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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL DA PESSOA JURÍDICA: UM ENFOQUE ÀS SANÇÕES PENAIS APLICÁVEIS ANA MARIA SIQUEIRA Itajaí(SC),19 de novembro de 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL DA PESSOA JURÍDICA: UM ENFOQUE ÀS SANÇÕES PENAIS APLICÁVEIS

ANA MARIA SIQUEIRA

Itajaí(SC),19 de novembro de 2007.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE PENAL AMBIENTAL DA PESSOA JURÍDICA: UM ENFOQUE ÀS SANÇÕES PENAIS APLICÁVEIS

ANA MARIA SIQUEIRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Doutor Zenildo Bodnar Itajaí (SC), novembro de 2007.

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus. Aos meus pais, pelos valores e tudo que me transmitiram, à minha família, pelo incentivo e paciência. Ao professor e orientador

Doutor Zenildo, pela gentileza e atenção em suas orientações, meu respeito e admiração.

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DEDICATÓRIA

À minha amada e querida filha, Mariana, razão da minha vida.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), 19 de novembro de 2007.

Ana Maria Siqueira Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Ana Maria Siqueira, sob o título

Responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica: um enfoque às sanções

penais aplicáveis, foi submetida em 26/11/2007 à banca examinadora composta

pelos seguintes professores: Zenildo Bodnar (Orientador e Presidente da Banca),

Júlio Cezar Kuss e Grazielle Xavier aprovada com a nota 9,5 (nove e meio).

Itajaí (SC), novembro de 2007.

Professor Doutor Zenildo Bodnar Orientador e Presidente da Banca

Professor Msc. Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACRIM Apelação criminal

AP Apelação

ADIN Ação Direta de Inconstitucionalidade

CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBCCRIM Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

LA Lei Ambiental (Lei n. 9.605, de 12-2-1998)

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

TJMG Tribunal de justiça de Minas Gerais

TRF Tribunal Regional Federal

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Responsabilidade penal

Entende-se a obrigação de sofrer o castigo ou incorrer nas sanções penais

impostas ao agente do fato ou omissão criminosa. A responsabilidade criminal ou

penal funda-se na imputabilidade do ato criminoso. Silva (2000, p. 127).

Pessoa jurídica

O termo pessoa jurídica deve ser entendido em sentido lato; isso significa que, à

exceção do Estado em si, qualquer pessoa jurídica de direito público ou de direito

privado pode ser responsabilizada, mesmo porque a lei não faz distinção alguma.

Machado. (2004, p. 667).

Meio ambiente

Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e alterações de ordem

física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas

formas. (artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6938 de 31 de agosto de 1981).

Tutela penal

A tutela penal é reservada à lei, partindo-se do princípio da intervenção mínima do

Estado Democrático de Direito. Tal tutela deve ser a ultima ratio, ou seja, só

depois de se esgotarem os outros mecanismos intimidatórios (civil e

administrativo) é que se procurará, na tutela penal, a eficácia punitiva. Atua

repressivamente a fim de se punir e desestimular a prática de atos lesivos contra

o patrimônio do povo.(Sirvinskas,p.13).

Transação penal

É medida que busca evitar o estigma e dispêndio da instauração de uma relação

processual penal, com grande desgaste para o Estado e demais envolvidos.

Junqueira e Fuller (2005, p. 409)

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................. X

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ........................................................................................ 3

TUTELA DO MEIO AMBIENTE E PESSOA JURÍDICA ......... 3 1.1 DEFINIÇÃO DO BEM JURÍDICO "MEIO AMBIENTE" ..................................... 3 1.1.1 Meio ambiente como bem de uso comum do povo ................................. 5 1.1.2. Direito difuso de ordem ambiental ........................................................... 6 1.2 FONTES PRINCIPIOLÒGICAS DO DIREITO AMBIENTAL ............................. 7 1.2.1 Princípio da prevenção ou da precaução .................................................. 7 1.2.2 Princípio do poluidor-pagador .................................................................... 9 1.2.3 Princípio da responsabilidade .................................................................. 11 1.2.4 Princípio do desenvolvimento sustentável .............................................. 12 1.3 TUTELA PENAL DO MEIO AMBIENTE .......................................................... 13 1.4 ANÁLISE GERAL DA PESSOA JURÍDICA .................................................... 18 1.4.1 Conceito de pessoa jurídica ...................................................................... 18 1.4.2 Teoria da ficção .......................................................................................... 19 1.4.3 Teoria da realidade ................................................................................... 20

CAPÍTULO 2 ...................................................................................... 22

A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA ............ 22 2.1 HISTÓRICO...................... ............................................................................... 22 2.2 CONDIÇÕES PARA A RESPONSABILIZAÇÃO ............................................ 25 2.3 DA CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3º DA LEI 9.605/98 ......................... 27 2.4 PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO ................................................................... 32 2.5 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA ............................... 35 2.5.1 Responsabilidade sem culpa .................................................................... 36 2.6 A QUESTÃO PROCESSUAL .......................................................................... 40 2.7 ARGUMENTOS CONTRÀRIOS E FAVORÁVEIS À RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA.................... .......................................................................... 41 2.7.1 Argumentos Contrários ............................................................................. 41 2.7.2 Argumentos favoráveis ............................................................................. 42 2.8 A VISÃO DO JUDICIÁRIO .............................................................................. 45

CAPÍTULO 3 ...................................................................................... 50

SANÇÕES E MEDIDAS PENAIS APLICÁVEIS À PESSOA JURÍDICA .......................................................................... 50 3.1 SANÇÕES PENAIS ........................................................................................ 50 3.2 PENA DE MULTA ........................................................................................... 51

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3.3 PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS ............................................................ 55 3.3.1 Suspensão parcial ou total de atividades ............................................... 56 3.3.2 Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade .............. 58 3.3.3 Proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações .................................................................................... 59 3.4 PENAS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE ........................ 61 3.5 DESCONSIDERAÇÃO E LIQUIDAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA ................ 64 3.6. MEDIDAS ALTERNATIVAS .......................................................................... 65 3.6.1 Transação penal e suspensão do processo ........................................... 65 3.7 DOSIMETRIA DAS PENAS ............................................................................ 67

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 71

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 73

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RESUMO

Esta monografia trata da responsabilidade penal da pessoa jurídica, dando ênfase

às sanções penais aplicáveis, como forma de prevenção, intimidação ou ameaça,

obstando as pessoas jurídicas a não incidirem na prática de crime contra o meio

ambiente. Foi feita a seguinte divisão: a) tutela do meio ambiente e a pessoa

jurídica : o meio ambiente como direito fundamental, como bem de uso comum do

povo, os princípios que regem o direito ambiental, bem como a responsabilidade

da pessoa jurídica através das teorias da ficção e da realidade; b) panorama atual

sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica: as condições para a sua

responsabilização, a questão da culpabilidade e os pontos polêmicos acerca da

sua responsabilização; c) as sanções e medidas penais aplicáveis : apresenta as

penas possíveis de aplicação às pessoas jurídicas, com comentários sobre as

particularidades de cada uma delas: pena de multa, restritivas de direito,

prestação de serviços à comunidade, liquidação e desconsideração da pessoa

jurídica; as medidas alternativas: transação penal e suspensão do processo e a

dosimetria das penas.

Palavras-chave: Meio ambiente, Responsabilidade penal, Pessoa Jurídica e

Aplicação da pena.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo da

responsabilidade penal da pessoa jurídica por danos causados am meio

ambiente. Essa responsabilidade penal deve ser buscada para se proteger o meio

ambiente.

A importância da pesquisa decorre do fato de que a grande

quantidade dos crimes ambientais que efetivamente agridem o meio ambiente é

cometida por pessoas jurídicas. Em seu afã de lucros e na cega intenção de se

desenvolver sem atentar para as peculiaridades da natureza, empresas poluem,

desmatam e matam, causando um desequilíbrio ambiental cada vez maior.

Assim, a necessidade de proteção e tutela penal do meio

ambiente, com o intuito de assegurar que as futuras gerações tenham condições

de desfrutar de um meio ambiente ecologicamente equilibrado.

A presente monografia tem como objetivos: institucional,

produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI; geral, discorrer sobre as penas previstas

para as pessoas jurídicas, em face da possibilidade de sua responsabilização

penal, a partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei 9.605/98.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, uma análise dos

princípios norteadores do direito ambiental, da pessoa jurídica e a relevância da

tutela penal em decorrência de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

O Capítulo 2 trata da responsabilidade penal da pessoa

jurídica, sua evolução histórica, as condições para sua responsabilização,

aduzindo cada aspecto relevante.

O Capítulo 3 trata da apresentação das sanções e medidas

penais aplicáveis às pessoas jurídicas, com comentários sobre particularidades

de cada uma delas.

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O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre A responsabilidade penal da pessoa jurídica: um enfoque às sanções

penais aplicáveis.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

A necessidade da tutela penal do meio ambiente não só por tratar-se de um bem jurídico de relevância incontestável, mas também pela sua eficácia em dissuadir ilícitos ambientais.

A possibilidade da responsabilização penal da pessoa jurídica, resguardada pela Constituição Federal, e, a conseqüente Lei 9.605/98, em face de um novo referencial de culpabilidade, de cunho social, em razão do agir contrariamente a uma exigência social.

Em se tratando de proteção ao meio ambiente, prevalece o caráter preventivo da pena, com o fim de obstar a prática do crime e conseqüente dano ambiental.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

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CAPÍTULO 1

TUTELA DO MEIO AMBIENTE E PESSOA JURÍDICA

Indiscutivelmente, a tutela do ambiente tem merecido a

atenção de toda a humanidade, podendo-se afirmar que a sobrevivência da

espécie humana e sua digna qualidade de vida dependem da sustentação de um

meio ambiente equilibrado ecologicamente.

Não se pode esquecer que cada homem não passa de um

usufrutuário de uma pequenina parcela do planeta e que por conseqüência tem o

dever de protegê-la e conservá-la para as gerações futuras, posto que estas,

segundo Catalan (2005, p.163), “não possuem apenas uma expectativa do direito

de receberem o planeta, mas sim um inquestionável e absoluto direito a um meio

ambiente equilibrado em razão do dever dos atuais ocupantes em promover a

perpetuação das espécies”.

O direito ambiental inspira-se em regras de direito natural,

eminentemente principiológicas, com o intuito de resguardar a vida na terra.

1.1 DEFINIÇÃO DO BEM JURÍDICO “MEIO AMBIENTE”

O conceito jurídico de Meio Ambiente encontra-se fixado no

artigo 3º, inciso I. da Lei nº 6938 de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a

Política Nacional do Meio Ambiente:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e alterações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege vida em todas as suas formas.

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O conceito legal adotado pela Política Nacional do Meio

Ambiente é amplo, visto que atinge tudo aquilo que permite a vida, que a obriga e

rege. Contudo, esta abrangência limita-se às esferas biológica, física e química da

natureza, ignorando um aspecto fundamental, o humano.

A deficiência no conceito legal de Meio Ambiente apontada

pelos doutrinadores foi suprida com a promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 que, no caput do artigo 225, determina o Meio

Ambiente como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, ampliando, dessa forma, o conceito de Meio Ambiente para abarcar o

elemento humano, elevando-se à direito fundamental do homem.

Pode-se verificar três aspectos significativos no conceito de

Meio Ambiente: o natural, o artificial e o cultural.

O Meio Ambiente natural é formado pelo solo, água, ar

atmosférico, flora e fauna, enfim, pela interação dos seres vivos e o meio em que

vivem. Está relacionado ao que a Política Nacional do Meio Ambiente

convencionou chamar de recursos ambientais, no inciso V do seu art. 3º,

conforme segue: recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores

superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo. O subsolo e os

elementos da biosfera.

Compreende o Meio Ambiente artificial o espaço urbano

construído, consistente no conjunto de edificações e dos equipamentos públicos,

entre esses as ruas, praças, espaços livre em geral.

Integra o Meio Ambiente cultural o patrimônio histórico,

paisagístico, arqueológico, turístico, que embora artificial, em regra, pois constitui

criação humana, difere pelo sentido de valor especial que adquiriu. Enfim, traduz

a história de um povo, a sua formação cultural.

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1.1.1 Meio ambiente como bem de uso comum do povo

Dispõe o caput do artigo 225 da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988:

Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo as presentes e futuras gerações.

Neste momento histórico, o legislador constituinte fixou a

natureza jurídica do Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, caracterizando-o

como bem de uso comum do povo, considerado um bem de interesse público.

Em razão da relevância do bem jurídico tutelado, a Lei

Fundamental determinou que sua defesa e proteção para as presentes e futuras

gerações são dever do poder Público e de toda a coletividade. Por certo, não se

poderia excluir a coletividade desta função, já que é a legítima titular do bem

ambiental.

A proteção do Meio Ambiente em todos os seus elementos

essenciais à vida humana e à manutenção do equilíbrio ecológico visa a proteger

a qualidade ambiental em função da qualidade de vida, como forma de direito

fundamental da pessoa humana.

O Meio Ambiente, pode e é utilizado por particulares para fins

econômicos e científicos, tendo em vista a utilização de determinados elementos

da natureza, desde que esta apropriação seja revertida em benefício da

coletividade e não somente da utilidade individual, e que não haja diminuição da

qualidade ambiental.

Nesse sentido, argumenta Mirra (2001, p.38) que:

Existem restrições à livre utilização dos recursos ambientais, na medida em que esta utilização possa vir a ser gravosa para o equilíbrio ambiental e para a sociedade, independentemente da titularidade dos bens isoladamente considerados. Assim, é reconhecido expressamente. O Meio Ambiente como bem de uso

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comum do povo, sendo que a sua utilização deve ser feita de modo a garantir a sadia qualidade de vida às presentes e futuras gerações.

Deve-se salientar que a grande maioria dos crimes praticados

contra o meio ambiente são protagonizadas pelas pessoas jurídicas que, na sua

busca constante de riqueza, lucro, crescimento, não respeitam as condições da

natureza, gerando poluição em mares e rios, causando desmatamentos e mortes

de animais e, como conseqüência natural, há um desequilíbrio ambiental intenso.

Assim, as infrações contra o meio ambiente atentam contra

interesses coletivos e difusos, e não só contra bens individuais como a saúde e a

vida das pessoas.

1.1.2. Direito difuso de ordem ambiental

O conceito legal de Direito ou Interesse difuso encontra-se

disposto no artigo 81 da Lei 8078/90 (Código de Defesa do Consumidor, § único,

inciso I:

(...) interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

Portanto, o Direito Difuso é um direito transindividual, ou seja,

transcende a idéia de caráter meramente individual, ultrapassando o limite da

esfera de direitos e obrigações de cunho individual. Sendo que o objeto tutelado é

indivisível, podendo-se afirmar que a todos pertence, mas ninguém em específico

o possui.

Nesse sentido, destaca Mirra (2001, p. 123):

O direito ao meio ambiente sadio, é, em verdade, um interesse difuso, sendo o seu objeto, o Meio Ambiente, indivisível justamente pelo seu caráter de bem de uso comum do povo, na sua dimensão de macrobem ambiental, que deve ser necessariamente fruído em

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conjunto por toda a coletividade titular do bem. È transindividual justamente por se caracterizar como bem comum, pertencente à todo corpo social, sendo impossível de apropriação privada.

Trata-se, pois, da tutela de direitos ou interesses cujos

titulares são indeterminados, unidos por circunstâncias fáticas.

1.2 FONTES PRINCIOLÓGICAS DO DIREITO AMBIENTAL

1.2.1 Princípio da prevenção ou da precaução

Trata-se de um dos princípios mais importantes que norteiam

o direito ambiental.

A precaução acha-se bem delineada no Princípio nº15 da

multicitada “Declaração do Rio” (ECO/92), nos seguintes termos:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.

O princípio da precaução tem como centro de gravidade a

aversão ao risco, segundo salienta Costa Neto (2001, p.68):

No sentido de que a ausência de certeza quanto à ocorrência de danos ambientais deve apontar para a adoção de providências capazes de impedir o resultado lesivo, obstando, se necessário, o desenvolvimento da atividade potencialmente causadora de prejuízo.

Prevenir a degradação do meio ambiente no plano nacional e

internacional é concepção que passou a ser aceita no mundo jurídico. O princípio

da precaução segundo Machado (2004, p.56), “visa à durabilidade da sadia

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qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da natureza existente

no planeta”.

Assevera Fiorillo (2005, p. 39) que:

A prevenção é preceito fundamental, uma vez que os danos ambientais, na maioria das vezes, são irreversíveis e irreparáveis (...). Diante da impotência do sistema jurídico, incapaz de restabelecer, em igualdade de condições, uma situação idêntica anterior, adota-se o princípio da prevenção do dano ao meio ambiente como sustentáculo do direito ambiental, consubstanciando-se como seu objetivo fundamental.

Diversas razões justificam a observância do princípio da

precaução, por exemplo a questão da impossibilidade de retorno ao stato quo

ante, o que ocorre em diversas situações, como na hipótese concreta de atividade

lesiva ocasionar até mesmo extinção de determinadas espécies da fauna e flora.

Argumenta Catalan (2005, p. 164):

O problema é grave, pois o dano ecológico nem sempre pode ser convertido em pecúnia, sendo certo que a conversão em valor não resolve o problema criado. Ademais, o que é realmente grave, em muitos casos, não há possibilidade tecnológica e científica da reparação ou reconstituição das áreas atingidas.

Ainda salienta Catalan (2005, p.164):

Destaque-se também que a precaução deve ser utilizada como argumento para evitar novos desastres, sendo necessário que o homem aprenda com os erros dos seus semelhantes no passado para que se mantenham as condições de vida no futuro.

No plano jurisdicional, o princípio da precaução possui

elevado destaque, ao impedir ou proibir atos lesivos ao patrimônio ambiental.

Com o princípio da precaução resta claro que o direito

ambiental brasileiro é o direito da prudência, vigilância, no que se refere à

degradação da qualidade ambiental, e não o direito da tolerância com as

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atividades lesivas ao ambiente, enfoque este que deve prevalecer também na

esfera judicial.

1.2.2 Princípio do poluidor-pagador

A sociedade atual, ou ao menos, a quase unanimidade dos

países ocidentais compõe-se de economias capitalistas. As pessoas buscam

cada vez mais novas formas de ganhar dinheiro, priorizando o lucro, sem grandes

preocupações, caracterizando um forte individualismo que é fruto de uma vida

cada vez mais competitiva.

Assevera Leite (2004, p. 22), que:

Fato é que o modelo capitalista, em considerações puramente econômicas, fincado no individualismo e no mercantilismo, é agressivo ao meio ambiente e os indivíduos utilizam-se dos recursos naturais, quase que exclusivamente, para a sua satisfação pessoal.

Nada mais adequado que assumam os riscos que criam, bem

como que reparem os danos eventualmente causados, ou seja, o causador do

dano é responsável pela sua reparação, conforme salienta Catalan (2005, p. 168),

“caso haja agressão, obrigue-se o autor do dano a fazer com que retorne ao mais

próximo possível do que era antes da atividade lesiva”.

Tendo como fundamento o princípio 13 da Declaração do

Rio/92, diz o referido princípio:

Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e indenização das vitimas de poluição e outros danos ambientais. Os Estados devem ainda cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvimento de normas de direito internacional ambiental relativas à responsabilidade e indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados, e, áreas flora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle. Continua ainda, no princípio dezesseis: “ Tendo em vista que o poluidor deve em princípio, arcar

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com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso e instrumentos econômicos(...)”.

O referido princípio não pode ser interpretado com a idéia de

que as atividades nocivas ao meio ambiente são permitidas desde que o poluidor

indenize os danos que cause ao ecossistema.

Pode-se identificar no princípio poluidor-pagador duas órbitas

de alcance, segundo explica Fiorillo (2005, p. 30):

a) busca evitar a ocorrência de danos ambientais (caráter preventivo); e b) ocorrido o dano, visa sua reparação (caráter repressivo). Desse modo, num primeiro momento, impõe-se ao poluidor o dever de arcar comas despesas de prevenção dos danos ao meio ambiente que a sua atividade possa ocasionar. Cabe a ele o ônus de utilizar instrumentos necessários à prevenção dos danos. Numa segunda órbita de alcance, esclarece este princípio que, ocorrendo danos ao meio ambiente em razão da atividade desenvolvida, o poluidor será responsável pela sua reparação.

Destaca Machado (2004, p. 53), que “o princípio usuário-

pagador contém o princípio poluidor-pagador, isto é, aquele que obriga o poluidor

a pagar a poluição que pode ser causada ou que já foi causada”.

Na Constituição Federal, encontra-se o princípio previsto no

art. 225, § 3º:

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Vale observar que na órbita repressiva do princípio do

poluidor-pagador há incidência da responsabilidade civil, conforme ensina Fiorillo

(2005, p. 31):

Porquanto o próprio pagamento resultante da poluição não possui caráter de pena, nem de sujeição à infração administrativa, o que,

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por evidente, não exclui a cumulatividade destas, como prevê a Constituição no referido § 3º do art. 225.

Ainda destaca Fiorillo (2005, p. 31):

Com isso, é correto afirmar que o princípio do poluidor-pagador determina a incidência e aplicação de alguns aspectos do regime jurídico da responsabilidade civil aos danos ambientais: a) a responsabilidade civil objetiva; b) prioridade da reparação específica do dano ambiental; e c) solidariedade para suportar os danos causados ao meio ambiente.

A legislação e a punição do poluidor deve ser rigorosa nos

três níveis: administrativo, penal e civil, para que se consiga proteger o meio em

que se vive, e como salienta Venosa (2003, p. 153), “que consigamos preservar o

que temos. A luta, no entanto, apenas começou e deve ser contínua, para que as

futuras gerações também possam fazer parte da História”.

1.2.3 Princípio da responsabilidade

Há um nítido entrelaçamento entre o princípio do poluidor-

pagador e o postulado da responsabilidade civil objetiva em matéria ambiental,

conforme salienta Costa Neto (2001, p.78), “já que se impõe ao poluidor o ônus

de arcar com os custos de sua atividade nociva, daí a denominação de princípio

da responsabilidade”.

Estabelecido que o direito a um Meio Ambiente equilibrado é

fundamental, difuso e indispensável à proteção da vida com qualidade, qualquer

ato atentatório a tal direito deverá ser prontamente reprimido pelo sistema jurídico.

Considerando a importância dos bens tutelados, o direito

ambiental adota a responsabilidade objetiva. Antes mesmo de a Constituição

Federal entrar em vigor , a Lei 6.938/81, em seu art. 14, § 1º, já versava sobre o

tema ao dispor sobre a responsabilidade objetiva:

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§ 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente.

Com a promulgação da Lei Maior tal norma infraconstitucional

foi recepcionada, tendo como fundamento de validade o artigo 225, § 3º:

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

Assim, instaura-se a regra da responsabilidade objetiva do

causador de dano, devendo proceder à recomposição do Meio Ambiente, diante

da indisponibilidade do direito, restabelecendo-o da forma mais próxima possível

ao estado anterior.

1.2.4 Princípio do desenvolvimento sustentável

A sociedade clama por melhores condições de vida, no

entanto os recursos naturais não são inesgotáveis, sendo imprescindível que as

atividades sejam planejadas de modo a possibilitar a coexistência harmônica,

entre o homem e o meio ambiente em que está inserido.

O legislador constituinte demonstrou preocupação com o

tema ao inserir no texto da Constituição Federal, que o desenvolvimento das

atividades econômicas deverão respeitar a algumas diretrizes, entre elas a que

impõe a preservação do meio ambiente, princípio contido no artigo 170, caput e

inciso VI:

Art. 170 A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos

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existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.

Nesse sentido, argumenta Fiorillo (2005, p. 29) que:

O princípio não objetiva impedir o desenvolvimento econômico. Sabemos que a atividade econômica, na maioria das vezes, representa alguma degradação ambiental. Todavia, o que se procura é minimizá-la, pois pensar de forma contrária significa dizer que nenhuma indústria que venha a deteriorar o meio ambiente poderá ser instalada, e não é essa a compreensão apreendida do texto. O correto é que as atividades sejam desenvolvidas lançando-se mão dos instrumentos existentes adequados para a menor degradação possível.

Por isso, delimita-se o princípio do desenvolvimento

sustentável como o desenvolvimento que atenda às necessidades do presente,

assegurando uma existência digna, através de uma vida com qualidade, sem

comprometer as futuras gerações.

1.3 TUTELA PENAL DO MEIO AMBIENTE

Tendo seu nascedouro em uma Constituição, conforme

Milaré (2001, p.231), chamada de “verde” e, ante a omissão das demais, a tutela

penal ambiental traduz o meio ambiente, segundo Freitas (2001, p.33), como:

Bem jurídico autônomo, cuja tecnologia conduz ao entendimento de que o emprego das sanções penais para a proteção do meio ambiente em determinadas ocasiões se tem revelado como indispensável, não só em função da própria relevância dos bens protegidos e da gravidade das condutas a perseguir o que seria natural, senão também pela maior eficácia dissuasória que a sanção penal possui.

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O próprio Direito Ambiental foi implementado pela

Constituição Federal, mormente no que tange à tutela penal, mais ainda com a

instituição da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Não é dado olvidar,

ainda, que foi erigido à categoria de Direito de Terceira Geração.

Para Silva (2001, p. 820):

O capítulo do meio ambiente é um dos mais importantes e avançados da Constituição de 1988 (...). A Constituição define meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos e lhe dá natureza de bem comum de uso do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

O objetivo do direito ao meio ambiente, por sua característica

de preservação da natureza, leva fundamentalmente, à proteção do homem, que,

em conseqüência, possui um direito à conservação da natureza em complemento

aos outros direitos garantidos aos indivíduos.

Argumenta Freitas (2002, p.26):

O Direito Ambiental, apesar da evolução que o assunto vem experimentando nos últimos anos, não é totalmente aceito. Reluta-se em receber um ramo novo do Direito que se distingue de todos os demais. É que o Direito Ambiental, mesmo sendo autônomo, é dependente dos tradicionais ramos do Direito. Com efeito, é impossível imaginar o Direito Ambiental alheio ao Constitucional, ao Civil, ao Penal e ao Administrativo. Mas é impossível também entendê-lo como mera fração parte de qualquer das vertentes citadas. É preciso, pois, encará-lo como algo atual, fruto das condições de vida deste final de milênio e, por isso mesmo, dotado de características e peculiaridades novas e incomuns.

Salienta Silva (2001, p. 822) que:

As normas constitucionais assumiram a consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os demais direitos fundamentais do homem, é que há de orientar todas as formas de atuação no campo da tutela do meio ambiente. Compreendeu-se que ele é um valor preponderante, que há de estar acima de

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quaisquer considerações como as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade, como as de iniciativa privada. Também estes são garantidos no texto constitucional, mas, a toda evidência, não podem primar sobre o direito fundamental à vida, que está em jogo quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que é instrumental no sentido de que, através dessa tutela, o que se protege é um valor maior: a qualidade da vida humana.

Assim, a luta na defesa do meio ambiente tem encontrado no

Direito Penal um de seus mais significativos instrumentos. Muitas são as

hipóteses em que as sanções administrativas ou civis não se mostram suficientes

para a repressão das agressões contra o meio ambiente. A contundência de um

processo penal gera efeitos que as demais formas de repressão não alcançam.

Como interesse juridicamente tutelado, conforme acentua a

norma constitucional brasileira, no seu artigo 225, o meio ambiente

ecologicamente equilibrado é essencial à qualidade de vida a ponto de impor-se

ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo às

presentes e futuras gerações.

Nesse sentido destaca Sirvinskas (1998, p. 05) que:

As pessoas se conscientizaram da necessidade de proteção ao meio ambiente, pois é dele que o homem tira seu sustento e sua sobrevivência. O futuro da humanidade está intimamente ligado ao meio em que vivemos.

Logo, a preservação da espécie depende da sustentação

ambiental. O Direito Penal Ambiental incrimina não só o colocar em risco a vida, a

saúde dos indivíduos e a perpetuação da espécie humana, mas o atentar contra a

própria natureza.

Salienta Lecey (2005, p. 39):

Assim, ditas infrações atentam contra o próprio ambiente, como bem supraindividual a transcender a tutela dos indivíduos. O ambiente é tutelado como um valor em si mesmo, pelo que

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representa às gerações presentes e futuras, como destaca a Constituição Federal.

Verificando-se a importância da proteção do meio ambiente,

porquanto este é um direito fundamental, bem de uso comum do povo, o

legislador infraconstitucional elaborou a Lei nº 9.605/98, conhecida como Lei de

Crimes Ambientais, promulgada em 12 de fevereiro de 1998, a qual segundo

Aceti Júnior, (2007, p. 56), “é uma tentativa de consolidação da legislação penal

pátria relativa ao meio ambiente”.

Nesse sentido, salienta Prado (2001, p.104):

Nem todo bem jurídico requer proteção penal, ou seja, nem todo bem jurídico deve ser transformado em um bem jurídico-penal. Somente os bens considerados fundamentais para a vida social devem ser elevados a essa categoria.

Não resta dúvida de que o meio ambiente é fundamental para

a existência da vida no planeta, ou seja, sua relevância como bem jurídico

fundamental a todo ser humano.

Desse modo, a tutela penal do meio ambiente é indispensável

para sua proteção, já que, as tutelas administrativa e civilmente, não surtiram os

efeitos desejados na proteção do bem jurídico relevante, conforme explica Freitas

(2002, p. 203):

As primeiras porque, como se sabe, os órgãos ambientais têm sérias dificuldades de estrutura. Ademais, ao contrário do que se imagina numa análise teórica, não se pode afirmar que o procedimento administrativo seja ágil, vez que os recursos cabíveis, geralmente com três instâncias administrativas, fazem com que uma decisão definitiva demore a ser prolatada; depois, ainda há o recurso ao Poder Judiciário. Por seu turno, as sanções civis têm sido mais eficientes, mas nem sempre atingem seus objetivos, porquanto muitas empresas embutem nos seus preços o montante de eventual reparação.

Além disso, a sanção penal intimida mais e, como salienta

Freitas (2002, p.204), “no caso de pessoas jurídicas, influi na imagem que

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possuem junto ao consumidor, resultando em queda de vendas ou mesmo na

diminuição do valor das ações”.

Nesse sentido, argumenta Freitas (2001, p. 32) que:

A verdade é que são tantas as agressões ao meio ambiente provocadas pela poluição do ar, solo e água, e suas conseqüências, que somente com a aplicação de sanção penal conseguir-se-á refreá-las.

A referida lei de Crimes Ambientais, em seu artigo 3º , caput

dispõe que:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão do seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade.

Traz-se aqui a responsabilização das pessoas jurídicas por

danos causados ao meio ambiente. Essa responsabilidade penal deve ser

buscada para se proteger o meio ambiente, pois sabe-se que as pessoas jurídicas

são os maiores poluidores e degradadores deste, colocando em risco a saúde e

a vida do homem e provoca danos irreversíveis ao meio ambiente.

Desse modo, pode-se afirmar que a tutela penal do meio

ambiente, segundo escreve Aceti Júnior (2007, p. 58), “é necessária não somente

pelo fato de tratar-se de um bem jurídico de relevância incontestável, como

também por sua maior eficácia em dissuadir eventuais ilícitos ambientais”.

Deve-se salientar, porém, que, como as pessoas jurídicas

são as maiores agressoras do meio ambiente, este só será eficazmente tutelado

quando aquelas forem responsabilizadas criminalmente por tais agressões.

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1.4 ANÁLISE GERAL DA PESSOA JURÍDICA

1.4.1 Conceito de pessoa jurídica

Os seres humanos, por serem dotados de vontade própria e

individualizada e, ainda, por serem sujeitos eminentemente sociais, agrupam-se a

outros seres humanos para alcançarem determinados objetivos que

individualmente não conseguiriam. Desta maneira, “para que participem da vida

jurídica, com certa individualidade e em nome próprio, a própria norma de direito

lhes confere personalidade e capacidade jurídica, tornando-os sujeitos de direitos

e obrigações”.

Nesse mesmo entendimento, explana Monteiro (1995, p. 95):

Para bem conhecer a existência de semelhantes entidades, as pessoas jurídicas, é preciso partir da idéia de que o indivíduo, muitas vezes por si só, será incapaz de realizar certos fins que ultrapassam suas forças e os limites da vida individual. Para consecução desses fins, ele tem de unir-se a outros homens, formando associações, dotadas de estrutura própria e de personalidade privativa, com as quais supera a debilidade de suas forças e a brevidade de sua vida.

Decorrente desta união de pessoas, surge o conceito de

pessoa jurídica, em nosso ordenamento jurídico e, como bem colocado pelos

autores acima , são as pessoas jurídicas entidades criadas pela própria lei,

considerados sujeitos capazes de adquirir direitos e obrigações.

Desta forma, conceitua Monteiro (1995, p.95):

Surgem assim as pessoas jurídicas, também chamadas pessoas morais (no direito francês) e pessoas coletivas (no direito português) e que podem ser definidas com associações ou instituições formadas para realização de um fim e reconhecidas pela ordem jurídica como sujeitos de direitos.

O Código Civil, ao classificar as pessoas jurídicas quanto às

suas funções e capacidade, divide-se em: pessoas jurídicas de direito público

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(interno e externo) e de direito privado , definidas nos artigos 40 a 44 do Código

Civil.

1.4.2 Teoria da ficção

Teoria criada por Savigny, segundo a qual a pessoa jurídica é

fictícia, uma abstração sendo incapaz de delinqüir por lhe faltar vontade e ação.

Os delitos, segundo Lecey, (2005, p.47) “que por seu meio vierem a ser

praticados o são por seus representantes, ou seja, pelas pessoas naturais que

são a realidade por trás da ficção”.

Completa Schecaira (2003, p.101) que:

Nesse sentido, a pessoa jurídica poderia ser equiparada a um menor impúbere que exerce seu direito através de um tutor. A pessoa jurídica é, assim uma criação artificial da lei para exercer direitos patrimoniais. É pessoa fictícia. Somente obtém sua personalidade por uma abstração.

Para essa corrente, a pessoa jurídica tem existência fictícia,

irreal ou de pura abstração, carecendo de vontade própria. A pessoa jurídica seria

apenas um corpo sem cabeça, esta seria representada pelos seus sócios.

Nesse sentido, esclarece Dias (2004, p. 87) que:

A princípio foi com base nas teorias da ficção da personalidade jurídica dos entes coletivos que se justificou a impossibilidade da sua responsabilização penal. Segundo esta teoria, os entes coletivos seriam incapazes de cometer ilícitos, poIs a culpa seria própria das pessoas singulares. Seria um manto para o cometimento de crimes, uma vez que os sócios poderiam usar o nome da pessoa jurídica para finalidades ilícitas e, mesmo prejudicando terceiros, não será passível de reprimenda legal.

Esta teoria vê na pessoa jurídica, segundo escreve Leite

(2004, p. 164), “uma existência fruto do intelecto humano, sem vontade própria, e,

portanto, sem qualquer possibilidade de vir a cometer delitos”.

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Em se acolhendo a teoria da pessoa jurídica como ficção, não

caberia ao Direito Penal busca-la par o âmbito da responsabilidade, exatamente

porque não seria ela dotada de vontade própria.

1.4.3 Teoria da realidade

A teoria da realidade, de Otto Gierke, afirma que a pessoa

jurídica é um ente real, tem existência real, independente dos indivíduos que a

compõem. Ensina Lecey (2005, p. 47), que “possui personalidade real e vontade

própria, é capaz de ação e de praticar infrações penais.

Salienta Schecaira (2003, p.102) :

A teoria da realidade objetiva, também chamada de orgânica ou da vontade real, parte de base diametralmente oposta à da ficção. Pessoa não é somente o homem, mas todos os entes dotados de existência real. Abstraindo as diversas variantes sobre o tema, os sequazes de Gierke, principal nome desta escola, ao lado de Zitelman, sustentam que as pessoas jurídicas são pessoas reais, dotadas de uma real vontade coletiva, devendo ser equiparáveis, como seres sociais que são, às pessoas físicas. Excetuando-se determinadas relações que por sua natureza são incompatíveis com tais pessoas jurídicas, sua capacidade é em tudo equivalente à do homem. Ela tem capacidade de querer e de agir, o que faz por meio de seus órgãos, da mesma forma que o ser humano comanda com sua cabeça seus membros para executar suas ações.

A teoria da realidade surge como antítese à teoria da ficção,

admitindo a existência de pessoa jurídica com vontade própria e com finalidade e

natureza distinta da de seus membros..

Destaca Leite (2004, p. 164) que:

Para a aceitação da responsabilidade penal da pessoa jurídica é necessária a aceitação da tese de que a pessoa jurídica se constitui em uma realidade, com vontade específica distinta da de seus membros. Isto porque, ao perceber a vontade concreta existente,

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os princípios da culpabilidade e da individualização da pena podem ser compatíveis com a existência da pessoa jurídica.

Evidentemente, objetivando irrogar sanção penal à pessoa

jurídica, a segunda teoria é a única que fornece sustentáculo para galgar tal

intento, o que não é de todo pacífico.

Essas duas teorias apresentam algumas falhas, o que

impossibilita a sua plena aplicação, podendo-se dizer, segundo Santos (2005, p.

87),”que a teoria da ficção encontra-se superada, pois não se pode admitir que

um ente coletivo seja apenas uma criação do homem. Já a da realidade peca ao

considerar que a pessoa jurídica possui vontade própria tal como a pessoa

natural”.

Por essa razão surgiu uma teoria mista, que contém

elementos da teoria da ficção e da realidade, conhecida como teoria da realidade

técnica ou jurídica. Explica Santos (2005, p.87), que:

Da mesma forma que o Direito confere a personalidade jurídica a uma pessoa, pode entendê-la ao ente coletivo. Vale dizer, a personalidade jurídica não é uma ficção, mas um atributo conferido pelo Estado a certos entes que atendam a certos requisitos. Por isso, fala-se em realidade jurídica e não realidade física.

Assim, o sistema jurídico brasileiro, ao fazer inserir no

ordenamento a responsabilidade criminal da pessoa jurídica, por via oblíqua,

admitiu a tese da realidade da pessoa jurídica, única compatível com a extensão

da responsabilidade pretendida pelo legislador.

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CAPÍTULO 2

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

Prevê a Lei nº 9.605/98. em seu artigo 3º, que “as pessoas

jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente, nos casos em

que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou

contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”.

Artigo este que foi sabiamente completado em seu parágrafo

único, onde dispõe que “a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a

das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato”.

Isso de se dá visto de que a empresa, por si mesma, não

comete crimes, existe sempre a intervenção do representante legal ou contratual,

ou de seu órgão colegiado, e nunca a figura do empregado subalterno ou do

preposto, sem poder de decisão.

Evita-se assim que a responsabilidade penal das pessoas

jurídicas se convertam em escudo utilizado para encobrir responsabilidades

pessoais.

2.1 HISTÓRICO

A possibilidade de a pessoa jurídica vir a cometer delitos ou

ser responsabilizada criminalmente é tema tratado há muito tempo.

O direito babilônico era caracterizado pelo localismo, ou seja,

o rei babilônico, com o advento do Código de Hammurabi no século XVIII a.C,

passa impor uma responsabilidade local ou da própria cidade, quando do

cometimento de determinados crimes.

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Segundo Schecaira (2003, p. 27), “quase todo o direito

legislado da Antigüidade tem essas formas de responsabilidade coletiva. A pena

passava da pessoa do condenado atingindo os vizinhos, a cidade ou toda a

comunidade”.

No direito grego, as corporações, que se dedicavam ao

comércio ou outras atividades, deveriam responder pelos seus delitos e infrações,

embora tal responsabilidade fosse uma espécie de responsabilidade coletiva.

Conforme Rothenburg (1997, p. 29), “esta responsabilidade

atingia inclusive as famílias, que formavam uma espécie de ente moral ou ético no

sistema agrário grego”.

O direito romano, segundo Santos (2005, p. 86) não

conheceu outra figura que não a da pessoa física ou natural, “para os romanos a

responsabilidade era pessoal e esse entendimento tem-se perpetuado no tempo,

através do axioma societas delinquere non potest”.

Assim também entende Leite (2004, p. 139) que:

O sistema jurídico, que ganhou alicerces no império romano e que assumiu foros de sustentação de toda a cultura jurídica ocidental, considerou a pessoa jurídica como mera ficção, transformando em dogma de fé o princípio latino que em vernáculo significa a certeza de que sociedade não pode delinqüir.

Tais posicionamentos não são unânimes na doutrina.

Schecaira (2003, p. 32) escreve que:

Apesar, portanto, da regra societas delinquere non potest, que adotavam, e da noção, que já tinham, do conceito subjetivo da imputabilidade pessoal como fundamento do dolo criminal, os romanos reconheciam implicitamente a possibilidade de delitos praticados por pessoas jurídicas, uma vez que estas eram punidas com sanções penais.

Os glosadores, como os romanos, apresentavam um conceito

vago sobre a conceituação da pessoa jurídica, porém, diferentemente dos

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romanos, passam a considerar as corporações como entidades capazes de

delinqüir, assim foram os primeiros a promoverem um debate consistente sobre o

que viria a se constituir a responsabilidade jurídica.

Ensina Schecaira (2003, p. 34) que:

Para eles a universitas não era uma entidade distinta das pessoas que a compunham, razão pela qual acabaram por identificá-las com a totalidade de seus membros. Dessa forma, consideraram a vontade e os atos de membros daquelas associações como atos e vontade destas, e as infrações de seus membros, quando agiam em seu nome, como infrações criminais.

O direito canônico medieval admitiu amplamente a

responsabilidade penal das corporações e dos entes coletivos (conventos,

claustros, congregações, cidades, etc), estes, segundo Schecaira (2003, p. 36),

“podiam cometer crimes e ser punidos conforme a prática dominante no período

medieval, em grande parte por influência do direito germânico”.

Mais tarde essa posição foi rechaçada pelo Papa Inocêncio

IV, no Concílio de Lyon de 1245, pois este, conforme ensina Santos (2005, p. 86),

“afastou a possibilidade de excomungar a universitas, com fundamento de que

esta não seria capaz de culpabilidade. É atribuída a essa corporação a origem do

dogma societas delinquere non potest”..

Os pós-glosadores também sustentavam a necessária

responsabilidade criminal da pessoa jurídica. Ensina Leite (2004, p. 141) que:

Acreditavam que se o ato da maioria atingisse forma corporativa, a corporação seria considerada autora e, portanto, deveria esta não somente reparar o dano causo, como também sofrer as penas ou castigos atinentes ao delito praticado.

Mais recentemente, a responsabilidade da pessoa jurídica por

seus atos tem sido encarada através das teorias da ficção e da realidade, cujo

tema já foi abordado anteriormente. .

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2.2 CONDIÇÕES PARA A RESPONSABILIZAÇÃO

No dia 12 de fevereiro de 1998, o legislador ordinário, por

meio da Lei nº 9.605/98, em seu artigo 3º deu continuidade ao estabelecido no

artigo 225, § 3º da Constituição Federal, ao reconhecer a responsabilidade penal

da pessoa jurídica.

Nos termos do artigo 3ª , caput, da Lei 9.605/98 :

Art 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativamente, civil e penalmente, conforme o disposto nesta lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade.

As pessoas jurídicas de acordo com o artigo supra citado

podem ser objetos de sanções nas áreas: civil, administrativa e penal, em que

pese referir-se a uma lei penal.

Argumenta Schecaira, (2003,p.146):

O dispositivo veio a confirmar a potencial gravidade do dano cometido pelas pessoas jurídicas, que atuam muitas vezes com o espírito de acobertar os agentes que se escondem sob a estrutura complexa das empresas modernas. Sob esse manto são praticadas pelas grandes corporações as mais graves violações ao consumidor e as mais perigosas ao meio ambiente. Por serem relações complexas, dada a enormidade das estruturas empresariais, é que se entendeu que, em não havendo punição das pessoas jurídicas, seriam alcançados coma sanção penal somente os subalternos, os de menor responsabilidade.

Neste sentido, é o posicionamento de Costa Neto (2001, p.

59):

As infrações contra o meio ambiente são atos penalmente relevantes que possuem uma especificidade que os distingue, juntamente com outras agressões a bens jurídicos plurindividuais, dos atos ilícitos normatizados pelo direito penal clássico. O crime ambiental é praticado contra a coletividade, pois o bem jurídico

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tutelado pela norma penal ambiental é bem jurídico específico, que não possui um titular mediato corporificado. Ainda que se possa identificar o titular do patrimônio ofendido, há uma parcela desta propriedade que é de todos e de ninguém, razão pela qual as normas que regulamentam a prática dos atos típicos são, em grande medida, normas que insculpem uma intenção política de proteção da coletividade.

Entretanto, para que seja configurada a conduta criminosa da

empresa, é necessário considerar-se alguns elementos, os quais, quando

presentes, denotam que o crime ambiental foi cometido pela empresa, enquanto

pessoa jurídica, e não-somente pelo funcionário, na condição de pessoa física.

Tais elementos são os seguintes: existência de infração

penal; ser cometida por representante legal, ou órgão colegiado; no interesse ou

benefício da sua entidade.

Logo, em relação ao delito, é indispensável que o

representante legal ou contratual, ou o órgão colegiado, pratique a infração penal

no benefício ou interesse da pessoa jurídica e não em proveito próprio ou de

terceiros, restando claro que neste último caso não responde pelo delito a pessoa

jurídica.

Esses elementos são fundamentais para a diferenciação da

responsabilidade penal da pessoa jurídica para coma pessoa física e, nesse

sentido, com muita propriedade, leciona Costa Neto (2001, p.66):

Primeiramente, é necessário que haja um benefício por parte da empresa, oriundo do fato praticado. Acaso o objetivo, o motocondutor do ato tenha sido trazer lucro ou qualquer benefício de qualquer ordem à empresa, caracteriza-se o crime que desdobra do mero individualismo. Como segundo requisito, observe-se que a atitude do preposto não pode estar situada fora da atividade da empresa. Um funcionário da uma indústria de calçados que se utiliza de uma moto serra, durante uma atividade de natureza estritamente pessoal, jamais pode ver a sua prática imputada à pessoa jurídica. A condição sim é que haja uma vinculação entre a atividade da empresa e o ato praticado. O terceiro elemento de caracterização diz respeito ao vincula que

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deve existir entre a empresa e o autor material do delito. Deverá haver um relacionamento de cunho empregatício entre o autor e o autor material do fato típico e a empresa responsável, sob pena, de, aí sim, caminhar-se para a responsabilidade penal objetiva (...) O que verdadeiramente caracteriza o fato como crime das empresas, é o envolvimento da “máquina” da pessoa jurídica para a prática do delito.Se puder entender que sem existência da pessoa jurídica, com seus objetivos e seus meios, o crime ambiental não teria ocorrido, estar-se-á diante de um verdadeiro crime ambiental cometido pelo ente moral.

A partir desta condicionante imposta pelo legislador, de que o

delito há de ser praticado de modo a satisfazer os interesses da pessoa jurídica

ou quando menos em benefício desta, segundo Aceti Júnior (2002, p. 31), “ é que

se deve analisar o elemento subjetivo do tipo, visto que a conduta executiva,

material, será sempre exercida a mando do representante legal ou contratual ou

ainda do órgão colegiado”.

2.3 DA CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 3º DA LEI Nº 9.605/98

A Constituição Federal de 1988 inovou em duas

oportunidades. A primeira, foi ao tratar dos princípios gerais do sistema

econômico. Ela dispõe, no art. 173, § 5º, que a lei poderá responsabilizar a

pessoa jurídica nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e

contra a economia popular.

A segunda, de forma mais explícita, refere-se aos crimes

ambientais. No art. 225, §3º, ela estabeleceu que as condutas e atividades lesivas

ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas às sanções

penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos

causados.

Nesse sentido, argumenta Schecaira (2003, p.132)

A responsabilidade penal da pessoa jurídica continua sendo tema polêmico e candente em direito penal. O legislador constituinte reavivou a discussão do assunto ao editar os dois dispositivos. Não

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obstante existirem opiniões contrárias, de juristas de nomeada, a nosso juízo não há dúvida de que a Constituição estabelece a responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Existem algumas críticas doutrinárias inerentes aos artigos da

Constituição, que prevêem a responsabilidade penal da pessoa jurídica, como é o

caso de Bittencourt (1997, p.54):

No Brasil, a obscura previsão do art. 225, § 3º, da Constituição Federal, relativamente ao meio ambiente, tem levado alguns penalistas a sustentarem, equivocadamente, que a Carta Magna consagrou a responsabilidade penal da pessoa jurídica. No entanto, a responsabilidade penal ainda se encontra limitada e individual.

Existem doutrinadores contrários a estas disposições

constitucionais acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica, entretanto

segundo Schecaira (2003, p.132), “os constitucionalistas, na sua maioria,

reconhecem a consagração da responsabilidade da empresa na Carta Política de

1988” .

Neste contexto, argumenta Moraes (2002, p.151) que:

O problema dessa concepção não está em conceber algo novo,

mas em ferir o princípio constitucional da individualização da pena,

restringindo-a única, exclusiva e necessariamente ao condenado.

Se, apenas como argumentação, aceitássemos o conceito de

responsabilidade penal da pessoa jurídica, teríamos de aceitar que

esta poderia atuar de forma independente de seus componentes

humanos, o que vimos que não é possível de fato, mas ainda,

teríamos de aceitar que, de outro lado, as regras civis e comerciais,

em que o princípio da vontade formal veste o procedimento de

qualquer litígio, fossem aceitas sem reservas no processo penal, o

qual é guiado pelo princípio da verdade real.

Nesse sentido, assevera Freitas (2006, p.68)

Com efeito, a Lei 9.605/98, no art. 3º, expressamente atribui responsabilidade penal à pessoa jurídica. Portanto, temos agora a

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previsão constitucional e a norma legal. Impossível, assim cogitar de eventual inconstitucionalidade, como ofensa a outros princípios previstos explícita ou implicitamente na Carta Magna. Se a própria Constituição admite expressamente a sanção penal à pessoa jurídica, é inviável interpretar a lei como inconstitucional, porque ofenderia outra norma que não é específica sobre o assunto. Tal tipo de interpretação, em verdade, significaria estar o Judiciário a rebelar-se contra o que o Legislativo deliberou, cumprindo a Constituição Federal.

Sobre a punibilidade penal da pessoa jurídica, Costa Neto

(2001, p.60) reitera o seguinte posicionamento :

Como se vê, portanto, a criminalização da pessoa jurídica e a sua conseqüente responsabilização não ofendem ao princípio constitucional da necessária culpabilidade como pressuposto da punibilidade, pois a própria culpabilidade deve ser vista como culpabilidade social, partindo-se do pressuposto de que a pessoa jurídica possui vontade reconhecível e absolutamente própria. A culpabilidade social da empresa surge a partir do momento em que ela deixa de cumprir com a sua função esperada pelo ordenamento jurídico e exigível de todas as empresas em igualdades de condições. Essa culpabilidade social, como pressuposto da punibilidade, compatibiliza a norma do art. 225, §3º, com a norma principiológica que define o princípio da culpabilidade como dogma constitucional penal.

Com muita propriedade , relatando sobre esta nova ordem

penal brasileira, a luz de nossa Constituição , contribui para nosso entendimento

Jesus (2004, p.129):

(...) com o aparecimento de novos interesses jurídicos ligados à economia de mercado, o progresso social, etc., o direito penal ficou perplexo. A dogmática penal tradicional estava acostumada a tratar de interesses tangíveis, como a vida, a incolumidade física, a liberdade pessoal, o patrimônio etc., normalmente relacionados a um indivíduo e cujas lesões são facilmente perceptíveis. Com o progresso da sociedade, entretanto, principalmente na economia surgiram novos interesses jurídicos de difícil apreciação e determinação (...), (...) eventuais condutas ilícitas de produtores podem violar, além de bens jurídicos individuais, interesses gerais da sociedade que se consubstanciam em norma reguladoras da

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produção, circulação e distribuição de bens. O mesmo ocorre com as lesões ambientais. São interesses que não estão vinculados diretamente à pessoa humana e sim à ordem econômica e ambiental. Em face disso, devem ser considerados coletivos e difusos. Na hipótese de lesão às águas de um rio, por exemplo, é impossível determinar-se com precisão o número de pessoas eventualmente prejudicados. Trata-se de hipótese de interesses difusos.

Não há que se falar em inconstitucionalidade de uma lei

ordinária que segue os ditames da própria Constituição Federal e veio

regulamentar o intento expresso do Constituinte.

Nesse contexto, Reis apud Carvalho (2002, p.377):

Por maior que seja nossa defesa da tese da inadequação da teoria da culpabilidade às pessoas coletivas, não nos é dado o direito de negar que a ordem constitucional tuteladora do meio ambiente, na norma de conteúdo penal estampada no art. 225, § 3º. Da carta política, optou pela aplicação de sanções administrativas e penais às pessoas jurídicas. Demais disso, a Lei 9.605 de 12-2-98, espanca qualquer dúvida quanto a essa opção do legislador.

O preceito constitucional já acenava para a responsabilização

criminal dos entes coletivos e, por inserto no próprio texto constitucional, não

pode ser desprezado ou qualificado como oposto ao Estado Democrático.

Destaca-se a Jurisprudência do Tribunal Regional Federal da

4ª Região, Mandado de Segurança, n. 2002.04.01.013843-0 :

Um corpo de normas, como é o caso típico de uma constituição, constitui uma unidade. Ao ser editada a constituição, presume-se a validade de todas as normas que a compõem. Se há dificuldade de aplicação de alguma regra, porque em aparente confronto com outra, faz-se necessário proceder a interpretação que salve o texto. Não há regras constitucionais ou legais inúteis. Sempre podem ter aplicação com uma interpretação adequada. Portanto, o preceito que atribui responsabilidade penal às pessoas jurídicas tem presumida validade e a adaptação de sua existência com as garantias criminais há de receber interpretação como a que se fez acima, ao analisar os componentes da imputação penal às

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sociedades. O argumento de que a responsabilização criminal da pessoa jurídica não procede, a não ser que o preceito estivesse inserido em emenda constitucional.

De mais a mais, até ser declarada inconstitucional por ação

própria – ADIN- toda e qualquer legislação vigora, não havendo motivos lídimos

para negar sua aplicabilidade. Assim não fosse, diversas decisões em todo país

teriam a pecha da inconstitucionalidade e, derivadas dos mais variados tribunais,

onde o conhecimento jurídico, bem como a responsabilidade pelo bem comum

são patentes, seriam cassadas pelas jurisdições superiores.

Ainda quanto ao artigo 225, § 3º, da Constituição Federal, há

que se salientar que este não se choca com o art. 5º, XLV que diz:

XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.

Nesse sentido explana Machado (2004, p.664):

A Constituição proíbe que a família de um condenado - pessoa física – possa ser condenada somente porque um de seus membros sofreu uma sanção ou que alguém se apresente para cumprir pena em lugar de outrem. Contudo, o mandamento constitucional não excluiu da condenação penal uma pessoa que seja arrimo da família. A sanção penal poderá ter reflexos extra-individuais legítimos, pois não se exige que o condenado seja uma ilha, isolado de todo o relacionamento.

As repercussões econômicas da sanção penal da pessoa

jurídica em relação aos sócios, desde que se observe o devido processo legal,

segundo enfatiza Machado (2004, p. 664), “não ferem a Constituição Federal e

constituem uma decorrência da participação do sócio na existência da empresa.

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2.4 PARTICIPAÇÃO POR OMISSÃO

A Lei dos Crimes Ambientais inovou sim ao regulamentar a

responsabilidade penal dos entes coletivos, mas não foi só. Ao regulamentar

também as espécies de co-autoria de crimes, além de manter a regra insculpida

no artigo 29, do Código Penal, criou uma modalidade diversa de participação: a

participação por omissão.

Lê-se no artigo 2º:

Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estas cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática quando podia agir para evitá-la.

Os dirigentes da pessoa jurídica, bem como todas as outras

pessoas têm o dever de agir para evitar danos ao meio ambiente, inclusive

quando estas condutas criminosas forem cometidas por outrem, não podendo

omitir-se, sob pena de tornarem-se partícipes por omissão .

Segundo Sirvinskas (1998, p.27), o legislador adotou o

princípio da co-autoria necessária entre a pessoa física e jurídica. Assim, o crime

ambiental poderá ser praticado por uma ou mais pessoas em concurso.

Nesse sentido, salienta Constantino (2002, p.23) que:

Na segunda parte desde dispositivo, o legislador criou uma modalidade especial de participação por omissão, para o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou o mandatário de pessoa jurídica que souber da conduta criminosa de outrem e, nessa condição, deixar de impedir a prática do referido comportamento delituoso, quando puder agir para evitar a lesão ao meio ambiente. (...) o art 2º da Lei Ambiental, em sua segunda parte, estabelece que as pessoas físicas ligadas direta ou indiretamente a uma pessoa jurídica (diretor, administrador, preposto, auditor etc), que ficarem sabendo

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de uma conduta criminosa de outrem (autor principal), e, podendo agir para evita-la, omitirem-se de impedir tal prática, serão considerados partícipes por omissão desse delito (omissivo ou comissivo) cometido pela aludida terceira pessoa.

Os sócios, os gerentes, os prepostos e os diretores, ou seja

os administradores têm papel fundamental para a responsabilização penal da

pessoa moral ,entretanto, necessário se faz a diferenciação dos diretores pessoas

físicas que agem em nome próprio, para com a pessoa jurídica.

Nesse diapasão, assevera Schecaira (2003, p.147):

Note-se, outrossim, que a responsabilidade penal será sempre subjetiva (só pode ter por fundamento a vontade humana, baseada na culpa e no dolo) e individual, sendo inadmissível qualquer hipótese da responsabilidade objetiva ou solidária. É comum termos, especialmente em empresas menores- uma Limitada, por exemplo- dois sócios. Um que efetivamente está à testa da administração. Outra, não raro, esposa daquele, é um simples “dona de casa”, não sabendo de quaisquer atos praticados pela empresa, e que apenas contribui com seu nome pára a formação da Sociedade Limitada. Denunciá-la como responsável pelos atos delituosos eventualmente praticados constitui evidente responsabilidade objetiva, veemente coibida pelo ordenamento e por iterativa jurisprudência de nossos Tribunais, o que não seria aceito em matéria penal.

Portanto, segundo, Costa e Neto (2001, p.65), “nem toda

atividade praticada por um administrador ou preposto da empresa, que incorra em

um fato típico ambiental, pode ser catalogado como crime praticado pela pessoa

jurídica”.

Ainda, nesse sentido, reitera Costa Neto (2001, p.65):

Há crimes ambientais que podem ser praticados por um funcionário sem que haja uma vinculação específica com a atividade da empresa, revestindo-se em flagrante crime cometido por indivíduo que apenas circunstancialmente esteja a serviço da empresa, sem isso tenha sido relevante para a prática delituosa, ou caracterize o fato como o delito da pessoa jurídica.

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Deve-se destacar que o nexo causal nos crimes comissivos

impróprios (ou comissivos por omissão) é jurídica e não fática. Por força dessa

disposição inserta na Lei dos Crimes Ambientais, os agentes ali mencionados

detém o dever legal de agir quando do conhecimento do evento criminoso.

Elucida Sirvinskas (1998, p.28) que:

Diretor é aquele que comanda a direção da empresa, ditando ordens de natureza geral e específica. Administrador é quem administra a pessoa jurídica, cumprindo ordens de diretoria ou ditando outras, de natureza subsidiária. O membro do conselho e de órgão técnico tem responsabilidade de apontar o melhor caminho para a execução da objetividade social da pessoa jurídica, estudando a viabilidade técnica da execução de determinada obra de serviço; aquele que, com base no estudo deste, decide, escolhendo as ponderações daquele órgão técnico. Auditor é o que ouve e confere a execução da obra ou serviço. Gerente é o que administra negócios ou bens. Preposto é aquele que dirige um negócio por conta do mesmo negócio. Mandatário é aquele que conduz o negócio por conta do mandato a ele conferido.

É um preceito geral do Direito Penal, segundo Capez (2002,

p.146), “sempre que o agente tiver, por lei, a obrigação de cuidado, proteção e

vigilância, deverá ser responsabilizado pelo resultado se, com sua omissão, tiver

concorrido para ela com dolo ou culpa”.

De tal forma, o legislador excluiu em qualquer situação a

heresia jurídica da responsabilidade penal objetiva. A responsabilidade continua

sendo subjetiva por força de lei, além de individual, devendo a culpabilidade do

ente coletivo ou das pessoas físicas ser amplamente demonstrada, eis que

conditio sine qua non para aplicação de sanção.

Ora, o entendimento não pode ser outro quando é expresso

no texto legal que a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das

pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato (art. 3º,

parágrafo único, da Lei nº.9605/98).

Nesse sentido, argumenta Freitas (2006, p.69) que:

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Outrossim, observe-se que a responsabilidade penal da pessoa jurídica não exclui a das pessoas naturais (art. 3º, § único da Lei 9.605/98). Assim, a denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica, caso não se descubra a autoria ou participação das pessoas naturais, e poderá, também, ser direcionada contra todos. Foi exatamente para isto que elas, as pessoas jurídicas, passaram a ser responsabilizadas. Na maioria absoluta dos casos, não se descobria a autoria do delito. Com isto, a punição fundava por ser na pessoa de um empregado, de regra o último ela da hierarquia da corporação. E, quando mais poderosa a pessoa jurídica, mais difícil se tornava identificar os causadores reais do dano. No caso de multinacionais, a dificuldade torna-se maior, e o agente, por vezes, nem reside no Brasil. Pois bem, agora o Ministério Público poderá imputar o crime às pessoas natural e à pessoa jurídica, juntos ou separadamente. A opção dependerá do caso concreto.

Concluindo, a responsabilidade é individual, tanto para

pessoas físicas quanto jurídicas, uma não elidindo a outra.

2.5 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA

Com o advento da Lei nº 9.605/98, a responsabilidade penal

passou a ser tema de muito conflito e divergência, vindo à tona a questão da

culpabilidade.

Explana Dawalibi (2003, p.4) que:

Embora os críticos da responsabilidade penal da pessoa jurídica se apeguem a princípios penais clássicos, como a culpabilidade e a responsabilidade pessoal, o que se percebe é que tais dogmas são utilizados muito mais como pretextos do que como argumentos para críticas. Assim, rechaçam a imputabilidade da pessoa jurídica a pretexto de ser ela uma violação da pessoalidade da pena ou uma forma de responsabilidade penal objetiva, quando, na verdade, o desiderato é negar a introdução de um instituto revolucionário e, por isso mesmo, perigoso em nosso Direito. Trata-se, portanto, de resistências que têm como justificativa aparente a violação de garantias fundamentais, mas que têm como causa real o conservadorismo ainda conservador do meio jurídico, no qual

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impera ainda uma tradição positivista e avessa a mudanças estruturais.

Destarte, para uma análise profícua das principais

argumentações aliadas ao aximoma societas delinquere non potest, prudente

fazer-se uma análise individualizada, expondo as principais linhas argumentativas

em ambos os sentidos.

2.5.1 Responsabilidade sem culpa

Ponderam os que são contra a responsabilização da pessoa

jurídica que ela pensa através das pessoas que a compõem. Como ela não tem

vontade, ânimo de delinqüir, qualquer condenação seria baseada na

responsabilidade objetiva. Todavia, as situações são distintas e assim devem ser

tratadas.

Sobre culpabilidade, ensina Capez (2002,p.265):

Culpabilidade é a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de uma infração penal. Por essa razão, costuma ser definida como juízo de censurabilidade e reprovação exercido sobre alguém que praticou um fato típico e ilícito. Não se trata de elementos do crime, mas pressuposto para imposição de pena, porque, sendo um juízo de valor sobre o autor de uma infração penal, não se concebe, possa, ao mesmo tempo, estar dentro do crime, como seu elemento, e fora, como juízo esterno de valor do agente.

Ainda sobre elementos da culpabilidade, ensina Mirabete

(1999, p.198):

Como elementos da culpabilidade têm-se a imputabilidade, a potencial consciência da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa. Assim, só há culpabilidade se o sujeito, de acordo com suas condições psíquicas, podia estruturar sua consciência e vontade de acordo com o direito (imputabilidade); se estava em condições de poder compreender a ilicitude de sua conduta (possibilidade de conhecimento da ilicitude); se era possível exigir,

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nas circunstâncias, conduta diferente daquela do agente (exigibilidade de conduta diversa).

Dentro deste contexto explana Prado (2001, p.138):

Falta à pessoa jurídica capacidade criminal. Se a ação delituosa se realiza com o agente realizando uma opção valorativa no sentido do descumprimento de um valor cuja positividade a lei penal impõe, se é uma decisão em que existe um querer, e um querer valorativo, vê-se que a pessoa jurídica não tem essa capacidade do querer dotado dessa postura axiológica negativa.

Argumenta Constantino (2002 ,p. 52):

No sistema penal pátrio em vigor, é totalmente inviável pensar-se em responsabilidade objetiva de pessoas jurídicas. A viga-mestra de tal sistema é o CP, que em seu artigo 13, caput, preceitua o seguinte:”o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. Logo à frente, no artigo 18, o mesmo Codex diz que essa ação ou omissão deve ser dolosa ou culposa. Assim, embora o Direito confira à pessoa moral existência distinta da de seus membros, é forçoso reconhecer-se que o referido ente não possui corpo físico próprio, nem psiquismo exclusivamente seu, razão pela qual não é capaz de ter dolo ou culpa, como resultado de uma atividade psicológica oriunda de sua própria personalidade (singularmente entendida), não podendo, destarte, praticar, por siso (mas apenas Poe meio de sus sócios), ações ou omissões. Em outras palavras: a pessoa jurídica é, na prática, um instrumento nas mãos de seus sócios, ou de algum ou alguns deles.

Ao revés, o argumento esposado há que ser visto por outro

prisma, no qual há o reconhecimento da capacidade de ação do ente coletivo,

além da possibilidade de se verificar sua culpabilidade.

Segundo Gomes (1999, p.115):

As grandes corporações possuem, no mundo dos negócios, uma vontade própria, que independe, muitas vezes, da vontade de seus dirigentes (...) Os órgãos sociais atuam independentemente de ordem, pois esse atuar é orgânico da empresa, é a sua vontade.

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Sobre o assunto, a doutrina francesa se expressa: “A pessoa coletiva é perfeitamente capaz de vontade; ela postula mesmo a vontade, porquanto nasce e vive do encontro das vontades individuais dos seus membros. A vontade coletiva não é um mito, caracteriza-se em cada etapa importante de sua vida, pela reunião, pela deliberação e pelo voto da assembléia geral dos seus membros ou dos seus Conselhos de Administração, Gerência ou de Direção. Essa vontade coletiva é capaz de cometer crimes tanto quanto a vontade individual”.

De fato, a pessoa jurídica, segundo Cabette (2002, p. 86),

“seria capaz de uma vontade coletiva, nascida do conjunto das vontades

individuais de cada um de seus componentes”.

Freitas apud Rothenburg (2006, p. 68):

A censura da pessoa jurídica não se confunde com a reprovação individual essencial, assim como o patrimônio da pessoa jurídica e toda sua atividade estão de alguma sorte ligados aos indivíduos que a integram..

Não se pode esperar da pessoa jurídica a consciência da

ilicitude. Mas, como ensina Lecey (2005, p.50), “pode se encontrar uma conduta e

chegar a um juízo de reprovação social e criminal sobre a ação da pessoa

jurídica.

Relevante se faz, nesse sentido, destacar a Jurisprudência do

TRF da 4ª Região, 2003. Mandado de Segurança nº 2002.04.01.013843- 0 :

(...) é forçoso concluir que não há lógica na atribuição de responsabilidade criminal a quem não pensa. Entretanto, também não há lógica em responsabilizar civilmente alguém que não decide. Se o pragmatismo impôs o reconhecimento da personalidade jurídica às sociedades, é ele novamente que há de imperar para atribuir responsabilidade penal à pessoa jurídica. Não pode o sistema sucumbir diante do crime empresarial sem qualquer reação a ações que se constituem no verdadeiro mal social

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Ainda quanto à culpabilidade, elucida Capez (2002, p.135), “a

reprovabilidade da conduta de uma empresa funda-se na exigibilidade de conduta

diversa, a qual é perfeitamente possível”.

Explana Gomes (1999, p.93):

Se encararmos a culpabilidade por um conceito normativo, o obstáculo desaparece e, se, mais do que isso, entendermos a culpabilidade de um ponto de vista funcionalista, ao contrário de obstáculo, a responsabilidade penal da pessoa jurídica será uma exigência insuperável.

Com efeito, a diretoria tem conhecimento da potencial ilicitude

da conduta, bem como da exigibilidade da ação diversa. Segundo Gomes (1999,

p.91), “a admissão da capacidade de agir conduz, necessariamente, à da

capacidade de culpa”.

Nesse sentido, explica Gomes (1999, p. 92) que:

Havendo esse reconhecimento da capacidade de ação e vontade, conseqüentemente emerge uma capacidade de culpa. Esta tem sido fundamentada na ‘teoria do risco da empresa’, também chamada na Comunidade Européia de ‘responsabilidade própria da empresa’. Basicamente, reconhece-se que a vantagem econômica auferida pela atividade industrial ou comercial agrega uma responsabilidade ética perante a sociedade. Trata-se de uma responsabilidade originária da empresa, de fundamento social, pois a empresa, do ponto de vista ético ou moral, possui uma responsabilidade por atuar dentro da sociedade da qual extrai seu ganho e sua existência. (...) A adequação social da atividade empresarial ou comercial pode também ser posta em cheque pelo Direito Penal sempre que extrapole os limites do ‘risco permitido’ interessante à coexistência social.

Assim, segundo Cabette (2002, p.87), infere-se que “a

atuação dos entes coletivos surge não como mera ficção, mas nos dias atuais,

especialmente, como uma avassaladora realidade”. Permitindo-se que, ante a

negação do preceito constitucional e à Lei dos Crimes Ambientais, os grandes

conglomerados empresariais se omitam na responsabilidade de seus prepostos,

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fomentando a impunidade e disseminando a inoperância estatal em sede de

persecução criminal.

2.6 A QUESTÃO PROCESSUAL

O legislador ambiental pecou ao economizar nas disposições

processuais atinentes à responsabilização criminal das pessoas jurídicas, o que

exige algumas peculiaridades inerentes à própria persecução criminal.

Destaca Cabette (2002, p.96):

O legislador de 1998, deforma simplista, nada mais fez do que ‘enunciar’ a responsabilidade penal da pessoa jurídica, cominando-lhe penas, sem lograr, contudo, ‘instituí-la completamente’. Para ele, essa responsabilidade não seria ‘passível de aplicação concreta e imediata, pois faltam-lhe instrumentos hábeis e indispensáveis para a consecução de tal desiderato’. Não seria possível quebrar o tradicional sistema de responsabilidade subjetiva sem ‘elementos básicos e específicos conformadores de um subsistema ou microssistema de responsabilidade penal, restrito e especial, inclusive com regras processuais próprias’.

Contudo, considerando que se aplicam subsidiariamente à

Lei dos Crimes Ambientais as disposições do Código Penal e do Código de

Processo Penal (art. 79, da Lei nº 9.605/98), as razões invocadas, uma vez mais,

não têm o condão de excluir da responsabilidade criminal as pessoas jurídicas.

De mais a mais, convém não olvidar que, conforme destaca

Gomes (1999, p.46), ”considerado como ordenamento jurídico, o direito não

apresenta lacunas: sempre haverá no sistema, ainda que latente e inexpressa,

uma regra para disciplinar cada possível situação ou conflito”.

Assim, o próprio ordenamento jurídico fornece instrumentos

legais para o fim colimado pela persecução criminal, bastando apenas bom senso

dos operadores.

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2.7 ARGUMENTOS CONTRÁRIOS E FAVORÁVEIS À RESPONSABILIDADE DA PESSOA JURÍDICA

2.7.1 Argumentos Contrários

Quatro são os principais argumentos contrários de acordo

com o mestre Schecaira (2003, p.103):

O primeiro argumento, e na realidade o mais importante, é que na há responsabilidade sem culpa. A pessoa jurídica, por ser desprovida de inteligência e vontade, é incapaz, por si própria, de cometer um crime, necessitando sempre recorrer a seus órgãos integrados por pessoas físicas, estas sim com consciência e vontade de infringir a lei.

Continuando acerca das demais críticas contrárias a

responsabilidade penal da pessoa jurídica, apresenta Schecaira (2003, p.104) :

A segunda objeção que se faz à responsabilidade da pessoa jurídica diz respeito à transposição a esses entes do princípio da personalidade das penas, consagrado pelo direito penal democrático. A condenação de uma pessoa jurídica poderia atingir pessoas inocentes como os sócios minoritários, os acionistas que não tiveram participação na ação delituosa, enfim, pessoas físicas que indiretamente seriam atingidas pela sentença condenatória. A terceira crítica diz respeito a serem inaplicáveis ás pessoas jurídicas as penas privativas de liberdade, reprovação essa que, ainda hoje, constitui-se na principal medida institucional utilizada contra as pessoas físicas. Por derradeiro, a última crítica levanta observação quanto à impossibilidade de fazer uma pessoa jurídica arrepender-se, posto que ela é desprovida de vontade. Pela mesma razão não poderia ela ser intimidade ou mesmo reeducada. Isto é, aqueles fins que normalmente se atribuem às penas não poderiam ser imputados à pessoa jurídica, posto que ela não tem capacidade de compreender a distinção entre os fatos ilícitos e os lícitos, que é o que determina a punição das pessoas físicas.

A respeito da terceira crítica apresentada acima por

Schecaira, dispõe Prado (2001, p.167) que:

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A individualização judicial da pena, como um corolário lógico do princípio constitucional da personalidade da sanção constitui uma das mais importantes etapas da realização do Direito Penal. Pressupõem um conjunto de elementos dos fatos e de direito dos quais o juiz vai refletir para a escolha e a quantidade da reação necessária e suficiente a fim de reprovar e prevenir o crime bem como o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade e a substituição desta espécie por outra. (pena restritiva de direito e multa). (CP, art. 59).

Argumenta Bittencourt (1997, p.53), que ”os dois principais

fundamentos para não se reconhecer a capacidade penal desses entes abstratos

são a falta de capacidade “natural” de ação e a carência de capacidade de

culpabilidade”.

Embora argumente sobre a não punibilidade penal da

pessoa jurídica, relata Bittencourt (1997, p. 55):

“(...) isto não quer dizer que o ordenamento jurídico, no seu conjunto, deva permanecer impassível diante dos abusos que se cometam, mesmo através de pessoa jurídica. Assim além de sanção efetiva aos autores físicos das condutas tipificadas, deve-se punir severamente também e, particularmente, as pessoas jurídicas, com sanções a esse gênero de entes morais.

Os opositores da responsabilidade penal da pessoa jurídica

entendem que as penas aplicadas à pessoa jurídica devam ser de acordo com o

seu gênero, ou seja, através de sanções não penais, e discorrem algumas penas

que podem ser atribuídas, como o “corporation’s probation”, que seria a imposição

de condições e intervenção no funcionamento da empresa, a imposição de um

administrador ou medida de segurança através do confisco ou até mesmo o

fechamento da empresa.

2.7.2 Argumentos favoráveis

Os defensores da responsabilidade penal da pessoa jurídica

criticam o posicionamento dos opositores, pois estes, apesar de serem contra tal

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responsabilidade reconhecem outros tipos de sanções tão firmes quanto às de

ordem penal, como as administrativas e civis para coibirem tais crimes.

Nesse sentido, conclui Schecaira (2003, p.105):

(...) os principais opositores da responsabilidade penal da pessoa jurídica afirmam que as penas às empresas ferem o princípio da personalidade. No entanto, dependendo da multa civil ou administrativa, no plano puramente do valor pecuniário, ela atingirá os sócios minoritários ou mesmos aqueles que não participaram da decisão, tanto quanto a pena resultante de processo criminal aplicada à empresa. Assim, em suposta defesa de sócios inocentes, ao proporem respostas não penais, esses autores ignoram que, da mesma forma, atingir-se-á o patrimônio daquele que não contribuiu para a tomada da decisão ilícita.

Outro argumento criticado diz respeito à desconsideração da

responsabilidade penal da pessoa jurídica, devido a impossibilidade de aplicação

da pena privativa de liberdade, já que não teria possibilidade de encarceramento

da mesma.

Em relação a essa crítica, debate Cabette (2003, p. 67):

As penas privativas de liberdade não são as únicas existentes no âmbito penal e, principalmente, em face do atual estágios das políticas criminais e da criminologia, não são as medidas mais desejáveis. A pena de prisão surge no cenário atual como medida extrema de ultima ratio a ser utilizada somente naqueles casos em que não restem alternativas menos gravosas para a solução dos problemas.

Sobre isso, pondera, Schecaira (2003, p.106):

Uma das principais tarefas atribuídas ao direito penal, dentro do Estado Democrático de Direito, é a de efetivar uma constante revisão da função punitiva, vale dizer, criar critérios restritivos da necessidade ou não de punir. Para que o sistema penal não sofra distorções autoritárias, que possam ferir a dignidade humana, deve-se ter em conta a desnecessidade da penas privativa de liberdade. A prisão é a forma mais extremada de controle social, é

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a expressão mais absoluta de seu caráter repressivo e deve, pois, ser reservada apenas para aqueles casos de crimes mais graves.

Outro fator argumentado para desconsideração da

criminalização do ente coletivo diz respeito à impossibilidade deste arrepender-se,

já que um dos principais atributos da pena criminal é a ressocialização dos

criminosos..

Contra esta posição, manifesta-se Schecaira (2003, p.107):

Já verificou-se que um dos principais objetivos atribuídos modernamente à pena é exatamente o de reprovar a conduta em conflito, a fim de validar o conceito de bem jurídico para a maioria do grupo social. Disso decorre que a imposição da pena deve ter como objetivo precípuo sua relevância pública e não objetivos morais. Dessa forma, pensar em impor objetivos morais a uma empresa, mais do que um contra-senso, é tentar reavivar algo que mesmo relativamente às pessoas físicas já não deve ser aplicado.

De tudo quanto foi exposto, deve-se evidenciar que a

intervenção do direito penal como ultima ratio, da política social, só será legítima

quando a responsabilidade penal for compartilhada entre os órgãos, pessoas

físicas, e o ente coletivo, desde que atendidos os pressupostos da culpabilidade,

sob pena de haver um indesejável tratamento privilegiado em favor dos entes

morais.

As questões dogmáticas concernente ao direito penal

clássico, não servem de supedâneo para impedir a responsabilidade penal das

pessoas jurídicas. Ao contrário, tais questões só servem para reforçar a idéia de

um direito penal dinâmico, que não quer parar no tempo.

Por fim, outro aspecto relevante a ser destacado é a

dificuldade que se tem de comprovar e identificar, no seio da empresa, qual foi o

agente individual que praticou o ilícito penal. A estrutura rígida das empresas,

baseada numa organização com expressivo grau de hierarquia, dificulta, a

apuração das responsabilidades. Por esse motivo, é imperiosa a sanção do ente

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coletivo, independentemente da identificação da pessoa singular que tenha

praticado o delito.

2.8 A VISÃO DO JUDICIÁRIO

Apesar da Lei 9.605/98 que criminalizou a conduta das

pessoas jurídicas, ser de 1998, existem poucas decisões judiciais a respeito da

matéria. Mas isto não significa, absolutamente, que o poder judiciário não venha

recebendo denúncias ou que as venha rejeitando, de forma alguma. O que se

passa, segundo Freitas (2006, p.82):

Que a maioria absoluta dos crimes ambientais admite transação ou suspensão do processo, na forma dos arts. 76 e 89 da Lei 9.99/95. assim, uma enorme quantidade de acordos vêm sendo realizados em varas de todos o Brasil, sem que haja registros ou estatísticas.

Quanto aos poucos casos que chagaram à segunda instância

da Justiça Federal e dos Estados, o que se nota é que a jurisprudência ainda não

está bem definida.

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina, examinando recurso

em sentido estrito, reformou decisão do Juiz de primeiro grau e recebeu denúncia

em caso de crime de poluição de rio em Recurso Criminal nº.00.020968-6, julgado

em 13/03/2001, Relator Desembargador Sólon D’eça Neves:

RECURSO CRIMINAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME AMBIENTAL. DENÚNCIA REJEITADA. RECONHECIMENTO DA RESPONSABILIDADE PENAL DAS PESSOAS JURÍDICAS. POSSIBILIDADE ANTE OADVENTO DA LEI 9.605/98. AUSÊNCIA DE PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. ORIENTAÇÃO DOUTRINÁRIA. RECURSO PROVIDO. COMPLETAMENTE CABÍVEL A PESSOA JURÍDICA FIGURAR NO PÓLO PASSIVO DA AÇÃO PENAL QUE TENTA APURAR A RESPONSABILIDADE CRIMINAL POR ELA PRATICADA CONTRA O MEIO AMBIENTE.

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O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região proferiu a primeira

decisão condenatória da América Latina, envolvendo pessoa jurídica. Apelação

Criminal nº 2001.72.04.002225-0/SC, julgada em 06/08/2003, Relator

Desembargador Federal Pinheiro de Castro:

PENAL. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. EXTRAÇÃO DE PRODUTO MINERAL SEM AUTORIZAÇÃO. DEGRADAÇÃO DA FLORA NATIVA. ARTS. 48 E 55 DA LEI 9.605/98. CONDUTAS TÍPICAS.RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CABIMENTO. NULIDADES. INOCORRÊNCIA. PROVA. MATERIALIDADE E AUTORIA. SENTENÇA MANTIDA.

I- Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial predominante, a Constituição Federal (art.225, § 3º), bem como a Lei 9.605/98 (art. 3º) inovaram o ordenamento penal pátrio, tornando possível a responsabilização criminal da pessoa jurídica.

II - Nos termos do art. 563 do CPP, nenhum ato será declarado nulo, se dele não resultar prejuízo à defesa.

III – Na hipótese em tela, restou evidenciada a prática de extrair minerais sem autorização do DNPM, nem licença ambiental da FATMA, impedindo a regeneração da vegetação nativa do local.

IV – Apelo desprovido.

Em outra oportunidade, o mesmo Tribunal reconheceu a

responsabilidade penal das pessoas jurídicas, todavia declarou inepta denúncia

que, sem especificar a conduta de três pessoas jurídicas e oito pessoas físicas,

atribui-lhes crime ambiental. Mandado de Segurança nº 2002.04.01.054936-2/SC,

julgado em 25/02/2003, Relator Desembargador Federal Vladimir Freitas:

CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO PENAL AMBIENTAL. AMPLA DEFESA. DENÚNCIA INEPTA. CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º, INCISO LV. CPP, ART. 41. LEI 9.605/98, ARTS. 40 E 55, TENTATIVA DE EXTRAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS. DANO À UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

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1. Estando a responsabilidade penal das pessoas jurídicas prevista no art.225, § 3º, da Constituição Federal no art.3 º. Da Lei 9.605/98, descabe criar interpretações destinadas a reconhecer como inconstitucional o que a Constituição criou, pois é vedado ao juiz substituir-se à vontade do constituinte e do legislador, ainda que dela possa discordar.

2. As pessoas jurídicas podem ser processadas por crime ambiental, todavia, a denúncia deve mencionar que a ação ou omissão foi fruto de decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, ainda que esta decisão tenha sido informal ou implícita.

3. Os consórcios são mera união de pessoas jurídicas e, por não terem personalidade jurídica, não respondem por crimes ambientais praticado por suas componente, seus representantes ou empregados.

4. È inepta a denúncia que de forma genérica e sem especificar a ação ou omissão de cada denunciado, três pessoas jurídicas e oito pessoas físicas, atribui-lhes a prática de crimes ambientais sem levar em conta se o Departamento Nacional de Produção Mineral deu ou não autorização para os acusados explorarem recursos minerais e sem especificar que tipo de unidade de conservação foi atingida, de que forma, e a serviço de que pessoa jurídica agiram.

O Superior Tribunal de Justiça, em um primeiro momento,

posicionou-se contra a responsabilidade penal da pessoa jurídica, conforme se

extrai do precedente Recurso Especial 622.724/SC, julgado em 18/11/2004,

Relator Ministro Félix Fischer:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RCURSO ESPECIAL. CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE. DENÚNCIA INÉPTA. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.

Na dogmática penal a responsabilidade se fundamenta em ações atribuídas às pessoas físicas. Dessarte, a prática de uma infração penal pressupõe necessariamente uma conduta humana. Logo, a imputação penal às pessoas jurídicas, frise-se carecedoras de

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capacidade de ação, bem como de culpabilidade, é inviável em razão da impossibilidade de praticarem um injusto penal. Recurso desprovido.

Contudo, tempos depois, pela mesma Turma, o Superior

Tribunal de Justiça assumiu posição favorável à criminalização dos entes

corporativos. Recurso Especial 564.960/SC, julgado em 02/06/2005, Relator

Ministro Gilson Dipp.:

CRIMINAL. CRIME AMBIENTAL PRATICADO POR PESSOA JURÍDICA. RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DO ENTE COLETIVO. POSSIBILIDADE. PREVISÃO CONSTITUCIONAL REGULAMENTADA POR LEI FEDERAL. OPÇÃO POLÍTICA DO LEGISLADOR. FORMA DE PREVENÇÃO DE DANOS AO MEIO AMBIENTE. CAPACIDADE DE AÇÃO. EXISTÊNCIA JURÍDICA. ATUAÇÃO DOS ADMINISTRADORES EM NOME E PROVEITO DA PESSOA JURÍDICA. CULPABILIDADE COMO RESPONSABILIDADE SOCIAL. CO-RESPONSABILIDADE. PENAS ADPTADAS À NATUREZA JURÍDICA DO ENTE COLETIVO. RECURSO PROVIDO.

I – Hipótese em que pessoa jurídica de direito privado, juntamente com dois administradores, foi denunciada por crime ambiental, consubstanciado em causar poluição em leito de um rio, através de lançamento de resíduos, tais como, graxas, óleo, lodo, areia e produtos químicos, resultantes da atividade do estabelecimento comercial.

II – A Lei Ambiental, regulamentando preceito constitucional, passou a prever, de forma inequívoca, a possibilidade de penalização criminal das pessoas jurídicas por danos ao meio ambiente.

III – A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos ambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas de punição das condutas lesivas ao meio ambiente, mas como forma mesmo de prevenção geral e especial.

IV – A imputação penal às pessoas jurídicas encontra barreiras na suposta incapacidade de praticarem uma ação de relevância penal, de serem culpáveis e de sofrerem penalidades.

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V – Se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídico e pratica atos no meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir a praticar condutas típicas e, portanto, ser passível de responsabilização penal.

VI – A culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade social, e a culpabilidade da pessoa jurídica, neste contesto, limita-se à vontade do seu administrador ao agir em seu nome e proveito.

VII – A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral.

VIII – De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu representante legal ou contratual ou de seu órgão colegiado.

IX – A atuação do colegiado em nome e proveito da pessoa jurídica é a própria vontade da empresa. A co-participação prevê que todos os envolvidos no evento delituoso serão responsabilizados na medida de sua culpabilidade.

X – A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de multa, de prestação de serviços à comunidade, restritivas de direitos, liquidação forçada e desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à sua natureza jurídica.

XI – Não há ofensa ao princípio constitucional de que nenhuma pena passará da pessoa do condenado, pois é incontroversa a existência de duas pessoas distintas: uma física – que de qualquer forma contribui para a prática do delito – e uma jurídica, cada qual recebendo a punição de forma individualizada, decorrente de sua atividade lesiva.

XII – A denúncia oferecida contra a pessoa jurídica de direito privado deve ser acolhida, diante de sua legitimidade para figurar no pólo passivo da relação processual penal.

XIII – Recurso provido, nos termos do voto do Relator.

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CAPÍTULO 3

SANÇÕES E MEDIDAS PENAIS APLICÁVEIS À PESSOA JURÍDICA

3.1 SANÇÕES PENAIS

A aplicação das sanções penais ambientais tem como

objetivo primordial e elementar assegurar a todos o direito constitucional ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado.

Pode-se dizer que a tendência atual e necessária da pena é

no sentido de prevenção, apresentando-se como um freio, uma intimidação ou

ameaça, obstando as pessoas, principalmente as jurídicas, a não incidirem na

prática de crime contra o meio ambiente.

Nesse sentido, destaca Bonat (2006, p.79):

A pena apresenta-se como forma de prevenção especial, agora já direcionada à pessoa do infrator, buscando fazer com que, no futuro, em face da ameaça da sanção criminal, evite tornar à prática da infração, passando a adequar socialmente o seu comportamento.

Portanto, prevenir é, sem dúvida, a função maior em se

tratando de proteção ao meio ambiente, com o fim de obstar a prática do crime e

conseqüentemente dano ambiental.

Para a pessoa jurídica, foram previstas, na parte geral da Lei

nº 9.605/98, mais precisamente no artigo 21 as penas de multa, restritiva de

direitos e também de prestação de serviços à comunidade.

Inovou a lei, quando elegeu à categoria de pena autônoma a

prestação de serviços à comunidade, que já era prevista para as pessoas físicas,

mas na condição de espécie de pena restritiva de direitos (art. 43, IV, do CP).

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Deve-se observar que, agora, as penas restritivas de direito

e também de prestação de serviço à comunidade não se tratam de penas

substitutivas, mas sim de penas autônomas, pois, às pessoas jurídicas não

podem ser aplicadas penas restritivas de liberdade.

3.2 PENA DE MULTA

De acordo com o artigo 18 da Lei 9.605/98, a multa será

calculada pelos critérios do Código Penal; se revelar ser ineficaz, mesmo sendo

aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o

valor da vantagem econômica auferida.

A crítica a esta pena reside no fato de que a multa cominada

à pessoa jurídica não ganhou disciplina própria, aplicando-se a regra do artigo 18

da Lei dos Crimes Ambientais, que remete às normas do Código Penal, o que faz

com que a multa possa não ser condizente com o faturamento da empresa.

Nesse sentido, escreve Sirvinskas (1998, p.22):

Uma vez mais se exige bom senso do operador jurídico, pois deixou o legislador de disciplinar com clareza hipótese específica de multa para pessoa jurídica. Adotou-se o mesmo critério utilizado para a pessoa física.

Este também é posicionamento de Schecaira (2003, p. 161)

Embora deva-se ter em conta a situação econômica do infrator (art. 6º, III), não foi adotado um critério específico para as empresas, não equacionando uma regra própria para a pessoa jurídica pagar seu “próprio dia-multa”. Assim, punir-se-á, da mesma maneira, a pessoa jurídica e a pessoa física, com critérios – e valores- que foram equalizados, o que é inconcebível. Melhor seria se houvesse transplantado o sistema dias-multa do Código Penal para a legislação protetiva do meio ambiente, fixando uma unidade específica que correspondesse a um dia de faturamento da empresa e não em padrão de dias-multa contidos na Parte Geral do Código Penal. Da maneira como fez o legislador, uma grande

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empresa poderá ter pena pecuniária não condizente com sua possibilidade de ressarcimento do dano ou mesmo com a vantagem obtida pelo crime.

Há um posicionamento contrário: para alguns juristas o

legislador foi prudente ao fixar a sanção pecuniária máxima nos moldes do

Código Penal. Sustentam que os valores podem ser significativos até mesmo para

empresas de grande porte e que já são suficientes para exercer a função

preventiva.

Assim entende Pierangeli, (2003, p. 4):

Entendemos ter sido prudente o legislador ao fixar tal sanção pecuniária máxima, pois que tais valores podem se apresentar significativos até para as empresas de grande porte, tornando-se a pena apta para cumprir as funções de reprovação e prevenção geral e especial.

Argumenta Bonat (2006, p. 81) que:

Inobstante, da forma atual, em face dos parâmetros do artigo 18, existe margem de trabalho suficiente para que o operador do direito possa chegar a valor condizente com a realidade fática da infração e condição econômica da empresa.

Dessa forma, aplicável a previsão do artigo 49 do Código

Pena, quando estabelece que a pena de multa consistirá no pagamento ao fundo

penitenciário, da quantia fixada na sentença, calculada em dias-multa, no limite

mínimo de dez dias e máximo de 360 dias.

Importante frisar que a pena de multa não se confunde com a

pena de prestação pecuniária, que , no caso, é pena restritiva de direito, aplicável

somente à pessoa física, e o pagamento do dinheiro será destinado à vítima ou

entidade pública ou privada com fim social.

Destaca, Machado (2001, p. 666):

A pena de multa aplicada à pessoa jurídica não terá efeito direto na reparação do dano cometido contra o meio ambiente, pois o

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dinheiro será destinado ao fundo penitenciário. Dessa forma, é uma sanção penal que deve merecer prioridade no combate à delinqüência ambiental praticada pelas corporações.

A fixação da pena é feita em duas etapas. Primeiramente se

fixa o número de dias entre o limite de 10 e 360, levando-se em conta a gravidade

do crime e do dano ambiental, previstas no artigo 6º, I da Lei 9.605/98 e, como

possibilita o art. 79 da mesma Lei, subsidiariamente, as circunstâncias judiciais e

legais do artigo 59, do CP, atenuantes e agravantes, causas de diminuição e de

aumento.

Já na segunda etapa, deverá ser estipulado o valor do dia-

multa, não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal

vigente ao tempo do fato, nem superior a cinco vezes esse mesmo salário, nos

termos do §1º, do artigo 49 do Código Penal, quando será considerada a situação

econômica do infrator conforme art. 6º, III da Lei 9.605/98, que reforça regra no

artigo 60 do Código Penal.

Nesse contexto, transcreve-se o entendimento do Tribunal

Regional Federal da 4ª Região, nos autos da Apelação Criminal nº

200104010852455, julgado em 20/11/2002, relator Desembargador Federal Fábio

Rosa:

“(....) Na aplicação da pena de multa, deve ser calculado, em primeiro lugar, o número de dias-multa, considerando as circunstâncias judiciais do delito, bem como as agravantes e atenuantes e as causa de aumento e de diminuição porventura existentes e, a seguir o valor de cada dia, em função da situação econômica do réu, nos temos do art. 60 do Código Penal.

Frise-se que poderá, ainda, segundo o § 1º, do artigo 60 do

Código Penal, ser aumentada até o triplo, se ineficaz diante da privilegiada

situação econômica do réu.

Mas, a Lei 9.605/98, em seu artigo 18, 2ª parte, permite,

ainda, que tal valor seja acrescido de até três vezes, o que em princípio poderia

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ser interpretado como um bis in idem, em face da previsão do referido § 1º, do

artigo 60 do Código Penal.

Nesse sentido explica Bonat (2006, p.80):

Mas, se considerado que a Lei 9.605 foi editada em 1998 e a redação do artigo 60, § 1º, do Código Penal, é de 1984 (Lei 7.209), conclui-se que não seria intenção do Legislador repetir norma já existente, mas possibilitar o agravamento do apenamento pela multa, em casos de elevada vantagem econômica auferida pela prática infracional.

Ainda, o mesmo autor (2006, p. 80) ressalta que:

Deve ser ressalvada a posição de doutrinadores, que entendem que o maior valor de multa seria obtido mediante a fórmula – 360 dias-multa (art. 49, do CP) x 5 salários mínimos (§1º, art.49, do CP) x 3 (art. 18, 2ª parte, Lei 9.605/98). Assim, não teria aplicação o aumento de triplo previsto no § 1º do art. 60 do CP.

Poderia ser cogitado, ainda, ocorrência de bis in idem em

relação ao prejuízo causado e a vantagem econômica auferida. Nesse sentido,

esclarece Bonat (2006, p. 81):

Isso não ocorre, desde que o montante do prejuízo causado será considerado quando da fixação do número de dias-multa, porquanto inerente ao aspecto das conseqüências do crime (art.59, do CP). Já a vantagem econômica não se confunde com o montante do prejuízo, podendo em muito supera-lo e dele estar aquém, devendo ser sopesada para o agravamento ou não do valor da pena de multa, como estabelecido na 2ª parte do art. 18, da LA.

Por outro lado, para a perfeita integração destas normas, é

relevante a realização de perícia técnica, que servirá ainda para esclarecer o

montante do prejuízo causado e, inclusive, a vantagem econômica, para fins de

reparação de dano.

Por fim, ainda sobre a pena de multa, assevera Freitas (2006,

p. 76):

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Não se pode deixar de registrar a pouca efetividade da sanção pecuniária no direito penal brasileiro, pois, segundo entendimento jurisprudencial, se não for paga pelo condenado, seu valor se transformará em cobrança através de execução fiscal, nos termos do artigo 51 do Código Penal, alterado pela Lei 9.268/96.

Completa o mesmo autor (2006, p.76):

Desse modo, o condenado paga se quiser, e, se a sua opção for não pagar, terá a possibilidade de discutir por anos o critério tributário constituído pela inscrição da multa penal em dívida ativa, interpondo embargos à execução e valendo-se de todos os inúmeros recursos que alei processual civil brasileira oferece.

Ao revés de tais críticas, pondera Sanson (2004) que:

A pena de multa, tão criticada por sua suposta ineficácia, no caso da pessoa jurídica pode ser uma das sanções mais eficazes, visto que muitos delitos ambientais são cometidos pelos entes coletivos com o intuito de reduzir custos, tais como o despejo de resíduos tóxicos sem qualquer tratamento, a utilização de agrotóxicos não permitidos, entre tantas outras atividades lesivas ao meio ambiente. Se um crime é cometido por ambições financeiras, uma pena que envolva prestação pecuniária pode mostrar-se eficaz. A aplicação da multa penal deixa marcas negativas e indesejáveis à pessoa jurídica, marcas estas que podem obstar a celebração de futuros contratos.

Nesse sentido, a tutela penal do meio ambiente visa a não

reincidência na prática de crimes ambientais.

3.3 PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO

A Lei 9.605/98 estabelece que as penas restritivas de direito

agora não mais como substitutivas das penas privativas de liberdade a pessoas

físicas, como previsto no artigo 44 do Código Penal.

Para aplicação às pessoas jurídicas assumem elas caráter

autônomo, como penas principais, sendo respectivamente: suspensão parcial ou

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total de atividades; a interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;

proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,

subvenções ou doações. Cabe ao juiz escolher, dentre as penas previstas, aquela

mais adequada ao caso concreto.

Freitas (2006, p. 75), salienta que “essas restrições acabarão

sendo as verdadeiras e úteis sanções, à proporção que remetem à reparação do

dano, quando for possível”.

3.3.1 Suspensão parcial ou total de atividades

A suspensão de atividades, segundo o art. 22, § 1º, Lei

9.605/98 será aplicada quando os entes coletivos não estiverem obedecendo às

disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente.

Esta pena atinge diretamente a vida econômica de uma

empresa, sendo aplicada toda vez que uma entidade age contra a “saúde” do

meio ambiente.

Nesse sentido, escreve Machado (2004, p. 670):

A suspensão das atividades de uma entidade revela-se necessária quando a mesma age intensamente contra a saúde humana e contra a incolumidade da vida vegetal e animal. É pena que tem inegável reflexo na vida econômica de uma empresa. Mesmo em época de dificuldades econômicas, e até de desemprego, não se pode descartar sua aplicação. Caso contrário, seria permitir aos empresários ignorar totalmente o direito de todos a uma vida sadia e autorizá-los a poluir sem limites.

Aceti Júnior (2002, p. 35), salienta que esta pena deve ser

aplicada “indiferente do momento difícil por que passa a entidade jurídica, pois,

caso contrário não seria possível frear as insanas degradações causadas ao meio

ambiente”.

Este também é o posicionamento de Reis (2002, p.378-379):

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57

A atividade principal de uma pessoa jurídica, na maioria das vezes tem natureza econômica. Neste caso, quando suspensa parcial ou totalmente, pode colocar em risco a própria sobrevivência da pessoa jurídica. (...) Entretanto, caso as atividades exercidas pela pessoa jurídica estejam causando sério dano ou se encontre na iminência de os causar, não resta dúvida que o preceito é de eficácia incontestável. Se bem que parcimoniosamente aplicada, tal pena poderá ter uma eficácia enorme na tutela do patrimônio ambiental.

No entanto, o entendimento dos autores supra diverge do de

Bonat (2006, p. 83), o qual menciona:

Em se tratando de um único ato que venha a causar dano ao meio ambiente, em princípio, não é de se vislumbrar qual a utilidade dessa pena para a prevenção – o dano já ocorreu. Melhor resultado seria obtido com a aplicação de outras penas igualmente previstas, que resultariam mais eficazes para os fins almejados, inclusive, objetivando a recuperação do dano ambiental.

Ainda, o mesmo autor (2006, p. 83):

Assim, em função de urgência, o caminho mais indicado para a prevenção ou fazer cessar o dano é a utilização da ação civil pública, onde prevista a obtenção de mandados liminares, consoante previsão dos arts. 4º e 12 da Lei 7.347/85.

Portanto, para esse autor, apesar da suspensão de atividades

não ser a pena mais indicada, salienta que (2006, p. 83), “poderá a aplicação

desta pena resultar em coibição de condutas futuras de reiteração na prática

infracional, porém, apenas em casos extremos”.

Conforme a potencialidade do dano ou sua origem, uma

empresa poderá ter suas atividades suspensas parcialmente, ou seja, poderá ter

apenas determinado setor paralisado, ou ainda terá suas atividades suspensas

em sua totalidade.

A lei não indica ao juiz o tempo mínimo ou máximo da pena.

O juiz poderá, conforme o caso, fixar em horas, em um dia ou em ainda uma

semana a suspensão das atividades.

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58

3.3.2 Interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade

Aplicar-se-á a interdição temporária do estabelecimento, obra

ou atividade, conforme o art. 22, § 2º, da Lei 9.605/98, quando estiver

funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou

com violação de disposição legal ou regulamentar.

Por se tratar de obra, atividade ou estabelecimento que, pela

própria característica, poderão concretizar dano ambiental, e, sendo a prevenção

a melhor solução, a obrigatoriedade de atender aos procedimentos que evitem

danos ao ambiente é questão precedente ao próprio início de trabalhos, conforme

artigo 10 da Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente:

Art. 10 A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis.

Sobre a pena de interdição, destaca Bonat (2006, p. 84):

A pena em questão vem de encontro à previsão das figuras previstas no art. 60, da Lei 9.605/98, podendo ser referido, exemplarmente, a construção de obra potencialmente poluidora, sem a necessária licença do órgão ambiental. Ora, nada mais adequado do que a interdição da referida obra, objetivando com isso afastar a continuidade do dano.

Este também é o posicionamento de Reis (2002, p. 378-379):

Mais uma vez, concluímos que tal pena vem de encontro a necessidade de se fazer cessar prontamente a agressão ambiental quando o estabelecimento, obra ou atividade da pessoa jurídica estiver funcionando de forma irregular, causando o dano ambiental tipificado na Lei. Na maioria das vezes, os crimes ambientais são praticados em questão de segundos, razão pela qual a pena vem

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de encontro a esta necessidade de se fazer para de pronto a agressão ambiental.

Logo, conclui-se que a interdição é razão bastante para que a

pessoa jurídica busque corrigir a falta, obtendo a necessária autorização, para

que a obra esteja adequada aos cuidados relacionados à proteção ambiental.

A pena de interdição, como explicitamente previsto, é

temporária. Seu escopo segundo Machado (2004, p. 670), “é levar a entidade a

adaptar-se à legislação ambiental, isto é, a somente começar a obra ou iniciar a

atividade com a devida autorização”.

Salienta-se que o legislador não fez menção alguma sobre o

prazo da vigência desta interdição temporária, segundo entende Aceti (2002,

p.35), “sendo assim utilizados por analogia, os prazos referidos no art. 10 da Lei

9.605/98, que tratam sobre os prazos de interdição temporária, previstos para

pessoas físicas”.

3.3.3 Proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações

Por derradeiro, segundo o art. 22, § 3º, a proibição de

contratar como Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não

poderá exercer o prazo de dez anos.

Ensina Machado (2001, p. 668) :

Este dispositivo tem como conseqüência o impedimento de a empresa condenada apresentar-se às licitações públicas. Ainda que a licitação seja anterior ao contrato com o Poder Público, não teria sentido no prazo da vigência da pena que uma empresa postulasse contrato a que não tem direito. O dinheiro público, isto é, o dinheiro dos contribuintes, só pode ser repassado a quem não age criminosamente, inclusive com relação ao meio ambiente.

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Além da contratação, é prevista a proibição do recebimento

de subsídios, compreendidos como ajuda ou auxílio prestado pelo Poder Público

às pessoas jurídicas, de natureza fiscal ou mesmo de financiamento privilegiados

para determinadas categorias.

Prevista ainda a proibição de doação, conforme artigo 538 do

Código Civil, “contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu

patrimônio bens ou vantagens para o de outra”.

Finalmente, a previsão de subvenções, definidos nos termos

do artigo 12, § 3º, da Lei 4.320/64, como sendo as transferências destinadas a

cobrir despesas de custeio das entidades beneficiadas, podendo ser:

I – subvenções sociais, as que se destinem a instituições públicas ou privadas de caráter assistencial ou cultural, sem finalidade lucrativa;

II – subvenções econômicas, as que se destinem a empresas públicas ou privadas de caráter industrial, comercial, agrícola ou pastoril.

Como alguns exemplos de subvenções podem ser referidos:

Lei 9.427/97, dispõe sobre a concessão de subvenção econômica a produtores

de borracha natural e dá outras providências; Lei 10.612/2002, dispõe sobre a

concessão de subvenção econômica à aquisição de veículos automotores

movidos a álcool etílico hidratado carburante e dá outras providências; Lei

8.427/92, dispõe sobre a concessão de subvenção econômica nas operações de

crédito rural.

Assim, nada mais óbvio que vedar a concessão de tais

benefícios, em casos de pessoas jurídicas que descumprem as normas de

proteção ambiental.

Ainda quanto à aplicação das penas restritivas de direitos, o

ideal seria que estas fossem cumpridas junto às instituições atuantes na área

ambiental, o qual, segundo Aceti Júnior (2002, p. 37), “os valores arrecadados

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das multas aplicadas às pessoas jurídicas infratoras seriam convertidas ao Fundo

Nacional do Meio Ambiente”.

3.4 PENA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE

Como última modalidade, a pena de prestação de serviços à

comunidade cabíveis às pessoas jurídicas, segundo o artigo 23, tem-se o custeio

de programas e de projetos ambientais: a execução de obras de recuperação de

áreas degradadas; a manutenção de espaços públicos, bem como contribuições a

entidades ambientais ou culturais públicas.

Destaca Reis (2002, p. 379) que:

Analisando o espírito da Lei, qual seja, o de proteção e preservação do meio ambiente e dos recursos naturais indispensáveis à vida na terra, cremos, firmemente, que as penas elencadas no artigo 23 da Lei são as que vão diretamente ao encontro do espírito legal. Há de se levar em conta também, que no Direito Penal Moderno é consenso que não basta somente punir, mas principalmente reeducar e reparar o dano causado pela prática criminosa.

Nesse sentido, salienta Bonat (2006, p. 87) que:

A prestação de serviços à comunidade, sem embargo, vai representar destacado papel no apenamento e na própria prevenção de infrações. Pode-se concluir que das penas estipuladas é a mais eficaz na reparação do dano ao meio ambiente, vez que todo o seu direcionamento é concentrado para essa finalidade.

Interessante destacar caso concreto, julgado na !ª Vara

Federal da Circunscrição Judiciária de Criciúma/SC, cuja sentença condenou

pessoas jurídicas à prestação de serviço à comunidade, representada pelo

custeio de programas/projetos ambientais. Sentença confirmada pelo Tribunal

Regional Federal da 4ª Região, Apelação Criminal 2001.72.04.002225-0/SC,

julgada em 20/08/2003, Relator Desembargador Federal Èlcio Pinheiro de Castro:

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PENAL. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. EXTRAÇÃO DE PRODUTO MINERAL SEM AUTORIZAÇÃO. DEGRADAÇÃO DA FLORA NATIVA. ARTS. 48 E 55 DA LEI 9.605/98. CONDUTAS TÍPICAS.RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. CABIMENTO. NULIDADES. INOCORRÊNCIA. PROVA. MATERIALIDADE E AUTORIA. SENTENÇA MANTIDA.

I- Segundo entendimento doutrinário e jurisprudencial predominante, a Constituição Federal (art.225, § 3º),bem como a Lei 9.605/98 (art. 3º) inovaram o ordenamento penal pátrio, tornando possível a responsabilização criminal da pessoa jurídica.

II - Nos termos do art. 563 do CPP, nenhum ato será declarado nulo, se dele não resultar prejuízo à defesa.

III – Na hipótese em tela, restou evidenciada a prática de extrair minerais sem autorização do DNPM, nem licença ambiental da FATMA, impedindo a regeneração da vegetação nativa do local.

IV – Apelo desprovido.

Ainda quanto à aplicação da pena de prestação de serviços,

Freitas (2006, p. 77) destaca que:

Nada impede e é até recomendável, que a prestação de serviços a ser cumprida por pessoa jurídica seja feita a favor de entidade ambiental. Por exemplo, empresa que promoveu o corte de árvores da Serra do Mar sem autorização do órgão ambiental poderá prestar serviços a uma ONG que destine a proteger a Mata Atlântica.

Para que o juiz possa arbitrar a duração da prestação de

serviços e do montante a ser despendido, é necessário que se analisem os custos

dos serviços a serem prestados, ocorrendo assim, conforme escreve Aceti (2002,

p.36), “uma correta equiparação entre as vantagens obtidas com o cometimento

de determinado crime e os recursos econômicos e financeiros da entidade

jurídica, ora condenada”.

Explica Machado (2004, p. 671):

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Será oportuno que se levantem os custos dos serviços previstos no art. 23 para que haja proporcionalidade entre o crime cometido, as vantagens auferidas do mesmo e os recursos econômicos e financeiros da entidade condenada. O justo equilíbrio haverá de conduzir o juiz na fixação da duração da prestação de serviços e do quantum a ser despendido.

Nesse sentido, entende Bonat (2006, p. 87) que:

No transcurso da ação penal, caberá ao Ministério Público diligenciar ou mesmo a ao Juiz determinar providências para que venham aos autos o contrato social atualizado da empresa, onde conste seu capital social, informações sobre o faturamento mensal, o patrimônio, enfim, tudo o que puder servir de subsídio para, ao final no caso de condenação, existirem parâmetros para a fixação da pena.

No tocante à manutenção de serviços públicos, destaca

Bonat (2006, p. 88), ser esta, sem dúvida, pena de grande relevância.

A começar pela sempre presente carência de recursos por parte do Estado, para a conservação dos espaços públicos, sejam aqueles de uso comum, como praças, parques, jardins, ruas, ou mesmo os de uso especial, como edifícios, terrenos. Então, viria a calhar a manutenção de espaço público, como forma de aplicação de pena à pessoa jurídica, reforçando a idéia de pena no sentido de prevenção e com destaca função social.

Quanto à contribuição a entidades ambientais ou culturais

públicas , destaca-se ser essa pena nitidamente de cunho pecuniário, para o qual

não foi estabelecido nenhum parâmetro pela lei. Nesse sentido destaca Bonat

(2006, p. 89) que:

Lamentável, porquanto dificulta ao operador do direito a sua individualização. Mas, ainda assim, poderá ser buscada a solução para o impasse a partir de fatores como o prejuízo causado pelo dano ambienta, o patrimônio da empresa.

Nessa linha, posiciona-se Costa Neto (2001, p. 108):

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Deveria ser tomado como parâmetro para afixação do valor da contribuição os limites apresentados para a prestação pecuniária do artigo 12 da lei 9.605/98, entre 1(um) salário mínimo e o máximo de 360 salários mínimos.

Assim, a prestação de serviços à comunidade tem função

social e seu cumprimento implica a educação daqueles que ainda não têm

discernimento acerca da melhor forma de usufruir e preservar os recursos

naturais.

3.5 DESCONSIDERAÇÃO E LIQUIDAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica , nos termos do

artigo 4º da Lei 9.605/98, sempre que sua personalidade for obstáculo ao

ressarcimento de prejuízos causado à qualidade do meio ambiente.

Trata-se da conhecida desconsideração da personalidade

jurídica, permitindo que o juiz desconsidere a pessoa jurídica, voltando-se

diretamente contra seus administradores e não mais contra a pessoa jurídica,

segundo escreve Sirvinskas (1998, p. 23), “a qual está servindo apenas como

escudo para que seus administradores pratiquem crimes em seu nome”.

Está previsto no artigo 24 da Lei 9.605/98 a possibilidade da

liquidação de pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com

fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime, sendo o seu patrimônio

considerado instrumento do crime perdido em favor do Fundo Penitenciário

Nacional.

A liquidação forçada é a penalidade mais grave. No âmbito

das penas aplicáveis às empresas, a maior diferença entre estas e as penas

aplicáveis à pessoa natural, no que tange às funções da pena, é o fato de que o

sistema jurídico admite a “pena de morte” para a pessoa jurídica, sendo esta

representada pela liquidação forçada.

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Freitas (200, p. 74) assevera que:

Por não se conhecer empresas que se encaixem nas exigências legais para a liquidação, em razão da atividade preponderante, a pena de liquidação forçada tem forte caráter preventivo e sua aplicação deverá ser rara, até porque depende de pedido expresso na denúncia, pois, em sendo diretamente imposta pelo juiz na sentença, obsta o direito à ampla defesa e ao contraditório. Portanto, na inicial acusatória deverá ficar explícita a acusação do desvio de finalidade da pessoa jurídica, e o pedido de sua liquidação ao final.

Nesse sentido, também se posiciona Sznick (2001, p. 236):

Tal previsão somente deve ser aplicada em casos extremos, onde a gravidade do fato exige uma punição exemplar, mesmo porque essa punição abrange, também, os sócios não culpáveis; ademais, em sendo empresa de dimensões, a repercussão socioeconômica é grande atingindo, muitas vezes, toda a comunidade (empresa grande em um pequeno município interiorano).

Essas são as penas aplicáveis à pessoa jurídica. Não há

como se furtar a sua aplicação.

3.6. MEDIDAS ALTERNATIVAS

3.6.1 Transação penal e suspensão do processo

O legislador admitiu expressamente, nos crimes ambientais, a

possibilidade da aplicação da transação penal prevista no art. 76 da Lei 9099/95,

acrescentando, como requisito preliminar, a reparação do dano causado ao meio

ambiente, salvo em caso de comprovada impossibilidade, nos termos do artigo 27

da lei 9.605/98, que dispõe:

Art.27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a

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prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

São consideradas como infração de menor potencial

ofensivo, passíveis de transação penal, aquelas dispostas segundo o artigo 2º,

parágrafo único da Lei 10.259/2001:

Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo.

Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a que a lei comina pena máxima não superior a dois anos, ou multa.

Explica Sirvinskas (1998, p.40) que :

Assim, sendo caso de transação penal, o Ministério Público, a defesa e o infrator ambiental discutem qual a melhor medida a ser aplicada ao caso em espécie. Em havendo consenso, o acordo será submetido à apreciação do juiz, o qual, verificando a presença dos pressupostos legais, proferirá uma decisão homologatória da transação.

Esta não gera condenação, reincidência, lançamento do

nome do autor da infração ambiental no rol dos culpados, efeitos civis e nem

maus antecedentes.

Também se admitiu expressamente a aplicação da

suspensão do processo, cuja pena, segundo o artigo 89 da Lei nº 9099/95 é igual

ou inferior a um ano, acrescentando-se algumas exigências. O Ministério Público,

segundo o § 2º pode propor e o Magistrado poderá especificar, condições

adequadas ao caso concreto e à situação pessoal da pessoa jurídica acusada.

Assim, a extinção da punibilidade está condicionada à prévia

reparação do dano ambiental. Para tanto, será necessária a elaboração de laudo

de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada, segundo o artigo 28,

I da Lei nº 9.605/98, a impossibilidade de faze-lo.

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Tendo como escopo ainda a reparação do dano ambiental foi

prevista a possibilidade de prorrogação do prazo de suspensão que, na forma do

artigo 89, da Lei 9099/95, é de dois a quatro anos.

Conforme o inciso.II, do artigo 28, da Lei 9.605/98, o prazo

será prorrogado, até o período máximo de quatro anos, acrescido de mais um

ano, com a suspensão do prazo de prescrição, não se aplicando a previsão do

inciso III, do artigo 28 às pessoas jurídicas, por ser evidente, como por exemplo

proibição de freqüentar determinados lugares.

Decorrido o prazo de prorrogação, será elaborado novo laudo

de constatação, conforme inciso IV, do mesmo artigo 28 e, não satisfeita a

reparação do dano, o prazo de suspensão poderá, novamente, ser renovado, até

o máximo previsto, ou seja, por mais cinco anos, segundo o inciso II, do artigo 28.

Ainda assim, segundo o inciso V, a extinção da punibilidade dependerá de

comprovação de que o acusado tomou as providências necessárias à reparação

do dano.

Busca-se, em primeiro lugar, com a exigência desses

requisitos, a reparação do dano ambiental.

3.7 DOSIMETRIA DAS PENAS

A aplicação das penas às pessoas jurídicas, em princípio,

deverá seguir as linhas traçadas pelo artigo 6º, Lei 9.605/98, que dispõe:

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:

I – a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências para a saúde pública e para o meio ambiente;

II – os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;

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III – a situação econômica do infrator no caso de multa.

Este dispositivo em muito se assemelha à previsão do artigo

59 do Código Penal, o qual será aplicado subsidiariamente, que dispõe:

Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

Assim, num primeiro momento, deverá ser observada a

gravidade do fato (inc. I), o que se coaduna com a culpabilidade (reprovabilidade

da conduta), os motivos, as circunstâncias e conseqüências do crime (art. 59 do

CP); os antecedentes do infrator (inc. II), que se amoldam aos antecedentes (art.

59 do CP); a situação econômica do infrator (inc. III), que se compatibiliza com a

situação econômica do réu (art. 60 do CP).

De forma semelhante à aplicação da pena às pessoas físicas,

no caso das pessoas jurídicas, o marco inicial será a análise dos critérios

previstos no art. 6º, da Lei 9.605/98 e art. 59 do CP, estes evidentemente no que

compatíveis, como por exemplo não poderia ser considera a personalidade,

desde que ausente na pessoa jurídica.

Então, a partir dessa nova ordem, por exemplo, deverá a

pessoa jurídica ter seus antecedentes penais considerados, assim como sua

conduta social, conforme escreve Bonat (2006, p. 92), “não se ignora que toda

pessoa jurídica possui uma função social em conseqüência do que deverá pautar

sua conduta perante a coletividade na qual está inserida”.

Deverá, assim, ser escolhida a penal aplicável dentre as

cominadas e também a quantidade da pena dentro dos limites previstos,

conforme estabelecido no artigo 68 do Código Penal :

Art. 68. A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.

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Deve-se ressaltar que a Lei 9.605/98 traz a previsão das

causas atenuantes e agravantes nos artigos 14 e 15, que deverão ser

consideradas, por óbvio, no que compatíveis com as pessoas jurídicas, ficando

por exemplo, excluída a atenuante prevista no art. 14, I (baixo grau de

escolaridade).

Aspecto de relevância é sobre a questão da ausência de

limites para a pena ser imposta. Na forma da redação da Lei 9.605/98, mais

especificamente os artigos 21 e 22, não se encontra tal parâmetro.

A solução mais viável e possível de aplicação é considerar

como parâmetros para a pena restritiva de direito de suspensão de atividade,

como ainda para outras penas restritivas de direitos, a própria previsão de cada

tipo penal, como dispõe o artigo 55 do Código Penal.

Nesse sentido, escreve Bonat (2006, p.91) que:

Assim, exemplificando, no caso de crime de poluição (art. 54, da Lei 9.605/98), onde é estabelecido o limite de 01 a 04 anos para a pena privativa de liberdade, esse seria o limite a balizar a aplicação das penas restritivas de direitos, podendo ser imposta a sua suspensão parcial ou total de atividade por período não inferior a 01 ano e não superior a quatro anos.

Pondera Freitas (2006, p. 75):

Ocorre que muitas vezes a lesão ao meio ambiente tem efeitos muito mais duradouros. Imagine uma empresa que pratica corte de araucárias à beira de um rio, sem autorização da autoridade administrativa, assim infringindo o art. 38 da Lei 9.605/98. o tempo que tal tipo de árvore leva para tornar-se adulta é de cerca de trinta anos. Se a pessoa jurídica vier a ser condenada pela prática do fato, cuja pena vai de um a três anos, substituída a sanção pela recuperação da área degradada (Lei 9.605/98, art. 23, II), por quanto tempo se dará a substituição? A resposta só pode ser pelo tempo da pena imposta. È óbvio que ele será menor que o da restauração. Todavia, não há como impor-se a sanção acima do limite legal. O acompanhamento da recuperação integral da área deverá ser feito na ação civil pública, cuja procedência será inevitável em razão da sentença penal condenatória (CPP, art. 63).

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70

Destarte, considerados os parâmetros previstos para mínimo

e máximo da pena privativa de liberdade prevista para cada um dos tipos penais,

é afastado qualquer eventual arbítrio do magistrado no tocante ao

estabelecimento da pena e sua quantidade.

De todo o exposto, restou amplamente demonstrado que a

argumentação atinente à impossibilidade de apenação das pessoas jurídicas não

tem o condão de eximi-las de responsabilidade penal, porquanto a legislação se

encarregou de definir crimes e cominar sanções perfeitamente aplicáveis.

Oportuno destacar a Jurisprudência do Tribunal Regional

Federal da 4ª Região (TRF4, 2003, MANDADO DE SEGURANÇA, n.

2002.04.01.013843-0):

Para que se evite a imprescritibilidade dos crimes praticados pela pessoa jurídica contra o meio ambiente é preciso estabelecer um parâmetro. Ora, do mesmo modo que se considerou para efeito de dosagem da pena restritiva, haverá de fazer-se com referência à prescrição, isto é, tomam-se os limites abstratos do tipo, embora a pena privativa de liberdade somente seja aplicável è pessoa física. Não é analogia prejudicial, porque possibilita que se evite a imprescritibilidade do delito. Aplicada a sanção, considera a extensão temporal, como acima se especificou, esse tempo haverá de constituir a base de cálculo da prescrição da pretensão punitiva pela pena concretizada. Assim, se a interdição temporária do estabelecimento for por um ano, a prescrição pela pena em concreto será de quatro anos, na forma do artigo 109, inciso V, do Código Penal. (TRF4, 2003, MANDADO DE SEGURANÇA, n. 2002.04.01.013843-0).

Devidamente cominadas, as penas irão atingir os fins a que

se propõem. Não se pode, evidentemente, almejar a utópica cessação das

agressões contra o meio ambiente simplesmente com a aplicação de sanções.

Assim, uma união de ações e esforços poderá, ao menos, minimizar a

problemática ecológica estabelecida.

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71

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo proposto foi devidamente alcançado com as

pesquisas realizadas demonstrando quão complexo, polêmico é o estudo

direcionado, mormente considerando o tema capcioso que se procurou enfrentar.

Deve-se ressaltar que as hipóteses aventadas para a

pesquisa restaram confirmadas, tendo em vista que:

O direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado é

considerado um direito fundamental da pessoa humana contemplado pela

Constituição Federal Brasileira.

Para a efetiva proteção desse bem jurídico fundamental,

consubstanciada está a importância de sua proteção penal, já que dele depende

toda a humanidade.

Não seria eficaz a proteção do Meio Ambiente sem a

colaboração do Direito Penal, já que as sanções administrativa e civil não têm

sido suficientes.

Assim, a Lei 9.605/98, conhecida como a Lei de Crimes

Ambientais, foi um diploma extremamente importante para o avanço da proteção

ambiental, trazendo um importante instituto, qual seja, a responsabilização das

pessoas jurídicas que, com certeza, são suas maiores degradadoras.

A referida Lei inovou ao estabelecer preferências para a

aplicação das penas restritivas de direito para os agressores do Meio Ambiente, já

que o mais importante é, a recuperação da área degradada.

Esta repressão advém da urgência da tutela requerida pelo

meio ambiente, bem de uso comum do povo cuja preservação está

intrinsecamente ligado ao direito à vida.

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Não cabe aos juristas a imposição de obstáculos à aplicação

da Lei de Crimes Ambientais, sendo que esta foi criada por quem tem legitimidade

para tanto, o legislador constitucional.

Desse modo, a responsabilidade penal da pessoa jurídica é

perfeitamente cabível e aplicável às pessoas jurídicas de direito privado. Mais do

que isso, é constitucional: é tão necessária que encontra respaldo na Constituição

Federal, o que, por si só, já é razão para ser devidamente aplicada.

Resta claro que, resguardado pela Constituição Federal e

pela Lei 9.605/98, em admitir a responsabilização penal das pessoas jurídicas,

caracterizou-se um importante avanço do direito penal e ainda representa de

maneira indiscutível a vontade do legislador em punir todos os responsáveis por

danos causados ao meio ambiente, seja eles pessoas físicas ou jurídicas.

Cabe ressaltar que as sanções aplicadas aos entes coletivos

têm o poder de dissuasão, coibindo as condutas criminosas e também a

reincidência. Como no mundo dos negócios a imagem é tudo, espera-se que a

pessoa jurídica sob a ameaça da sanção penal e dos reflexos que dela possa

advir, adotará as medidas cabíveis de forma a não lesionar o meio ambiente, sob

pena de além de sanções ou medidas penais aplicáveis, ter o seu nome

maculado por tal prática.

A responsabilidade penal das pessoas jurídicas, por previsão

constitucional e devidamente regulamentada pela Lei dos Crimes Ambientais, não

deve ser negada, sob pena de se demonstrar a imprestabilidade da tutela estatal

aos interesses ecológicos e ao destino da própria nação.

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