aplicados

os índices acertados e o poder concedente determinará a elevação das

tarifas.

7

A revisão também é de responsabilidade do poder

concedente, em negociação com a concessionária, onde esta deverá

demonstrar que eventos excepcionais provocaram modificações nos

custos e deverá comprovar “a renda da empresa, as despesas do serviço

e a remuneração do capital investido ou a ser investido nas ampliações

necessárias” (Meirelles, 2006, p.243).

Explica Justen Filho (2003, p.319):

Nem edital nem contrato poderão frustrar indiretamente o

direito de o concessionário obter a revisão das tarifas. Não

é juridicamente admissível que se preveja um

procedimento incompatível com o princípio da ampla

defesa e do contraditório. Deverá dar-se oportunidade

para o concessionário produzir provas e a decisão

administrativa deverá ser motivada. Não se admite, enfim,

que a decisão desvincule-se da avaliação da alteração da

equação econômico-financeira e se funde em razões de

conveniência, assim entendidas aquelas relativas aos

interesses secundários.

A revisão é um procedimento que deverá ser pleiteado

pela concessionária e pode vir a ser demorado. Porém, se essa demora for

injustificada, ela caracteriza infringência no processo administrativo,

podendo assim, a concessionária buscar tutela jurisdicional, onde

continuará prestando serviço, e uma demora no pedido de revisão, pode

acarretar desrespeito ao direito constitucionalmente assegurado a ela.

8

1.2 NATUREZA JURÍDICA DA TARIFA

1.2.1 Diferença entre tarifa e taxa

A diferença entre taxa e tarifa (preço público) é uma

questão complexa para os doutrinadores, já que são espécies autônomas

de remuneração dos serviços públicos.

Taxa é uma obrigação instituída por lei, onde as pessoas

que se encontram na situação de usuário, custeiam determinado serviço

jurídico-administrativo do Estado.

Deve respeitar o princípio da anualidade (ser instituída e estar

vigente em um ano, para ser exigida no seguinte).

A previsão da cobrança de taxas encontra-se na Constituição

da República Federativa do Brasil de 19882, em seu art. 145, II:

Art. 145 A União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

[...]

II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou

pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos

específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos

a sua disposição;

No caso de taxa, aplica-se o regime tributário, e é uma

cobrança a ser utilizada quando o consumo de serviço público for

compulsório. As taxas somente podem ser instituídas em ato

2 A partir de agora a respectiva Constituição da República Federativa do Brasil será apresentada sobre a abreviatura C.R.F.B./88.

9

materialmente legislativo, por força do princípio da representação como

base do poder impositivos fiscal.

Gasparini (2004, p.287), define: “Os serviços públicos são

remunerados por taxa ou tarifa. São remunerados por taxa sempre que

sua utilização pelo administrado for obrigatória, não importando, neste

caso, se há, ou não, efetiva utilização”.

Já a tarifa, é uma obrigação assumida voluntariamente.

Depende da adesão por parte do usuário e por ser contratual não tem

caráter compulsório. Compulsoriedade é conseqüência e não causa da

distinção entre taxa e tarifa. Para, em certa situação, ter-se uma taxa

(“compulsória”) ou um preço (“voluntário”), seria preciso definir, antes,

qual dessas figuras deve (ou pode) ser aplicada. Se cabível a taxa, a

“compulsoriedade” seria mera conseqüência do seu regime jurídico.

Se houver outra opção para o indivíduo fruir a utilidade

que é objeto do serviço público, este serviço será remunerado por tarifa,

caso contrário, por taxa.

Entendendo-se, portanto, por tarifa, a quantia entregue

pelos particulares usuários às empresas concessionárias que exploram

serviços públicos. É o quantum a ser pago pelo usuário para remunerar os

serviços públicos facultativos, ou seja, o serviço é oferecido aos utentes,

mas estes utilizam quando e se desejarem. A fixação deste valor é feita

pelo poder público (Estado), e seu regime é de direito administrativo. É

chamada também de preço público, pois quando o preço de certa

quantidade de serviço vem fracionado em unidade, ele se traduz em

tarifa (grifo nosso).

Escreve Laubaudére apud Justen Filho (2003, p.274):

Nas relações entre concedente e concessionário, a

questão da natureza jurídica da tarifa é muito discutida. A

10

maioria dos autores que admitem a natureza mista da

concessão de serviço público não hesitam em considerar a

tarifa como parte das cláusulas regulamentares desta. Sem

dúvida, as quantias autorizadas pelas cláusulas tarifárias

correspondem a vantagens financeiras reconhecidas à

concessionária a título de remuneração, mas não é menos

verdade que a tarifa constitui elemento essencial das

regras de funcionamento do serviço público.

A tarifa deve ser instituída por decreto.

A natureza regulamentar da tarifa determina que é

proibido ao concessionário qualquer elevação unilateral das quantias

estabelecidas. Desse modo, essa quantia paga pelo usuário não pode ser

considerada contribuição fiscal (como a taxa e o imposto, por exemplo),

já que não é o Fisco que impõe a cobrança. Tarifa não é um tributo. “O

fato de constituir emanação da vontade do Estado não é suficiente para

instituir às tarifas natureza tributária” (Cretella, 2002, p 410).

Segue a distinção de Justen Filho (2006, p.528):

A primeira diferença entre taxa e tarifa se relaciona com a

cobrança por serviços potenciais, colocados à disposição

do usuário. O regime jurídico da taxa se caracteriza pela

possibilidade de exigência do pagamento da prestação

tributária mesmo quando não tiver ocorrido a fruição

efetiva do serviço público. Já o regime jurídico da tarifa

não comporta solução exatamente idêntica – ainda que

possa admitir a existência de tarifas mínimas. Não é possível

o usuário ser constrangido, contra a própria vontade, a

usufruir o serviço e pagar a tarifa.

A segunda diferença consiste no princípio da estrita

legalidade, característico do direito tributário. Consagrado

no art. 150, I, traduz-se na necessidade de todos os

11

aspectos do tributo serem definidos por lei, eliminando-se a

discricionariedade administrativa. Uma taxa de serviço

público apenas pode ser cobrada se tiver sido instituída em

lei, e é necessário que seu montante conste de um

mandamento normativo legal. Já a tarifa tem regime

jurídico distinto, sendo fixada na via administrativa. Não se

sujeita ao princípio da estrita legalidade, seja no tocante à

sua instituição, seja no relativo à sua modificação.

A terceira diferença tem a ver com o princípio da

anterioridade, pelo qual nenhum tributo será exigido no

mesmo exercício em que tiver sido publicada a lei que o

instituiu ou aumentou (Constituição, art. 150, III, b). O

princípio se aplica a taxas, e não a tarifas.

Ainda, sobre a diferenciação de taxa e preço público

na natureza do serviço, Canto apud Amaro (1999, p.89) afirma:

(...) aquele que se apresentar como emanação necessária

do poder soberano do Estado ensejaria a cobrança de

taxa (por exemplo, a expedição de passaporte); já se

cuidaria de preço se o serviço não é necessariamente

público (por exemplo, serviço de telefonia).

Cumprindo mandamento constitucional (art. 175, §

único, III), a Lei nº. 8.987/95 regulou a matéria relativa à política tarifária

(arts. 8º a 13).

1.2.2 Elementos integrantes da tarifa

A prerrogativa de estabelecer e regular tarifas é

considerada inerente ao poder de polícia, baseando-se “no princípio de

que o Estado regula todo o serviço público sobre pontos básicos, fixados

ou não, desde que não interfiram no direito de propriedade do

12

concessionário, que tem proteção constitucional efetiva dentro e fora da

lei” (Cretella, 2002, p. 409).

Segundo Meirelles (2006, p. 131), poder de polícia é o

“mecanismo de frenagem de que dispõe a Administração Pública para

conter os abusos do direito individual”.

Explica Cretella (2002, p.409):

Em toda tarifa, há elementos essenciais, que devem estar

presentes, caracterizando-a, e que, ausentes, desnaturam

a essência do instituto.

Entre estes, pela importância, estão incluídas a igualdade,

a certeza e a equidade. A igualdade do quanto que cada

usuário pagará se fundamenta no pressuposto jurídico da

igualdade impositiva e de seu corolário prático, a

uniformidade. A certeza da estabilidade da tarifa é outro

elemento do instituto, devendo para isso, revestir-se de

publicidade e de autorização legal. Mediante lei ou

regulamento delegado se procede à fixação da tarifa. A

equidade de sua determinação é enfim, o terceiro

elemento da tarifa, incluindo-se, aqui, a conveniência, a

oportunidade, a razoabilidade, a justiça e a modicidade

das remunerações devidas pelo usuário.

Pode-se perceber claramente que a composição da

tarifa com seus elementos essenciais consiste em critério legal de

segurança, onde esta tarifa, calculada em critérios objetivos é uma

garantia do usuário de serviço público contra possíveis atos abusivos das

concessionárias.

1.2.3 Modalidades de tarifas

13

As principais modalidades de tarifa são a proporcional,

gradual, única e diferencial.

A modalidade de tarifa que estabelece o “preço” do

serviço telefônico é a proporcional, conforme explica Cretella (2002, p.

407):

Proporcional é a tarifa em que o preço varia na razão

direta da utilidade usufruída, como por exemplo, nos

transportes ferroviários, em que o preço varia na medida

do “espaço” percorrido (metrô de Londres, por exemplo),

nas transmissões telegráficas, em que o preço varia na

razão direta das “palavras” utilizadas, nas comunicações

telefônicas medidas em que a unidade de serviço é a

“duração” da conversação.

Esta modalidade de tarifa é baseada no princípio da

proporcionalidade ou razoabilidade, que busca controlar os atos

administrativos e legislativos, exigindo que esses atos estejam adequados

entre os meios utilizados, e os fins desejados.

1.2.4 Modelo Tarifário

Quanto aos modelos tarifários, é necessário fazer uma

distinção entre concorrência ou monopólio. Essa modelagem se relaciona

com os critérios de fixação de tarifas, cuja competência é do poder

concedente.

Sobre o assunto, dispõe Justen Filho (2003, p. 351):

Uma questão fundamental a ser considerada a propósito

do modelo tarifário reside no regime da prestação do

serviço. Se houver concorrência (ausência de

exclusividade), a tendência será que as tarifas sejam

fixadas segundo os mecanismos de mercado. A demanda

14

e a oferta funcionarão como instrumentos autônomos para

determinar os preços, incumbindo ao poder concedente

uma função mais restrita – consistente em evitar práticas

ofensivas à livre competição.

Quando, porém, existir monopólio (natural ou não), a

situação apresenta contornos muito diversos. Não se pode

recorrer a uma competição no mercado para obter a

determinação dos preços. A remuneração pela prestação

do serviço, numa hipótese de monopólio, ou é fixada pelo

único agente econômico ou o Estado assume a

competência para disciplinar o preço.

Ocorre que a maioria dos serviços públicos configura

monopólio natural, onde a exclusividade é imprescindível para que se

obtenha a menor tarifa possível, cabendo, portanto, ao Estado essa

fixação tarifária (tanto na determinação do valor original, quanto nas

variações produzidas ao longo do tempo).

No Brasil as telecomunicações são Monopólio Privativo

da União.

1.2.5 A tarifa de assinatura básica na conta telefônica

A Lei n.º 9.472/97 dispõe sobre a organização dos

serviços de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão

regulador e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda

Constitucional n. 8, de 15 de agosto de 1995, e define em seu Art. 60:

Art. 60 Serviço de Telecomunicações é o conjunto de

atividades que possibilita a oferta de telecomunicação.

§ 1º Telecomunicação é a transmissão, emissão ou

recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou

qualquer outro processo eletromagnético, de símbolos,

15

caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de

qualquer natureza.

Os usuários dos serviços de telecomunicações têm a

falsa impressão de que o terminal de linha telefônica, quando instalado

em sua residência, passa a ser de sua propriedade. Na realidade isso não

ocorre, tanto, que se ele deixa de pagar as contas telefônicas, as

concessionárias estão autorizadas a efetuar o corte do fornecimento do

serviço. Assim, para manter-se habilitado, e poder usufruir, de forma

permanente, mês a mês, este usuário (também denominado assinante),

passa a pagar uma tarifa pública: a tarifa de assinatura básica mensal.

Conforme o Art. 103, § 3º da Lei n.º 9.472/97:

Art. 103. Compete à Agência estabelecer a estrutura

tarifária para cada modalidade de serviço.

(...)

§ 3º As tarifas serão fixadas no contrato de concessão,

consoante edital ou proposta apresentada na licitação.

O serviço de telecomunicações brasileiro é cobrado

através de tarifa mensal, pela empresa concessionária conforme os termos

do contrato de concessão, tema do próximo capítulo.

16

CAPÍTULO 2

A EXPLORAÇÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

2.1 SERVIÇO PÚBLICO

Assim como determinar um conceito para tarifa não é

uma tarefa fácil, definir o serviço público também é um trabalho

complicado, pois sua conceituação vem sofrendo consideráveis

transformações no decorrer do tempo.

2.1.1 Conceitos

Alguns autores adotam conceito amplo, enquanto

outros preferem um conceito restrito.

Exemplo de conceito amplo é o trazido por Masagão

apud Di Pietro (2008, p.90), que levando em consideração os fins do

Estado, considera como serviço público “toda atividade que o Estado

exerce para cumprir os seus fins”. Nesse conceito ele está incluindo a

atividade judiciária e administrativa, onde nesta o Estado decide sobre o

seu próprio procedimento, ao passo que, naquela desempenha função

de terceiro, ao gerenciar o procedimento das partes. Para ele a atividade

legislativa é própria da Administração Pública.

Amplo também é o exemplo de Cretella apud Di Pietro

(2008, p.91), para quem serviço público é “toda atividade que o Estado

exerce, direta ou indiretamente, para a satisfação das necessidades

públicas mediante procedimento típico do direito público”.

Quanto aos conceitos restritos dispõe Di Pietro (2008,

p.91):

Restritos são os conceitos que confinam o serviço público

entre as atividades exercidas pela Administração Pública,

17

com exclusão das funções legislativa e jurisdicional; e, além

disso, o consideram como uma das atividades

administrativas, perfeitamente distinta do poder de polícia

do Estado. Parte-se da distinção entre atividade jurídica e

atividade social.

Meirelles (2006, p.329) define serviço público como:

(...) todo aquele prestado pela Administração ou por seus

delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer

necessidades essenciais ou secundárias da coletividade, ou

simples conveniências do Estado.

Para melhor compreensão dos conceitos de serviço

público, é necessário apresentar a evolução que o mesmo vem sofrendo.

2.1.2 Elementos da definição

Quando surgiram as primeiras noções de serviço público

os autores adotavam três critérios para defini-lo: o elemento subjetivo, o

elemento material e o elemento formal.

O elemento subjetivo explica que o serviço público é

sempre incumbência do Estado, conforme está expresso no artigo 175 da

C.R.F.B./88, dependendo do Poder Público a sua criação (feita por lei e

correspondente a uma opção do Estado) e a sua gestão (Estado pode

fazê-lo diretamente por órgãos que compõe a Administração Pública, ou

indiretamente por meio de concessão ou permissão).

Quanto ao elemento subjetivo, Gasparini (2004, p.277)

esclarece que:

(...) o serviço público é um complexo de órgãos, agentes e

recursos da Administração Pública, destinados à satisfação

das necessidades dos administrados. Equivale, pois, a um

18

organismo ou parte do aparelho estatal com tal precípua

finalidade.

Em sentido material, também chamado de objetivo, “o

serviço público é uma função, uma tarefa, uma atividade da

Administração Pública, destinada a satisfazer necessidades de interesse

geral dos administrados”, conforme conceitua Gasparini (2004, p.277).

Em sentido formal, serviço público é a atividade

desempenhada por alguém (Poder Público ou seus delegados), sob regras

exorbitantes do Direito Comum, para a satisfação dos interesses dos

administrados. É a submissão de certa atividade a um regime de Direito

Público.

Explica Justen Filho (2006, p. 491):

A qualificação formal é logicamente dependente das

outras duas. O serviço público se peculiariza pela existência

de um regime jurídico específico. Mas a aplicação desse

regime depende da presença de certos requisitos. Todo

serviço público está sujeito ao regime de direito público,

mas nem toda atividade (estatal ou privada) é um serviço

público. Uma questão fundamental, portanto, reside em

determinar quando e porque uma atividade pode (ou

deve) ser considerada serviço público e, desse modo,

submeter-se a um regime jurídico peculiar.

Complementa ainda Di Pietro (2008, p. 95):

Aplica-se também o direito público no que diz respeito às

relações entre a entidade prestadora do serviço e a pessoa

jurídica política que a instituiu. Vale dizer, o regime jurídico,

nesse caso, é híbrido, podendo prevalecer o direito público

ou o direito privado, dependendo do que dispuser a lei em

19

cada caso; nunca se aplicará, em sua inteireza, o direito

comum tal qual aplicado às empresas privadas.

Há certos requisitos necessários para uma atividade ser

qualificada como serviço público e, desse modo, sujeitar-se ao regime

jurídico correspondente. É o que se verá a seguir.

2.1.3 Requisitos do serviço público

Os requisitos do serviço público ou, ainda, pode-se

chamá-lo de serviço de utilidade pública, são essenciais para a sua

regulamentação e controle. Faltando qualquer desses requisitos em um

serviço público (ou de utilidade pública), é dever da Administração intervir

para restabelecer seu regular funcionamento ou retomar sua prestação,

onde pode, após o devido processo legal, aplicar as penas cabíveis

quando o serviço for executado por concessionários ou permissionários.

Quanto aos requisitos da regularidade e da

continuidade, explica Gasparini (2004, p.285):

A regularidade exige que os serviços sejam prestados

conforme padrões de qualidade e quantidade impostos

pela Administração Pública tendo em vista o número e as

exigências dos usuários, observando-se, ainda as condições

técnicas exigidas pela própria natureza do serviço público

e as condições de sua prestação.

A continuidade impõe ao serviço público o caráter de ser

contínuo, sucessivo. Não caracteriza descontinuidade da

prestação do serviço público quando interrompido em

face de uma situação de emergência ou quando sua

paralisação se der, após competente aviso, por motivo de

ordem técnica ou de segurança das instalações, ou inda,

por falta de pagamento dos usuários, conforme estabelece

o § 3º do art. 6º da Lei Federal de Concessões e Permissões.

20

Há ainda os requisitos da eficiência, segurança e

atualidade, conforme, segue o entendimento de Gasparini (2004, p.285):

A eficiência exige bom resultado prático da prestação.

Deve-se buscar o máximo de resultado com um mínimo de

investimento, barateando a sua prestação e, por

conseguinte, o custo para os usuários.

O serviço público deve ser prestado aos usuários com

segurança, tendo em vista a natureza do serviço. Nada

deve ser menosprezado se puder, por qualquer modo,

colocar em risco os usuários do serviço público ou terceiros

ou, ainda, bens públicos e particulares. Não deve haver

qualquer descuido ou omissão, por menor que seja, na

execução dos serviços de manutenção dos equipamentos

utilizados na prestação dos serviços públicos. As falhas

devem ser imediatamente corrigidas, substituindo-se as

peças impróprias ou promovendo a renovação do próprio

equipamento.

A atualidade significa que a prestação dos serviços

públicos deve acompanhar as modernas técnicas de

oferecimento aos usuários.

E, ainda no mesmo norte, Gasparini (2004, p.285)

completa seu entendimento quanto aos requisitos da generalidade,

cortesia e modicidade:

A generalidade significa que o oferecimento do serviço

público deve ser igual para todos. Essa generalidade é

decorrente do princípio da igualdade, tracejado no art. 5º

da Constituição Federal.

Pelo princípio da cortesia, obriga-se a Administração

Pública a oferecer aos usuários de seus serviços um bom

tratamento.

21

A modicidade impõe sejam os serviços públicos prestados

mediante taxas ou tarifas justas, pagas pelos usuários para

remunerar os benefícios recebidos e permitir o seu

melhoramento e expansão. Assim, os serviços públicos não

devem ser prestados com lucros ou prejuízos, mas mediante

retribuição que viabilize esses interesses.

Esses requisitos do serviço público são sintetizados,

modernamente, em princípios que a Administração deve ter sempre

presentes, para exigi-los de quem o preste.

2.1.4 Princípios do serviço público

Na prestação dos serviços públicos pela Administração

Pública, sua titular, ou por terceiros, seus concessionários ou

permissionários, devem ser observados os princípios da continuidade, da

mutabilidade e da igualdade.

Justen Filho (2006, p.498) explica:

A continuidade significa que a atividade de serviço público

deverá desenvolver-se regularmente, sem interrupções.

Dela derivam inúmeras conseqüências jurídicas, entre as

quais a impossibilidade de suspensão dos serviços por parte

da Administração ou do delegatário e a responsabilização

civil do prestador do serviço em caso de falha.

A continuidade do serviço público também justifica a

utilização do poder de coação estatal para assegurar a

supressão de obstáculos a tanto ou para produzir medidas

necessárias a manter a atividade em funcionamento.

Há uma contrapartida para a continuidade, que se traduz

na intangibilidade da equação econômico-financeira para

o delegatário do serviço público, e, para o usuário, o direito

a ser indenizado por todos os prejuízos decorrentes da

22

descontinuidade da prestação do serviço em situação de

normalidade.

Quanto ao princípio da mutabilidade, Di Pietro (2008,

p.100) nos ensina:

O princípio da mutabilidade do regime jurídico ou da

flexibilidade dos meios aos fins autoriza mudanças no

regime da execução do serviço para adaptá-lo ao

interesse público, que é sempre variável no tempo. Em

decorrência disso, nem os servidores públicos, nem os

usuários dos serviços públicos, nem os contratados pela

Administração têm direito adquirido à manutenção de

determinado regime jurídico; o estatuto dos funcionários

pode ser alterado, os contratos também podem ser

alterados ou mesmo rescindidos unilateralmente para

atender ao interesse público.

Acrescenta, ainda, Justen Filho (2006, p.499):

A mutabilidade retrata a vinculação do serviço público à

necessidade a ser satisfeita e às concepções técnicas de

satisfação. É da essência do serviço público sua

adaptação conforme a variação das necessidades e a

alteração dos modos possíveis de solução. Há um dever

para a Administração de atualizar a prestação do serviço,

tomando em vista as modificações técnicas, jurídicas e

econômicas supervenientes. Isso significa a ausência de

direito adquirido dos prestadores do serviço e dos usuários à

manutenção das condições anteriores ou originais.

Conforme Di Pietro (2008, p.100), pelo princípio da

igualdade dos usuários “perante o serviço público, desde que a pessoa

satisfaça às condições legais, ela faz jus a prestação do serviço, sem

qualquer distinção de caráter pessoal”.

23

Ainda sobre o princípio da igualdade, dispõe Justen

(2006, p.498):

A igualdade envolve o tratamento não discriminatório e

universal para todos os usuários. Não se pode restringir o

acesso aos benefícios do serviço público para os sujeitos

que se encontrem em igualdade de condições. Nesse

ponto, o intérprete se depara com a conhecida

dificuldade inerente ao princípio da isonomia, relacionada

ao problema de identificar os limites da igualdade.

Todos esses princípios e requisitos acima citados

observam o inciso IV do artigo 175 da C.R.F.B./88 que obriga a prestação

de “serviço adequado”.

2.1.5 Classificação dos serviços públicos

Pode-se levar em conta como critério de classificação

dos serviços públicos, os seguintes elementos: a entidade a quem foram

atribuídos, a essencialidade, os usuários, a obrigatoriedade da utilização e

a execução.

Quanto à entidade a quem foram atribuídos, são:

federais, estaduais, distritais e municipais.

Quanto à essencialidade, podem ser: essenciais e não

essenciais.

Dispõe Gasparini (2004, p. 282):

São essenciais os assim considerados por lei ou os que pela

própria natureza são tidos como de necessidade pública, e

em princípio de execução privativa da Administração

Pública.

(...)

24

São não essenciais os assim considerados por lei ou os que,

pela própria natureza, são havidos de utilidade pública,

cuja execução é facultada aos particulares. Se preferir, são

os que não são de execução privativa da Administração

Pública, por exemplo, os serviços funerários.

Quanto aos usuários, são gerais e específicos.

Explica Gasparini (2004, p. 282):

São gerais os que atendem a toda população

administrada, sem objetivar utentes determinados; alguns

os chamam de serviços indivisíveis. São dessa natureza os

serviços de segurança pública e os de segurança nacional.

Específicos são os que satisfazem os usuários certos, que os

fruem individualmente, designados por alguns autores, de

serviços divisíveis. Como exemplos temos os serviços de

telefonia, postal e de distribuição domiciliar de água.

Já em razão da obrigatoriedade da utilização, são

compulsórios e facultativos, conforme o entendimento de Gasparini (2004,

p. 282):

Compulsórios são impingidos aos administrados, nas

condições estabelecidas em lei, a exemplo dos serviços de

coleta de lixo, de esgoto, de vacinação obrigatória, de

internação de doentes portadores de doenças de caráter

infecto-contagioso. Facultativos são os colocados à

disposição dos usuários sem lhes impor a utilização, a

exemplo do serviço de transporte coletivo. Os compulsórios,

quando remunerados, o são por taxa, enquanto os

facultativos o são por tarifa ou preço. O fornecimento dos

compulsórios não pode ser interrompido, mesmo que não

ocorra o oportuno pagamento, enquanto o fornecimento

25

dos serviços facultativos, ante a falta do pagamento

correspondente, pode ser interrompido.

Tomando-se por base a forma de execução, os serviços

públicos são de execução direta e de execução indireta.

Di Pietro (2008, p. 100), explica que:

Serviços públicos próprios são aqueles que, atendendo a

necessidades coletivas, o Estado assume como seus e os

executa diretamente (por meio de seus agentes) ou

indiretamente (por meio de concessionários e

permissionários). E serviços públicos impróprios são os que,

embora atendendo também a necessidades coletivas,

como os anteriores, não são assumidos nem executados

pelo Estado, seja direta ou indiretamente, mas apenas por

ele autorizados, regulamentados e fiscalizados; eles

correspondem a atividades privadas e recebem

impropriamente o nome de serviços públicos, porque

atendem a necessidades de interesse geral; vale dizer que,

por serem atividades privadas, são exercidas por

particulares, mas, por atenderem a necessidades coletivas,

dependem de autorização do Poder Público, sendo por ele

regulamentadas e fiscalizadas; ou seja, estão sujeitas a

maior ingerência do poder de polícia do Estado.

É sobre a prestação do serviço público indireto prestado

pelas concessionárias através de seu contrato de concessão que tratará o

próximo tópico.

2.2 CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO

Para fins de sistematização da matéria faz-se necessária

uma definição de concessão.

26

Para Masagão apud Di Pietro (2004, p. 273) “concessão

é uma espécie, em cujas manifestações se verifica, sempre, a

incumbência de um serviço público a uma pessoa de direito privado, que

em seu nome os exerça”.

Para Franco Sobrinho apud Di Pietro (2004, p.274) “toda

concessão implica a transferência de poderes da Administração para o

particular, com vistas à execução de serviço público”.

No que diz respeito ao objeto da concessão, existem

várias modalidades sujeitas a regime jurídico parcialmente diferenciado:

concessão de serviço público, concessão patrocinada, concessão

administrativa, concessão de obra pública e concessão de uso de bem

público.

Para o fim específico desta pesquisa é a concessão de

serviço público que interessa pois é o tema objeto da mesma.

2.2.1 Conceitos e características da concessão de serviço público

A concessão de serviço público é disciplinada pela Lei

nº. 8.987/95 e foi a primeira forma que o poder público utilizou para

transferir a terceiros a execução de serviço público.

No entendimento de Di Pietro (2008, p.278):

Concessão de serviço público é o contrato administrativo

pelo qual a Administração Pública delega a outrem a

execução de um serviço público, para que o execute em

seu próprio nome, por sua conta e risco, assegurando-lhe a

remuneração mediante tarifa paga pelo usuário ou outra

forma de remuneração decorrente da exploração do

serviço.

Para Meirelles (2006, p.385):

27

Concessão é a delegação contratual da execução do

serviço, na forma autorizada e regulamentada pelo

Executivo. O contrato de concessão é ajuste de Direito

Administrativo, bilateral, oneroso, cumulativo e realizado

intuitu personae. Com isto se afirma que é um acordo

administrativo (e não um ato unilateral da Administração),

com vantagens e encargos recíprocos, no qual se fixam as

condições de prestação do serviço, levando-se em

consideração o interesse coletivo na sua obtenção e as

condições pessoais de quem se propõe a executá-lo por

delegação do poder concedente. Sendo um contrato

administrativo, como é, fica sujeito a todas as imposições

da Administração necessárias à formalização do ajuste,

dentre as quais a autorização governamental, a

regulamentação e a licitação (itálico no original).

O instituto da concessão apresenta características

inconfundíveis, assim expostos por Cretella (2002, p. 389):

(...) a) a existência de relação administrativa entre a pessoa

jurídica de direito público – a Administração - e a pessoa

jurídica de direito privado – o administrado -, pela qual a

primeira (a concedente) incumbe a segunda pessoa (a

concessionária) da gestão de um serviço público; b) a

incumbência não é genérica, mas específica (intuitu

personae), pois o poder público leva em conta a

idoneidade da pessoa a quem transfere as atividades; c)a

incumbência é feita por tempo determinado; d) o serviço

público é exercido pelo concessionário, no próprio nome;

e) a Administração não delega ao concessionário poderes

públicos, mas o direito ao exercício desses poderes, o que

lhe possibilita tomar uma série de medidas necessárias ao

desempenho integral da incumbência; f) os riscos advindos

da exploração do serviço público concedido, cabem, tão-

28

só, ao concessionário; g)o concessionário, ao invés de

receber do Estado, recebe dos usuários, em decorrência

da utilização efetiva do serviço público, as respectivas

tarifas, em vigor durante o prazo da concessão e

inalteráveis unilateralmente, pela empresa concessionária.

Pela concessão o Estado (poder concedente) não

transfere propriedade alguma ao concedente. Ele apenas delega a

execução de serviço, conforme as condições legais ou contratuais

estabelecidas, estando sempre sujeita a regulamentação e fiscalização

do concedente.

2.2.2 Regulamentação

A regulamentação dos serviços concedidos compete

ao Poder Público, por determinação constitucional, conforme o art. 175,

parágrafo único, que dispõe:

Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,

diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,

sempre através de licitação, a prestação de serviços

públicos.

Parágrafo único. A lei disporá sobre:

I – o regime das empresas concessionárias e permissionárias

de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e

de sua prorrogação, bem como as condições de

caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou

permissão;

II- os direitos dos usuários;

III – política tarifária;

IV – a obrigação de manter o serviço adequado.

29

Quanto à determinação legal, o art. 29, I, da Lei

8.987/95 determina que:

Art. 29. Incumbe ao poder concedente:

I - regulamentar o serviço concedido e fiscalizar

permanentemente a sua prestação;

Meirelles (2006, p.389) afirma que:

Toda concessão, portanto, fica submetida a duas

categorias de normas: as de natureza regulamentar e as de

ordem contratual. As primeiras disciplinam o modo e a

forma de prestação do serviço; as segundas fixam as

condições de remuneração do concessionário; por isso,

aquelas são denominadas leis do serviço, e estas, cláusulas

econômicas ou financeiras. Como as leis, aquelas são

alteráveis unilateralmente pelo Poder Público segundo as

exigências da comunidade; como cláusulas contratuais,

estas são fixas, só podendo ser modificadas por acordo

entre as partes (itálico no original).

O Poder Público possui a faculdade de, nos poderes de

regulamentação e controle, modificar a qualquer tempo o

funcionamento do serviço concedido, desde que vise à sua melhoria e

aperfeiçoamento técnico, ou, ainda, de aplicar penalidades para que a

concessionária execute o serviço que lhe foi designado, em condições

satisfatórias.

2.2.3 Licitação

Necessária se faz a inclusão de um conceito de

licitação. No entendimento de Mello (2005, p.493):

30

Licitação é um certame que as entidades governamentais

devem promover e no qual abrem disputa entre os

interessados em com elas travar determinadas relações de

conteúdo patrimonial, para escolher a proposta mais

vantajosa às conveniências públicas. Estriba-se na idéia de

competição, a ser travada isonomicamente entre os que

preencham os atributos e aptidões necessários ao bom

cumprimento das obrigações que se propõem assumir

(itálico no original).

A concessão deve ser feita sempre através de licitação,

conforme o art. 175 da C.R.F.B./88. A modalidade cabível é a

concorrência, segundo dispõe o art. 2º, II da Lei 8.987/95:

Art. 2o Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:

(...)

II - concessão de serviço público: a delegação de sua

prestação, feita pelo poder concedente, mediante

licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa

jurídica ou consórcio de empresas que demonstre

capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e

por prazo determinado;

Porém, este dispositivo não contém a ressalva do art. 37,

XXI, da Constituição, que permite contratação direta nas hipóteses

previstas em lei, conforme determina o artigo:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte:

31

(...)

XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as

obras, os serviços, compras e alienações serão contratados

mediante processo de licitação pública que assegure

igualdade de condições a todos os concorrentes, com

cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento,

mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da

lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação

técnica e econômica indispensáveis à garantia do

cumprimento das obrigações;

Assim, não se aplicam às licitações para concessão de

serviço público os casos de dispensa de licitação previstos na Lei n. º

8.666/93 que institui normas para licitações e contratos da Administração

Pública e dá outras providências. Admite-se a declaração de

inexigibilidade desde que se demonstre a inviabilidade de competição.

2.2.4 Contrato de concessão de serviço público

Quanto ao contrato de concessão, Meirelles (2006, p.

392), assim o define:

O contrato de concessão é o documento escrito que

encerra a delegação do poder concedente, define o

objeto da concessão, delimita a área, forma e tempo da

exploração, estabelece os direitos e deveres das partes e

dos usuários do serviço.

No dizer de Cretella (2002, p. 242) “a natureza jurídica

da concessão de serviço público é a de um contrato de direito público,

oneroso, sinalagmático, perfeito, comutativo, realizado ‘intuitu personae’

e do tipo dos contratos de adesão”.

32

E decompondo o conceito, Cretella (2002, p.242)

explica:

Contrato, porque há livre acordo de vontade entre o

Estado e o concessionário. De direito público, porque os

princípios que informam esse acordo são princípios

publicísticos, o que revela, entre as cláusulas, a existência

das denominadas ‘cláusulas obrigatórias’, ou ‘cláusulas

exorbitantes’ do direito comum (direito civil). Oneroso,

porque o concessionário, que presta o serviço público, tem

o direito de receber, em contrapartida, quantias em

dinheiro, por parte dos usuários (tarifas), ao contrário do

comodatário, que celebra contrato gratuito.

Explica, ainda, Cretella (2002, p.242):

Sinalagmático, porque gera obrigações para ambos os

contratantes, Estado e concessionário. Perfeito, porque as

partes se obrigam, reciprocamente, desde o início do

contrato: o Estado, em várias cláusulas, promete atender

ao concessionário; este, por sua vez, promete gerir o

serviço público. Comutativo: as prestações de ambas as

partes são eqüipolentes e equivalentes. Intuitu personae,

porque a Administração indaga da idoneidade moral e

financeira do concessionário. Adesão, porque o

concessionário adere ‘em bloco’, às cláusulas estipuladas

pelo Estado, sem discuti-las.

Quanto às cláusulas essenciais do contrato de

concessão, a Lei 8.987/95 as contemplou em seu art. 23:

Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de concessão

as relativas:

I - ao objeto, à área e ao prazo da concessão;

33

II - ao modo, forma e condições de prestação do serviço;

III - aos critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros

definidores da qualidade do serviço;

IV - ao preço do serviço e aos critérios e procedimentos

para o reajuste e a revisão das tarifas;

V - aos direitos, garantias e obrigações do poder

concedente e da concessionária, inclusive os relacionados

às previsíveis necessidades de futura alteração e expansão

do serviço e conseqüente modernização,

aperfeiçoamento e ampliação dos equipamentos e das

instalações;

VI - aos direitos e deveres dos usuários para obtenção e

utilização do serviço;

VII - à forma de fiscalização das instalações, dos

equipamentos, dos métodos e práticas de execução do

serviço, bem como a indicação dos órgãos competentes

para exercê-la;

VIII - às penalidades contratuais e administrativas a que se

sujeita a concessionária e sua forma de aplicação;

IX - aos casos de extinção da concessão;

X - aos bens reversíveis;

XI - aos critérios para o cálculo e a forma de pagamento

das indenizações devidas à concessionária, quando for o

caso;

XII - às condições para prorrogação do contrato;

34

XIII - à obrigatoriedade, forma e periodicidade da

prestação de contas da concessionária ao poder

concedente;

XIV - à exigência da publicação de demonstrações

financeiras periódicas da concessionária; e

XV - ao foro e ao modo amigável de solução das

divergências contratuais.

Parágrafo único. Os contratos relativos à concessão de

serviço público precedido da execução de obra pública

deverão, adicionalmente:

I - estipular os cronogramas físico-financeiros de execução

das obras vinculadas à concessão; e

II - exigir garantia do fiel cumprimento, pela concessionária,

das obrigações relativas às obras vinculadas à concessão.

O contrato de concessão, como os demais contratos

administrativos, pode ser alterado unilateralmente pela Administração.

Mas essa alteração restringe-se às cláusulas regulamentares ou de serviço,

sempre para melhor atendimento do público. Além disso, toda vez que ao

modificar o contrato o concedente alterar o equilíbrio econômico e

financeiro, terá que reajustar as cláusulas remuneratórias da concessão,

adequando as tarifas aos novos encargos acarretados ao concessionário,

conforme o art. 9º, § 4º da lei 8.987/95 citado anteriormente.

Assim, conclui Meirelles (2006, p. 394):

Inegável é, portanto, que o contrato de concessão cria

direitos e obrigações individuais para as partes. Dentre os

direitos encontra-se o de o concessionário auferir as

vantagens de ordem pecuniária que o contrato lhe

35

garantiu. Satisfeitas as condições contratuais pelo

concessionário, a rentabilidade assegurada à empresa

erige-se em direito adquirido, exigível do concedente na

forma avençada. Qualquer modificação unilateral,

posterior, da norma legal ou regulamentar ou de cláusula

contratual pertinente ao serviço não invalida as vantagens

contratuais asseguradas ao concessionário, porque tais

modificações não podem ter efeito retroativo prejudicial

ao direito adquirido, preservado por disposição

constitucional (art. 5º, XXXVI).

Em se tratando de concessões o termo de contrato é

obrigatório, mesmo porque não há cabimento em notas de empenho ou

documentos similares.

2.2.5 Fiscalização e intervenção na concessão

A fiscalização do serviço concedido cabe ao Poder

Público concedente.

Segundo a doutrina de Meirelles (2006, p. 394), o Poder

Público concedente “é o fiador de sua regularidade e boa execução

perante os usuários”.

Os serviços públicos, ou, os serviços de utilidade pública

são sempre serviços para o público. Assim, Meirelles (2006, p.394) explica

que “é dever do concedente exigir sua prestação em caráter geral,

permanente, regular, eficiente e com tarifas módicas” (itálico no original).

Essa prestação de serviço público deve atender ao

respectivo regulamento e às cláusulas contratuais específicas, buscando a

satisfação dos seus usuários, obedecendo, ainda, os princípios da

generalidade (serviço deve ser prestado para todos os usuários); da

permanência ou continuidade (impõe serviço sem interrupções na área e

36

período da sua prestação); da eficiência (prestação de serviço satisfatório

em qualidade e quantidade); da modicidade (preços razoáveis ao

alcance dos usuários); e da cortesia (concessionária deve oferecer um

bom tratamento ao público).

Ainda, no entendimento de Meirelles (2006, p. 394-395):

Para assegurar os requisitos, indispensáveis em todo serviço

concedido, reconhece-se à Administração Pública o direito

de fiscalizar as empresas, com amplos poderes de

verificação de sua administração, contabilidade, recursos

técnicos, econômicos e financeiros, principalmente para

conhecer a rentabilidade do serviço, fixar as tarifas justas e

punir as infrações regulamentares contratuais.

Sobre a fiscalização determina o art. 30, parágrafo

único, da Lei 8.987/95:

Art. 30. No exercício da fiscalização, o poder concedente

terá acesso aos dados relativos à administração,

contabilidade, recursos técnicos, econômicos e financeiros

da concessionária.

Parágrafo único. A fiscalização do serviço será feita por

intermédio de órgão técnico do poder concedente ou por

entidade com ele conveniada, e, periodicamente,

conforme previsto em norma regulamentar, por comissão

composta de representantes do poder concedente, da

concessionária e dos usuários.

Ainda, no poder de fiscalizar, está implícito o poder de

intervir para regularizar o serviço se este estiver sendo prestado

inadequadamente aos usuários ou em casos de paralisação, conforme

determina o art. 29, III da Lei 8.987/95.

37

Este ato de intervenção deve ser expedido pelo poder

concedente (Estado) e deve indicar os motivos da medida e o prazo de

sua duração (art. 32, caput da Lei 8.987/95).

A intervenção deve ser provisória, visto que, se definitiva,

importaria encampação do serviço (retomada coativa) ou rescisão do

contrato.

No intuito de fiscalizar o bom andamento das concessões de

serviço público, foram criadas as Agências Reguladoras, tema do próximo

capítulo.

38

CAPÍTULO 3

AGÊNCIAS REGULADORAS

3.1 AGÊNCIAS REGULADORAS

Em sentido amplo, no direito brasileiro, agência

reguladora pode ser qualquer órgão da Administração Direta ou entidade

da Administração Indireta com função de regular matéria específica.

3.1.1 Conceitos e características

As agências reguladoras, no Brasil, foram constituídas como

autarquias de regime especial integrantes da administração indireta,

vinculadas ao Ministério competente para tratar da respectiva atividade.

Conforme entendimento de Moraes A. (2002, p.24) isso ocorreu, “apesar

de caracterizadas pela independência administrativa, ausência de

subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade; ausência de

possibilidade de demissão ad nutum de seus dirigentes e autonomia

financeira”.

No entendimento de Di Pietro (2008, p. 446):

As atribuições das agências reguladoras, no que diz

respeito à concessão, permissão e autorização de serviço

público resumem-se ou deveriam resumir-se às funções que

o poder concedente exerce nesses tipos de contratos ou

atos de delegação: regular os serviços que constituem

objeto da delegação, realizar o procedimento licitatório

para escolha do concessionário, permissionário ou

autorizatário, celebrar o contrato de concessão ou

permissão ou praticar ato unilateral de outorga da

autorização, definir o valor da tarifa e da sua revisão ou

reajuste, controlar a execução dos serviços, aplicar

39

sanções, encampar, decretar a caducidade, intervir, fazer

a rescisão amigável, fazer a reversão de bens ao término

da concessão, exercer o papel de ouvidor de denúncias

ou reclamações dos usuários, enfim, exercer todas as

prerrogativas que a lei outorga ao Poder Público na

concessão, permissão e autorização. Isto significa que a lei

ao criar a agência reguladora, está tirando do Poder

Executivo todas essas atribuições para colocá-las nas mãos

da agência.

Para Justen Filho (2006, p. 475), “Agência Reguladora

independente é uma autarquia especial, sujeita a regime jurídico que

assegure sua autonomia em face da Administração direta e investida de

competência pra regulação setorial.

Já para Menezello (2002, p. 65):

(...) a missão das agências é regular, normatizar, controlar e

fiscalizar as atividades desenvolvidas por particulares, tendo

em vista o interesse público. Com isto, podemos deduzir

que as competências atribuídas às agências são apenas

aquelas constantes da legislação, porque “inexiste poder

para a Administração Pública” que não seja concedido

pela lei: o que ela não concede expressamente, nega-lhe

implicitamente.

É o artigo 37, inciso XIX da C.R.F.B./88, que determina

que somente por lei específica poderá ser criada autarquia, estando lá

exposto que:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte:

40

(...) XIX – somente por lei específica poderá ser criada

autarquia e autorizada a instituição de empresa pública,

de sociedade de economia mista e de fundação,

cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as

áreas de sua atuação;

As agências reguladoras têm como função a regulação das

matérias de sua área de atuação e a missão de fiscalizar a eficiência da

prestação de serviços públicos pelos concessionários, permissionários e

autorizados.

Apesar de fazer parte da Administração Pública indireta,

as agências reguladoras tem maior independência (funcional e

financeira) em relação ao Poder Executivo.

Ao tratar sobre o assunto, Moraes A. (2002, p. 25) discorre que:

A independência funcional e financeira das Agências

Reguladoras é consagrada pela presença dos seguintes

preceitos obrigatórios em suas leis de criação:

independência financeira; escolha dos instrumentos de

regulação; e modo de nomeação de seus dirigentes.

A independência financeira deverá ser assegurada pela

disponibilidade de recursos humanos e infra-estrutura

material fixadas em lei, além da previsão de dotações

consignadas no orçamento geral da União, créditos

especiais, transferências e repasses que lhe forem

conferidos.

Ainda sobre o assunto, Moraes A. (2002, p.26), esclarece:

Em relação ao modo de nomeação de seus dirigentes, as

leis instituidoras das Agências Reguladoras devem prever

mandato certo e impossibilidade de demissão ad nutum

41

pelo Chefe do Poder Executivo. A escolha dos dirigentes

das Agências Regulatórias pelo Presidente da República

também deveria ser feita com base em critérios

capacitários previstos em lei, a fim de diminuir a ingerência

política das nomeações.

A previsão de mandato certo também parece garantia de

independência e será mais completa se sua duração não

coincidir com a duração do mandato presidencial

Ainda em relação ao mandato dos dirigentes das

agências reguladoras é importante a previsão de “quarentena”,

impossibilitando os dirigentes de assumir cargos em empresas com as quais

a agência reguladora mantinha relação de fiscalização. Esse período de

40 dias é contado da exoneração ou do término do seu mandato

(conforme o artigo 8º da Lei n.º 9.986/2000 que dispõe sobre a gestão de

recursos humanos das Agências Reguladoras e dá outras providências).

No Brasil, as agências reguladoras, como a Anatel

(Agência Nacional de Telecomunicações), vêm sendo criadas como

autarquias de regime especial, cujas leis estabelecem que seus dirigentes

tenham mandatos fixos, e com definitividade de suas decisões em seu

âmbito, em relação a outros órgãos ou entidades da Administração, em

princípio.

O Poder Executivo, autor dos projetos de criação das

agências, optou, no nível federal, por agências reguladoras

especializadas (baseadas no princípio da especialidade onde cada qual

exerce e é especializada na matéria que lhe foi atribuída por lei) em

determinado setor da economia, como, por exemplo, setores de

telecomunicações, energia elétrica e petróleo.

42

Assim, afirma Gasparini (2004, p. 373) que “por serem

criadas por lei, como autarquias de regime especial recebem privilégios

que a lei lhes outorga, indispensáveis ao atingimento de seus fins”.

Neste sentido, Menezello (2002, p. 66) expõe:

(...) a especialidade de cada agência está traçada na lei

que a cria e decorre das previsões legais e especiais que a

adornam. Não se podem estender os mesmos elementos

encontrados em relação a uma entidade para a (s) outra

(s), pois isto consistiria inclusive em agressão,

desconsideração da própria noção de especialidade.

Assim, haverá graus diferentes de especialidade para cada

autarquia a que se confere natureza especial.

Dessa maneira, se confirma o estrito dever do princípio

da legalidade, porque sem ele não há possibilidade de atuar conforme o

Direito.

3.1.2 Controle das Agências Reguladoras

O controle das agências pelos poderes constituídos do

Estado confirma a necessidade de manutenção do binômio centralização

governamental e descentralização administrativa.

Apesar de sua independência, as agências reguladoras

devem sofrer o controle dos poderes constituídos para manutenção da

centralização governamental.

Conforme explica Moraes A. (2002, p. 29):

O Poder Executivo, além de permanecer com a iniciativa

de lei para criar, alterar e extinguir, mantém a

coordenação geral da Administração Pública, indicando

no projeto de lei quais as funções e finalidades da

43

respectiva agência. Mantém ainda a possibilidade de

fiscalização por meio de contrato de gestão e a indicação

dos dirigentes da agência.

Já o desrespeito ao Poder Legislativo pode acarretar

sustação dos atos normativos, com base no art. 49, V da C.R.F.B./88.

Art. 49 - É da Competência exclusiva do Congresso

Nacional:

(...)

V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que

exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de

delegação legislativa;

No entendimento de Moraes A. (2002, p. 29):

O art. 49, V, da Constituição Federal, tradicionalmente

utilizado para as leis delegadas, deverá, a partir da

incorporação das Agências Reguladoras em nosso

ordenamento jurídico, servir de mecanismo de controle

legislativo ao eventual exagero das Agências no exercício

de seu poder normativo, pois a Carta Magna fala em

controle dos “limites de delegação legislativa”. Trata-se da

possibilidade de controle da descentralização

administrativa pela centralização governamental.

Além disso, o Congresso Nacional permanece com o poder

de delegar ou não, fixando os parâmetros básicos, pois

elabora a lei de criação da agência e poderá controlar as

agências com base no art. 49, X, da Constituição Federal.

Ainda, tem-se que ressaltar a possibilidade de o Tribunal

de Contas fiscalizar a gerência do dinheiro público por parte das agências

reguladoras.

44

Quanto ao Poder Judiciário, pode-se afirmar que a

instituição de agências reguladoras não interferiu na possibilidade de

controle judicial da Administração Pública.

3.1.3 Autonomia das Agências Reguladoras

No que se refere ao conceito de autonomia ou

independência, pode-se descartar o termo independência, pois, segundo

Menezello (2002, p. 84), esse termo “é inadequado para as agências

brasileiras, uma vez que elas estão, por força de lei, vinculadas a algum

Ministério”. Com isso, as agências devem atender a todas as exigências

legais no que se refere à área de recursos humanos de seus servidores,

inclusive aos assuntos que foram unificados pela aplicação da Lei Federal

9.986/2000 que dispõe sobre a gestão de recursos humanos das Agências

Reguladoras e dá outras providências.

Por possuir personalidade jurídica própria, a autarquia

(agência reguladora) pode contratar e administrar em seu próprio nome,

contrair obrigações e adquirir direitos, mas dentro das regras do

ordenamento vigente, destacando-se que, como é um órgão do Estado e

não de um governo, como tal, a agência deve exercer suas atribuições e

competências.

A autonomia financeira configura-se na possibilidade

legal de constituir-se em receita da agência a cobrança, dos agentes

econômicos regulados, de taxa de fiscalização durante a execução do

contrato de concessão ou de parcela das participações governamentais

nas atividades petrolíferas.

Sendo o regime jurídico autárquico de direito público, os

bens da agência são considerados, para efeitos legais, bens públicos.

45

A autonomia técnica decorre da especialização e da

singularidade de cada um dos setores da economia que serão regulados

pelas agências.

Conforme discorre Moraes A. (2002, p. 55), “o poder

normativo das agências reguladoras não abrange o poder de

regulamentar leis e, especialmente não pode inovar na ordem jurídica ou

contrariá-la” (itálico no original).

Ainda sobre o assunto esclarece o mesmo autor que:

(...) suas normatizações deverão ser operacionais apenas,

regras que, às vezes aparentemente autônomas, prendem-

se a disposições legais efetivamente existentes. É o caso,

por exemplo, das regras estabelecidas para licitações nos

Editais (que não podem contrariar normas da lei n.º

8.666/93), das condições exigíveis para

concessões/permissões de serviço público e os aspectos

que costumam ser englobados na chamada autonomia

técnica da agência reguladora ou discricionariedade

técnica, para definir as regras e os parâmetros técnicos

referentes a essas atividades.

Mesmo assim, a definição de regras operacionais e

tecnicamente discricionárias não pode contrariar normas legais e inovar

na ordem jurídica (devem observar os parâmetros legais).

3.2 ANATEL

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) foi

criada pela Lei n.º 9.472/97, que dispõe sobre a organização dos serviços

de telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador

e outros aspectos institucionais, nos termos da Emenda Constitucional nº. 8,

de 1995, e possui sua sede estabelecida no Distrito Federal.

46

Para melhor compreensão desta agência, tem-se a

seguir suas principais características e atribuições como órgão regulador e

fiscalizador do setor de telecomunicações no Brasil.

3.2.1 Natureza jurídica da Anatel

Conforme o art. 8º, da Lei 9.472/97 (Lei Geral de

Telecomunicações - LGT), o órgão regulador do serviço de

telecomunicações constitui-se numa entidade da Administração Pública.

Explica Moraes A. (2002, p. 85):

A Agência Nacional de Telecomunicações configura-se em

uma autarquia especial, vinculada ao Ministério das

Comunicações. Portanto, trata-se de pessoa jurídica de

direito público de âmbito federal, autônoma (embora

sujeita ao controle estatal), criada por lei e com o objetivo

de praticar de forma especializada, determinada função

pública. Detém patrimônio, receitas e atribuições próprias,

diferenciando-se da entidade da Administração Direta que

a criou.

A Anatel tem a possibilidade de estabelecer objetivos e

prerrogativas adequados ao exercício das operações realizadas pelas

concessionárias no setor de telecomunicações, por possuir independência

decisória, conforme dispõe o art. 9º da LGT (Lei 9.472/97):

Art. 9° A Agência atuará como autoridade administrativa

independente, assegurando-se-lhe, nos termos desta Lei, as

prerrogativas necessárias ao exercício adequado de sua

competência.

Quanto à organização, a Agência possui como órgão

máximo o Conselho Diretor, que é composto por cinco conselheiros, com

mandatos de cinco anos e seu Presidente é nomeado diretamente pelo

47

Presidente da República. Possui, ainda, um Conselho Consultivo, uma

Procuradoria, uma Corregedoria, uma Biblioteca e uma Ouvidoria.

Sua principal competência é a implementação da

política nacional de telecomunicações.

Moraes A. (2002, p. 87), discorre, ainda sobre outras

atribuições consideradas de suma importância:

a) expedir regras quanto a outorga, contratos de

concessão, fiscalização, bem como editar atos de

outorga e extinção de direitos de exploração do

serviço, aplicando sanções e intervenções;

b) fixar, controlar e acompanhar tarifas dos serviços

prestados nos regimes público e privado;

c) deliberar na esfera administrativa quanto à

interpretação da legislação de telecomunicações e

sobre os casos omissos, compondo conflito de

interesses entre prestadoras de serviços e reprimindo

infrações a direitos dos usuários;

d) exercer, relativamente às telecomunicações, as

competências legais em matéria de controle,

prevenção e repressão às infrações contra a ordem

econômica, ressalvadas as pertencentes ao Conselho

Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Também, à Agência compete a adoção de

determinadas medidas para o atendimento do interesse público, bem

como para o desenvolvimento tecnológico e social das

telecomunicações do país, sempre atuando com independência,

imparcialidade, legalidade, impessoalidade e publicidade.

3.2.2 Independência da Anatel

48

Quanto à independência efetiva da Anatel, pode-se

afirmar que ela é muito importante, pois permite que sejam atingidas a

credibilidade e a eficiência das políticas regulatórias. Afirma Moraes A.

(2002, p. 87) que “a introdução da concorrência e o cumprimento das

metas de universalização dos serviços só ocorrerão, de fato, com a

presença de uma agência que detenha força e independência

suficientes para implementar essas políticas regulatórias”.

É necessário definir-se previamente um organismo

regulador, com a fixação das competências de fiscalização e controle

das atividades dos agentes do setor de telecomunicações. Nesse sentido,

leciona Moraes A. (2002, p. 88):

A execução do modelo regulatório aprovado, bem como

a aplicação das penalidades aos agentes mostram-se

necessárias para garantir a credibilidade do mercado

nacional de telecomunicações aos investimentos nacionais

e internacionais. Nesse sentido, a natureza autárquica da

Anatel, prevista na Lei Geral de Telecomunicações, atribui-

lhe certa independência em relação às sazonalidades

políticas (alterações repentinas das regras do setor, em

razão de interesses políticos) do país. Tal fato consolida a

legitimidade da Agência em face da força econômica dos

competidores globais do mercado de telecomunicações.

Apresenta-se a seguir como ocorre a regulação da

competição no setor de telecomunicações.

3.2.3 Anatel: regulação da concorrência

O quadro regulatório adotado pela LGT, procurou

estabelecer meios de proteção para evitar a prática de ações

anticompetitivas pelas empresas de telecomunicações. A LGT permitiu

aplicação da Lei de Defesa da Concorrência (Lei n.º 8.884/94), o que

49

trouxe ao setor a atuação do Conselho Administrativo de Defesa

Econômica (Cade) buscando limitar os atos dessas empresas.

Assim, segue o Art. 54 da Lei n.º 8.884/90:

Art. 54. Os atos, sob qualquer forma manifestados, que

possam limitar ou de qualquer forma prejudicar a livre

concorrência, ou resultar na dominação de mercados

relevantes de bens ou serviços, deverão ser submetidos à

apreciação do Cade.

Ainda, visando definitivamente consolidar a proteção

do usuário diante do poder econômico das empresas de

telecomunicações, a Anatel estabeleceu, através da Resolução n.º 85, de

30-12/98, normas que garantissem aos usuários o direito a ter um serviço

básico de telefonia prestado de forma contínua e sem interrupções,

observando que estará dentro da lei uma possível suspensão (parcial ou

total) dos serviços nos casos, conforme Moraes A. (2002, p. 92), “de

inadimplência, rescisão do contrato, contestação do débito pelo usuário

e formas e prazo para cobrança das tarifas telefônicas”.

Ainda, seguindo este raciocínio, Moraes A. (2002, p.92)

entende que:

(...) a interpretação desse rol normativo necessariamente

deve-se voltar para a manutenção do equilíbrio na relação

operadoras e usuários, a fim de garantir tanto a execução

do instrumento contratual firmado entre esses dois agentes,

quanto a presença de empresas capazes de fornecer

equipamentos e serviços de qualidade, com uma política

tarifária condizente com a realidade do país.

E é a respeito desta política tarifária, que já foi definida

e explicada anteriormente, desde seu objetivo (remuneração à empresa

50

concessionária pela prestação do serviço público), até a regulação

dessas empresas pelas autarquias especiais, que trata o próximo e último

capítulo, onde se busca compreender a legalidade da cobrança dessa

tarifa.

51

CAPÍTULO 4

A LEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE ASSINATURA

BÁSICA

4.1 ORIGEM

Com as mudanças constitucionais nos artigos que

previam o monopólio da União na exploração dos serviços de

telecomunicações (CF, art. 21, XI e XII), houve a possibilidade de

participação de capital privado em empresas que antes estavam sob o

controle estatal.

O texto constitucional não determinou uma retirada

completa do Estado de tais atividades, apenas permitiu, também, que

empresas privadas participem da exploração dos serviços, mediante

contrato de concessão, e, com isso, criou uma lei para regular tais serviços

e um órgão regulador próprio para a área (Anatel).

É o que se viu nos capítulos anteriores.

Com base nisso, pode-se entrar no tema central deste

trabalho de pesquisa, qual seja: a legalidade da cobrança da tarifa de

assinatura básica nas contas telefônicas. Para tanto, inicia-se

apresentando breve histórico sobre o sistema de telecomunicações

brasileiro.

4.1.1 O início do cenário brasileiro nas telecomunicações

O primeiro quadro regulamentar específico ao setor de

telecomunicações no Brasil foi implementado pelo Código Brasileiro de

Telecomunicações, consubstanciado pela Lei 4.117, de 27 de agosto de

1962.

52

Esse quadro passou a surtir efeito no setor e em 1965 a

Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações S/A - lançou-se ao

mercado nacional de telecomunicações com a missão de interligar todas

as capitais e as principais cidades do país e explorar os serviços

internacionais.

Apresenta Moraes A. (2002, p. 62) que:

Em razão das dificuldades de expansão do setor em nível

nacional (chamadas locais e interurbanos), criou-se o

sistema Telebrás, a partir da Lei n.º 5.792, de 11 de julho de

1972. A referida estrutura era composta pela holding

Telebrás3;

(...) Num primeiro momento o Sistema Telebrás apresentou

notáveis resultados. A planta instalada de terminais

telefônicos, num período de 20 anos após sua criação,

cresceu mais de 500%. Esse fato colocou o país entre os

detentores das maiores redes telefônicas de todo o mundo.

Entretanto, também houve significativo aumento no

tráfego telefônico. Conforme dados do Ministério das

Comunicações, a demanda pelos serviços de

telecomunicações, no mesmo período, aumentou cerca

de 1.200% no serviço local e mais de 1.800% no serviço

interurbano, demonstrando a incapacidade do sistema em

suprir toda essa necessidade.

Essa situação mostra a incapacidade de manutenção,

pelas empresas do Sistema Telebrás, de investimentos

necessários ao longo do tempo. Tal fato, deu-se,

principalmente pelo tratamento inadequado dado à

questão tarifária, em que as tarifas eram estabelecidas

3 Telebrás: Telecomunicações Brasileiras S.A.

53

segundo critérios totalmente dissociados dos custos dos

serviços correspondentes.

Nesse sentido, pode-se observar, desde já, que a

cobrança da tarifa sempre foi imprescindível para a manutenção do

sistema de telefonia, que, trata-se de um serviço essencial e estratégico,

como, aliás, os demais serviços de interesse público.

4.1.2 A privatização

Com o aumento da demanda dos serviços de

telecomunicações no Brasil, a prestação dos serviços públicos tornou-se

inadequada e insuficiente, tanto pelo próprio Estado, bem como, pelas

empresas estatais.

Assim, a Emenda Constitucional nº 8, de 1995, proposta

pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, flexibilizou o

monopólio estatal na exploração dos serviços públicos de

telecomunicações, previsto no art. 21, incisos XI e XII, a, da CF/88.

Moraes A. (2002, p. 66) explica que:

Justificou-se a proposta pelo fato de o Estado, diante de

uma década de importantes avanços em

telecomunicações, não ter conseguido suprimir a grande

demanda pelos serviços do setor. Exaurido em sua

capacidade de financiamento, principalmente diante das

novas tecnologias e da crescente demanda de serviços

por elas geradas, o Estado não tem condições de arcar

sozinho com todas as necessidades de investimento. Por

esse motivo a Emenda trouxe a abertura de espaço para a

parceria com a iniciativa privada, o que permite a entrada

de capital privado nas atividades de telecomunicações do

país, mantendo, entretanto, o regime de concessão,

54

permissão e autorização da União, de modo a garantir o

controle do Estado sobre o sistema de telecomunicações,

por meio de um órgão regulador (...).

Ainda, no mesmo entendimento de Moraes A. (2002, p.

68):

(...) a privatização foi precedida da montagem de um

detalhado modelo institucional, em que se criou um órgão

regulador independente e com grande autonomia, a

Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Outro

marco é o fato de a reestruturação das telecomunicações

no Brasil ter sido precedida por modelos adotados em

outros países, como os EUA e a Comunidade Européia, o

que trouxe à formulação do sistema nacional vasta

experiência e significativo aprendizado.

Afirma, ainda, Moraes A. (2002, p.67) que:

Assemelhado ao modelo europeu, em que os serviços são

prestados pelo próprio Estado ou por empresas estatais, o

setor de telecomunicações no Brasil, sob a nova

concepção implantada pelo processo de privatização,

passa a identificar-se com o modelo norte-americano, qual

seja, serviços realizados por empresas privadas submetidas

a algum tipo de controle por parte do Estado.

Com a privatização, fez-se necessária a implementação

da cobrança de uma tarifa adequada por parte das concessionárias dos

serviços de telecomunicações.

4.2 A LEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE ASSINATURA BÁSICA NA

CONTA TELEFÔNICA

4.2.1 O Princípio da legalidade

55

Faz-se necessária uma explanação sobre a definição

deste princípio da administração pública. O referido princípio está previsto

na C.R.F.B./88, em seu artigo 37, caput, que assim dispõe:

Art. 37 - A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência (...).

Meirelles (2006, p.87) define o princípio da legalidade:

(...) significa que o administrador público está, em toda a

sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e

às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar

ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se a

responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o

caso.

Ainda, sobre o mesmo princípio, Di Pietro (2008, p.62)

expõe que:

Este princípio, juntamente com o de controle da

Administração pelo Poder Judiciário, nasceu com o Estado

de Direito e constitui uma das principais garantias de

respeito aos direitos individuais. Isto porque a lei, ao mesmo

tempo em que os define, estabelece também os limites da

atuação administrativa que tenha por objeto a restrição ao

exercício de tais direitos em benefício da coletividade.

É aqui que melhor se enquadra aquela idéia de que, na

relação administrativa, a vontade da Administração

Pública é a que decorre da lei.

56

Além de disposto no artigo 37, caput, da C.R.F.B./88,

esse postulado está previsto no artigo 5º, inciso II, também da Constituição:

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes:

I – (...)

II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer

alguma coisa senão em virtude de lei;

Em decorrência disso, Di Pietro (2008, p.63) afirma que

“a Administração Pública não pode, por simples ato administrativo,

conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor

vedações aos administrados; para tanto, ela depende de lei”.

As teorias criadas para fundamentar as supostas

ilegalidade e abusividade da cobrança da tarifa não se sustentam

quando analisadas à luz da legislação vigente e do sistema telefônico

implementados no Brasil.

4.2.2 A existência de legislação específica

As alegações de ilegalidade da cobrança da tarifa

aparecem sempre fundamentadas na inexistência de legislação

específica que autorizaria a cobrança mensal e em uma verdadeira

confusão sobre os conceitos de "taxa" e "tarifa", ocasionada, na maioria

das vezes, pelo profundo desconhecimento da matéria, dos princípios de

direito tributário e de direito administrativo.

Esta diferença entre taxa e tarifa, entretanto, já foi

abordada no primeiro capítulo.

57

Ao contrário do exposto nas ações que requerem a

ilegalidade da cobrança, a tarifa de assinatura é expressamente prevista

na legislação concernente às telecomunicações; na regulamentação da

ANATEL; no Contrato de Concessão; e no Contrato de Prestação de

Serviços celebrado entre as operadoras de telefonia fixa e cada um de

seus usuários. Essa previsão também já foi exposta explicada nos capítulos

anteriores.

Beneti4 (2004) em seu artigo afirma:

(...) a cobrança da Tarifa de Assinatura durante toda a

prestação do serviço é objeto do Contrato de Prestação

de Serviço Telefônico Fixo Comutado. Nesse sentido, tome-

se como exemplo o Plano Básico de Serviços constante do

Contrato firmado entre a TELESP e seus usuários e no Plano

Básico de Serviços, que assim estabelece:

(..)

Tarifa de Assinatura: É o valor de trato sucessivo pago pelo

Assinante à Prestadora durante toda a prestação do

serviço, nos termos do contrato de prestação de serviço,

dando-lhe direito à fruição contínua do serviço.

Portanto, a tarifa de assinatura mensal, é, sim, legal,

regulamentar e contratualmente prevista.

4.2.3 A efetiva prestação do serviço

Os argumentos de inexistência de prestação de serviço

pelas concessionárias também não se sustentam.

4 BENETI,Ana Carolina Aguiar. (2004). A legalidade da tarifa de assinatura. (Teleco, 15/11/2004). Consultado em 30-09-2008. No site Teleco Informações em Telecomunicações. Website: http://www.teleco.com.br/emdebate/anac01.asp

58

Benetti (2004) discorre:

Na relação usuário-operadora, existe a prestação de

serviço pela empresa de telefonia. O pagamento da tarifa

mensal de assinatura básica é devido tendo em vista a

infra-estrutura fornecida pela operadora, indispensável à

fruição, pelos usuários, dos serviços que utilizam. Por trás de

um simples terminal telefônico, há toda uma sofisticada

estrutura de rede de telecomunicações interligada a

inúmeras outras redes de telecomunicações que, em

conjunto, percorrem toda a extensão do território brasileiro

e conduzem aos pontos de interconexão com as demais

redes telefônicas mundiais.

Ainda, quanto à estrutura das redes telefônicas, Benetti

(2004) explica:

Sem aprofundar nos detalhes técnicos, para cada terminal

telefônico, existe uma "placa de assinante" na central

telefônica correspondente.

Todas as chamadas originadas/destinadas a esse terminal

são direcionadas à sua "placa de comutação". Para

completar a chamada, essa "placa" tem que ser

conectada fisicamente por um fio metálico até o imóvel no

qual se encontra instalado o terminal telefônico. Esse

conjunto de "placa de comutação da central telefônica e

fio metálico até a casa do cliente" é de uso exclusivo do

usuário, ou seja, não pode ser compartilhado por outro

usuário. Os equipamentos que permitem o "acesso" do

usuário à rede telefônica têm custos de instalação e,

principalmente, de manutenção fixa o que independe da

quantidade de chamadas efetuadas e esses representam

os maiores custos da prestação do serviço telefônico.

59

Quanto à infra-estrutura disponibilizada, acrescenta

Beneti (2004):

Afora o serviço de infra-estrutura, o que inclui serviços de

manutenção, atualização, modernização e demais serviços

inerentes à operacionalização da rede, os usuários

recebem, ainda, chamadas no terminal telefônico

instalado em suas residências, podendo, ademais, desfrutar

dos serviços de informação, quer eletrônico, quer impresso,

conforme sua livre opção.

Essa disponibilidade, no entanto, depende de uma

sofisticada infra-estrutura que implica custos fixos para a

operadora. Uma linha telefônica capaz de realizar e

receber chamadas 24 horas por dia depende da existência

de uma ligação física entre aparelhos fixos e a

manutenção desta, mesmo quando a linha não está sendo

utilizada.

E Benetti (2004) conclui quanto à tarifação:

À tarifa de assinatura mensal corresponde serviço

efetivamente prestado pela operadora ao usuário, já que

este se encontra permanentemente conectado à rede. A

qualquer instante que retire seu telefone do gancho, o

"tom" de discar deve estar disponível. Da mesma forma, o

telefone tem que estar apto a receber chamadas, de

forma gratuita, a qualquer instante. Esse acesso

permanente à rede caracteriza um serviço efetivo, distinto

do simples ato de realizar uma chamada.

60

Sobre a mesma questão, há ainda, o ponto de vista de

Silva5 (2005):

Os usuários têm a falsa e enganosa impressão de que o

terminal de linha telefônica instalado em sua residência é

propriedade sua, mas não o é, tanto não é que se ele

deixar de pagar as Contas Telefônicas, as Concessionárias

estarão autorizadas a proceder ao Corte do Fornecimento

do Serviço, ou mesmo a declarar rescindido o contrato.

Poder-se-ia concluir a pesquisa apenas com esses

argumentos, mas faz-se necessário observar mais um item de suma

importância.

4.2.4 A expansão dos serviços através da tarifa de assinatura

É importante esclarecer o que a maioria dos utentes de

serviços de telecomunicações desconhece: a possível extinção da tarifa

de assinatura inviabilizaria, em médio prazo, a universalização desse

serviço, bem como, privaria as camadas mais pobres da população de ter

acesso a um serviço que é de direito de todos.

Beneti (2004) ainda explica:

No modelo vigente, parte dos custos é remunerada pela

assinatura mensal e parte é remunerada pelo pulso e uso

por outras operadoras. O usuário que "fala mais" em seu

terminal telefônico, acaba pagando um valor maior. Neste

modelo, cerca de 50% dos usuários têm uma conta mensal

líquida de impostos superior ao custo médio de R$ 45 --

portanto, rentáveis para a operadora--, e 50% têm uma

5 SILVA, Fábio Santos da. A abusividade da cobrança de assinatura básica residencial . Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 588, 16 fev. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6273>. Acesso em: 24 abr. 2008.

61

conta com valor inferior a R$ 45 -- sendo deficitários. A

concessionária é, contudo, obrigada, em razão do

contrato de concessão, a atender os usuários de menor

renda ou não rentáveis, em razão da política de

universalização instituída pelo modelo brasileiro de

telecomunicações. A rentabilidade obtida dos

denominados usuários mais rentáveis acaba por subsidiar

os usuários não rentáveis da operadora.

Caso viesse a ocorrer o fim da cobrança, tendo em vista

que as receitas dela decorrentes representam cerca de 40% das receitas

das concessionárias, Beneti (2004) explica que “seria necessário um

aumento estimado de 150 % nas tarifas de pulsos para que houvesse a

preservação do equilíbrio econômico-financeiro do Contrato de

Concessão. Com isso, a conta dos usuários que fazem muitas ligações

subiria de forma expressiva, com a conseqüente redução do valor da

conta daqueles que fazem poucas ligações”.

Ainda, é o entendimento de Beneti (2004):

Tal situação até poderia parecer mais "justa", se não fosse

economicamente insustentável. O mercado, através dos

competidores e que não tem a obrigação de índices de

universalização, encarregar-se-ia de, rapidamente,

encontrar soluções muito mais baratas para os usuários de

alto consumo. Entretanto, os 50 % dos usuários não rentáveis

atualmente tornar-se-iam ainda mais deficitários em função

da falta de suporte daqueles usuários rentáveis anteriores.

Para os usuários de baixa renda, o mercado não seria

capaz de encontrar soluções de equilíbrio. Com isto, em

médio prazo a prestação do serviço aos usuários menos

favorecidos estaria inviabilizada, voltando-se à situação de

62

poucos anos atrás na qual telefones fixos eram exclusivos

das classes mais favorecidas.

Sobre a mesma matéria, discorre Silva (2005):

(...) um dos maiores temores dos investidores externos, diz

respeito à quebra dos contratos, à manutenção de seus

ganhos, ao retorno de seus investimentos.

Com o intuito de proteger o retorno desses investimentos e

permitir uma expansão do setor no país, a Lei Geral de

Telecomunicações estabeleceu entre as diretrizes e

princípios aplicáveis à Concessão de Serviços Públicos, o

do “equilíbrio econômico e financeiro do contrato”, que

nada mais é do que o direito que a Concessionária tem de

garantir a manutenção das bases, das cláusulas do

Contrato de Concessão tais como celebradas e até o

término do prazo da Concessão.

Com efeito, Meirelles (2006, p.215) esclarece:

Equilíbrio financeiro: o equilíbrio financeiro, ou equilíbrio

econômico, ou equação econômica, ou, ainda, equação

financeira, do contrato administrativo é a relação

estabelecida inicialmente pelas partes entre os encargos

do contratado e a retribuição da Administração para a

justa remuneração do objeto do ajuste. Essa relação

encargo-remuneração deve ser mantida durante toda a

execução do contrato, a fim de que o contratado não

venha a sofrer indevida redução nos lucros normais do

empreendimento.

63

Ainda sobre a universalização dos serviços de telefonia, Brincas (2006)

menciona que a tarifa de assinatura básica remunera o que o consumidor

não vê, ou seja:

(...) toda a instalação e manutenção da infra estrutura de

rede necessária a levar o serviço não apenas ao seu

terminal, mas a todas aquelas pequenas comunidades nas

quais, não fosse este fato, estariam isoladas do resto do

mundo, como ocorria até pouco tempo atrás. Isto é a

universalização do serviço.

Brincas (2006) entende que “por ser a telefonia fixa

comutada um serviço público de primeira necessidade, a União, através

do Órgão Regulador, a ANATEL, determina as metas para que a

população brasileira seja atendida pela telefonia fixa, que estão

estabelecidas no Plano Geral de Metas para Universalização (PGMU)”.

Assim, diante de todo o exposto, pode-se concluir pela

legalidade da tarifa de assinatura básica nas contas telefônicas, pois tem

suporte legal nos arts. 19, inc. VII e 103, da Lei nº 9.427/87, bem como no

art. 52, da Resolução nº 85/98, da ANATEL. A Jurisprudência é neste

sentido:

“AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM REPETIÇÃO DE

INDÉBITO. SERVIÇO DE TELEFONIA FIXA. PEDIDO DE

SUSPENSÃO DA COBRANÇA DA TARIFA BÁSICA MENSAL.

EXTINÇÃO DO PROCESSO COM FUNDAMENTO NO ART. 295,

§ ÚNICO, III, DO CPC. POSSIBILIDADE. Mesmo provada a

cobrança da tarifa básica mensal, a pretensão mostra-se

impossível de acolhimento futuro, porquanto a cobrança

encontra respaldo legal. Precedentes desta Corte e do

STJ. Por conseqüência, possível a extinção. Sentença

mantida. APELO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO” (Ap. Civ. nº

64

70011956661, Vigésima Câmara Cível, Rel. José Aquino

Flores de Camargo, j. em 19.7.05).

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina declarou

reiteradamente a legalidade da cobrança da taxa de assinatura mensal,

como se pode conferir nos arestos abaixo transcritos, extraídos das

Apelações Cíveis interpostas das sentenças de improcedência da ação:

“PROCESSUAL CIVIL – ASSINATURA BÁSICA MENSAL. TARIFA.

SERVIÇO DE TELEFONIA FIXA. AÇÃO DECLARATÓRIA

CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO. LEGITIMIDADE DA

COBRANÇA. EMBASAMENTO LEGAL.

O contrato de concessão de serviço público e a Lei n.

9.472/92 autorizam a cobrança de assinatura mensal de

telefone fixo, conforme disposto na Resolução n. 85/98 da

Anatel e Portarias n. 217/97 e n. 226/97 do Ministério das

Comunicações”. (APC 2006.013046-6, de Criciúma. 1ª Câm.

Direito Público, Rel. Des. Vanderlei Romer. Julgado no dia

13/06/2006) - Grifo nosso.

“APELAÇÃO CÍVEL – CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO –

TELEFONIA – COMBATE À COBRANÇA DE TARIFA BÁSICA

MENSAL – REMUNERAÇÃO PREVISTA EM LEI, REGULAMENTO E

CONTRATO – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL – PLEITO

INACOLHIDO – APELO – ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA –

CONHECIMENTO E DESPROVIMENTO.

Consoante reiterados pronunciamentos do Superior Tribunal

de Justiça, a competência para analisar a legitimidade da

cobrança de tarifa em feito envolvendo usuário e empresa

concessionária de serviço público de telefonia é da Justiça

Estadual, em função da ausência de interesse da União no

deslinde da quaestio.

65

Estando o usuário sujeito aos efeitos da concessão do

serviço público facultativo de telefonia, não há que

prosperar pleito que visa afastar a cobrança de tarifa legal

e contratualmente prevista”. (APC 2006.018065-0, de

Criciúma. 2ª Câm. Direito Público, Rel. Des. Francisco

Oliveira Filho. Julgado no dia 13/06/2006) - Grifo nosso.

“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA – ASSINATURA

MENSAL DE TELEFONIA FIXA – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DA

JUSTIÇA FEDERAL – INOCORRÊNCIA – CELEUMA PACIFICADA

NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA – PRELIMINAR REJEITADA.

PRETENSA DECLARAÇÃO DE ILEGALIDADE DA COBRANÇA DA

ASSINATURA BÁSICA MENSAL DE TELEFONIA FIXA –

REPETIÇÃO DOS VALORES PAGOS ATÉ ENTÃO –

IMPOSSIBILIDADE – PREVISÃO LEGAL PARA COBRANÇA DA

TARIFA – ARTS. 19, VII E 103, DA LEI N. 9.427/87 – RESOLUÇÃO

N. 85/98 DA ANATEL – RECURSO DESPROVIDO.

Mostra-se legal a cobrança da assinatura

básica mensal de telefonia fixa porque devidamente

prevista nos arts. 19, VII e 103 da Lei n. 9.427/87, bem como

no art. 52 da Resolução n. 85/98 da ANATEL, não

merecendo prosperar, consequentemente, o pedido de

repetição dos valores já pagos”. (APC 2006.010563-8, de

Criciúma. 3ª Câm. Direito Público, Rel. Des. Rui Fortes.

Julgado no dia 30/05/2006) - Grifo nosso.

Vale destacar o início da discussão, segundo artigo do

site Lex Universal6:

6LEX UNIVERSAL.Julgamento sobre legalidade de assinatura básica mensal nos serviços de telefonia fixa é adiado. (Lex Universal 27/06/2007).Disponível em < http://www.lexuniversal.com/pt/news/2692>. Acesso em 30 out. 2008.

66

A discussão judicial começou porque uma consumidora

gaúcha moveu ação de inexigibilidade da cobrança

cumulada com repetição de indébito (devolução dos

valores pagos indevidamente). O objetivo da consumidora

era , além de ser desobrigada do pagamento da

cobrança, receber de volta, em dobro, os valores pagos

pela assinatura do telefone fixo à empresa Brasil Telecom.

Em primeira instância, a consumidora não teve sucesso,

mas apelou ao TJ/RS, que atendeu o pedido. O Tribunal

entendeu ser abusiva a exigência de contraprestação por

serviço não fornecido, além de não existir previsão legal

para a cobrança e terem aplicação ao caso as normas do

Código de Defesa do Consumidor (CDC).

A discussão sobre a legalidade da cobrança teve início

quando a empresa Brasil Telecom tentou reverter a decisão

do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ/RS)

favorável a uma consumidora impedindo a cobrança da

assinatura básica mensal.

A Brasil Telecom recorreu, então, ao STJ, sustentando que os

direitos previstos no CDC não excluem os decorrentes da

legislação ordinária preexistente, qual seja, a Lei Geral das

Telecomunicações. Afirmou ainda que a tarifa mensal não

é voltada apenas à cessão de linha ou de terminal

telefônico, mas também à infra-estrutura fornecida. Alegou

que a norma da Agência Nacional de Telecomunicações

(Anatel) autoriza a cobrança da tarifa de assinatura e que

somente caberia a repetição do indébito quando

demonstrado o erro do pagamento voluntário.

No final de junho do corrente ano, o Supremo Tribunal

de Justiça - STJ aprovou a súmula que reconheceu a legalidade da

67

cobrança da assinatura básica mensal, por considerar que a referida

tarifa tem amparo na legislação.

Segue a referida súmula do STJ:

Súmula: 356 É legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa.

Percebe-se, a partir da análise da referida súmula

aprovada pelo Tribunal ora apresentado, que há um indicativo no

entendimento da Corte no que diz respeito ao reconhecimento da

legalidade da cobrança da assinatura básica mensal, sinalizando para a

autorização de sua cobrança pelas concessionárias, solucionando

aparentemente, as controvérsias judiciais relativas a esta possibilidade.

68

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta monografia teve como objetivo apresentar

ASPECTOS DOUTRINÁRIOS E JURÍDICOS A RESPEITO DA polêmica DA

assinatura básica cobrada mensalmente na conta telefônica PELAS

CONCESSIONÁRIAS destes serviços de seus usuários, buscando melhorar o

entendimento sobre o assunto, destacando as questões controversas

acerca do reconhecimento da legalidade desta cobrança.

Para tanto, primeiramente foi conceituado o termo

Tarifa e, posteriormente, feita uma análise da importante distinção entre

Taxa e Tarifa, já que essa é necessária á compreensão do tema central da

pesquisa. Assim, foi verificada a competência para a fixação tarifária, que

é indelegável, posto que somente ao Estado pertence essa prerrogativa.

Também foram analisados os critérios de reajuste e revisão das tarifas, até

chegar à respectiva Tarifa de Assinatura Básica.

No segundo capítulo, foi abordado o Serviço Público,

sua exploração, requisitos e princípios garantidores da boa prestação de

serviço e da busca por um custo justo aos usuários. Após classificá-los,

imprescindível foi tratar da Concessão de Serviço Público e seu contrato,

já que o sistema de telefonia brasileiro é objeto de concessão. Para isso,

levantou-se principais aspectos relevantes acerca da Licitação, visto que

a concessão de serviços públicos deve ser feita sempre através desta.

Neste capítulo, observou-se que, visando o bom andamento dos serviços

concedidos, foram criadas as Agências Reguladoras da Concessão de

Serviços Públicos, órgão responsável pela fiscalização das atividades

inerentes a esta prática, sendo este o objeto da pesquisa do terceiro

capítulo.

O terceiro capítulo abrangeu as Agências

Reguladoras, como autarquias de regime especial, integrantes da

Administração Pública Indireta. Essas Agências são de suma importância,

69

já que carregam a missão de normatizar, fiscalizar, regular e controlar as

atividades desenvolvidas pelas concessionárias. Não menos importante,

foi tratar da autonomia financeira e técnica dessas agências. No final do

terceiro capítulo, apresentou-se a Agência Nacional de

Telecomunicações – ANATEL, que é o órgão regulador do serviço de

telefonia nacional.

No quarto e último capítulo, foi feito um breve

histórico do cenário brasileiro nas telecomunicações, cujo setor, em seu

início, passou por inúmeras dificuldades de expansão, até porque, na

época o valor da tarifa mensal cobrada era irrisório. Com o aumento da

demanda dos serviços de telecomunicações no Brasil a prestação deste

serviço tornou-se inadequada, tornando-se necessária a privatização do

setor, fato que ocorreu no ano de 1995 durante o governo do Presidente

da República Fernando Henrique Cardoso.

Com a privatização, fez-se premente a

implementação da cobrança de uma tarifa adequada por parte das

concessionárias.

Em conseqüência disso, no ano de 2004, uma

consumidora gaúcha moveu ação, reclamando que a tarifa mensal seria

indevida. Após o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ter dado

sentença favorável a ela, milhares de processos neste sentido, foram

ajuizados em todo o país. Ocorre que em 2007 o STJ decidiu através de

súmula, pela legalidade da referida tarifa mensal, posto que possui

amparo legal e decorre de uma efetiva prestação de serviço.

Destaca-se, por fim, que, restaram confirmadas as

hipóteses iniciais levantadas para o desenvolvimento desta pesquisa, quais

sejam:

70

a) Tarifa é uma prestação pecuniária cobrada em

decorrência da vontade do cidadão em obter, ou não, determinados

serviços .

b) Determinados serviços públicos podem ser prestados

através do regime da concessão ;

c) No Brasil os serviços de telecomunicação são

devidamente fiscalizados pelas Agências Reguladores;

d) A cobrança da tarifa de assinatura básica pelas

empresas concessionárias nas contas telefônicas é pautada pela

legalidade.

Assim, espera-se que o presente estudo venha

contribuir para uma melhor compreensão acerca da necessidade da

cobrança mensal da tarifa de assinatura básica nas contas telefônicas de

todos os usuários visto que, além da necessidade da cobrança para que

as concessionárias possam manter o nível de qualidade exigido pelo

consumidor, as súmulas aprovadas pelo Tribunal são indicativas do

entendimento da Corte para as demais instâncias e este entendimento

tem reconhecido a legalidade da cobrança da assinatura básica mensal,

autorizando, portanto, sua cobrança pelas concessionárias.

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

AMARO, Luciano da Silva. Direito tributário brasileiro. 3ª Ed. São Paulo:

Saraiva, 1999.

BENETTI, Ana Carolina Aguiar. A legalidade da tarifa de assinatura. Teleco,

15 nov. 2004. Disponível em:

<http://www.teleco.com.br/emdebate/anac01.asp>. Acesso em 30 de

setembro de 2008.

BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Malheiros,

2003.

CRETELLA JÚNIOR, José. Administração indireta brasileira. Rio de Janeiro:

Forense, 1980.

CRETELLA JÚNIOR, José. Direito administrativo brasileiro. 2ª Ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2002.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 21 Ed. São Paulo:

Atlas, 2008.

FREIRE, ELIAS. Direito administrativo: teoria, jurisprudência e 1000 questões.

7ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

GASPARINI, Diógenes. Direito administrativo. 9ª Ed. São Paulo: Saraiva,

2004.

HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário. 7ª Ed. São Paulo: Atlas, 2001.

JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 2ª Ed. São Paulo:

Saraiva, 2006.

72

JUSTEN FILHO, Marçal. Teoria geral das concessões de serviço público. 1ª

Ed. São Paulo: Dialética, 2005.

LEX UNIVERSAL. Julgamento sobre a legalidade da assinatura básica

mensal nos serviços de telefonia fixa é adiado. Lex Universal. 27/06/2007.

Disponível em <http://www.lexuniversal.com/pt/news/2692>. Acesso em 30

out. 2008.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 32 Ed. São Paulo:

Malheiros, 2006.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 20 Ed.

São Paulo: Malheiros, 2005.

MENEZELLO, Maria D’Assunção. Agências reguladoras e o direito brasileiro.

São Paulo: Atlas, 2002.

MORAES, Alexandre de. Agências reguladoras. 1ª Ed. São Paulo: Atlas,

2002.

MORAES, Bernardo Ribeiro de. Compêndio de direito tributário. Rio de

Janeiro: Forense, 1990.

MUKAI, Toshio. Concessões, permissões e privatizações de serviço público.

4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

SILVA, Fábio Santo da. A abusividade da cobrança de assinatura básica

residencial. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 588, 16 de fev. 2005.

Disponível em<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6273>. Acesso

em: 24 abr. 2008.

73