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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI PRÓ-REITORIA DE ENSINO CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA RENATA TRAVANCAS TOURINHO ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA NA PRÉ-ESCOLA E COMPORTAMENTO DE APEGO/DESAPEGO: A CONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO CRIANÇA E EDUCADOR NA PRÉ-ESCOLA. BIGUAÇU 2005

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI

PRÓ-REITORIA DE ENSINO

CENTRO DE EDUCAÇÃO BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

RENATA TRAVANCAS TOURINHO

ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA NA PRÉ-ESCOLA E COMPORTAMENTO

DE APEGO/DESAPEGO: A CONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO

CRIANÇA E EDUCADOR NA PRÉ-ESCOLA.

BIGUAÇU 2005

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RENATA TRAVANCAS TOURINHO

ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA NA PRÉ-ESCOLA E COMPORTAMENTO

DE APEGO/DESAPEGO: A CONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO

CRIANÇA E EDUCADOR NA PRÉ-ESCOLA.

Projeto apresentado para realização do Trabalho de

Conclusão de Curso no curso de Psicologia da

Universidade do Vale do Itajaí.

BIGUAÇU

2005

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RENATA TRAVANCAS TOURINHO

ADAPTAÇÃO DA CRIANÇA NA PRÉ-ESCOLA E COMPORTAMENTO

DE APEGO/DESAPEGO: A CONSTITUIÇÃO DO VÍNCULO AFETIVO

CRIANÇA E EDUCADOR NA PRÉ-ESCOLA.

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi considerado aprovado, atendendo os requisitos

parciais para obtenção do grau de Bacharel em Psicologia na Universidade do Vale do Itajaí

no Curso de Psicologia.

Biguaçu, 23 de novembro de 2005

Banca Examinadora

________________________________

Profª Ilma Borges – Orientadora

_________________________________

Profª Enis Mazzuco - Membro

__________________________________

Coordenadora – Maria das Neves Prujanski

iii

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IDENTIFICAÇÃO

ÁREA DA PESQUISA: Psicologia Educacional

TEMA: Apego/Desapego, Vínculo afetivo.

TÍTULO DO PROJETO: Adaptação da criança na pré-escola e comportamento de

apego/desapego: A constituição do vínculo afetivo da criança e educador na Pré-Escola.

ALUNA

Nome: Renata Travancas Tourinho

Código de Matrícula: 02.1.1990

Centro: Centro de Educação Biguaçu Curso: Psicologia Semestre: 2005/2

ORIENTADOR

Nome: Ilma Borges

Categoria Profissional: Docente

Titulação: Mestre

Centro: Centro de Educação Biguaçu

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Dedico este trabalho a todos educadores, que

promovem o desenvolvimento psicológico,

social e afetivo das crianças.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em especial, à Professora e Orientadora Ilma Borges, pelo apoio e

dedicação, confiança e incentivo depositado nesta pesquisa e em todo processo para a

realização da mesma.

Agradeço também ao Professor Mauro José da Rosa, por ter me orientado na

realização do projeto desta pesquisa e por ter sido inspiração ao meu interesse pelo tema da

pesquisa.

Agradeço à Professora Enis Mazzuco por ter aceitado o convite para participar da

banca examinadora e à coordenadora da creche, Maria das Neves, por ter aceitado participar

da banca examinadora, assim como por ter me recebido com tanta atenção na creche.

Aos meus colegas da faculdade, em especial à Geovana, Juliana, Fernando, Luana L,

Fernanda, Gabriela, Juliana L e Luana M, que se tornaram meus amigos e que agora fazem

parte da minha história, me ajudando e apoiando em todos os momentos da minha vida.

Agradeço aos meus amigos que cresceram comigo e que até hoje participam dos

acontecimentos da minha vida, se tornando minha segunda família.

Agradeço ao meu namorado Matheus que, mesmo longe, me apoiou e ajudou com

palavras incentivadoras e com o amor depositado em mim.

Agradeço à todos os meus parentes que, apesar da distância, sempre me apoiaram e me

ajudaram em todos os momentos.

Agradeço à minha mãe e irmão por serem referência de família e amor, por terem

depositado toda confiança em mim. Ao meu pai, por ser meu protetor e sempre iluminar o

meu caminho, por ter sido para mim, um exemplo de pai e de pessoa. Agradeço aos três, por

terem me proporcionado muito afeto, amor e confiança.

Agradeço a Deus pela Vida.

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“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo”. (Hermann Hesse)

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RESUMO

TOURINHO, R.T, Adaptação da criança na pré-escola e comportamento de

apego/desapego: A constituição do vínculo afetivo da criança e educador na Pré-Escola.

Biguaçu, 2005. 74 f. Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia – Universidade do Vale

do Itajaí, 2005.

A partir da primeira relação da criança com a figura materna, começa-se a constituir o comportamento de apego. O sentimento de apego é o mais forte comportamento voltado à pessoa amada. Com o ingresso da criança na creche, a criança precisa se separar dessa figura de apego e começa a conviver com outras figuras, ocorrendo o processo de desapego da criança com a figura da mãe. Suas relações se ampliam aos educadores e outros alunos. Junto aos pais, os educadores passam a ser responsáveis pelo desenvolvimento psicológico, social e afetivo da criança. O objetivo desta pesquisa foi de estudar os comportamentos de apego/desapego durante o processo de adaptação escolar a partir da constituição do vínculo afetivo entre educadores e alunos. O método adotado para a realização da pesquisa foi do tipo qualitativo e utilizou a metodologia de pesquisa participante. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas com os pais e professoras das crianças envolvidas na pesquisa e observação participante. Foi percebida a necessidade da constituição do vínculo afetivo das professoras com as crianças a fim de facilitar o processo de adaptação da criança na creche. A partir desta pesquisa, é proposto que os educadores dêem maior ênfase aos aspectos afetivos nas relações com as crianças e elaborem e dêem maior ênfase às atividades realizadas na creche dentro da relação educadores/alunos, alunos/alunos, que é também um componente importante para a constituição de vínculo entre educadores e alunos.

PALAVRAS-CHAVE: Apego/desapego, constituição do vínculo afetivo educadores/alunos.

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ABSTRACT

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 11

1.1 PERGUNTA DE PESQUISA ............................................................................................................ 14 1.2 OBJETIVOS....................................................................................................................................... 15

1.2.1 Objetivo Geral ..................................................................................................................................... 15 1.2.2 Objetivos Específicos........................................................................................................................... 15

2 DESENVOLVIMENTO.................................................................................................................................. 16 2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................. 16

2.1.1 O comportamento social e sua relação com o desenvolvimento da criança ................................ 16 2.1.2 O desenvolvimento da interação adulto-criança........................................................................... 18 2.1.3 Afetividade......................................................................................................................................... 19 2.1.4 Desenvolvimento psicomotor ............................................................................................................ 21 2.1.5 Desenvolvimento social..................................................................................................................... 24 2.1.6 Comportamentos de apego/desapego................................................................................................ 26 2.1.7 Instituição escolar: Pré-escola ......................................................................................................... 29

2.2 METODOLOGIA...................................................................................................................................... 32 2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS ............................................................................................................. 34

2.3.1 Análise dos dados a partir da observação participante da pesquisadora na creche ......................... 34 2.3.2 Análise dos dados a partir das entrevistas com os pais ..................................................................... 40 2.3.3 Análise dos dados a partir das entrevistas com as professor ............................................................ 43

3 CONCLUSÃO ................................................................................................................................................ 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................................... 47

BIBLIOGRAFIAS RECOMENDADAS ........................................................................................................... 49 ANEXOS .............................................................................................................................................................. 50

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa trata-se de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e é um requisito

para a Formação em Bacharel em Psicologia.

Trata-se de uma pesquisa desenvolvida na área da Psicologia Educacional. Como foco,

a pesquisa buscou investigar a promoção do vínculo afetivo a partir das relações

professoras/alunos, no processo de adaptação da criança na Creche São Francisco de Assis, na

cidade de Florianópolis - SC.

O objetivo da pesquisa foi analisar o comportamento de apego/desapego de crianças

de 1 a 3 anos, durante o processo de adaptação escolar, a partir da constituição do vínculo

afetivo entre as mesmas e seus educadores. Pra isso, buscou-se descrever os comportamentos

da criança no seu processo de apego/desapego em relação aos seus pais e descrever o processo

de vinculação afetiva da criança em relação aos professores, identificando nessa vinculação os

seus fatores sociais, psicológicos e pedagógicos.

O método utilizado para realizar a pesquisa foi de caráter qualitativo, que segundo

Deslandes (1994), é uma pesquisa que tem como finalidade responder questões da realidade

que não podem ser quantificadas. É uma pesquisa que trabalha com o universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. A pesquisa qualitativa busca

“[...] Compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez, são

depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a vivência, com a

experiência, com a continuidade e também com a compreensão das estruturas e instituições

como resultados da ação humana objetivada” (DESLANDES, 1994, p.24).

Uma das técnicas utilizadas na pesquisa foi a observação participante, que segundo

Deslandes (1994), é realizada através do contato direto do pesquisador com o que está sendo

observado a fim de recolher informações sobre a realidade do contexto em questão. Através

dessa técnica, se consegue captar variadas situações que não poderiam ser percebidas através

apenas de entrevistas. Essa técnica é complementar às entrevistas, visando também buscar um

maior aprofundamento dos eventos cotidianos do grupo estudado.

Como relevância social, a pesquisa apresentada, que está relacionada com o processo

de adaptação da criança na pré-escola e a vinculação afetiva criança/educador, tem como

objetivo contribuir com a sociedade sobre a importância da formação de vínculo afetivo entre

crianças que freqüentam a pré-escola e seus educadores. O papel dos educadores na formação

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psicológica e social das crianças é de fundamental importância, cabe á eles entender o modo

com que esse vínculo afetivo possa ser estabelecido e sua importância na constituição da

subjetividade de cada criança sob suas responsabilidades.

Ao iniciarem a vida escolar, as crianças se separaram de seus familiares por um breve

tempo e precisam se adaptar ao ambiente escolar. Essa adaptação exige reorganização na vida

das crianças por este ser um evento que exija muitas mudanças na rotina e convívio das

mesmas. No início da vida, as crianças adquirem de seus pais determinados valores, crenças e

estruturas sócio-culturais. Com a entrada na pré-escola, essa bagagem social sofrerá

transformações causando certa desorganização na constituição do sujeito.

O processo de adaptação da criança na pré-escolar depende primeiramente dos pais,

que, ao passarem confiança aos filhos, farão com que eles se desapeguem mais facilmente da

figura de apego, tornando-os capazes de se vincularem com outras figuras. As crianças

precisam estar seguras em relação aos seus pais para poderem se relacionar mais facilmente

com outras pessoas fora do meio familiar.

A criança, ao ingressar na pré-escola, deixa de ter apenas seus familiares como ponto

de referência, ela amplia suas relações aos educadores e outros alunos. Os educadores se

tornam substitutos dos pais, e assim sendo, serão também responsáveis pelo desenvolvimento

e socialização da criança. É através do vínculo afetivo que os professores poderão realizar este

processo com a criança.

Em nível científico, a pesquisa será importante para profissionais e interessados pela

área escolar conhecer e entender a importância do vínculo de afetividade do educador com a

criança no desenvolvimento social e psicológico da mesma. É através de sua relação com

pessoas mais experientes, que a criança adquire determinadas significação nas quais irá

constituir diferentes formas de relações sociais. Dentro dessas relações, na interação com um

adulto, a criança, através de um processo imitativo, adquire deferentes formas de ser no

mundo e se apropria de novos comportamentos. O vínculo afetivo é fundamental na

construção social da criança e de seu desenvolvimento, sendo alcançado somente através da

mediação social

A pesquisa será relevante para a acadêmica por trazer novos conhecimentos teóricos

voltados à crianças na escola, sendo essa uma área de grande interesse profissional futura.

A partir da pesquisa apresentada, se espera contribuir para a compreensão do processo

de adaptação e vinculação da criança à creche e para a capacitação dos profissionais que

atuam nesta área.

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A pesquisa buscou responder questões relacionadas a quais são os comportamentos de

apego/desapego observados nas crianças de 1 a 3 anos na pré-escola a partir da constituição

do vínculo afetivo da criança com os educadores.

Segundo Bowlby (1990), comportamentos de apego são comportamentos onde as

crianças buscam a proximidade com seu cuidador e expressam ansiedade quando há

separação entre eles. Os comportamentos são percebidos nas crianças na forma de choro,

seguir o olhar da mãe e agarra-se á ela. O desapego é quando as crianças se sentem seguras

para ficarem por um período longe das mães. Os comportamentos comuns são acenos, abraços

e beijos.

Para o autor, o desapego nas crianças pode ocorrer quando essas são afastadas por um

período significativo de suas mães. Ao reencontrarem suas mães, algumas crianças não as

reconhecem, outras se afastam ou choram. Em outros casos, as crianças mostram grande

afeição e carinho á elas.

Inicialmente, para a realização da pesquisa, a pesquisadora faria uma observação

participante na creche, que iniciaria no horário em que os pais deixam seus filhos na creche,

para que fosse possível analizar o comportamento de apego/desapego das crianças em relação

aos seus pais durante o processo de adaptação. O projeto inicial precisou ser modificado

devido atrasos que ocorreram na formalização do TCC, que prejudicou o andamento do

mesmo.

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1.1 PERGUNTA DE PESQUISA

As crianças, no início da vida, recebem de suas mães os cuidados psicológicos, através

da alimentação, proteção e aconchego. Esses cuidados marcam o início do desenvolvimento

vínculo-afetivo da criança com a mãe. Geralmente as crianças estabelecem forte relação de

dependência com a mesma, sendo essa, sua única figura de confiança.

Ao ingressar na pré-escola, a criança se separa de seus familiares e começa a conviver

com uma nova figura, o educador, que se torna também responsável pela constituição social e

subjetiva da mesma, mediando esse processo por meio do vínculo afetivo com a criança.

Frente ao processo de desapego das crianças com os pais e a vinculação da criança com os

educadores, pergunta-se: Quais são os comportamentos de apego/desapego observados nas

crianças de 1 a 3 anos na pré-escola a partir da constituição do vínculo afetivo da criança com

os educadores?

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1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Analizar o comportamento de apego/desapego em crianças de 1 a 3 anos durante o

processo de adaptação escolar a partir da constituição do vínculo afetivo entre a mesma e

seus educadores.

1.2.2 Objetivos Específicos

• Descrever os comportamentos da criança no seu processo de apego/desapego em

relação aos seus pais;

• Descrever o processo de vinculação afetiva da criança em relação aos professores,

identificando nessa vinculação os seus fatores sociais, psicológicos e pedagógicos.

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A presente pesquisa tem como proposta analizar os comportamentos de

apego/desapego das crianças no processo de adaptação escolar a partir da constituição do

vínculo afetivo entre a mesma e seu professor. Para isso é necessária a compreensão de

conceitos como O comportamento social e sua relação com o desenvolvimento da criança, O

desenvolvimento da interação adulto-criança, Afetividade, Desenvolvimento psicomotor e

social da criança, Comportamentos de apego/desapego e Instituição Escolar.

2.1.1 O comportamento social e sua relação com o desenvolvimento da criança

Segundo Vigotski (1998), a adaptação é considerada pela biologia genética, como

princípio fundamental do desenvolvimento da vida orgânica na Terra. Com isso, de acordo

com a pedagogia, o objetivo final da educação consiste na adaptação da criança ao ambiente

em que vive.

A adaptação ao meio deve ser analisada de acordo com duas circunstâncias. A

primeira circunstância é a que considera a adaptação pelo ponto de vista social, onde o

ambiente é visto como um processo dinâmico e a atitude do ser humano diante desse ambiente

tenha caráter de atividade e não de dependência. A adaptação ao meio é uma luta contra os

diferentes elementos, denotando sempre inter-relações ativas do homem com o meio. A

segunda circunstância é que a criança passa por diversas etapas de adaptação ao meio social e

seus comportamentos sociais se modificam de acordo com sua etapa evolutiva. O

comportamento social da criança deve ser considerado como um comportamento que é

interpretado de acordo com o desenvolvimento biológico do organismo.

A sociedade atual, a capitalista, cria uma contradição entre a experiência precoce da

criança e suas formas de adaptação mais tardia, devido a um forte sistema de influências. Os

sujeitos devem assimilar algumas formas de inibições para encobrir seus desejos, pois se

deparam com a censura social, criando uma contradição entre o ambiente e a personalidade.

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A educação ideal é, portanto aquela que se baseia em um ambiente social orientado de

modo adequado e que seus problemas só possam ser resolvidos após solucionada a questão

social em sua totalidade. A personalidade não deve ser percebida de forma acabada e sim

como uma forma dinâmica de interação que flui permanentemente entre o organismo e o

meio. Portanto, tudo pode ser educado e reeducado no ser humano por meio da influência

social.

De acordo com a teoria Marxcista (apud VIGOTSKI, 1998), o ser humano entra em

determinadas relações de acordo com suas necessidades de produção, independente de sua

vontade. Essas relações formam a estrutura econômica social na qual se erguem a estrutura

jurídica e política, que construirá determinadas formas de consciência social.

Segundo o materialismo histórico de Engels (apud VIGOTSKI, 1998), as causas das

transformações sociais não devem ser buscadas na mente humana e na filosofia e sim nas

mudanças no modo de produção e da economia de cada época. Portanto, o processo de

produção adquire caráter social na humanidade. Deve-se considerar então a educação

totalmente determinada pelo meio social no qual o ser humano cresce e se desenvolve.

Para Vigotski (1998), a criança não é um ser terminado, é um ser em desenvolvimento

em que seu comportamento irá se formando sob a influência da ação sistemática do ambiente

e com suas relações a vários períodos de evolução, que determinam a relação do ser humano

com o meio.

Para o autor a evolução no desenvolvimento das crianças é diferenciada em quatro

etapas, cada uma delas possui seu significado biológico e sua relação com o meio.

A primeira etapa é conhecida como período da primeira infância. Nessa fase a

atividade da criança é quase nula. Ela desenvolve formas de comportamentos que a ajudam a

realizar funções como comer e dormir. Quase todas as reações da criança nesse período se

destinam a familiarização com o meio. A criança aprende a controlar seus movimentos ,

coordena a atividade de olhos e mãos, aprende a inclinar-se para buscar um objeto que está

distante dela. O período da primeira infância é marcado por acontecimentos através dos quais

a criança aprende a caminhar, falar e se movimentar. Essa fase depende da orientação inicial

do ambiente e se estende até os seis ou sete anos. Os familiares, nessa fase, representam o

primeiro meio social para a criança.

A segunda etapa é conhecida como o da infância tardia, onde a criança adquire todos

os hábitos para se tornar um adulto. Seus comportamentos se tornam mais complexos e se

estabelecem maiores relações com outras pessoas que as rodeiam. Essa fase vai dos sete aos

treze ou quatorze anos, ou seja, acaba na época do amadurecimento sexual. É um período

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caracterizado pelo maior conflito da criança com o ambiente e também com ela mesma,

devido consideradas modificações corporais.

A terceira etapa é conhecida como período da adolescência, que vai dos treze aos

dezoito anos e é caracterizada pelo estabelecimento definitivo das relações com o ambiente.

Durante toda a infância até os quatorze anos a segunda terça parte total do peso do cérebro

está em desenvolvimento. A primeira terça parte já é encontrada no recém nascido. A partir

dos quatorze até os dezoito a última terça parte do peso total do cérebro é desenvolvida, se

estendendo à etapa da juventude, onde a incorporação ao meio é total.

Entretanto, essas divisões não devem ser utilizadas como limites exatos, elas são

acompanhadas por diversas peculiaridades psíquicas transitórias, inerentes, a cada uma dessas

idades.

Constituídas as etapas de formação do comportamento da criança, será possível que as

etapas seguintes de desenvolvimento sejam completadas.

2.1.2 O desenvolvimento da interação adulto-criança

O desenvolvimento da interação, segundo Carnicero, Gonzáles, Escudeiro e Carretero,

é uma tarefa conjunta entre adultos e crianças ou especialistas e aprendizes.

De acordo com Baldwin (apud Carnicero, Gonzáles, Escudeiro e Carretero), o jogo

simbólico é visto como um importante cenário para a análise do desenvolvimento por este se

tratar de um contexto em que a criança ultrapassa seu estado atual de desenvolvimento. É pelo

jogo simbólico que se pode observar a coordenação de experiências prévias e aquilo que o

objeto sugere no momento atual.

O autor afirma ainda que nos jogos de papéis desempenhados pelas crianças, as

experiências internas associam-se diretamente a situações presentes, externas. O processo de

imitação desempenha um papel importante de transformar os objetos que estão disponíveis no

momento em uma outra funcionalidade, ou seja, um mesmo objeto pode ter variadas

funcionalidades. É através do jogo sócio-dramático que as convenções sociais e os modos de

interações sociais aceitas são treinadas. Isso ocorre por este ter caráter de atividade

compartilhada, onde se pode observar a díade adulto-criança, que é responsável pela

construção do desenvolvimento.

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Segundo Carnicero, Gonzáles, Escudeiro e Carretero, uma interação é compartilhada

quando uma criança ou adulto participam ativamente de uma atividade e estão envolvidas no

mesmo roteiro ou quando um atua e o outro observa atentamente a atuação. Uma interação

não compartilhada ocorre quando apenas um sujeito está envolvido na atividade. Uma

interação paralela é quando cada membro atua em atividades diferentes, porém

simultaneamente, sem perder o contato entre si.

Uma interação transcorre na Zona de Desenvolvimento Atual quando a criança realiza

atividades que já domina sem a ajuda de um adulto. A interação que transcorre na Zona de

Desenvolvimento Proximal é quando um adulto ensina novas habilidades à uma criança e a

mesma, com ajuda do adulto, consegue realizar a tarefa. A interação que transcorre na Zona

de Desenvolvimento Passado é quando o adulto propõe uma atividade mais simples do que

outras que a criança já realizava. Por fim, uma interação transcorre na Zona de

Desenvolvimento Futuro quando o adulto induz uma tarefa muito complexa em que a criança

não realizaria nem com a ajuda do adulto.

O desenvolvimento e o conhecimento se constróem na complexa relação dos

processos sociais que estão presentes na relação entre adulto-criança, ou seja, o conhecimento

e o desenvolvimento se formam nessa interação.

2.1.3 Afetividade

Segundo a psicogenética de Wallon (apud LA TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS,

1992), a afetividade é fundamental na construção do sujeito e de seu conhecimento. Tanto um

quanto outro são iniciados no período impulsivo emocional e se prolongam ao longo do

primeiro ano da vida. A afetividade é uma manifestação fisiológica da emoção, onde se inicia

a constituição do psiquismo.

De acordo com essa teoria, a emoção é um instrumento de sobrevivência do ser

humano. O choro é uma função biológica que origina um dos traços característicos da

expressão emocional. É através do choro que o bebê mobiliza sua mãe para que a mesma

atenda suas necessidades. Sem esse cuidado, o bebê não sobreviveria.

A atividade emocional é ao mesmo tempo social e biológica, ou seja, realiza a

transição entre o estado orgânico e cognitivo do ser. Ela só pode ser atingida através da

mediação cultural. “A consciência afetiva é a forma pela qual o psiquismo emerge da vida

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orgânica: corresponde à sua primeira manifestação.” (LA TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS,

1992, p.85-86).

A afetividade, segundo a psicogenética, é a fase mais arcaica do desenvolvimento

humano. O ser sai da vida orgânica e se torna um ser afetivo. Afetividade e inteligência são

fundidas, tendo como predominância nessa fusão, a afetividade. Esse sincretismo logo se

diferencia, mas sempre mantendo uma integração entre a afetividade e a inteligência. A

afetividade e o cognitivo estarão presentes na construção do sujeito de forma integrada, porém

não paralelamente. Para evoluir, a afetividade depende da inteligência e vice-versa.

No início da vida, a afetividade é pura emoção, são manifestações somáticas. Quando

a inteligência constrói a função simbólica, a comunicação se amplia através da linguagem

verbal e escrita, aumentando a ação da afetividade. Aparece uma nova forma de vinculação, a

vinculação afetiva. Na puberdade, surge outra exigência nas relações afetivas, as exigências

racionais, que diziam respeito à justiça, igualdade, etc. Conhecem-se então três momentos da

afetividade: a afetividade emocional ou tônica, a afetividade simbólica e a afetividade

categorial.

O desenvolvimento afetivo ocorre tanto pela construção do sujeito como pela

construção do objeto. A construção do sujeito se dá através da interação com outros sujeitos, a

construção do objeto ocorre pela realidade externa, através da aquisição das técnicas

utilizadas pela cultura. A construção do sujeito e do objeto são processos que se desenvolvem

mutuamente.

O início do desenvolvimento, que levará ao pensamento categorial e à personalidade

diferenciada, são os movimentos reflexos e os impulsos. Os bebês movimentam os braços e

pernas esperando que alguém lhe tire de uma posição incômoda ou perigosa. Quando esses

movimentos são respondidos pelo meio, se tornam movimentos comunicativos. Portanto a

mediação está na base do desenvolvimento social. Em função das respostas do meio humano,

os movimentos impulsivos se tornam movimentos expressivos.

Aos seis meses de idade, a presença humana é a forma mais prazerosa para as crianças.

Seus interesses se voltam para vozes e movimentos humanos e objetos oferecidos por outras

pessoas. Quando começam a andar, a realidade externa surge com intenso interesse e se

manifestará pela atividade exploratória imoderada. Segundo Wallon (apud LA TAILLE;

OLIVEIRA; DANTAS, 1992), essa fase é conhecida como período sensório-motor e

projetivo. Período projetivo equivale a simbólico, que ainda dependerá das manifestações

motoras para interiorizar e reduzir as manifestações tônicas.

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Na criança, os gestos da mímica ou da fala conduzem um pensamento ainda frágil.

Através dessas expressões, se iniciam as relações entre gesto-intenção, palavra-idéia, que

costumam se inverter ao longo do desenvolvimento. No início o gesto gráfico precede a

intenção. Quando o pensamento se torna mais sólido, a idéia se conduz à busca e à escolha da

palavra.

Entre o segundo e o quarto ano de vida da criança, ocorre a aproximação entre o

período sensório-motor e simbólico. Nessa fase, se instalam duas maneiras da criança lidar

com o real: a maneira direta, instrumental e a maneira simbólica, onde o objeto não é o que é

e sim o que significa. A criança, ao mesmo tempo em que se torna capaz de atuar por si

mesma sobre a realidade, está apta também a transcendê-la, através de sua condição de

herdeira cultural. Com isso, (...) a história do desenvolvimento da sua inteligência será

também a história da superação do aqui e agora, no qual se incluem os seus próprios estados

afetivos momentâneos (LA TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS, 1992, p.94).

De acordo com a teoria walloniana (apud La Taille, Oliveira e Dantas, 1992), as

riquezas dos recursos intelectuais são utilizáveis na elaboração de personalidades ricas e

originais. A construção do objeto está à serviço da construção do sujeito. A construção da

pessoa é uma autoconstrução.

2.1.4 Desenvolvimento psicomotor

De acordo com Papalia (1998), os comportamentos observados nas crianças, como

exemplo, a sucção, são inicialmente conhecidos como reflexos e se tornam comportamentos

aprendidos quando a criança assimila a sensação de bem estar, adquirida em decorrência de

tal comportamento. A aprendizagem da criança é resultado de uma experiência vivida

anteriormente, é uma forma de adaptação ao meio.

Para que a aprendizagem ocorra, deve haver maturação, que é o “surgimento de

padrões de comportamento em uma seqüência biologicamente determinada, relacionada com

a idade” (PAPALIA, 1998, P.177). Ou seja, são os comportamentos esperados para cada

idade. A maturação pode ser também influenciada pelo meio.

Segundo o autor, as crianças possuem um tipo de memória de longo prazo que as

fazem recordar eventos passados utilizando símbolos mentais. A habilidade da memória está

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associada ao desenvolvimento da inteligência e o desenvolvimento cognitivo se relaciona com

o desenvolvimento emocional do bebê.

Inteligência é a capacidade de uma pessoa adquirir, lembrar e usar o conhecimento em

problemas diários. Ela é percebida no bebê desde seu nascimento. Porém há diferenças nas

habilidades intelectuais de cada criança. A inteligência é determinada tanto por fatores

herdados como por influência do meio. A maneira como os pais cuidam de suas crianças

influencia no processo de desenvolvimento cognitivo das mesmas fazendo-as se sentirem

seguras e motivadas para conhecer o mundo.

Os gestos dos bebês aparecem antes da fala como um modo de comunicação. Aos

nove meses a criança aponta para objetos, emitindo sons, mostrando querer determinado

objeto. Dos nove aos doze meses ela aprende gestos sociais como dar tchau, fazer com a

cabeça sim ou não. Com treze meses aparecem os gestos representativos, como exemplo

levantar os braços para ser pego no colo. Aos quatorze meses é usado pela criança gesto

simbólico para pedir alguma coisa e aos quinze meses usam esses gestos simbólicos, como

soprar para dizer que algo está quente, dando significado para as coisas. Duas semanas depois,

aproximadamente, as crianças começam a nomear objetos.

As primeiras palavras emitidas pelo bebê ocorrem através da fala pré-linguística, é o

uso de sons sem o uso de palavras. O choro é a primeira comunicação estabelecida pelo bebê.

Das seis semanas aos três meses os bebês riem e balbuciam quando estão felizes, emitindo no

final, sons de vogais. Entre seis e dez meses o balbuciar, repetir uma seqüência de consoantes

e vogais, torna-se parecido com palavras, dando início à fala.

As primeiras palavras destas crianças acontecem entre dez e quatorze meses, iniciando

a fala lingüística ou linguagem com significado. Com quinze meses as crianças falam

aproximadamente dez palavras ou nomes. Entre os dezoito e vinte e quatro meses as crianças

conseguem juntar duas palavras e dos vinte aos trinta meses já adquirem capacidade de

utilizar fundamentos da sintaxe.

Segundo Piaget (apud PAPALIA, 1998), entre zero e dois anos a criança se encontra

no período sensório-motor. Neste estágio, para a criança não há diferenciação entre o eu e o

mundo, é uma fase egocêntrica. A criança reage ao meio inicialmente por reflexos

hereditários que gradativamente serão transformados em esquemas sensoriais-motores. Sua

capacidade de pensar sobre o meio é pouca ou inexistente. Por volta dos nove meses, ela

começa a ter noção de permanência do objeto, a existência de um objeto independe de sua

percepção imediata. A fala neste período é imitativa.

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O segundo período da vida da criança definido por Piaget, que vai dos dois aos sete

anos de idade, é conhecido como pré-operacional. É a fase onde a capacidade simbólica da

criança está mais desenvolvida. Deixa de ser utilizada a fala imitativa, as palavras são

entendidas através do contato com o meio. O pensamento é fantasioso e lúdico, a criança não

consegue se colocar no lugar do outro. Em relação ao aspecto social, a criança começa a se

desligar de sua família, entrando em contato com uma sociedade da criança, ela começa a se

interessar por outras pessoas da mesma idade. São percebidos na criança o uso de linguagem

socializada, com intenção de comunicação, e a linguagem egocêntrica, ou seja, não é

necessária a presença de um interlocutor, é uma linguagem sem propósito de comunicação.

Segundo Rappaport (1981), entre zero e dezoito meses o desenvolvimento intelectual

da criança está ligado à maturação do sistema nervoso central, ou seja, às forças biológicas

geneticamente programadas. A criança não possui pensamento conceitual e sim, inteligência

sensorial-motora.

Alguns aspectos da personalidade são herdados, estão presentes no nascimento, outros

surgem a partir das experiências iniciais do bebê. Por personalidade entende-se como “a

forma singular de uma pessoa examinar, agir e reagir a outras pessoas e eventos” (PAPALIA,

1998, p.221).

De acordo com Erikson (1998), as experiências iniciais das crianças são as mais

importantes para o desenvolvimento da confiança. Os bebês precisam de muitos cuidados e

sustento de seus pais ou cuidadores para se sentirem confiantes em relação a eles. Do

nascimento até os dezoito meses de idade os bebês passam a ter noção do quanto uma pessoa

é confiável. Uma criança que confia na mãe consegue deixar que a mesma fique fora de seu

campo de visão, pois ela se torna uma certeza interior para a criança. A criança sabe que

mesmo não vendo sua mãe, ela existe e logo aparecerá.

“As reações emocionais a eventos e pessoas, que estão intimamente ligadas às

percepções cognitivas, formam um elemento fundamental da personalidade” (PAPALIA,

1998, p. 225). As emoções como alegria, tristeza e medo são iguais para todo ser humano,

porém a freqüência e a intensidade de cada emoção variam de pessoa para pessoa. O

desenvolvimento da emoção depende de fatores inatos ao nascimento e fatores adquiridos

com o tempo.

As emoções nas crianças aparecem seguindo uma cronologia, podendo ser alteradas

por influências ambientais. As expressões das emoções presentes no nascimento são: o sorriso

neonatal, resposta de surpresa, interesse, desconforto quando sente dor e nojo ao sentir gosto

ou cheiro desagradável. Entre três e seis semanas as crianças expressam o sorriso social. Dos

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dois aos quatro meses demonstram ira, surpresa e tristeza. O medo aparece entre cinco e sete

meses e a autoconsciência, empatia, vergonha, ciúme, timidez, orgulho e culpa aparecem

entre doze e dezoito meses.

Essas emoções são mostradas pela criança na forma de choro, sorriso e risos. Há

quatro padrões de choros expressados pela criança, o choro de fome, de raiva, de dor e de

frustração. O primeiro sorriso aparece logo após o nascimento e é espontâneo. Na segunda

semana de vida a criança sorri após mamar e com cerca de um mês o sorriso fica mais

freqüente e social. As risadas aparecem aproximadamente no quarto mês. Dos quatro aos seis

meses, o riso vem em resposta ao som e ao toque. Entre sete e nove meses, o riso acontece em

situações mais complexas, a criança ri e joga sua cabeça para trás. Com dois anos a risada é

histérica e surge inesperadamente.

2.1.5 Desenvolvimento social

Ao nascer, o ser humano se relaciona com o mundo de forma instintiva. É na interação

social com outras pessoas que as necessidades humanas são satisfeitas. As necessidades

físicas se relacionam com proteção ao clima, alimentação, abrigo. Para Davis e Oliveira

(1994), as psicológicas implicam carícias, incentivos, amparo, proteção, segurança,

conhecimento.

A linguagem, para Davis e Oliveira (1994), é a forma usada pelo homem para se

comunicar com outros humanos e organizar seu pensamento. É pelo contato humano que a

criança adquire a linguagem, aprende a planejar, direcionar e avaliar a sua ação. Através

das atividades do dia a dia, as crianças criam condições para o aparecimento da

consciência que as fazem diferenciar as propriedades objetivas e estáveis da realidade e

aquilo que é vivido subjetivamente.

O processo em que o indivíduo constrói ativamente suas características nas relações

que estabelece com o ambiente físico e social é chamado desenvolvimento. As características

humanas são historicamente formadas e não biologicamente herdadas.

De acordo com Vygotsky (1998), para se estudar o desenvolvimento das crianças,

deve-se começar com um entendimento da unidade dialética entre duas linhas radicalmente

diferentes: a biológica e a cultural. Para adequadamente estudar tal processo, é preciso

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conhecer estes dois componentes e as leis que governam seu entrelaçamento a cada estágio do

desenvolvimento infantil.

Para Manning (1993), a socialização consiste no processo em que a criança aprende a

se comportar de uma maneira aceitável, segundo sua cultura e de sua família. Elas adquirem

valores culturais e familiares, aprendendo a conviver socialmente de acordo com os valores

aprendidos. Comportamentos como usar vaso sanitário, comer com talheres, respeitar os

direitos dos outros, são aprendidos através da socialização.

Os pais são os principais influenciadores sobre o processo de socialização dos filhos.

Isso porque os filhos tendem a querer agradar seus pais para conservar o amor e aprovação

recebida por eles. A família é para a criança a primeira fonte de informação sobre o mundo.

As pessoas costumam educar seus filhos da mesma maneira que foram educadas. Os

pais seguem os exemplos de seus próprios pais. Pais que maltratam seus filhos, muito

provavelmente também foram maltratados ou privados de carinho na infância.

Quando há um forte laço de confiança e carinho entre a criança e seus pais,

provavelmente ela se ajustará mais facilmente as regra se adaptando de forma aceitável na

sociedade.

A criança em seu processo de socialização se defronta com questões emocionais,

afetivas e intelectuais. Ela está no processo de construção de sua autonomia e identidade. O

papel dos pais para auxiliar no desenvolvimento da autonomia dos filhos é de encorajá-los a

construir por si mesmos seus próprios valores morais e não fazendo o papel de poder, usando

métodos de castigos e recompensas com seus filhos. (...) “a criança terá a possibilidade de

pensar sobre a importância da honestidade somente se, ao invés de ser punida por contar

mentiras, ela for confrontada com o fato de que outras pessoas não podem acreditar ou confiar

nela” (DEHEINZELIN, 1991, p.73). É importante que todas as crianças tenham limites.

Porém, os limites devem ser impostos de forma adequada para cada uma delas, respeitando a

faixa etária e a situação que se apresenta. A construção do limite é importante para se

construir a identidade e moralidade da criança. Os limites podem ser impostos tanto pela

família quanto pela escola.

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2.1.6 Comportamentos de apego/desapego

A personalidade da criança começa a se desenvolver a partir da primeira relação

estabelecida com a figura materna, podendo ser a mãe natural ou uma outra figura de apego.

Essa relação se estabelece nos primeiros dias de vida da criança, quando a mãe a satisfaz

dando-lhe alimento e conforto. O sentimento de apego é o mais forte comportamento voltado

a essa pessoa amada.

A teoria proposta por Bowlby (1990), psicanalista inglês nascido em 1907, aponta um

modelo instintivo de comportamentos, como o chorar, sorrir, seguir, agarrar-se e sugar, que

desempenham os seguintes objetivos: chorar e sorrir tem como papel, aproximar a mãe da

criança para mantê-la junto; seguir e agarrar objetivam levar a criança até a mãe e retê-la

junto dela, bem como a sucção.

Segundo Bowlby (1982), a formação do apego segue fases de evolução que se

organizam em função de estímulos recebidos no ambiente familiar e social onde são criados

os seres humanos. Na primeira fase, que vai do nascimento até cerca de oito semanas, o bebê

se relaciona com as pessoas acompanhando-as com os olhos, estendendo os braços,

agarrando, sorrindo e balbuciando. Essa fase se refere à orientação e sinais com discriminação

limitada da figura. Na segunda fase, entre a décima segunda semana e o sexto mês, os

comportamentos acima citados continuam, porém de forma mais intensa em relação à sua

mãe. A orientação de sinais é dirigida para uma ou mais de uma figura discriminada. Dos seis

meses em diante, a proximidade com uma figura discriminada ocorre por meio da locomoção

ou de sinais. Com um ano, a criança começa a compreender que a aproximação e afastamento

da mãe são comportamentos repetitivos e que acontecem por algum motivo.

A relação estabelecida pelos pais em relação aos seus filhos é conhecida como

formação de vínculo. A relação simétrica, da criança em relação aos pais ou cuidadores, é

chamada apego. Ou seja, a formação de vínculo “refere-se ao investimento emocional dos

pais em seu filho. É um processo que é formado e cresce com repetidas experiências

significativas e prazerosas.” Apego é um elo que “desenvolve-se nas crianças em relação aos

seus pais e a outras pessoas que ajudem a cuidar delas” ( KLAUS, 2000, p.167).

Segundo Bowlby (1990), comportamentos de apego são comportamentos onde as

crianças buscam a proximidade com seu cuidador e expressam ansiedade quando há

separação entre eles. Os comportamentos são percebidos nas crianças na forma de choro,

seguir o olhar da mãe e agarra-se a ela. O desapego é quando as crianças se sentem seguras

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para ficarem por um período longe das mães. Os comportamentos comuns são acenos, abraços

e beijos.

De acordo com Bowlby (1990), o desapego nas crianças pode ocorrer quando essas

são afastadas por um período significativo de suas mães. Ao reencontrarem suas mães,

algumas crianças não as reconhecem, outras se afastam ou choram. Em outros casos, as

crianças mostram grande afeição e carinho a elas.

Para Freud (apud BOWLBY 1998), a resposta que uma criança dá na perda da figura

materna indica intensidade do vínculo estabelecido com essa figura. Essa separação pode ser

vivida pela criança sob forma traumática ocorrendo alterações psicológicas num processo de

defesa, na forma de repressão, cisão e negação. Neste caso o desapego é visto como um

resultado de um processo defensivo.

Para Bowlby (1990), as crianças, na sua maioria, apresentam comportamentos de

apego até o final do terceiro ano. Até essa idade, a ausência da mãe não é muito aceita pela

criança, que se mostra chorosa e insegura. Os bebês, quando começam a engatinhar,

conseguem permanecer menos tempo perto da mãe, eles são capazes de explorar outros

objetos e pessoas, longe da vista da mãe, mas devem estar certos de que a mãe, ao retornarem,

estará lá.

A partir dos três anos, essa ausência já é percebida pela criança como uma falta

temporária, relacionando-se assim mais facilmente com outras crianças. Ela se adapta mais

facilmente num lugar estranho, estabelecendo uma relação mais segura com outras figuras de

apego. O apego pode ser estabelecido com uma professora, um parente, contanto que essa

figura esteja familiarizada com a criança. É importante que o primeiro contato da criança com

a outra figura de apego seja estabelecido na presença da mãe, que mostrará confiança nessa

outra pessoa. Porém, quando essa relação não é bem estabelecida, a criança apresentará

dificuldades em se adaptar num espaço longe da mãe.

Apesar das crianças com mais de três anos apresentarem menos necessidade de estar

constantemente em contato com a figura de apego, é percebido em crianças de cinco anos ou

mais, forte relação de apego com a mãe, principalmente quando estão assustadas. Apesar da

criança já estar apta a permanecer mais tempo longe da mãe, em sua presença se mostra mais

confiante e em sua ausência, fica mais tímida e ansiosa.

A fase do bebê em que ele se apresenta mais perturbado com a separação de sua mãe,

é no primeiro ano de vida. Para os bebês, a noção de tempo ainda não é clara.

Comportamentos de apego, como chorar, ser agressivo, ter distúrbio do sono, regressão, são

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percebidos tanto nos bebês que tiveram seu objeto de amor separado definitivamente nos

primeiros três anos de idade quanto naqueles ao qual a mãe se separou por alguns dias. Após

completar um ano e meio, elas se mostram mais calmas na ausência da mãe, porém ainda

apresentam comportamentos de apego. Após os três anos a criança já aceita a ausência

temporária da mãe.

Estudos realizados por Anna Freud e Sophie Dann (1951 apud BOWLBY 1990)

contradizem a teoria de que as crianças se apegam com a figura que satisfaz suas necessidades

fisiológicas. Nesse estudo, seis crianças, entre três e quatro anos de idade, estando num campo

de concentração, demonstraram comportamento de apego com seus pares.

Schaffer e Emerson (1964 apud BOWLBY 1990) concluem em estudos com crianças

escocesas que, “[...] parece que o apego pode desenvolver-se mesmo quando os indivíduos

para os quais ele está dirigido não se associam, de forma alguma, a satisfações físicas” (p.

269).

Alguns estudos realizados por Bowlby (apud KLAUS 2000) afirmam que a maneira

como somos criados quando crianças refletirá no modo como interagiremos com outras

pessoas mais tarde. Pais que não tiveram apego seguro quando crianças tendem a projetar em

seus filhos essa ansiedade passada, tentando reparar a perda não resolvida, por meio deles.

O modelo representacional interno da criança se desenvolve de acordo como a mesma

foi cuidada. Esse modelo internalizado permite que as crianças se sintam seguras e acreditem

em si e nos outros. Crianças que nos seus primeiros anos de vida se sentem seguras e

confiantes em relação aos cuidados de seus pais passam a freqüentar creches ou escolas com

menos dificuldades. Tornam-se mais facilmente pessoas independentes.

Segundo Manning (1993), muitos pais se preocupam se dão ou não constante atenção

aos choros de seus filhos com medo de prejudicá-los. Mas segundo Erikson (1998), a

satisfação das necessidades do bebê é uma condição essencial para o desenvolvimento de uma

confiança básica.

De acordo com Rappapport (1981), em casos em que a mãe não é receptiva ou não

exista uma figura afetiva, a criança pode se tornar insegura em relação aos provedores

externos e em relação à ela mesma, não se sentindo capaz de ser amada, não confiando em si

e nos outros. Desenvolve então um sentimento de desconfiança básica.

Para Klaus (2000), o medo da criança diante da separação da mãe é um medo comum

e essa separação pode ser entendida como uma forma da mãe educar seu filho. A criança

aprende a conviver com outras pessoas e a se ocupar de outras formas senão com a mãe. Uma

mãe pode educar seu filho a aceitar a separação ensinando-lhe a dar tchau ou fazendo

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brincadeiras como esconde-esconde, onde a criança perceberá que, apesar da mãe desaparecer

por um instante, ela logo reaparecerá. Assim, a criança confiará que, mesmo sua mãe saindo

de perto dela, ela retornará.

Segundo Rappaport, o comportamento é algo adquirido tanto por influência genética

como do meio, ou seja, a autora segue uma visão interacionista. “O desenvolvimento físico é

fortemente dependente do código genético” (RAPPAPORT, 1981, p.23). Para Klaus (2000), a

criança pode estabelecer um apego seguro devido sua personalidade ou características inatas,

mas tal comportamento está fortemente ligado ao tipo de cuidado recebido pelos pais.

GOLSE (1998) afirma que, além da função de proteção e intimidade que favorece

aprendizagem necessária à sobrevivência, comportamentos de apego também exercem um

papel importante de socialização, à medida que a mãe ou o cuidador oferece oportunidade de

estabelecimento progressivo de novas descobertas e relações.

2.1.7 Instituição escolar: Pré-escola

De acordo com Deheinzelin (1991), até o século XVII, pela precariedade de higiene e

saúde, muitas crianças morriam precocemente. As que conseguiam atingir certa idade, só

eram consideradas como indivíduo social, quando conseguiam fazer coisas semelhantes aos

adultos. A partir desse século, a criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a

vida mediante deles. Elas se separavam dos adultos numa espécie de quarentena, antes de

serem soltas no mundo. Essa quarentena era a escola. Nesse período, a escola visava corrigir

as crianças, que eram vistas como estigma do pecado, devido forte influência religiosa.

No séc. XVIII, as crianças eram vistas como um ser não pensante, primitiva. A escola

tinha a função de educá-las para desenvolver nelas o caráter e a razão, traços que não estavam

presentes nas crianças, e sim fora delas, nos adultos.

Com o crescimento do comércio, a família burguesa precisava que seus filhos

adquirissem conhecimento e formação para poderem levar adiante o comércio dos pais. A

educação se tornou de grande importância nessa época. A escola assumiu a função de preparar

as crianças para a vida e o trabalho, para que elas assumissem o papel dos adultos.

Por volta do séc. XIX, com o início da Revolução Industrial e o crescimento das

cidades, as mães precisaram trabalhar fora de casa, pela falta de mão-de-obra, e as crianças

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ficaram aos cuidados da sociedade. As crianças passavam o dia em creches ou instituições

assistencialistas. Essas instituições responsáveis pela guarda das crianças que tinham suas

mães trabalhando fora, deram origem à pré-escola dos dias atuais.

De acordo com a constituição outorgada no Brasil, em cinco de outubro de 1988,

referente à educação, “o dever do Estado com a Educação efetivar-se-á mediante a garantia de

atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade” (DEHEINZELIN,

1991, P. 25). Essa educação deve ser promovida e incentivada pela sociedade, visando ao

pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho.

Klaus (2000) afirma que algumas décadas atrás se acreditava que as crianças deveriam

permanecer em casa aos cuidados dos pais ou algum outro cuidador. A idade ideal para que a

criança freqüentasse a creche era dos três anos em diante. Atualmente, com as mudanças

ocorridas na sociedade, pelo fato das mulheres participarem mais da vida social e ficarem

menos tempo em casa, as crianças começam a freqüentar mais precocemente as escolas e

creches, superando assim, mais precocemente a angústia da separação.

Para Deheinzelin (1991), desde cedo as crianças freqüentam as pré-escolas, onde

ampliam e intensificam a socialização. A escola organiza uma aprendizagem que já se iniciou

e que permanece em constante continuidade nas experiências da criança no seio da família e

no meio social em que vive.

Na pré-escola, o conhecimento adquirido pela criança no meio social, fica mais

sistematizado, o que pode alterar qualitativamente o processo de socialização da criança. As

crianças, através da observação, constróem diferentes representações do mundo ao longo das

etapas de seu desenvolvimento. A pré-escola contribui para o desenvolvimento do

pensamento da criança, ajudando-as a transformarem suas concepções e a formularem novas

concepções de mundo. A Pré-Escola, “[...] enquanto um lugar de conhecimento e

aprendizagem pode ser um lugar onde a criança entre em contato com novos conteúdos e crie

novas relações com temas já conhecidos” (DEHEINZELIN, 1991, p.184).

A integração da família e da escola na vida da criança, que a faz estabelecer novos

vínculos, novas relações e novos aprendizados, faz com que a criança se torne mais

independente, ou seja, conquiste sua autonomia.

Muitas crianças enfrentam sérias dificuldades no desenvolvimento cognitivo e

emocional. Alguns professores relacionam essas dificuldades ao problema de aprendizagem.

É incoerente fazer certas afirmações de que crianças com problema de aprendizagem possuem

algum desajuste emocional. Mesmo tendo que ficar atento aos aspectos emocionais das

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crianças, não é objetivo da escola promover o ajustamento afetivo, a saúde mental ou a

felicidade do aluno. O objetivo da instituição escolar é “[...] propiciar a aquisição e

reformulação dos conhecimentos elaborados por uma dada sociedade” (DAVIS e OLIVEIRA,

1994, p.80). Cabe à escola propiciar um ambiente saudável e seguro para que as crianças se

sintam bem, facilitando a atividade intelectual.

Para Ramos (1995 apud CARVALHO, 2000), a função da educação Infantil é de

estimular o desenvolvimento da criança nos mais variados aspectos, na tentativa de atuar de

forma integrada e dentro de um contexto sócio-político-cultural, assumindo sua função

educativa voltada para o ato de conhecer.

Paulo Freire (1979) combate a idéia de que a pedagogia sirva como uma alavanca da

transformação social e política e de que a educação reproduz mecanicamente a sociedade.

Segundo o autor:

O homem enche de cultura os espaços geográficos e históricos. Cultura é tudo o que é criado pelo homem. Tanto uma poesia como uma frase de saudação. A cultura consiste em criar e não em repetir. O homem pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz de captar o mundo e transformá-lo. Isto nos leva a uma segunda característica da relação: a conseqüência, resultante da criação e recriação que assemelha o homem a Deus. O homem não é, pois, um homem para a adaptação. A educação não é um processo de adaptação do indivíduo à sociedade. O homem deve transformar a realidade para ser mais [...] (PAULO FREIRE, 1979, p. 31).

Para o autor, ensinar é algo profundo e dinâmico onde a questão de identidade cultural

que atinge a dimensão individual e a classe de educandos, é essencial à prática educativa

progressista. Educar não é uma simples transferência de conhecimentos, mas sim uma

conscientização e testemunho de vida. Caso contrário, a educação não teria eficácia.

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2.2 METODOLOGIA

O método utilizado para realizar a pesquisa foi de caráter qualitativo, que segundo

Deslandes (1994), é uma pesquisa que tem como finalidade responder questões da realidade

que não podem ser quantificadas. É uma pesquisa que trabalha com o universo de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. A pesquisa qualitativa buscou

“[...] Compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez, são

depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a vivência, com a

experiência, com a cotineidade e também com a compreensão das estruturas e instituições

como resultados da ação humana objetivada” (DESLANDES, 1994, p.24).

A técnica a utilizada na pesquisa foi do tipo observação participante, que segundo

Deslandes (1994), é realizada através do contato direto do pesquisador com o que está sendo

observado a fim de recolher informações sobre a realidade do contexto em questão. Através

dessa técnica, se consegue captar variadas situações que não poderiam ser percebidas através

apenas de entrevistas. Essa técnica é complementar às entrevistas, visando também buscar um

maior aprofundamento dos eventos cotidianos do grupo estudado.

A pesquisa constou com os seguintes sujeitos: três crianças de três anos de idade, seus

pais, e duas professoras da turma, uma do período da manhã e outra do período da tarde.

As crianças foram escolhidas de acordo com as necessidades das professoras, visto que

uma das criança era considerada pelas mesmas como muito agressiva, a outra era vista pelas

professoras como cognitivamente atrasada e a última era dita como “normal”.

Como instrumento para coleta de dados foram utilizados fichas de anamnese que

foram entregues aos pais para que respondessem questões relacionadas à sua saúde, rotina e

relação de seus filhos com os familiares. Foi realizada também a entrevista de seguimento

com as professoras e os pais com questões ralacionadas ao processo de adaptação da criança

na creche. A ficha de entrevistas continha questões abertas e fechadas.

Inicialmente a pesquisadora conversou com as professoras sobre a possibilidade de

realizar a pesquisa na creche e em seguida foi escolhido os sujeitos, que foram indicados pelas

professoras. A seguir foi pedida a autorização dos pais para que se pudesse realizar a pesquisa

envolvendo seus respectivos filhos. No mesmo momento que foi pedida a autorização, foi

realizada com os pais a anamnese e a entrevista de seguimento com cada um dos pais, em

horários diferentes. Para um dos pais foi enviada as entrevistas e a autorização para casa, visto

que os mesmos não tinham tempo para ir na creche. Com os outros dois pais a entrevista foi

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realizada pessoalmente com a pesquisadora. Após realizada as entrevistas com os pais, se

iniciou a observação participante da pesquisadora, visando observar a relação

professoras/alunos. A observação foi realizada em dois dias, um dia no período da manhã e

outro dia no período da tarde. Terminada a observação foi pedido que as professoras

respondessem as entrevistas de seguimento de cada criança.

A partir da análise dos dados coletados com as entrevistas e com a observação

participante se pôde buscar respostas para as questões formuladas, confirmar ou não

afirmativas antes do trabalho ser investigado e descobrir os conteúdos manifestos da

investigação.

OBS: As entrevistas foram baseadas na entrevista de Roberta Pimenta Vieira de

Carvalho, em sua tese de mestrado cujo título é HISTÓRIA SÓCIO-FAMILIAR E

COMPORTAMENTOS DE APEGO/DESAPEGO DA CRIANÇA NO PROCESSO DE

ADAPTAÇÃO À PRÉ-ESCOLA.

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2.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS

2.3.1 Análise dos dados a partir da observação participante da pesquisadora na creche

A pesquisa foi realizada numa creche, na interação de duas professoras, uma no turno

da manhã e outra no turno da tarde, com três crianças de três anos de idade, durante o período

da aula. As professoras da creche foram bastante receptivas, se mostraram dispostas a

colaborar com a pesquisadora. Havia na turma, uma professora auxiliar que participava dos

dois turnos. Os nomes das três crianças envolvidas na pesquisa foram modificados, as

chamaremos de J, V e C. As três crianças têm três anos de idade.

O objetivo da observação realizada pela pesquisadora na creche era de perceber como

se dava o processo de vinculação afetiva da professora com os alunos, identificando nessa

vinculação os seus fatores sociais, psicológicos e pedagógicos.

A partir da observação participante, viu-se que em alguns momentos era maior a

preocupação em disciplinar as crianças a partir de comportamentos pouco referendados em

aspectos próprios do campo afetivo, dando assim, menor ênfase aos aspectos afetivos.

Esses comportamentos ficaram evidentes na relação das professoras com duas das três

crianças envolvidas na pesquisa. O primeiro momento foi quando J subiu na mesa e ficou

brincando debaixo de um colchão, uma das professoras o pegou no colo e o pôs no chão. J

novamente subiu na mesa e a professora o tirou novamente. Ele então jogou alguns

brinquedos no chão e começou a chorar, a professora falou para ele parar de fazer aquilo e sai

de perto dele.

Outro momento foi quando J subiu em cima da mesa e a professora o tirou de lá. Ele

deu um tapa nesta, que o segurou pelo braço. Ele então pegou um telefone de brinquedo e

jogou no chão. A professora disse: “que coisa feia, porque você é assim agressivo J?”, e saiu.

Essa relação de uma das professoras com J também foi observada quando o mesmo

brincava no pátio dentro de uma casa de madeira e a professora pediu que ele saísse de lá para

ir para a sala. Ele não obedeceu. Então a professora entrou na mesma e o pegou no colo. Ele

tentou escapar e a professora disse: “anda J, vamos logo”. J tentou se esticar para poder sair

pela janela e a professora falou: “até parece que você vai sair por aí, pára quieto e vamos

subir”. A professora mandou ele ir para sala de vídeo e ele foi.

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Na sala de vídeo J queria ficar brincando dentro de uma casa de boneca, mas a

professora pediu que ele saísse. Ele não saiu, então a professora o pegou pelo braço e o fez

sentar no chão. De vez enquanto ele levantava e voltava para a casinha, mas a professora o

segurava e não o deixava sair de onde estava.

Segundo Montaigne (apud Souza e Costa 2002), a criança é vista como uma miniatura

de um adulto. Sendo assim, o autor critica ações de agrado, de ludicidade, com relação às

crianças. Defende a educação num sentido voltada para a racionalização do processo

educativo, valorizando a razão. A escola então para ele deveria ser reorganizada para se

ocupar da função disciplinar e instrutiva, ao invés de se preocupar com as “paparicações”

promovidas no lar.

Esse método de entender a educação, por mais que seja um ponto a ser pensado

criticamente, parece ilustrar a condição da professora em relação à criança nos episódios

acima descritos.

Situação semelhante pôde ser constatada na interação da professora com C, quando

este subiu em cima da mesa e ficou pulando. A professora a puxou pelo braço e disse: “desce

logo daí C”. Ela não desceu. A professora disse: “ai C, você tem algum problema? Desce

logo”. C não desceu. A professora a pegou no colo e botou no chão, C chorou um pouco, mas

logo subiu novamente. A professora foi para outro lado da sala.

Esse comportamento da professora com C apareceu também quando C subiu no

colchão e a professora a pegou pelo braço, puxando para fora do mesmo, dizendo que não era

para ninguém pisar no colchão. C começou a chorar, pedindo que a professora soltasse seu

braço. A professora dizia: “não está machucando C, eu estou te segurando e não apertando seu

braço, você não me obedece então tenho que te segurar”. C continuou chorando até a

professora soltar seu braço.

De acordo com Dantas (1992) (apud Souza e Costa 2002), é função da educação

satisfazer as necessidades orgânicas e afetivas das crianças. Oportunizar a vivência dessas

necessidades é importante para a manipulação da realidade e estimulação da função

simbólica, assim como para a construção do Eu.

Fica clara pelo acima exposto, a importância do equilíbrio dos aspectos afetivos,

comportamentais e cognitivos enquanto uma unidade no desenvolvimento psicológico. Isso se

reflete também em termos de caráter social, uma vez que esse processo é importante para a

construção da personalidade humana, além de propiciar um elo entre o indivíduo e a busca do

saber, que se dá pelas interações sociais.

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No que foi acima citado, em relação à interação das professoras com as crianças,

houve um desequilíbrio das necessidades por parte das professoras, que se preocuparam mais

com a interação física do que a harmonia entre a dimensão corporal, afetivo-emocional e

cognitiva no trato pedagógico com as crianças.

Para Wallon (apud Souza e Costa 2002) a evolução afetiva está diretamente ligada ao

desenvolvimento cognitivo. A afetividade é a fase mais arcaica do desenvolvimento humano e

está sincreticamente misturada com a inteligência. A construção do Eu se dá nos momentos

dominantemente afetivos do desenvolvimento, na interação com outros sujeitos.

Por outro lado, no processo de observação, também foi presenciado momentos de

interação fundamentada prioritariamente na afetividade. Isso ocorreu quando J começou a

chorar querendo sua chupeta e a professora parou do seu lado e ficou fazendo carinho em seu

rosto, explicando que daria a chupeta após o almoço.

Outro episódio semelhante ao que foi citado acima foi quando C assistia um vídeo e

ficou dançando com a música. Quando acabou uma das músicas C encostou-se à professora

para abraçá-la. A professora deu um abraço nela e disse: “isso C, olha lá que cachorro

bonito”. C riu e continuou dançando.

De acordo com a teoria de Dantas e Wallon (apud Souza e Costa 2002), essa interação

das professoras com os alunos auxilia a criança a constituir sua personalidade e incentiva a

criança na construção do saber. A inteligência está diretamente ligada aos aspectos afetivos.

Seguindo o pensamento de Rousseau (apud Souza e Costa 2002), em que a pedagogia

deve cultivar a intimidade infantil, deve preservar a individualidade de cada criança, foi

percebido que isso em muitos momentos não é levado em consideração.

As professoras esperam que o desenvolvimento e o comportamento das crianças

sejam semelhantes. Isso ocorreu quando C comia com seus colegas. Quando todos

terminaram de comer, a professora mandou que voltassem para a sala. C ainda não havia

terminado, então ficou sozinha com a professora no refeitório. A professora pediu que ela

parasse de comer e voltasse para a sala, pois todos já haviam terminado a refeição. Se deduz

que a individualidade da criança não foi considerada, ou seja, já que todos já haviam

terminado a refeição, ela já deveria ter terminado também.

Outra situação em que não foi levado em consideração a individualidade da criança,

foi quando C estava na sala de vídeo esperando o filme começar e quis ficar olhando alguns

livros nesse intervalo. A professora tirou os livros de sua mão e não a deixou mexer neles.

No caso de outra criança denominada V, as professoras mostraram maior

sensibilidade pela individualidade do mesmo, quando no início da aula as outras crianças

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estavam brincando V ficou no canto da sala apenas observando. A professora foi ao seu lado

e perguntou se ele não queria brincar. Ele respondeu que não e a professora então disse: “se

você não quer brincar, tudo bem, mas quando você quiser, venha com a gente”.

De acordo com Martins (citado no texto Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na

Sala de Aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo), a constituição do sujeito só é possível com

a participação de outros seres humanos e da apropriação do patrimônio cultural da

humanidade. A criança então internaliza as vivências de seu meio e por meio do livre-arbítrio,

processa internamente as diversas visões de mundo com as quais convive.

Segundo Vygotsky (citado no texto Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na Sala

de Aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo, de autoria de Martins), as possibilidades que o

ambiente proporciona ao indivíduo são fundamentais para que o mesmo se constitua como

sujeito consciente, capaz de modificar as circunstâncias em que vive.

É por meio do processo de internalização das vivências sociais que as crianças

começam a desempenhar suas atividades sob orientação de outros e, aos poucos aprendem a

resolvê-las sozinhas.

É através das atividades realizadas na sala de aula que a criança têm a possibilidade de

aprender com a professora, internalizar o que foi aprendido para depois executar a tarefa

sozinha. As professoras se tornam mediadoras pedagógicas no processo de aprendizagem e

construção subjetiva da criança.

Observou-se no trabalho de campo, ou seja, na relação entre professoras e crianças,

que eram poucas as atividades realizadas com as crianças na creche, em relação ao que

esperam alguns teóricos. Em muitos momentos as crianças eram deixadas soltas pela sala,

brincando entre elas com o que tinha espalhado pelo chão. A professora exercia o papel de

cuidadora, intervindo com a criança apenas quando alguma criança fizesse alguma coisa de

errado, como bater em outra criança, subir na mesa ou na janela. Nesses momentos a sala

ficava mais desorganizada e as crianças brigavam mais entre si.

Um momento em que houve a interferência da professora na briga das crianças foi

quando V brincava com dois colegas e durante a brincadeira um dos meninos pegou o

brinquedo de V. V falou para a professora com voz de choro: “tia, ele pegou meu brinquedo”.

A professora tirou o brinquedo da mão da outra criança e devolveu para V. Depois V e seu

amigo começaram a brigar. Como esse amigo de V o empurrou, V deu um tapa no mesmo. O

amigo que V empurrou começou a chorar e a professora brigou com uma outra criança, que

não tinha nada a ver com a briga dos dois. V recebeu um tapa do amigo que ele havia batido e

foi reclamar com a professora. A professora então brigou com a criança que bateu em V. Ou

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seja, quando V bateu no seu amigo, a professora brigou com outra criança que não estava na

briga. Mas quando uma criança bateu em V, a professora tomou partido do mesmo.

De acordo com Martins (citado no texto Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na

Sala de Aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo), a atividade desenvolvida na escola é uma

fonte importante de expansão conceitual, por ser um ambiente privilegiado para fornecer o

suporte necessário às ricas interações com o conhecimento socialmente elaborado. Nas

interações crianças-crianças e professores-crianças, a negociação de significados favorece a

passagem do conhecimento espontâneo para o científico.

Foi notório que nos momentos em que eram realizadas atividades com as crianças,

tendo a professora como mediadora dessas atividades, a turma permanecia mais organizada e

a professora tinha mais controle sobre as crianças.

Um momento de atividades com as crianças foi na sala de vídeo, quando uma das

professoras levou as crianças para assistir um filme. Enquanto o filme não começava, as

crianças ficavam correndo pela sala. Quando o filme começou, as crianças ficaram entretidas

assistindo-o. A professora, durante o filme, teve papel de mediadora no conhecimento das

crianças. A professora ia mostrando e ensinando o nome de todos os animais que apareciam

no vídeo.

Outra atividade realizada pela professora com as crianças foi uma brincadeira de bola,

que a professora realizou com as crianças. As crianças ficaram em círculo e a professora pedia

para quem estava com a bola, jogar para um outro colega. Todas as crianças participaram da

brincadeira, e jogavam a bola para a pessoa que a professora indicava. V participou da

brincadeira, mas ficava pedindo sempre para jogarem a bola para ele. A professora dizia que

ele tinha que esperar sua vez, e ele esperava. J esperava sua vez de pegar a bola, quando a

bola chegava nele, ele ficava todo sorridente e jogava para outra criança. A professora dizia:

isso J, agora joga para outra pessoa, J jogava. C foi a última criança a entrar na brincadeira.

Quando C entrou na roda a professora disse: “isso C, entra na roda”.

Após essa atividade, a professora chamou as crianças para brincarem de galinha choca.

Todas brincaram. Quando alguma criança se levantava fora da sua vez, como no caso de C, a

professora dizia: “eu já ensinei a regra dessa brincadeira, você tem que respeitar a regra se

quiser brincar”. C sentava e esperava sua vez.

As crianças, nessas brincadeiras, aprendem a interagir com outras crianças e a

desenvolver atividades que englobam mais pessoas, respeitando assim, a hora de cada um

dentro das brincadeiras.

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Outra atividade importante, que incentiva o conhecimento das crianças, foi durante o

teatro, onde a professora fazia algumas perguntas e esperava as crianças responderem. V

geralmente respondia todas as perguntas. Quando foi perguntado quais animais viviam dentro

do mar, ele respondeu: “peixe e estrela do mar”. Após o teatro a professora pediu que todos

desenhassem um peixe. V dizia não saber desenhar e pedia que a professora desenhasse para

ele. Ela dizia: “não, você que tem que desenhar, se eu desenhar, o desenho não será mais seu,

será meu, eu quero que você desenhe, desenha como você sabe”. No fim, pediu que todos

mostrassem seus desenhos. Elogiou todos, dizendo que os desenhos estavam lindos.

Segundo Martins (citado no texto Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na Sala

de Aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo), o professor na sala de aula deve instruir,

explicar, informar e corrigir o aluno, fazendo-o explicitar seus conceitos espontâneos. A partir

da observação, percebeu-se que as duas professoras em muitos momentos assumiam os papéis

de instruir, explicar, informar e corrigir o aluno durante as atividades. Durante o vídeo, assim

como no teatro, as professoras ensinavam os nomes dos animais que apareciam em cena.

Quando alguma criança respondia errado, a professora a corrigia e informava a resposta

correta, permitindo que a criança explicitasse seus conceitos espontâneos.

As atividades realizadas pelas professoras têm a função principal de promover a

interação aluno-professora. Segundo Martins (citado no texto Vygotsky e o Papel das

Interações Sociais na Sala de Aula: Reconhecer e Desvendar o Mundo), o importante no

processo interativo não é a figura do professor ou do aluno, e sim o campo interativo criado

entre as duas figuras. É na interação entre as pessoas que se estabelecem as ações partilhadas,

onde a construção do conhecimento se dá de forma conjunta.

Como foi enfocado anteriormente, há certos aspectos que precisam ser reavaliados na

relação das professoras com os alunos. Porém foi observado também que há demasiada falta

de limite das crianças, o que consequentemente interfere na relação das professoras com as

crianças. Em vários momentos as professoras perdiam o controle das mesmas e mostravam-se

desanimadas com a desordem da sala.

Segundo Neto (citado no texto Educação sem limites), a causa da falta de limite na

educação da criança se dá por vários aspectos, como a perda dos valores morais do nosso

cenário, crescentes números casos de corrupção que são apresentados na mídia, onde

dificilmente a lei consegue ser cumprida, além de ter se instalado na sociedade uma cultura de

que seguir regras é besteira e que o esperto é quem se dá bem.

Outro motivo que o autor aponta como causa da falta de limites das crianças é o pouco

tempo que os pais têm com seus filhos. Eles os deixam desde cedo na creche devido a carga

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horária dedicada ao trabalho, o que muitas vezes gera um sentimento de culpa. Os pais, assim,

acabam sendo permissivos demais com seus filhos, deixando de educar e passar os valores

morais aos mesmos.

A educação, então, deve englobar tanto as professoras como a família, que tem

participação direta na constituição da subjetividade da criança e que também pode ser

facilitadora no processo de adaptação da mesma na creche.

De acordo com Vygotsky (1998) a adaptação ao meio pode ser analisada a partir da

circunstância em que a criança passa por diversas etapas de adaptação ao meio social e seus

comportamentos sociais se modificam de acordo com sua etapa evolutiva. O comportamento

social da criança deve ser considerado como um comportamento que é interpretado de acordo

com o desenvolvimento biológico do organismo.

Ao ingressar na creche, a criança se depara com figuras desconhecidas, num ambiente

totalmente novo para ela. Segundo Vygotsky (1998), a adaptação ao ambiente pode então

indicar uma dura luta contra os diferentes elementos, denotando sempre uma inter-relação

com este.

A creche tem um papel significativo no processo de adaptação das crianças, que é

promovida através do encontro e das dialógicas interações dos familiares, das crianças e dos

educadores. Sendo assim, com todos atuando como participadores, facilita este processo.

2.3.2 Análise dos dados a partir das entrevistas com os pais

Os aspetos sociais relacionados às crianças influenciam no desenvolvimento da

mesma. Como afirma Vigotski (1998), a criança não é um ser terminado, é um ser em

desenvolvimento onde seu comportamento irá se formando sob a influência da ação

sistemática do ambiente e das suas relações a vários períodos de evolução, que determinam a

relação do ser humano com o meio.

Segundo Deheinzelin (1991), é na integração da família e da escola na vida da criança,

que faz com que as criança estabeleça novos vínculos, novas relações e novos aprendizados,

faz com que a criança se torne mais independente, ou seja, conquiste sua autonomia.

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É importante se assinalar alguns pontos que apareceram nas entrevistas com os pais,

para se conhecer as primeiras relações da criança, antes de freqüentar a creche. Para Manning

(1993), os pais são os principais influenciadores sobre o processo de socialização dos filhos.

Isso porque os filhos tendem a querer agradar seus pais para conservar o amor e aprovação

recebida por eles. A família é para a criança a primeira fonte de informação sobre o mundo.

A partir das entrevistas realizadas, percebeu-se alguns aspectos importantes na

constituição do sujeito a partir de suas relações.

Quando foi perguntado quem é a pessoa responsável pela criança, dois responsáveis

responderam ser os pais e uma, apenas a mãe. Na pergunta se os pais vivem juntos, uma

criança tem pais separados, há dois anos e meio. Em relação à residência, as três crianças

residem em casas próprias e quanto aos irmãos, duas crianças são as mais novas da família e

uma é a mais velha. Na pergunta de qual era a rotina da criança, os três responsáveis

responderam ser brincar dentro de casa.

A partir da pergunta se a criança coopera com as atividades de casa, os três

responsáveis responderam que seus filhos as ajudam nas tarefas, porém um deles disse que

frequentemente seu filho se recusa a ajudar. Quando se pergunta se a criança dorme sozinha

num quarto, todos os responsáveis responderam que não, que seus filhos dormem com os pais.

Quando foi perguntado como a criança reagia quando contrariada, os responsáveis

responderam que as crianças choram, ficam revoltadas e nervosas.

De acordo com Manning (1993), a criança em seu processo de socialização se defronta

com questões emocionais, afetivas e intelectuais. Ela está no processo de construção de sua

autonomia e identidade. O papel dos pais para auxiliar no desenvolvimento da autonomia dos

filhos é de encorajá-los a construir por si mesmos seus próprios valores morais e não fazendo

o papel de poder, usando métodos de castigos e recompensas com seus filhos.

Nas três entrevistas, na pergunta de qual era o procedimento dos pais com tal reação

da criança, os pais disseram utilizar os métodos citados acima. Cada responsável citou um

comportamento diferente em relação às crianças. Um disse que castiga a criança, outro disse

que tenta negociar com ela e o último disse que tenta agradá-la.

Com relação às expectativas da família ao colocar seus filhos na creche, dois

responsáveis disseram ser para prepará-los para a primeira série. Um deles respondeu que

seria para promover seu desenvolvimento global.

Quando foi perguntado como os responsáveis se sentiam ao deixar seus filhos na

creche, dois responsáveis disseram ficar seguros, o outro disse ficar inseguro, que fica triste

por permanecer muito tempo longe de seu filho. Em relação ao motivo de terem escolhido a

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creche pesquisada, dois pais disseram que foi devido a boas referências e um deles disse ser

pela localidade.

Sobre qual é a religião da criança, as três seguem a religião católica, que é a religião

da família. Em relação a conversar sobre sexo com os filhos, um responsável disse conversar

abertamente e os outros dois disseram nem conversar sobre o assunto.

Quando se perguntou se a gravidez da criança havia sido planejada, dois responsáveis

responderam que não e um respondeu que sim. Na pergunta de como foi a gravidez, todos

afirmaram ter sido uma gravidez calma e saudável. No que foi visto na pergunta se a criança

já teve intervenção hospitalar, todos os três responsáveis responderam que não.

O desenvolvimento psicomotor das crianças ocorreu numa idade próxima entre elas.

Duas das crianças sentaram pela primeira vez aos seis meses, e a outra o responsável não

soube exatamente. Duas andaram aos dez meses e outra aos oito. O controle dos esfíncteres

ocorreu por volta dos dois anos em duas crianças. Na outra não foi respondido. Duas das

crianças começaram a falar com um ano de idade e a outra falou com nove meses.

Segundo Piaget (apud PAPALIA, 1998), entre zero e dois anos a criança se encontra

no período sensório-motor. Neste estágio, para a criança não há diferenciação entre o eu e o

mundo, é uma fase egocêntrica. A criança reage ao meio inicialmente por reflexos

hereditários que gradativamente serão transformados em esquemas sensoriais-motores. Sua

capacidade de pensar sobre o meio é pouca ou inexistente. Por volta dos nove meses, ela

começa a ter noção de permanência do objeto, a existência de um objeto independe de sua

percepção imediata. A fala neste período é imitativa.

Para Santos e Moura (2002), a família é uma importante figura na apresentação do

mundo para a criança, assumindo um papel primordial, que aos poucos vai sendo

compartilhado com outras personagens. A criança passa a interagir não apenas com a família,

ela se insere em novos contextos e partilha uma mudança nas suas metas e nos seus agentes

de socialização.

A creche promove uma mudança de referenciais, onde a criança passa a conviver com

outros parceiros de interação. Nessa nova relação, a família tem uma importância vital de

compartilhar o desenvolvimento da criança com a instituição.

De acordo com Moreira (citado no texto Família-Escola, principal elo da educação),

quando a família acompanha verdadeiramente a vida da criança na creche, esse ingresso se

torna favorável à mesma, onde a família ajuda a desenvolver os aspectos emocionais,

cognitivos, afetivos e sociais da criança.

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A participação direta da família na entrada da criança na creche pode facilitar o

processo de adaptação da criança na mesma. Manning (1993) afirma que quando há um forte

laço de confiança e carinho entre a criança e a família, provavelmente ela se ajustará mais

facilmente às regras se adaptando de forma aceitável na sociedade.

2.3.3 Análise dos dados a partir das entrevistas com as professoras

As entrevistas de seguimento foram realizadas com as duas professoras das crianças

observadas, com o intuito de identificar como ocorreu o processo de adaptação para cada uma

das crianças.

A partir das entrevistas, não será possível a análise minuciosa dos dados colhidos,

visto que cada professora respondeu apenas uma folha de entrevista para as três crianças, o

que prejudica a discussão dos resultados. De acordo com as mesmas, não era necessário

responder uma folha de entrevista para cada criança já que as respostas seriam iguais para

todas elas.

Em relação à pergunta de quanto tempo a criança levou para se adaptar na creche, uma

professora respondeu que as três crianças levaram uma semana para a adaptação e a outra

respondeu que “para as crianças matriculadas no ano interior a entidade compreende que não

é necessário a adaptação”. As três crianças já freqüentavam a creche no ano anterior.

Na pergunta relacionada ao tempo de adaptação, as duas professoras responderam

considerar este período curto. Em relação em como ocorreu a adaptação da criança na creche,

uma professora disse ter sido tranqüilo e a outra disse ter sido atropelado, sem tempo para

conhecer as crianças. Disse também não ter havido tempo de planejamento.

Quando foi perguntado como as professoras acharam que havia sido a adaptação da

criança na creche, uma respondeu ter sido fácil e a outra achou difícil.

A partir da pergunta de como as professoras se sentiram no processo de adaptação da

criança, uma respondeu ter ficado satisfeita e a outra respondeu ter ficado angustiada e para

ela esse processo é de suma importância para o fortalecimento dos vínculos afetivos e

segurança.

Sobre como as professoras perceberam o comportamento das mães neste processo de

adaptação, uma professora respondeu que as mães eram cuidadosas. A outra respondeu que as

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mães ficavam seguras mas que não tinham tempo para conhecer os profissionais que atuavam

com a criança durante todo ano.

Para Bowlby (1990), o apego pode ser estabelecido com uma professora, um parente,

contanto que essa figura esteja familiarizada com a criança. É importante que o primeiro

contato da criança com a outra figura de apego seja estabelecido na presença da mãe, que

mostrará confiança nessa outra pessoa. Porém, quando essa relação não é bem estabelecida, a

criança apresentará dificuldades em se adaptar num espaço longe da mãe.

Para Deheinzelin (1991), a integração da família e da escola na vida da criança é que

faz com que a criança estabeleça novos vínculos, novas relações e novos aprendizados, faz

com que a criança se torne mais independente, ou seja, conquiste sua autonomia.

Em relação ás perguntas sobre o que as professoras entendem por vinculação afetiva,

qual a importância da mesma para crianças na fase de adaptação e como trabalham a

vinculação afetiva entre a criança, as duas concordam que a vinculação afetiva é uma relação

de afeto entre duas pessoas, que é importante para promover a confiança na criança e que

deve ser trabalhada através de brincadeiras e diálogo entre os envolvidos.

De acordo com Ramos (1995 apud CARVALHO, 2000), a função da educação infantil

é de estimular o desenvolvimento da criança nos mais variados aspectos, na tentativa de atuar

de forma integrada e dentro de um contexto sócio-político-cultural, assumindo sua função

educativa voltada para o ato de conhecer.

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3 CONCLUSÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentou uma revisão de literatura

sobre o comportamento social e sua relação com o desenvolvimento da criança, o

desenvolvimento da interação adulto-criança, afetividade, desenvolvimento psicomotor e

social da criança, comportamentos de apego/desapego e instituição Escolar.

A pergunta de pesquisa consistiu em identificar quais eram os comportamentos de

apego/desapego observados nas crianças de 1 a 3 anos na pré-escola a partir da constituição

do vínculo afetivo da criança com os educadores. Neste sentido, pode-se dizer que a pergunta

de pesquisa deste TCC foi respondida, uma vez que, a partir dos dados e informações

coletadas na observação-participante, foram identificados os comportamentos de

apego/desapego da criança com seus pais e a relação de vínculo afetivo das professoras com

os alunos, que promovem uma melhor adaptação da criança na creche. Os comportamentos de

apego identificados durante a observação participante na relação professora/aluno foram:

abraços, beijos, brincadeiras envolvendo aluno/aluno e professora/aluno, palavras

incentivadoras assim como ensinar a escovar os dentes e ir no banheiro. Os comportamentos

de desapego foram identificados quando as professoras eram autoritárias com as crianças

assim como quando as crianças eram agressivas com as professoras.

O objetivo geral da pesquisa foi analisar o comportamento de apego/desapego em

crianças de 1 a 3 anos durante o processo de adaptação escolar a partir da constituição do

vínculo afetivo entre a mesma e seus educadores. Os objetivos específicos foram descrever os

comportamentos da criança no seu processo de apego/desapego em relação aos seus pais e

descrever o processo de vinculação afetiva da criança em relação aos professores,

identificando nessa vinculação os seus fatores sociais, psicológicos e pedagógicos.

Os objetivos gerais e o específico não foram totalmente alcançados visto que a

amostra da pesquisa não foi suficiente para se alcançar os objetivos. Outro fator que interferiu

na análise dos resultados foi que as entrevistas de seguimento realizadas com cada professora

não foram respondidas como se esperava, visto que as perguntas deveriam ser respondidas de

acordo com cada criança, mas as duas professoras utilizaram a resposta de uma criança para

todas elas. Os objetivos foram parcialmente alcançados visto que foi possível identificar na

relação aluno/professora os comportamentos de apego/desapego e o processo de vinculação

afetiva ocorridos dentro desta relação.

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Os resultados da pesquisa foram descritos a partir da metodologia de pesquisa

participante, utilizando como instrumento entrevistas de anamnese e seguimento realizadas

com os pais e professores e posteriormente, houve observação participante da pesquisadora,

com o intuito de descrever como ocorre a constituição do vínculo afetivo entre professoras e

alunos na creche.

As entrevistas de anamnese e de seguimento utilizadas para a realização desta

pesquisa não trouxeram respostas suficientes para que se pudesse alcançar os objetivos.

De acordo com o que foi estudado nesta pesquisa, o processo de adaptação da criança

na creche pode ser facilitado a partir da constituição do vínculo afetivo entre as professoras e

os alunos.

Quando uma criança se sente seguro em relação ao afeto das professoras, esta se

adapta mais facilmente na creche. Essa confiança pode ser estabelecida através do vínculo

afetivo.

O vínculo afetivo é fundamental para que a criança obtenha um melhor

desenvolvimento social, psicológico e afetivo através das relações com as professoras. Esse

vínculo é estabelecido nas interações sociais entre professoras e alunos.

A interação social é uma complexa relação dos processos sociais entre um adulto com

uma criança É através dessa interação que é construído o conhecimento e desenvolvimento da

mesma.

As professoras, junto aos pais, se tornam responsáveis pela constituição da

subjetividade das crianças.

Acredita-se que a relação da criança com as professoras na creche podem ser mais

proveitosas quando as professoras se conscientizarem da importância do plano pedagógico na

formação do vínculo com a criança, e quando os pais passarem a participar mais diretamente

do processo de institucionalização de seus filhos, compartilhando, e não despejando, a

responsabilidade das crianças com a creche.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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____. Apego. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

____. Perda: Tristeza e depressão, v.3. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

CARNICERO, GONZÁLES, ESCUDEIRO E CARRTERO. O desenvolvimento da

interação dos autores. Substratum/Artes Médicas. Vol.1, Nº 2.

CARVALHO, R. P. V. de. História Sócio-familiar e comportamento de apego/desapego

da criança no processo de adaptação à pré-escola. Porto Alegre: PUCRS. 200.

DESLANDES, S. F. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes,

1994.

DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. de M. R. de. Psicologia na educação. São Paulo: Cortez, 1994.

DEHEINZELIN, M., LIMA, Z.V.C. Professor na Pré-Escola/ Fundação Roberto Marinho. –

Rio de Janeiro: FAE, 1991, vol.1.

ERIKSON, E. H. O ciclo de vida completo. Porto Alegre : Artmed, 1998 .

FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

GOLSE, B. O desenvolvimento afetivo e intelectual da criança. 3 ed. Porto alegre: Artes

Médicas, 1998.

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48

KLAUS, M. H. Vínculo: construindo as bases para um apego seguro e para a independência.

Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

LA TAILLE, Y. de, OLIVEIRA, M. K. de, DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias

psicogenéticas em discussão. São Paulo. Summus, 1992.

MANNING, S. A. O desenvolvimento da criança e do adolescente. São Paulo: Editora

Cultrix, 1993.

MARTINS, J. C. Vygotsky e o Papel das Interações Sociais na Sala de Aula: Reconhecer

e Desvendar o Mundo. São Paulo: PUC

MOREIRA, J. Família-Escola, principal elo da educação.

www.socialtec.org.br/Downloads/Educacao/JoseclerMoreira_FamiliaEscola.doc

NETO, A. C. de S. Educação sem limites. www.portaldafamilia.org/scpainel/cart012.shtml

PAPALIA, D. E. O mundo da criança. 2.ed. São Paulo: Makron Books, c1998.

RAPPAPPORT, C. R. et al. Teorias do desenvolvimento. São Paulo: EPU, 1981 (b). 4v.

V.3: A idade pré-escolar.

SANTOS, F., M. S, MOURA, M. .L. S. A Relação Mãe-Bebê e o Processo de Entrada na

Creche: Esboços de uma Perspectiva Sócio-Cultural. Psicologia: ciência e

profissão/Conselho Federal de Psicologia – v.1, n.1 (1981), Brasília, CFP, 1981.

SOUZA, R. K. de; COSTA, K. S. O aspecto sócio-afetivo no processo ensino-

aprendizagem na visão de Piaget, Vigotski e Wallon. UFPA, 2002.

VYGOTSKY, L. S. O desenvolvimento Psicológico na Infância. SP: Martins Fontes, 1998.

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BIBLIOGRAFIAS RECOMENDADAS

GOULART, I. B. PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: Fundamentos Teóricos e Aplicações à

Prática Pedagógica. Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 1999.

KLAUS, M. H.. Pais/bebê: a formação do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6 anos. Porto Alegre,

Artes Médicas, 1982.

RAPPAPPORT, C. et al. Teorias do desenvolvimento. São Paulo: EPU, 1981. 4v. V.2: A

infancia inicial: o bebê e sua mãe.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 3 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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ANEXOS

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ANEXO 1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do profissional.............................................................................................................

Idade..................................sexo.......................................naturalidade...................................

Formação.........................................................................Profissão........................................

Identidade............................................................

O profissional..........................................................................foi plenamente informado

sobre a pesquisa intitulada: Adaptação da criança na pré-escola e comportamento de

apego/desapego: a constituição do vínculo afetivo criança e educador na pré-escola, e

que será submetido a uma pesquisa na qual esta pesquisadora utilizará como instrumento de

pesquisa, uma ficha de anamnese que será entregue aos pais e uma ficha de entrevistas que

contém questões abertas e fechadas, que serão entregues aos pais e professores, a fim de

colher as seguintes informações: Quais são os comportamentos observados da criança no seu

processo de apego/desapego em relação aos seus pais; como se dá o processo de vinculação

afetiva da criança com seus pares e professores e quais são os fatores sociais, psicológicos e

pedagógicos que influenciam a constituição do vínculo afetivo entre crianças e professores na

pré-escola.

O profissional afirma ter sido esclarecido de que esta pesquisa não apresenta riscos

previsíveis às pessoas, respeitando assim, os princípios éticos da pesquisa junto a sujeitos

humanos.

No entanto, caso haja algum desconforto por parte do profissional ou pesquisadora, é

de total liberdade a opção pela desistência na participação desta pesquisa.

Pelo fato de que o único interesse é o científico, é garantido que toda e qualquer

informação que possa identificar os sujeitos desta pesquisa, sejam omitidos, garantindo assim,

o sigilo dos sujeitos.

A pesquisa fica isenta de qualquer remuneração financeira, sendo que a participação

na pesquisa é de caráter voluntário.

É de direito das partes, quando solicitado previamente, ter acesso ao andamento da

pesquisa, bem como aos seus resultados.

Florianópolis, .......de.......................de2005

....................................................... .......................................................

Assinatura do responsável Renata T. Tourinho

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ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Nome do responsável (Familiar)............................................................................................

Idade..................................sexo.......................................naturalidade...................................

Endereço..........................................................................Profissão........................................

Identidade............................................................

O responsável..........................................................................foi plenamente informado

sobre a pesquisa intitulada: Adaptação da criança na pré-escola e comportamento de

apego/desapego: a constituição do vínculo afetivo criança e educador na pré-escola, e

que seus filhos serão submetidos a uma pesquisa na qual esta pesquisadora fará uma

observação participante e utilizará como instrumento de pesquisa, uma ficha de anamnese que

será entregue aos pais e uma ficha de entrevistas que contém questões abertas e fechadas, que

serão entregues aos pais e professores, a fim de colher as seguintes informações: Quais são os

comportamentos observados da criança no seu processo de apego/desapego em relação aos

seus pais; como se dá o processo de vinculação afetiva da criança com seus pares e

professores e quais são os fatores sociais, psicológicos e pedagógicos que influenciam a

constituição do vínculo afetivo entre crianças e professores na pré-escola.

O responsável afirma ter sido esclarecido de que esta pesquisa não apresenta riscos

previsíveis às pessoas, respeitando assim, os princípios éticos da pesquisa junto a sujeitos

humanos.

No entanto, caso haja algum desconforto por parte do responsável ou da criança, é de

total liberdade a opção pela desistência na participação desta pesquisa.

Pelo fato de que o único interesse é o científico, é garantido que toda e qualquer

informação que possa identificar os sujeitos desta pesquisa, sejam omitidos, garantindo assim,

o sigilo dos sujeitos.

A pesquisa fica isenta de qualquer remuneração financeira, sendo que a participação

na pesquisa é de caráter voluntário.

É de direito das partes, quando solicitado previamente, ter acesso ao andamento da

pesquisa, bem como aos seus resultados.

Florianópolis, .......de.......................de2005

....................................................... .......................................................

Assinatura do responsável Renata T. Tourinho

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ANEXO 3 - CARTA DE APRESENTAÇÃO PARA A INSTITUIÇÃO ESCOLAR

Tendo como perspectiva desenvolver a pesquisa intitulada: Adaptação da criança na

pré-escola e comportamento de apego/desapego: a constituição do vínculo afetivo

criança e educador na pré-escola e apresentando os seguintes objetivos: Descrever os

comportamentos da criança no seu processo de apego/desapego em relação aos seus pais;

descrever o processo de vinculação afetiva da criança em relação aos professores

identificando nessa vinculação os fatores sociais, psicológicos e pedagógicos.

Eu, Renata Travancas Tourinho, acadêmica do curso de psicologia da Universidade do

Vale do Itajaí – UNIVALI, regulamente matriculada pelo nº 02.1.1990, e sob o consentimento

desta com relação ao caráter científico da pesquisa, tendo como orientação técnica e

profissional da professora Ilma Borges, mestre em Engenharia de Produção – Área de

Inteligência Artificial, venho por intermédio desta carta solicitar a apreciação do projeto de

pesquisa em anexo, tendo como finalidade o desenvolvimento do mesmo.

Sem mais para o momento e no aguardo do deferimento do pedido acima exposto,

agradeço a atenção.

Cordialmente,

.............................................

Renata Travancas Tourinho

Florianópolis, ........de.................de 2005

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ANEXO 4 – FICHA DE ANAMNESE

I - DADOS DA CRIANÇA

1) Idade: ............................Data de nascimento:..................................

2) Pessoa Responsável pela Criança:

( ) Pais ( ) Só Pai

( ) Só Mãe ( ) Outros

3) Os pais vivem juntos: ( ) Sim ( ) Não

4) Há quanto tempo estão separados? .................................

Quem possui a guarda da criança? .......................................

5) Residência:

( ) Casa ( ) Apto.

( ) Próprio ( ) Alugado

Nº de Cômodos: ........................... Nº de Banheiros: ...................................

6) Irmãos: Nº Masc.: ............... Nº Fem.: .........................

Idades: ...............,.....................,....................,..................,....................

7) Pessoas que residem a casa:

( ) Pai – Mãe e Filhos ( ) Mãe e filhos

( ) Pai e filhos ( ) Outros ..........................

( ) Mãe, filhos e companheiro ( ) Pai, filhos e companheira

Total de pessoas que residem na casa: ...............................................

8) Quem cuida da criança?

( ) Mãe ( ) Babá / Empregada

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( ) Mãe e Pai ( ) Tia

( ) Avós ( ) Outros

9) Rotina da criança:

( ) Vê TV ( ) Brinca sozinha

( ) Brinca com amigos ( ) Brinca dentro de casa

( ) Brinca no quintal

( ) Freqüenta outras aulas? Qual?

( ) Sim ( ) Não

Nº de vezes por semana: .......................

10) Coopera com atividades de casa? Quais?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11) Dorme em quarto sozinho(a)?

( ) Sim ( ) Não

Com quem?

( ) Irmão

( ) Irmã

( ) Pais

12) Horário que dorme: ..................Horário que acorda: .....................

13) Possui local específico para realizar suas atividades/brincadeiras/tarefas?

( ) Sim ( ) Não

14) Como reage quando contrariada?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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Qual o procedimento dos pais ou responsáveis?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

15) Com que vem ou volta para a escola?

( ) Mãe ( ) Tios

( ) Pai ( ) Irmãos

( ) Avós ( ) Veículo escolar

( ) Outros......................................

16) Já freqüentou outra escola?

( ) Sim ( ) Não

17) Expectativa da família em colocar a criança na pré-escola (numerar por ordem):

( ) brincar

( ) ter contato com outras crianças

( ) promover seu desenvolvimento global

( ) alfabetização

( ) preparar para a primeira série

18) Como você se sente ao deixar seu filho(a) aos cuidados da escola?

( ) segura ( ) Insegura

19) Por que escolheu a Creche São Francisco de Assis??

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

20) A criança tem orientação religiosa?

( ) Sim ( ) Não

21) Religião da família

( ) Católica

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( ) Evangélica

( ) Outra ...........................

22) Como a família discute sexualidade com a criança?

( ) Conversa abertamente

( ) Muda de assunto

( ) Acha que não é adequado tratar do assunto

II – CRIANÇA E SAÚDE

1) Gravidez planejada?

( ) Sim ( ) Não

2) Como foi a gravidez? Como se sentiu?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3) Houve alguma complicação durante a gravidez?

( ) Sim ( ) Não

4) Tipo de parto:

( ) Normal ( ) Cesária ( ) Fórceps

5) A criança já teve intervenção hospitalar?

( ) Sim ( ) Não

Motivo: .....................................................

Tempo: .....................................................

Idade: .......................................................

6) Desenvolvimento Psicomotor – Idade

Sentou: ................................................

Andou: ................................................

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Falou: ..................................................

Controlou Esfíncteres: ........................

7) Sono atual:

( ) Tranquilo, regular ( ) Tranquilo, irregular

( ) Agitado, regular ( ) Agitado, irregular

8) Humor atual:

( ) Alegre – satisfatório Sério – Insatisfeito

( ) Regular

9) Comportamento motor:

( ) Muito agitado ( ) Muito calmo

( ) Agitado

( ) Regular

10) A criança apresenta algum problema de saúde?

( ) Sim ( ) Não

Tipo: ......................................................................

11) Toma medicação frequente?

( ) Sim ( ) Não

12) É alérgico?

( ) Sim ( ) Não

( ) Isento ( ) Areia

( ) Poeira ( ) Animais

( ) Alimentos ( ) Outros ....................................

13) Deficiências ou dificuldades:

( ) Auditiva ( ) Visual

( ) Física

Qual? ...................................................................

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Outras observações:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Biguaçu, ........./............/............

Assinatura dos Pais ou Responsáveis: ___________________________

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ANEXO 5 – ENTREVISTA DE SEGUIMENTO

Entrevista de Seguimento – Pais

Sobre a adaptação de seu filho(a) ................................................................. à Pré-Escola:

1) Quanto tempo seu filho(a) levou para se adaptar à Pré-Escola?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2) Em relação ao tempo, você considerou este período:

( ) Imediato ( ) Curto ( ) Longo

3) Como você acha que ocorreu a adaptação de seu filho(a) à Pré-Escola?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4) Você acha que a adaptação de seu filho(a) à Pré-Escola foi:

( ) Fácil ( ) Difícil

5) Como você se sentiu durante este processo?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Entrevista se Seguimento – Professora

Sobre a adaptação do aluno(a) .......................................................................à Pré-Escola:

1) Quanto tempo a criança levou para se adaptar à Pré-Escola?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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2) Em relação ao tempo, você considerou este período:

( ) Imediato ( ) Curto ( ) Longo

3) Como você acha que ocorreu a adaptação da criança à Pré-Escola?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

4) Você acha que a adaptação da criança à Pré-Escola foi:

( ) Fácil ( ) Difícil

5) Como você se sentiu durante este processo?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

6) Como você percebeu o comportamento da mãe neste período?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7) O que você entende por vinculação afetiva?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

8) Qual a importância dessa vinculação afetiva para crianças que estão em fase de adaptação?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

9) Como trabalha a vinculação afetiva entre as crianças e você na qualidade de educador?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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ANEXO 6 - RELATO A PARTIR DA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE DA

PESQUISADORA NA CRECHE

Encontro I: Dia 20/10/2005 no horário das 14:00 às 17:00 hrs

Criança: J

Quando cheguei à sala, J, de três anos de idade, estava num canto da sala brincando

com uns bonecos junto com outras crianças. As professoras nesse momento estavam

acordando as outras crianças. Eu me sentei próxima de J e logo veio um dos que estavam

brincando com o J me mostrar seu brinquedo. J veio logo em seguida e ficou me trazendo

alguns brinquedos e conversando comigo. Em seguida a professora botou um colchão em

cima da mesa e J foi para debaixo do colchão com um de seus colegas. A professora os tirou

de lá sem falar nada. J subiu na mesa novamente e a professora o tirou dizendo que não era

mais para ele subir. J deu um tapa na professora e a mesma mandou ele parar. J começou a

jogar alguns brinquedos no chão. A professora ficou gritando para ele parar mas ele não

parou. A professora se virou, logo J pegou outro brinquedo, se sentou e voltou a brincar. J

vinha para perto de mim em alguns momentos e ficava ao meu lado brincando comigo. Na

hora do lanche a professora pediu para que todos fossem para o tapete para comer a banana. J

ficou um pouco ao meu lado mas quando eu fui para o tapete ele também foi e se sentou ao

meu lado. Após comer J ficava me abraçando e apertando minha bochecha. A professora de

longe viu e falou para eu não deixar porque ele sempre estava com a mão suja. Nisso pediu

para que ele cheirasse a mão para ver como estava fedida, ele cheirou e deu um sorriso, a

professora chamou ele para ir lavar a mão, ele foi. Quando voltou chegou perto de mim

mostrando como sua mão tinha ficado cheirosa, a professora de longe disse: agora ele tá com

a mão cheirosa, né J. Ele riu.

Na hora de ir ao pátio a professora pediu para que todos fizessem fila para poderem

descer. J ficou esperando perto da porta até a professora abrir a mesma. Quando abriu J

desceu junto com as crianças. Chegando no pátio ele logo pegou um brinquedo e começou a

brincar na areia junto com algumas outras crianças. Depois brincou um pouco no

escorregador e foi para dentro de uma casinha de madeira. Ficou lá até a hora de subir.

Quando a professora foi pedir que ele saísse, ele ficou dentro da casa então a professora

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entrou na mesma e o pegou no colo, ele tentou escapar e a professora disse: anda J, vamos

logo. J tentou se esticar para poder sair pela janela e a professora falou: até parece que você

vai sair por aí, pára quieto e vamos subir. A professora mandou ele ir para sala de vídeo e ele

foi. Chegando lá ele correu para uma casa de boneca e ficou lá dentro com outras crianças. A

professora tirou ele de lá e botou ele sentado. Ele de vez enquando se levantava e voltava para

a casinha. A professora novamente tirava ele, o botando no chão. Quando começou o vídeo

ele ficou assistindo quieto.

Acabando o vídeo a professora pediu que todos subissem para a sala de lanche. J subiu

correndo e sentou-se à mesa. Na hora de rezar, rezou junto com a professora. Comeu dois

pratos de comida. Quando a professora os liberou para a sala e foi um dos primeiros a ir,

chegou, ficou em pé esperando sua hora de escovar os dentes, escovou e voltou a brincar.

Ficou brincando de montar Lego. O que eu pedia para ele tentar montar ele ia e tentava.

Quando terminava vinha me trazer para me mostrar. Enquanto as crianças brincavam soltas,

as professoras estavam sentadas conversando. J ficou brincando depois com uns bonecos,

depois subiu na mesa, a professora pediu que ele saísse, mas ele não quis. Quando a

professora pegou ele no colo ele deu um tapa nela, ela segurou seu braço então ele pegou um

telefone de brinquedo e jogou no chão. A professora disse: que coisa feia, porque você é

assim agressivo J?, e saiu. Ele ficou brincando com seu colega e subiu na grade da janela. A

professora pediu para eles descerem, mas ele não desceu. A professora o pegou no colo e

botou no chão. Quando a professora se virou ele subiu novamente na grade. Ele e seu colega

ficaram pendurados na janela até o momento em que uma professora de outra turma apareceu

na sala. J fez um gesto para seu colega, mostrando que a outra professora estava ali. Eles

desceram rapidinho antes dessa outra professora ver que eles estavam na janela. J continuou

brincando com outros colegas de boneco então veio um menino para buscá-lo e foi embora.

Criança: V

Quando cheguei à sala V, de três anos de idade, ainda estava dormindo, a professora o

acordou e V ficou no canto da sala até a hora de descer para o pátio. Não brincou com

ninguém, ficou parado encostado na parede só olhando os outros. Quando desceu para o pátio,

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V começou a brincar com outras crianças de outra turma. Quando elas subiram V deu um

beijo na bochecha de uma menina e deu um abraço na professora da outra turma. Foi brincar

na areia com outras crianças. Ficou no mesmo lugar o intervalo todo. Quando a professora foi

chamar V para subir ele ficava dizendo não, a professora falava, vamos subir, tá na nossa

hora, eu sei que vocês preferem ficar aqui, eu também prefiro mas a gente tem que subir. Ele

dizia: a não tia. A professora voltou dizendo que eles iam para a sala de vídeo assistir um

filme, V disse: “eba”, e correu para a porta do pátio para ir para a sala. Chegando à sala V

ficou sentado perto da televisão, o vídeo não estava funcionando e ele foi tentar ajudar a

professora a arrumar. A professora disse: “pode deixar querido, eu vou chamar outra

professora que ela sabe arrumar, acho que o vídeo está com problema”. V voltou para seu

lugar e sentou. Quando a outra professora chegou, ele começou a gritar: começa, começa. A

professora fez uma dança e botou o filme. Durante o filme V ficava falando o nome de todos

os animais que apareciam. A professora dizia: “é isso mesmo!”. Acabando o vídeo V subiu

para a sala de lanche e ficou sentado esperando a comida. A professora começou a rezar e V

rezou junto. Na hora de dar a comida V foi o último a ser servido, pois ele não gosta de comer

nada (foi o que disse a professora para mim). A professora serviu farofa para V, mas ele não

comeu tudo. Acabando, V voltou para a sala. A professora pediu que todos fizessem fila para

escovar os dentes, mas V não ficou na fila. Depois que todos já haviam escovado os dentes, e

V ainda não, a professora o pegou dizendo: “logo você que é filho de dentista não quer

escovar os dentes”. V não falou nada e foi escovar. Depois V ficou brincando com mais três

meninos. Durante a brincadeira um dos meninos pegou o brinquedo de sua mão e ele falou

para a professora com voz de choro: “tia, ele pegou meu brinquedo”. A professora tirou o

brinquedo da mão da outra criança e devolveu para V. Depois V e outro colega começaram a

brigar, seu colega o empurrou então V deu um tapa no seu colega. Seu colega começou a

chorar e a professora brigou com a terceira criança que estava junto. O colega que V havia

batido retrucou o tapa. Então a professora brigou com o colega que bateu. V continuou

brincando e depois foi para perto de mim brincar com outras crianças. Um deles estava com

dois brinquedos e ele queria um dos brinquedos. Chegou perto de mim chorando: “tia, ele não

quer me dar o brinquedo”. Eu falei: “Pede com jeito para ele e vê se ele empresta. Se não

emprestar espera e depois você brinca”. V falou para seu colega: “por favor, deixa eu brincar

com esse brinquedo?”. Seu colega emprestou. Perto de mim tinha algumas crianças brincando

de Lego, V pediu para brincar também, eu disse que sim, então V pediu para eu montar

alguma coisa para ele. Eu disse que era para ele tentar montar qualquer coisa, que ele

conseguiria. Ele disse que não sabia fazer e não quis brincar. Foi para perto de outras crianças,

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uma delas queria um dos brinquedos que estava na sua mão e V veio para mim chorando que

seu colega queria pegar o brinquedo dele. Eu disse, “aquela hora você pediu o brinquedo e seu

colega emprestou, você não pode emprestar para ele?”. V parou de chorar e saiu, sem

emprestar o brinquedo. Depois que quase todas as crianças haviam ido embora chegou a moça

da Van, que o leva para casa. A professora falou: olha, a tia da Van chegou, me dá um beijo.

V a beijou, pegou sua mochila e foi embora.

Criança: C

Quando cheguei na sala a professora tentava acordar a C, de três anos de idade, e a

mesma não estava querendo levantar. C continuava no chão após a professora tirar seu

colchão, tentando dormir. A professora continuou levantando C mas ela não queria levantar.

A professora dizia: vamos C, levanta logo. C levantou meio que chorando e foi ao banheiro. A

professora foi junto com ela e logo voltou dizendo para outra professora: olha que linda, a C

fez xixi e se limpou sozinha com papel, temos que ensinar isso para as outras meninas. C

voltou do banheiro e começou a brincar com uns brinquedos junto com sua colega. Depois

começaram a correr e a subir na mesa. A professora pedia para ela descer e ela começava a

pular e dançar. A professora a puxava pelo braço dizendo: desce logo daí C. Ela não descia. A

professora dizia: ai C, você tem algum problema? Desce logo. C não descia. A professora a

pegou no colo e botou no chão, C chorou um pouco, mas logo subiu novamente. A professora

foi para outro lado e deixou C em cima da mesa. A professora voltou e pediu que ela

descesse. C começou a rir e a dançar. A professora continuou mandando C descer, mas ela

não obedeceu. A professora a pegou pelo braço e botou no chão. C continuou a brincar com

sua amiga pela sala. Num momento C estava sentada perto de mim, me olhando. Quando a

chamei ela se virou e não falou comigo. Quando chegou o lanche das crianças a professora

pediu que todos se sentassem no tapete para poderem comer. C permanecia ao lado da

professora a olhando cortar a banana. A professora dizia: quem não estiver sentado no tapete

não vai ganhar a banana. C continuou ao lado da professora e a mesma disse: C, se você

continuar aqui não vai ganhar a banana, vai se sentar lá no tapete. C não foi. A professora se

levantou e começou a dar banana para quem estava sentado, C correu e se sentou para comer.

Depois do lanche a professora pediu que todos fizessem fila para descerem para o pátio. C

ficava andando pela sala e subiu na mesa. A professora a pegou no braço e pediu para ficar na

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fila. Ela ficou. No pátio C ficou brincando de correr com sua colega, brincava um pouco de

areia com um grupo de crianças e voltava a correr com sua colega. Por algum tempo ficou

sozinha andando de um lado para outro. Depois voltou a brincar com sua colega.

A professora chegou perto de mim dizendo: como a C é inteligente né, ela sabe que

você está observando ela, por isso que hoje ela está assim bem obediente. Normalmente ela

não é assim não, ela bate em todo mundo, até por isso as crianças não gostam muito dela.

Na hora de sair do pátio a professora foi chamando as crianças, passou pela C, a

chamou mas C não foi. A professora continuou chamando as outras crianças e por último

pegou C. As crianças foram para uma sala assistir um vídeo. A professora mandou todos se

sentarem e a C junto com outras crianças foram brincar dentro de uma casa de madeira que

havia dentro da sala. A professora tirou as crianças de dentro dizendo: não é para vocês

entrarem aí, é para vocês se sentarem. C saiu puxada e rindo. Sentou-se perto de uns livros e

pegou um para ficar olhando. Outras crianças também estavam pegando os livros. A

professora chegou perto delas e disse: eu já falei que não é para vocês mexerem nesses livros,

C. Pegou os livros e os guardou. Começou o vídeo (que era do Gugu com algumas músicas

educativas) e a C começou a dançar, assistindo o vídeo. Quando acabou uma das músicas C se

encostou na professora para abraçá-la. A professora deu um abraço nela. A professora dizia:

isso C, olha lá que cachorro bonito. C riu e continuou dançando. Depois C pegou um livro e

se sentou num banquinho. Ela começou a contar uma história sozinha. A professora me

cutucou e pediu para eu ver a C. C estava sentada perto de uma menina e tentava abraçá-la. A

menina empurrava C e dizia para a professora: tia, a C está me batendo. A professora dizia: C,

não bata na amiguinha.

Acabando o vídeo, todos subiram para a sala. Na subida C se sentou no meio da

escada. Eu pedi para ela subir junto com todos senão iria ficar para trás, ela subiu correndo.

As crianças foram para o refeitório. C se sentou e quando a professora começou a rezar, C

juntou as mãos e rezou junto da professora. Quando as crianças estavam terminando o lanche,

a professora foi mandando voltar para a sala. C ficou sozinha no refeitório com outra

professora, que disse: chega C, você já comeu bastante e agora só está enrolando com a

comida, vai para a sala. Ela foi. Na sala a professora mandou todos ficarem em fila para

escovar os dentes. C ficou andando pela sala e na sua hora de escovar os dentes, foi. C

continuou brincando com sua colega. Quando sua mãe chegou, ela começou a chorar. A

professora a pegou no colo a entregando para sua mãe. A professora disse: Aí, já tá chorando,

ela é muito sensível...tchau querida, até amanhã. C saiu chorando.

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Encontro II: Dia 21/10/2005 no horário das 09:00 às 12:00 h

Criança: J

Quando cheguei J estava brincando com uns colegas de correr e de subir na mesa. Eu

me sentei no canto e logo ele veio para perto de mim e ficou me apertando e me abraçando.

Eu dizia para ele: tu é muito fofo! Ele dizia: não, tu que é fofa...e ficou assim por um tempo.

Depois a professora começou a brincar de bola com algumas crianças, então J foi brincar

junto. Cada vez que a bola chegava nele, ele ficava todo sorridente e jogava para outra

criança. A professora dizia: isso J, agora joga para outra pessoa, J jogava. Acabando a

brincadeira eles foram brincar de galinha choca. J ficou sentado na roda e só se levantou

quando foi sua vez de correr atrás de outra criança. Depois se sentou e ficou até acabar a

brincadeira. Depois a professora levou as crianças para sala de vídeo assistir uma peça de

teatro. J ficou andando pela sala, ficou brincando com um cavalo de madeira enquanto a peça

acontecia. A professora o chamava para sentar, mas ele continuava brincando. A professora

não o chamou mais. Quando voltaram do teatro J ficou chorando pois queria seu bico que a

professora havia tirado dele. A professora não devolveu, dizia: eu vou te devolver depois

querido, daqui a pouco vocês vão almoçar daí eu te devolvo. Ele continuou chorando. A

professora arrumou as mesas para todos desenharem, mas J não quis sentar, ficou brincando

com um boneco. A professora o levou na mesa e falava: “vamos querido, vamos fazer um

desenho bem lindo de um peixe, vamos guardar esse boneco para desenhar”, e tirou o boneco

dele. Ele chorou muito então ela devolveu e pediu para deixar em seu colo, ele continuava

chorando. A professora continuou distribuindo os papéis e J continuava chorando. Eu cheguei

perto, peguei o boneco e disse: vamos guardar ele aqui dentro do seu bolso, olha que legal, ele

fica lá no fundo bem escondido, põe a mão para ver...ele riu e começou a desenhar. Quando

acabou me mostrou o desenho mas depois pegou e amassou. A professora chegou perto e

disse: porque você amassou o seu desenho, deixa eu ver, olhou e disse: olha, o seu desenho

está tão lindo, que pena que você amassou, você desenhou muito bem.

Depois ele voltou para brincar com os colegas e eu fui sentar perto da mesa. Ele foi na

mochila e pegou um peão que havia trazido de casa (aqueles que vem no salgadinho). Veio

para perto de mim e ficou me mostrando que conseguia brincar com aquilo. Logo vieram mais

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duas crianças querendo brincar com aquilo então perguntei se ele revezava para cada um girar

uma vez, ele deixou. Ele esperava sua vez brincando com um outro brinquedo. Depois saiu e

deixou seu o peão com outro menino. Daqui a pouco ele veio para perto de mim chorando,

com um pedaço de seu brinquedo quebrado, ficava dizendo: meu brinquedo, ele quebrou o

brinquedo que meu pai me deu, mas o meu pai vai comprar outro salgadinho para me dar o

brinquedo. Continuava chorando e se deitou no meu colo. Nisso as professoras estavam do

outro lado da sala com outras crianças. J ficou perto de mim olhando as outras crianças

brincarem. Ele se levantou, abaixou as calças e ficou brincando com seu pênis. A professora

viu de longe e gritou: “J, tira a mão daí, que coisa feia... ai que nojo!”. J levantou a calça e

continuou mexendo. A professora novamente falou para ele tirar a mão dali, que era feio fazer

aquilo. J sentou numa cadeira brincou ainda um pouco com seu pênis e parou.

Em seguida as crianças foram almoçar, J começou a chorar procurando seu bico e a

professora dizia: nós estamos indo agora almoçar, quando a gente voltar você escova os

dentes e depois te dou o bico ta bom querido. Ele continuou chorando baixinho. Foi para o

refeitório, almoçou quieto e voltou para a sala. Escovou os dentes e logo pediu o bico. A

professora deu, ele se deitou e ficou quietinho preparado para dormir.

Criança: V

Eu cheguei na sala e V estava brincando com seus colegas de boneco. V chegou perto

de mim e deu oi. Continuou brincando com seus colegas. Quando a professora começou a

brincar de bola com as outras crianças, V sentou na roda para brincar, e ficava dizendo: eu,

eu, joga para mim. A professora primeiro mandou jogarem para V, mas depois V ficou

pedindo sempre e a professora disse: agora você tem que esperar sua vez. V ficou esperando,

mas de vez enquanto pedia para jogarem a bola para ele, só jogavam quando chegava sua vez.

Depois foram brincar de galinha choca e V foi o primeiro a querer pôr o ovo, e foi. Depois

ficou sentado esperando sua vez. Acabando a brincadeira, a professora os levou para outra

sala para assistir o teatro. V desceu, ficou bem perto da professora que apresentava o teatro.

Tudo que essa professora perguntava ele respondia: Quem sabe que animais moram na água?

Ele disse: peixe, estrela do mar...

Continuou participativo no teatro. Quando voltaram para a sala, a professora disse que eles

iam desenhar e ele foi ajudar a professora a arrumar as cadeiras. Quando começou a desenhar

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pediu para a professora desenhar por ele, pois ele não sabia desenhar. A professora dizia: não,

você que tem que desenhar, se eu desenhar o desenho não será mais seu, será meu, eu quero

que você desenhe, desenha como você sabe. V tentou convencer mais um pouco para ela

desenhar, mas ela disse que não. V começou a desenhar. No final ele mostrou o desenho para

a professora e ela disse: “viu como você sabe desenhar, seu desenho está lindo, e você ainda

tava querendo que eu desenhasse, você desenhou muito bem”. V sorriu e foi brincar. Eu

estava brincando com uma criança com seu peão e V chegou pedindo para brincar. Eu disse,

você pode brincar mas um de cada vez. Ele esperou e tentou brincar, não conseguiu e pediu

para eu ajudar. Tentei ensinar e V conseguiu um pouco. Falei que tava na vez do outro e ele

disse não, eu disse que era um de cada vez e ele devolveu, esperando sua vez. A professora

pedia que fizessem fila para irem almoçar. Ele foi, no refeitório sentou, rezou com a

professora e recebeu seu prato de comida (que tinha apenas arroz). V não quis comer, a

professora pediu que ele desse uma garfada. Ele deu mas não comeu mais. Ele dizia: come

querido, você não comeu nada. V não quis. Foi um dos primeiros a voltar para a sala, foi para

o banheiro com seu colegas escovar os dentes. A professora quando estava dando as

respectivas escovas chamava os nomes e dizia: ai que pena, esse não veio. V dizia: veio sim,

tá aqui, tá aqui. Ela dizia: que sustou, não tinha te enxergado. Na sua vez ela disse que ele não

estava lá e ele ficou pulando e gritando: to aqui, to aqui. Ela disse, nossa quase que não te

vi...V escovou os dentes e deitou na cama para dormir.

Criança: C

Quando cheguei C estava sentada segurando seu casaco e sua mochila, chupando bico.

Depois se levantou e começou a rodar, brincando com a mochila. Uma outra criança estava

perto e foi pegar a própria mochila e a professora disse: Ai não, você não vai pegar também a

mochila. A C tudo bem porque ela é chorona e vai fazer escândalo, mas você não, ponha a

mochila no lugar. C continuou brincando com sua mochila. A professora começou a brincar

de bola com outras crianças e C ficou ao lado observando. Depois que todas as crianças

estavam brincando C entrou na roda e começou a brincar. A professora disse: isso C, entra aí

na roda. Quando acabou a brincadeira a professora pediu que cada um dissesse o próprio

nome para mim. Na vez da C ela não falou nada. A professora dizia: fala seu nome para a

Renata, ela quer te conhecer. C se virou e não falou nada. Depois a professora chamou todos

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para brincar de galinha choca. C correu, guardou sua mochila e seu casaco e foi brincar

também. Ficou sentada esperando sua vez de correr atrás de outra criança mas depois que

chegou sua vez, não ficou mais parada, se levantava a todo instante. A professora dizia: C, eu

já ensinei a regra dessa brincadeira, você têm que respeitar a regra se quiser brincar. C

sentava, mas logo se levantava novamente. A professora disse: se você quiser ficar correndo

vai ter que brincar lá do outro lado. C continuou sentando e levantando. Depois a professora

levou as crianças para ir à sala de vídeo assistir um teatro. C desceu junto com todos, em fila.

Na sala de vídeo C ficava em pé e a professora mandava ela se sentar. Ela não obedecia.

Passou quase todo teatro brincando com sua colega e a professora de vez em quando a

mandava ficar em silêncio. Uma outra professora a pegou e botou sentada perto dela. Ela não

queria ficar e começou a chorar dizendo que queria sentar em outro lugar. A professora dizia:

não senta aqui e assiste o teatro. Depois ela se levantou e uma outra professora ficou perto

dela abraçando-a. C parou e ficou assistindo o teatro. No fim da peça, começaram a cantar

umas músicas, então C começou a dançar e pular. Quando as crianças subiram para a sala a

professora pediu que cada um desenhasse um peixe. C desenhou e depois mostrou para a

professora, que disse: que desenho lindo C, isso é um peixe né?. C sorriu e disse que sim. A

professora disse: muito lindo esse seu peixe. C ficou brincando um pouco com sua colega,

subiu na mesa e ficou um tempo parada se olhando no espelho. A professora chegou perto e a

tirou de cima da mesa. C chorou um pouco e foi brincar com sua colega de correr. Na hora de

ir almoçar a professora começou a botar os colchões no chão e pediu que todos fizessem fila.

C subiu nos colchões para arrumar um travesseiro em cada cama. A professora pediu para ela

sair de cima do colchão, mas ela não obedeceu. A professora disse: eu não quero que vocês

subam nos colchões com o tênis, saiam daí. Todos saíram menos C. A professora a pegou

pelo braço e C começou a chorar. A professora não a largou e falava: não está machucando C,

eu estou te segurando e não apertando seu braço, você não me obedece então tenho que te

segurar. C continuou chorando até a professora soltar. Todos foram para o refeitório. C se

sentou numa mesa sozinha mas depois chegaram outras crianças. C rezou junto com a

professora e comeu quieta. Na saída a professora liberou algumas crianças para a sala e

quando C foi sair disse: você não C, primeiro vão os mais calminhos, você vai depois. C ficou

esperando. Voltou para a sala, pegou com a professora sua escova de dente, escovou e se

deitou na cama.

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ANEXO 7 - RELATO DAS ENTREVISTAS DOS PAIS

Entrevista realizada com o pai de J, o Sr J.F, no dia 19/10/2005.

Segundo o pai de J, a adaptação de seu filho durou aproximadamente duas semanas.

Para ele esse período foi curto e tranqüilo, ocorreu de forma fácil. Em relação ao seu

sentimento durante o processo de adaptação de J, ele se sentiu mal, achou ruim ter que ficar

longe de seu filho.

J é um menino de 3 anos, nascido no dia nove de agosto de dois mil e dois. Os

responsáveis pela criança são os pais, que vivem juntos numa casa própria com dois quartos e

um banheiro. J tem uma irmã de cinco anos. Mora em sua casa com seu pai, sua mãe, sua irmã

e sua tia por parte da mãe, residem na casa então cinco pessoas. Quem cuida de J é sua mãe e

seu pai, J costuma brincar dentro de casa e não pratica nenhuma outra atividade (aula), além

da creche. Segundo J.F, seu filho costuma ajudar sua mãe nas tarefas de casa, pegando as

coisas que ela pede. J dorme com seus pais no horário das 21:30 horas e acorda as 06:30

horas. J não possui um lugar específico para realizar suas tarefas ou brincadeiras.

Quando foi perguntado à J.F de como seu filho reagia quando era contrariado, ele

respondeu que geralmente ele chora e fica nervoso. Em relação ao procedimento dos pais com

essa reação, disse que eles tentam castigá-lo ou tirar algo que J goste muito.

J vai para a creche com sua mãe e volta com seu pai. Nunca freqüentou outra creche.

A expectativa dos pais ao colocá-lo na creche é em primeiro lugar prepará-lo para a primeira

série, em seguida promover a alfabetização, brincar, ter contato com outras crianças e por

último para promover o desenvolvimento global da criança. O pai de J disse se sentir inseguro

ao deixar seu filho aos cuidados da creche e escolheu colocá-lo na creche por ser próxima de

sua casa.

A criança tem orientação religiosa, que é a religião católica. A família não discute

temas relacionados à sexualidade com a criança, pois acham não ser adequado tratar do

assunto com J.

A gravidez de J foi planejada e correu tranquilamente. A mãe de J se sentiu muito bem

durante a gravidez. Não houve nenhuma complicação durante a gravidez e o parto foi cesárea.

J nunca precisou de intervenção hospitalar. J.F disse não lembrar com que idade seu filho

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sentou mas disse que J andou com dez meses e falou com um ano. O controle dos esfíncteres

ocorreu para J com aproximadamente dois anos.

J possui um sono tranqüilo e regular, seu humor é alegre e satisfatório e seu

comportamento motor é regular. A criança nunca apresentou problema de saúde, não toma

medicação, não é alérgico e não possui nenhuma deficiência nem dificuldade física.

Entrevista realizada com a mãe de V, a Sra V.P, no dia 19/10/2005

Segundo a mãe de V, a adaptação de seu filho durou de seis meses a um ano. Para ela

esse período foi longo, ocorreu de forma demorada. Ela achou a adaptação de seu filho difícil

e se sentiu angustiada e preocupada.

V é um menino de três anos e seis meses, nascido no dia primeiro de março de dois

mil e dois. A pessoa responsável por V é apenas sua mãe. Os pais não vivem juntos, são

separados há dois anos e meio e quem possui a guarda da criança é a mãe. Mora numa

residência própria, com cinco cômodos e um banheiro. V tem um irmão de dois anos, mora

em sua casa com a mãe, seu irmão, seus avós e uma tia. Moram na casa seis pessoas. Segundo

a mãe, quem cuida de V são outros. A rotina dele é ver televisão e brincar dentro de casa. Não

freqüenta outra aula.

Sobre cooperar com as atividades de casa, sua mãe disse que ajuda com algumas

atividades quando é solicitado, mas que freqüentemente ele se recusa a fazer. V dorme num

quarto com sua mãe e seu irmão no horário das 20:00 h e acorda às 06:50 h. Para realizar suas

tarefas e brincadeiras ele possui um lugar específico.

Quando foi perguntado como V reagia quando contrariado, sua mãe disse que ele fica

revoltado, chora, bate os pés e se joga no chão. Sobre o procedimento dos pais com essa

reação, V.P disse que tenta convencê-lo, conversar e negociar.

V vai para a creche com seus avós e volta de transporte escolar. Já freqüentou outra

escola e a expectativa da família em colocar na creche é de promover seu desenvolvimento

global, alfabetização, preparar para a primeira série, ter contato com outras crianças e por

último brincar. V.P se sente segura ao deixar seu filho na creche e escolheu a creche São

Francisco de Assis por ter ótimas referências.

V possui orientação religiosa, que é a católica, religião seguida pela família. Sobre

sexualidade, a família conversa abertamente com a criança.

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Em relação á gravidez, não foi planejada, foi uma gravidez saudável embora não

houvesse nenhum planejamento anterior para tê-lo. Não houve complicações durante a

gravidez e foi parto cesárea. V nunca sofreu intervenção hospitalar. Começou a sentar com

seis meses, andou com oito e falou com um ano. Seu sono é agitado e irregular, seu humor é

regular e comportamento motor agitado. V não apresenta problema de saúde, não toma

medicação frequentemente, é alérgico a inseto e poeira. Não possui nenhuma deficiência ou

dificuldade física.

Entrevista realizada com a mãe de C, a Sra M, no dia 19/10/2005

Segundo a mãe de C, sua filha demorou três dias para se adaptar na creche. Em relação

a esse tempo considerou um período imediato, achou que a adaptação foi boa e rápida. M

disse que no primeiro dia C chorou um pouco, mas no terceiro dia já não chorava mais. M

achou que a adaptação de sua filha foi fácil, mas que durante esse processo ela (M) se sentiu

assustada, que no primeiro dia que sua filha estava na creche ela ligou para lá umas três vezes,

sentiu muito medo.

C é uma menina de três anos que nasceu no dia vinte e nove de setembro de dois mil e

dois. As pessoas responsáveis por C são sua mãe e seu pai que vivem juntos numa casa

própria de dois quartos e um banheiro. C tem um irmão de seis anos, mora então com seus

pais e seu irmão, residem na casa quatro pessoas. Quem cuida de C são seus pais. C assiste

bastante televisão e costuma brincar sozinha dentro de casa. Não freqüenta nenhuma outra

aula além da creche. C costuma cooperar com as atividades de casa ajudando sua mãe a varrer

a sujeira. M diz que sua filha sempre quer secar a louça, lavar a roupa e que quando C está

comendo alguma coisa e deixa cair no chão ela pega uma vassoura e varre sua sujeira. C

dorme com seus pais no horário das 22:00 h e acorda as 06:00 h. Possui um lugar específico

para brincar ou realizar suas tarefas.

Quando foi perguntado como C reagia quando era contrariada, M disse que ela

geralmente fica assustada quando brigam com ela. Em relação ao procedimento dos pais com

essa reação, M disse que às vezes tentam agradar e, às vezes, conversam com ela.

A criança vai e volta da escola com sua mãe e seu pai, depende do dia um deles vai. C

nunca freqüentou outra escola e a expectativa da família em botá-la na creche é de prepará-la

para a primeira série, ter contato com outras crianças, brincar, alfabetização e por último

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promover o desenvolvimento global de C. M se sente segura ao deixar sua filha na creche e

escolheu a Creche São Francisco de Assis porque uma amiga dela indicou o local, dizendo ser

muito bom. A criança segue a religião católica, que é a religião da família. Os pais de C não

costumam falar de sexualidade com sua filha.

A gravidez de C não foi planejada mas foi uma gravidez bem calma, M se sentiu bem.

Não houve nenhuma complicação durante a gravidez e o parto foi normal. C nunca sofreu

internação hospitalar. Segundo M, sua filha sentou com seis meses, andou com dez meses e

falou com nove meses. Controlou os esfíncteres aos dois anos.

O sono de C é tranqüilo e irregular, seu humor regular e comportamento motor muito

calmo. C não apresenta problema de saúde, não toma medicação, é alérgica a inseto e não

apresenta nenhuma deficiência ou dificuldade física.

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ANEXO 8 - RELATO DAS ENTREVISTAS DAS PROFESSORAS

Professora A: Criança J, C e V

As respostas da professora A foram iguais para as três crianças. Segundo a professora,

como as três crianças já frequentavam a creche no ano anterior, o processo de adaptação das

mesmas ocorreu de forma semelhante. Portanto as respostas seriam iguais.

Em relação a adaptação de J, C e V, a professora A afirma que, como as crianças já

freqüentavam a creche no ano anterior, a entidade compreende que não é necessário a

adaptação. Em relação ao período de adaptação, a professora o considerou curto. Para A, em

relação de como ocorreu a adaptação de J, C e V na creche, acredita ter sido atropelado, sem

tempo para se conhecerem, não houve tempo de planejamento. Achou uma adaptação difícil.

Durante o processo de adaptação das crianças, A se sentiu angustiada. Acredita que

esse processo de adaptação é de suma importância para o fortalecimento de vínculos afetivos,

segurança, etc.

Em relação ao comportamento das mães de J, C e V, A percebeu que ficavam seguras

quando deixavam seus filhos na instituição. Mas observou que estavam sempre sem tempo

para conhecerem os profissionais que atuam durante todo ano.

Por vinculação afetiva A entende que é um meio pela qual as pessoas se conhecem e

que por meio desse processo passam a se respeitar, sentir-se segura, é um carinho mútuo.

Vínculo afetivo é confiança, amizade, respeito, companheirismo, é afeto.

Para A, a vinculação afetiva para crianças que estão em adaptação é de suma

importância. Acha ser difícil para uma criança ficar com alguém que não conhece. É preciso

conhecer o outro, haver vínculo afetivo, confiança.

A professora A trabalha vinculação afetiva entre as crianças a partir de perspectivas

fundamentadas em alguns livros, como brincadeiras, múltiplas linguagens, as interações e

socializações, e acima de tudo, muito respeito pelas especificidades de cada um, e muito

afeto.

Page 76: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI - siaibib01.univali.brsiaibib01.univali.br/pdf/Renata Travancas Tourinho.pdf · TOURINHO, R.T, Adaptação da criança na pré-escola e comportamento

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Professora B: Criança J, C e V

As respostas da professora B foram iguais para as três crianças. Segundo a professora,

como as três crianças já frequentavam a creche no ano anterior, o processo de adaptação das

mesmas ocorreu de forma semelhante. Portanto as respostas seriam iguais.

Em relação a adaptação de J, C e V, B afirmou que levou uma semana, para ela, esse

tempo foi curto e tranqüilo. B achou a adaptação das crianças fácil e se sentiu satisfeita

durante o esse processo.

B afirmou que as mães de J, C e V foram bastante cuidadosas durante o período de

adaptação das mesmas.

Para B vinculação afetiva é a relação de afeto estabelecida por ambos os envolvidos. A

importância da vinculação afetiva durante o processo de adaptação é de passar segurança e

confiança às crianças. B trabalha a vinculação afetiva através de brincadeiras, na

representação de vários papéis e no diálogo entre o grupo.