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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ FERNANDO PROTTI BUENO AS RELAÇÕES ENTRE ECOTURISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA Balneário Camboriú 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

FERNANDO PROTTI BUENO

AS RELAÇÕES ENTRE ECOTURISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA

Balneário Camboriú

2006

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FERNANDO PROTTI BUENO

AS RELAÇÕES ENTRE ECOTURISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PÓLO DE

ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre, no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Balneário Camboriú. Orientador: Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires

Balneário Camboriú

2006

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FERNANDO PROTTI BUENO

AS RELAÇÕES ENTRE ECOTURISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PÓLO DE

ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre, no

Programa de Mestrado Acadêmico, do Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e

Hotelaria na Linha de Pesquisa Planejamento e Gestão dos Espaços para o Turismo, da

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Balneário Camboriú, a seguinte banca

examinadora:

Área de Concentração: Ciências Sociais Aplicadas

Sub-área: Turismo

Balneário Camboriú, 22 de novembro de 2006

Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires

UNIVALI – CE de Balneário Camboriú

Orientador

Prof. Dr. Marcus Polette

UNIVALI – CE de Balneário Camboriú

Membro

Profª. Dra. Célia Maria Toledo Serrano

UNIBERO – Centro Universitário Ibero-Americano

Membro

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Dedico esse trabalho àqueles que são o equilíbrio entre a razão e a emoção da minha vida, dos quais honro-me e orgulho-me de compartilhar os momentos dessa vida. À meus pais, José Roberto e Rebeca; às minhas avós, Ruth e Yolanda (in memorian); e, carinhosamente, à Maria Helena.

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Agradeço, primeiramente, a uma força divina por me iluminar e me proteger, além de me impulsionar e de me fazer crer, cada dia mais, que as limitações do potencial humano estão relacionadas às novas formas de aprendizado e a novas possibilidades de amadurecimento

pessoal.

Agradeço, em especial, aos meus admiráveis pais, José Roberto e Rebeca, acima de tudo pelos constantes ensinamentos, pelo companheirismo e amor. Saibam que essa é apenas mais

uma etapa de um ciclo e, que nesse processo, vocês foram e sempre serão essenciais. Eu me orgulho e amo vocês!

Agradeço também aos familiares Raquel e José Eduardo, Raul e Márcia, e Tio Antônio, pelo constante apoio e entusiasmo.

Agradeço também à minha sogra Maria, por ter me acolhido com carinho e aos demais membros dessa minha segunda família, que me enchem de alegria, Camila, Juliana, Marília e

o ‘pequeno’ Gustavo.

Agradeço também aos Tios José Luis e Nicácio, às suas companheiras Candice e Marjorie, e às avós Maria Ofélia e Waldomira, pelo constante apoio e entusiasmo.

Em especial, agradeço à minha fiel e amada companheira, Maria Helena, pelo amor e constante carinho, pela paciência, pelos momentos de reflexão e de diversão e também, por

compartilhar os momentos de alegria e de tristeza da minha vida.

Agradeço também aos velhos e bons amigos (as) que a vida me proporcionou, Bruno e Camila, Carlos, Carol e Adriano, Daniel, Diogo, Fernando (Little), Gabriela, Helena,

Janderli, Marcatto, Maria Tereza, Mariana, Oswaldo, Rejane, Ricardo... pelos momentos de descontração e pela amizade.

Agradeço também aos amigos e professores da graduação, Ana Paula, Célia, Claudinha, Garcez e Reinaldo, e do mestrado Emil, Everton, Francisco, Guerra (Educação), Josildete,

Polette, Raquel, Roselys (in memoriam), Trigo e Yolanda, pelos momentos de reflexão e entusiasmo.

Agradeço, em especial, ao professor, orientador e amigo, Paulo dos Santos Pires, por compartilhar reflexões e preocupações nesse glorioso e angustiante caminho e também, por

saber ser e saber conviver, por respeitar e (por) incentivar o desenvolvimento pessoal, intelectual e profissional.

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“O sujeito pensante não pode pensar sozinho;

não pode pensar sem a co-participação de outros sujeitos

no ato de pensar sobre o objeto. Não há um ‘penso’,

mas um ‘pensamos’. É o ‘pensamos’ que estabelece o ‘penso’

e não o contrário. Esta co-participação dos sujeitos

no ato de pensar se dá na comunicação. O objeto, por isso mesmo,

não é a incidência terminativa do pensamento de um sujeito,

mas o mediador da comunicação”

Paulo Freire

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RESUMO

A presente pesquisa teve por objetivo analisar as possíveis relações existentes entre o ecoturismo e a educação ambiental, no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC), localizado na Ilha de Santa Catarina, porção territorial em que se situa Florianópolis, cidade integrante do Estado de Santa Catarina e, consequentemente, da Região Sul do Brasil. Essa análise delimitou as possíveis inter-relações entre as áreas supracitadas, com o intuito de vislumbrar as possibilidades de conservação da natureza, bem como, de identificar as formas e os locais em que, tanto o ecoturismo quanto à educação ambiental, ocorrem no pólo. Por tratar-se de uma pesquisa interdisciplinar, composta de duas etapas, uma teórica e outra empírica, adotou-se como procedimentos metodológicos o método qualitativo e a utilização das técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e de entrevista estruturada, com roteiro de perguntas abertas, aplicado aos agentes e operadores de turismo na natureza do PEISC e aos gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do PEISC. Os dados obtidos por meio dessas duas etapas de pesquisa foram analisados por meio das técnicas de análise documental e de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Evidencia-se como resultados finais da pesquisa, primeiramente, a existência de uma relação histórica entre ecoturismo e educação ambiental, principalmente, em função de serem fruto do movimento ambientalista, assim como, de disporem de características e princípios relacionados à conservação da natureza. Posteriormente, evidencia-se o fato do ecoturismo ser um meio de desenvolvimento da educação não-formal, bem como, da educação ambiental ser uma ferramenta ao planejamento e ao desenvolvimento de atividades denominadas de ecoturismo. Além disso, identificou-se a existência de distintas modalidades de educação ambiental (aprendizado seqüencial, interpretação ambiental, educação experiencial e educação no processo de gestão ambiental) e de um escopo teórico-metodológico aplicado a cada uma destas, as quais são passíveis de serem aplicadas ao ecoturismo, com o intuito de formação e transformação dos valores e das atitudes ambientais dos indivíduos envolvidos nas atividades de ecoturismo. Por fim, como resultados provenientes dos DSC, pode-se mencionar que, entre os atores sociais direta e indiretamente envolvidos nos processos de planejamento e desenvolvimento do ecoturismo no PEISC, há um distanciamento entre as áreas de ecoturismo e educação ambiental. Palavras-chave: ecoturismo; educação ambiental; conservação da natureza; Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina.

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ABSTRACT

The research presented here aimed at analysing the possible existent relations between ecoturism and environment education in the Ecoturism Center of Santa Catarina Island (PEISC), which is located in the Island of Santa Catarina - the territorial land where Florianópolis is located. Florianópolis is a city which integrates the State of Santa Catarina, and, consequently, a city which integrates the South Region of Brasil. This analyses set the boundaries between the possible interrelations of the this areas mentioned above with the intention to glimpse at the possibilities to conserve the nature, as well as to identify the ways and the places where the ecoturism as the enviroment education ocurred in this Center. Once it is an intersubject research, it is composed of two phases: one theoretical and the other empirical. The methodological procedure adopted was the qualitative method and the use of bibliographic research technic documental, and structured interviews holding a script of open questions ran with tourism operators in the field of PEISC and also with administrators or managers of the ecoturism destinations of PEISC. The data obtained by the means of these two phases of the reasearch were analysed by the documental analyses technic and by the analyses of the Discourse of the Colective Subject (DSC). As final results of the research we evidenciate: Firstly, the existence of a historical relationship between ecoturism and enviroment education, mainly due to the fact of theses two issues being a result of the environmental movement, as well as of holding characteristics and principles related to the conservation of nature. Secondly, we evidenciate the fact of ecoturism being a way of development of non-formal education; as well as being a tool to plan and develop activities named under ecoturism. Besides that, we identified the existence of distinct modalities of environment education - sequencial learning, environment interpretation, experiencial education and education within the environment management process - and of a range of method-theoretical frames applied to each of these instances mentioned before, which can be applied to ecoturism aiming at forming and transforming the values and attitudes toward the environment of the individuals involved in the ecoturism activities. Finally, based on the results from the Discourse of the Colective Subject (DSC) data, we can mention that among the main social roles, direct or inderectly involved in the process of planning and development of ecoturism at PEISC, there is a gap between the areas of ecoturism and environment education. Key words: ecotourism; environmental education; conservation of nature; Ecoturism Center of Santa Catarina Island.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Análise sistêmica do contexto socioambiental ............................................. 28

Figura 2 – Modelo de desenvolvimento econômico ...................................................... 29

Figura 3 – Critérios para sustentabilidade .............. ...................................................... 31

Figura 4 – Tipos de paisagem ........................................................................................ 35

Figura 5 – O ecoturismo como segmento de mercado turístico .................................... 39

Figura 6 – O mercado alternativo do turismo ................................................................ 40

Figura 7 – Espectro da atividade turística ...................................................................... 41

Figura 8 – A velha-nova concepção – mercado mutante ............................................... 42

Figura 9 – Identificando as diferentes necessidades e interesses .................................. 50

Figura 10 – Quatro passos no processo de planejamento do ecoturismo ...................... 51

Figura 11 – Categorias de objetivos da educação ambiental ......................................... 65

Figura 12 – A dimensão ambiental na educação ........................................................... 66

Figura 13 – Pretensão da educação ambiental ............................................................... 69

Figura 14 – Planejamento em educação ambiental ........................................................ 70

Figura 15 – Estrutura da educação experiencial ............................................................ 78

Figura 17 – Mata Atlântica no Brasil ............................................................................ 87

Figura 18 – Fluxograma da pesquisa ............................................................................. 96

Figura 19 – O processo de educação ambiental aplicado ao ecoturismo ...................... 109

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Localização do Estado de Santa Catarina e dos Pólos de Ecoturismo do

Estado de Santa Catarina ...............................................................................................

83

Mapa 2 – Unidades de Conservação no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina 84

Mapa 3 – Cidade de Florianópolis e sua vegetação original . ....................................... 88

Mapa 4 – Cidade de Florianópolis e sua vegetação atual .............................................. 88

Mapa 5 – Mapa fitogeográfico ...................................................................................... 89

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Possibilidades de impactos positivos e negativos do ecoturismo em áreas

naturais ...........................................................................................................................

45

Quadro 2 – Possibilidades de impactos positivos e negativos do ecoturismo em

unidades de conservação ................................................................................................

46

Quadro 3 – A tipologia das concepções sobre o meio ambiente na educação

ambiental ........................................................................................................................

60

Quadro 4 – Os benefícios educativos da interpretação ambiental ................................. 75

Quadro 5 – Os benefícios da interpretação ambiental para a administração da área de

conservação e proteção ..................................................................................................

76

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SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................................... vii

ABSTRACT .................................................................................................................. viii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. ix

LISTA DE MAPAS ...................................................................................................... x

LISTA DE QUADROS ................................................................................................ xi

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14

2 AS RAÍZES AMBIENTAIS DO ECOTURISMO ................................................. 20

2.1 Ambientalismo: um dos precursores históricos do ecoturismo ...................... 20

2.2 Sustentabilidade: o pilar de desenvolvimento do ecoturismo ........................ 27

2.3 O espaço natural enquanto cenário para o ecoturismo ................................... 32

2.4 Concepções sobre ecoturismo ........................................................................ 36

3 AS BASES CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................ 54

3.1 Concepções sobre educação ........................................................................... 54

3.2 Evolução da educação ambiental ................................................................... 56

3.3 Concepções sobre educação ambiental .......................................................... 60

3.4 Modalidades de educação ambiental não formal ao ar livre .......................... 71

3.4.1 Aprendizado seqüencial ......................................................................... 71

3.4.2 Interpretação ambiental .......................................................................... 74

3.4.3 Educação experiencial ............................................................................ 77

3.4.4 Educação no processo de gestão ambiental ............................................ 79

4 O PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARIANA (PEISC) .. 82

5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 92

5.1 O método e as técnicas da pesquisa ............................................................... 93

5.2 Seleção e coleta de dados junto aos atores sociais entrevistados ................... 97

5.3 Análise qualitativa dos dados ......................................................................... 99

6 RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................................. 105

6.1 Tecendo relações entre o ecoturismo e a educação ambiental ....................... 105

6.2 Análise dos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) ......................................... 111

6.2.1 DSC dos agentes e operadores de turismo na natureza do PEISC ........ 111

6.2.2 DSC dos gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do

PEISC ................................. ............................................................................

121

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 138

8 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 142

9 APÊNDICES ............................................................................................................. 154

Apêndice A – Roteiro de entrevista com os agentes e operadores de turismo na

natureza de Florianópolis .....................................................................................

155

Apêndice B – Roteiro de entrevista com os gestores e ou responsáveis pelas

Unidades de Conservação existentes no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa

Catarina ................................................................................................................

156

Apêndice C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................. 157

Apêndice D – Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas aos

agentes e operadores de turismo na natureza do Pólo de Ecoturismo da Ilha de

Santa Catarina ......................................................................................................

158

Apêndice E – Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas aos

gestores e ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do Pólo de Ecoturismo

da Ilha de Santa Catarina ......................................................................................

169

10 ANEXOS .................................................................................................................. 184

Anexo A – Matriz de problemas do segmento de ecoturismo ............................. 185

Anexo B – Ações estratégicas para o desenvolvimento do ecoturismo ............... 186

Anexo C – Ação nº8 – Conscientização e informação do turista ........................ 187

Anexo D – Educação ambiental não formal ......................................................... 188

Anexo E – Quadro do aprendizado seqüencial .................................................... 189

Anexo F – Modelo de Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) ................................ 190

Anexo G – Áreas naturais protegidas .................................................................. 192

Anexo H – Unidades de proteção integral .......................................................... 193

Anexo I – Unidades de uso sustentável ............................................................... 194

Anexo J – Tabela preliminar das áreas protegidas em Santa Catarina ................. 195

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1 INTRODUÇÃO

O turismo, enquanto atividade humana, envolve o deslocamento de pessoas para as

localidades denominadas destinos turísticos devido às motivações intrínsecas ao

comportamento humano, bem como, devido às atrações disponíveis naquele espaço, sejam

elas culturais ou naturais. O aumento crescente dos deslocamentos turísticos, nos últimos

anos, tem feito com que essa atividade seja identificada como um dos maiores e principais

setores econômicos no mundo, sendo que, para tanto, este tem sido planejado e desenvolvido,

principalmente nos países em desenvolvimento, como uma alternativa econômica (muitas

vezes tornando-se a principal) e como estratégia ao desenvolvimento de cidades com

potenciais turísticos e, consequentemente, de suas comunidades.

Atualmente, o turismo cresce e desenvolve-se em grandes proporções, o que permite à

Organização Mundial do Turismo (OMT, 2003, p. 17) afirmar que o turismo “[...] tornou-se

um dos principais setores sócio-econômicos mundiais [...]”, pressupondo inclusive, com base

em cálculos realizados por essa instituição, que até o ano de 2020 “[...] haja cerca de 1,6

bilhões de chegadas de turistas internacionais e que a receita turística internacional atinja 2

trilhões de dólares”. Sob o ponto de vista econômico, este cenário representa cifras

incalculáveis, assim como, remete a um intenso movimento de pessoas em busca de destinos e

serviços realizados direta ou indiretamente pelo setor em questão.

Fazendo uso das palavras de Trigo (2003, p. 54) pode-se, portanto, ressaltar que “o

crescimento do turismo é uma realidade inexorável [...]” e que contemplar essa atividade

apenas em seu aspecto econômico seja algo pretencioso e pouco comprometido com os

demais aspectos que compõem essa atividade (social, cultural e ambiental). Afinal, apesar do

turismo ser considerado uma atividade global, talvez seja relevante considerar que essa

atividade, em essência, constitui-se das intrínsecas relações sociais estabelecidas entre as

pessoas e suas diferentes culturas.

Desse modo, analisar o fenômeno turístico diante desses e de outros aspectos a ele

relacionados, induz à sua compreensão como uma área diversificada, interdisciplinar e

complexa, que utiliza outras variadas e importantes áreas do conhecimento para se estruturar e

que, por isso, figura como uma área de conhecimento das ciências sociais aplicadas, sendo

que a sua configuração enquanto área do conhecimento científico ainda apresenta-se pautada

por uma fase de construção e possível evolução.

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Diante disso, Beni (2003) entende o turismo como um fenômeno relacionado ao

contexto do lazer e que, por isso, é detentor de um enorme potencial no processo de mudança

de valores, deixando de ser apenas uma atividade utilitarista, para compor espaços

qualitativos e propícios às trocas sócio-culturais.

Para que seja possível compreender e analisar mais detidamente o turismo em seus

aspectos econômicos, sócio-culturais ou mesmo sócio-ambientais é necessário evidenciar que

o mercado turístico é composto por segmentos ou grupos de atividades com características

semelhantes, em razão às diferentes motivações de viagem, sendo aqui especialmente

consideradas àquelas relacionadas ao campo ecológico, ou também denominado ecoturismo.

Esse destaque justifica-se porque a OMT (2003) evidencia como uma tendência para a

área de viagens a busca por áreas naturais protegidas, com o intuito de contemplação da

natureza, a busca por atividades que envolvam uma certa dose de aventura, assim como, a

popularização do ecoturismo. Isto porque, tem sido crescente o número de turistas

interessados por questões relacionadas ao meio ambiente natural, fato que pode ser justificado

pelos inúmeros problemas ambientais que assolam o Planeta Terra, bem como, em virtude da

propagação das discussões ambientais mundiais.

O ecoturismo, atividade que pode ser considerada com um dos resultados indiretos

das ações dos movimentos ambientalistas, toma corpo e se solidifica na sociedade pós-

moderna por conciliar a satisfação da necessidade de práticas humanas em ambientes naturais,

em função da fuga do cotidiano e da busca por alternativas sustentáveis, e por contrapor-se, ao

menos teoricamente, às práticas de turismo tradicionalmente caracterizadas como de massa ou

convencional.

A atual importância do ecoturismo na sociedade não está apenas baseada no aspecto

econômico, mas principalmente, por acreditar-se em seu potencial para a conservação da

natureza e em seu potencial educativo, ambos potencializados pelas possíveis sensações e

experiências realizadas diretamente com e na natureza. O caráter educativo do ecoturismo

reside no fato de esta ser uma atividade composta de diferentes ações que apresentam a

importância do ambiente (natureza) por meio da própria atividade à humanidade e que,

necessita da participação responsável dos ‘ecoturistas’ para que se atinja os seus objetivos,

inclusive o da conservação da natureza. Porém nesse caso, questiona-se: como uma atividade,

em essência educativa, estimula e, ao mesmo tempo, contém o consumo dos atrativos

naturais? Assim como, quais são as formas pelas quais pode-se educar para a conservação da

natureza?

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No mercado ecoturístico tem-se identificado atividades nem sempre comprometidas e

que atendam às suas potencialidades, pois os aspectos econômicos imediatistas sobrepõem-se

aos aspectos sociais, culturais e ambientais. Em decorrência disso, pressupõe-se que a

educação ambiental torna-se uma importante ferramenta para a promoção do desenvolvimento

sustentável do ecoturismo sem que, contudo, esse segmento da atividade turística deixe de ser

valorizado economicamente.

Desse modo, a adoção do ecoturismo como tema central dessa pesquisa, na sua relação

específica com a educação ambiental procurou compreender como o ecoturismo incorpora

essa vertente educacional ao seu planejamento e, consequentemente, ao seu desenvolvimento,

bem como, quais os objetivos que a incorporação dessa vertente educacional acrescem aos

objetivos iniciais do ecoturismo.

Entende-se que a vertente educacional do ecoturismo concretiza-se por meio da

educação ambiental e, em função disso, questiona-se: como a educação ambiental é aplicada

ao ecoturismo? A educação ambiental é aplicada por meio de algum processo ou metodologia

específica? E por fim, como desenvolvem-se esses processos ou metodologias?

Para tanto, escolheu-se como objeto de estudo o Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa

Catarina (PEISC), para que nesse pólo fosse possível elucidar os destinos de ecoturismo que

possivelmente desenvolvem a educação ambiental, bem como, proporcionam à este processo,

resultados em benefício da conservação da natureza.

Os Pólos de Ecoturismo, no qual inclui-se o PEISC, de acordo com o Projeto Pólos de

Desenvolvimento de Ecoturismo no Brasil, de 2001, foram caracterizados como espaços

propícios ao desenvolvimento do ecoturismo por possuir, além de recursos naturais e

culturais, uma infra-estrutura necessária para a realização dessa atividade. O PEISC,

localizado na região Sul do Brasil, especificamente na Ilha de Santa Catarina, compreende a

cidade de Florianópolis e seu entorno e é delimitado pela disposição geográfica das unidades

de conservação existentes na região, tendo ao norte a Reserva Biológica do Arvoredo, ao sul o

Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e a noroeste a Área de Proteção Ambiental de

Anhatomirim (MAGALHÃES, 2000a; MELLES, 2001).

Diante disso, salienta-se que a presente pesquisa está vinculada ao Programa de

Mestrado Acadêmico Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria e enquadra-se na Linha de

Pesquisa I (Planejamento e Gestão dos Espaços para o Turismo), que tem seu principal

enfoque nos impactos e transformações psico-sócio-culturais, econômicas e ambientais

ocorridas nos locais que se desenvolvem as atividades turísticas. Na tentativa de refletir sobre

os contextos e os questionamentos supracitados e em especial, sobre as temáticas da linha de

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pesquisa supracitada, teve-se por objetivo geral analisar as relações existentes entre o

ecoturismo e a educação ambiental no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina.

Para a realização desta pesquisa utilizou-se o método qualitativo, por meio do uso das

técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, para a coleta de dados, que são consideradas

indispensáveis à formação de um referencial teórico e fundamentais à composição das

reflexões propostas por essa pesquisa.

Além das técnicas supracitadas, para a etapa empírica da coleta de dados, utilizou-se

da aplicação da técnica de entrevista estruturada, com perguntas abertas, sendo as

informações coletadas por esta técnica foram posteriormente analisadas por meio da técnica

de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). O material coletado nas entrevistas,

analisado por meio da técnica de análise do DSC (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003), procurou

evidenciar as perspectivas de relação entre o ecoturismo e a educação ambiental no PEISC, a

partir dos discursos individuais, que por fim compõem um discurso coletivo, representativo

do ideário coletivo de uma sociedade.

Desse modo, a pesquisa divide-se em duas etapas, a etapa teórica e a empírica, e

salienta-se que essas partes são indissociáveis, sendo que apenas são colocadas dessa forma

para que facilite o entendimento de seus procedimentos metodológicos. Sendo assim, a etapa

teórica foi orientada pelos seguintes objetivos específicos: 1. Verificar as relações entre o

ecoturismo e a educação ambiental com vistas a conservação da natureza e 2. Identificar as

modalidades de educação ambiental aplicadas no ecoturismo. Para esses dois objetivos

iniciais, utilizou-se as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental para a coleta de dados e

a análise documental, para a posterior análise de seu conteúdo.

A etapa empírica, mediante a aplicação da técnica de entrevista estruturada analisada

por meio da técnica de análise do DSC, teve como objetivos específicos 3. Levantar junto aos

agentes e operadores de viagem do segmento de turismo na natureza do Pólo de Ecoturismo

da Ilha de Santa Catarina, os destinos de ecoturismo que desenvolvam a educação ambiental.

A partir do levantamento desses destinos ecoturísticos, foram aplicadas novas entrevistas,

agora com o objetivo de 4. Reconhecer junto aos gestores ou responsáveis pelos destinos de

ecoturismo do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina a importância da educação

ambiental no ecoturismo para a conservação da natureza desses locais.

Salienta-se que, a concepção de turismo na natureza, adotada por essa pesquisa,

baseia-se nos estudos de Pires (2002) e Serrano (2000b), que o compreendem como um

segmento de atividades turísticas e como um conjunto das possíveis formas de turismo

realizadas no meio ambiente, com enfoque principal ao aspecto natural, na qual inclui-se o

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ecoturismo. Por isso, o levantamento das agências e operadoras indicado no terceiro objetivo

específico, baliza-se pela evidência dessa representação do mercado sem, contudo, restringir-

se apenas às agências e operadoras voltadas especificamente ao ecoturismo, o que seria

extremamente complexo e quiçá utópico.

Salienta-se também que durante o processo de coleta de dados, utilizou-se informações

advindas de dissertações produzidas pelo Mestrado em Turismo e Hotelaria da referida

Instituição, assim como, de dissertações e teses produzidas por outros programas acadêmicos

dessa e de outras instituições de ensino. Entretanto, constatou-se que, em sua maioria, as

produções tanto acerca da temática do ecoturismo quanto da educação ambiental, não

contemplavam a inter-relação dessas duas áreas, podendo, dessa forma, contribuir apenas

indiretamente e inicialmente à realização dessa pesquisa. Verificou-se, portanto, que tal

lacuna constituiria uma importante justificativa para a realização dessa pesquisa, inclusive

porque toda a atividade de ecoturismo pressupõe a aplicação da educação ambiental e,

consequentemente, toda pesquisa acerca desse segmento prescinde da consideração dessa

variável.

A apresentação da presente pesquisa está estruturada em capítulos que se completam e

que abordam as relações entre as áreas temáticas de estudo – ecoturismo e educação

ambiental, juntamente com o objeto de estudo da pesquisa – o Pólo de Ecoturismo da Ilha de

Santa Catarina. Desse modo, o capítulo inicial apresenta uma síntese da compreensão de

diferentes autores sobre ‘As raízes ambientais do ecoturismo’, com o intuito de evidenciar as

bases ambientais que originaram o ecoturismo, enquanto um dos resultados dos movimentos

ambientalistas, que pode ser considerado como uma alternativa de atividade sustentável para

as práticas capitalistas na natureza e, devido a isso, uma atividade consumidora de espaços

naturais. Assim como, evidencia também as bases conceituais relacionadas aos princípios, aos

componentes e às possíveis interfaces do ecoturismo com o seu componente educativo

(educação ambiental), observadas a partir de percepções elaboradas por autores acadêmicos e

por informações presentes em bases documentais.

No capítulo ‘As bases conceituais da educação ambiental’ teve-se o objetivo de

esclarecer as propostas dessa educação no, para e com o ambiente natural, assim como,

identificar as modalidades de educação ambiental não-formal, evidenciadas ao longo da

pesquisa e, possivelmente, aplicadas nos espaços naturais, bem como, aplicadas no

ecoturismo. A intenção era explicar os componentes teóricos e metodológicos das

modalidades, que possibilitassem uma compreensão do processo educativo, o qual

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supostamente proporciona o desenvolvimento de atitudes e comportamentos ambientais não

nocivos à conservação da natureza.

O espaço escolhido para a compreensão da temática que constitui o objeto de estudo

dessa pesquisa é apresentado no capítulo ‘O Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina’,

o qual reúne informações acerca do espaço físico que forma o PEISC, para que a partir disso

fosse possível vislumbrar uma base potencial para as relações existentes entre o ecoturismo e

a educação ambiental.

Na seqüência o capítulo denominado ‘Procedimentos metodológicos’ evidencia e

explica os caminhos percorridos para a execução das etapas de pesquisa teórica e empírica,

assim como, submete o leitor à compreensão da importância da utilização da técnica de

análise do Discurso do Sujeito Coletivo nas entrevistas aplicadas às amostras escolhidas.

Por fim, o capítulo que trata dos ‘Resultados da pesquisa’ revela as possíveis relações

entre as áreas do ecoturismo e da educação ambiental em suas perspectivas teóricas, que

contemplam os objetivos específicos 1 e 2, bem como, em uma análise pautada pelos

discursos (DSC) dos atores sociais entrevistados e envolvidos, direta e indiretamente, no

desenvolvimento dessas atividades no PEISC, que contemplam os objetivos específicos 3 e 4.

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2 AS RAÍZES AMBIENTAIS DO ECOTURISMO

2.1 Ambientalismo1: um dos precursores históricos do ecoturismo

Ao longo da história humana no Terra, parece sempre ter havido uma relação, por

vezes harmoniosa e por outras conflituosa, entre os âmbitos social e natural e isto se explica,

como informa Viola (1987) pela humanidade fazer parte e depender da natureza para

sobreviver. Porém este ressalta que a civilização tem o poder de modificar a natureza, fato que

ocorre em escala sempre crescente, e apresenta aspectos positivos e negativos, sendo

considerados enquanto efeitos negativos, por exemplo a destruição do solo, as alterações

climáticas, a poluição das águas e atmosfera, a superpopulação, entre outros.

Assim, Toynbee (1982 apud VIOLA, 1987) atenta que o comportamento humano

pode e gera diversas e, por vezes, profundas crises ecológicas, bem como, desastres naturais

ao longo da história do ser humano. Viola (1987) acrescenta que esse comportamento não é

algo novo, bem como, não se restringe ao final do século XX, mas sim reflete a escala de

poder dos instrumentos de degradação, já que, na visão do autor, quatro catástrofes

ameaçariam a vida humana no final desse século: a guerra nuclear, o lixo atômico, o efeito

estufa e o esvaziamento da camada de ozônio.

Chegado o século XXI, tem-se o registro de diferentes desastres ambientais, que

marcam a humanidade e colocam em pauta os impactos causados pelas agressões humanas à

natureza. Normalmente, esses desastres ocorrem devido aos processos naturais, mas credita-

se a responsabilidade total desses fatos ao poder humano, que na verdade, tem sim a sua

parcela de responsabilidade, principalmente, quando utiliza indiscriminadamente os recursos

naturais para fins supérfluos.

Como exemplos desses desastres naturais podem ser citados os ocorridos no ano de

2005, o Tsunami asiático, o furacão Katrina nos Estados Unidos e o terremoto na Caxemira,

que proporcionaram a humanidade, além de destruição, um momento de reflexão sobre a ação

do homem no processo de causa e efeito dos mesmos (D’AMARO, 2005; REVISTA VEJA,

2005; SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, 2005).

1 A temática do ambientalismo será tratada nesse texto de acordo com sua base funcional, sugerindo-se assim, as obras de Castells (1999), Pellicioni (1994), Viola (1987; 1992) e Viola e Leis (1995) para uma maior delimitação dos componentes e das tipologias dos movimentos ambientalistas.

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Segundo Carvalho (2002) a relação da sociedade (homem) versus natureza2 (ambiente

natural) é alimentada há tempos por uma utopia de relação simétrica entre os interesses das

sociedades e os processos da natureza, havendo portanto, uma relação conflituosa entre ética e

racionalidade ambiental, no que tange ao objetivo de organizar a vida em sociedade na

direção de influir decisivamente na produção das condições ambientais. Nesse sentido, esta

autora infere ainda que os movimentos ecológicos tendem a buscar um ideário ambiental em

contraponto ao progresso e ao capitalismo industrial, na crítica aos valores da modernidade

ocidental e na busca de um novo modo de organizar a vida individual e coletiva.

Castells (1999, p. 143), explicita que os movimentos ecológicos (movimento

ambientalista) referem-se a “[...] todas as formas de comportamento coletivo que tanto em

discursos como em sua prática visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre

homem e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e institucional atualmente

predominante”.

Além disso, Viola e Leis (1995, p. 136) salientam que

[...] os comportamentos individuais estão muito aquém dos conteúdos dos discursos, sendo muito poucas as pessoas (inclusive entre os ambientalistas militantes) que pautam conscientemente seu cotidiano pelos critérios da eficiência energética, reciclagem de materiais, redução do consumo suntuário e participação voluntária em tarefas comunitárias de limpeza ambiental.

Contudo, Viola (1992) pondera que o ambientalismo constitui um movimento

histórico que parte da idéia de que a sociedade contemporânea é insustentável, a médio e

longo prazo, devido aos fatores como crescimento populacional, a depreciação da base de

recursos naturais, os sistemas produtivos (tecnologias poluentes e de baixa eficiência

energética) e o sistema de valores que propicia a expansão ilimitada do consumo material. É

com base nas características desse cenário que este autor evidencia a busca nascente por uma

sociedade ecologicamente sustentável, onde o setor mais educado da população começa a

pensar na qualidade de vida ao invés de pensar na expansão do consumo de bens materiais,

uma vez que já há a plena satisfação das necessidades materiais básicas.

Em complemento, Castells (1999) cita que os ideais do século XIX que estavam

centrados na preservação da natureza e na busca de qualidade ambiental com perspectivas

2 Nesse caso, a natureza, assim como no senso comum, será entendida como algo natural, diferente do artificial (construído), mas conforme ressalta a obra de Carvalho (1991, p.30) a história da natureza não seria desvendada se a história dos homens não conduzisse a isso, considerando assim, que o homem e a sua espécie são também obras da natureza. Esclarece-se com isso, que em relação a sua origem a natureza não é algo natural, mas sim “[...] fruto do longo processo de superação de um espaço primitivo e selvagem, onde não havia lugar para qualquer produção excedente, pelo espaço de uma outra sociedade [...]”.

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ecológicas, por muito tempo mantiveram-se restritos as elites de países dominantes. Observa-

se, a partir dessas considerações que, atualmente, as preocupações em relação ao meio

ambiente foram e por vezes ainda são ideais de uma sociedade elitista, pois sabe-se que uma

grande parcela da sociedade mundial ainda sobrevive abaixo dos limites da pobreza.

Desse modo, Castells (1999, p. 158) observa que o pensamento ecológico, proveniente

e idealizador dos movimentos ecológicos, vislumbra a evolução ocasionada pela interação

entre todas as formas de matéria, sendo que

a idéia de utilizar única e exclusivamente recursos renováveis, crucial para o ambientalismo, está justificada precisamente pela noção de que qualquer alteração nos mecanismos básicos do planeta, e do universo, poderá ao longo do tempo, desfazer um delicado equilíbrio ecológico, trazendo conseqüências desastrosas.

Viola (1987, p. 06) evidencia que a consciência ecológica mundial foi despertada na

década de 1970, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente

em Estocolmo (1972), onde “pela primeira vez os problemas de degradação ambiental do

meio ambiente provocados pelo crescimento econômico são percebidos como um problema

global que supera amplamente diversas questões pontuais que eram arroladas nas décadas de

50 e 60 [...]”. Em contrapartida, na visão de Vigevani (1997) essa foi a primeira tomada de

consciência internacional sobre a fragilidade dos ecossistemas e sobre as necessidades de se

reunir esforços para garantir sua manutenção, pois como afirma o autor ainda, a Conferência

pretendia encontrar soluções para a diminuição da qualidade de vida, em função da escassez e

do esgotamento dos recursos naturais, alertando desse modo, para o fato de que a sociedade

deveria conhecer melhor a sua relação com o seu ambiente, de modo a aprender formas

inteligentes de utilização dos recursos naturais.

Principalmente, desse período em diante, a temática relacionada ao meio ambiente3

passa a ser inserida como tema de inúmeras discussões internacionais, o que acarretou em

1983, a criação da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD)

pela Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Essa comissão, em 1987

elaborou o relatório denominado ‘Nosso Futuro Comum’ ou também conhecido como

‘Relatório Brundtland’, que identificou as principais causas e efeitos dos problemas

ambientais e os diferentes tipos de desenvolvimento dos países, chegando à conclusão de que

3 Compartilha-se aqui o entendimento sobre meio ambiente, conforme a definição de Reigota (1998b, p. 14): “o lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em

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os problemas ambientais com que nos defrontamos não são novos, mas só recentemente sua complexibilidade começou a ser entendida. Antes, nossas maiores preocupações voltavam-se para os efeitos do desenvolvimento sobre o meio ambiente. Hoje, temos de nos preocupar também com o modo como a deterioração ambiental pode impedir ou reverter o desenvolvimento econômico [...] (CMMAD, 1988, p. 38).

Viola (1987, p. 07) coloca ainda que, em sua maioria, os ecologistas são favoráveis

“[...] a um desenvolvimento ecologicamente equilibrado que inclui a utilização prudente da

maioria das tecnologias contemporâneas, rejeitando somente aquelas intrinsecamente

predatórias”.

Como conseqüência da emergência das questões ambientais, a partir de 1970, há no

mundo um repensar da relação empreendida entre o ser humano e o meio ambiente,

especialmente no tocante à manutenção e conservação do meio ambiente, para o bem estar das

populações e a sobrevivência das gerações futuras. Assim, o surgimento do ambientalismo se

dá no contexto das transformações ocorridas na sociedade ocidental, com a passagem da

modernidade à pós-modernidade (SERRANO, 2000a).

Dessa forma, no período que corresponde à passagem da modernidade à pós-

modernidade, são implementadas mudanças sociais, econômicas e culturais, geradas pela

sociedade capitalista que, posteriormente, são repensadas de acordo com o surgimento de um

novo paradigma de qualidade de vida, que inclui a questão ambiental como fator a ser

considerado.

Para uma compreensão dessa passagem, Featherstone (1997, p. 196) cita que “[...] o

termo “modernidade” é usado amplamente nas ciências sociais” em razão da

[...] insatisfação com a capacidade de outros termos, tais como “capitalismo”, para cobrir todos os aspectos da vida social contemporânea [...]; o crescimento do interesse pelo pós-modernismo [...]; o ressurgimento do interesse pela cultura e pela natureza da experiência contemporânea e moderna.

Em complemento Harvey (2000) ressalta que o modernismo é uma fuga estética e

perturbada das condições modernas, produzidas pelo próprio processo de modernização.

Já o termo pós modernismo é entendido por Featherstone (1997, p. 30) “[...] como

algo que aponta o processo de fragmentação cultural e [...] se baseia em um movimento

desenvolvimentista de tradição e da modernidade, construído a partir da experiência

ocidental”. Este autor (Ibid., p. 269 grifos do autor) completa ainda que o pós modernismo

interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído”.

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[...] é um movimento que se afasta das ambições universalísticas das narrativas mestras, em que a ênfase se aplica a totalidade, ao sistema e à unidade, e caminha em direção a uma ênfase no conhecimento local, na fragmentação, no sincretismo, na “alteridade” e na “diferença”; [...] é a dissolução das hierarquias simbólicas que acarretam julgamentos canônicos de gosto e de valor, indo em direção ao colapso populista da distinção entre a cultura e a cultura popular; [...] é uma tendência à estetização da vida cotidiana, que foi impulsionada pelos esforços, no âmbito da arte, a fim de diluir as fronteiras entre a arte e a vida [...] e o movimento em direção a uma cultura de consumo simuladora, na qual o véo das imagens, reduplicado de maneira alucinatória e interminável, apaga a distinção entre a aparência e a realidade; [...] é uma descentralização do sujeito, cujo senso de unidade e cuja continuidade biográfica dão lugar à fragmentação e a um jogo superficial com imagens, sensações e “intensidades multifrênicas” .

Ortiz (1992 apud SERRANO, 2000b, p. 209) por sua vez, ressalta que pós

modernidade pode também ser considerada “[...] uma das expressões de um rearranjo dos

processos sociais e societários ‘pós-industriais’”. Neste rearranjo prevalece o setor de

serviços, que segundo Serrano (2000b, p. 209) “[...] coloca a produção e o consumo de signos

como elementos centrais da dinâmica sociocultural”, sendo que a autora destaca ainda como

componentes dessa dinâmica, o consumo de bens e serviços, signos e imagens relacionados ao

prazer e ao corpo, entre os quais pode-se colocar aqueles relacionados às atividades físicas.

Featherstone (1997, p. 109) atenta que diante desse cenário há ainda o termo cultura de

consumo, o qual “[...] assinala a produção e o relevo cada vez maiores dos bens culturais

enquanto mercadoria, mas também o modo pelo qual a maioria das atividades culturais e das

práticas significativas passam a ser mediadas através do consumo”. Por fim, este autor

salienta também que a cultura do consumo e o pós modernismo são sinais de mudanças

dramáticas que alteram a natureza da sociedade como resultado da relação do tradicional com

o moderno.

Já em relação as transformações ocorridas em certas práticas corporais Betrán &

Betrán (1995 apud SERRANO, 2000a, p. 09) salientam que

cada sociedade, em cada época, tem sua própria cultura corporal relacionada aos seus parâmetros ideológicos, tecnoeconômicos, sociais e, é claro, culturais. A idéia de corpo e tratamentos do corpo, os usos, hábitos e costumes, movimentos que suscitam, práticas corporais e atividades físicas recreativas que aparecem nesse período se inscrevem na mentalidade da época.

Assim, Bruhns (1999) observa que as experiências do corpo em contato com a

natureza representam um reconhecimento do espaço que o corpo ocupa, uma relação com o

mundo, uma revisão de valores e um encontro do homem consigo mesmo, sendo que o corpo

humano atua recebendo as informações de uma cultura.

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Cabe ressaltar ainda que, para Baudelaire (1972 apud FEATHERSTONE, 1997), a

novidade é a principal característica da experiência na vida moderna e, em complemento,

Featherstone (1997, p. 204) cita que “a viagem pode ser entendida como um paradigma da

experiência e devemos lembrar que a raiz da palavra “experiência” é per, que significa tentar,

testar, arriscar”.

Tendo como base essas transformações, o ecoturismo surge e se desenvolve pautado

por

[...] um traço de consumo de cunho narcisita-hedonista – a busca do bem-estar e do prazer físico e mental, pela “adrenalina” ou pela contemplação – ao qual, paralelamente coloca-se a disseminação do ambientalismo, que deixa de ter um caráter apenas reivindicativo de proteção de espécies e ecossistemas ou de mudanças estruturais da relação sociedade-natureza e passa a englobar debates mais gerais como direitos das minorias, questões de gênero e qualidade de vida (SERRANO, 2000b, p. 210).

O ecoturismo4, nesse caso, é entendido por Serrano (2000b) como o turismo pós-

moderno, que é caracterizado por Munt (1994 apud SERRANO, 2000a, 2000b, 2000c) pela

resistência das classes médias à homogeneização do turismo de massa e é marcado por locais

com culturas resguardadas e ou por locais de rara beleza cênica, com objetivo atlético,

aventureiro ou de contemplação.

Ressalta-se que esse contexto de surgimento e desenvolvimento do ecoturismo,

intensificou-se e concretizou-se, principalmente, a partir da década de 90 e como afirma

Irving (2001, p. 44 grifos do autor), o retorno e ou a ida do ser humano à natureza passou a ser

visto como um

[...] mecanismo de “sobrevivência subjetiva” e de revitalização das tradições rurais pelo olhar urbano [...] que abre espaço para o ecoturismo, em relação direta com as oportunidades de turismo rural (e seu componente cultural), modalidades “alternativas” não urbanas, não massificantes e não “desumanizantes”.

Posteriormente à Conferência de 72 e à outros diálogos estabelecidos sobre a temática,

deu-se início, em 1992, no Rio de Janeiro, a mais importante das reuniões realizadas até então

pela Organização das Nações Unidas (ONU), sobre as preocupações com o meio ambiente,

que foi conhecida como RIO-92 ou Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A

RIO-92 provocou o predomínio do pensamento ambientalista nas grandes cidades, e

contribuiu para a ressignificação do campo, enquanto reserva natural e cultural, mantendo

4 Esse assunto em específico será melhor delimitado e caracterizado no item 2.4 Concepções sobre o ecoturismo.

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grande parte do meio ambiente natural conservado, como local de resgate, de natureza, de

silêncio, de ‘lugar’ idealizado, a partir da crítica ao processo de urbanização e da idéia de

progresso, que vincula a cidade à velocidade, ao estresse, à crise e ao individualismo

(IRVING, 2001).

Segundo Vigevani (1997) essa Conferência, a exemplo da de 72, pretendia discutir o

papel e o posicionamento humano em relação as preocupações vinculadas ao

desenvolvimento sustentável (uso sustentável dos recursos naturais), sendo que, para tanto,

elaborou-se um plano de ação denominado Agenda 21, o qual previa uma mudança nos

padrões de desenvolvimento.

Viola e Leis (1995), comentam que a partir desse momento o movimento

ambientalista disseminou-se e transformou-se em um movimento multissetorial, envolvendo

os principais setores como: o stricto sensu; o governamental; o social; o da ciência; o privado;

o público; o religioso; e o educacional, passando assim, a pensar na necessidade de haver

melhores relações entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, em diversos

setores da sociedade.

Como salienta Pelicioni (2004a, p. 450),

apesar de sua importância, a principal crítica que se faz à Rio-92 refere-se ao fato de as causas estruturais dos problemas ambientais – o capitalismo, o modelo de desenvolvimento econômico dos países, os valores sociais, as relações de poder entre os países – não terem sido discutidos em profundidade.

Após 10 anos da realização da RIO-92, a ONU realizou em 2002 em Johannesburgo o

encontro internacional intitulado ‘Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável’, que

ficou popularmente conhecido como RIO+10, e teve por objetivo analisar os resultados

implantados a partir dos acordos estabelecidos na RIO-92 (PELICIONI, 2004a). Mais uma

vez, observou-se os diálogos em torno dos diversos problemas ambientais, sendo que a

novidade é que agora os mesmos passaram a ser relacionados à globalização (DINIZ, 2002).

Como marcante predominância do pensamento ambientalista em diversos setores,

também observa-se suas interferências no turismo, pois em 2001 realizou-se em Cuiabá a

‘Conferência da Organização Mundial do Turismo para o Desenvolvimento e o

Gerenciamento do Ecoturismo nas Américas’, com o intuito de discutir idéias e experiências

para maximizar os benefícios econômicos, ambientais e sociais e, concomitantemente,

minimizar os impactos negativos do ecoturismo nas Américas. Além disso, o ano de 2002 foi

declarado como ‘Ano Internacional do Ecoturismo’ em função de ter-se presenciado a rápida

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expansão de suas atividades nas últimas duas décadas e também de se tentar delinear o seu

futuro (WTO, 2001).

Com isso, o movimento ambientalista e, consequentemente, o pensamento

ambientalista, chegam à atualidade sendo abordados em diversos setores, inclusive no turismo

e isso conduz à reflexão de que as mudanças ocorridas na sociedade moderna referem-se à

ascensão e confirmação de um reposicionamento dos anseios humanos perante as questões

ambientais.

2.2 Sustentabilidade: o pilar de desenvolvimento do ecoturismo

Apesar de haver uma discussão polêmica e não consensual acerca da temática

sustentabilidade (desenvolvimento sustentável), nesse momento, pretende-se estabelecer um

diálogo sobre as suas características e suas implicações para o surgimento e desenvolvimento

do ecoturismo. Há também que se evidenciar o fato de que em sua maioria os referenciais de

sustentabilidade estão relacionados diretamente ao conceito de desenvolvimento sustentável.

Inicialmente, o relatório ‘Nosso Futuro Comum’, produzido em 1987 pela Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1988, p. 09) e amplamente

conhecido como Relatório Brundtland, estabeleceu o conceito de desenvolvimento

sustentável, caracterizado como a satisfação das “[...] necessidades do presente sem

comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas”. Em

complemento Binswanger (1999, p. 41) esclarece que o desenvolvimento sustentável “[...]

significa qualificar o crescimento e reconciliar o desenvolvimento econômico com a

necessidade de se preservar o meio ambiente”.

Nesse sentido, a Comissão (CMMAD, 1988, p. 40) esclarece que

meio ambiente e desenvolvimento não constituem desafios separados; estão inevitavelmente interligados. O desenvolvimento não se mantém se a base de recursos ambientais se deteriora; o meio ambiente não pode ser protegido se o crescimento não leva em conta as conseqüências da destruição ambiental. Esses problemas não podem ser tratados separadamente por instituições e políticas fragmentadas. Eles fazem parte de um sistema complexo de causa e efeito.

Em complemento, Leff (2001, p. 15) pontua que o

princípio de sustentabilidade surge no contexto da globalização como a marca de um limite e o sinal de reorienta o processo civilizatório da humanidade. A crise

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ambiental veio questionar a racionalidade e os paradigmas teóricos que impulsionaram e legitimaram o crescimento econômico, negando a natureza.

O mesmo autor (Ibid., 17) esclarece que nesse contexto “[...] a degradação ambiental

se manifesta como sintoma de uma crise de civilização, marcada pelo modelo de modernidade

regido pelo predomínio do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da

natureza”. Acredita-se assim, que esse desenvolvimento seja, exatamente, fruto do paradigma

moderno de um sistema econômico que se utiliza, indiscriminadamente, dos recursos naturais

para a satisfação de suas necessidades básicas e supérfluas.

Dias (2000) apresenta esse sistema capitalista analisado sistemicamente em um

contexto socioambiental, pautado pelo Modelo de Desenvolvimento Econômico (MDE)

vigente mundialmente e imposto pelos países ricos, por meio dos diferentes processos e

instituições (Sistema Financeiro Internacional – SFI; Fundo Monetário Internacional – FMI;

Banco Mundial – BM; etc.) com influências nos campos políticos, educativos e informativos

(figura 1).

Figura 1: Análise sistêmica do contexto socioambiental Fonte: Dias (2000, p. 95)

Nesse sentido, o que observa-se é um desenvolvimento econômico que produz duas

das grandes facetas da pós-modernidade, a exclusão social e a cultura de consumo de bens

materiais (industrializados), provocando o embate nos aspectos social e econômico, que

refletem diretamente ao ambiental. Afinal, conforme a citado anteriormente, a degradação

enquanto uma crise da civilização ocasionará a ela mesma a perda da qualidade e do

significado da vida.

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Em continuidade à análise do MDE, Dias (2000) apresenta o funcionamento do MDE

(figura 2) e salienta que este se fundamenta no lucro a qualquer preço e está relacionado ao

aumento desenfreado da produção, o que acarreta a necessidade de consumo proporcionado

por uma divulgação em massa. Essa relação produção – consumo gera pressão sobre os

recursos naturais e ocasiona a degradação ambiental que, consequentemente, será refletida

com a perda da qualidade de vida, sendo necessário ‘recuperar’ o que se ‘perdeu’. A solução

lógica desse processo é garantir novos investimentos e empréstimos com as mesmas

instituições que já lucraram com a degradação ambiental e que lucrarão novamente, formando

um ciclo que só terminará devido a provável extinção dos recursos naturais. Assim, pode-se

constatar uma representação do sistema capitalista insustentável citado anteriormente.

Figura 2: Modelo de desenvolvimento econômico Fonte: Dias (2000, p. 97)

Em complemento Binswanger (1999, p. 41) cita que “[...] a natureza é a base

necessária e indispensável da economia moderna, bem como das vidas das gerações presentes

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e futuras [...]”, para tanto, salienta-se que sob o paradigma da sustentabilidade a natureza tem

sido considerada como um fator de produção e, ao mesmo tempo, como fator de qualidade de

vida pelas sociedades. O mesmo autor esclarece ainda que mesmo na economia moderna a

sustentabilidade não é assegurada, pura e simplesmente, pela substituição dos recursos não

renováveis por recursos renováveis, mas sim ao vislumbrar-se indícios de redução no

consumo de matéria e energia em geral, assim como, por mudanças nos padrões pessoais e

societários de bens e serviços.

Para tanto, Leff (2001, p. 17) enfatiza que

a questão ambiental problematiza as próprias bases da produção; aponta para a desconstrução do paradigma econômico da modernidade e para a construção de futuros possíveis, fundados nos limites das leis da natureza, nos potenciais ecológicos, na produção de sentidos sociais e na criatividade humana.

No turismo, a sustentabilidade recai sobre a necessidade de se gerenciar os impactos

ambientais e sócio-econômicos promovidos pelos atores envolvidos na atividade, dessa

forma, o intuito de um turismo sustentável é aumentar o entretenimento dos visitantes e os

benefícios locais e, ao mesmo tempo, diminuir os impactos nocivos sobre os recursos naturais

e sobre a população local (OMT, 2003).

No caso do ecoturismo, a sustentabilidade é vista como uma preocupação explícita em

seu conceito, mas que em alguns casos tem sido pautada por práticas ecoturísticas que são

desenvolvidas muito mais para suprir uma demanda de um modismo ambiental (segmento de

viagens a natureza), do que para colocar em prática o conceito da atividade. Nesse sentido,

Serrano (2000b) salienta que a incorporação do conceito de sustentabilidade pelo ecoturismo,

apresenta a dupla contradição de uma atividade potencialmente sustentável, localizada no

contexto insustentável do sistema capitalista e de uma viabilização das práticas educativas em

atos de consumo.

Desse modo, para que possa-se estabelecer uma compreensão do que seja a

sustentabilidade e sua aplicação ao turismo, ao ecoturismo, é necessário, conforme pontua

Sachs (2000, p. 85-88), abordá-la diante de seus diversos campos de atuação, caracterizados

como critérios para sustentabilidade (figura 3). Sachs (2000) aborda essa temática enfatizando

cada um desses critérios como aspectos que estão intimamente relacionados. Afinal, torna-se

impensável abordar questões ambientais sem relacioná-las as sociais e ou econômicas, assim

como, relacioná-las à questões políticas e territoriais. De modo a compreender esses critérios,

descreve-se brevemente as idéias de Sachs para cada um deles.

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O autor (Ibid.) pauta o critério social pelo alcance da homogeneidade social (justa

distribuição de renda, qualidade decente de vida, trabalho/emprego a todos e recursos e

serviços sociais iguais para todos). Nesse sentido, o cultural visa a elaboração de um projeto

nacional integrado e endógeno focado no sentimento de pertencimento da sociedade àquela

nação.

Figura 3: Critérios para sustentabilidade Fonte: Elaborado pelo autor com base em Sachs (2000, p. 85-88).

Acredita-se que os critérios para a sustentabilidade ecológica e ambiental estão

intimamente relacionados, o que dificulta abordá-los em separado. Nas idéias de Sachs (2000)

são explanados pontos semelhantes que impossibilitam uma diferenciação. Assim sendo, o

ecológico está relacionado a preservar a natureza para a produção de recursos renováveis e a

limitar a utilização dos não-renováveis. Já o ambiental, enfatiza o respeito à capacidade de

autorecomposição dos ecossistemas naturais, ou possivelmente, entendido como a capacidade

de resiliência ambiental.

O territorial relaciona-se a uma melhoria do meio ambiente urbano e ao mesmo tempo,

enfatiza a necessidade de haver uma igualdade inter-regiões e estratégias, chamadas de

ambientalmente seguras, para as áreas frágeis ecologicamente. Já o critério econômico, um

dos mais polemizados, aborda um equilíbrio no desenvolvimento intersetorial, uma

capacidade de modernizar continuamente os instrumentos de produção e uma inserção na

economia internacional.

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Os critérios relacionados às políticas, estão nacionalmente vinculados à coesão social e

a capacidade do Estado implementar o projeto nacional (anteriormente citado no cultural), e

os internacionais estão vinculados desde a prevenção de guerras e garantias de paz até um

pacote igualitário de desenvolvimento entre Norte e Sul. Coloca também a necessidade de ter-

se um controle efetivo da gestão do meio ambiente, inclusive o natural, enquanto patrimônio

global e herança comum da humanidade.

Diante disso, acredita-se que provavelmente o alcance de todos os critérios inter-

relacionados seja um longo e trabalhoso caminho a ser atingido em uma escala de tempo e nas

diferentes áreas econômicas de atuação. Em relação ao turismo, talvez pudessem ser

acrescentados ou adaptados alguns critérios, mas a maior dificuldade de se verificar a

sustentabilidade do turismo recai sobre o fato de ainda se identificar comportamentos nocivos

e inadequados advindos de turistas e de outros envolvidos nessa atividade.

Nesse sentido, especificamente no ecoturismo acredita-se que, obviamente, tenha-se a

necessidade de integração desses critérios para que se assuma uma postura sustentável,

podendo-se, então, adicionar o componente educativo ou o critério educacional com a

finalidade de nortear as práticas ecoturísticas, como também, garantir a manutenção da

sustentabilidade no desenvolvimento humano, o que poderá ocasionar as mudanças e as

transformações tão desejadas nos padrões pessoais de vida. Em contraponto, Binswanger

(1999) afirma que a perfeita sustentabilidade não pode ser efetivada pois já são considerados

irreversíveis os inúmeros estragos realizados no meio ambiente, mas esta poderá colaborar na

diminuição da acelerada destruição dos recursos naturais.

Por fim, salienta-se que um turismo benéfico, juntamente com os segmentos que o

compõem, somente será possível em uma sociedade participativa, integrada e pautada nos

critérios supracitados, em que o conhecimento e o capital são e serão importantes mas, a

revalorização do humanismo será fundamental para que a vida seja dignificada e preservada,

sendo que nesse caso, a educação poderá proporcionar essa revalorização à sociedade, desde

que sensibilize as suas crianças, adolescentes e adultos acerca das reais problemáticas de seus

cotidianos (TRIGO, 2003).

2.3 O espaço natural enquanto cenário para o ecoturismo

Até aqui já se delimitou as preocupações que houveram e que ainda estão em pauta

relacionadas ao meio ambiente e aos recursos naturais, não só para a vida mas também para o

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desenvolvimento de inúmeras atividades econômicas, inclusive o turismo e o ecoturismo.

Entretanto, cabe ainda esclarecimentos sobre os elementos e as características do cenário onde

o ecoturismo ocorre para que possa-se compreendê-lo enquanto atividade sócio econômica e

cultural realizada no meio ambienta natural.

Nesse sentido, inicia-se o desvelar do cenário do ecoturismo e, para tanto, utiliza-se da

idéia de Santos (1997, p. 05) que diz que o “espaço deve ser considerado como uma totalidade

[...]”. Boullón (2002) corrobora com essa idéia e identifica sete tipos de espaços físicos que

possivelmente são utilizados pelo turismo, são eles: real, potencial, cultural, natural, virgem,

artificial e vital. Lembra ainda que os espaços real e potencial estão relacionados diretamente

ao planejamento do espaço, o vital pertence a ecologia e os cultural, natural, virgem e

artificial correspondem especificamente ao espaço físico.

Em função das temáticas da pesquisa, os espaços natural e virgem serão enfatizados,

sendo que Boullón (2002) os considera enquanto espaços naturais, diferenciando-os por

entender o natural como um espaço adaptado, composto pelas partes da crosta terrestre com o

predomínio de espécies dos reinos vegetal, animal e mineral, porém, está sob as condições

estabelecidas pelo homem. Já o espaço natural virgem são as áreas naturais sem a presença

humana e que estão cada vez mais raras no planeta.

A partir desse contexto, este autor (Ibid., p. 114) caracteriza os espaços em duas

grandes categorias: o espaço natural e o espaço urbano. Novamente a atenção recairá apenas

ao espaço natural, composto pelo meio ambiente natural, que nas palavras do autor “[...] é um

sistema único e complexo, formado por muitos componentes orgânicos e inorgânicos, que se

influenciam reciprocamente e se mantém em equilíbrio dinâmico, porque todas as suas partes

estão em contínua evolução”.

Essa dinamicidade e contínua evolução são interrompidas muitas vezes pelas

transformações ocorridas no meio ambiente por meio da interferência humana marcada em

função do rápido crescimento populacional mundial associado, ao mesmo tempo, ao

incremento das tecnologias da sociedade moderna e, principalmente, à intervenção do

‘homem’ no meio ambiente natural com objetivo de adaptá-lo às suas necessidades.

Neste caso, Molina (2001, p. 70) percebe e salienta que “[...] o homem não se contenta

em poluir; demonstra também suas faculdades de depredador destruindo árvores e plantas,

matando aves e animais e, em numerosíssimos casos, provocando sérios incêndios florestais,

que significaram duras perdas, às vezes humanas”.

Essas ações são realizadas nos elementos que Boullón (2002) define como básicos do

meio ambiente natural, compostos pela crosta terrestre (Terra – montanhas, desertos etc.;

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Água – oceanos, mares, rios, lagos etc.), pelo clima (temperatura; ventos, chuvas, umidade) e

pelos organismos vivos (o homem; os animais; e os vegetais). Inevitavelmente, a degradação

desses elementos influenciam o que o mesmo autor define enquanto elementos básicos da

paisagem, compostos pela topografia (relevo e morfologia do terreno), pela vegetação

(original ou plantada), pelo clima (as situações atmosféricas perceptíveis) e pelo habitat

(efeitos da ação do homem e condições de habitabilidade do mundo biótico), que

normalmente, compõem os atrativos turísticos de determinada localidade.

Na tentativa de esclarecer alguns pontos, este autor (Ibid.) chama a atenção para o

significado de atrativo turístico, que é entendido enquanto matéria-prima para o turismo, ou

seja, sem o atrativo não há como atrair seus visitantes. O mesmo autor, classifica os atrativos

turísticos e chama a atenção que apenas uma das classificações propostas está relacionada a

natureza, a dos sítios naturais, pois as demais classificações estão relacionadas as áreas de

cultura (material e imaterial), de eventos e a realizações técnicas e científicas.

Nesse sentido, a visita do turista a um meio ambiente natural é em grande parte

influenciada pelo atrativo natural, com a finalidade de apreciar e contemplar a natureza. Para

tanto, Serrano (2000a) salienta que uma das motivações e ou expectativas do turista em

relação às viagens a natureza, é o consumo de imagens produzidas tanto pela mídia, pela

memória ou por meio das relações pessoais. Cruz (2002) corrobora quando salienta que o

turismo enquanto prática social é a única que consome o espaço e isto se dá pela apropriação

do espaço pelas formas de consumo turístico (os serviços relacionados à área). Na realidade,

esse consumo, principalmente, relacionado ao turismo na natureza ou ecoturismo ocorre como

salientado logo acima sobre os elementos da paisagem que são constantemente relacionados

ao espaço natural e que na visão de Pires (1996) constitui o principal apelo de atratividade de

um destino.

A paisagem, então, constitui um dos mais importantes elementos da atratividade

turística, sendo que Yázigi (1998, p. 74) a considera como uma porção visível do espaço e,

por isso,

é constantemente refeita de acordo com os padrões locais de produção, da sociedade, da cultura, com os fatores geográficos e tem importante papel no direcionamento turístico. Não se trata de dizer que ela seja a única forma de atração, mas que pesa muito no contexto de outros fatores (meios de hospedagem, bons preços etc.).

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A partir disso, Boullón (2002) coloca que sob o enfoque visual é possível distinguir as

paisagens naturais, culturais e urbanas5, sendo que para Petroni e Kenigsberg (1968 apud

BOULLÓN, 2002, p. 118) a paisagem natural é considerada “conjunto de caracteres físicos de

um lugar que não foi modificado pelo homem”.

É pela paisagem que se dá o primeiro contato do turista com a natureza, e por isso esta

representa o centro da atratividade do local turístico ou ecoturístico. Mas, Luchiari (1998

apud CRUZ, 2002, p. 110) salienta que as paisagens turísticas “[...] só existem em relação a

sociedade. Elas não existem a priori, como um dado da natureza [...] é a ação social que dá

sentido às paisagens, não ao contrário”.

Nesse sentido, Boullón (2002, p. 119) por acreditar que há um inter-relação entre os

tipos de paisagem, propõe a classificação, conforme a figura 4, e esclarece que a existência

desses tipos de paisagem depende da observação atenta de uma pessoa, ou seja, sem a

presença humana a paisagem desaparece, pois a “[...] paisagem se vai com o observador

porque não passa de uma idéia da realidade que este elabora quando interpreta esteticamente o

que está vendo”.

Ao entender as paisagens como reflexos dos espaços, toda transformação no espaço

representa simultaneamente alguma transformação na paisagem, senão em sua fisionomia,

certamente em seus significados (CRUZ, 2002). Desse modo, as paisagens e os espaços

revelam uma dinamicidade intrínseca, ambos portanto, construídos socialmente tanto em

função de sua dinâmica própria / natural quanto em decorrência das transformações

ocasionadas pelos ‘homens’.

Figura 4: Tipos de paisagem Fonte: Boullón (2002, p. 119)

5 Para Petroni e Kenigsberg (1968 apud BOULLÓN, 2002, p. 118) a paisagem cultural é considerada uma “paisagem modificada pela presença e atividade do homem (lavouras, diques, cidades etc.)” e a paisagem urbana são “conjuntos de elementos plásticos naturais e artificiais que compõem a cidade: colinas, rios, edifícios, ruas, praças, árvores, focos de luz, anúncios, semáfaros etc.”

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Desse modo, o meio ambiente natural, assim como, os elementos que o compõem

passam a ser considerados como ‘atrativos turísticos’ a partir do momento em que a sociedade

expressa valor e interesse pelo mesmo e a escolha de um determinado espaço para prática do

ecoturismo é feita por meio do reconhecimento da qualidade paisagística do meio ambiente

natural. Contudo, como salienta Boullón (2002), não é possível definir com exatidão a

qualidade de uma paisagem, pois trata-se de uma avaliação subjetiva, efetuada

involuntariamante no pensamento individual, variando de cultura para cultura, de indivíduo

para indivíduo.

A veiculação dessa imagem percebida (paisagem), normalmente, está inserida em um

contexto de reforço do modismo turístico que exalta os espaços naturais e os qualifica como

prioritários à manutenção da qualidade de vida. Cruz (2002, p. 110) corrobora salientando que

“[...] para o turismo, é o valor estético da paisagem que está em pauta, e a estética da

paisagem turística é aquela ditada pelos padrões culturais de uma época. Hoje, essa estética

tem uma estreita relação com modismos e com cultura de massa”.

Por isso, ao visitar uma paisagem natural, o turista engana-se, pensando realizar

ecoturismo, termo tão em moda ultimamente e dentro das principais mídias de divulgação.

Em razão desse modismo estabelecido pela própria sociedade, as viagens à natureza estão

sendo chamadas de ecoturismo, constituindo atividades nem sempre comprometidas com

questões socioambientais.

Esse posicionamento sugere, então, que a motivação e ou expectativa do ecoturista

está baseada principalmente na fuga do cotidiano, do ambiente urbano, em busca de

qualidade, da rusticidade, da simplicidade (ao contrário de precariedade), de diferenças

culturais e ambientais, de atividades lúdicas, do risco calculado, das relações humanas, do

aprendizado e do consumo de imagens, proporcionados pela qualidade visual da paisagem

natural e pelas avaliações subjetivas realizadas pelo turista (SERRANO, 2000b).

2.4 Concepções sobre o ecoturismo

O ecoturismo caracteriza-se por viagens realizadas em meio à natureza, ou também

chamada, de meio ambiente natural, utilizando-se predominantemente dos recursos naturais

como forma de atração turística, o que se constitui como matéria-prima para o

desenvolvimento do ecoturismo.

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Trata-se de um movimento turístico recente, que tem obtido relevância tanto

econômica, social, cultural quanto ambiental. Serrano (2000b) relembra que mesmo antes das

definições dos termos e da comercialização de atividades relacionadas ao ecoturismo, as

viagens à natureza já se destacavam, como é o caso do montanhismo nos Alpes (séc. XVIII) e

dos parques nacionais norte-americanos (Yellowstone em 1872 e Yosemite em 1896), assim

como, Western (2002) completa destacando a procura pelos safáris de caça (no início do séc.

XX) e pelos safáris fotográficos, ambos na África (a partir da metade do séc. XX).

A natureza enquanto produção social e natural comporta a idéia do homem e sua

espécie como obra da própria natureza (CARVALHO, 1991). Cascino (1998, p. 09) salienta

que “[...] as pessoas estão ávidas pelo novo, inédito, alternativo e, por isso, buscam

reaproximar-se da natureza, já que ela é fonte e razão inesgotável do novo e espaço de

recriação”. Nesse sentido, Pires (2002, p. 29) completa dizendo que “a curiosidade e o

sentimento de nostalgia em relação a regiões longínquas sempre estiveram entre as

necessidades básicas e imediatas do ser humano”, Essa busca do cenário natural para a

realização de atividades relacionadas ao lazer e ou turismo sempre esteve no subconsciente

humano, representando o que Rodrigues (2003) denomina como o mito do eterno retorno

caracterizado como sendo um reencontro do paraíso perdido.

De acordo com os estudos produzidos por Ziffer (1989 apud BARROS II; LA

PENHA, 1994) e pela The International Ecotourism Society (2000 apud MASTNY, 2002)

verifica-se um índice de crescimento do ecoturismo superior a outros segmentos do turismo,

estimado então, com um crescimento médio de 20% a 30% ao ano. Em complemento, a OMT

(1998 apud MASTNY, 2002, p. 131) prevê como tendência que os destinos mais procurados

para práticas turísticas serão “[...] os cumes das montanhas mais altas, as profundezas dos

oceanos e os confins da Terra”.

Essa crescente intensificação pela busca de destinos naturais para práticas turísticas,

no caso brasileiro, pode ser justificada pelo fato de reunir cerca de 70% de todas das espécies

animais e vegetais do planeta distribuídas em seus biomas e ecossistemas, sendo por isso,

considerado um país megabiodiverso (IBAMA, 2006a). No intuito de se apresentar apenas

uma breve característica de um dos componentes do objeto de estudo6 dessa pesquisa,

salienta-se que o bioma Mata Atlântica localiza-se ao longo da faixa litorânea do Brasil,

estendendo-se praticamente do Rio Grande no Norte ao Rio Grande do Sul, tendo uma

pequena porção de seus remanescentes, cerca de 2%, encontrados sobretudo em áreas naturais

protegidas (IBAMA, 2006a; SOS MATA ATLÂNTICA, 2006).

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As áreas naturais protegidas, com dimensões e limites definidos, também conhecidas

como unidades de conservação, de proteção integral ou de uso sustentável, são definidas pelo

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2000) como sendo o

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

Essas áreas podem ser consideradas privilegiadas para o desenvolvimento do

ecoturismo, pois mantém grande parte da biodiversidade conservada. Ceballos-Lascuráin

(2002, p. 26) corrobora quando cita que

as áreas naturais, em particular as protegidas legalmente, sua paisagem, fauna e flora – juntamente com os elementos culturais existentes – constituem grandes atrações, tanto para os habitantes dos países aos quais as áreas pertencem como para turistas de todo o mundo. Por esse motivo, as organizações para a conservação reconhecem a enorme relevância do turismo e estão cientes dos inúmeros danos que um turismo mal-administrado ou sem controle pode provocar no patrimônio natural e cultural do planeta.

Para tanto, as atividades turísticas na natureza, assim como, as ecoturísticas são vistas,

principalmente, como alternativas para o desenvolvimento econômico das localidades, e em

contrapartida, como uma efetiva ferramenta para a conservação da natureza por proporcionar

receitas advindas das taxas pagas pelos turistas. Pressupõe-se que o ecoturismo proporcione a

conservação da natureza também por outros meios, mas cabe aqui ressaltar que a conservação

da natureza pode ser entendida, segundo a IUCN (1984) como

[...] a gestão da utilização da biosfera pelo ser humano, de tal sorte que produza o maior benefício sustentado para as gerações atuais, mas que mantenha sua potencialidade para satisfazer às necessidades e às aspirações das gerações futuras. Portanto, a conservação é positiva e compreende a preservação, a manutenção, a utilização sustentada, a restauração e a melhoria do meio ambiente natural.

Observa-se assim, que a definição de conservação da natureza tem uma relação

intrínseca com a de desenvolvimento sustentável, vista anteriormente. Já em caráter nacional,

o SNUC (BRASIL, 2000) incorpora a definição de conservação da natureza da IUCN e a

diferencia do processo de preservação da natureza, pois este utiliza-se de um “conjunto de

métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats

6 Essa temática será melhor delimitada no capítulo ‘O Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC)’.

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e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação

dos sistemas naturais”.

Em relação ao ecoturismo, Serrano (2000b) salienta ser uma prática sustentável em um

contexto insustentável (o da lógica capitalista, conforme visto anteriormente), sendo assim,

Serrano e Luchiari (2005) corroboram quando citam que os espaços que devem ser

preservados e mantidos longe dessa lógica capitalista, são considerados como potenciais

atrativos das regiões, exatamente, por valorizarem o patrimônio ambiental.

Enquanto segmento turístico, o ecoturismo representa um segmento derivado do

turismo na natureza, conforme demonstrado na figura 5, que caracteriza-se por viagens que

colocavam os turistas em contato com os atrativos naturais com a intenção de diferenciar-se

do turismo convencional massificado, produzido em larga escala, ávido por lucros elevados e

indiferente a deterioração ambiental (PIRES, 2002).

Figura 5: O ecoturismo como um segmento do mercado turístico Fonte: Strasdas (2000 apud WOOD, 2002, p. 11, tradução nossa)

O turismo na natureza ocupa espaço na expressão ‘turismo alternativo’, que segundo

Pires (2002, p. 111) pode ser entendida como uma expressão “[...] impregnada de anseios e

ideais de mudanças e inovação do turismo convencional de massas, ou ainda como estandarte

dos movimentos e ações pioneiras nesse sentido [...]” e como “[...] chave designativa de um

turismo diferenciado em relação ao convencional ou tradicional [...]”. Desse modo, o

ecoturismo enquanto segmento de mercado turístico poderia ser adaptado a partir da

concepção do turismo alternativo, conforme mostra a figura 6.

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Figura 6: O mercado alternativo de turismo Fonte: Adaptado a partir de Strasdas (2001 apud WOOD, 2002, p. 11)

A partir disso, Pires (2002, p. 139, grifos do autor) afirma que se tem uma variedade

de tipos alternativos de turismo que evidenciam alternativas turísticas ao turismo

convencional, como turismo participativo, turismo responsável, turismo suave/brando,

turismo ambiental, turismo sustentável, turismo ecológico, turismo baseado na natureza,

ecoturismo e turismo rural. Desse modo, salienta que o ecoturismo

[...] surge e se impõe como uma ‘rotulação’ ampla e indiscriminadamente utilizada para representar um conjunto variado e não bem definido de atividades e atitudes no campo das viagens turísticas, que se posicionam na interface turismo-ambiente, este último compreendo especialmente ambientes naturais pouco alterados e culturas autóctones presentes em seu entorno.

Serrano (2000b, p. 208, grifo do autor) detecta uma pluralidade de termos e conceitos

tratados sobre o turismo em áreas naturais, o que sugere que o ecoturismo seja

[...] uma idéia ‘guarda-chuva’, pois envolve uma multiplicidade de atividades como trekking, hiking, escaladas, rappel, espeleologia, mountain biking, cavalgadas, mergulho, rafting, floating, cayaking, vela, vôo livre, paragliding, balonismo, estudos do meio, safári fotográfico, observação de fauna e flora, pesca (catch-release), turismo esotérico e turismo rural [...].

Diante dessa diversidade de termos e de atividades que o ecoturismo concentra,

Fennell e Eagles (1990 apud FENNELL, 2002) elaboraram um espectro da atividade turística,

conforme mostra a figura 7, com a intenção de estabelecer diferenças potenciais entre as

atividades desenvolvidas em meio a natureza, tais como viagem de aventura, ecoturismo e

turismo de massa.

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Figura 7: Espectro da atividade turística Fonte: Fennell e Eagles (1990 apud FENNELL, 2002, p. 62)

Nesse caso, Fennell (1999, p. 61) sugere que “[...] a preparação e o treinamento, os

resultados e riscos conhecidos/desconhecidos, a certeza e a segurança são variáveis que

podem ser usadas para diferenciar essas formas de turismo”, assim como, esses “[...] três tipos

de atividades não são mutuamente excludentes; o ecoturismo pode compartilhar alguns

elementos das outras duas experiências e permanecer distinto do turismo de massa e do

turismo de aventura”.

A partir disso, Ramos (2005) adaptou e completou esse espectro, conforme mostra a

figura 8, estabelecendo as distinções entre o turismo na natureza7, o ecoturismo8 e o turismo

de aventura9, e ressaltou que para a identificação e a classificação de qualquer uma das

atividades supracitadas é necessário analisá-las de acordo com o contexto em que

determinadas atividades estão inseridas. Esses contextos estão relacionados tanto ao

planejamento quanto a logística operacional da viagem ou de determinada atividade.

Além desses contextos, Ramos (2005, p. 475) explicita que “quanto menos intensa no

sentido de esforço e mais educativa no sentido de interpretação do ambiente visitado, mais

próxima a atividade estará do ecoturismo”, bem como, “[...] quanto mais imersiva, incerta, de

risco e com o componente de ‘adrenalina’, mais próxima essa atividade estará dos elementos

que definem a aventura”. Também destaca que “[...] quanto menor a logística somada à menor

habilidade específica requerida e menor a necessidade de segurança da atividade, mais

próxima estará do turismo na natureza, em que os clientes terão baixo compromisso com as

atividades e as questões ambientais”.

7 Para uma maior compreensão dessa temática sugere-se a obra de MCKERCHER, Bob. Turismo de natureza: planejamento e sustentabilidade. São Paulo: Contexto, 2002. 8 Para uma maior compreensão dessa temática sugere-se a obra de PIRES, Paulo dos Santos. As dimensões do ecoturismo. São Paulo: Editora SENAC, 2002. 9 Para uma maior compreensão dessa temática sugere-se a obra de SWARBROOKE, John et al. Turismo de aventura: conceitos e estudos de caso. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

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Para finalizar, o autor (Ibid.) evidencia que ao observar-se o espectro da direita para a

esquerda evolui-se no desenvolvimento da educação ambiental, o que aproximará a atividade

do ecoturismo, assim como, será mais elevado o risco e as habilidades específicas e,

juntamente com a incerteza, aproximará a atividade do turismo de aventura. Lembrando que

essas classificações podem e devem ser observadas de forma não excludente.

Figura 8 – A velha-nova concepção – mercado mutante Fonte: Ramos (2005, p. 475)

Apesar dessa diversidade de atividades e dessas variações de termos cabe ressaltar,

conforme Serrano (2000b, p. 209) evidencia, que o ecoturismo enquanto prática alternativa de

turismo, surge “[...] no contexto das transformações mais gerais da sociedade ocidental que

tem sido identificadas como a passagem da modernidade à pós-modernidade”, o que revela

um contexto sócio cultural que diferencia as viagens à natureza do ecoturismo, enquanto um

desdobramento do ambientalismo e um segmento de mercado. Em complemento Pires (2002)

cita que o ecoturismo passa a ser idealizado como sustentável com base em princípios

ambientalistas, sendo fomentador de práticas de cunho ambientalista.

Portanto, a partir dos referenciais expostos tem-se a intrínseca relação e uma não

consensual delimitação que varia de caso para caso, de tipologias de atividades e de seus

conteúdos entre o turismo de natureza, o ecoturismo e o turismo de aventura. Constatando-se

assim, a interface turismo-ambiente evidenciada por Pires e a idéia guarda-chuva de Serrano,

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o que sugere que os ambientes e as atividades relacionadas a natureza ou a aventura

configuram, possivelmente, as características relacionadas a um contexto de ecoturismo.

Para tanto, com o intuito de estabelecer uma melhor compreensão acerca da temática

de ecoturismo será realizado uma breve apresentação de suas referências conceituais, assim

cabe salientar que o mesmo começou a ser conceituado10 por Ceballos-Lascuráin (1987 apud

PIRES, 1998, p. 79) como uma

[...] viagem a áreas naturais que se encontram relativamente sem distúrbios ou contaminação com o objetivo específico de estudar, admirar e desfrutar a paisagem juntamente com suas plantas e animais silvestres, assim como qualquer manifestação cultural (passada ou presente) que ocorra nestas áreas.

Esse mesmo autor aperfeiçoou tal conceito afirmando que

o ecoturismo é uma forma de ecodesenvolvimento que representa um meio prático e efetivo de atrair melhorias sociais e econômicas para todos os países, e é um poderoso instrumento para a conservação das heranças naturais e culturais pelo mundo (1991 apud PIRES, 1998, p. 79).

A partir desses conceitos já tem-se a possibilidade de identificar algumas

características que compõe o ecoturismo mas, na intenção de realizar uma abordagem mais

ampla, Fennell (2002, p. 52-53) também corrobora definindo ecoturismo como

[...] uma forma sustentável de turismo baseado nos recursos naturais, que focaliza principalmente a experiência e o aprendizado sobre a natureza; é gerido eticamente para manter um baixo impacto, é não predatório e localmente orientado (controle, benefícios e escala). Ocorre tipicamente em áreas naturais, e deve contribuir para a conservação ou preservação destas.

Wood (2002, p. 07, 10, tradução nossa) caracteriza o ecoturismo como “[...] um

crescente nicho de mercado no maior setor de viagens, com o potencial de ser uma importante

ferramenta no desenvolvimento sustentável”. Além disso, define o ecoturismo por meio de

seus resultados para o desenvolvimento sustentável, que são a “conservação de áreas naturais,

a educação dos visitantes sobre a sustentabilidade e o benefício da população local” e,

conclui, ao evidenciar que o ecoturismo apresenta como componentes

A contribuição para a conservação da biodiversidade; A manutenção do bem estar da população local;

10 Segundo o próprio Ceballos-Lascuráin o termo ecoturismo seria uma forma mais simples de se dizer turismo ecológico, significando que os termos são sinônimos (depoimento cedido em setembro de 1996 em Florianópolis/SC a Paulo dos Santos Pires (2002).

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A inclusão de uma interpretação / conhecimento pela experiência; O envolvimento de ações responsáveis pela parte dos turistas e pelo setor

turístico; O desenvolvimento, principalmente, por pequenas empresas com pequenos

grupos; A requisição de baixa possibilidade de consumo de recursos não renováveis; A ênfase na participação local, posse e oportunidade de negócios,

particularmente para a população rural.

A Sociedade Internacional de Ecoturismo – TIES (2004, tradução nossa) define

ecoturismo como uma “viagem responsável para áreas naturais que conserva o ambiente e

promove o bem-estar da população local” e, além disso, deve seguir os seguintes princípios

Minimizar impactos; Construir a consciência e o respeito ambiental e cultural; Proporcionar experiência positiva para visitantes e anfitriões; Proporcionar benefícios financeiros diretos para a conservação; Proporcionar benefícios financeiros e empregabilidade para a população local; Elevar a sensibilidade dos países anfitriões para a situação política, ambiental e

social; Apoiar internacionalmente os direitos humanos e os contratos de trabalho.

Já no Brasil, as discussões oficiais e governamentais sobre ecoturismo são iniciadas

em 1985, mas é em 1987 que é criado o Projeto de Turismo Ecológico com o objetivo de

ordenar e compreender o segmento e as atividades do mesmo. Somente em 1994, após

estudos e análises de um Grupo de Trabalho Interministerial (Ministério da Indústria, do

Comércio e do Turismo e o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal), foi

produzido o documento intitulado ‘Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo’

(BARROS II; LA PENHA, 1994, p. 10) que pretendia

[...] nortear o desenvolvimento regional do ecoturismo e servir de base para uma Política Nacional de Ecoturismo, que assegure À comunidade: melhores condições de vida e reais benefícios; Ao meio ambiente: uma poderosa ferramenta que valorize os recursos naturais; À nação: uma fonte de riqueza, divisas e geração de empregos; Ao mundo: a oportunidade de conhecer e utilizar o patrimônio natural dos

ecossistemas onde convergem a economia e a ecologia, para o conhecimento e uso das gerações futuras.

Esse mesmo grupo, por meio do mesmo documento definiu ecoturismo como

[...] um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas (Ibid., p. 19).

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Essa definição é utilizada praticamente por todos os setores do turismo nacional e será

utilizada também nessa pesquisa, como definição e conceito base, por entender-se que a

mesma sintetiza os princípios, os valores e as características desse tipo de viagem. Mas, cabe

também ressaltar, que Mowforth (1993 apud PIRES, 2002, p. 158), infere que para uma

atividade ser considerada ecoturismo é necessário atentar-se a alguns critérios como

a sustentabilidade ambiental, social, cultural e econômica; aspecto educativo; a participação da comunidade local.

Assim como, Wearing e Neil (2001) evidenciam enquanto elementos fundamentais

para o ecoturismo a determinação que as áreas sejam naturais, relativamente tranqüilas ou

protegidas, que esteja baseado na natureza, que induza a conservação e que tenha um papel

educativo.

A partir das exposições clarificam-se algumas das características, dos componentes e

dos princípios que estão compreendidos no termo e na atividade de ecoturismo, podendo ser

sintetizados como a sustentabilidade, a educação, o envolvimento com a comunidade local e o

apoio à conservação ambiental. Mas, apesar dos conceitos abarcarem os princípios para o

desenvolvimento sustentável do ecoturismo, é notável como em outras atividades humanas

realizadas em ambientes naturais, a geração dos impactos, principalmente, os negativos dessa

atividade.

Apesar de todas as relações inerentes ao ecoturismo e mesmo não sendo uma temática

tão bem delimitada, tenta-se compreendê-lo por meio de seus princípios e por meio de

algumas de suas características, diferenciando-se assim, dos demais tipos de turismo

realizados na natureza.

Serrano (2000b) entre outros autores, como por exemplo Soldatelli (2005) e Pires

(2006), reconhece que o ecoturismo produz impactos com diversas características e por vezes

em sentidos contraditórios, e que para cada impacto positivo identifica-se um negativo,

conforme apresentado no quadro 1.

IMPACTOS POSITIVOS IMPACTOS NEGATIVOS Geração de emprego, renda e estímulo ao desenvolvimento econômico em vários níveis (local, regional, estadual, nacional);

Aumento do custo de vida, supervalorização dos bens imobiliários e conseqüente perda da propriedade de terras, habitações e meios de produção por parte das populações locais; Substituição de ocupações tradicionais por subempregos; Geração de fluxos migratórios para áreas de concentração turística;

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Estímulo à comercialização de produtos locais de qualidade;

Incremento do consumo de recursos naturais, podendo levar ao seu esgotamento; Estímulo ao consumo de suvenires produzidos a partir de elementos naturais raros;

Fixação das populações locais graças à geração de emprego e renda;

Adensamentos urbanos não planejados e favelização;

Possibilidade de melhoria de equipamentos urbanos e de infra-estrutura (viária, sanitária, médica, de abastecimento e de comunicações);

Aumento do consumo de combustíveis para os deslocamentos; Poluição do ar, visual e dos recursos hídricos; Aumento da produção de lixo e detritos nas localidades receptoras;

Ampliação dos investimentos voltados à proteção de áreas naturais e bens culturais;

Alteração de ecossistemas naturais devido à introdução de espécies exóticas de animais e plantas;

Sensibilização de turistas e populações locais para a proteção do ambiente, do patrimônio histórico e de valores culturais;

Melhoria do nível sociocultural das populações locais; e

Perda de valores tradicionais em conseqüência da homogeneização das culturas;

Intercâmbio de idéias, costumes e estilos de vida. Perda de valores tradicionais em conseqüência da homogeneização das culturas;

Quadro 1 – Possibilidades de impactos positivos e negativos do ecoturismo em áreas naturais Fonte: Elaborado pelo autor com base em Serrano (2000b, p. 216-217)

Em uma breve análise sobre o evidenciado por Serrano (2000b) observa-se que a partir

de cada impacto negativo proporcionado no ambiente é que podem surgir outros impactos

positivos, que são tidos como a solução para o problema dos impactos negativos. Percebe-se

também, que contraditoriamente à idéia apresentada, alguns impactos positivos não geram

outros negativos como no caso da sensibilização de turistas e populações locais quanto a

proteção do meio ambiente, onde vê-se que o mesmo pode ser tido como solução aos

impactos negativos. O mesmo caso pode ser evidenciado quando a autora trabalha com os

impactos positivos e negativos ocasionados em unidades de conservação, conforme

apresentado no quadro 2.

IMPACTOS POSITIVOS IMPACTOS NEGATIVOS Sustentação econômica da unidade de conservação;

Integração da unidade de conservação com as populações locais;

Necessidade de “sacrifício” de áreas para instalação de infra-estrutura;

Circulação de informações sobre o meio ambiente;

Aumento da oferta de atividades de lazer e recreação;

Pisoteamento, compactação, erosão e abertura de atalhos em trilhas; Depredação da infra-estrutura e de atrativos e elementos naturais; Estresse e desaparecimento da fauna em razão da presença humana; Aumento e/ou deposição inadequada do lixo; Aumento do risco de incêndios; Necessidade

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de “sacrifício” de áreas para instalação de infra-estrutura;

Ampliação da capacidade de fiscalização; Controle sobre grupos organizados; e Divulgação da unidade de conservação Pisoteamento, compactação, erosão e abertura de

atalhos em trilhas; Depredação da infra-estrutura e de atrativos e elementos naturais; Estresse e desaparecimento da fauna em razão da presença humana; Aumento e/ou deposição inadequada do lixo; Aumento do risco de incêndios;

Quadro 2 - Possibilidades de impactos positivos e negativos do ecoturismo em unidades de conservação

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Serrano (2000b, p. 217-218)

O que se tem dito sobre a atividade ecoturística, conforme relembra Wood (2002,

tradução nossa), é que muitas viagens e outros negócios turísticos têm sido

convencionalmente utilizados com o termo ‘ecoturismo’ na literatura e alguns governos tem

promovido destinações sem tentar implementar os princípios básicos do ecoturismo, como

apresentado anteriormente.

Nesse mesmo sentido, o governo brasileiro por meio do documento ‘Diretrizes para

uma Política Nacional de Ecoturismo’ evidenciou que a atividade desenvolvida no Brasil,

ainda está desordenada e tem sido impulsionada por oportunidades mercadológicas, o que não

ocasiona benefícios sócio-econômicos e ambientais, comprometendo o conceito e a qualidade

do produto ecoturístico (BARROS II, LA PENHA, 1994).

Desse modo, esse documento (BARROS II; LA PENHA, 1994, p. 21) estabelece

ações com suas devidas estratégias de execução, para que atenda aos seguintes objetivos

básicos propostos

compatibilizar as atividades de ecoturismo com a conservação de áreas naturais; fortalecer a cooperação interinstitucional; possibilitar a participação efetiva de todos os segmentos atuantes no setor; promover e estimular a capacitação de recursos humanos para o ecoturismo; promover, incentivar e estimular a criação e melhoria da infra-estrutura para a

atividade de ecoturismo; promover o aproveitamento do ecoturismo como veículo de educação

ambiental.

De acordo esses objetivos, observa-se que o último item está relacionado ao

aproveitamento do ecoturismo como veículo da educação ambiental, ou subjetivamente

entendido como a utilização da educação ambiental como ferramenta de desenvolvimento do

ecoturismo. Isso se dá, pois entende-se que o grupo interministerial identificou os problemas

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do desenvolvimento do ecoturismo, conforme mostra o anexo A, onde evidenciou-se a partir

da premissa de que essa atividade está desorganizada e desarticulada, a problemática do

comportamento inadequado do turista, o que tem causado inúmeros outros impactos

negativos.

Dentre as ações e estratégias propostas pelo documento (conforme mostra o anexo B)

para a solução dos problemas identificados, está a ação nº08 nomeada de ‘Conscientização e

informação ao turista’ (anexo C), que tem por objetivo “divulgar aos turistas atividades

inerentes ao produto ecoturístico e orientar a conduta adequada nas áreas visitadas”

(BARROS II; LA PENHA, 1994, p. 30). O desenvolvimento dessa ação, de modo geral,

passaria a informar melhor o turista sobre os produtos e ou destinos relacionados ao

ecoturismo, assim como, orientá-los sobre as condutas, os comportamentos e os hábitos e

atitudes ambientais em pról da conservação dos ambientes visitados, tentando-se minimizar os

impactos nocivos causados.

Essa ação ao se referir especificamente a educação ambiental, propõe a estratégia de

“apoiar programas de educação ambiental formal, em todos os níveis, de maneira

interdisciplinar” (Ibid., p. 30). Porém, ressalta-se que o ecoturismo é desenvolvido e realizado

em áreas supostamente naturais, que compreendem espaços diferenciados dos espaços da

educação ambiental formal (escola). Nesse caso, é necessário desenvolver-se a educação

ambiental nos espaços destinados ao desenvolvimento das atividades de ecoturismo, ao ar

livre, constatando-se um educação ambiental não formal (melhor delimitada adiante).

Diante do exposto, acredita-se que essa ação governamental está dissociada das

definições e dos conceitos de ecoturismo em relação ao desenvolvimento da educação

ambiental na atividade. Com isso, questiona-se a efetiva aplicação da educação ambiental no

ecoturismo, afinal, se uma prática genuinamente ecoturística necessita do desenvolvimento de

seu componente educacional, como é possível constatar seu desenvolvimento por meio da

política que norteia a atividade no país?

Acredita-se também que uma forma de potencializar a sustentabilidade na atividade

ecoturística é recorrer a educação ambiental apesar desta prática ser vislumbrada ainda como

uma questão bastante ideológica e conceitual, ao invés de ser incorporada como um

instrumento à ação do planejamento ecoturístico sendo capaz de elucidar valores e atitudes

comportamentais, comprometidas efetivamente com a conservação do meio ambiente natural.

Na tentativa de descortinar a visão parcial e lacunar que existe no mercado

ecoturístico, Ruschmann (1995) relatou por meio de um estudo algumas das características do

perfil dos clientes e das agências e operadoras de ecoturismo em nível nacional. Após um

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intervalo de sete anos, Ruschmann (2002) analisou e avaliou novamente as características do

mercado ecoturístico evidenciando uma pequena melhora na definição desse mercado, o que

possibilitou identificar um mercado um pouco mais sério, competitivo e profissionalizado,

possuindo turistas mais condizentes da importância da conservação ambiental e cultural11.

Atualmente, ainda pode-se afirmar que as dimensões do mercado ecoturístico ainda são pouco

conhecidas e pouco delimitadas.

Apesar dessa falta de delimitação e compreensão do mercado ecoturístico, Pires

(1998) afirma que uma experiência verdadeiramente ecoturística além de necessitar do meio

ambiente natural como cenário, dos atrativos naturais e também culturais, depende do

comprometimento com o manejo, com a conservação e com a sustentabilidade dos espaços

promovidos por meio da efetiva participação de comunidades locais e da difusão de uma

consciência ecológica proporcionada pela educação ambiental. Nesse sentido, Ruschmann

(2002, p. 133) corrobora enfatizando que ainda se busca um verdadeiro turismo ecológico,

entendido por ela como “[...] aquele que permite a apreciação e o estudo da natureza e suas

singularidades, sem comprometer a originalidade e autenticidade dos meios visitados”.

Para tanto, acredita-se que a evidência das relações supracitadas em uma atividade ou

mesmo em um destino de ecoturismo só possa ser alcançada por meio de ações e estratégias

devidamente vinculadas ao um processo de planejamento da atividade, mas contudo, também

é necessário estimular ações governamentais a fim de direcionar políticas públicas para seu

desenvolvimento.

Assim, Salvatti (2003, p. 34) entende o planejamento “[...] como a definição de

estratégias e meios para sair de uma situação atual visando alcançar uma situação futura

desejada”. A partir disso, acredita-se que tratar do planejamento do ecoturismo, é incorporar a

essa idéia os componentes de sustentabilidade, de educação ambiental e o envolvimento

comunitário, para que possa-se sair da realidade de uma atividade impactante e de uma

degradação ambiental para tornar-se, possivelmente, uma atividade e ou destino específico de

ecoturismo, ou mesmo nas interfaces com o meio natural e com uma gama variada de

atividades relacionadas aos esportes.

Salvatti (2003, p. 34; 47) também coloca que o planejamento é “[...] um processo

dinâmico e contínuo de definição de objetivos, metas e ações de forma integrada entre os

diversos agentes sociais de interesse”. Completa ainda que o planejamento do ecoturismo

“[...] deve ser apoiado em atividades que resultem no conhecimento das necessidades e

11 Para uma visão mais detida sobre o estudo ver Ruschmann (1995; 2002).

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expectativas dos atores sociais, do efetivo potencial ecoturístico em termos atrativos,

financeiros e de mercado e dos benefícios para a conservação e para as comunidades locais”.

Assim, sugere-se uma reflexão sobre as possíveis condições de que se o ecoturismo é

apropriado ao local, das potenciais e efetivas vantagens para a conservação da natureza e

também das necessidades e das expectativas dos atores sociais envolvidos.

Desse modo, tenta-se reunir essas reflexões, conforme mostra a figura 9, no

estabelecimento de um diálogo exatamente entre os envolvidos no processo planejamento do

ecoturismo. Segundo Salvatti (2003), isso possibilitará as definições das etapas desse

processo, mostradas conforme a figura 10. Sucintamente, a primeira etapa – análise da

situação – compreende o conhecimento da realidade e deve ser enfocada de modo a integrar

os âmbitos políticos, sociais, econômicos e ambientais (o que pode ser comparado com uma

análise sobre os critérios da sustentabilidade).

Figura 9 – Identificando as diferentes necessidades e interesses Fonte: Salvatti (2003, p. 50)

Tendo-se a realidade em mãos é possível determinar os objetivos e as metas a serem

alcançadas, bem como, o tempo necessário para isso. Posteriormente, decide-se as maneiras

que serão adotadas para o alcance dos objetivos propostos, podendo estar pautada por ações,

planos e programas. Por fim, deve-se avaliar o todo proposto e executado com a intenção de

evidenciar os aspectos positivos e negativos de cada etapa, bem como, de verificar os

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resultados efetivamente alcançados e os que ainda estão por vir. Nesse momento, também é

possível refletir e repensar sobre os objetivos, as ações e sobre todo o processo de

planejamento no intuito de se replanejar esse processo (Ibid.).

Figura 10 – Quatro passos no processo de planejamento do ecoturismo Fonte: Salvatti (2003, p. 46)

Diante dessa caracterização de um suposto processo de planejamento do ecoturismo,

cabe salientar que o governo federal, juntamente com outras instituições, identificou em 2001

os conjuntos de unidades territoriais com recursos naturais e culturais de significativa

expressão e potencial para a elaboração de produtos ecoturísticos qualificados, o qual

denominou de Projeto Pólos de Desenvolvimento do Ecoturismo no Brasil (MAGALHÃES,

2001a). O programa tinha por objetivo

[...] identificar as localidades brasileiras onde a prática do ecoturismo já vinha ocorrendo com algum sucesso e fazer um levantamento das características, das potencialidades e das condições de infra-estrutura nos locais onde o ecoturismo se apresentava como uma nova alternativa de desenvolvimento (MAGALHÃES, 2001b, p. 65).

Essa identificação promoveria condições para que o país alcançasse, por intermédio de

planejamento e ações conscientes, a condição de um dos principais destinos de ecoturismo do

mundo (MELLES, 2001).

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O Projeto Pólos de Ecoturismo do Brasil compreende os pólos como as “[...] áreas

onde as atividades ecoturísticas já vêm sendo desenvolvidas com sucesso, sendo promovidas

por um número variável de agentes, ou locais com condições naturais especiais mas poucas

atividades devido à falta de infra-estrutura e de organização” (MAGALHÃES, 2001a, p. 68).

O Projeto esclarece ainda que

para ser considerado como pólo é necessária a existência de um pacto de interesse e intenções que resulte em um modelo de gestão específica para estas localidades e na oferta de determinados produtos a um público que, passando a aceitá-los, estabelecerá a prática do ecoturismo no território em questão (Ibid., p. 68-69).

A realização do Projeto Pólos de Ecoturismo iniciou-se em 1997, quando a Embratur

(Instituto Brasileiro de Turismo) e o IEB (Instituto de Ecoturismo do Brasil) estabeleceram

parceria e definiram uma equipe multidisciplinar para atuar e identificar os pólos nas regiões

brasileiras. No intuito de desenvolver um programa que pudesse contribuir para a formação de

uma rede sistêmica do ecoturismo; facilitar a interação dos agentes públicos e privados que

atuam no setor; estimular novos negócios; promover a capacitação de recursos humanos; e

difundir conhecimentos que possibilitem a conscientização ambiental, organizou-se as fases

de desenvolvimento do programa (Ibid.).

Na primeira fase, caracterizada como conceituação, vislumbrou-se o cenário dos

possíveis pólos e das possíveis atividades de ecoturismo desenvolvidas. Também identificou-

se as unidades de conservação existentes em cada um dos pólos, bem como, efetivou-se

contato com as autoridades locais, com isso, elaborou-se e definiu-se o roteiro de visitas para

a fase seguinte, o levantamento (Ibid.).

Na fase de levantamento, coletou-se dados referentes aos aspectos, ambientais, sócio-

econômicos, infra-estruturais, turísticos, legais e políticos. Com o processamento desses

dados, iniciou-se a terceira fase e elaborou-se um diagnóstico sobre a situação dos locais

pesquisados (Ibid.).

Dessa situação, resultou-se a fase das proposições que de modo geral recomendou aos

estados e municípios a

- implementação de uma política de desenvolvimento sustentado que seja norteada pela e

para o ecoturismo;

- instalação de Comitês em cada pólo para a gestão dessa política;

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- atuação nos principais desafios apontados pelos estudos de campo e diagnósticos

realizados (vias de acesso; orientação e oferta dos produtos turísticos; e sinalização)

(Ibid.).

Diante dessas propostas sugeriu-se a utilização de uma matriz de avaliação, expressa

graficamente e interpretada qualitativamente, sendo pautada pela atribuição de pesos relativos

aos elementos territoriais que compõem o pólo e as atividades ecoturísticas, como forma de

auxiliar o comitê gestor a efetuar o monitoramento e a planejar as ações propostas aos

aspectos turísticos do pólo. Sugeriu-se ainda a criação de um centro de interpretação

ambiental e de informações aos visitantes como forma de estruturar o processo de

implantação do pólo (Ibid.).

Diante disso, acredita-se ainda que seja necessário inserir a educação ambiental nesse

processo de planejamento do ecoturismo para possa permear todas as etapas do planejamento

e auxilie, de acordo com suas possibilidades, o alcance dos objetivos de sensibilização da

sociedade, bem como, de conservação da natureza.

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3 AS BASES CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

3.1 Concepções sobre educação

Para que possa-se definir as bases que compõe a educação ambiental é preciso atenta-

se para o fato da mesma constituir-se como um prolongamento ou mesmo como uma vertente

da educação em si, assim sendo, primeiramente pretende-se delimitar as concepções da

educação.

A educação se faz como uma ferramenta, meio ou fim, indispensável à sociedade na

construção de seus ideais de paz, de liberdade e de justiça social, assim como também, no seu

contínuo desenvolvimento para atingir-se altos níveis de cultura. (PELICIONI, 2004b;

TRIGO, 2002).

Porém, como já salientava Durkheim (1978, p, 41) a educação tem sido realizada de

modo amplo para demonstrar o exercício dos homens acerca de suas vontades e inteligências

para com os outros homens, ou seja, salientava que em cada sociedade havia uma determinada

forma ou um momento para se desenvolver a educação, e a entendia como

a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na criança, centro número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine.

Ao mesmo tempo, o autor (Ibid., p. 41-42) via que o ser humano era composto por

dois seres, o ser individual “[...] constituído de todos os estados mentais que não se

relacionam senão conosco mesmo e com os acontecimentos de nossa vida pessoal”. E o ser

social constituído por “[...] um sistema de idéias, sentimentos e hábitos, que exprimem em

nós, não a nossa individualidade, mas o grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte;

tais são as crenças religiosas, as crenças e as práticas morais, as tradições nacionais ou

profissionais, as opiniões coletivas de toda espécie”, assim sendo, este constituiria a finalidade

essencial da educação.

As idéias de Durkheim (1978) sugerem uma educação voltada à ação do adulto sobre

o indivíduo, entendendo-o como uma ‘tábua rasa’ que ao surgir herda sua natureza de

indivíduo, mas ainda assim, necessita da ação social para que se construa enquanto ser

individual e social. O autor (Ibid., p. 81) lembra também que “o homem que a educação deve

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realizar, em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a

sociedade quer que ele seja [...]”.

Trigo (2002) aponta que a educação relaciona-se aos problemas sociais, culturais,

políticos e comportamentais, tendo manifestado-se durante o seu curso de diferentes maneiras,

mas sempre voltada à condição de melhoria da vida humana.

Conforme Freire (1980, p. 25) já salientava, a educação “[...] é um ato de

conhecimento, uma aproximação crítica da realidade”. O autor caracteriza que o ser humano

é tido como sujeito da educação e, por isso, reflete criticamente sobre o ambiente concreto e

sobre a realidade que o cerca, tornando-se consciente e comprometido, sendo capaz de intervir

e transformar o mundo.

Mas, essa aproximação da realidade / mundo em um primeiro momento traduz-se

numa posição ingênua e espontânea, sendo necessário que

ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma esfera critica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem assume uma posição epistemológica. A conscientização é, nesse sentido, um teste de realidade. Quanto mais conscientização mais se “des-vela” a realidade, mais se penetra na essência fenomênica do objeto, frente ao qual nos encontramos para analisado. [...] A conscientização não pode existir fora da “práxis”, ou melhor, sem o ato ação-reflexão. Esta unidade dialética constitui, de maneira permanente, um modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens (FREIRE, 1980, p. 26).

O autor (Ibid., p. 26-27) acrescenta ainda que “a conscientização não está baseada

sobre a consciência, de um lado, e o mundo de outro; por outra parte não pretende uma

separação. Ao contrário, está baseada na relação consciência-mundo”. Ou como explica

Guimarães (2005, p. 194) é a “[...] consciência em ação – conscientização”, um processo

individual em que não dissocia-se a razão e a emoção, a teoria e a prática e a reflexão e a

ação, no sentido de compreender as realidades do mundo, e de se transformar, transformando-

se assim, a sociedade.

Dessa forma, Delors et al (2002, p. 47) chamam a atenção para que “a compreensão

deste mundo, passa evidentemente, pela compreensão das relações que ligam o ser humano ao

seu meio ambiente”, dessa forma, a educação procura tornar os indivíduos conscientes de si

mesmos e dos outros, bem como de suas raízes culturais para que se respeite as outras

culturas, evidenciando assim, a responsabilidade solidária e ética dos valores iminentes à

cultura humana.

Em complemento, Loureiro (2004, p. 16) cita que

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a educação não é o único, mas certamente é um dos meios de atuação pelos quais nos realizamos como seres em sociedade – ao propiciarmos vivências de percepção sensível e tomarmos ciência das condições materiais de existência; ao exercitarmos nossa capacidade de definirmos conjuntamente os melhores caminhos para a sustentabilidade da vida; e ao favorecermos a produção de novos conhecimentos que nos permitam refletir criticamente sobre o que fazemos no cotidiano.

Direcionando-se para o foco dessa pesquisa Taglieber (2003) coloca que a relação

humana entre sociedade e natureza faz parte da educação na formação da cidadania. Essa

educação localizada na inter-relação entre sociedade, educação e natureza é denominada de

educação ambiental, e caracteriza-se como um fenômeno social que iniciou-se a mais de trinta

anos, portanto, não sendo algo novo.

3.2 Evolução da educação ambiental

Leonardi (1999) pautada nos ideais de Rousseau e Freinet, ressalta que a educação

para e com o meio ambiente, não é nova e inicia-se a partir do século XVIII quando insistia-se

na eficácia do meio ambiente como uma estratégia de aprendizagem, onde via-se a natureza

diferentemente de algo a ser conquistado e dominado. Isso justifica o porquê as histórias de

meio ambiente e educação ambiental se articulam e por vezes se confundem, e têm nas

Conferências e nos eventos mundiais suas inter-relações. Serrano (2000b, p. 211) corrobora

com essa exposição quando cita que

o contexto do surgimento dessas práticas é o mesmo daquele onde se originou a idéia de desenvolvimento sustentável, como um dos desdobramentos das discussões sobre os rumos da apropriação dos recursos naturais nos moldes praticados na sociedade urbano-industrial, estabelecidas a partir da década de 1960.

Cabe nesse momento, um destaque aos principais eventos relacionados, direta ou

indiretamente, a educação ambiental em ordem mundial. O primeiro deles a ser destacado é a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano realizada em 1972 em

Estocolmo, que segundo Dias (2000) e Diaz (2002), fez uma profunda reflexão sobre as

causas dos problemas ambientais e evidenciou a importância da educação ambiental ao

referenciar a responsabilidade do ser humano sobre esses problemas, recomendando assim, o

estabelecimento de um Programa Internacional de Educação Ambiental.

Esse Programa estabeleceu-se a partir do Encontro Internacional de Educação

Ambiental promovido em Belgrado (1975), que formulou os princípios e as orientações para

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um efetivo Programa Internacional de Educação Ambiental. Desse evento resultou ainda a

Carta de Belgrado que recomendava que os recursos fossem utilizados em benefício de toda

humanidade, proporcionando a todos um aumento na qualidade de vida (Ibid.).

Posteriormente, a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental ocorrida

em Tbilisi (1977) , tornou-se referência internacional para o desenvolvimento de atividades de

educação ambiental, pois contribuiu para a definição de seus princípios, objetivos e

características. Após dez anos, em 1987, realizou-se em Moscou, o Congresso Internacional

de Educação e Formação Ambiental com o objetivo de retomar as discussões sobre os ainda

insistentes e crescentes problemas ambientais, assim como, de analisar os sucessos e as

dificuldades dos países no desenvolvimento da educação ambiental (Ibid.).

Já em 1992 há a realização da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento no Rio de Janeiro que propôs uma estratégia global, a chamada Agenda 21,

como instrumentalização de uma política ambiental, relacionada a educação ambiental e a

capacitação com os problemas mais urgentes do desenvolvimento humano, no qual

vislumbra-se a importância de uma mudança nos hábitos e comportamentos dos seres

humanos (Ibid.). Outro resultado a se destacar é o Tratado de Educação Ambiental para

Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global que reconheceu o importante papel da

educação ambiental na formação de valores e na ação social, assim como, também delimitou

seus princípios e seu plano de ação (VIEZZER; OVALLES, 1994).

Após isso, realizou-se em 1997 em Thessaloniki a Conferência Internacional sobre

Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, que

mais uma vez alertou para a necessidade da realização de ações de educação ambiental na

defesa do meio ambiente (CASCINO, 2003).

Por fim, em continuidade a Conferência de 92 (RIO-92) realizou-se em 2002 em

Johannesburg a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como

RIO+10, tinha por propósito a obtenção de criar um efetivo plano de ação para a contenção

dos diversos problemas ambientais de caráter global e associados ao processo de globalização

(DINIZ, 2002).

Em relação ao Brasil a educação ambiental surge antes mesmo de sua

institucionalização com o movimento preservacionista / conservacionista no início dos anos

70 e, concomitantemente, a sua institucionalização vem logo em seguida em 1973 com a

criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) que evidencia a educação como

forma de garantir o uso adequado dos recursos naturais (ProNEA, 2005).

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Em 1981 é estabelecida a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) que coloca a

educação ambiental em todos os níveis de ensino, assim como, em 1988 a Constituição

Federal também evidencia essa tendência. Já em 1991, duas instâncias foram criadas para

cuidar desse assunto, o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental do Ministério da

Educação e Cultura (MEC) – que em 1993 se transformaria em Coordenação Geral de

Educação Ambiental – e a Divisão de Educação Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Em 1992 foi criado o Ministério do

Meio Ambiente (MMA) e, em seguida, o IBAMA cria os Núcleos de Educação Ambiental

para que pudesse operacionalizar as ações educativas no processo de gestão ambiental (Ibid.).

Em 1994 foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) que

responsabilizava-se pelas ações voltadas ao sistema de ensino e à gestão ambiental. Já em

1999 é então aprovada a lei nº9.795 que dispõe sobre a Política Nacional de Educação

Ambiental (PNEA), que passaria a constituir um importante marco da educação ambiental no

país (Ibid.).

O ProNEA (2005) salienta também a importância das redes de educação ambiental

para o fortalecimento da institucionalização da educação ambiental no país. Para tanto, em

2001 o governo federal por meio do FNMA (Fundo Nacional de Meio Ambiente) apoiou o

fortalecimento da REBEA12 (Rede Brasileira de Educação Ambiental), da REASul13 (Rede

de Educação Ambiental da Região Sul), entre outras.

Cabe esclarecer que esses são alguns dos principais eventos e acontecimentos

nacionais e internacionais que aparecem sucintamente na pesquisa, pois marcam pontos de

evolução nas delimitações acerca da educação ambiental.

A partir disso, conforme observa Dias (2000, p. 98), houve uma evolução nos

conceitos devido ao processo histórico e discursivo sobre as inúmeras questões ambientais

mundiais, porém, essa evolução sempre esteve relacionada aos conceitos de meio ambiente e

ao modo como esse era percebido pela sociedade. O autor ressalta ainda, que “o conceito de

meio ambiente, reduzido exclusivamente a seus aspectos naturais, não permitiria apreciar as

inter-dependências nem a contribuição das ciências sociais e outras à compreensão e melhoria

do ambiente humano”.

Por isso, salienta-se que é necessário compreender e esclarecer as representações

sociais, de indivíduos e grupos, sobre o meio ambiente e, consequentemente, sobre sua

problemática ambiental e suas soluções sustentáveis, pois essas poderão modificar e

12 Para maiores informações sobre a REBEA indica-se a consulta do site: www.rebea.org.br 13 Para maiores informações sobre a REASul indica-se a consulta do site: www.reasul.org.br

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direcionar as atuais práticas e teorias de educação ambiental, sem necessariamente, haver a

insistência em modificar-se as representações sociais para que a sociedade se ‘conscientize’

dos problemas ambientais (GUERRA, 2001; SATO, 2002; SAUVÉ, 1997).

A representação social pode ser entendida, conforme pontua Moscovici (1978 apud

REIGOTA, 2002, p. 124) “[...] como sendo o conhecimento do senso comum, sobre um

determinado tema [...]”, e como afirma Jodelet (1984 apud REIGOTA, 2002, p. 124) “[...] são

como sistemas de pensamentos que sustentam as práticas sociais”. A mesma autora em outro

momento (1989 apud REIGOTA, 2002, p. 124) completa ainda que

[...] as representações sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos, mentais e sociais e integrando, ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação, a consideração das relações sociais que afetam as representações e a realidade material, social e ideal sobre as quais elas vão intervir.

Dessa forma, cabe dizer que há uma relação de causa e efeito nas relações pautadas

pela prática social no meio ambiente, pois pressupõe-se que dependendo de como a sociedade

entende o meio ambiente, isso explicará suas ações em pról ou em descaso para com o

mesmo.

Desse modo, Sauvé (1992, 1994 apud SAUVÉ, 1997) apresenta as tipologias de

concepções de meio ambiente que, possivelmente, possam nortear as práticas de educação

ambiental, conforme mostra o quadro 3. A autora ressalta que esses arquétipos se constituem

como complementares e podem ser combinados com um ou mais elementos, o que possibilita

além de identificar as representações, verificar suas características e suas formas de atuação.

Coloca ainda, que essas concepções “[...] podem ser consideradas numa perspectiva

sincrônica: elas coexistem e podem ser identificadas nos diferentes discursos e práticas atuais.

Mas elas podem ser enfocadas diacronicamente, porque são resultados da evolução da

história”.

Ambiente Relação Características Metodologias Como natureza para ser apreciado e

preservado natureza como catedral, ou como um útero, pura e original

exibições; imersão na natureza

Como recursos para ser gerenciado herança biofísica coletiva, qualidade de vida

campanha dos 3 Rs; auditorias

Como problema para ser resolvido ênfase na poluição, deteriorização e ameaças

resolução de problemas; estudos de caso

Como lugar para viver ea para, sobre e no para cuidar do ambiente

a natureza com os seus componentes sociais,

projetos de jardinagem; lugares ou lendas sobre

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históricos e tecnológicos

a natureza

Como biosfera como local para ser dividido

espaçonave Terra. “Gaia”, a interdependência dos seres vivos com os inanimados

estudos de caso em problemas globais; estórias com diferentes cosmologias

Como projeto comunitário

para ser envolvido a natureza com o foco na análise crítica, na participação política da comunidade

pesquisa(ção) participativa para a transformação comunitária; fórum de discussão

Quadro 3: A tipologia das concepções sobre o meio ambiente na Educação Ambiental Fonte: SAUVÉ (1992, 1994 apud SAUVÉ, 1997)

Identificar uma ou mais dessas concepções em indivíduos ou grupos de indivíduos

representaria identificar a representação social dessa população o que possibilitaria, no caso

da educação ambiental, um desenvolvimento mais detido nas possibilidades de solucionar os

problemas ambientais. Assim, Tuan (1980, p. 68) afirma que

para compreender a preferência ambiental de uma pessoa, necessitaríamos examinar sua herança biológica, criação, educação, trabalho e os arredores físicos. No nível de atitudes e preferências de grupo, é necessário conhecer a história cultural e a experiência de um grupo no contexto de seu ambiente físico. Em nenhum dos casos é possível distinguir nitidamente entre os fatores culturais e o papel do meio ambiente físico.

Guerra (2001, p. 303) complementa ressaltando que a história brasileira retrata a

concepção da natureza e do meio ambiente enquanto fonte de recursos infinitos, pois não se

tem uma “[...] cultura ou sentimento de preservação”. Por isso, Sato (2002) salienta que a

educação ambiental deve ser recriada, avaliando-se o convívio coletivo e a relação da

sociedade perante o mundo, ou seja, deve-se observar a educação ambiental como um

conjunto de relações sociais que determinam a dinamicidade do mundo. Afinal, como Tuan

(1980) já atentava, que somente à medida em que a sociedade e sua cultura evoluem com o

tempo é que pode-se haver uma mudança de atitude para com o meio ambiente.

3.3 Concepções sobre educação ambiental

Uma parte da evolução supracitada pode ser percebida ao momento em que as

discussões mundiais sobre meio ambiente evidenciam as definições e também evoluem nos

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conceitos sobre educação ambiental, tendo-a como uma parte do processo de evolução, bem

como, de mudança de atitudes.

Desse modo, a evolução dos conceitos de educação ambiental se dá a partir do

momento em que a Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977 apud SATO, 1999, p.

23-24) define a educação ambiental como

um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisão e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida.

Em complemento Viezzer e Ovalles (1994, p. 20) colocam que a educação ambiental é

“[...] uma proposta de filosofia de vida que resgata valores éticos, estéticos, democráticos e

humanistas”. Para tanto, Guimarães (2001, p. 15) evidencia que a educação ambiental

[...] tem o importante papel de fomentar a percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambiente. Uma relação harmoniosa, consciente do equilíbrio dinâmico na natureza, possibilitando, por meio de novos conhecimentos, valores e atitudes, a inserção do educando e do educador como cidadãos no processo de transformação do atual quadro ambiental do nosso planeta.

Sato (2002, p. 17) corrobora entendendo a educação ambiental como

[...] um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Esta afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica, além de estimular a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservem entre si relação de interdependência e diversidade, fato que requer responsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e planetário.

Conforme atenta Dias (2000) o Brasil privilegia-se por dispor de uma política nacional

específica de educação ambiental, e isto faz com que além de conceituá-la, a educação

ambiental seja institucionalizada. Em relação a isto salienta-se que em virtude dos

compromissos assumidos com a Constituição Federal de 1988 e com a Rio-92 foi criado em

1994 o Programa Nacional de Educação Ambiental que é executado pela Coordenação de

Educação Ambiental do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério do Meio Ambiente

(MMA) / IBAMA (ProNEA, 2003). A diretoria do ProNEA (2003, p. 06) com a intenção de

“[...] promover a articulação das ações voltadas às atividades de proteção, recuperação e

melhoria socioambiental, e de potencializar a função da educação para as mudanças culturais

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e sociais [...]” inseriu em 1999 a educação ambiental no planejamento estratégico do governo

federal, por meio da Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA.

Essa política considerou a educação ambiental como

[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, sem número de página).

Em termos práticos e conceituais esse é o conceito nacionalmente aceito e utilizado

política ou academicamente e acredita-se que compila as principais idéias dos outros

conceitos, pois evidencia o processo educativo como uma das formas de conservação da

natureza, bem como, que para alcançar esse objetivo é necessário a construção de valores e a

ação da coletividade em pról da sustentabilidade.

No ponto de vista de Reigota (1998, p. 10) a educação ambiental “[...] deve ser

entendida como educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para

exigirem justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais

e com a natureza”. O mesmo autor (Ibid., p. 12) evidencia que a educação ambiental si só não

resolverá os complexos problemas ambientais, mas poderá

influir decisivamente para isso, quando forma cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, tendo consciência e conhecimento da problemática global e atuando na sua comunidade, havendo uma mudança no sistema, que se não é de resultados imediatos visíveis, também não será sem efeitos concretos.

Para uma maior delimitação sobre a educação ambiental, Sorrentino (1995 apud

LEONARDI, 1999) classificou as variadas correntes de educação ambiental em quatro

categorias, sendo a conservacionista; a educação ao ar livre; a gestão ambiental; e a economia

ecológica. Sem a intenção de aprofundar os estudos sobre essas categorias, justifica-se por ser

foco dessa pesquisa, apresentar a corrente da educação ao ar livre e por estar relacionada e

presente entre os naturalistas que incentivavam as caminhadas ecológicas, as trilhas de

interpretação da natureza, o turismo ecológico e o autoconhecimento na relação com a

natureza.

Leonardi (1999, p. 397) relembra que essas correntes estão diretamente relacionadas

as diferentes formas de se fazer educação ambiental, também classificadas em quatro

conjuntos de temas ou objetivos da educação ambiental, os biológicos; os espirituais/culturais;

os políticos; e os econômicos. Com isso, a autora propõe como um objetivo geral da educação

ambiental, “[...] contribuir para a conservação da biodiversidade, para a auto-realização

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individual e comunitária e para autogestão política e econômica, mediante processos

educativos que promovam a melhora do meio ambiente e da qualidade de vida”.

Além dos objetivos, a educação ambiental pode ser classificada segundo Leonardi

(1999, p. 397) em função do espaço onde é desenvolvida, sendo formal, não formal e

informal. A educação ambiental formal ocorre sempre em âmbito escolar, enquanto a não

formal é “[...] exercida em outros e variados espaços da vida social, com metodologias,

componentes e formas de ação diferentes da formal [...]” e a informal ocorre ‘informalmente’

no cotidiano da sociedade, principalmente, promovida pelos diversos meios de comunicação.

Em complemento ao exposto acerca da educação ambiental não formal, a PNEA

(BRASIL, 1999) a entende como “[...] as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização

da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da

qualidade do meio ambiente”. E dentre os incentivos governamentais à educação ambiental

não formal, relacionados a essa pesquisa, estão “a sensibilização da sociedade para a

importância das unidades de conservação” e “o ecoturismo” (os demais constam no anexo D).

Ao mesmo tempo que a PNEA apresenta o trabalho da educação ambiental não

formal, observa-se que há a necessidade de uma maior delimitação, assim como, de

evidenciar formas pela qual a educação ambiental não formal sensibilize efetivamente a

sociedade e também a forma como é aplicada ao ecoturismo. Desse modo, contata-se uma

incompatibilidade dessas ações, pois não tornam-se claras as estratégias e as formas como

essas efetivamente ocorrerão.

Ao acreditar na educação ambiental como um caminho para a tomada de consciência

ambiental e garantia de um futuro sustentável, Leff (2001) cita que a educação ambiental

fomenta novas atitudes nos sujeitos sociais, guiados pelos princípios de sustentabilidade

ecológica e cultural, que contradizem o desenvolvimento econômico atual, o que implica em

educar para formar um pensamento crítico e prospectivo, capaz de analisar as complexas

relações existentes entre processos naturais e sociais.

Contudo, Serrano (2000a) e Capra (2003) salientam a importância do desenvolvimento

de uma relação vivencial e afetiva da sociedade, em um ambiente multisensorial, voltado à

vivência de experiências que estimulem a reflexão e a sensibilidade para a consolidação do

aprendizado e a construção de um futuro sustentável.

Portanto, a educação ambiental segundo Dias (1993, p. 02) tem “[...] a tarefa de

estimular o desenvolvimento de uma nova consciência a respeito das relações do homem com

o seu ambiente, e produzir novas condutas capazes de levar as pessoas a se envolverem com

as questões ambientais”.

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Nesse caso, Mendonça (2005a, p. 537) cita que as experiências ecoturísticas possuem

elevado potencial para a interiorização de princípios da educação ambiental, pois “[...]

promovem o aprimoramento das relações dos indivíduos, consigo mesmos e auxiliam a tornar

conscientes as relações que as pessoas têm umas com as outras e com o meio natural”.

Além disso, a mesma autora (2005b, p. 169) afirma também que essas experiências

podem

[...] ativar um energia mental totalmente nova e levar o visitante a experimentar, a partir da possibilidade e do estímulo à criatividade e à afetividade, novos sentimentos capazes de dar origem a novos pensamentos e, assim, a novas possibilidades de compatibilização e harmonização da presença humana no planeta.

Esse sentimento interiorizado e apreendido pelas experiências ecoturísticas (em

contato direto com a natureza) proporciona a possibilidade de novos comportamentos e de

novas atitudes nos indivíduos em função não somente do sentido, mas também do percebido.

Esse processo educativo, segundo Tuan (1980, p. 05) é tido como um “[...] elo afetivo entre a

pessoa e o lugar ou ambiente físico”, denominado de topofilia, onde a atitude representa uma

postura cultural, formada pela sucessão de percepções, também entendidas como

experiências.

Nesse sentido, Cascino (1998, p. 09) afirma que

o contato com a natureza é sempre uma ruptura. Sentir medo do horizonte, da altura, da profundidade, do vento, do frio, do sol escaldante, do mato fechado, do barulho dos animais, do poder dos insetos, da precariedade e do desconforto remete-nos a rompimentos como nossos comportamentos mais ‘assentados’. E essas rupturas abrem ‘brechas’ para a introdução/construção de novas leituras/discursos sobre o que somos, o que gostamos, o que acreditamos. Romper com formas consagradas de falar, ver e sentir é um caminho saudável de construir o novo. E o novo só aparece quando se lhe dá espaço. Forçar rupturas enfrentando voluntariamente situações inesperadas fundamenta mudanças.

Para tanto, esse processo pode ser considerado um processo educativo, pois promove a

aprendizagem e pode ser explicado pelo diagrama de Cooper (1993 apud DIAS, 1993, p. 03;

DIAS, 2000, p. 111) que apresenta as categorias dos objetivos da educação ambiental,

conforme mostra a figura 11.

Percebe-se que as categorias de objetivos que compõe o diagrama (consciência,

conhecimento, comportamento, habilidades e participação) estão integradas e inter-

relacionadas, o que nos submete ao entendimento que seu funcionamento ocorra de modo

sistêmico, ou seja, indicam que há uma relação direta entre cada uma das categorias sendo

possível alcançar os objetivos propostos por determinada atividade e ou situação de educação

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ambiental. Como exemplificação, entende-se que a sensibilização e a conscientização14 só

serão possíveis se integradas a partir do conhecimento e da compreensão de uma determinada

situação, onde haja um ação e ou interação dos envolvidos no intuito de desenvolver

habilidades, atitudes, valores e comportamentos em pról da solução de determinada situação.

Figura 11: Categoria de objetivos da educação ambiental Fonte: Cooper (1993 apud DIAS, 1993, p. 03; DIAS, 2000, p. 111)

Guerra (2001, p. 318) corrobora com o entendimento sobre o processo educativo

quando apresenta a dimensão ambiental na educação, conforme mostra a figura 12, como

forma indissociável de ação – reflexão – ação no processo de aprendizagem. O autor (Ibid., p.

314, grifo do autor) ressalta ainda que

o processo de ensino e aprendizagem supõe, basicamente, a comunicação e a transmissão tanto de informações como a construção e reconstrução de conhecimentos, habilidades e competências, o que implica mudanças de hábitos e valores que constituem o que denominamos de “conteúdo” desse processo educativo.

Em seu estudo, o autor (Ibid.) evidenciava a inserção da dimensão ambiental no

currículo de uma educação ambiental formal vinculada ao processo de escolarização, mas

acredita-se que esse seja um meio efetivo para analisar a vertente ambiental na educação e que

seja também possível, futuramente, adaptá-lo à outras áreas.

14 Apesar de aqui, em outros referenciais ou mesmo pelo senso comum, sensibilização e conscientização são tratados como termos semelhantes mas, ressalta-se como diferenciação que sensibilizar é tocar profundamente os sentidos de alguém, e conscientizar é o processo que esse alguém passa ao interiorizar os valores e a agir de acordo com o mesmo.

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Nesse sentido, o mesmo autor (Ibid.) relata que o planejamento e a organização do

caminho educativo percorrido pelo ser humano é pautado pelo desenvolvimento das

dimensões do conteúdo para a educação ambiental – conhecimentos e outros saberes;

habilidades; competências; atitudes e valores éticos e estéticos; e relações inter e intra

pessoais.

Figura 12: A dimensão ambiental na educação Fonte: Guerra (2001, p. 317)

Esses conteúdos da educação ambiental interagem e sofrem interações de modo

sinérgico com os processos de aprendizagens, que Delors et al (2002) classificaram como os

quatro pilares da educação – aprender a conhecer, a fazer, a viver juntos e a ser.

Delors et al (2002) compreendem o pilar aprender a conhecer com um domínio dos

instrumentos do conhecimento que são considerados como um meio e como uma finalidade à

vida humana. É considerado um meio pois tem o intuito de que cada um compreenda o mundo

que o cerca e é considerado uma finalidade pois fundamenta-se no prazer que se tem em

compreender o mundo.

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Guerra (2001) denomina esse processo de aprendizagem como pensar globalmente e

saber, e relaciona-o à dimensão cognitiva do conteúdo da aprendizagem, que é representada

tanto pelos conhecimentos adquirido e construído, quanto pelos conhecimentos culturais

proporcionados pelas crenças, tradições e saberes locais. Esse autor acrescenta ainda que

esses saberes norteiam a compreensão de mundo de cada um por estarem inscritos na

corporeidade e por serem resultantes da interação do aprendente com o meio que o cerca.

Já o pilar da educação aprender a fazer é compreendido por Delors et al (2002) como

uma questão relacionada à formação profissional, ou seja, ensinar o aluno a praticar

profissionalmente os seus conhecimentos teóricos.

Guerra (2001) além de manter a mesma denominação a esse pilar, ainda corrobora

quando o trata como um processo de aprendizagem associado à dimensão metodológica do

conteúdo da aprendizagem. O mesmo autor (Ibid.) esclarece que a dimensão metodológica

relaciona-se ao desenvolvimento de habilidades e competências que, consequentemente, leva

o aprendente ao desenvolvimento da autonomia, da percepção estética e da sensibilização para

os problemas sócio-ambientais.

O autor (Ibid., p. 317) ressalta ainda que “esse saber fazer permite um saber-poder

capaz de, pela ação – reflexão – ação, pela vontade e participação (engajamento), buscar

soluções criativas para a resolução desses problemas e transformar a realidade e mudar a

própria história”.

Entretanto, Guerra (2001) salienta que para haver uma articulação entre as dimensões

cognitiva e metodológica, é necessário desenvolver-se a dimensão afetiva, afinal, o processo

de sensibilização que leva à conscientização necessita da subjetividade e da corporeidade para

a mudança de atitudes e valores. Ao mesmo tempo, o autor (Ibid.) esclarece que nesse

processo o aprendente sozinho pouco altera a realidade, sendo necessário a presença do outro,

ou seja, a educação ocorre na ação – reflexão – ação em conjunto aos grupos sociais, pautada

por meio da cooperação, da solidariedade e da reflexão acerca das responsabilidades inerentes

aos indivíduos da sociedade (para consigo, com o outro e com o meio como um todo).

Diante dessas responsabilidades, Guerra (2001) coloca que a dimensão ecosófica15

está intimamente relacionada a ação – reflexão – ação, pois além de recompor as práticas

sociais e individuais, também desenvolve o processo de aprendizagem do saber sentir, querer

e agir. Por isso, evidencia-se que os processos de aprendizagem saber sentir, querer e agir, e

15 Guerra (2001) relata que a dimensão ecosófica, das “três ecologias” de Guattari (1994) está relacionada aos níveis da ética e da cidadania por permear as relações entre as ecologias da subjetividade humana, a social e a ambiental.

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novas formas de saber ser e conviver estão diretamente relacionadas às dimensões afetiva e

ecosófica da aprendizagem.

Delors et al (2002) complementam essas idéias evidenciando que o pilar da educação

aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros está relacionado à tomada de

consciência dos indivíduos sobre as relações de inter-dependência entre os seres humanos e o

ambiente como um todo. Isso demonstra as possibilidades de respeitar-se os seus limites e os

limites do ambiente, tendo-se claramente as responsabilidades de cada um no processo de

convívio consigo e com os outros.

Da mesma forma, Delors et al (2002) esclarecem que o pilar da educação aprender a

ser está relacionado ao desenvolvimento do conhecimento do ser humano em relação a si e ao

outro. Para tanto, os autores (Ibid., p. 101) afirmam que “[...] a educação é antes de mais nada

uma viagem ao interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da

personalidade”. Nesse sentido, a educação tem o papel de “[...] conferir a todos os seres

humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que

necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos

do seu próprio destino” (Ibid., p. 100).

Diante disso, Guerra (2001, p. 318) enfatiza que todo esse processo de educação, com

sua dimensão ambiental, “[...] gera um saber-poder de mudança que nos conduziria a novas

formas de aprender e saber fazer, e também de saber ser e de conviver com os outros”.

Mais especificamente em relação a educação ambiental, o autor (Ibid., p. 318) ressalta

que é “[...] um processo de (re)educação, ou seja, significa que precisamos reaprender a viver

e nos (re)integrarmos consigo mesmo, com o outro, na e com a natureza, sentindo, pensando e

agindo como partes integrantes dela mesma”.

Com isso, o que a educação ambiental pretende fazer é com que a sociedade aprenda

como está organizado e como funciona o meio ambiente natural e, ao mesmo tempo, o quanto

a mesma depende dele, como o afeta e também como pode-se promover a sua sustentabilidade

(figura 13) (DIAS, 2000).

Todo esse processo característico da educação ambiental é para Guimarães (2001, p.

28) a concepção de uma educação ambiental crítica da realidade, pois a considera

transformadora de valores e atitudes através da construção de novos hábitos e conhecimentos, criadora de uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações integradas ser humano/sociedade/natureza objetivando o equilíbrio local e global, como forma de obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de vida.

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Figura 13: Pretensão da educação ambiental Fonte: Dias (2000, p. 100)

Guimarães (2001) também evidencia a educação ambiental a partir de um processo de

planejamento (figura 14) que parte de uma análise crítica da realidade local inserida numa

visão global e que, posteriormente, possibilita o desenvolvimento das etapas de diagnóstico,

de plano de ação e de execução. Para tanto, percebe-se que esse planejamento foi

desenvolvido com base na educação formal, mas acredita-se que possa ser aplicado também a

educação não formal, por exemplo, desenvolvida em um destino ecoturístico.

Sucintamente, a partir das idéias de Guimarães (2001) pensa-se que a etapa

diagnóstico evidenciará a realidade e, consequentemente, os problemas ambientais existentes

naquele local, sendo necessário a elaboração de um plano de ação para sensibilizar a

sociedade local e os visitantes de forma prazerosa, informativa e criticamente sobre a

realidade do local. Desse modo, passa-se a etapa de execução do plano de modo a construir a

práxis em educação ambiental, ou seja, um processo pelo qual desenvolve-se uma educação

ativa a partir de práticas sociais sobre o meio vivenciado onde estabelece-se um ciclo e

retorna-se ao final do processo dessa prática social com uma compreensão e um ação

devidamente alterada.

Em complemento a isso, o autor (Ibid., p. 48) esclarece que o processo da práxis da

educação ambiental concretiza-se no momento em que “[...] educando e educador exercitam a

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reflexão / ação na construção desses novos valores e atitudes que integram os ser humano /

natureza”.

Figura 14: Planejamento em educação ambiental Fonte: Guimarães (2001, p. 49)

Reigota (1998b) salienta que pensar em mudanças na sociedade perante a natureza é

uma utopia, porém não entendida como ingênua ou impossível, mas como um conjunto de

idéias que podem proporcionar atividades que modifiquem o atual sistema (social, econômico,

ambiental e cultural).

Nesse sentido, esse processo educativo por meio das experiências (ecoturísticas ou

não) realizadas em meio ambiente natural (natureza), pode proporcionar novas expectativas e

novas perspectivas no sentido sensitivo, ou seja, inicia-se assim, um processo de

sensibilização ou a chamada topofilia, do indivíduo ou do grupo a ele relacionado, que

aprende com a experiência devido a originalidade de seu meio e que poderá proporcionar a

conscientização. Lembrando que ninguém conscientiza ninguém, a conscientização é uma

autogestão do próprio indivíduo que atinge um ponto racional perante determinado tema ou

problemática.

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Portanto, a partir de então, identifica-se as formas como os outros processos

educativos relacionados à educação ambiental estão organizados, bem como, as suas

possibilidades de aplicação ao ecoturismo e as potencialidades que os mesmos possuem para

sensibilizar a sociedade aos problemas ambientais, assim como, as novas formas de se sentir

integrado à natureza.

3.4 Modalidades de educação ambiental não formal ao ar livre

As formas de se realizar a educação ambiental, ganham aqui o termo ‘modalidades’

por convencionalmente serem utilizadas como as maneiras, os instrumentos, as ferramentas

ou, em seu termo mais acadêmico e contemplativo, as metodologias empregadas ao

desenvolvimento de tais práticas educativas. Tem-se a pretensão de apresentá-las

sucintamente, exatamente pautadas em seus enfoques de escopo teórico-metodológicos, assim

como, em suas práticas.

Cabe salientar que as modalidades denominadas de aprendizado seqüencial,

interpretação ambiental e educação experiencial compõem as práticas relacionadas à educação

ambiental não formal ou também chamadas de educação ambiental ao ar livre.

Pressupõe-se que, provavelmente, existam outras modalidades de educação ambiental,

porém as aqui apresentadas caracterizam-se como as modalidades até então identificadas e

que se aplicam ou que podem ser aplicadas ao ecoturismo. Essa aplicação tem o intuito de

compor o processo educativo relacionado ao aprendizado proporcionado pelas sensações e

experiências advindas do contato com a natureza que, supostamente, modificam os

comportamentos e consequentemente as atitudes dos indivíduos perante a natureza perfazendo

assim, o possível benefício de conservação da natureza das áreas visitadas.

3.4.1 Aprendizado seqüencial (AS)

As possíveis experiências na natureza, fizeram um naturalista, profundo conhecedor de

percepções na natureza e da educação ao ar livre, elaborar segundo Mendonça (2000, p. 135)

“[...] uma metodologia original para facilitar e aprofundar a interação que podemos ter com a

natureza”. Joseph Cornell difundiu seu trabalho e sua metodologia por meio da Fundação

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Sharing Nature, com sede nos Estados Unidos e representada em vários países, inclusive no

Brasil, pelo Instituto Romã e por sua coordenadora Rita Mendonça.

Segundo Cornell (1997, p. 17) o aprendizado seqüencial é considerado uma maneira

pela qual a educação ambiental organiza suas atividades com o objetivo de proporcionar

mudanças de comportamentos, por meio da elucidação de valores. Possui como objetivo “[...]

proporcionar uma experiência genuinamente positiva com a natureza”.

Mendonça (2000) salienta que a forma pela qual se desenvolve a metodologia e suas

atividades representam uma reflexão e a construção de conhecimentos sobre as possibilidades

de interações humanas com a natureza, revelando que essas são inúmeras e que devem ser

aprimoradas.

Cornell (1997, p. 13) preocupa-se com a compreensão e o sentido que as pessoas

possuem em relação a conservação das áreas naturais e lembra que “[...] a sensibilidade em

relação à vida é o fruto mais precioso da educação”, desse modo, ressalta que “[...] à medida

que começamos a sentir uma comunhão com os seres vivos que nos rodeiam, nossas atitudes

tornam-se mais harmoniosas e fluem com naturalidade, e, por conseguinte, passamos a nos

preocupar com as necessidades e o bem-estar de todas as crianças”.

Porém, Mendonça (2000, p. 138) salienta que não há como possuir uma “[...]

consciência conservacionista da natureza se a relação afetiva com ela não estiver impregnada

na cultura de um povo”, desse modo, atenta-se para a questão de que “se o ecoturismo visa ser

o motivador da conservação da natureza e das culturas locais, ele não pode deixar de ser, entre

outras coisas, o facilitador desse diálogo”.

Por isso, as experiências diretas com a natureza possibilitam penetrar de maneira

completa no espírito do mundo natural e auxiliam na descoberta individual do profundo

sentimento de pertinência e compreensão. Assim como cita Cornell (1997, p. 38) “[...] as

experiências diretas são necessárias para desenvolver sentimentos de amor e preocupação pela

terra, caso contrário, as pessoas passarão a conhecê-la de modo superficial e teórico, sem

nunca serem tocadas profundamente”.

Assim, Cornell (1997) desenvolveu um conjunto de princípios denominado

‘Aprendizado Seqüencial’, que descreve como usar as atividades de conscientização na

natureza de modo gradativo e direcionado. O conjunto de princípios é composto de quatro

estágios: o despertar do entusiasmo; o concentrar a atenção; o dirigir a experiência; e o

compartilhar a inspiração. Essa denominação, aprendizado seqüencial, é justificada pelo fato

de que os estágios fluem de um para o outro, suave e naturalmente, fazendo com que o

indivíduo passe pelos diferentes estágios e alcance estruturas mentais proporcionadas pelas

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experiências diretas e profundas com a natureza. O mesmo autor (Ibid., p. 17) ressalta ainda

que após “[...] uma sessão conduzida com sucesso, cada participante adquire uma nova,

agradável e sutil conscientização de sua unidade com a natureza e uma intensa empatia com a

vida”.

Nesse sentido, o Instituto Romã ([2005?]) esclarece que a metodologia “[...] consiste

na proposição de dinâmicas e jogos organizados em uma seqüência, conduzindo os

participantes a um estado de concentração da atenção cada vez maior. De forma sutil e

divertida, a técnica promove experiências profundas para os participantes e é uma eficaz

ferramenta de trabalho para o educador”.

Cornell (1997) explica que o estágio do entusiasmo é marcado pelo fluxo calmo e

intenso de interesse com grande dose de vitalidade; o estágio atenção é necessário para se

concentrar em determinada atividade; o estágio experiência é voltado a experimentar o

contato direto com a natureza; e por fim, o estágio inspiração é proporcionado pela

experiência que aguça a percepção. Mendonça (2000) completa que, para experienciar a

natureza, necessita-se ampliar as capacidades de percepção. Assim, o aprendizado seqüencial

possui “[...] o poder de ajudar as pessoas a eliminar as preocupações de modo que possam se

descontrair, se divertir e apreciar a natureza” (CORNELL, 1997, p. 25-26).

De forma a elucidar com maiores detalhes as qualidades e as vantagens

proporcionadas pelos estágios caracterizados acima, apresenta-se no anexo E o quadro do

aprendizado seqüencial desenvolvido por Cornell (1997, p. 46-47).

O aprendizado seqüencial possibilita às pessoas o aprendizado direto com a natureza, a

partir de experiências também diretas, propiciadas pelo desenvolvimento dos diferentes

estágios. Isto elucida o principal fator para efetiva conservação das áreas naturais: a

afetividade.

No Brasil o intuito de aplicar a afetividade e o aprendizado pelos sentidos em diversas

atividades tem possibilitado o desenvolvimento de experiências, que segundo Mendonça

(2000, p. 152), constituem-se em adaptações da metodologia aplicadas em atividades de

ecoturismo, justificadas pela “[...] observação de que a simples visita à natureza nem sempre é

suficiente para proporcionar ao visitante uma empatia com as outras formas de vida e uma

interação pessoal com elas”. A autora coloca ainda que

[...] a grande vantagem em se buscar promover uma visita mais consciente está no conhecimento de seu potencial transformador dos indivíduos que, ao voltar renovados para a casa possam desejar a busca de estruturar sua vida com maior qualidade e responsabilidade (Ibid., p. 153).

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As práticas do aprendizado seqüencial de que se tem notícias, segundo Mendonça

(2000; 2005b), são realizadas pelo Instituto Romã nos parques de São Paulo: o PETAR

(Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira) e o Parque Estadual da Cantareira, e consistem

em atividades lúdicas que vão desde uma simples contemplação da beleza natural até a prática

de exercícios físicos, na forma de esportes radicais (rafting, rappel, entre outros). A autora

(2005a) explica ainda que essas práticas consistem na aplicação de um roteiro de atividades,

antecipadamente planejadas, de acordo com o perfil do público e com o espaço físico

disponível, tem duração média de duas horas e seguem os estágios propostos por Cornell.

3.4.2 Interpretação ambiental (IA)

A interpretação ambiental é utilizada como uma maneira de se realizar as atividades de

educação ambiental nas experiências de ecoturismo. Lembrando, que no ecoturismo o

objetivo é proporcionar ao visitante uma compreensão dos recursos naturais do local visitado,

possibilitando comportamentos sociais conscientes.

A partir disso, pretende-se conceituar interpretação ambiental e posteriormente,

apresentar algumas formas de como é realizada. Interpretar, então, constitui-se como uma

forma de comunicação, por meio de mensagens e emoções, entre receptor e emissor, através

de um texto, uma fala etc..

Assim, segundo Murta e Goodey (2003, p. 13), interpretar é entendido como “[...] o

processo de acrescentar valor à experiência do visitante, por meio do fornecimento de

informações e representações que realcem a história e as características culturais e ambientais

de um lugar”.

Ao refletir a interpretação no campo ambiental, Ham (1992, p. 03, tradução nossa) a

coloca como uma “[...] tradução da linguagem técnica de uma ciência natural ou área

relacionada em términos e idéias que as pessoas em geral, que não são cientistas, possam

entender facilmente e implica em fazê-la de forma que seja entretida e interessante para eles”.

Tilden (1957 apud HAM, 1992, p. 03, tradução nossa) acrescenta que a interpretação

ambiental é também “[...] uma atividade educacional que objetiva revelar significados e

relações por meio do uso de objetos originais, através de experiências de primeira mão e

meios ilustrativos ao invés de simplesmente comunicar informações literais”.

Murta e Goodey (2002, p. 14) também ressaltam que “[...] mais do que informar,

interpretar é revelar significados, é provocar emoções, é estimular a curiosidade, é entreter e

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inspirar novas atitudes no visitante, é proporcionar uma experiência inesquecível com

qualidade”.

Desse modo, verifica-se que o objetivo da interpretação ambiental é realizar a

compreensão da relação sociedade - natureza, possibilitando mudanças de atitudes para a

conservação ambiental e elevação da qualidade de vida local, consequentemente

desenvolvendo uma consciência ambientalista no participante (DELGADO, 2000;

WEARING; NEIL, 2001). Contudo, o alcance da consciência ambientalista depende

também da obtenção dos benefícios educativos da interpretação, pois é no conhecimento que

está o caminho para as mudanças de atitudes e consequentemente, as mudanças

comportamentais, como ilustrado a seguir no quadro 4.

Benefício educativo Explicação do benefício Oportunidade de aprendizado A interpretação gera experiências de aprendizado para os

visitantes, aumentando seu conhecimento e entendimento do meio ambiente.

Oportunidade de autodescoberta A interpretação gera experiências para os visitantes obterem um entendimento mais claro do seu papel no meio ambiente, e isso ajuda no processo de autodescoberta e auto-realização.

Quadro 4: Os benefícios educativos da interpretação ambiental

Fonte: Wearing; Neil (2001, p. 106)

A característica educacional da interpretação é dada pelo modo como a mesma está

organizada e seu processo metodológico é explicado por Ham (1992, p. 07, tradução nossa)

quando cita que a interpretação se diferencia de outros modos de transmissão de informações

por ser amena, pertinente, organizada e com um tema. O mesmo autor explica que a

interpretação é amena porque entretêm, mesmo sem ser o seu objetivo, mas com isso mantém

a atenção do participante, sendo pertinente por revelar significados pessoais, e desse modo,

ser capaz de estabelecer relações à alguma experiência particular. É organizada por ser fácil

de se seguir, não sendo necessário grandes esforços do público participante. E é temática por

possuir um tema principal nas mensagens transmitidas.

Esse esforço de sistematização e de organização do processo de interpretação

ambiental torna-se pertinente quando vislumbra-se, como objetivo maior, os benefícios

proporcionados à conservação de determinado local, como mostra o quadro 5, em que os

benefícios advindos da interpretação servem como ferramentas ao processo de administração

de áreas naturais e também como estímulo ao adequado comportamento, que ocasiona os

benefícios específicos a conservação ambiental.

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Benefícios da conservação Explicação dos benefícios Estímulo para consciência ambiental e uma ética de conservação mais ampla.

A interpretação estimula conceitos e responsabilidade pessoal na utilização dos recursos, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

Aumento da consciência da regulamentação e dos códigos idealizados para minimizar os impactos.

Os programas de interpretação, como campanhas de mínimo impacto, podem apresentar condições sutis para a mudança do comportamento do visitante, sem confrontação.

Estímulo à mudança comportamental, minimizando os impactos pessoais sobre o meio ambiente.

A interpretação apresenta idéias que as pessoas podem adotar.

Apoio às tarefas de proteção. Apoio às organizações administrativas das áreas de proteção.

A interpretação apresenta o valor das áreas de proteção a partir de uma variedade de perspectivas.

A interpretação apresenta os desafios à administração de modo imparcial, expondo as restrições que enfrentam as agências administrativas responsáveis pelas áreas de proteção.

Quadro 5: Os benefícios da interpretação ambiental para a conservação ambiental das unidades de conservação

Fonte: Wearing; Neil (2001, p. 107)

Contudo, o que foi visto até aqui constitui o corpo metodológico da modalidade

interpretação ambiental aplicada a educação ambiental. Vasconcelos (2003) com o intuito de

apresentar orientações para o desenvolvimento de um efetivo programa de educação e

interpretação ambiental para o ecoturismo, cita que é necessário atentar-se a três etapas

distintas: o planejamento, a implementação e a avaliação. Nesse caso, o planejamento é

identificado como o processo que definirá os objetivos e as opções alternativas da atividade

interpretativa quanto à sua justificativa e pertinência, ao seu público, à localidade, à maneira

como será desenvolvida a atividade e aos valores econômicos da mesma. Após a conclusão do

planejamento deve-se colocar a atividade em prática e posteriormente avaliar seus aspectos e

suas desenvolturas.

Em relação ao ecoturismo a mesma autora evidencia que as trilhas interpretativas,

guiadas ou autoguiadas, são comumente atividades realizadas em áreas naturais,

principalmente nos Parques Nacionais, e que tem-se utilizado diferentes estratégias para

transformar as caminhadas nas trilhas em oportunidades de educação, com o intuito de

desenvolver novas percepções nos visitantes, proporcionando-os explicações sobre as inter-

relações sociais e naturais.

Vasconcelos (2003, p. 277) esclarece que as trilhas guiadas necessitam de um

intérprete (guia ou monitor) para levar os visitantes “[...] a observar, sentir, experimentar,

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questionar e descobrir os fatos relacionados ao tema estabelecido”. Já as trilhas autoguiadas

“são trilhas com pontos de parada marcados onde o visitante, auxiliado por placas, painéis ou

por folhetos contendo informações em cada ponto, explora o percurso sem o

acompanhamento de um guia".

Portanto, cabe ressaltar que a interpretação ambiental proporciona relações das pessoas

com o ambiente natural, traduzindo suas características e relacionando lazer com educação.

Porém, não há maneiras corretas ou incorretas de realizá-la, depende-se dos objetivos

propostos, das condições disponíveis e em alguns casos do talento de um guia. O principal

objetivo é proporcionar estímulos e entendimentos que garantam afinidades para com o

ambiente visitado, resultando em benefícios a todos os envolvidos.

3.4.3 Educação experiencial (EE)

Um dos primeiros programas de educação ao ar livre no Estados Unidos surgiu

segundo Barros (2000), quando o educador alemão chamado Kurt Hahn em 1941, fundou a

primeira escola Outward Bound, com o intuito de treinar jovens marinheiros que iriam à

guerra para que percebessem e acreditassem em seu potencial e sua força, pois estavam

morrendo em maior quantidade do que os marinheiros mais velhos. A autora descreve que

Hahn escolheu o nome Outward Bound por ser um jargão náutico que refere-se ao momento

em que o navio deixa a segurança do porto e lança-se aos perigos e aventuras advindas do mar

aberto.

Atualmente, a Outward Bound é uma organização internacional sem fins lucrativos

que atua em 32 países, estabelecendo padrões para a educação ao ar livre. Para tanto, utiliza-

se da metodologia de educação experiencial que consiste no uso dos ambientes naturais,

enquanto ambiente pedagógico e na interação do indivíduo consigo, com seu grupo e com o

ambiente (BARROS, 2000).

Segundo a Outward Bound Brasil – OBB (2005) a metodologia experiencial é

utilizada como principal ferramenta de desenvolvimento humano por visar essencialmente a

promoção de uma experiência a um indivíduo e posteriormente o auxílio à reflexão desta

experiência, já que a condução ao aprendizado depende não só da experiência e de seu desafio

intrínseco, mas também da reflexão transformadora. Assim, Barros (2000, p. 13) salienta que

“a aprendizagem se dá pela vivência de determinadas situações e não pela assimilação de

conceitos”.

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Segundo a Associação de Educação Experiencial – AEE (2006, tradução nossa) a

educação experiencial é definida como “[...] uma filosofia e metodologia na qual os

educandos estão propositadamente engajados com o processo de aprendizado da experiência

direta e com foco na reflexão para incrementar o conhecimento, desenvolvendo habilidades e

elucidar valores”. Para a OBB (2005) a aplicação dessa metodologia depende da existência de

diferentes elementos e de sua aplicação sistematizada, mesmo que não de forma linear, como

pode ser visualizado na figura 15.

Figura 15 – Estrutura da educação experiencial Fonte: OBB (2005)

Desse modo, visualiza-se o ciclo de aprendizado experiencial que pode se explicado

por Luckner & Nadler (1992 apud BARROS, 2000, p. 99) quando citam que no estágio

experiência o indivíduo participa de atividades planejadas com a intenção de atingir um certo

aprendizado. No estágio reflexão, salienta-se que a experiência é insuficiente para a

concretização do aprendizado, sendo necessário refletir sobre a experiência vivida e as do

passado. Os autores colocam ainda que “é o processo da reflexão que torna a experiência em

aprendizado experiencial”, sendo necessário refletir sobre o que “[...] viram, sentiram e

pensaram [...]” durante a atividade, fazendo-o individual ou coletivamente.

Em continuação, evidenciaram o estágio denominado estrutura, composto pela busca

de padrões, “[...] feita ao explorar emoções, pensamentos, comportamentos e observações que

ocorram com alguma regularidade”. A partir da compreensão desses padrões em outras

situações, pode-se generalizá-lo ou aplicá-lo às mesmas. E o estágio desafio compreende a

aplicação do aprendido ao mundo externo.

Além desses elementos, a OBB (2005) ressalta dois outros também importantes, que

são o suporte e o retorno (feedback), sendo que pressupõe-se a existência do primeiro em

todas as experiências, já que este permite que do estímulo à confiança o indivíduo realize

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constantes tentativas de superação e experimentação e que em contrapartida, o retorno de

informações do instrutor para o participante, sobre o que este último vem fazendo, funciona

como uma ferramenta de equilíbrio da responsabilidade entre ambos, esta entendida nesse

contexto, como a autonomia na tomada de decisões, a capacidade de resolução de situações

inesperadas e novas, enfim a habilidade de resposta à estímulos.

De acordo com Barros (2000, p. 101), esse envolvimento o indivíduo com a natureza

por meio da educação experiencial pode ter a duração de poucas horas ou mesmo durar

meses. Isso faz com que as experiências diretas sejam capazes de “[...] promover uma maior

sentimento de empatia e níveis maiores de interesse por problemas relacionados aos recursos

naturais”. Em complemento Ewert (1996 apud BARROS, 2000, p. 101) evidencia que a “[...]

educação experiencial pode ser um poderoso instrumento na promoção de comportamentos

pró-ambientais em três estágios diferentes: construção de consciência ambiental; formação de

atitude; e capacitação”.

Até então, não se tem notícias da aplicação dessa metodologia em atividades de

ecoturismo, mas segundo Barros (2000) outras atividades advindas do turismo de aventura ou

da contemplação da natureza tem se utilizado de áreas naturais por meio do uso dessa

metodologia.

3.4.4 Educação no processo de gestão ambiental (EPGA)

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)

por meio da Coordenação Geral de Educação Ambiental ao longo de dez anos construiu uma

proposta de educação ambiental denominada educação no processo de gestão ambiental,

sendo materializada em 2002 no documento ‘Como o Ibama exerce a educação ambiental’ e

que no ano de 2006 teve a publicação de sua 2º edição16. Na visão de Quintas (2006, p. 08)

essa proposta toma “[...] o espaço de gestão como o lugar de ensino-aprendizagem para

propiciar condições à participação individual e coletiva, nos processos decisórios sobre o

acesso e uso dos recursos ambientais no país”. Em complemento, tratam-se de

[...] ações educativas realizadas com grupos sociais relacionados com unidades de conservação, ordenamento de recursos florestais e pesqueiros, licenciamento ambiental, prevenção de desmatamentos e incêndios florestais, proteção e manejo de fauna e outras atividades de gestão ambiental de competência do Ibama.

16 Documentos esses que forneceram a base para a confecção do texto dessa modalidade.

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Com isso, o Ibama (2006b, p. 07) acredita fazer valer o preceito constitucional que

garante um meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito da sociedade, bem

como, atribui a responsabilidade de conservação e preservação dos recursos naturais não

apenas ao poder público, mas também, à coletividade entendida, nesse caso, não como um

todo homogêneo, mas como “[...] uma multiplicidade de partes com visões diferenciadas

sobre a destinação dos recursos ambientais da sociedade”, e isso com que o uso e apropriação

dos recursos naturais não ocorra da maneira mais simples, pois há diferentes interesses e

conflitos entre os grupos da coletividade. Para tanto, o Ibama (2006b, p. 16) entende a gestão

ambiental como

[...] um processo de mediação de interesses e conflitos entre os atores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído. Este processo de mediação define e redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores sociais, por meio de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente [...].

Dessa forma, o Ibama (2006b, p. 11) quando pensa em educação no processo de gestão

ambiental deseja garantir o “[...] controle social na elaboração e execução de políticas

públicas, por meio da participação permanente dos cidadãos, principalmente, de forma

coletiva, na gestão do uso dos recursos ambientais e nas decisões que afetam à qualidade do

meio ambiente”.

Para tanto, são realizadas ações educativas com diferentes segmentos sociais,

principalmente, a chamada comunidade local, afetada por atividades relacionadas a gestão

ambiental do Ibama. Assim, organizam-se espaços, caracterizados como pedagógicos, onde

possa-se produzir e adquirir conhecimentos e habilidades, bem como, desenvolver as atitudes,

sendo que o Ibama (2006b, p. 11) entende que “todo processo educativo é antes de tudo um

processo de intervenção na realidade vivida, em que o educador e educando, numa prática

dialógica, constroem o conhecimento sobre ela, objetivando a sua transformação”.

Nesse sentido, tem-se os atores da educação, os educandos que são membros da

comunidade local e os educadores, que são membros do Ibama capacitados com

conhecimentos básicos sobre a gestão ambiental pública e capazes de planejar e coordenar os

processos educativos desenvolvidos com os educandos. Nesses espaços, parte-se de uma

análise dialogada da realidade socioambiental vivida por essas comunidades, de acordo com

três possíveis situações: problema, conflito e potencialidade ambiental.

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Salienta-se que o Ibama (2006b, p. 11-12) se utiliza dos conceitos de Carvalho &

Scotto (1995) como base para a compreensão das situações supracitadas, caracterizando-as

como:

• Problema ambiental – “aquela situação onde há risco e/ou dano social/ambiental,

mas não há nenhum tipo de reação por parte dos atingidos ou de outros atores da

sociedade civil, face ao problema”;

• Conflito ambiental – “aquela situação onde há confronto de interesses

representados em torno da utilização e/ou gestão do meio ambiente”;

• Potencialidade ambiental – “um conjunto de atributos de um bioma/ecossistema

(recursos pesqueiros, recursos florestais, manguezais, praias, rios, paisagens, áreas

com potencial ecoturístico etc.), passíveis de uso sustentável por grupos sociais”.

A partir dessa compreensão, tem-se os diálogos pautados pelos eixos temáticos do

qual o Ibama (2006b, p. 12) exerce sua competência, que são “ecoturismo; estudo, proteção e

manejo de cavernas; gestão de unidades de conservação federais; licenciamento ambiental;

manejo de flora; manejo de fauna; gestão de recursos pesqueiros; políticas públicas;

prevenção de desmatamento e incêndios florestais; recuperação de áreas degradadas; e

recursos hídricos federais”.

O Ibama (Ibid.) parte da premissa de que as ações educativas devam proporcionar

autonomia, e promove aos educandos, mediante auxílio do educador e de acordo com os

diálogos estabelecidos acerca das situações e dos eixos temáticos, a construção coletiva de

uma agenda de prioridades que será transformada, pelo próprio grupo, em projetos com

objetivos, metas e resultados, planejados a curto, médio e longo prazos.

Desse modo, observa-se que a modalidade de educação ambiental do Ibama está

voltada à participação comunitária, sendo planejada e desenvolvida por ela mesmo, a partir

dos problemas ambientais reais que a cercam, afinal a comunidade conhece efetivamente a

sua realidade. Acredita-se assim, que esse processo de envolvimento proporciona ao poder

público e, ao mesmo tempo, à população a possibilidade de uma intervenção com o intuito de

transformar o ambiente em um espaço de qualidade e convidativo ao convívio humano.

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4 O PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA

O Projeto Pólos de Desenvolvimento de Ecoturismo no Brasil desenvolvido em 1997

pela Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) em parceria com o IEB (Instituto de

Ecoturismo Brasileiro), teve o intuito de identificar as localidades em território nacional que

já desenvolviam práticas consideradas ecoturísticas ou mesmo àquelas com potenciais

naturais para o desenvolvimento de tais práticas e de inventariar as características, as

potencialidades e a infra-estrutura necessária para uma efetiva implantação do ecoturismo.

(MAGALHÃES, 2001a). Como resultado desse processo, este Projeto identificou 96

possíveis pólos distribuídos pelo território nacional nos 26 estados brasileiros (Ibid.).

No entanto, relembra-se que este Projeto considera como pólo de ecoturismo, a região

formada por um ou mais municípios, que já desenvolve ou que tem condições naturais, além

de infra-estrutura adequada, para desenvolver atividades de ecoturismo. Nesse sentido, este

Projeto pondera que

não basta que uma área apresente um grande potencial representado por seus atrativos naturais e culturais para que seja considerada um pólo. Sem dúvida, a existência desses atrativos é fundamental, mas é preciso que eles estejam atendidos por facilidades tais como vias de acesso, serviços de hospedagem, alimentação e informação. Além da disponibilidade de infra-estrutura, serviços e roteiros adequados, é fundamental a vontade política dos dirigentes em buscar o desenvolvimento local através da gestão dos empreendimentos ecoturísticos (MAGALHÃES, 2001b, p. 69).

Segundo o Projeto, no Estado de Santa Catarina, localizado na Região Sul do Brasil,

foram identificados três pólos de ecoturismo: o SC 1 – Alto Vale do Itajaí; o SC 2 – Ilha de

Santa Catarina; e o SC 3 – Planalto Serrano, conforme mostra o mapa 1.

O Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC), caracterizado como objeto

de estudo dessa pesquisa, segundo o Projeto Pólos compreende, principalmente o município

de Florianópolis e seu entorno (MAGALHÃES, 2001a). Essa região tem sido indicada pelos

dados da Embratur (2005), como uma das cidades mais visitadas do país, sendo que em

relação às cidades do sul do país, está atrás apenas das cidades de Foz do Iguaçu e de Porto

Alegre. Segundo as pesquisas de demanda turística da Santur (2005) o principal motivo

dessas visitas está relacionado as viagens com fins turísticos e, principalmente, a busca por

atrativos naturais. Isso explica, em partes, o por que a Ilha de Santa Catarina e seu entorno

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foram identificados pelo Projeto Pólos de Desenvolvimento de Ecoturismo no Brasil como

um dos pólos e, também, como um local propício ao desenvolvimento do ecoturismo.

Mapa 1: Localização dos Pólos de Ecoturismo do Estado de Santa Catarina Fontes: IBGE (2005); Magalhães (2001a)

Nesse sentido, o Projeto Pólos informa que os atrativos identificados no levantamento

das características naturais desse pólo foram as praias, as ilhas, as montanhas, as lagoas etc.,

além de, um diversificado ecossistema, ainda conservado em função das diversas unidades de

conservação instituídas no município de Florianópolis e seu entorno (MAGALHÃES, 2001a).

Este Projeto esclarece ainda que a configuração do PEISC é demarcado e delimitado

pelo alinhamento das unidades de conservação existentes em Florianópolis e em seu entorno,

e limita-se ao norte pela Reserva Biológica do Arvoredo, ao sul pelo Parque Estadual da Serra

do Tabuleiro e a noroeste pela Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim (Ibid.), conforme

mostra o mapa 2.

No entanto, diferentemente da ponderação feita por Magalhães (2001a) quanto ao

município envolvido nesse pólo ser somente Florianópolis, nota-se que o pólo possui sua

delimitação demarcada pelas unidades de conservação localizadas fora da Ilha de Santa

Catarina (na porção continental) e, com isso, acredita-se que o PEISC envolva também os

outros municípios que abrigam e a qual pertencem as unidades de conservação supracitadas,

conforme informa o anexo J.

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Legendas:

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Mapa 2 – Unidades de conservação compreendidas pelo Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina

Fonte: Fatma (2004a)

Para garantir a preservação da vegetação dos ecossistemas foram criadas nos decênios

de 1960 e 1970 as primeiras unidades de conservação da Ilha de Santa Catarina (CECCA,

1997). Em um contexto geral, as unidades de conservação brasileiras relacionam-se ao

Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que tem por finalidade contribuir

para a conservação da natureza e da biodiversidade, proporcionando o uso sustentável dos

recursos naturais.

O Ibama define as unidades de conservação por meio do SNUC como

porções do território nacional, incluindo as águas territoriais, com características naturais de relevante valor, de domínio público ou propriedade privada, legalmente instituídas pelo poder público, com objetivos e limites definidos, e sob regimes especiais de administração, às quais aplicam-se garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).

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O SNUC apresenta ainda como um de seus objetivos “favorecer condições e promover

a educação ambiental e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o

turismo ecológico” (BRASIL, 2000). Com isso, identifica-se a possibilidade da realização de

atividades turísticas em meio a natureza conduzidas por ações educativas, como forma de

garantir à sociedade o contato com a natureza, a recreação e o aspecto educativo, bem como,

possibilidades de conservação da natureza, tanto em função das taxas pagas pela visitação

quanto pelo pressuposto desenvolvimento de ações educativas.

Diante das relações sobre os intuitos e as possibilidades dessa visitação, cabe salientar

que essas ações tem a intenção de minimizar os possíveis impactos negativos causados pela

atividade ecoturística, conforme pontua Serrano (2000b).

Além disso, as áreas naturais protegidas são divididas em dois grupos básicos, as

protegidas em função de suas características naturais sem dimensões e limites definidos e as

áreas protegidas, também em função de suas significativas características naturais com

definição de suas dimensões e limites ou também conhecidas como unidades de conservação

(MAGALHÃES, 2001b).

A partir disso, o SNUC subdivide as áreas naturais protegidas com dimensões e limites

definidos em unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável. As primeiras têm o

intuito de preservar a natureza admitindo-se somente o uso indireto dos recursos naturais e

sendo compostas pelas categorias de unidades: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque

Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre. Já as demais, têm o intuito de

relacionar sustentavelmente a conservação da natureza e o uso dos recursos naturais, sendo

composta pelas categorias de unidades de conservação: Área de Proteção Ambiental, Floresta

Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e

Reserva Particular do Patrimônio Natural (BRASIL, 2000)17.

A partir dos intuitos de conservação da natureza proporcionados pelas categorias de

unidades de conservação, esclarece-se que a formação vegetal que compreende o PEISC tem

o predomínio do bioma Mata Atlântica, que originalmente localizava-se, principalmente, nas

faixas litorâneas, estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul,

compreendendo 17 estados e sendo caracterizado pelos ecossistemas e formações florestais

como a Floresta Ombrófila Densa, a Mista e a Aberta, as Florestas Estacionais Semideciduais

17 Para uma maior compreensão acerca dos detalhes inerentes às características, objetivos, domínios, atividades permitidas e proibições exercidas em cada categoria, sugere-se uma análise das tabelas comparativas elaboradas por Magalhães (2001b) e disponíveis nos anexos G, H, e I.

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e Deciduais, os manguezais, as restingas e os campos de altitude (IBAMA, 2006a;

MEDEIROS, 2002; SCHÄFFER, PROCHNOW, 2002), conforme apresentado na figura 16.

Figura 16 – Mata Atlântica no Brasil Fonte: SOS MATA ATLÂNTICA (2006)

Atualmente, estudos revelam restar aproximadamente 7% da cobertura florestal do

bioma Mata Atlântica original, fato esse promovido por um processo histórico iniciado desde

o descobrimento do Brasil, passando pelos ciclos econômicos como da cana-de-açúcar, do

ouro, da produção de carvão vegetal, da extração de madeira, do café, entre outros, além do

contínuo e degradador processo de urbanização (IBAMA, 2006a; SCHÄFFER,

PROCHNOW, 2002; SOS MATA ATLÂNTICA, 2006).

O Estado de Santa Catarina insere-se totalmente no domínio do bioma Mata Atlântica

por possuir 85% de seu território coberto pelo bioma, sendo o terceiro Estado do país em

número de hectares relacionados ao bioma, mas estudos salientam restar em média 17% de

florestas relacionadas à Mata Atlântica nesse território (MEDEIROS, 2002; SCHÄFFER,

PROCHNOW, 2002).

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Já na Ilha de Santa Catarina, Caruso (1990) esclarece que, originalmente, esse

território possuía em média de 90% de sua área coberta por vegetação, sendo 74% de Mata

Atlântica, 9% de Manguezais, 7% de vegetação de praia, dunas e restingas e o restante

ocupado por dunas sem vegetação e pelas lagoas, conforme apresentam e comparam os mapas

4 e 5.

Mapa 4 – Cidade de Florianópolis e sua vegetação original Fonte: SOS MATA ATLANTICA (2006)

Mapa 5 – Cidade de Florianópolis e sua vegetação atual Fonte: SOS MATA ATLANTICA (2006)

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Legenda dos mapas 4 e 5 (SOS MATA ATLANTICA, 2006):

Destacam-se no PEISC e, concomitantemente, na Ilha as formações vegetais de Mata

Atlântica relacionadas a Vegetação Litorânea, a Floresta Ombrófila Densa e Floresta

Ombrófila Mista (FATMA, 2001), conforme ilustra o mapa 3.

Mapa 3 – Mapa Fitogeográfico Fonte: FATMA (2001)

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Legenda do mapa 3 (FATMA, 2001):

Segundo Caruso (1990) a vegetação litorânea ou também denominada de formações

vegetais edáficas, são determinadas pelas condições do solo, sendo subdividida em

subformações, como o mangue, a vegetação de praia, duna e restinga, e a Floresta de Planícies

Quaternárias18.

A formação vegetal relacionada a Floresta Ombrófila Densa é aquela que é fechada e

influenciada pelas chuvas, onde as copas das árvores encostam umas nas outras

(SEVEGNANI, 2002). Esta formação está subdividida em Floresta Tropical do Litoral e

Encosta Centro-Norte e Floresta Tropical do Litoral e Encosta Centro-Sul (FATMA, 2001),

que são caracterizadas por Caruso (1990) como formações vegetais climáticas em função do

clima ser o elemento dominante em suas caracterizações. Ainda segundo esta autora (Ibid.)

essas florestas se caracterizam pela elevada densidade e heterogeneidade vegetal.

Já a formação vegetal relacionada a Floresta Ombrófila Mista é aquela também

influenciada pelas chuvas, porém com características de espécies latifoliadas (com largas

folhas) e associadas com a Araucária Angustifolia (pinheiro do Paraná) e com a Poducarpus

Lambertii (pinheiro bravo) (SEVEGNANI, 2002). Essa formação se subdivide na Floresta de

Faxinal na Serra do Tabuleiro e a Floresta de Faxinal ao longo das ramificações da Serra

Geral e outras serras isoladas (FATMA, 2001). Essas formações vegetais destacam-se pelas

formações dos faxinais, caracterizados por arbustos mais baixos e esparsos (SEVEGNANI,

2002).

18 CECA (1996) esclarece que as Planícies Quaternárias são áreas arenosas com vegetação que varia entre a restinga e a Floresta Ombrófila Densa, havendo uma maior semelhança com esta última.

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Diante das características naturais que compõem o PEISC, Caruso (1990, p. 144)

salienta que no caso da Ilha de Santa Catarina, “[...] mais de 90% da sua vegetação pode ser

considerada de preservação permanente”, sendo portanto, de acordo com o artigo 2º do

Código Florestal, proibido toda e qualquer forma de exploração de seus recursos naturais.

Porém, como evidencia Caruso (1990) a Ilha de Santa Catarina foi constantemente

submetida ao processo de desmatamento, que se iniciou durante o século XVIII devido a

chegada dos colonos açorianos e madeirenses e que se estende até os dias atuais.

Em relação ao processo de desmatamento e aos usos dos recursos naturais da ilha,

Hauff (1997, p. 56) já evidenciava que

as condições naturais da Ilha de Santa Catarina geralmente mostram um ambiente sensível a alterações, determinando grandes limitações de uso e exigindo padrões de ocupação que mantenham a qualidade do meio. Atualmente, a tendência de usos é essencialmente urbana, predominando o crescimento desordenado que não respeita as normas de zoneamento, as necessidades de infra-estrutura básica e, principalmente, os condicionantes naturais.

Nesse sentido, Pereira (2003) salienta que o processo de turistificação da Ilha de Santa

Catarina e a busca por seus atributos naturais, principalmente, de sua orla marítima, iniciou-se

em função de uma demanda turística sazonal, proveniente do fluxo migratório de pessoas nos

períodos de verão para o veraneio, que também eram utilizados como segundas residências, o

qual caracterizou um intenso processo de urbanização e, consequentemente, a geração de

grandes impactos sócio-ambientais.

Desde os anos 70 tem-se intensificado os fluxos turísticos à Ilha de Santa Catarina

(ALEXANDRE, 2003; CECA, 1996; PEREIRA, 2003), mas somente a partir dos anos 90 há

uma explosão desse fluxo (PEREIRA, 2003). CECA (1996) refere-se ao turismo na ilha como

um fenômeno não acidental, pois é também a partir da década de 70 que a ilha e,

particularmente, a cidade de Florianópolis, começam a despertar para o turismo e a planejar o

desenvolvimento da cidade por meio do turismo.

Esse processo de planejamento articulado as fatores como, por exemplo, a explosão do

turismo nacional e o fomento público e privado ao setor na melhoria da infra-estrutura de

apoio e turística, fazem eclodir na década de 90 um crescente e intensificado fluxo turístico a

ilha (CECA, 1996; PEREIRA, 2003).

Desse modo, o desenvolvimento turístico na ilha acelerou a expansão urbana e gerou

impactos no contexto sócio-ambiental, em função disso, Pereira (2003, p.126) evidencia no

turismo a necessidade de haver um “[...] planejamento de alternativas para o setor,

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contemplando as possibilidades de uma ação conjunta entre as iniciativas privadas e pública e

envolvendo nos debates as comunidades locais”.

Para tanto, o Projeto Pólos, apesar de segmentar a atuação do planejamento e do

desenvolvimento turístico ao ecoturismo, tenta ser um articulador e, ao mesmo tempo, um

promotor de iniciativas que visem a organização do turismo na Ilha de Santa Catarina e em

seu entorno.

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5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

5.1 O método e as técnicas da pesquisa

O fenômeno social denominado turismo tem sido foco de estudo de inúmeras áreas do

conhecimento, isto porque tem assumido relevância nas esferas econômica, social, cultural,

ambiental, política entre outras possíveis, e também, por na visão de Dencker (2001) não

constituir uma ciência com um campo de princípios devidamente organizado e definido,

passando assim, a ser compreendido como uma sub-área com conhecimento que utiliza

métodos e conceitos advindos de outras consolidadas ciências sociais. Por isso, para

compreender o processo de desenvolvimento do fenômeno turístico, foi necessário analisá-lo

diante das complexas inter-relações ocorridas entre os sujeitos sociais, os setores econômicos

e suas implicações ao meio ambiente, pois como evidencia Beni (2003) o turismo possui um

campo de estudo abrangente, complexo e pluricausal.

Desse modo, para a realização de estudos sobre as diversas áreas do conhecimento são

utilizadas metodologias, compostas em síntese de “[...] procedimentos e regras utilizadas por

determinado método” capazes de garantir a relevância científica da pesquisa, sendo esta

compreendida como a maneira concreta pela qual se realiza a busca de determinado

conhecimento (RICHARDSON, 1999, p. 22). A busca desse conhecimento ocorre de forma

sistemática, mas a sua construção necessita da reflexão proporcionada por meio do uso de

métodos e técnicas (DENCKER, 2001).

Sendo assim, a presente pesquisa, que se insere na área do conhecimento das Ciências

Sociais Aplicadas, a qual compreende o estudo do turismo, pressupõe a interação com outras

áreas como meio ambiente, educação e sociedade e tem por objetivo geral analisar as relações

existentes entre o ecoturismo e a educação ambiental no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa

Catarina.

No intuito de atingir o objetivo geral proposto e para que se garanta a cientificidade e

a confiabilidade das informações analisadas, utilizou-se de um método científico,

compreendido por Richardson (1999, p. 22; 80) como o “[...] caminho ou a maneira para

chegar a determinado fim ou objetivo [...]”, sendo que o caminho a ser percorrido nessa

pesquisa será pautado pelo uso do método qualitativo, o qual procura

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[...] descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos unidos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos.

Este autor acrescenta ainda que o método qualitativo caracteriza-se como uma “[...]

tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais

apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção e medidas quantitativas de

características ou comportamentos” (Ibid., p. 90).

Nesse sentido, Marconi e Lakatos (2004, p. 269) salientam que a principal diferença

entre os métodos qualitativo e quantitativo está na forma de coleta e análise dos dados, pois o

método qualitativo está preocupado “[...] em analisar e interpretar aspectos mais profundos,

descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada

sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc.”.

A escolha e a utilização do método de pesquisa qualitativo justificam-se na tentativa

de compreender o processo de desenvolvimento do fenômeno turístico, visto por Dencker

(2001, p. 18) como sendo “[...] um trabalho de natureza multi ou interdisciplinar [...]” e, para

tanto, torna-se necessário analisá-lo pautado pela abordagem sistêmica que prevê a superação

das limitações de um pensamento fragmentado, pois segundo Beni (2003), essa abordagem

realiza a interação de um conjunto de partes com o intuito de atingir um determinado fim, ou

seja, a partir de um conjunto de procedimentos e de princípios tem-se a intenção de analisar e

descrever o funcionamento complexo de um todo.

Então, o ecoturismo, enquanto tema central dessa pesquisa é compreendido como um

segmento do turismo que deve ser analisado levando-se em consideração os critérios pré-

estabelecidos para seu desenvolvimento, no qual inclui-se a educação ambiental, assim como,

os critérios que determinam a sua sustentabilidade, com enfoque nos critérios ambientais,

conforme os evidenciados por Sachs (2000), que foram mencionados anteriormente.

Para que se possa analisar esse complexo e multivariado contexto, além do método

qualitativo, utilizou-se as técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e de entrevista

estruturada para a coleta de dados (DENCKER, 2001). Desse modo, teve-se a possibilidade

de verificar como o ecoturismo é desenvolvido, sob a ótica de seu componente educativo, e

como essa atividade pode gerar benefícios à conservação da natureza, assim como, teve-se a

possibilidade de identificar as modalidades de educação ambiental que, possivelmente, são

aplicadas ao ecoturismo.

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Conforme descrito anteriormente, tem-se aqui a pretensão de evidenciar os

procedimentos metodológicos adotados nessa pesquisa, assim como, classificar as etapas da

pesquisa descrevendo-se os caminhos metodológicos percorridos para o alcance de cada um

dos objetivos propostos. A visualização e maior compreensão desse processo pode ser

auxiliada pelo fluxograma, conforme mostra a figura 17.

A pesquisa está dividida em duas partes distintas, mas não dissociadas, no que tange

às reflexões proporcionadas e os resultados alcançados, sendo que a etapa I representa a parte

teórica da pesquisa, enquanto a etapa II, representa a parte empírica. Na parte teórica consta o

objetivo específico 1, que era verificar as relações entre o ecoturismo e a educação ambiental

com vistas à conservação da natureza, e o objetivo específico 2., que era identificar as

modalidades de educação ambiental aplicadas no ecoturismo. Essa parte é caracterizada como

teórica, pois utilizou-se das técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, para coleta de

dados.

Para a análise dos dados bibliográficos e documentais acerca das temáticas de

ecoturismo, educação ambiental e suas possíveis interfaces, recorreu-se à análise documental,

que é descrita por Richardson (1999, p. 228; p. 230) “[...] como a observação que tem como

objeto [...] as manifestações que registram [os] fenômenos e as idéias elaboradas a partir

deles”. Além disso, a análise documental “[...] consiste em uma série de operações que visam

estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e

econômicas com as quais podem estar relacionados”.

Pretendeu-se com isso, confrontar a análise e a interpretação das informações advindas

das referências bibliográficas e documentais, com o intuito de produzir um referencial teórico

acerca dessas temáticas que comportasse um arcabouço teórico-metodológico para o

desenvolvimento e, posterior, análise da parte empírica da pesquisa. Cabe salientar que apesar

de não se tratar de uma pesquisa quantitativa, em nenhum dos processos (teórico ou empírico)

foram descartados dados e/ou informações oriundos dessa abordagem de pesquisa, pois

algumas destas poderiam ser imprescindíveis para a análise qualitativa.

Em continuidade, a parte empírica da pesquisa é representada pelo objetivo específico

3, que era levantar junto aos agentes e operadores de viagem do segmento de turismo na

natureza do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC) os destinos de ecoturismo

que desenvolviam a educação ambiental, e pelo objetivo específico 4, que era reconhecer,

junto aos gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do Pólo de Ecoturismo da

Ilha de Santa Catarina (PEISC), a importância da educação ambiental no ecoturismo para a

conservação da natureza desses locais.

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Figura 17 – Fluxograma da pesquisa Fonte: elaborado pelo autor

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No intuito de atingir os objetivos propostos nessa etapa, utilizou-se a técnica de

entrevista para a coleta de dados, pois Richardson (1999, p. 207), afirma que essa técnica “[...]

permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas” – entrevistado e

entrevistador – a qual refere-se “[...] ao ato de perceber entre duas pessoas”. Desse modo,

Dencker (2001, p. 137) a compreende como “[...] uma comunicação verbal entre duas ou mais

pessoas, com um grau de estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de

informações de pesquisa”.

Para tanto, utilizou-se nas entrevistas roteiros de perguntas compostos por perguntas

não-estuturadas, que de acordo com Richardson (1999, p. 208), visam “[...] obter do

entrevistado o que ele considera ser os aspectos mais relevantes de determinado problema [...]

[pois] pretende-se obter informações detalhadas que possam ser utilizadas em uma análise

qualitativa”.

A formulação desses roteiros de entrevista e, consequentemente, de suas perguntas,

foram baseados no modelo de pergunta ideal proposto por Lefèvre & Lefèvre (2003) que

propõe ao entrevistado a produção de um discurso referente ao assunto pesquisado, que

permite uma livre exposição de suas idéias a partir da apropriada compreensão da questão e

que sugere a realização de um pré-teste em sujeitos compatíveis com a pesquisa.

Cabe salientar que a aplicação do pré-teste dos roteiros de entrevista, mostrou-se

inviável devido ao número estatístico do universo e da amostra determinada pela pesquisa,

bem como, por se tratar de perguntas abertas e abrangentes que, supostamente, proporcionam

a compreensão das mesmas e revelam respostas coerentes com a investigação.

5.2 Seleção e coleta de dados junto aos atores sociais entrevistados

Essa técnica de entrevista foi utilizada em dois momentos distintos, sendo que o

primeiro contemplou a aplicação do roteiro de entrevista (apêndice A) em diálogos realizados

com 05 (cinco) agentes e operadores do segmento de turismo na natureza do PEISC,

compondo assim, o objetivo específico 3. Esses atores sociais (entrevistados) foram

selecionados com base nos dados disponíveis em ABAV (2006), Guia Floripa (2006a e b),

Guia Panrotas (2005) e Picasso (2005), sendo que a sua escolha justificou-se pelo fato de que

no ecoturismo as agências e operadoras do segmento de turismo na natureza exercem

importante papel na intermediação da comunicação entre o turista e o destino, bem como, no

desenvolvimento e planejamento de atividades relacionadas ao ambiente natural que compõe

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determinado destino turístico, pressupondo-se, também, no desenvolvimento do componente

educativo (educação ambiental) nesses locais ou nessas práticas.

Inicialmente, na base de dados que serviu para a escolha dos atores sociais

entrevistados, constava um universo de 18 (dezoito) agentes e operadores relacionados ao

turismo de natureza (ecoturismo), pelo fato de conterem em seus nomes e ou nas descrições

institucionais, palavras elucidativas desse segmento, tais como ecoturismo, turismo na

natureza, aventura, rafting, rappel, entre outras. Dessas 18 (dezoito) possíveis entrevistas,

foram realizadas 07 (sete) entrevistas efetivas, sendo que 02 (duas) destas não enquadravam-

se no perfil proposto, desse modo, 05 (cinco) foram consideradas para a análise desse objetivo

da pesquisa.

Em relação às demais agências e operadoras cabe salientar que, a técnica de análise

das entrevistas (a ser delimitada posteriormente) evidencia o trabalho com dados qualitativos

e, por isso, é dispensável um número estatisticamente representativo da amostra em relação ao

universo da pesquisa. É evidente também que haveria a possibilidade de se trabalhar em

pesquisas qualitativas com o universo inicialmente detectado, mas especificamente nessa

pesquisa, a amostra de 03 a 05 entrevistados já conformou uma real representação do mercado

de agências e operadoras de turismo na natureza do PEISC e, portanto, representativa deste

universo de atores sociais. Além disso, constatou-se situações que inviabilizaram a entrevista

das demais agências e operadoras, tais como o agendamento da entrevista sem o

comparecimento do entrevistado, a constatação de que somente trabalhava-se em períodos de

alta temporada, a dificuldade na efetivação do contato por telefone, sites e outros estarem

errados ou ‘fora do ar’, e também a evidência das que se demonstravam fora do perfil, pois

apesar de intitularem-se agentes e operadores especializados em atividades turísticas

realizadas em ambientes naturais, estavam voltadas à outros segmentos ou a outros setores

turísticos.

O segundo momento da utilização da técnica de entrevista contemplou a aplicação do

roteiro de entrevista (apêndice B) aos gestores ou outros atores sociais responsáveis pelos

destinos identificados como resultados da primeira etapa da pesquisa e do objetivo específico

3 – que poderão ser observados adiante – os quais referiam-se majoritariamente às unidades

de conservação localizadas na Ilha de Santa Catarina e em seu entorno, administradas pelas

esferas municipal, estadual e federal do setor público, e que em síntese conformam o PEISC.

Ressalta-se que, os resultados do primeiro momento de aplicação da técnica de

entrevista – destinado aos agentes e operadores de turismo na natureza – levaram

indiretamente à escolha dos gestores e ou responsáveis pelas unidades de conservação do

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PEISC como universo para o segundo momento da aplicação da técnica de entrevista, que

corresponde à resolução do objetivo específico 4. Nesse momento teve-se como universo da

pesquisa o número estatístico de 32 unidades de conservação que formam o pólo e, para tanto,

aplicou-se entrevista a amostra de 13 unidades de conservação, administradas conforme as

esferas do setor público (FATMA, 2004b), nas respectivas instituições Floram (9 unidades de

conservação), Fatma (1 unidade de conservação) e Ibama (3 unidades de conservação).

Apesar dos resultados do primeiro momento de aplicação da técnica de entrevista

também mencionarem outros destinos relacionados inclusive à outras unidades de

conservação, que não aquelas pertencentes ao PEISC, a opção feita por restringir-se às

unidades de conservação do PEISC e aos seus gestores como objeto de pesquisa e como

amostra para as entrevistas, deveu-se ao fato destas representarem a maioria do universo de

pesquisa e possibilitarem uma real representação dos destinos (unidades de conservação)

utilizados pelo e para o ecoturismo, além de, a partir destas escolhas pressupor-se a

possibilidade de uma análise teórico-metodológica mais assertiva acerca das relações entre

ecoturismo e a educação ambiental.

O fato dessa pesquisa envolver atores sociais como fonte para a obtenção de parte dos

dados a serem analisados, tornou-se necessário o uso do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (apêndice C), o qual ao dissociar os interesses do entrevistado e do entrevistador,

resguardou a integridade da pesquisa e evidenciou o seu caráter ético, conforme as normas do

Comitê de Ética da Universidade do Vale do Itajaí.

5.3 Análise qualitativa dos dados

Para a análise dos dados obtidos por meio da aplicação dos roteiros de entrevista aos

dois grupos supracitados, utilizou-se a técnica de análise do Discurso do Sujeito Coletivo

(DSC), que consiste em obter discursos (respostas) advindas da expressão subjetiva

(consciência) do entrevistado, por meio da aplicação de perguntas abrangentes (abertas). A

técnica supracitada, segundo Lefèvre e Lefèvre (2003, p. 11), busca

[...] dar conta da discursividade, característica própria e indissociável do pensamento coletivo, buscando preservá-la em todos os momentos da pesquisa, desde a elaboração das perguntas, passando pela coleta e pelo processamento dos dados até culminar com a apresentação dos resultados.

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Para a aplicação do discurso do sujeito coletivo, os autores salientam ser necessária a

aplicação de perguntas abertas ao conjunto de indivíduos que representam a coletividade, com

o intuito de que se produzam discursos de maneiras ‘livres’, que representam melhor e mais

adequadamente os pensamentos dos indivíduos entrevistados. O discurso do sujeito coletivo

[...] é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos [...]. A proposta [...] consiste [...] em analisar o material verbal coletado extraindo-se de cada um dos depoimentos [...], as idéias centrais e/ou ancoragens e as suas correspondentes expressões-chave; com as expressões –chave das idéias centrais ou ancoragens semelhantes compõe-se um ou vários discursos síntese na primeira pessoa do singular (Ibid., p. 15-16).

A coleta do material (discurso) a ser analisado foi realizada por meio do uso de um

microgravador portátil, para que as respostas registradas no momento da entrevista fossem

idênticas ao mencionado pelo entrevistado. O registro dessas respostas gravadas foi

literalmente transcrito em papel, para que com base nesse material escrito fossem

identificadas as expressões chave das idéias centrais (ECHIC) e as expressões chave da

ancoragem (ECHAC) (disponíveis nos apêndices D e E).

Lefèvre e Lefèvre (2003, p. 17, grifo do autor) nomeiam as expressões chave das

idéias centrais e da ancoragem como figuras metodológicas que são necessárias para a

confecção dos discursos do sujeito coletivo (DSC), e determina que

as expressões-chave (ECH) são pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso, [...] que revelam a essência do depoimento [...] do conteúdo discursivo dos segmentos em que se divide o depoimento [...] ou seja, as expressões chave são uma espécie de prova discurso-empírica da verdade das idéias centrais e das ancoragens e vice-versa. É com a matéria-prima das expressões chave que se constroem os discursos do sujeito coletivo.

Já a idéia central (IC) é entendida pelos autores (Ibid.) como sendo “[...] um nome ou

expressão lingüística que revela e descreve, da maneira mais sintética, precisa e fidedigna

possível, o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de

ECH, que vai dar nascimento, posteriormente, ao DSC”. Nesse caso, ressalta-se a importância

de que a idéia central “[...] não é uma interpretação, mas uma descrição do sentido de um

depoimento ou de um conjunto de depoimentos”.

Além disso, esses autores completam que “essas ICs podem ser resgatadas através de

descrições diretas do sentido do depoimento, revelando o que foi dito ou através de descrições

indiretas ou mediadas, que revela o tema do depoimento ou sobre o que o sujeito enunciador

está falando” (Ibid.).

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101

Dentro desse processo de evidenciar as figuras metodológicas, os autores (Ibid.)

afirmam que

algumas ECH remetem não a uma IC correspondente, mas a uma figura metodológica que, sob a inspiração da teoria da representação social, denomina-se ancoragem (AC), que é a manifestação linguística explícita de uma dada teoria, ou ideologia, ou crença que o autor do discursos professa e que, na qualidade de afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para “enquadrar” uma situação específica.

Desse modo, os autores (Ibid., p. 18, grifo do autor) ressaltam ainda que “[...] quase

todo discurso tem uma ancoragem na medida em que está quase sempre alicerçado em

pressupostos, teorias, conceitos e hipóteses”. Entretanto, salientam que para que se tenha uma

análise mais detalhada dos discursos é conveniente “[...] destacar e distinguir os discursos nos

quais se encontram marcas lingüísticas claras de ancoragem, aqueles nos quais essa

ancoragem é, digamos, genérica”.

Por fim, com as ECH, as IC e as AC identificadas, passa-se a elaborar o ou os DSCs,

compreendido pelos autores (Ibid., p. 18) como “[...] um discurso-síntese redigido na primeira

pessoa do singular e composto pelas ECH que têm a mesma IC ou AC”. Para tanto,

evidenciam que para a construção do DSC é necessário considerar os princípios de coerência,

de posicionamento próprio, de distinção entre DSC e de artificialidade natural.

Sucintamente, no princípio coerência deve-se atentar para que a soma dos

depoimentos forme um “[...] todo discursivo coerente, em que cada uma das partes se

reconheça enquanto constituinte desse processo e o todo constituído por essas partes”. O

posicionamento próprio é marcado pela presença e pela expressão de “[...] um posicionamento

próprio, distinto, original, específico frente ao tema que está sendo pesquisado”.

Há também a distinção entre os DSCs, ou seja, por vezes a resposta do entrevistado

apresenta mais de um DSC, podendo assim, distinguí-los em relação às

diferenças/antagonismos ou por complementaridade. Desse modo, quando se trata de

discursos antagônicos é obrigatória sua apresentação em separado, em contrapartida, quando

se trata de discursos complementares, pode-se apresentá-los em conjunto, uns completando os

outros ou em separado, para obter-se resultados mais detalhados.

Em relação à artificialidade natural, relembra-se que o DSC é um discurso falado por

um indivíduo que representa assim, um conjunto de indivíduos (a coletividade) e, por isso,

deve-se construí-lo artificialmente, ou seja, deve-se limpar os discursos de suas

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particularidades, encadeá-los em uma narrativa lógica e coerente e aproveitar todas as idéias

disponíveis.

Com isso, a proposta de Lefèvre e Lefèvre (2003, p. 19, grifos do autor) do DSC é

“[...] resgatar o discurso como signo de conhecimento dos próprios discursos”, entretanto,

salientam que com o DSC

[...] os discursos dos depoimentos não se anulam ou se reduzem a uma categoria comum unificadora já que o que se busca fazer é reconstruir, com pedaços de discursos individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quantos se julgue necessários para expressar uma dada “figura”, ou seja, um dado pensar ou representação social sobre um fenômeno.

Um modelo extraído da obra de Lefèvre e Lefèvre (2003) está disponível no anexo F,

como forma de exemplificar a construção e a posterior apresentação de um DSC. Essa

apresentação estará disponível no capítulo ‘Resultados da pesquisa’ e será configurada por

uma ‘moldura’ em torno do DSC para facilitar a identificação do leitor.

Pretendeu-se, com o uso da técnica do DSC, revelar os pensamentos e as

representações dos ‘atores sociais’ (entrevistados) envolvidos no processo de

desenvolvimento do ecoturismo no PEISC, pois verificou-se o que estes pensam e entendem

sobre o ecoturismo, onde ocorre, como é desenvolvido, qual a relação entre o ecoturismo e

educação ambiental, como esta é desenvolvida, quais são as suas modalidades e quais são os

benefícios proporcionados à conservação da natureza, entre outros.

Reigota (1998b), ao corroborar com a temática da representação social infere que as

representações sociais estão normalmente relacionadas com os sujeitos de fora da comunidade

científica, fato que indica que as formas de se pensar relacionam-se a um processo histórico

social que deve ser compreendido a partir de uma configuração coletiva social.

Desse modo, evidencia-se também a necessidade de consideração da teoria da

representação social, que é caracterizada por Moscovici (1976, 1978 apud REIGOTA, 1998b,

2002), como o conhecimento do senso comum que se tem acerca de um determinado tema,

amplamente debatido pela ciência e reconhecido em espaço público, incluindo os

preconceitos, as ideologias e as características sócio-culturais das pessoas.

Em complemento, Jodelet (1989 apud LANE, 1995, p. 61) afirma que

[...] as representações sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos, mentais e sociais e integrando, ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação, a consideração das relações sociais que afetam as representações e a realidade material, social e ideal sobre as quais elas vão intervir.

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Lane (1995, p. 71) acrescenta que “[...] as representações sociais são os dados

empíricos dos quais se parte para um procedimento de análise que os insere no movimento

histórico [...] permitindo assim chegar às categorias construtivas do psiquismo humano

[comportamento humano]”.

A partir do exposto, justifica-se o uso da técnica do discurso do sujeito coletivo como

forma de detectar a compreensão sobre a importância da educação ambiental para o

ecoturismo, apresentada, no âmbito do senso comum, pelos atores entrevistados, o que é

possível na medida em que se compreendem os comportamentos humanos relacionados ao

ecoturismo e à educação ambiental, já que a educação ambiental trabalha com atitudes e

valores ambientais, partindo de um problema ambiental e caminhando em direção à sua

respectiva solução.

Para tanto, Ruscheinsky (2002, p. 04) complementa esta idéia quando cita que

a compreensão de meio ambiente de cada indivíduo enquanto membro de um grupo social consolida uma representação social, portanto, o ponto de partida para o trabalho com educação ambiental deve ser a própria representação do educador e das pessoas envolvidas nesse processo.

Nesse sentido, “a ação ou pensamento do indivíduo, compartilhado com um grupo ou

em diferentes grupos sociais, exerce influência sobre o contexto social. Em outros termos, as

representações sociais fundam a prática social” (Ibid., p. 06).

Apesar de ter-se utilizado uma fundamentação advinda da educação ambiental,

pressupõe-se que o mesmo possa ser aplicado ao ecoturismo, e que, portanto, com o DSC e

com as representações sociais advindas dos agentes e dos gestores (tidos como envolvidos e

responsáveis pelas práticas de ecoturismo e educação ambiental PEISC), pode-se analisar as

relações existentes entre o ecoturismo e a educação ambiental, de um modo geral, nos espaços

destinados ao ecoturismo, possivelmente caracterizados como unidades de conservação, pois

acredita-se que a representação social desses indivíduos acerca dessas temáticas norteiam suas

práticas sociais.

Essas práticas sociais referem-se aos momentos pelos quais os indivíduos empreendem

processos de aprendizado, realizados com base em novas percepções ambientais, que

garantam a transformação de seus valores e suas atitudes em relação ao meio ambiente

natural, passando assim, a elucidar uma nova relação com o ambiente e seu entorno. Tuan

(1980, p. 04-05) refere-se a esse processo como topofilia, “[...] o elo afetivo entre a pessoa e o

lugar ou ambiente físico”, sendo que esse elo afetivo será construído a partir do momento em

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que uma sucessão de percepções – “[...] resposta dos sentidos aos estímulos externos [...]” –

formar as atitudes, entendidas como “[...] uma postura cultural, uma posição que se toma

frente ao mundo”.

Nesse sentido, a escola contemporânea da percepção, a gestáltica, se fundamenta no

fato da percepção ser formada por sensações, ou seja, a percepção é o início do processo de

conhecimento, nada pode estar na inteligência, ser aprendido, sem ter passado pelos sentidos.

O aprendizado só acontece pelo sentido e a natureza, enquanto ambiente, produz sensações

deleitáveis, estímulos sensoriais que dão formas às atitudes humanas (COIMBRA, 2004;

HAGEN, 1980 apud SANTAELLA, 1998; TUAN, 1980).

Com isso, pressupõe-se que o ecoturismo, enquanto uma atividade turística, que

trabalha com a percepção dos envolvidos para com seu ambiente natural, facilitada por

atividades proporcionadas pelas modalidades de educação ambiental, promove atitudes

ambientais valorizadas pelo aprendizado que podem ocasionar o elo efetivo com a natureza e,

consequentemente, a sua conservação. Justifica-se assim, o uso do DSC pautado pelos

referenciais da representação social como forma de atingir os objetivos propostos para essa

etapa da pesquisa, assim como, para toda uma análise das temáticas envolvidas.

Portanto, após a aplicação das técnicas de pesquisa e a constatação de evidências

teóricas e empíricas, será realizada a interpretação dos dados e, consequentemente, dos seus

resultados, com o intuito de tecer diálogos que aprofundem as relações acerca das temáticas

propostas (ecoturismo e educação ambiental), assim como, com seu objetivo de estudo, o

PEISC.

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6 RESULTADOS DA PESQUISA

6.1 Tecendo relações entre o ecoturismo e a educação ambiental

Nesse momento, apresentam-se os resultados provenientes das reflexões teóricas

(Etapa I dos ‘Procedimentos Metodológicos’) sobre as temáticas de ecoturismo e educação

ambiental, e as suas possíveis relações, bem como, a identificação das modalidades de

educação ambiental aplicadas ao ecoturismo, que contemplam os objetivos específicos 1 e 2,

propostos inicialmente.

Diante das interfaces e do ideário contemporâneo da relação entre homem e natureza,

há o rompimento de uma convivência harmônica e o estabelecimento de novos padrões

conflituosos, o que explicita a consideração da dependência entre o homem e a natureza

(CASTELLS, 1999; VIOLA, 1987; VIOLA 1992; VIOLA e LEIS, 1995), e que pode explicar

a importância da relação entre o ecoturismo e a educação ambiental.

Os termos ecoturismo e educação ambiental não são novos, mas evoluíram de acordo

com a evolução do conceito de meio ambiente (DIAS, 2000; LEONARDI, 1999;

TAGLIEBER, 2003), assim como, com o desvendar da consciência ambiental, pela qual a

sociedade evidencia a história do surgimento humano e a sua inter-dependência com o mundo

natural, além da preocupação com os elementos que possibilitam a sobrevivência humana na

Terra.

O ecoturismo além de representar economicamente um segmento do mercado turístico

que se utiliza dos elementos paisagísticos da natureza para uma demanda ávida ao consumo

da ‘beleza’ natural (BINSWANGER, 1999; BOULLÓN, 2002), também representa uma

postura ideológica que se afina aos ideais ambientalistas (conservacionistas ou

preservacionistas) (PIRES, 2002), ambas representações marcadas pelas mudanças na

sociedade pós-moderna, onde valoriza-se o novo e a autêntica experiência humana, pautada

pelo significado das práticas corporais, pelo valor estético e pela ressignificação do ambiente

natural, enquanto espaço de fuga do cotidiano urbano e de superação de limites

proporcionados pelos desafios da natureza (CASCINO, 1998; SERRANO, 2000a; 2000b) .

Então, o ecoturismo, prática marcada por princípios éticos, educativos e sustentáveis,

tem o intuito de conciliar o equilíbrio da área econômica com a área ambiental, a chamada

sustentabilidade (OMT, 2003; SACHS, 2000), sendo que para tanto, tem apresentado

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conceitos, princípios e componentes que retratam uma possível incógnita quanto aos seus

efetivos benefícios relacionados, por exemplo, à conservação da natureza, ao

desenvolvimento comunitário e também à promoção da educação.

O documento principal e oficial do setor, as Diretrizes para uma Política Nacional de

Ecoturismo, de 1994, já retratava o ecoturismo como sendo um segmento do mercado

turístico com atividades ainda desordenadas e promovidas em função das oportunidades

mercadológicas, o que não proporciona os esperados e reais benefícios sócio-econômicos e

sócio-ambientais, e sinaliza suas possibilidades de impactos nocivos aos ambientes onde é

realizado.

Mas, em relação à essas conseqüências, destaca-se apenas a sugerida preocupação do

documento com a imagem da qualidade do produto ecoturístico brasileiro nos mercados

nacional e internacional. E, diante disso, questiona-se o fato do mercado turístico (trade) e o

governo (poder público) instituírem tais oportunidades mercadológicas como norteadoras do

desenvolvimento do ecoturismo.

No caso brasileiro, o ecoturismo, seus conceitos e seu ordenamento, tem sido discutido

pela sociedade civil e no âmbito governamental há cerca de vinte anos, o que sugere a

possibilidade de vislumbrar o estabelecimento claro de critérios e regras para o

desenvolvimento da atividade. Mas observa-se a descontinuidade do processo, quando se têm

diretrizes propostas há doze anos sem que se busque o efetivo alcance de seus resultados,

além dessas diretrizes não serem adotadas como de interesse comum a toda sociedade, o que

dificulta também o estabelecimento de um planejamento ordenado e talvez a freqüente

produção de diálogos atuais acerca de um termo não necessariamente antigo, afinal referem-se

à novas atividades de um antigo contexto.

A partir do momento que considera-se uma atividade, motivada pelo lazer e realizada

em ambientes naturais como uma prática turística, remete-se a isso que as antigas atividades

relacionadas à natureza, são não menos ecoturísticas. Diante das faces de um turismo

relacionado ao ambiente natural (PIRES, 2002) e ao mesmo tempo relacionado a diversas

atividades esportivas, como uma ‘idéia guarda-chuva’ (SERRANO, 2000b), coloca-se em

evidência a dificuldade de se estabelecer um planejamento e uma definição para essa

atividade.

Uma das formas de distinguir as atividades ecoturísticas de outras atividades turísticas,

realizadas em meio à natureza, é tentar identificar na atividade em questão se há o

desenvolvimento de seu componente educativo (educação ambiental) (PIRES, 1998, 2002;

RAMOS, 2005). Dessa forma, quanto mais uma atividade ou um destino turístico promover

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ações educativas em benefício da conservação da natureza, mais próximo estará de ser

considerado ecoturismo.

Em função disso, acredita-se que a educação ambiental passa a ser ao mesmo tempo

um componente e uma ferramenta do ecoturismo, tanto para o alcance de seus objetivos

propostos, quanto na contenção dos impactos nocivos gerados nos ambientes naturais. Essa

inserção da educação ambiental no ecoturismo possibilita um processo de educação que

remete o indivíduo (turista e educando) a uma ação – reflexão – ação, no sentido de

compreender as conseqüências ocasionadas por seus comportamentos e por suas atitudes

perante a natureza (DELORS et al, 2002; GUERRA, 2001; GUIMARÃES, 2005).

Esse momento de ação – reflexão – ação só é possível de ser realizado por meio da

aplicação de um processo educativo, que ganha repercussão no momento em que a este se

aliam as percepções e as sensações proporcionadas pelo potencial natural em que está inserido

(MENDONÇA, 2000, 2005a, 2005b; REIGOTA, 1998b, 2002). Nesse caso, tem-se a

configuração de um sujeito ecológico, que estabeleceu sua afinidade com o meio ambiente

natural, sensibilizou-se acerca das questões ambientais e que está consciente de seus atos,

assumindo um papel de destaque na conservação da natureza.

Assim, o ecoturismo pode ser visto como promotor de experiências privilegiadas de

educação, que estimulam a elucidação de valores e incentivam atitudes em pról da

conservação da natureza e da consolidação de um novo comportamento social.

Reportando-se novamente às Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo,

agora sob o olhar da inserção da educação ambiental na atividade, observa-se que diante do

objetivo de promover o ecoturismo como veículo da educação ambiental e da específica ação

estratégica para isso – conscientização e informação ao turista – tem-se algumas distorções

quanto às propostas e quanto aos meios efetivos para seu alcance.

Conforme já explicitado, sabe-se que a educação ambiental é um componente e uma

ferramenta para o planejamento e o desenvolvimento do ecoturismo, mas ainda se

desconhecem as formas pelas quais esta ferramenta pode ser desenvolvida, o que ocasiona

muitas vezes a promoção das informações ambientais no ecoturismo, que nada revelam ou

proporcionam ao turista, enquanto desenvolvimento do processo educativo.

Essa ação – conscientização e informação ao turista – propôs estratégias para divulgar

atividades ecoturísticas ao turista e para orientá-los em sua adequada conduta na natureza.

Contudo, tais estratégias estão, principalmente, relacionadas à veiculação de informação

ambiental e à divulgação do destino de ecoturismo, especialmente em meios de comunicação

de massa, assim como, relacionada à educação ambiental formal.

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Mas, se o ecoturismo for ideologicamente considerado como uma concepção de

viagem, que objetiva, por meio da interação do homem com a natureza, propiciar

experiências, contatos, vivências diferenciadas, no que tange à compreensão do meio

ambiente natural, de quê valeria ou o quê agregaria ao turista, nessa situação de viagem, ter

contato com informações acerca do meio ambiente que estivessem sendo propagadas em

meios de comunicação de massa, de modo informal.

A educação ambiental trabalhada no ecoturismo deve ser a não formal, por estar

relacionada aos diferentes espaços não escolarizados (espaços naturais) e por, ao mesmo

tempo, não ser promovida de modo informal, ou seja, por meio dos canais de comunicação

em massa. Para tanto, há que se ter formas específicas de desenvolvê-la, sendo que nessa

pesquisa revela-se quatro modalidades de educação ambiental não-formal, o aprendizado

seqüencial (CORNELL, 1997), a interpretação ambiental (HAM, 1992), a educação

experiencial (OBB, 2005) e a educação no processo de gestão ambiental (IBAMA, 2006), ou

também chamadas de educação ao ar livre, que podem ser aplicadas ao ecoturismo.

Salienta-se que as três iniciais estão mais relacionadas a atividades de lazer, enquanto

a última tem ênfase no desenvolvimento comunitário, e que, essas modalidades têm, em geral,

semelhança com o processo de ação-reflexão-ação pautado nos pressupostos de Freire (1980),

que Guimarães (2005) coloca como uma educação ambiental crítica.

A própria Política Nacional de Educação Ambiental, de 1999, já colocava que a

educação ambiental deve ser desenvolvida de maneira integral e que deve proporcionar à

sociedade a formação de valores, atitudes e habilidades na solução de problemas ambientais.

Apesar de diferentes nas relações e em suas formas de desenvolvimento, essas

modalidades de educação ambiental proporcionam aos indivíduos uma formação ambiental e,

consequentemente, a possibilidade de transformação social. No caso do turismo, por exemplo,

a transformação de atividades convencionais em atividades turísticas mais sustentáveis, além

da própria transformação individual.

Outro detalhe a destacar é que, no ecoturismo, trabalha-se exclusivamente com os

ambientes naturais e, sendo assim, identifica-se um poder ainda maior de sensibilizar seus

participantes, pois o ambiente natural dispõe de um significativo e intrínseco potencial à

educação (MENDONÇA, 2000, 2005a, 2005b; SERRANO, 2000a, 2000b).

Na tentativa de estabelecer inter-relações entre as práticas de ecoturismo e educação

ambiental em um processo de planejamento (GUIMARÃES, 2001; SALVATTI, 2003) para

futuras atividades de ecoturismo, sugere-se com base nos apontamentos de Guerra (2001) e

conforme mostra a figura 18, ‘O processo de educação ambiental aplicado ao ecoturismo’,

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que pretende nortear um efetivo planejamento de ecoturismo pautado exclusivamente nos

ideais educacionais, tendo na educação ambiental e na inserção das modalidades de educação

ambiental (AS, IA, EE, EPGA), as efetivas ferramentas ao processo de desenvolvimento e ao

alcance dos objetivos do ecoturismo, inclusive a conservação da natureza.

Isto porque, o ecoturismo é freqüentemente considerado como um meio de

conservação da natureza, mas tal consideração normalmente restringe-se a relacionar esse

potencial de conservação ao que poderá ser feito, em pról desse objetivo, com a receita

arrecadada pela visitação turística nos atrativos e ou nas unidades de conservação, sem que se

vislumbre um alcance mais efetivo desse objetivo, por meio da implementação de práticas

educacionais, já que o turista, ao visitar o local ou ao realizar uma atividade pautada pelas

modalidades de educação ambiental, leva consigo o aprendido e isso fará parte de seu legado,

possivelmente, parte até de comparações em suas próximas viagens, diferentemente das taxas

que são pagas uma única vez.

Figura 18 – O processo de educação ambiental aplicado ao ecoturismo Fonte: Adaptado da ‘Dimensão ambiental na educação’ (GUERRA, 2001)

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Então, esse processo de educação ambiental aplicado ao ecoturismo (figura 18)

estrutura-se em uma relação horizontal entre os elementos que o compõem, bem como, em

um sistema periférico, que parte das relações estabelecidas no centro do processo para as

áreas periféricas, com a intenção de atingir as dimensões que norteiam o processo como um

todo.

Desse modo, tem-se no centro do processo o ecoturismo, que é permeado pelas

relações estabelecidas entre os envolvidos em seu processo de planejamento e de

desenvolvimento (trade turístico, turistas, comunidade local e poder público). A partir disso e

conforme um processo de educação (conduzir para fora (CORNELL, 1997; MENDONÇA,

2005b)), o ecoturismo e as interações estabelecidas entre os envolvidos tendem a seguir em

direção a cada um dos processos de aprendizagens (GUERRA, 2001) ou aos pilares

necessários à educação (DELORS et al, 2002), como formas de se atingir os processos de

pensar, sentir, querer, ser, conviver, fazer e, por fim, poder.

Esses processos interagem simultaneamente e são pautados pelas dimensões do

conteúdo da aprendizagem (afetiva, cognitiva, metodológica e ecosófica), ou seja, são as

formas pelas quais os envolvidos no processo de ecoturismo irão adquirir conhecimentos e

exercer habilidades e competências, mediante as dimensões do conteúdo para a educação

ambiental (relações intra e interpessoais, atitudes e valores éticos e estéticos, conhecimentos e

outros saberes, habilidades e competências) e a influência de seus respectivos componentes

(conhecimento, saberes locais, tradições culturais e espirituais, autonomia, percepção estética,

sensibilização, participação, resolução de problemas, ação/reflexão/ação, cooperação,

solidariedade, responsabilidade, e corporeidade), bem como, do processo metodológico

inerente às modalidades de educação ambiental não-formal ao ar livre (AS, IA, EE e EPGA).

As relações estabelecidas nesse processo têm o intuito de promover o processo

educativo (ação – reflexão – ação) por meio do e para o ecoturismo, para que os envolvidos

nessa atividade transformem seus valores (suas representações sociais) em relação ao

convívio e a utilização da natureza, e para que atinjam a esfera do poder, da ação (prática

social), da transformação dos valores em atitudes e da transformação crítica da realidade que

os cercam.

Acredita-se que esse processo possa ser aplicado ao desenvolvimento ecoturístico de

regiões, como as delimitadas pelo Projeto Pólos de Ecoturismo, afinal, pretendem desenvolver

o ecoturismo e, para tanto, torna-se necessário a inserção de um modo sistemático de

educação ambiental.

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6.2 Análise dos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC)

Na tentativa de tecer diálogos mais assertivos em relação aos discursos dos atores

sociais entrevistados na pesquisa, referente aos objetivos 3 e 4, se disponibiliza a seguir os

Discursos do Sujeito Coletivo (DSCs) desses mesmos atores, compostos pelo conjunto das

expressões-chave das idéias centrais (ECHIC) e das expressões-chave das ancoragens

(ECHAC). Os DSCs estão organizados de acordo com a ordem das perguntas realizadas e

separados pelo conjunto das idéias centrais (IC) antagônicas, vislumbradas em cada uma das

respostas às questões.

Atenta-se para o fato de que algumas IC aparecerão compostas pela nomenclatura

idéia individual entre parênteses, o que representará uma idéia antagônica mencionada apenas

uma vez pelo grupo de atores sociais entrevistados, ou seja, a idéia mencionada foi única no

grupo entrevistado, não podendo ser complementada em nenhuma outra IC e, devido a sua

importante representação não poderia ser excluída. Salienta-se também, que Lefèvre e Lefèvre

(2003) em nenhum momento tratam desse possível aspecto ou característica na técnica do

DSC, pressupondo-se assim, a possibilidade de sua consideração em função das condições

específicas para os dados trabalhados na presente pesquisa.

A seguir, então, além dos DSCs apresentados, inicialmente com a exposição da

questão, também serão apresentados os pressupostos e os intuitos que levaram o pesquisador a

confeccionar e aplicar tal questão aos entrevistados, bem como, posteriormente, será

apresentado ao DSC de uma IC, os comentários e os aspectos daquele DSC e daquela IC

pautados pela relação teórica a que remetem.

6.2.1 Discursos dos agentes e operadores de turismo na natureza do PEISC

O primeiro DSC apresentado refere-se aos agentes e operadores de turismo na

natureza do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC) que tinha o intuito de

levantar os destinos de ecoturismo que desenvolvem a educação ambiental no pólo, conforme

o objetivo específico 3 proposto pela pesquisa. Para tanto, elaborou-se quatro questões, sendo

que a primeira delas, tratava-se de uma pergunta ‘filtro’, ou seja, uma pergunta inicial para

situar a atuação da empresa entrevistada. Ao mesmo tempo, a idéia também era de que fosse

uma pergunta base para a elaboração da segunda, afinal, se há a utilização do ecoturismo

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como um produto da empresa, então, necessita-se compreender o que se entende por

ecoturismo.

Lembra-se, apenas, que duas das entrevistas realizadas foram excluídas,

principalmente, em função das respostas que foram obtidas com a aplicação desta pergunta. Questão 1 – O Sr. (a) utiliza-se do ecoturismo como produto de venda ao consumidor / turista?

DSC da IC – ecoturismo como produto de venda da empresa. Eu utilizo, né? o ecoturismo é o produto de venda da minha empresa. E se utiliza não só do ecoturismo mas de toda a filosofia da atividade, sendo o ecoturismo uma das bases da empresa, então, é ecoturismo, cultura e aventura, é um tripé, e isso gera as viagens pedagógicas. Mas a gente começou a tomar uma outra conotação aí. Tá utilizando de atividades de aventura em meio a natureza. Eu trabalho, digamos, formalmente com o ecoturismo, com firma e cnpj já a aproximadamente 12 anos e informalmente, né? desde 86.

Primeiramente, esse DSC apresenta uma concepção de que o ecoturismo não é apenas

um segmento de mercado, voltado ao lado comercial, há uma filosofia por trás da atividade.

Enquanto atividade comercial, nota-se que para a região do pólo, o ecoturismo tem sido

trabalhado, mesmo informalmente, há pelo menos vinte anos, o que confirma que sua prática

é ainda anterior às discussões acerca dessa prática. Já a filosofia abarca as áreas de atuação do

ecoturismo e retoma um ponto inicial do surgimento de uma relação entre ecoturismo e

educação ambiental, o desenvolvimento das viagens pedagógicas, além de, ao mesmo tempo,

mostrar uma tendência de mercado, que é a ênfase nas atividades de aventura em meio a

natureza. Nessas relações também é possível identificar uma polissemia de termos para tratar

de assuntos correlatos ao ecoturismo.

Na segunda questão, houve a intenção de compreender o significado do ecoturismo,

partindo-se do pressuposto de que a concepção que se tem dessa atividade se trata de uma

representação social, ou seja, de uma concepção sobre o assunto, e isso possivelmente norteia

a prática social do indivíduo, e consequentemente, o planejamento e a execução da atividade.

Questão 2 – Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?

DSC da IC A – íntima relação homem e natureza É seria um turismo mais é junto a natureza né? e uma forma mais íntima, assim né? Pra mim, o ecoturismo além disso, envolve muito mais com o sentimento de descoberta que as pessoas, é... só passam a sentir a partir do momento que conseguem intimamente entrar em contato

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com a natureza. Busca talvez estreitar, assim um pouco, o... resgatar o contato do homem com a natureza, uma forma mais íntima, né?

O discurso da IC A retoma o diálogo da busca do pertencimento do homem ao meio

ambiente natural, enquanto fruto da natureza, ou seja, um retorno às suas origens que está

pautado em um sentimento de descoberta, ou melhor, de redescoberta dos sentidos e do

potencial que a natureza tem na ruptura de formas de vida urbanas. O estabelecimento dessa

relação mais íntima representa a possibilidade de uma relação harmoniosa, de respeito e

cumplicidade com um dado espaço, provavelmente, em função da descoberta de seu

pertencimento.

DSC da IC B – sustentabilidade do ecoturismo É uma prática de atividades ligadas à natureza, é uma integração com a natureza, é o respeito à natureza, então, é toda uma questão que você está se utilizando da natureza, você tá respeitando a natureza, você está integrado a natureza e você tá... é o seu limite e o limite da natureza, é o equilíbrio do que você consegue...de forma cuidada, elaborada, pensada, né? sincronizada até. É uma relação entre a sociedade, a parte econômica, a parte ambiental nas quais se tem como um dos principais objetivos a conservação da natureza, de forma que você tenha rendimentos, tenha lucros, né? que você prejudique de forma nenhuma o local. Aí a gente entra em toda essa questão de sustentabilidade né? de você garantir que isso seja mantido para as próximas gerações, enfim... Ecoturismo tá dentro de turismo sustentável, né? turismo sustentável é um círculo maior e ecoturismo se insere dentro dele. Dentro do ecoturismo se insere os esportes de aventura ou turismo de aventura, que permeiam os dois, dentro de ecoturismo e turismo sustentável.

Já o discurso da IC B remonta a idéia de que apesar da íntima relação existente entre

homem e natureza, esta não é apresentada como um meio de equacionar as atividades,

principalmente as econômicas, com a conservação do meio ambiente natural, por meio de seu

desenvolvimento planejado, para que não haja degradação do local, sendo que o que se

verifica na prática é muito mais a identificação das atividades como fonte de lucros e de

rendimentos, configurando assim, o embate entre a sustentabilidade e o ecoturismo.

Apesar disso, a atividade de ecoturismo é apresentada pelo discurso como parte da

vertente do turismo sustentável e como uma atividade potencialmente sustentável, que deveria

efetivamente conciliar os interesses econômicos e a conservação da natureza.

DSC da IC C – banalização do ecoturismo (idéia individual) Eu acho que é complicado o fato como... a forma como o ecoturismo, a palavra eco foi banalizada, né? Hoje em dia assim, as pessoas se utilizam da palavra eco, ecologia, ecoturismo pra tá vendendo e pra tá criando uma imagem de que respeita a natureza, tudo isso.

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Na IC C há uma representação que em parte explica o embate entre a sustentabilidade

e o ecoturismo, afinal, essa atividade tem sido desenvolvida muito mais em função de um

modismo ambiental, de uma busca incessante por lazer e turismo nos espaços naturais e

também, como meio para o desenvolvimento econômico, ao invés de ter a preocupação de ser

uma atividade comprometida efetivamente com os seus reais benefícios de conservação da

natureza e de melhoria da qualidade de vida da comunidade local. Isso gera, como mostra o

discurso, a banalização da palavra, ou seja, a ampla divulgação de um termo que, para alguns,

já não tem mais o mesmo significado que poderia ter.

A elaboração da terceira questão partiu do pressuposto de que um dos componentes do

ecoturismo, a educação ambiental, seria mencionada justamente em algum momento da

segunda questão e, a partir disso, tinha-se o interesse de compreender como as agências e

operadoras, supostamente ditas de ecoturismo, trabalham com esse componente educativo do

ecoturismo. Ao mesmo tempo, tinha-se também o intuito de enfatizar a inserção dessa idéia

de componente educativo, especialmente relacionando-o ao conceito de ecoturismo, e por

isso, optou-se por contextualizar a pergunta na forma de afirmação para, em um segundo

momento, questionar a opinião do entrevistado.

Ao primeiro passo, observou-se que a educação ambiental ainda não é considerada um

dos elementos essenciais ao desenvolvimento do ecoturismo, mesmo que na segunda questão,

tenha-se comentado sobre as viagens pedagógicas. Tais viagens podem ser entendidas muito

mais como uma segmentação de mercado da agência, do que como uma filosofia, ou até

mesmo, do que um componente do ecoturismo.

Questão 3 – Um dos critérios para as atividades turísticas serem denominadas de ecoturismo é a existência do componente educativo (educação ambiental). Como o Sr. (a) trabalha com a educação ambiental?

DSC da IC A – sensibilização pela própria natureza As pessoas vem pra se divertir, mas automaticamente elas tão emergindo na natureza, tão recebendo as informações, a natureza realmente ali de uma forma original e sempre tem algumas coisas meia degradadas e a pessoa só nesse parâmetro e ali olhando ali, ela já tem essa sensibilização né? é a própria força da natureza que alimenta a pessoa e a pessoa realmente fica é... revaloriza a natureza né?, só pelo simples fato de entra em contato com ela.

Esse primeiro DSC sugere a idéia de que a natureza dispõe de um enorme potencial

para naturalmente estimular as pessoas envolvidas em atividades ao ar livre à compreender

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seu espaço, seu funcionamento e seus problemas, bem como, aproveitar esse momento para a

diversão, para o entretenimento.

Dessa forma, o discurso sugere uma ‘educação’ de modo recreacional, onde a pessoa

por meio de sua percepção pode vislumbrar o ‘belo’ (forma original) e o ‘feio’ (as ‘coisas’

degradadas) e, com isso, estabelecer um parâmetro de análise, de reflexão sobre as atitudes e

as ações que ao mesmo tempo tornam aquele espaço ‘belo’ ou ‘feio’.

Em contrapartida, questiona-se que para a efetivação da educação é necessário a

presença de um educador ou um indivíduo mediador que por meio de sua percepção consiga

sistematizar ações de sensibilização dos participantes sobre a realidade ao seu redor e o

mesmo tempo auxiliá-los a se conscientizar da sua importância para melhorar aquela situação.

DSC da IC B – educação ambiental formal Escolas sejem públicas, sejem particular que vem fazê alguma saída de campo de ordem é... de educação. A gente busca tá inserindo a questão da educação ambiental durante todo o processo, desde o momento que a gente pega os alunos no colégio, uma conscientização camuflada de como se deve... como eles devem se portar... é um trabalho em conjunto com a escola, é uma coisa que os monitores e a empresa não fazem tão diretamente com os alunos, mas é um trabalho que já vem da sala de aula. A vontade é de fazê um trabalho mais nas escolas públicas né, que é assim de grátis, fazê essas atividades, mas tem que arrumá um parceiro pra pode custear.

Já no DSC da IC B, tem-se a idéia equivocada de que o ecoturismo comporta a

educação ambiental em seu modo formal. No senso comum, sempre que se trata de educação

pensa-se em escolas, alunos e professores.

É importante salientar que o ecoturismo, assim como, as atividades por este

desenvolvidas, são realizadas em espaços não escolarizados, por isso, em espaços não

formais. A educação ambiental não formal ou também compreendida como educação ao ar

livre ocorre exatamente no cenário para o desenvolvimento do ecoturismo, ou seja, nos

espaços naturais, ou seja, no meio ambiente natural.

Cabe esclarecer que a compreensão de que o ecoturismo não comporta a educação

ambiental formal, advém, principalmente, da identificação dos espaços para sua realização,

assim como, do fato de que para a educação ambiental formal compor o ecoturismo, é

necessário que haver um efetivo planejamento desta última no intuito de envolver todos os

outros aspectos da educação, o formal, o informal e o não formal, de forma a desenvolver um

programa de educação ambiental aplicado ao ecoturismo. Um exemplo disso, poderia ser

vislumbrado em um destino turístico que tivesse planejado e desenvolvido atividades

relacionadas à natureza e que nas escolas desse destino fossem trabalhados conteúdos sobre

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questões ambientais aplicadas ao turismo, de modo transversal, assim como, houvesse a

divulgação de idéias sensibilizadoras e potencializadoras da conservação do meio ambiente

natural, nos meios de comunicação de massa, bem como, houvesse o desenvolvimento de

formas específicas de educação ambiental a serem aplicadas as atividades de ecoturismo.

DSC da IC C – não se tem formas específicas de educação ambiental Nós não temos uma metodologia né? Não tem uma forma específica, tem é digamos, é uma, uma... a gente procura ter, digamos, os parceiros.

No DSC da IC C observa-se que o mercado ecoturístico desconhece e,

consequentemente, não utiliza formas específicas de desenvolvimento da educação ambiental,

possibilitando assim, a compreensão de que algumas das práticas de educação ambiental,

desenvolvidas no ecoturismo, ocorrem de maneira não sistemática, o que sugere que não

sejam formas efetivas de educação. O discurso sugere ainda que há uma parceria

desenvolvida entre a empresa e um suposto guia, ou seja, enquanto a empresa se preocupa

com a comercialização da atividade de ecoturismo, o guia tem a responsabilidade de trabalhar

as informações sobre o local visitado, reportando assim, a uma transmissão de informações,

prestada nem sempre por um profissional qualificado para tal.

DSC da IC D – conhecimento sobre o componente ambiental (consciência ambiental) Todas as atividades que a gente promove tem educação ambiental, ou seja, eu não consigo fazer uma atividade sem o componente ambiental. Então, temos uma consciência ambiental, que é justamente explicar ou tentar explicar como funciona a questão do ambiente ali, do ecossistema.

No DSC da IC D apresenta-se o fato de que para se desenvolver uma atividade de

ecoturismo é necessário conhecer e compreender a realidade daquele ambiente, seu

funcionamento e sua formação e, com isso, há o equivoco de que se tem realizado educação

ambiental no ecoturismo. Essa compreensão do ambiente que cedia a atividade de ecoturismo,

pelo turista, é importante, mas não deve ser tratada dissociada de um processo de educação

ambiental não formal.

DSC da IC E – interpretação ambiental É trabalhada em conjunto né? se é uma trilha, existe as paradas onde o instrutor, o guia de ecoturismo, vai parar e vai fazer essa interpretação, que a gente chama de interpretação ambiental. Então, ele vai explicando, vai falando, vai mostrando, vai ensinando sobre o local, então quer dizer vai fazendo com que as pessoas pensem e reflitam sobre tudo aquilo que eles tão fazendo.

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Já no DSC da IC E tem-se a constatação do trabalho das agências e operadoras com

uma das modalidades de educação ambiental, possivelmente, aplicada ao ecoturismo. É

interessante notar a presença de um instrutor enquanto elo de ligação entre o ambiente e o

turista, mas em contrapartida, observa-se que o discurso remete a uma interpretação ambiental

dissociada da sistemática proposta por Ham (1992), afinal, o que o grupo das agências

demonstra é que essa educação ambiental é desenvolvida ainda de modo a explicar os

conteúdos relacionados ao ambiente visitado, sem, contudo, proporcionar ao visitante uma

sensação de compreensão do ambiente.

DSC da IC F – aprendizado seqüencial (idéia individual) A educação é trabalhada a partir do livro do ambientalista americano, Joseph Cornell – Aprender brincando com a natureza. O cara, justamente, consegue usar uma metodologia de descobertas e desafios que a própria natureza oferece, trabalhando sempre a questão indagativa, onde as pessoas vão tentando se aproximar e a gente vai peneirando, peneirando, peneirando... e aí eles vão pensando, elaborando, elaborando, elaborando uma resposta e ali é feita a gravação como se diz no... através dos nossos sentidos, audição, visão e tudo mais, nesse sentido o pensamento vai sendo elaborado, quer dizer, as respostas vão sendo cada vez mais internalizadas.

Diferentemente do anterior, o DSC da IC F além de proporcionar a identificação da

modalidade de educação ambiental aplicada ao ecoturismo, também descreve subjetivamente

seu escopo teórico-metodológico, quando cita o trabalho desenvolvido de maneira indagativa,

no qual os aprendizes refletem e elaboram respostas para as questões/situações problema

apresentadas, ao mesmo tempo em que recebem estímulos sensoriais proporcionados pelas

experiências.

Dessa forma, acredita-se que por mais que nesse discurso não sejam evidentes os

estágios do aprendizado seqüencial, desenvolvidos por Cornell (1997), observa-se à

compreensão e, supostamente, a incorporação dos ideais preconizados por essa modalidade.

DSC da IC G – adestramento ambiental (idéia individual) A gente procura fazer trilhas que explora toda a questão da... do respeito ao meio ambiente no sentido de não arrancar nada, de não levar nada, de não deixar nada, é... não fazer nada que vá prejudicar.

Contraditoriamente, o DSC da IC G apresenta uma forma de educação ambiental

bastante popularizada e discutida, bem como, ainda bastante utilizada pelo senso comum, que

procura evidenciar o certo e o errado, o que pode e o que não pode ser feito, por exemplo, em

um ambiente natural. Dessa forma, as inúmeras negações tem pouco significado a quem as

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ouve e propiciam um condicionamento (adestramento) desse indivíduo, que é levado, afinal, a

não se questionar sobre o não fazer, o não poder, fazendo com que a menção do vocábulo não

se torne uma advertência sobre o que pode se ou não realizar.

Após essas perguntas iniciais, a pesquisa, por meio da questão 4, teve o intuito de

levantar quais os possíveis locais no PEISC que desenvolviam ecoturismo juntamente com a

educação ambiental. Inicialmente, conforme evidenciado na afirmação da questão, partiu-se

do pressuposto de que havia a necessidade de caracterizar a Ilha de Santa Catarina como um

Pólo de Ecoturismo, e que essa caracterização, devia-se ao fato de existirem nesse espaço

unidades de conservação. Ao mesmo tempo, pressupunha-se que os locais revelados pelas

respostas pudessem estar relacionados às unidades de conservação que compreendem o pólo.

Questão 4 – A Ilha de Santa Catarina foi caracterizada como ‘Pólo de Ecoturismo’ devido aos recursos naturais existentes e, possivelmente, salvaguardados na forma de Unidades de Conservação. Quais são os locais em que a realização do ecoturismo ocorre juntamente com a educação ambiental?

DSC da IC A – a natureza é mestre (idéia individual) Praticamente, quase todos os locais, da nossa parte, isso já é meio que acontece, dessa forma meio que até indireta, pois as pessoas vão assimilá as coisas da natureza. A natureza é mestre, né? Então, de alguma forma de certo grau sempre a educação ambiental acontece, sempre!

Nesse primeiro DSC tem-se a constatação de que em todos os locais, independente de

sua localização, ocorre educação ambiental, basta esse local estar relacionado à natureza para

que a educação ambiental aconteça, afinal, a natureza é mestre na forma de ensinar.

Aparentemente, acredita-se na possibilidade de haver uma ‘educação’ indireta, proporcionada

pela natureza em estado puro, mas deve-se relembrar que o processo educacional necessita de

uma pessoa, um mediador, para que efetivamente aconteça. A educação e inclusive a

educação ambiental não ocorre por si só, ocorre na relação entre os indivíduos de uma

sociedade em busca de um determinado objetivo.

DSC da IC B – desconhecimento do pólo (idéia individual) Mas em Floripa, na Grande Floripa, né? É o pólo está na grande Floripa, né?

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Já nesse DSC, há a constatação inicialmente pressuposta de que ainda há o

desconhecimento da localização e, consequentemente, do conteúdo relacionado ao Programa

Pólos de Ecoturismo do Brasil, principalmente, no PEISC.

Esse desconhecimento é, possivelmente, resultante da falta de iniciativas e de

divulgação dos destinos que compõem o pólo, bem como, da falta de planejamento ou atenção

a esse segmento do turismo, o que pode ocasionar uma desestruturação na organização e no

planejamento da atividade de ecoturismo na região e em seu entorno.

DSC da IC C – locais que desenvolvem ecoturismo juntamente com educação ambiental Os lugares que acontecem o ecoturismo são normalmente as áreas de parque, mas a gente não trabalha só com os parques mas as áreas, as APPs também, tipo o Morro dos Ingleses, a RPPN das Aranhas, arvorismo no Costão do Santinho e no Engenho Velho, o Parque Florestal do Rio Vermelho, a trilha da Barra da Lagoa, a própria Barra da Lagoa, sund board nas Dunas da Joaquina, no próprio Costão do Santinho, as trilhas da Moçambique, o Parque Municipal da Galheta, as trilhas do Parque da Lagoinha do Leste, o Parque da Lagoa do Peri, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, o entorno da Estação Ecológica do Carijós, a APP da Costa da Lagoa, a APA de Anhatomirim, a Área de Proteção da Baleia Franca e a Ilha do Campeche.

No DSC da IC C foram descritos os locais e as atividades que relacionam ecoturismo

com educação ambiental. Em relação aos locais, constata-se a menção à diferentes tipologias

de unidades de conservação, todas consideradas como enquanto espaços que abrigam o

desenvolvimento do ecoturismo e de suas atividades, as quais estão relacionadas tanto à

contemplação da natureza por meio das trilhas, quanto ao desenvolvimento de esportes com

certo grau de aventura, com risco e desafio, como o sund board e o arvorismo.

DSC da IC D – unidades de conservação sem planos de manejo (idéia individual) Nenhuma das unidades de conservação que compõe o Arquipélago de Santa Catarina tem plano de manejo, ou seja, nenhuma dessas unidades de conservação tem especificado as áreas onde pode-se atuar ou não turisticamente, tá?

O DSC da IC D apresenta uma idéia equivocada sobre a falta de planos de manejo nas

unidades de conservação pertencentes ao ‘Arquipélago de Santa Catarina’. Efetivamente, a

falta de planos de manejo dificulta o desenvolvimento de qualquer atividade a ser realizada

naquele espaço, porém cabe salientar, por exemplo, que as unidades de conservação REBIO

Arvoredo e a Estação Ecológica Carijós dispõe de planos de manejo, e a APA de Anhatomirin

tem trabalhado no desenvolvimento de seu plano de manejo.

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DSC da IC E – educação ambiental ocorre em função da empresa (idéia individual) A gente faz em todos os lugares, onde tem atividade da Adrenailha ocorre educação ambiental, mesmo aqui na praia dos Ingleses que não é uma unidade de conservação, entendeu? Mesmo não sendo uma unidade de conservação, mas existe a parte de educação ambiental, né?

Já no DSC da IC E atenta-se para o fato do comprometimento da empresa no

desenvolvimento da educação ambiental, ou seja, nesse caso a educação ambiental somente

ocorre em função da empresa escolher desenvolvê-la.

DSC da IC F – não há ecoturismo e educação ambiental no pólo (idéia individual) Que eu me lembre, exatamente de fazer todas as relações de ecoturismo e educação ambiental no polo, não me recordo. Não me recordo mesmo de existir essa relação direta.

Nesse último DSC da questão 4, atenta-se para o fato de que na visão desse agente e

ou operador de turismo na natureza, o PEISC não dispõe de atividades que relacionem

ecoturismo e educação. Desse modo, verifica-se a existência de uma variedade de discursos,

desde àqueles em que a educação ambiental ocorre em todas as atividades ecoturísticas, assim

como, esse discurso que nega a existência essa relação.

Ao mesmo tempo, possibilita a evidência de que há no PEISC atividades turísticas

realizadas na natureza, mas que estas não comportam a idéia e a filosofia do ecoturismo, por

não desenvolverem o seu caráter educativo.

Diante dessa multiplicidade de resultados e das possibilidades de inter-relações

provenientes das idéias dos DSCs apresentados, pretende-se, sucintamente, delimitar as

temáticas apresentadas na tentativa de uma melhor visualização dos resultados e para se

estabelecer um fechamento sobre as concepções desse grupo de entrevistados.

Então, nessa tentativa de ponderar as relações entre ecoturismo, educação ambiental e

o PEISC, salienta-se que, inicialmente, os agentes e operadores apresentam uma concepção de

ecoturismo que está dissociada do seu componente educação ambiental, da mesma forma que

a suposta educação ambiental desenvolvida por essas agências e operadoras ainda está voltada

ao nível escolar (formal) e em alguns casos remetam ao nível não formal, por apresentarem

características das modalidades de educação ambiental (AS e IA) porém, sugestivamente,

dissociadas de seus escopos teórico-metodológicos, o que as caracteriza como um

conglomerado de informações ambientais, descaracterizadas de um processo educativo.

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Ao tentar, então, relacionar essas representações em um contexto prático, visualizou-se

que os espaços do PEISC apesar de disporem de significativos atrativos turísticos naturais,

ainda não relacionam as atividades, até então desenvolvidas, nesses espaços à idéias de

ecoturismo com seu componente educação ambiental. Os destinos que, supostamente,

conseguem promover essa relação estão inseridos no contexto das áreas naturais protegidas

(unidades de conservação), nesse sentido, justifica-se a aplicação de um roteiro de entrevista

aos gestores e ou responsáveis por esses espaços para compreender essa interação.

6.2.2 Discursos dos gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do PEISC

Os DSCs dos gestores e ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo no PEISC tinha

o intuito de reconhecer a importância da educação ambiental no ecoturismo para a

conservação da natureza desses locais, conforme o objetivo específico 4 proposto nessa

pesquisa. Para tanto, elaborou-se oito questões, sendo que a primeira delas aplicada a esse

grupo referia-se ao entendimento dos mesmos quanto ao termo meio ambiente.

Primeiramente, pressupôs-se que os responsáveis pelo desenvolvimento da educação

ambiental no ecoturismo seriam exatamente os indivíduos diretamente relacionados aos

destinos, muito mais do que os agentes e operadores de turismo na natureza.

Por isso, teve-se o intuito de realizar essa primeira questão, pois pautado nos

pressupostos de Guerra (2001), Sato (2002) e Sauvé (1997), acreditou-se que a forma pela

qual este grupo de indivíduos entende o meio ambiente (representação social) seria a forma

pela qual os mesmos efetuariam suas práticas sociais relacionadas tanto ao ecoturismo quanto

à educação ambiental, já que esses dois termos e atividades supostamente desenvolvem-se em

um dos espaços que compõem o meio ambiente, o natural. Acreditou-se também que essa

mesma questão pudesse ter sido realizada ao grupo dos agentes, pois verificou-se que os

mesmos além de intermediários na venda e na relação entre o turista e os espaços para as

práticas turísticas, também são àqueles que desenvolvem e que executam as práticas de

educação ambiental no ecoturismo.

Os DSCs dessa questão, apresentados abaixo, tiveram suas ancoragens (AC)

relacionadas principalmente, às concepções de meio ambiente desenvolvidas por Sauvé

(1997), pois acreditou-se que desse modo haveria uma maior possibilidade de análise.

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Questão 1 – Para o Sr. (a) o que quer dizer meio ambiente?

DSC da IC A – como lugar para viver Meio ambiente é o lugar como um todo, meio em que a gente vive. Tudo é meio ambiente, a gente tá inserido no meio ambiente. É considerado o conjunto de elementos, tudo que é natural (natureza), o que é construído, o que é social, o que é cultural e o que é histórico, e as relações que envolvem tanto a parte física, biológica, parte sócio-econômica, a parte humana, sócio-ambiental.

Diante das concepções de meio ambiente desenvolvidas por Sauvé (1997), tem-se o

DSC da IC A caracterizado como lugar para se viver, o que representa a idéia do espaço de

vida e de inter-relações entre diversos elementos e que traz ao homem um sentimento de

pertencimento àquele espaço. Essa representação supostamente indica as relações existentes

entre a sociedade e a natureza e, ao mesmo tempo, indica o posicionamento que deve-se ter

em relação ao espaço a que se pertence, levando em conta as formas de conhecer, de planejar

e de cuidar desse espaço.

Apesar de não ter sido pontuado na forma de um DSC pode-se afirmar que a IC A,

quando cita que o meio ambiente é um conjunto de elementos que se relacionam com as

partes biofísicas, humanas, sócio-ambientais e sócio-econômicas, sugere a idéia de meio

ambiente como recurso para ser utilizado e gerenciado, balizado por uma relação pautada pela

sustentabilidade. Afinal, para essa concepção, o meio ambiente e principalmente os recursos

naturais, são bens de uso comum da sociedade e, por isso, devem ser usados de modo

sustentável.

DSC da IC B – como biosfera (idéia individual) Seria as relações que ocorrem no Planeta, desde a biosfera, litosfera, hidrosfera, enfim...

Já o DSC da IC B relaciona o conceito de meio ambiente com o de biosfera, o que

representa a inter-relação entre os seres vivos e outros seres inanimados que habitam o

Planeta Terra. Essa compreensão proporciona a idéia de que é necessária uma consciência

planetária sobre a interdependência das relações desses seres, pois, de um modo geral, os

seres humanos também dependem desses ambientes, mesmo que indiretamente, para viver.

Para tanto, salienta-se como um dado interessante, que a concepção de meio ambiente

enquanto natureza em seu estado original (virgem), não foi evidenciada pelos entrevistados, o

que remete a uma idéia de mudança nas compreensões desse termo e isso, consequentemente,

poderá ocasionar novas formas de atuação em benefício, por exemplo, da conservação desses

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espaços naturais, afinal, tem-se uma noção holística do que compreende o meio ambiente

(como um todo).

Cabe salientar também que essas concepções, na visão de Sauvé (1997), são

complementares, podendo ser relacionadas em diversas vertentes de atuação, como por

exemplo, nas áreas de educação ambiental e do ecoturismo.

A próxima questão, inclusive para o grupo de agentes, teve o intuito de compreender

o significado do ecoturismo, pressupondo-se tratar de uma representação social que,

possivelmente, nortearia a prática social e, consequentemente, o planejamento e a execução da

atividade nos destinos evidenciados na questão 4 do grupo dos agentes.

Questão 2 – Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?

DSC da IC A – relação do turismo ao meio ambiente com mínimo impacto Seria essa relação do turismo ao meio ambiente, principalmente, natural, né? que enfatiza como atrativo as características naturais. Um turismo de mínimo impacto, um turismo que respeite o meio ambiente que degrade ele o mínimo possível, que vise a... eu acredito que seja a conservação da natureza.

Inicialmente, tem-se no DSC da IC A a menção de que o ecoturismo constitui um

turismo relacionado ao meio ambiente, principalmente o natural, mas também constitui um

tipo de turismo que incorpora o desenvolvimento de práticas de mínimo impacto, visando a

conservação da natureza do ambiente utilizado.

Essa idéia é possivelmente marcada pelo reconhecimento e adoção do documento que,

instituído pelo setor público em âmbito nacional, norteia o desenvolvimento do ecoturismo no

país. Esse documento, intitulado Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo,

evidencia no conceito de ecoturismo essa preocupação com o meio ambiente natural visitado,

bem como, enfatiza o benefício de conservação da natureza como um dos objetivos e

princípios do ecoturismo.

DSC da IC B – banalização do ecoturismo Essa palavra vem sendo utilizada de maneira aleatória, simplesmente, por agregar valor a um tipo de trabalho, então, tem alguns lugares que você usa a palavra ecoturismo pra dizer que você tá fazendo um turismo que se preocupa com a natureza e no fundo você só quer explorar a natureza. Tanto o cara que trabalha na cavalgada, tanto o cara que trabalha com trilha de moto no meio da selva, com a moto de dois tempos que polui pra caramba, o cara muitas vezes pode falar que é ecoturismo. Então, eu acho que estão acontecendo muitas distorções do quê que é ecoturismo mesmo e de quem faz realmente ecoturismo.

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Conforme já visto em um DSC do grupo dos agentes, a banalização desse termo e,

consequentemente, da atividade de ecoturismo, também é vista no DSC da IC B pelo grupo

dos gestores. Isso pode ter sido ocasionado, tanto pela pluralidade dos termos, quanto pela

respectiva pluralidade de seus significados, o que evidencia um setor turístico ainda em busca

de seus ideais teóricos, apesar destes já terem sido academicamente preconizados, mas

também e talvez principalmente, em busca de constatações práticas do que efetivamente seja

ecoturismo.

Esse posicionamento é visto na última frase do DSC que ao mesmo tempo que instiga,

remete a uma reflexão do questionamento, afinal, quem efetivamente faz ecoturismo de

acordo com o que é conceituado como ecoturismo? (supostamente entendido conforme os

pressupostos do documento coordenado por Barros II e La Penha, 1994, p. 19).

DSC da IC C – exploração sustentável do meio natural com o turismo A exploração desse meio natural que nós temos hoje com o turismo, pra dali tirar o seu sustento. Uma coisa que seja econômica e ecologicamente sustentável do ponto de vista da atividade.

Já no DSC da IC C o posicionamento sugere a idéia tanto de exploração do meio

ambiente como recurso, como de uma atividade que ‘explora’ esse meio ambiente de modo

sustentável, em função dos interesses e necessidades turísticas, ou seja, o ecoturismo embute

na atividade uma noção econômica, ao mesmo tempo em que tenta manter ecologicamente

sustentável o espaço explorado.

Nesse sentido, retoma-se os diálogos acerca das concepções de desenvolvimento

sustentável e sustentabilidade do turismo, ou de modo redundante, do ecoturismo, já que o

ecoturismo, historicamente, surge como uma alternativa contrária a um turismo de massa,

degradador da natureza. Ao mesmo tempo retoma-se as possibilidades de relacionar os

critérios de sustentabilidade propostos por Sachs (2000), como forma de tentar fazer do

ecoturismo uma atividade econômica e ao mesmo tempo ecologicamente sustentável, sendo

também necessária à inserção dos demais critérios para uma efetiva sustentabilidade da

atividade.

DSC da IC D – ecoturismo como processo educacional (idéia individual) Seria o turismo em áreas naturais com o processo educacional em conjunto, né? e também como o desenvolvimento das comunidades locais.

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Nesse último DSC da questão, tem-se um posicionamento diferente dos demais, pelo

fato de apresentar o ecoturismo como atividade diretamente relacionada a um processo

educativo, assim como comprometida com o desenvolvimento da comunidade local,

conforme também já preconizava o conceito da atividade exposto no documento coordenado

por Barros II e La Penha (1994, p. 19).

A aplicação da terceira questão para esse grupo de entrevistados, teve o intuito de

compreender a forma como os estes entendem a educação ambiental e, supostamente, a forma

como a desenvolvem nos destinos (ao qual) em que são responsáveis pelo gerenciamento.

Ao mesmo tempo, pressupôs-se que com seus respectivos discursos, fosse possível

identificar algumas das características das modalidades de educação ambiental direta ou

indiretamente por estes aplicadas no turismo ou no ecoturismo, desenvolvido nas unidades de

conservação.

Questão 3 – Para o Sr. (a) o que quer dizer educação ambiental?

DSC da IC A – processo de sensibilização É um processo de sensibilização, tem que ser construído ao longo do tempo, um processo pedagógico, que insira educação ambiental. Sem a sensibilização, o conhecimento não chega, por que as pessoas, também, se elas não desejarem elas podem ter o conhecimento e faltar a vontade de trabalhar com esse meio ambiente, isso tá dentro do trabalho de educação ambiental, lógico que as formas de conscientização isoladas elas são uma sensibilização, quer dizer, menos que uma conscientização.

O DSC da IC A retrata a educação ambiental como um processo de sensibilização

construído a longo prazo, assim como todo processo educacional, que leva o indivíduo a se

conscientizar, conforme os pressupostos de Freire (1980) e Guimarães (2005). Dessa forma, o

indivíduo tem a possibilidade de adquirir informações e conhecimentos sobre o ambiente que

o cerca, sensibilizar-se diante dessa situação e agir por meio de novos valores e atitudes. Esse

pode ser considerado um processo de ação – reflexão – ação que a educação ambiental

proporciona, quando sensibiliza os envolvidos e faz com que os mesmo possam repensar seus

valores e suas atitudes, de modo que em um processo interior, consigam se auto-conscientizar.

DSC da IC B – educação ambiental crítica A educação ambiental ela passa por toda e qualquer atividade que possa fazer com que a pessoa ela avalie suas atitudes com relação ao ambiente em que ela está inserida e reflita sobre isso, mudando o seu comportamento, visa a transformação, a sensibilidade das pessoas no caso ambiental para a questão ambiental.

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Em complemento a IC A, pode-se constatar no DSC da IC B que nesse processo de

educação ambiental, além da sensibilização e da conscientização, há um posicionamento

crítico pelo qual o indivíduo reflete sobre uma determinada situação ambiental, modifica seu

comportamento perante àquela situação e possivelmente a transforma. Esse processo também

pode ser comparado com os processos de aprendizagens de Guerra (2001) e de Delors et al

(2002), que resultam no saber poder, o saber da ação, da mudança social.

DSC da IC C – educação relacionada com o ambiente Acho que toda educação tem a ver com o ambiente, envolve o conceito de meio ambiente e, por isso, são muitos temas que envolvem a educação ambiental, então é complexo assim, é bem amplo.

Diante do DSC da IC C, percebe-se que a educação e, em especial, a educação

ambiental é composta por diferentes e multi-variadas temáticas, e por isso, pode também ser

considerada uma área de estudo interdisciplinar. Salienta-se também que a educação

ambiental, por depender da ação de um mediador, pressupõe a adoção do conceito de meio

ambiente que o educador/mediador do processo de ensino-aprendizagem possui, e por isso é

importante desmistificar a compreensão de que o meio ambiente é apenas conformado pelo

meio ambiente natural.

Porém, ressalta-se que nessa pesquisa as relações diretas com o ambiente natural são

parte do foco de estudo, por tentar-se estabelecer que as estreitas relações entre o ecoturismo e

a educação ambiental ampliam as possibilidades de benefício da conservação da natureza. Ao

mesmo tempo, entende-se que é necessário compreender as relações proporcionadas em

outros âmbitos, como os critérios de sustentabilidade de Sachs (2000), para que se possa

compreender os resultados inerentes ao aspecto natural.

DSC da IC D – desenvolvimento da educação ambiental (idéia individual) É desenvolvida de várias formas né? com vários métodos desde a sala de aula até em ambientes naturais, com atividades lúdicas ou palestras ou através de atividades recreativas, jogos.

O DSC da IC D representa a idéia de que há vários métodos para que a educação

ambiental seja desenvolvida, variando, por exemplo, desde o trabalho em sala de aula

(educação formal), até o trabalho diretamente relacionado aos ambientes naturais (educação

não formal ou ao ar livre).

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DSC da IC E – descontentamento com o termo e com seu significado (idéia individual) Até hoje eu não entendo o que é isso, ainda eu não sei porque inventaram esse termo, acho que toda educação tem a ver com o ambiente.

Já o DSC da IC E reflete o descontentamento com o termo e o significado da educação

ambiental, isso porque, o entrevistado entende que toda educação tem relação direta com o

ambiente considerado em sua totalidade, sendo desnecessária a criação de um termo

específico que represente essa relação.

Diante disso, pode-se comparar esse descontentamento da educação ambiental com a

banalização do ecoturismo e obter a idéia de que se torna cada vez mais necessário descobrir

caminhos para a reversão dessa perda de sentido à que os termos educação ambiental,

ecoturismo e outras atividades inicialmente consideradas como ecológicas e sustentáveis

foram submetidos.

Após a evidência das representações sobre meio ambiente, ecoturismo e educação

ambiental, a quarta questão teve a pretensão de relacionar, ao menos parcialmente, essas

concepções, objetivando-se inclusive instigar questionamentos acerca das possibilidades do

ecoturismo, mesmo embasado nas ideologias e filosofias apresentadas, causar impactos

nocivos ao ambiente em que é desenvolvido, o natural. E, a partir disso, também incitar

confrontos entre as possíveis concepções preservacionistas e conservacionistas que seriam

apresentadas anteriormente.

Questão 4 – O Sr. (a) acredita que o ecoturismo possa ocasionar impactos nocivos no ambiente natural? O Sr. (a) poderia me explicar por quê?

DSC da IC A – impactos dependem do planejamento Sem dúvida pode tanto causar impactos positivos como negativos dependendo como forem implementados, né? por exemplo, uma trilha mal feita pode causar uma erosão dependendo da suscetibilidade da área, pode até causar uma perda significativa de solo, alteração na área local, alterando inclusive a parte de estuário e isso pode causar outros impactos decorrentes de uma procura assim, por exemplo, de um grande número de pessoas freqüentam o ambiente faz com que toda a economia ali possa tá desenvolvendo de forma negativa. Se você não tiver critério de como fazer isso, elas vão deixar de existir.

Desse modo, foi possível identificar no DSC da IC A que o ecoturismo remete a

geração de impactos positivos e negativos, dependendo a geração desses impactos apenas da

forma como uma determinada atividade é planejada. Assim, dependendo de como se planeja e

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se implementa uma atividade, supostamente relacionada ao entendimento das temáticas

anteriores, pode-se prever a tipologia de impactos que será gerada.

O fato é que o ecoturismo, assim como toda atividade humana, principalmente,

àquelas realizadas em ambientes naturais, causa impactos tanto positivos quanto negativos.

Muitas vezes, os negativos são mais visíveis e proporcionam maiores repercussões, por isso,

essas atividades devem ser orientadas e planejadas na tentativa de além de prever, prevenir os

possíveis impactos ocasionados.

Assim, acredita-se que a educação ambiental como componente essencial do

ecoturismo, possa ser utilizada como uma estratégia para a contenção de impactos negativos

em ambientes naturais, bem como, possa ser utilizada também de outras diversas formas

dependendo apenas da forma como tanto as atividades de ecoturismo quanto de educação

ambiental são planejadas e se desenvolvem.

DSC da IC B – impactos dependem do profissional Acredito, acredito... acredito porque isso são dos profissionais, é... muitas vezes o ecoturismo é feito não só por questões de quem faz ou de quem opera o ecoturismo, mas muito mais por questão de público, do público-alvo e as pessoas gostam de ir em áreas que ainda não foram visitadas, mas tudo depende do profissional que tá trabalhando, qual é a formação, qual é o entendimento dele de meio ambiente, como é que ele (ou ela) se relaciona com esse meio ambiente...

Já no DSC da IC B, diferentemente da IC A, tem-se a evidência de que os impactos,

supostamente os negativos, têm a sua ocorrência dependendo apenas da atuação do

profissional relacionado àquela atividade, ou seja, a responsabilidade recai sobre o

profissional, que como visto anteriormente, depende inclusive de suas representações sociais

para compor (efetivará) a sua prática social.

Essa IC B também sugere que os impactos além de estarem relacionados ao

profissional, também encontram-se associados ao público que pratica determinada atividade,

supondo-se haver uma co-participação de responsabilidade sobre os impactos gerados nas

áreas visitadas.

DSC da IC C – fazer ecoturismo é diferente de explorar a natureza Eu acredito, é aquela coisa, você querer explorar a natureza usando o conceito de ecoturismo, você realmente tem que ter o interesse de fazer ecoturismo, não de explorar a natureza, senão essa passa a ser um material de consumo, você vai visita, você acaba com o local.

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O DSC da IC C revela que os impactos também são gerados, pois utiliza-se da

terminologia e do conceito de ecoturismo para atender aos interesse econômicos, por

exemplo, de utilização e exploração da natureza, sendo que por vezes também é acrescido o

termo ‘sustentável’ nesse processo.

Talvez esse DSC possa explicar a suposta banalização do termo ecoturismo,

evidenciado pelos grupos entrevistados, afinal ao explorar a natureza utilizando-se da palavra

ecoturismo, tem-se a intenção que tê-lo exclusivamente como uma material de consumo e,

consequentemente, tem-se a condição de degradação do local.

Pressupondo-se que nessa última questão as respostas estariam relacionadas a crença

de que o ecoturismo causa impactos, inclusive nocivos à natureza, confeccionou-se e aplicou-

se a quinta questão no intuito de vislumbrar a educação ambiental como uma das formas de

minimização desses impactos negativos e como forma de compreender o porque poderia-se

considerá-la minimizadora desses impactos.

Questão 5 – O Sr. (a) acredita que a educação ambiental poderia minimizar os possíveis impactos negativos advindos do ecoturismo? O Sr. (a) poderia me explicar por quê?

DSC da IC A – não há consciência do que se faz Com certeza os próprios executores errôneos que a gente vê hoje, se tivessem consciência do que realmente é turismo ou do que é esse processo que envolve a percepção da atividade deles e eles entendessem quais as atividades que causem mais impactos e reduzissem os impactos... Muita gente não tem consciência do que se faz. A relação hoje é muito forte ao econômico, então, as pessoas visam muito o lucro e em função do lucro as questões do meio ambiente natural elas deixam de ser prioridade.

O DSC da IC A releva a necessidade dos planejadores e dos executores repensarem e

ao mesmo tempo, conhecerem, entenderem o que realmente é turismo ou ecoturismo e, com

isso, proporcionar atividades relacionadas a minimização de impactos. Esse DSC também

demonstra o embate que se tem na relação do aspecto econômico (lucro) ao aspecto do meio

natural (conservação), como sendo, um impasse para que desenvolvam-se melhores práticas

ecoturísticas.

DSC da IC B – interação e sensibilização no meio ambiente (idéia individual) Porque você faz as atividades de interação e sensibilização pra começar a entender o meio ambiente e não atrapalhar...

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Da mesma forma como o DSC anterior, o DSC da IC B revela que ao começar a

entender o meio ambiente, começa-se também a interagir e, ao mesmo tempo, a sensibilizar-

se para com as questões ambientais, esse também pode ser considerado um processo

relacionado a ação – reflexão – ação de uma educação ambiental crítica.

DSC da IC C – lema do ecoturismo (idéia individual) Eu penso assim sabe... você trabalha os conceitos... você ter sei lá certos... como eu posso dizer... certos lemas do ecoturismo mesmo... objetivos que... que eu nem sei se tem realmente definidos sabe... como geral, todo mundo ter aquele lema, aqueles objetivos e teria que ser trabalhado do lugar que o turista vem.

Já o DSC da IC C, revela a necessidade de ter-se objetivos claramente definidos para o

planejamento e desenvolvimento, por exemplo, do ecoturismo. Salienta-se então, que esse

discurso provém do grupo de gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo com

educação ambiental no PEISC e isso revela que nesse espaço, provavelmente, seja

desenvolvido atividades turísticas relacionadas à natureza e, possivelmente, dissociadas das

prerrogativas estabelecidas pelas Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo

(BARROS II; LA PENHA, 1994), que definiu o conceito e os objetivos para que essa

atividade fosse desenvolvida no Brasil.

DSC da IC D – processo contínuo e efetivo de educação com o envolvimento comunitário Num processo contínuo e efetivo de educação com o envolvimento comunitário você tem como diminuir esses impactos, envolvendo a comunidade no processo de implementação das ações e da gestão do território, mas tem que ser através de uma qualificação e uma capacitação contínua, um processo de divulgação e informação e pesquisa nas áreas para que isso possa ser efetivamente implementado. Eu acho que esse processo de educação tem como dar uma noção de coletividade ao ser humano.

Ao mesmo tempo, o DSC da IC D proporciona uma reflexão sobre o efetivo processo

de educação aplicado a um espaço por meio do envolvimento comunitário e revela que o

processo de educação pode minimizar os impactos negativos desde que esteja relacionado

com a participação da comunidade no planejamento e no desenvolvimento do mesmo.

Nesse sentido, relaciona-se esse DSC a modalidade de educação ambiental – Educação

no Processo de Gestão Ambiental (EPGA), que ao inserir a comunidade no processo de

planejamento do território, principalmente, relacionado às unidades de conservação, tenta

vislumbrar os problemas, os conflitos e as potencialidades ambientais relacionadas àquele

espaço como forma de minimizar os impactos gerados por atividades humanas, inclusive o

turismo.

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A partir desse envolvimento, é interessante perceber a possibilidade que a educação

tem para proporcionar um senso de coletividade aos indivíduos relacionados direta ou

indiretamente com o espaço e, por exemplo, com as atividades turísticas. Dessa forma, essa

coletividade sente-se inserida e participa das ações, tornando-se responsável pelas situação

ambientais que o cercam.

A questão 6, foi aplicada com o intuito de vislumbrar as estratégias que poderiam ser

apropriadas e adaptadas pelo ecoturismo para a conservação da natureza, pressupondo-se

inclusive, que uma dessas estratégias poderia ser a educação ambiental.

Questão 6 – O Sr. (a) pode me explicar quais são as estratégias utilizadas para a conservação da natureza?

DSC da IC A – várias estratégias Tem várias, desde a aplicação da legislação com a criação de leis, de áreas protegidas, a fiscalização, gestão de recursos, planejamento das atividades, até a educação. Tem que caminhar com educação numa escala macro de tempo. O pessoal da muitos nomes como chamar de desenvolvimento sustentável.

Inicialmente, o DSC da IC A revela que existem várias estratégias para a conservação

da natureza, mas que devem ao mesmo tempo, caminhar em consonância com o

desenvolvimento da educação em um planejamento a longo prazo.

Por outro lado, revela também que essas várias estratégias poderiam estar relacionadas

a terminologia do desenvolvimento sustentável e, desse modo, confirmar-se o posicionamento

do desenvolvimento sustentável ser uma medida conservacionista que pretende gerenciar os

recursos naturais para serem utilizados para e pela sociedade atual, bem como, que estejam

disponíveis para as sociedades futuras.

DSC da IC B – educação e conscientização Tudo tem que passar pela conscientização, tem que passar pela educação. Primeiro a sensibilização, colocar as pessoas em contato com o que é natural, a segunda é o conhecimento. O cara tem que saber o quê que acontece, o fato dele estar inserido no meio ambiente e entender qual é a função dele, meio o que ele pode estar fazendo. Depois é que se pode cobrar, fazer alguma cobrança dos órgãos competentes, se falta o conhecimento como ela vai lutar por uma área verde.

O DSC da IC B revela que a educação pode ser considerada uma estratégia para a

conservação da natureza e isso ocorre por um processo de conscientização do indivíduo, que

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também pode ser considerado o processo de educação em si. O DSC proporciona o

entendimento desse processo quando cita que a partir do contato com a natureza, o indivíduo

sensibiliza-se e busca novos conhecimentos acerca, por exemplo, desse contato, desse

ambiente, com isso, ele entende o processo de funcionamento do meio ambiente e passa a agir

em benefício daquele espaço. Mais uma vez, pode-se comparar esse processo, com a ação –

reflexão – ação que leva os indivíduos a transformarem a realidade.

DSC da IC C – retirar o ser humano das áreas (idéia individual) É você tirar o ser humano, deslocar das áreas naturais, partindo de uma premissa que o ser humano não tem condições de cuidar do meio ambiente.

Já o DSC da IC C apresenta um posicionamento radical, o de retirar o ser humano das

áreas naturais ou impedir sua visitação por pressupor-se que o mesmo não tem condições para

cuidar do meio ambiente, sendo considerado degradador ou possivelmente o maior

responsável pelos danos ambientais.

DSC da IC D – fortalecimento dos órgãos ambientais (idéia individual) No Brasil a gente sempre vê que o desenvolvimento é colocado a frente da conservação da natureza e a gente percebe isso nos procedimentos dos órgãos ambientais, tanto federais, quanto estaduais, quanto municipais, na fala de recursos, na falta de infra-estrutura, na falta de pessoal, então, talvez a estratégia seja por aí... fortalecer os órgãos de gestão.

No DSC da IC D tem-se a proposta de conservação da natureza permeada a partir do

fortalecimento dos órgãos ambientais e, consequentemente, das políticas relacionadas ao meio

ambiente, pois os mesmos indispõem de inúmeras estruturas imprescindíveis para suas

atuações. Concomitantemente, revela que o desenvolvimento, normalmente, é colocado a

frente da conservação da natureza, o que demonstra uma falta de atuação política ou mesmo a

falta de interesses comuns de uma sociedade.

Em relação à temática das políticas ambientais e, principalmente, ao foco dessa

pesquisa, evidencia-se a necessidade de haver uma estruturação e uma comunicação

específica acerca das temáticas de ecoturismo e educação ambiental, nas Diretrizes para uma

Política Nacional de Ecoturismo (BARROS II; LA PENHA, 1994) e na Política Nacional de

Educação Ambiental (BRASIL, 1999).

DSC da IC E – envolvimento comunitário (idéia individual) Para você conservar a natureza, as estratégias, você passa por educação ambiental, por fiscalização, por mobilização comunitária, participação da comunidade, né?

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No DSC da IC E a estratégia para a conservação da natureza evidenciada é novamente

a inserção e o envolvimento comunitário desenvolvidos juntamente com outras estratégias

como a educação ambiental, a fiscalização, entre outras. É importante ressaltar que a

participação da comunidade no processo de tomada de decisões ambientais, favorece tanto a

própria comunidade quanto seus visitantes e, isso, explica-se pois o foco em comum não está

nas pessoas mas, principalmente, na atuação das pessoas para com aquele espaço.

Na tentativa de relacionar as estratégias de conservação da natureza, que não agridam

o ambiente natural e, ao mesmo tempo, minimizar os impactos ocorridos por atividades direta

ou indiretamente relacionadas pelo ecoturismo, propôs-se a realização da questão 7, pois

trata-se de um fato ocorrido no cotidiano da sociedade e, supostamente, no interior das áreas

protegidas (principal local para o desenvolvimento do ecoturismo), inclusive pelos turistas. O

principal intuito dessa questão é compreender o porque esse comportamento social ocorre,

inclusive nas áreas naturais.

Questão 7 – Em muitos lugares se comenta sobre a conservação da natureza, mas parece que no turismo isso não ocorre. Por exemplo, continua sendo jogado lixo no chão, inclusive em áreas protegidas. Por que o Sr. (a) acha que isso acontece?

DSC da IC A – educação, informação e conscientização Jogar lixo no chão não é falta de educação ambiental é falta de educação mesmo. Um pouco é falta de educação, um pouco é falta de consideração, por que o homem as vezes... ele foi muito educado nessa forma antropocêntrica de ser, né? Primeiro é a desinformação total, as pessoas não conhecem, geralmente, aonde moram e, principalmente, a natureza que está a sua volta, a biodiversidade, assim, a gente tem muita desinformação. Se a pessoa não tiver consciência do que acontece com o lixo que ela joga fora ali, ela acha que alguém vai passar e jogar no lixo. Ela não sabe da continuidade do processo, ela não tem entendimento do impacto que ela tem no meio ambiente de todo o processo dela, enquanto as pessoas não tiverem esse entendimento elas não vão conseguir fazer essa relação do porque preservar, né? E que na realidade é dar um retorno, principalmente, pro ecoturismo, como é que uma pessoa vai escolher uma praia para ir em que o empreendedor tá colocando o esgoto, tá colocando... o próprio empreendimento pro turista.

Nesse sentido, o DSC da IC A proporciona a reflexão desse fato ocorrer em função da

educação, da informação e da conscientização, afinal como relembra o DSC ‘jogar lixo no

chão não é falta de educação ambiental é falta de educação mesmo’. A sociedade situa-se

diante do dilema da falta de educação e da falta de compromisso público com os ambientes

que a cercam. Nitidamente, falta a informação, falta a compreensão do processo como um

todo, afinal um problema ambiental também é um problema social.

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Para tanto, evidencia-se a importância de uma educação ambiental informal para que

toda a sociedade disponha de informações sensibilizadoras e promotoras de atitudes em

benefício da natureza e, ao mesmo tempo, da vida social.

Em relação ao ecoturismo, deve-se tratar isso como um problema social, no qual as

atividades turísticas na natureza são co-parceiras e co-responsáveis na tentativa de diminuição

desse fato. Diante disso, um programa relacionado ao ecoturismo e as educações ambientais

formais, não-formais e informais são de suma importância, bem como, o desenvolvimento de

atividades ecoturísticas pautadas pelas modalidades de educação ambiental não-formal ao ar

livre (AS, IA, EE) e baseadas no processo educativo desenvolvido por Guerra (2001) e

adaptado por essa pesquisa.

DSC da IC B – adestramento ambiental (idéia individual) Uma coisa é ter educação ambiental, outra coisa é adestramento ambiental... não joga lixo, não joga lixo, não joga lixo... ah tá não joga lixo porque? Tem que entender a essência da história e não as simples aparência.

Essa pergunta também proporcionou o DSC da IC B que retrata, em partes, algumas

iniciativas de educação ambiental que promovem o chamado adestramento ambiental, ou seja,

a tentativa subjetiva de ensinar o correto comportamento social, por exemplo, em áreas

naturais. Assim, o não jogue lixo, não pise nisso, não arranque isso, não... acabam por

evidenciar um comportamento não aprendido, mas influenciado e adestrado dos indivíduos.

DSC da IC C – descomprometimento com o local Eu não vejo as pessoas, não digo todas, mas também não sei dizer se a maioria que fazem o turismo, entendem aquela área enquanto um bem de consumo, ele tá pagando pra utilizar essa área e a pessoa acha que nada mais justo que ele tá pagando aquela área tem o direito de usar como bem entender, então, alguns conceitos já estão enraizados, mesmo nessa sociedade, vem de tempos e continua sim, mas a sociedade está cobrando mais, é uma mudança de paradigma.

Entretanto, o DSC da IC C revela sem muita exatidão, mas com veracidade a falta de

compromisso que a sociedade e, nesse caso, os turistas têm com o local que visitam. Afinal,

pensa-se que por necessitar pagar para usufruir de um local, pode-se utilizá-lo como bem lhe

convir. Nesse sentido, pode-se relacionar esse DSC com outros que retratavam que o aspecto

econômico sobressai ao ambiental, o que retratava a falta de educação e, mesmo, o que

retratava a necessidade de um senso de coletividade à sociedade.

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Diante dessas exposições, a questão 8 foi elaborada a partir do pressuposto de que a

educação ambiental poderia ser considerada tanto uma ferramenta, quanto um meio para o

planejamento e desenvolvimento do ecoturismo em benefício da conservação da natureza.

Concomitantemente a isso, pressupôs-se também que os atores sociais envolvidos com o

ecoturismo desconhecessem as formas pelas quais a educação ambiental poderia ser aplicada

ao ecoturismo e, com isso, tentou-se descobrir as modalidades de educação ambiental ou as

características dessas modalidades no trabalho desses atores no ecoturismo.

Questão 8 – Agora, eu vou dizer uma frase e quero saber se o Sr. (a) concorda ou discorda e por que. A frase é: A educação ambiental pode ser uma ferramenta do ecoturismo para a conservação da natureza mas, pouco se sabe sobre quais e como são desenvolvidas as modalidades (metodologias) de educação ambiental nessa atividade.

DSC da IC A – A educação ambiental como ferramenta do ecoturismo para a conservação da natureza A educação com certeza é e pode ser uma ferramenta para a conservação da natureza dentro do ecoturismo e deve ser, né? pode haver as duas coisas, você pode trabalhar com a educação ambiental dentro do ecoturismo, pode trabalhar com o ecoturismo como uma ferramenta num planejamento de educação ambiental, uma vez que quem trabalha com essas atividades tá trabalhando com pessoas, tá trabalhando dentro de áreas, geralmente, com grande relevância ecológica e ali há um potencial gigantesco para você trabalhar diversos temas, pegar seja na escalada, no rafting, vôo livre, em trilhas ou simplesmente uma recreação no rio, uma natação, enfim... Ela é feita das mais diversas formas e tem formas que acabam sendo um adestramento da pessoa que também não leva a nada. Nós trabalhamos com palestras, por exemplo, palestras tanto aqui, dentro de sala de aula (auditório), como também em campo, a parte de jogos, atividades né? que envolvam as... por exemplo, as questões sensoriais da pessoa... tato, audição, visão, observação, desenho – a parte artística. Dentro desse processo das unidades de conservação trabalhar a educação ambiental com os turistas é muito difícil porque você não educa o turista, você sensibiliza ele, porque ele vem uma vez aqui e vai embora, de repente nunca mais vai aparecer, então, não posso falar que eu fiz uma educação. Educação é se eu tivesse um acompanhamento desse turista, ele viesse várias vezes aqui, tivesse um contato com a gente e tal.

No DSC da IC A constata-se a possibilidade da educação ambiental ser, além de um

dos componentes, uma ferramenta do ecoturismo para a conservação da natureza, bem como,

do ecoturismo também ser entendido como um meio ao planejamento da educação ambiental.

Dessa forma, acredita-se que essas duas áreas configuram-se simetricamente como

componente e ferramenta de um processo indissociável de planejamento de suas atividades.

Esse DSC apresenta ainda algumas formas pelas quais a educação ambiental pode ser

trabalhada no ecoturismo, variando desde palestras em um sentido mais formal de atuação, até

mesmo por meio de atividades recreativas, relacionadas ao aspecto não-formal, que envolvem

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os jogos, bem como, os sentidos dos indivíduos. Mesmo assim, deixa de relevar a forma

sistematizada de como esse processo ocorre, bem como, suas características, suas vantagens e

desvantagens.

O DSC levanta ainda, a questão de que trabalhar com ações educativas em atividades

turísticas é algo difícil, pois não se educa o turista, apenas o sensibiliza. Ressalta-se, nesse

caso, que o ato da sensibilização faz parte do processo de educação, sendo talvez a sua

primeira etapa e, nesse sentido, se o indivíduo não estiver, por exemplo, sensibilizado / tocado

às questões sócio-ambientais relacionadas à sua realidade, não atingirá a dimensão da

aprendizagem relacionada ao saber poder.

DSC da IC B – desconhecimento das metodologias de educação ambiental É eu não conheço muito as ações de educação ambiental desenvolvidas no turismo e que tenham dado os resultados... conheço muito pouco, realmente, eu não seria a pessoa ideal pra dá essa avaliação, mas acho que as metodologias de educação desenvolvidas por essas atividades, na verdade existem sistematizadas dessas informações, só que elas são muito isoladas, não é que não se sabe, é tem uma coisa lá outra coisa num sei aonde. O que talvez não se conhece não é tanto as metodologias, mas é o status, eu acho, o status dessa atividade no ecoturismo, ou seja, como é que as pessoas hoje é... tão fazendo isso, ou se tão ou não tão mas, método tem, vários tipos de métodos diferentes e tem bastante material sistematizado, só que não concentrado, se encontra num local aqui, outro lá

Em complemento as idéias explanadas acima, o DSC da IC B demonstra que por mais

que se tenham métodos, metodologias, enfim, que se tenha formas de realizar a educação

ambiental ainda há o desconhecimento de seus escopos teóricos-metodológicos e,

consequentemente, a realização de práticas educacionais despretensiosas.

DSC da IC C – educação ambiental formal Concordo, concordo plenamente! A gente se coloca aí a disposição das universidades em todos os cursos pra tá fazendo sensibilização ambiental, pra tá passando conhecimento, pra tá fazendo um trabalho mais contínuo e aí sim envolver um processo de educação, por exemplo, as escolas, trabalhar a educação ambiental nas escolas. Só que o que acontece são poucas as universidades ainda hoje que colocam isso dentro do seu currículo, né? E a metodologia desse trabalho é primeiro sensibilizar, depois trabalhar com o conteúdo realmente, como o conhecimento, as informações e aí então, o contato, o contato direto.

Já o DSC da IC C revela, primeiramente, a idéia sobre uma educação ambiental ainda

bastante arraigada ao ensino formal (escolar), além do mais, coloca em pauta o diálogo sobre

a inserção da educação ambiental no currículo escolar. Posteriormente, explicita uma forma

sistematizada de trabalhar a educação, que possivelmente, pode ser adaptada às atividades de

ecoturismo.

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A partir dessa, também, multiplicidade de resultados, tenta-se delimitar e apontar as

principais temáticas e inter-relações sobre as relações entre ecoturismo e educação ambiental

desenvolvidos nos espaços (unidades de conservação) indicados anteriormente e a

possibilidade da educação ambiental ser uma efetiva ferramenta do ecoturismo para a

conservação da natureza por meio do desenvolvimento das modalidades de educação

ambiental apresentadas.

Desse modo, salienta-se que mesmo possuindo uma representação de meio ambiente

relacionada a um lugar para se viver (fonte da vida), os gestores ou responsáveis pelos

destinos de ecoturismo do PEISC ainda apresentam a dupla idéia de que o ecoturismo está

voltado ao mínimo impacto, bem como, pode ser uma maneira de ‘explorar sustentavelmente’

o espaço natural, ainda sim, sem sequer vincular o ecoturismo à educação ambiental ou vice-

versa.

Com isso, percebe-se que a educação ambiental, possivelmente diante de suas

concepções teóricas, poderia auxiliar o ecoturismo no alcance do mínimo impacto ou da

‘exploração sustentável’ do espaço natural na tentativa de se conservar a natureza, para que

possa-se continuar a dispor de significativos atrativos turísticos.

Apesar dos discursos sugerirem um processo educativo (além de outras formas), por

meio da sensibilização e da conscientização, como forma de se desenvolver a educação

ambiental para a conservação da natureza, percebe-se que ao aplicá-lo no ecoturismo, vincula-

se o seu desenvolvimento ao ensino formal.

Elucida-se também, que a educação ambiental pode e deve ser uma ferramenta ao

planejamento e ao desenvolvimento do ecoturismo, bem como, o ecoturismo pode ser um dos

meios para o desenvolvimento da educação ambiental, mas os discursos sugerem ainda o

desconhecimento dos modos não-formais de se aplicar a educação ambiental no ecoturismo, o

que dificulta o alcance de alguns dos objetivos da educação ambiental (transformação social –

dos valores e atitudes ambientais), assim como, do ecoturismo (conservação da natureza).

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ecoturismo, mesmo sendo considerado uma atividade voltada aos ideais

ambientalistas e ao critério de sustentabilidade ambiental, ainda sim, causa impactos nocivos

aos ambientes naturais onde ocorre, pressupondo-se portanto, a necessidade de haver

estratégias e ferramentas que auxiliem no controle desses impactos. A possibilidade,

preconizada e identificada nessa pesquisa, para fazer frente a esta necessidade é a aplicação

das modalidades de educação ambiental (AS, IA, EE e EPGA) ao ecoturismo, dessa forma,

justifica-se por meio dos resultados os objetivos propostos no início da pesquisa, que estavam

relacionados, prioritariamente, à relação entre o ecoturismo e a educação ambiental, e à

identificação das modalidades de educação ambiental aplicadas ao ecoturismo.

Essas modalidades foram consideradas envolventes e reveladoras de sensações e de

percepções humanas que possibilitam o desenvolvimento de atitudes e de comportamentos

que estejam diretamente relacionados ao benefício de conservação da natureza nas áreas

utilizadas para a prática das atividades ecoturísticas. Conhecer e entender os processos

inerentes e intrínsecos à essas modalidades representa uma potencial possibilidade de se

planejar e se desenvolver atividades de ecoturismo efetivamente sustentáveis, pelo menos do

ponto de vista educacional.

Nesse sentido, revelam-se as relações existentes entre o ecoturismo e a educação

ambiental, afinal, atuam simultaneamente como meio e como fim em um processo revelador

e transformador de valores e atitudes que visam a formação individual e coletiva, além da

manutenção da qualidade de vida humana na Terra. Isso se deve ao processo histórico

percorrido por essas áreas de atuação, com a evolução dos movimentos ambientalistas e com a

disseminação da consciência ambiental.

Por outro lado, identifica-se a necessidade de uma maior vinculação e um maior

envolvimento na institucionalização dessas relações, sendo permeadas por estratégias e ações

inerentes as ‘Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo’ e a ‘Política Nacional de

Educação Ambiental’.

Em conseqüência desses fatos, tem-se atualmente um pensamento relacionado às

temáticas ambientais muito mais em função de um posicionamento mercadológico do que de

um posicionamento ideológico. E nesse sentido, as concepções de ecoturismo por vezes

buscam um reposionamento frente as tendências turístico-econômicas globais.

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Para tanto, entender as representações sociais (pensamentos e ideologias) dos atores

sociais envolvidos no processo de planejamento e desenvolvimento do ecoturismo no PEISC,

que nesse caso, constituiu-se dos agentes e operadores de turismo na natureza, e dos gestores

e ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo nesse pólo, conforme proposto pelos objetivos

iniciais da pesquisa, permitiu uma tentativa de compreensão de suas práticas sociais (atuação

prática), e isso, consequentemente, proporcionou novas possibilidades de direcionamento das

atividades ecoturísticas, inclusive melhor relacionadas ao componente educacional.

Diante disso, acredita-se que essa pesquisa possa contribuir para uma reflexão

diretamente relacionada às temáticas envolvidas, bem como, para uma compreensão dos

elementos que compõem essa relação, possibilitando ainda, aos interessados diferentes formas

de pensamento e, consequentemente, de atuação no mercado turístico.

Em relação aos discursos dos entrevistados, considera-se que esses revelam, além do

posicionamento reflexivo e profissional, tendências acerca do planejamento das atividades

ecoturísticas com ênfase na educação ambiental. Ao mesmo tempo, cabe evidenciar que por

mais que pressuponha-se e que concorde-se com Ruscheinsky (2002) no sentido de que as

representações sociais prescrevam as práticas sociais, salienta-se que essa pesquisa foi

realizada sem a condição de ser uma pesquisa de campo e, por isso, não pode-se afirmar com

veracidade as realidades das práticas turísticas e de educação ambiental ocorridas em campo

(PEISC) e, principalmente, nas unidades de conservação formadoras do pólo.

Ainda sobre os discursos, a utilização da técnica de análise do Discurso do Sujeito

Coletivo (DSC) proposto por Lefèvre e Lefèvre (2003), proporcionou o alcance de uma

multiplicidade de resultados acerca dos conteúdos investigados e, ao mesmo tempo,

possibilitou determinar não apenas os aspectos principais dos resultados mas, sim, uma

enriquecida reflexão sobre os objetivos propostos. Isso demonstra que a análise qualitativa

proporcionada por essa técnica, revela um enorme e significativo potencial reflexivo sobre os

resultados.

Considerando pontualmente os resultados obtidos pelos DSC, verificou-se que os

grupos de entrevistados vislumbram a possibilidade da educação ambiental ser uma

ferramenta essencial ao planejamento e ao desenvolvimento do ecoturismo, bem como, o

ecoturismo ser um dos meios de desenvolvimento da educação ambiental não-formal ao ar

livre, por meio das modalidades de educação ambiental AS, IA e EE, mais voltadas a um

enfoque lúdico, recreacional e reflexivo e também pela EPGA, mais voltada a um enfoque

crítico (GUIMARÃES, 2005).

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Diante dessa relação evidenciada, pode-se dizer que o PEISC caminha na direção da

delimitação das atividades turísticas em função da pluralidade do ecoturismo (PIRES, 2002;

SERRANO, 2000b), bem como, na tentativa de inserção de uma educação ambiental não-

formal ao ar livre no processo ecoturístico como forma de atingir objetivos econômicos, como

a rentabilidade das comunidades locais, e os objetivos conservacionistas, como a proteção da

natureza.

Ainda em relação a técnica do DSC, acredita-se na possibilidade de ser utilizada pela

área das Ciências Sociais Aplicadas, inclusive nos estudos relacionados ao turismo e,

principalmente, por este ser um fenômeno social, possivelmente, melhor explicado pelos

atores sociais envolvidos nesse processo. Assim como, há a possibilidade de utilizar-se a

técnica do DSC na área da educação ambiental por estar diretamente relacionada e pautada

pelo fenômeno social e, por ser necessário compreender seu processo de desenvolvimento por

meio das representações sociais de meio ambiente de seus envolvidos.

Assim, para um maior aprofundamento e expansão do conhecimento sobre as

temáticas abordadas, sugere-se como novas perspectivas de investigação a possibilidade de a

partir dessa pesquisa analisar em cada destino (in loco) de ecoturismo do PEISC (unidades de

conservação) a relação do desenvolvimento das práticas de ecoturismo com a educação

ambiental. Essa sugestão de pesquisa confrontaria as representações sociais, evidenciadas na

presente pesquisa, com as práticas sociais realizadas nesses locais, possibilitando a análise de

uma relação mais qualitativa entre o ecoturismo e a educação ambiental nesse pólo.

Sugere-se também o estudo do desenvolvimento de atividades turísticas na natureza,

em unidades de conservação desse ou de outros pólos ou, mesmo, em ‘destinos de

ecoturismo’, que estejam baseadas nas modalidades de educação ambiental (AS, IA e EE),

para que seja realizado um acompanhamento das transformações de valores e atitudes

proporcionadas pelas modalidades de educação ambiental supracitadas em relação aos turistas

envolvidos. Esse acompanhamento poderia ser efetivado pela aplicação de um roteiro de

entrevistas posteriormente analisadas pela técnica do DSC, juntamente, com um formulário de

análise das atitudes e comportamentos do turista, pontuados pela percepção do pesquisador no

momento da atividade, bem como, em futuros contatos com aquele turista.

Outra possibilidade de efetivar a inserção da educação ambiental no ecoturismo,

principalmente no contexto das unidades de conservação, seria a implementação da EPGA

como forma de intervenção educativa na realidade social e ambiental daquele local e,

consequentemente, nas atividades turísticas de um modo geral.

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Diante dessas possibilidades de pesquisa e da inserção das modalidades de educação

ambiental em atividades turísticas em meio à natureza, recomenda-se o estudo do ‘Processo

de educação ambiental aplicado ao ecoturismo’ como uma forma concreta de trabalhar a

educação ambiental no ecoturismo e como uma forma de garantir o alcance das dimensões de

aprendizagem pela prática turística.

Com isso, portanto, acredita-se que as pesquisas acadêmicas (teórico-empíricas)

enobrecem, engrandecessem e enriquecem o vasto campo do conhecimento a qual pertence o

turismo, por isso, relacionar as áreas temáticas de ecoturismo e educação ambiental,

identificar as modalidades de educação ambiental, possivelmente, aplicadas no ecoturismo e

compreender o pensamento dos atores sociais envolvidos nos processos de planejamento e

desenvolvimento dessas áreas, traz a tona novas e prósperas possibilidades de se repensar e

replanejar as atuais práticas desenvolvidas.

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9 APÊNDICES

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APÊNDICE A

Roteiro de entrevista com os agentes e operadores de turismo na natureza de

Florianópolis

1) O Sr. (a) utiliza-se do ecoturismo como produto de venda ao consumidor / turista?

2) Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?

3) Um dos critérios para as atividades turísticas serem denominadas de ecoturismo é a

existência do componente educativo (educação ambiental). Como o Sr. (a) trabalha com a

educação ambiental?

4) A Ilha de Santa Catarina foi caracterizada como um ‘Pólo de Ecoturismo’ devido aos

recursos naturais existentes e, possivelmente, salvaguardados na forma de Unidades de

Conservação. Quais são os locais em que a realização do ecoturismo ocorre juntamente

com a educação ambiental?

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APÊNDICE B

Roteiro de entrevista com os gestores e ou responsáveis pelas Unidades de Conservação

existentes no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina

1) Para o Sr. (a) o que quer dizer meio ambiente?

2) Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?

3) Para o Sr. (a) o que quer dizer educação ambiental?

4) O Sr. (a) acredita que o ecoturismo possa ocasionar impactos nocivos ao ambiente natural?

O Sr. (a) poderia me explicar por quê?

5) O Sr. (a) acredita que a educação ambiental poderia minimizar os possíveis impactos

negativos advindos do ecoturismo? O Sr. (a) poderia me explicar por quê?

6) O Sr. (a) pode me explicar quais são as estratégias utilizadas para a conservação da

natureza?

7) Em muitos lugares se comenta sobre a conservação da natureza, mas parece que no

turismo isso não ocorre. Por exemplo, continua sendo jogado lixo no chão, inclusive em

áreas protegidas. Por que o Sr. (a) acha que isso acontece?

8) Agora, eu vou dizer uma frase e quero saber se o Sr. (a) concorda ou discorda e por que. A

frase é: A educação ambiental pode ser uma ferramenta do ecoturismo para a conservação

da natureza mas, pouco se sabe sobre quais e como são desenvolvidas as modalidades

(metodologias) de educação ambiental nessa atividade.

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APÊNDICE C

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Fui informado (a) de que será realizada uma pesquisa intitulada: “Ecoturismo e

educação ambiental no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina”, sob a responsabilidade

do Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires (Orientador) e do mestrando Fernando Protti Bueno

(Pesquisador), respectivamente docente e discentes do curso de pós-graduação stricto sensu

em turismo e hotelaria – programa de mestrado acadêmico da UNIVALI – Universidade do

Vale do Itajaí.

Caso eu aceite participar dessa pesquisa, serei entrevistado(a) por meio de um roteiro

de entrevista estruturado e durante a entrevista serão realizadas algumas perguntas de caráter

pessoal e profissional.

O meu nome jamais será mencionado quando forem apresentados os resultados da

pesquisa, mas autorizo a mencionar o nome dessa empresa e ou dessa unidade de

conservação. Para garantir o sigilo nominal, o gravador utilizado para a realização da

entrevista apenas será utilizado a partir do início das perguntas, para que ninguém, além do

pesquisador, possa saber quem é a pessoa que foi entrevistada. Não recebi qualquer

pagamento para participar dessa pesquisa. Não sofrerei nenhum prejuízo ou punição se,

mesmo depois de iniciar a entrevista, eu resolver parar ou não me dispuser a responder a

alguma ou algumas perguntas.

Se eu estiver de acordo em participar da pesquisa, ser-me-á pedido para assinar, junto

com o pesquisador este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Caso eu prefira não

assinar, minha decisão será respeitada e isso não me impedirá de participar da pesquisa.

Após ter recebido as informações acima, este Termo de Consentimento foi lido e eu

decidi participar desta pesquisa de forma livre e esclarecida.

Balneário Camboriú, 06 de março de 2006.

_____________________________________

Assinatura do Entrevistado(a)

Nome do Entrevistado (a)

_____________________________________

Assinatura do Pesquisador

Fernando Protti Bueno

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APÊNDICE D

Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas aos agentes e operadores de turismo na natureza do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina

Legenda: ECH da IC = está em itálico ECH da AC = está sublinhado Intervenções do entrevistador = estão em negrito

Questão 1 – O Sr. (a) utiliza-se do ecoturismo como produto de venda ao consumidor / turista? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

A Eu utilizo, né? Eu trabalho, digamos, formalmente com o ecoturismo, com firma e cnpj já a aproximadamente 12 anos e informalmente, né? é ou seja, antes do registro eu trabalhava desde 86, por aí né?

(1º idéia): trabalha formalmente;

A

-

B Sim. Sim; - C Bem, se a gente parar para pensar exatamente

no conceito do ecoturismo ou da palavra ecoturismo, a gente... se for ver no nome da Ekoeté (exemplo de ecoturismo) até se utiliza, mas a gente começou a tomar um outra conotação aí. Tá utilizando de atividades de aventura em meio a natureza, tirando um pouco de foco a palavra ecoturismo, né?

(1º idéia): utiliza por estar no nome;

A (2º idéia): utiliza-se de atividades de aventura em meio a natureza;

A

-

D Sim, é uma... o ecoturismo é o produto de venda da minha empresa, por isso, é Recrearte Ecoturismo, entendeu? O Eco de Recrearte, né?

(1º idéia): ecoturismo é produto de venda da empresa;

A

-

E Com certeza, se utiliza não só do ecoturismo, mas de toda a filosofia da atividade. Ecoturismo é uma das bases da empresa, então é ecoturismo, cultura e aventura. É um tripé, então a empresa é baseada nesses três fatores, e isso, gera as viagens pedagógicas que a gente faz, que tentam sempre integrar três coisas, tem o lúdico, né?

(1º idéia): utiliza-se não só do ecoturismo, mas de toda filosofia da atividade;

A (2º idéia): empresa baseada no tripé ecoturismo, cultura e aventura, que gera as viagens pedagógicas;

A

-

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Questão 2 – Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

A É seria um turismo mais é junto a natureza né? e uma forma mais íntima, assim né? o contato que busca talvez estreitar, assim um pouco, o... resgatar o contato do homem com a natureza, uma forma mais íntima, né? Eu vejo assim, o turismo as vezes massivo, o turista vai a determinados ambientes, mas o turismo não tá assim muito talvez é o foco não é a intimidade, né? o ecoturismo eu acho que é essa coisa da intimidade, né? com a natureza, com os elementos naturais. Eu acho que isso que é legal do ecoturismo, né? assim ficar íntimo da cachoeira, da água, de uma rocha né? de tocar, assim, isso é o ecoturismo.

(1º idéia): turismo junto a natureza;

A (2º idéia): contato do homem com a natureza.

A

intimidade com a natureza

A

B Bom, ecoturismo tá dentro de turismo sustentável, né? turismo sustentável é um círculo maior e ecoturismo se insere dentro dele. Dentro do ecoturismo se insere os esportes de aventura ou turismo de aventura, que permeiam os dois, dentro de ecoturismo e turismo sustentável. E aí vem em cima tudo aquilo... prevê energia, prevê gastos de matéria-prima, prevê impactos ambientais, sócio culturais, sócio ambientais, prevê... fazer de uma forma que o turismo realmente seja sustentável, quer dizer, você não pode matar a ‘galinha dos ovos de ouro’, você não pode destruir o ambiente, destruir os atrativos naturais com construções, com vias de acesso que as vezes deixam, tornam vamos dizer assim, seu objetivo, seu atrativo muito rápido, né? onde as pessoas as vezes antes levavam dois dias e aí com o asfalto passam a ser em um dia só visitam o ambiente. Então, quer dizer, tudo tem que ser muito bem pensado e pra mim ecoturismo é isso, principalmente, valorizar a parte ecológica, cultural, histórica e tudo que tenha maior valor do lugar de uma forma que você tenha rendimentos, tenha lucros, né? que você prejudique de forma nenhuma o local.

(1º idéia): ecoturismo tá dentro de turismo sustentável;

B (2º idéia): os esportes ou o turismo de aventrura está inserido no ecoturismo ;

B (3º idéia): sustentabilidade pela minimização de impactos;

B

Desenvolvi-mento sustentável

B

C No modo geral, sucintamente, ecoturismo é uma relação entre a sociedade, a parte econômica, a parte ambiental nas quais se tem como um dos principais objetivos a conservação da natureza. Nesse sentido, como um turismo de aventura ou como um turismo ecológico, quando se diz na contemplação da natureza, nessas questões aí.

(1º idéia): relação entre a sociedade, a parte econômica e a parte ambiental;

B (2º idéia): a

Sustentabili-dade;

B Conservacio-nista;

B

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conservação da natureza;

B D Bom, aquela definição do Ceballos é... a que o

Brasil passou a aceitar, eu acho que é tudo aquilo que ele colocou, de forma cuidada, elaborada, pensada, né? sincronizada até. Mas ele, ah... Pra mim, o ecoturismo além disso, envolve muito mais com o sentimento de descoberta que as pessoas, é... só passam a sentir a partir do momento que conseguem intimamente entrar em contato com a natureza. E lá naquela definição técnica, não é... não coloca isso, não escreve isso. Economicamente, socialmente, culturalmente, ok! mas não fala dessa íntima relação homem e natureza da qual nós somos filhos e não dono.

(1º idéia): definição do Ceballos de forma cuidada, elaborada, pensada;

B (2º idéia): sentimento de descoberta, de intimidade com a natureza;

A

Intimidade no contato com a natureza;

A

E Eu acho que é complicado o fato como... a forma como o ecoturismo, a palavra eco foi banalizada, né? Hoje em dia assim, as pessoas se utilizam da palavra eco, ecologia, ecoturismo pra tá vendendo e pra tá criando uma imagem de que respeita a natureza, tudo isso. Acho que o ecoturismo é uma coisa mais profunda assim né? é uma prática de atividades ligadas à natureza, é uma integração com a natureza, é o respeito à natureza, então, é toda uma questão que você está se utilizando da natureza, você tá respeitando a natureza, você está integrado a natureza e você tá... é o seu limite e o limite da natureza, é o equilíbrio do que você consegue... do que você pode fazer e do que a natureza pode te dá. Aí a gente entra em toda essa questão de sustentabilidade né? de você garantir que isso seja mantido para as próximas gerações, enfim... e acho que assim, o ecoturismo é uma prática, é uma atividade, são atividades, são saídas, são viagens ou como quiser chamar, considerar, mais de um dia, menos de um dia, mas é uma prática ligada a natureza com o deslocamento, com a viagem, é uma ligação do turismo com a ecologia e com a natureza.

(1º idéia): a palavra ecoturismo foi banalizada;

C (2º idéia): prática de atividades ligadas à natureza;

B (3º idéia): questão da sustentabilidade;

B

Banalização do ecoturismo;

C Sustentabili-dade;

B

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Questão 3 – Um dos critérios para as atividades turísticas serem denominadas de ecoturismo é a existência do componente educativo (educação ambiental). Como o Sr. (a) trabalha com a educação ambiental? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

A A gente trabalha aqui, digamos, é na maior parte do tempo, nossos serviços são requisitados para entretenimento, para lazer né? na maior parte do tempo. Nessa situação de entretenimento/lazer a gente já também tá trabalhando o ecoturismo, ou seja, tá tentando... aí essa parte de lazer e entretenimento que é a maior parte aqui das nossas operações, as pessoas vem pra se divertir, mas automaticamente elas tão emergindo na natureza, tão recebendo as informações, também dos guias, com relação aos ambientes que elas tão visitando, é isso mesmo nos programas nossos de aventura o pessoal sempre passa aqui, os guias, né? a gente, é... as pessoas durante os programas sempre tem os aspectos, é assim, bons, bonitos, intactos, a natureza realmente ali de uma forma original e sempre tem algumas coisas meia degradadas e a pessoa só nesse parâmetro e ali olhando ali, ela já tem essa sensibilização né? e que criou o vamos cuidar da natureza, vamos... não essa natureza que ela tá visitando ali, mas a natureza as vezes do dia a dia, lá da natureza da casa dele, do terreno lá do lado da casa dele, do que seja a natureza de uma forma abrangente né? e bom... esse aí é um aspecto aí que a gente trabalha na maioria das vezes, né? que é a própria força da natureza alimenta a pessoa e a pessoa realmente fica é... revaloriza a natureza né?, só pelo simples fato de entra em contato com ela. E nós temos também aqui é alguns exemplos de educação ambiental, né? a gente tem, eventualmente, aqui né? é... aparecem escolas sejem públicas, sejem particular que vem fazê alguma saída de campo de ordem é... de educação. Mas há uma forma específica de trabalhar a educação ambiental? Não, não tem uma forma específica, tem é digamos, é uma, uma... a gente procura ter, digamos, os parceiros, né? Na realidade a gente tem um programa, que eu desenvolvi, para tentá digamos trabalhar isso de uma forma mais sistematizada da educação ambiental, mas não conseguimos é sei lá... patrocínios, parceiros pra pode desenvolve né? esse trabalho aqui da

(1º idéia): imersão na natureza por meio da diversão;

A (2º idéia): sensibilização pela percepção dos aspectos intactos e degradados;

A (3º idéia): devido a força da natureza as pessoas revalorizam a natureza;

A (4º idéia): educação ambiental realizado com escolas públicas e privadas;

B (5º idéia): não há forma específica de educação ambiental;

C

- Sensibiliza-ção pela própria natureza;

A - Educação ambiental formal (escolas) em ambientes não formais;

B

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162

gente né? que é a coisa, por exemplo, assim de Florianópolis lá das caminhadas, que nós temos aqui um projeto, uma vontade de fazê um trabalho mais nas escolas públicas né, que é assim de grátis, fazê essas atividades, mas tem que arrumá um parceiro pra pode custear, e a gente tem um programa detalhado sobre essas atividades mas não conseguimos o patrocínio, que é quem pagaria pra pode levá a gurizada pra excurcioná nos ambientes e fazê essas aulas aí né? essas saídas de campo.

(6º idéia): programa de sistematização da educação ambiental desenvolvido por parcerias para as escolas públicas;

B

B Bom, todas as atividades que a Adrenailha promove tem educação ambiental, ou seja, eu não consigo fazer surf, promover uma aula de surf sem eu conhecer sobre as ondas, sobre ecossistemas costeiros, sobre tipo de fundos, sobre correntes, marés, ventos e bom esse aí é o componente ambiental, mas a gente relaciona, procura relacionar também o respeito para as comunidades locais, com os pescadores, porque tem a época da tainha, agora na época da tainha algumas praias fecham por causa do surf. Eu não consigo pensar em levar as pessoas para a natureza sem que elas tenham esse respaldo, porque ir para fazer aventura pela aventura, pra mim fica um negócio sem nexo, entendeu? Há alguma forma específica no qual a educação ambiental é trabalhada? Ela é trabalhada em conjunto né? se é uma trilha, existe as paradas onde o instrutor vai parar e vai fazer essa interpretação, que a gente chama de interpretação ambiental e se é no rappel ele pode tá fazendo isso durante a preparação dos equipamentos, que é a parte mais demorada, vamos dizer assim, de um rappel, que é preparar toda a parte de segurança. Então, durante essa preparação, enquanto ele vai preparando, ele vai explicando, vai falando sobre o local, então quer dizer vai fazendo com que as pessoas pensem e reflitam sobre tudo aquilo que eles tão fazendo.

(1º idéia): conhecimento sobre o componente ambiental;

D (2º idéia): o instrutor desenvolve a interpretação ambiental;

E (3º idéia): processo de pensamento e reflexão;

E

Reflexão sobre os elementos naturais;

E

C Se eu te falar que nós temos educação ambiental, talvez eu esteja não mentindo, né? mas temos uma consciência ambiental, que é justamente no arvorismo, por exemplo, explicar ou tentar explicar como funciona a questão do ambiente ali, do ecossistema. Por exemplo, no Costão do Santinho, que foi construído em cima de restingas, né? são postes colocados... falar que não teve degradação? Teve mas tá

(1º idéia): consciência ambiental que explica a questão ambiental;

D

-

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regenerando, a gente explica como é que é consciência, a questão de ali ser uma RPPN, por exemplo, essas relações que o hotel tem e a parte de consciência ambiental quando a gente faz a parte social, que em virtude do tempo não é uma... não explica... quer dizer explica mas não justifica de não realizarmos com freqüência, mas a gente tenta utilizar de dinâmicas, né? ou de parte um pouco mais lúdica, com as crianças, principalmente, para tá tendo esse embasamento da consciência ou da educação ambiental. Nós não temos uma metodologia né? nós temos uma metodologia, que a gente utiliza em treinamentos empresariais, que não tem nada haver com a educação ambiental. Mas pra educação específica, infelizmente, a gente não tem executado.

(2º idéia): não temos uma metodologia;

C

D A educação é trabalhada a partir das descobertas e desafios que a própria natureza oferece, então nunca a criança... nós da Recrearte não trabalhamos assim olha isso aqui é o pau-brasil. Mas sempre a questão indagativa, dizendo olha vocês conhecem o pau-brasil, já viram o pau-brasil, estão vendo algum pau-brasil? né? Então, a gente pára em frente ao dito cujo, seja ele o que for e começa a provocar e ali a gente tem milhares de respostas nada haver com tudo haver, até que aproximem a gente vai peneirando, peneirando, peneirando... Porque? Nessa peneira eles não são obrigados a prestar atenção em quem está falando, mas prestam atenção nos colegas, a partir dos coleguinhas, a partir dos que estão participando e aí eles vão pensando, elaborando, elaborando, elaborando uma resposta e ali é feita a gravação como se diz no... através dos nossos sentidos, audição, visão e tudo mais, nesse sentido o pensamento vai sendo elaborado, quer dizer, as respostas vão sendo cada vez mais internalizadas, então a maneira de trabalhar a educação ambiental não é simplória, né? Eu tenho como livro de cabeceira, até foi um presente do Paulo Pires, o livro do ambientalista americano, Joseph Cornell – Aprender brincando com a natureza – e quando eu li o livro eu disse eu quero ser isso amanhã, né? Por que o cara, justamente, consegue usar uma metodologia que os brasileiros não... até então ninguém, nenhum professor, nenhum palestrante, ninguém tinha...

(1º idéia): a educação ambiental é trabalhada por meio da questão indagativa e dos sentidos;

F (2º idéia): metodologia do ambientalista Joseph Cornell;

F

Aprendizado por meio dos sentidos e do experienciado

F

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a não ser o Frei Leonardo Boff e o cara do livro Pedagogia da Terra... Gadotti? Isso Moacir Gadotti, que vem de Paulo Freire, quer dizer a partir do Paulo Freire, então quer dizer são os dois, são as duas vertentes no Brasil. Paulo Freire, ele dentro da educação já colocava lições de educação ambiental, consciência ecológica na preservação do ser humano e de todos os seres, da maneira como ele coloca através do respeito.

E Então, na maioria das vezes a gente trabalha muito em parcerias, né? com as outras empresas, então em todas as... como é uma empresa de turismo pedagógico a gente busca tá inserindo a questão da educação ambiental durante todo o processo, desde o momento que a gente pega os alunos no colégio, uma conscientização camuflada de como se deve... como eles devem se portar, tanto no dia a dia, que eu acho que é educação ambiental, não é só durante uma atividade de ecoturismo, né? Não é só durante um rafting, durante... é diária. Você ter esse respeito, esse cuidado com a natureza. Então, desde o início até o desembarque eles estão concentrados nisso. A gente procura fazer trilhas que explora toda a questão da... do respeito ao meio ambiente no sentido de não arrancar nada, de não levar nada, de não deixar nada, é... não fazer nada que vá prejudicar e também no sentido de aplicar isso no dia a dia. Quando a gente trabalha com passeios, com visitas a gente muitas vezes são utilizadas palestras, né? nos locais que a gente visita, por exemplo, quando a gente traz grupos pra Floripa para ser mais específica da região, quando a gente vai a Lagoa do Peri eles assistem a palestras, eles visitam, eles... tem laboratórios que mostra... tem estudo de impacto, né? quando a gente faz uma trilha tem guia de ecoturismo que vai tá mostrando, ensinando... tem a questão... quando a gente faz as trilhas educativas pra observação... questão do nome das plantas... e é um trabalho em conjunto com a escola, é uma coisa que nós monitores da Ecoclub e empresa não fazemos tão diretamente com os alunos, mas é um trabalho que já vem da sala de aula.

(1º idéia): a educação ambiental é inserida durante todo o processo da viagem pedagógica como uma conscientização camuflada;

B (2º idéia): respeito ao meio ambiente;

G (3º idéia): nas trilhas os guias mostram e ensinam questões relacionadas ao ambiente;

E (4º idéia): a empresa não faz a educação ambiental diretamente aos alunos, é algo que já vem da escola;

B

Adestramento ambiental;

G Interpretação ambiental; Educação vem da escola;

B

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165

Questão 4 – A Ilha de Santa Catarina foi caracterizada como ‘Pólo de Ecoturismo’ devido aos recursos naturais existentes e, possivelmente, salvaguardados na forma de Unidades de Conservação. Quais são os locais em que a realização do ecoturismo ocorre juntamente com a educação ambiental? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

A Praticamente, quase todos os locais, da nossa parte, isso já é meio que acontece, dessa forma meio que até indireta. Quando nós trabalhamos ou mesmo outras operadoras lá que trabalham lá também, de alguma forma de certo grau sempre a educação ambiental acontece, sempre! mesmo se for o cara digamos, eu não quero ser estúpido, mas o guia mais ‘tapado’ é... tu vai levá uma pessoa, um grupinho pra fazê uma caminhada, mesmo ali as pessoas vão assimila as coisas da natureza. A natureza é mestre, né? Ali já tá acontecendo educação ambiental, né? sempre, acho sempre... existe só a necessidade, né? as vezes a forma mais leve as vezes uma forma mais intensa né? Os lugares lá em Floripa que há práticas de ecoturismo... Em Florianópolis ou no Pólo! É, é no pólo! Mas em Floripa, na Grande Floripa, né? É o pólo está na grande Floripa, né? Na verdade o Pólo compreende desde a Arvoredo até o Parque do Tabuleiro e mais a Ilha. É então, os lugares que acontecem o ecoturismo e que tem nessa escala de maior ou menos de respeito ambiental, é... são normalmente as áreas de parque, o parque municipal da Lagoa do Peri, o parque municipal da Lagoinha do Leste, a reserva do Arvoredo, a ilha do Campeche, né? a Lagoa da Conceição, as áreas das dunas...

(1º idéia): em todos os locais a educação ambiental sempre acontece;

A (2º idéia): a natureza é mestre;

A (3º idéia): o Pólo está na Grande Florianópolis;

B (4º idéia): ecoturismo ocorre nas áreas de parque;

C

Educação ambiental sempre acontece em função da natureza ser mestre;

A Ecoturismo está relacionado às áreas naturais protegidas

C

B No meu conhecimento, primeiro a gente não chama Ilha de Santa Catarina, a gente chama Arquipélago de Santa Catarina, tá? São um conjunto de 30 e poucas ilhas, então, dentro disso a gente tem várias unidades de conservação, nenhuma dessas unidades de conservação tem plano de manejo, ou seja, nenhuma dessas unidades de conservação tem especificado as áreas onde pode-se atuar ou não turisticamente, tá? Então, isso já dificulta um monte para se fazer ecoturismo. Sem você saber onde você pode ou você não pode, quer dizer não se foram feitas pesquisa, ninguém sabe de nada. A gente faz em todos os lugares, onde tem atividade da Adrenailha ocorre educação ambiental, mesmo aqui na praia dos

(1º idéia): unidades de conservação sem plano de manejo;

D (2º idéia): todos os lugares onde trabalhamos há educação ambiental;

Em todos os locais onde trabalhamos há educação ambiental;

E

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Ingleses que não é uma unidade de conservação, entendeu? Mesmo não sendo uma unidade de conservação, mas existe a parte de educação ambiental, né? Mas em todas as áreas que a gente utiliza, que a maior parte vamos dizer das trilhas que a gente faz são dentro dos parques municipais, né? e alguma coisa dentro do parque estadual da Serra do Tabuleiro, então dentro dessas unidades, a gente também explica sobre as unidades de conservação, o quê é um parque, porque que chama parque, né? e o que que isso tem haver dentro do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), então a gente explica tudo isso, porque que é uma unidade de conservação, porque existiu, até faz uma correlação né? de como que isso aconteceu. A gente trabalha não só com os parques mas as áreas, as APPs, tipo o Morro dos Ingleses que é uma APP a gente trabalha bastante, a RPPN das Aranhas junto com o Parque que não é nem municipal e não é parque, vamos dizer, é o parque florestal do Rio Vermelho, ele não é uma unidade de conservação, ele ainda não é, né? há um estudo para tentar transformar ele num parque estadual, aí o parque estadual do Rio Vermelho, parque municipal da Galheta, parque da Lagoinha do Leste, parque da Lagoa do Peri, parque estadual da Serra do Tabuleiro, o entorno da estação ecológica do Carijós, a gente também utiliza, que é uma APP, a APP da Costa da Lagoa, que a gente utiliza também, esses são as principais áreas que a gente atua. Ah e Governador Celso Ramos que tem a APP de Anhatomirim, a APA de Anhatomirim. E a área de Proteção da Baleia Franca, um pouco mais para baixo, começa no sul da ilha a partir do Pântano do Sul para baixo.

E (3º idéia): mesmo não sendo unidade de conservação há educação ambiental;

E (4º idéia): trabalha com os parques e com outras áreas protegidas;

C

C Olha, se nós pararmos para pensar isso, nós temos os parques municipais que entrariam dentro da questão da unidades, cinco parques naturais municipais na verdade, a Galheta, Lagoa do Peri, Dunas da Joaquina, Reserva Extrativista Pirajubaé e a outra é a Estação Ecológica Carijós. Então, seriam os cinco parques que teoricamente se trabalhariam, apesar da Estação Ecológica não poder. Que eu me recorde os lugares realizados, né? que fazem educação ambiental ou que tem dentro desse contexto de unidades de conservação, seriam esses. Mas esses locais incluem o ecoturismo?

(1º idéia): os cinco parques municipais;

C

Não há ecoturismo com educação ambiental no Pólo;

F

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167

Propriamente dito não! Então, onde o ecoturismo ocorre junto com a educação ambiental no Pólo? Olha que eu me lembre não há. Que eu me lembre, exatamente, de fazer todas essas relações, não me recordo. Não me recordo mesmo. E o que as vezes pode acontecer é que nem, por exemplo, o Costão do Santinho que tem a RPPN Morro das Aranhas e a Estação Biológica do Costão, que quando chama a comunidade ou as escolas, acabam de certa forma fazendo até uma educação ambiental misturada com atividade no meio ambiente e ecoturismo, mas não relacionado exatamente a isso. Mas que eu me recorde, assim, não há essa relação direta de ecoturismo, mesmo com a educação ambiental.

(2º idéia): não me recordo de atividades que façam essas relações;

F

D É... praticamente nos parques, praticamente todos os parques nós trabalhamos essa questão né? ecoturismo e educação ambiental. Quer dizer, seja no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, que é a nossa atração principal, turmas do Colégio Catarinense foram levadas periodicamente, durante 08 a 10 anos. O próprio Parque Municipal do Peri que em 91 nós fizemos o primeiro piquenique ecológico com as vovós, da vovó com netinhos de 02 a 07 anos, trabalhando com o Kiko do Projeto Larus, como biólogo com a sensibilização toda que ele tem, trabalhou com aqueles tipinhos assim, e a gente descobrindo carrochinhas, minhocas é... decompositores na areia, depois os formigueiros...

(1º idéia): nos parques nós trabalhamos o ecoturismo e a educação ambiental;

C

-

E Ilha do Campeche, arvorismo no Costão do Santinho e no Engenho Velho, as trilhas da Lagoinha do Leste, a trilha da Barra da Lagoa, a própria Barra da Lagoa, Lajão – aquela parte da prainha... É... que mais a gente faz? Aqui dentro da ilha tem... a Lagoa do Peri, que eu tinha comentado antes, a trilha da Lagoinha, tanto pelo matadeiro quanto pelo pântano, geralmente é o que a gente escolhe por que é uma trilha mais longa, uma trilha que dá pra explorar mais esse lado, não só a atividade física por ser mais demorado, íngreme e de grau de dificuldade maior, mas também por ser na minha opinião um dos lugares mais bonitos da ilha. Até as próprias atividades de sund board nas Dunas da Joaquina, no próprio Costão do Santinho, utilizando a estrutura dele quando faz o arvorismo, as vezes a gente se utiliza das

(1º idéia): Ilha do Campeche, arvorismo no Costão do Santinho e no Engenho Velho, as trilhas da Lagoinha do Leste, a trilha da Barra da Lagoa, a própria Barra da Lagoa, Lajão... a Lagoa do Peri, a trilha da Lagoinha, as atividades de sund board nas Dunas da Joaquina, no

-

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dunas e das trilhas dali, a Moçambique e até as dunas e seria mais... basicamente isso.

próprio Costão do Santinho, as trilhas dali, a Moçambique.

C

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169

APÊNDICE E

Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas aos gestores e ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina

Legenda: ECH da IC = está em itálico ECH da AC = está sublinhado Intervenções do entrevistador = estão em negrito

Questão 1 – Para o Sr. (a) o que quer dizer meio ambiente? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

F Nossa casa né? tudo na verdade, se a gente pára pra pensar em meio ambiente, meio ambiente é o lugar como um todo, toda a parte física, biológica, parte sócio-econômica, a parte humana, sócioambiental, na verdade toda essa parte de matérias e energia encontrada no universo.

(1º idéia): o lugar com um todo;

A

Como lugar para viver;

A Como biosfera;

B G Bom, a gente trabalha, não só pra mim mas,

com a forma de trabalhar o meio ambiente hoje ele tem um conceito mais amplo, né? Bem sucinto: meio ambiente hoje é considerado o que é natural, tudo que é natural (natureza), o que é construído, o que é social, o que é cultural e o que é histórico. Nessa abrangência é que a gente trabalha o conceito de meio ambiente.

(1º idéia): composto pelas partes natural, construído, social, cultural e histórico.

A

Como recurso;

A

H Meio ambiente pra mim quer dizer o meio em que a gente vive. Tudo é meio ambiente, a gente tá inserido no meio ambiente.

(1º idéia): meio em que a gente vive;

A

Como lugar para viver;

A I Meio ambiente cara?! Eu definiria meio

ambiente como o conjunto de elementos, de relações que envolvem tanto o meio físico quanto o meio biótico.

(1º idéia): conjunto de elementos dos meios físico e biótico;

A

Como recurso;

A

J Meio ambiente na minha visão, nos conceitos, engloba todo o planeta e suas relações, né? tudo está... teria que formular melhor... mas seria as relações que ocorrem no Planeta, desde a biosfera, litosfera, hidrosfera, enfim... esses aspectos que estão relacionados, né? e dentro disso, lógico, o que está acontecendo porque hoje se fala muito em meio ambiente como uma coisa que envolve o homem, as ações do homem e tal, mas eu... em um aspecto geral seria... o

(1º idéia): relações que ocorrem no Planeta;

B (2º idéia): envolve as ações do homem;

A

Como biosfera;

B

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170

que mais... o Planeta e seus efeitos assim, né? num grande sistema.

Questão 2 – Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

F Na parte do ecoturismo eu acredito que seja um turismo de mínimo impacto, um turismo que respeite o meio ambiente que degrade ele o mínimo possível, pra dali tirar o seu sustento. Uma coisa que seja econômica e ecologicamente sustentável do ponto de vista da atividade. Só que a gente sabe que essa palavra vem sendo utilizada de maneira aleatória, simplesmente, por agregar valor a um tipo de trabalho, tanto o cara que trabalha na cavalgada, tanto o cara que trabalha com trilha de moto no meio da selva, com a moto de dois tempos que polui pra caramba, o cara muitas vezes pode falar que é ecoturismo.

(1º idéia): turismo de mínimo impacto;

A (2º idéia): atividade econômica e ecologicamente sustentável;

C (3º idéia): palavra utilizada de maneira aleatória;

B

Lado comercial do ecoturismo

C

G O ecoturismo no nosso entendimento, não só no meu mas da equipe, seria essa relação do turismo ao meio ambiente, principalmente, natural, né? A exploração desse meio natural que nós temos hoje com o turismo. Seria uma relação direta, uma relação humana, né? que não deixa de ser natureza, mas o homem com a natureza, com o meio natural.

(1º idéia): relação do turismo ao meio ambiente;

A (2º idéia): exploração do meio natural com o turismo;

C

Lado comercial do ecoturismo

C

H Ecoturismo? É um turismo que visa a... eu acredito que seja a conservação da natureza. Ele vem sendo desenvolvido, eu acho, que de uma forma um pouco rápida demais, porque tem lugares e eu cito como exemplo porque eu trabalhei no Maranhão, então tem alguns lugares que você usa a palavra ecoturismo pra dizer que você tá fazendo um turismo que se preocupa com a natureza e no fundo você só quer explorar a natureza. Então, eu acho que estão acontecendo muitas distorções do quê que é ecoturismo mesmo e de quem faz realmente ecoturismo.

(1º idéia): turismo que visa a conservação da natureza;

A (2º idéia): distorções do que é ecoturismo;

B

Conservacio-nista;

A

I Eu entendo como ecoturismo é justamente o lado do turismo que enfatiza como atrativo as características naturais, no caso não diria meio ambiente porque não falo tanto, mas sim as características naturais.

(1º idéia): turismo que enfatiza as características naturais;

A

Ênfase no atrativo natural;

A

J Ecoturismo seria essa prática de pessoas, visitantes, usuários que freqüentam as áreas

(1º idéia): turismo em áreas naturais

Processo de educacional;

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naturais, né? e o ecoturismo também é... estaria promovendo a educação ambiental como um processo de educação. Então, seria o turismo em áreas naturais com o processo educacional em conjunto, né? e também como o desenvolvimento das comunidades locais, no caso, então pra mim o ecoturismo seria isso, eu acho que um processo de pessoas que visitam os ambientes naturais e que tenham informações, tenham um processo que participe de um processo de educação e que estejam se integrando ali também com a população local.

com o processo educacional;

D (2º idéia): desenvolvimento das comunidades locais;

D

D

Questão 3 – Para o Sr. (a) o que quer dizer educação ambiental? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

F A educação ambiental pra mim ela varia desde uma conscientização ambiental até um trabalho onde a comunidade esteja incluída. Tudo isso tá dentro do trabalho de educação ambiental, lógico que as formas de conscientização isoladas elas são uma sensibilização, quer dizer, menos que uma conscientização. Isolada ela não vai gerar muitos benefícios, muita alteração e realmente nenhuma medida efetiva no meio ambiente. Mas, a educação ambiental ela passa por toda e qualquer atividade que possa fazer com que a pessoa ela avalie suas atitudes com relação ao ambiente em que ela está inserida e reflita sobre isso, mudando o seu comportamento. Tudo isso pra mim, no meu ponto de vista é educação ambiental.

(1º idéia): conscientização;

A (2º idéia): conscientização isolada é uma sensibilização;

A (3º idéia): avaliação, reflexão e mudança de comportamento em relação ao ambiente;

B

Educação ambiental crítica;

B

G Bom, educação ambiental, na realidade, pra nós também enquanto equipe que... nós entendemos que é um processo. É... a educação ambiental deve ter atividades que envolvam todas essas questões já faladas dentro do conceito de meio ambiente. Mas, principalmente, toda educação ambiental deve começar com a sensibilização, por que sem a sensibilização, o conhecimento não chega, por que as pessoas, também, se elas não desejarem elas podem ter o conhecimento e faltar a vontade de trabalhar com esse meio ambiente ou no sentido dessa pessoa com esse meio ambiente, né?

(1º idéia): educação ambiental é um processo;

A (2º idéia): deve ter atividades que envolvam as questões do conceito de meio ambiente;

C (3º idéia): deve começar com a sensibilização;

A

Sensibiliza ção;

A

H Tá, eu vou falar pra mim tá? Por que enquanto (1º idéia): Processo

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instituição o Ibama tem todo um conceito do que é educação ambiental. Mas, é um processo, tem que ser construído ao longo do tempo, não é uma coisa que você vai lá e faz uma ação aqui, uma ação ali e tá fazendo educação ambiental. Não! Você tá fazendo uma conscientização depende da pessoa mas, você tem que construir ao longo do tempo um processo pedagógico, um processo educativo, de educação e dentro dessa educação vai estar inserida a educação ambiental.

processo educativo;

A

educativo a longo prazo;

A

I Pra te falar a verdade cara, educação ambiental até hoje eu não entendo o que é isso, ainda eu não sei porque inventaram esse termo, eu acho que... eu entendo até como desnecessário de existir, porque na minha visão... como minha visão de meio ambiente tem toda relação dos elementos, acho que toda educação tem a ver com o ambiente. Então, eu acho que esse nome de educação ambiental é por que deve ter alguma coisa haver com você ensinar as coisas de maneira mais correta. Entendeu? Mas, eu acho que não deveria nem existir. Acho que a educação deveria ser revista, acho que não continuaria a ser chamada de educação, teria que dar outro nome para isso.

(1º idéia): não entendo o que é e não sei porque inventaram o termo;

E (2º idéia): educação tem relação com o ambiente;

C

Descontenta-mento com o termo e seu significado;

E

J Educação ambiental? Na verdade educação é um processo, um processo contínuo, então, é um processo que visa a transformação, a sensibilidade de pessoas no caso ambiental para a questão ambiental, que é muito ampla também, que trabalha desde a saúde a questão econômica, a questão de recursos naturais, por exemplo, enfocando... então, são muitos temas que envolvem a educação ambiental, então é complexo assim, é bem amplo, mas eu vejo que a educação é um processo e tem que ser contínuo. E é desenvolvida de várias formas né? com vários métodos desde a sala de aula até em ambientes naturais, enfim, com vários métodos e fica até difícil de explicar, teria que pensar um pouco mais para listar assim... Nos ambientes naturais, você saberia explicar uma forma? Uma forma é com atividades lúdicas ou palestras ou através de atividades recreativas, jogos, enfim são formas que poderiam estar trabalhando a educação ambiental.

(1º idéia): processo contínuo que visa a transformação, a sensibilidade de pessoas para a questão ambiental;

B (2º idéia): complexa por envolver muitos temas;

C (3º idéia): desenvolvida em sala de aula;

D (4º idéia): desenvolvida em ambientes naturais de forma lúdica ou com palestras;

D

Educação ambiental crítica;

B

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173

Questão 4 – O Sr. (a) acredita que o ecoturismo possa ocasionar impactos nocivos no ambiente natural? O Sr. (a) poderia me explicar por quê? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

F Com certeza, por exemplo, uma trilha mal feita pode causar uma erosão dependendo da suscetibilidade da área, pode até causar uma perda significativa de solo, alteração na área local, alterando inclusive a parte de estuário, por exemplo aqui na Ilha, só pegá as trilhas que são feitas de maneira errada e estão em um estágio de erosão bastante avançado, a própria retiração de... por exemplo, reserva biológica tem até um artigo aqui que demonstra até certo ponto que o quê está causando um stress mesmo naquela visitação direcionada e toda regulamentada que tem em Bonito, tá causando stress.

(1º idéia): com certeza, por que a trilha mal feita causa impacto;

A

-

G Acredito, acredito... acredito porque isso são dos profissionais. Hoje nós temos... vamos fugir um pouquinho do ecoturismo mas, trabalhar com educação ambiental... o professor que pede para fazer um trabalho de contato com o meio ambiente natural, ou seja, fazer uma trilha ecológica e que manda quarenta alunos, não entende o que é ter... então, imagine uma empresa de ecoturismo que não veja assim, então tudo depende do profissional que tá trabalhando, qual é a formação, qual é o entendimento dele de meio ambiente, como é que ele (ou ela) se relaciona com esse meio ambiente... então, eu vejo muito assim...

(1º idéia): acredito por que depende dos profissionais;

B

Depende do profissional;

B

H Eu acredito, eu já visualizei isso. Eu acho que eu já coloquei um pouco do que penso mas é... é aquela coisa, você querer explorar a natureza usando o conceito de ecoturismo, você realmente tem que ter o interesse de fazer ecoturismo, não de explorar a natureza e usando ah eu faço ecoturismo! Por que hoje em dia é bonito isso, né? de você cuidar da natureza, de você ser conservacionista e tal e tal, agora até que ponto que você tá fazendo ecoturismo.

(1º idéia): acredito por que você tem que ter o interesse de fazer ecoturismo e não explorar a natureza;

C

Conservacio-nista;

C

I Acredito. Por que é... muitas vezes o ecoturismo é feito não só por questões de quem faz ou de quem opera o ecoturismo, mas muito mais por questão de público, do público-alvo e as pessoas gostam de ir em áreas que ainda não foram visitadas, que não foram tocadas, por ser pouco visitadas e pouco tocadas. E as vezes elas

(1º idéia): acredita por que o ecoturismo é feito em função do público-alvo;

B (2º idéia):

Ecoturismo feito em função do mercado;

B Áreas

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tornam visitadas por causa disso. Então, se você não tiver critério de como fazer isso, elas vão deixar de existir, passando a ser um material de consumo, você vai visita, você acaba com o local, tem impacto de todo tipo, caminhada, lixo, disse e aquilo.

necessidade de critérios;

A (1º idéia): áreas naturais como material de consumo;

C

naturais como material de consumo;

C

J Sem dúvida pode tanto causar impactos positivos como negativos dependendo como forem implementados, né? tem que ver que no Brasil... Em relação aos negativos você pode me explicar o porque isso acontece? Desde lixo, abertura de novos acesso, muita gente, assim a freqüência de visitação, assim, então a questão social da satisfação da visitação no atrativo. Por ter concentração de muita gente no atrativo, impactos visual, pichação, corte de árvores, marcação, assim pichação em pedras ou dos próprios atrativos, no caso de cavernas. Que mais que a gente vê aí? Mas, acho que isso é... barulho, som alto, questão de som também causa impactos e isso pode causar outros impactos decorrentes de uma procura assim, por exemplo, de um grande número de pessoas freqüentam o ambiente faz com que toda a economia ali possa tá desenvolvendo de forma negativa.

(1º idéia): sem dúvida, mas depende de como forem implementados;

A (2º idéia): impactos decorrentes do grande número de pessoas;

A

Impactos negativos são ocasionados pelo grande número de pessoas no local;

A

Questão 5 – O Sr. (a) acredita que a educação ambiental poderia minimizar os possíveis impactos negativos advindos do ecoturismo? O Sr. (a) poderia me explicar por quê? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

F Com certeza pelos próprios executores errôneos que a gente vê hoje, se tivessem consciência do que realmente é turismo ou do que é esse processo que envolve a percepção da atividade deles e eles entendessem quais as atividades que causem mais impactos e reduzissem os impactos... eu cheguei a ser contactado para trabalhar numa trilha de educação ambiental de um hotel conhecido, grande aqui no entorno de Floripa, que a mulher virou pra mim, a dona do hotel, veio conversar a respeito da trilha e falou assim ó a gente faz a trilha assim num sei o que e por que a gente raramente vê pássaros, a gente tem uma mata grande e tal, você tá entendendo isso? Tá mas como é que vocês fazem isso? Ah a gente pega uma equipe de trinta, quarenta crianças põe na trilha e uma

(1º idéia): com certeza, depende da consciência dos executores do ecoturismo;

A (2º idéia): interação e sensibilização no meio ambiente;

B

Sensibiliza-ção;

B

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pessoa vai com o mega fone conversando com as crianças... pô e você quer ver pássaro ainda? Certo? Você tem que entrar com um grupo de dez crianças, todo mundo quieto e você faz as atividades de interação e sensibilização pra começar a entender o meio ambiente e não atrapalhar... afinal o bicho tem muito mais medo da gente do que a gente do bicho. Então, essas são as maneiras, você ter consciência do que causa os impactos ambientais e por atividade e diminuir isso o máximo possível. Entendeu o quê que é?

G Com certeza, por que na realidade você teria um sentimento mesmo, né? Por exemplo, vou citar um exemplo assim, capacidade de suporte se uma trilha, né? A relação hoje é muito forte ao econômico, então as pessoas, eu vou falar das empresas mas, vou falar das pessoas elas visam muito o lucro e em função do lucro as questões do meio ambiente natural elas deixam de ser prioridade. Então, eu cito esse exemplo com o gás ecológico (CFC) você vai comprar uma geladeira na hora que vai bater no bolso você vai comprar a mais barata e você é um ambientalista, você trabalha com meio ambiente, você... mas na hora que aperta, que fala-se no financeiro, parece que a gente esquece.

(1º idéia): forte relação ao econômico;

A (2º idéia): questões do meio ambiente natural deixam de ser prioridade;

A

Crítica / oposição ao desenvolvi-mento sustentável;

A

H Eu acredito, por que muita gente não tem consciência do que se faz. Muita gente, muita! Agora como trabalhar isso eu também não saberia te dizer, porque como a educação ambiental seria um processo as vezes o turista vem e vai embora né? Então, eu acho que teria que ser trabalhado do lugar que o turista vem, talvez, no Brasil poderia trabalhar isso melhor, nos outros países eu não sei como isso é trabalhado mas, eu penso assim sabe... você trabalha os conceitos... você ter sei lá certos... como eu posso dizer... certos lemas do ecoturismo mesmo... objetivos que... que eu nem sei se tem realmente definidos sabe... como geral, todo mundo ter aquele lema, aqueles objetivos e isso ser geral no Brasil, enfim...

(1º idéia): não se tem consciência do que se faz;

A (2º idéia): educação tem que ser trabalhada na origem do turista;

C (3º idéia): objetivos do ecoturismo;

C

Desconheci-mento da relação ecoturismo e educação ambiental;

C

I A educação sim. A educação... eu acho que a principal ferramenta da educação que é a coisa mais difícil de colocar na cabeça do ser humano, é o ser humano entender que a balança não funciona muito racionalmente, é que nem a balança do nosso consciente ela diz o

(1º idéia): a educação é a principal ferramenta;

D

Educação fornece um sentimento de coletividade;

D

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quê? Eu vou saldar, eu vou te dar um benefício pra mim, causando um malefício para todos. Então, o ser humano tenta colocar inconscientemente muitas vezes isso na balança e acaba compensando, ou seja, o benefício é pra mim mas o malefício eu vou dividir em todos, então é lucro. Eu acho que num processo de educação, tem como dar uma noção de coletividade do ser humano.

J Sem dúvida. Ah se tiver um processo contínuo e efetivo de educação com o envolvimento comunitário você tem como diminuir esses impactos, envolvendo a comunidade no processo de implementação das ações e da gestão do território, mas tem que ser através de uma qualificação e uma capacitação contínua, um processo de divulgação e informação e pesquisa nas áreas para que isso possa ser efetivamente implementado.

(1º idéia): processo contínuo e efetivo de educação com o envolvimento comunitário;

D (2º idéia): papel da comunidade na implementação das ações e da gestão do território;

D (3º idéia): qualificação, capacitação contínua e o processo de divulgação, informação e pesquisa;

D

Educação no processo de gestão ambiental.

D

Questão 6 – O Sr. (a) pode me explicar quais são as estratégias utilizadas para a conservação da natureza? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

F Tem várias, desde a criação de leis, de áreas protegidas, até a educação e gestão de recursos naturais numa escala de macro de tempo, uma escala mais longa, a longo prazo nas atividades e isso dentro das escolas, fora em atividades em grupos isolados, mas isso num faz diferença, tudo tem que passar pela conscientização, tem que passar pela educação. O cara tem que saber o quê que acontece, o fato dele estar inserido no meio ambiente e entender qual é a função dele, meio o que ele pode estar fazendo.

(1º idéia): várias desde a criação de leis, áreas protegidas;

A (2º idéia): educação e conscientização;

B

Educação ambiental crítica;

B

G Primeiro a sensibilização, colocar as pessoas (1º idéia): Processo de

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em contato com o que é natural e aí sim eu falo do natural, não estou falando construído, não estou falando do cultural, mas do natural. A prioridade hoje nossa enquanto educação ambiental é colocar em contato com o que realmente acontece e ter esse aspecto do... essa capacidade de vontade de admirar o que é natural, né? A sensibilização você disse que é uma das estratégias de conservação, há outras? A primeira, a segunda é o conhecimento, então o que é uma APP, o que é uma unidade de conservação, que é uma APL, depois disso, depois do conhecimento é que se pode cobrar, fazer alguma cobrança dos órgãos competentes. Porque até então... hoje se fala ah desmataram tal área, mas se vai olhar o plano diretor é uma área residencial predominante, então você pode construir naquela área, então você tem... é uma APL você pode desmatar 10% da área para construir, então as pessoas... falta o conhecimento, se falta o conhecimento como ela vai lutar por uma área verde, por exemplo.

sensibilização, contato das pessoas com o que é natural;

B (2º idéia): conhecimento;

B (3º idéia): cobrar o direito por áreas verdes;

B

educação ambiental;

B

H Eu acho que tem que caminhar, vamos dizer, num trilho de coisas, num... tem que caminhar com a capacitação, tem que caminhar com educação e... com proteção também, com fiscalização também. Acho que são essas três coisas que teriam que funcionar bem e se funcionando bem, acho que a gente poderia tá de repente conservando melhor a nossa natureza, aqui no Brasil a gente sempre vê que o desenvolvimento é colocado a frente da conservação da natureza e a gente percebe isso nos procedimentos dos órgãos ambientais, tanto federais, quanto estaduais, quanto municipais, na fala de recursos, na falta de infra-estrutura, na falta de pessoal, então, talvez a estratégia seja por aí... fortalecer os órgãos de gestão, também, o fortalecimento desses órgãos vai também no eixo.

(1º idéia): a capacitação, educação, proteção e fiscalização;

A (2º idéia): desenvolvimento é colocado a frente da conservação da natureza;

D

Fortalecimen-to dos órgãos ambientais;

D

I Posso citar algumas, eu acho que a principal estratégia em relação a conservação da natureza é a última aqui no Brasil e também no resto do mundo, é você tirar o ser humano, deslocar das áreas naturais, partindo de uma premissa que o ser humano não tem condições de cuidar do meio ambiente. Então, você cria uma unidade de conservação retira o ser humano de lá, ou então com muito cuidado você deixa o ser humano dar uma entrada e uma olhadinha e cair fora, porque

(1º idéia): retirar o ser humano;

C

Presevacio-nista;

C

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178

mais do que isso ele tá prejudicando aquilo. Acho que essa a principal meio de conservação é esse. Eu acho que tem outros meios de conservação, o pessoal da muitos nomes como chamar de desenvolvimento sustentável.

(2º idéia): desenvolvimento sustentável;

A

J As estratégias hoje é... baseada na aplicação da legislação, na das questões por isso tem o sistema nacional. Outra é o planejamento das atividades dentro das áreas, então, planejando as atividades e executando, assim, as suas ações e dentro desse planejamento a conservação da natureza ela passa por várias linhas, desde da... para você conservar a natureza, as estratégias, você passa por educação ambiental, por fiscalização, por mobilização comunitária, participação da comunidade, né? é... divulgação, estrutura das áreas, infra-estrutura nessas áreas... que mais... por trabalhar por pesquisa, por muita pesquisa científica para viabilizar esse processo. Acho que é, assim... numa linha geral seria isso aí.

(1º idéia): aplicação da legislação e o planejamento das atividades;

A (2º idéia): participação comunitária;

E

Envolvimen-to comunitário

E

Questão 7 – Em muitos lugares se comenta sobre a conservação da natureza, mas parece que no turismo isso não ocorre. Por exemplo, continua sendo jogado lixo no chão, inclusive em áreas protegidas. Por que o Sr. (a) acha que isso acontece? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

F Por que a pessoa não tem noção que aquela... por exemplo, vamos usar um exemplo clássico aqui da Reserva do Arvoredo, você tá no alto da cabeceira do rio Tijucas, a mais de 20 km, daí você tá andando na rua e você joga um plástico no chão. A tendência normal é que a chuva venha transportar isso para dentro da calha de drenagem do município, isso aí cai pra dentro do rio, na bacia do rio Tijucas, vai entrar no rio Tijucas de alguma maneira, se não tiver a rede de esgoto adequada, cai no rio Tijucas, é levado para a Reserva do Arvoredo e uma tartaruga confunde isso com uma alga, come e morre afogada. Esse é um exemplo típico da mesma forma que você tá falando. Se a pessoa não tiver consciência do que acontece com o lixo que ela joga fora ali, ela acha que alguém vai passar e jogar no lixo. Ela não sabe da continuidade do processo, ela não tem entendimento do impacto que ela tem no meio ambiente de todo o processo dela. Uma reserva biológica ela tem uma série de benefícios, desde a reprodução de peixes para repovoar a costa até o uso de algum

(1º idéia): consciência da pessoa;

A (2º idéia): adestramento ambiental;

B

Tomada de consciência, transforma-ção das atitudes;

A

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tipo de... qualidade, características nesse ponto ela tem para o tratamento de câncer. Então, esses benefícios se ela não souber as conseqüências ela nunca vai mudar seus atos. Uma coisa é ter educação ambiental, outra coisa é adestramento ambiental... não joga lixo, não joga lixo, não joga lixo... ah tá não joga lixo porque? Tem que entender a essência da história e não as simples aparência.

G Por que essas... é aquela coisa... vamos falar de Florianópolis! O sujeito coloca uma empreendimento, por que é uma cidade de turismo, tipo um hotel e não se preocupa pra onde vai o seu esgoto, coloca na praia em que os seus clientes já escolheram aquele hotel porque tem a praia, então, ele não tá tendo esse entendimento. Volto de novo com a exploração financeira, então enquanto as pessoas não tiverem esse entendimento elas não vão conseguir fazer essa relação do porque preservar, né? E que na realidade é dar um retorno, principalmente, pro ecoturismo, como é que uma pessoa vai escolher uma praia para ir em que o empreendedor tá colocando o esgoto, tá colocando... o próprio empreendimento pro turista. Vamos falar de hotel! Quantos hotéis separam o seu lixo em uma cidade que tem coleta seletiva? Quantos? Falta educação ambiental.

(1º idéia): entendimento do por que preservar;

A

Falta de conhecimento e de decisão;

A

H Ah, eu acho que um pouco é falta de educação, um pouco é falta de consideração, por que o homem as vezes... ele foi muito educado nessa forma antropocêntrica de ser, né? Eu sou o centro do universo, tudo gira ao meu redor e a natureza tá aí pra me servir mesmo e eu faço o que eu quiser com ela e nunca vai acontecer nada. Então, alguns conceitos já estão enraizados, mesmo nessa sociedade, vem de tempos e continua sim. Tem claro uma mudança tudo... eu acho assim, talvez mais pra frente a gente não tenha mais esse tipo de comportamento, eu acredito que já melhorou bastante, por que antes era uma coisa muito natural e hoje em dia muita gente vê isso e já fala coisa ridícula né? Olha o que ele cara tá fazendo? E antigamente acho que nem existia essa coisa. E as vezes o cara deixa de fazer por causa disso, por conta que a sociedade está cobrando mais, é uma mudança de paradigma, eu acho, que tá ocorrendo agora, por agora

(1º idéia): falta de educação;

A (2º idéia): mudança de paradigma;

C

Mudança de paradigma;

C

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mesmo. E com relação ao turismo acho que é uma mudança de paradigma, tem muita gente no turismo trabalhando com a questão ambiental hoje em dia, né? e que não existia antigamente, tanto né?

I Eu acho especificamente o seguinte, que é... eu não vejo as pessoas, não digo todas, mas também não sei dizer se a maioria que fazem o turismo, entendem aquela área enquanto um bem de consumo, ele tá pagando pra utilizar essa área e a pessoa acha que nada mais justo que ele tá pagando aquela área tem o direito de usar como bem entender. E até porque as pessoas as vezes não tem que voltar lá, não tem que... ou acha que sei lá o quê que faz que outros não tem... mas acontece muito isso e é um problema grave e também passa por questão de educação e jogar lixo no chão não é falta de educação ambiental é falta de educação mesmo.

(1º idéia): descomprometi-mento com o local;

C (2º idéia): falta de educação;

A

-

J Primeiro é a desinformação total, as pessoas não conhecem, geralmente, aonde moram e, principalmente, a natureza que está a sua volta, a biodiversidade, assim, a gente tem muita desinformação. Outra é a própria falta de conhecimento, também da academia, por exemplo, vamos pegar o exemplo da mata atlântica, informações específicas das espécies, da ecologia, como funcionamento do sistema... então, essas questões assim de falta de conhecimento e desinformação acabam gerando muitos impactos.

(1º idéia): falta de conhecimento e informação;

A

-

Questão 8 – Agora, eu vou dizer uma frase e quero saber se o Sr. (a) concorda ou discorda e por que. A frase é: A educação ambiental pode ser uma ferramenta do ecoturismo para a conservação da natureza mas, pouco se sabe sobre quais e como são desenvolvidas as modalidades (metodologias) de educação ambiental nessa atividade. Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

F Concordo e discordo ao mesmo tempo. Então, realmente a educação ambiental é uma das ferramentas do ecoturismo? É. Da mesma forma que o ecoturismo é uma das ferramentas da educação ambiental. Pode haver as duas coisas, você pode trabalhar com a educação ambiental dentro do ecoturismo, pode trabalhar com o ecoturismo como uma ferramenta num planejamento de educação ambiental. Que é o que pode ser feito ao redor da Ilha do Arvoredo sem problema algum. E agora levando em vista

(1º idéia): a relação intrínseca do ecoturismo com a educação ambiental;

A (2º idéia): não é a pessoa ideal para dar essa avaliação;

B

-

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181

do que se sabe ou não se sabe, realmente, eu não seria a pessoa ideal pra dá essa avaliação.

G Concordo, concordo plenamente! Tanto é que hoje a gente se coloca aí a disposição das universidades em todos os cursos pra tá fazendo sensibilização ambiental, pra tá passando conhecimento, e aí sim, de leis, de unidades, de conceitos mesmo, nomes... entender o que é um plano diretor. A gente se coloca a disposição... quando a gente tem um projeto Floram vai a escola é o projeto que permite né? só que o que acontece são poucas as universidades ainda hoje que colocam isso dentro do seu currículo, né? Mas a Floram desenvolve alguma forma específica de educação ambiental? É que na realidade os projetos é que vão abraçar isso. Dentro do projeto todos eles tem a mesma metodologia, né? primeiro sensibilizar, depois trabalhar com o conteúdo realmente, como o conhecimento, as informações. Por que muito do conhecimento... falta é informação e não a produção dele né? a informação... e aí então o contato, o contato direto. Essa é a metodologia básica em todos os projetos. São nove projetos e essa é a metodologia básica, é o eixo. Na realidade a gente trabalha em cima de um eixo, dependendo da clientela, dependendo da procura, da demanda é que esse eixo ele vai abrir.

(1º idéia): fazer sensibilização ambiental por meio da transmissão de conhecimento;

C (2º idéia): metodologia de sensibilização, conhecimento e contato;

C

Educação ambiental formal;

C

H É eu não conheço muito, mas ações de educação ambiental desenvolvidas no turismo e que tenham dado os resultados... conheço muito pouco. Mas como ocorre o ecoturismo e a educação ambiental (juntos) em Anhatomirim? Tá é... a gente começou, foi começado um processo em 2000 de trabalhar a educação ambiental nas escolas mesmo e foi feito um trabalho muito legal com... foi feito em parceria com o pessoal da universidade é... foi um trabalho muito legal com a 7º e 8º série, é eles construíram vídeo, eles mesmos foram criando os seus conceitos em relação ao meio ambiente, foram levados ao ambiente e tem um resultado bem legal.

(1º idéia): não conhece ações de educação ambiental desenvolvidas no ecoturismo;

B (2º idéia): educação ambiental nas escolas;

C

Educação ambiental formal;

C

I Eu acho que sim. A educação ambiental é uma ferramenta, e então, a educação... mas também como no próprio ecoturismo ela é feita das mais diversas formas e tem formas que acaba sendo um adestramento da pessoa que também não leva a nada, você adestrar e falar não jogue lixo,

(1º idéia): educação ambiental como uma ferramenta do ecoturismo;

A

-

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não jogue lixo, não jogue lixo... aí daqui a pouco a pessoa não tá jogando porque você adestrou, que nem um cachorro. Quer dizer ou não joga porque tem vergonha de alguém ver, né? Eu acho que tem que haver algum tipo de educação assim, nesse caso, no ecoturismo, agora e... a maneira também não é fácil de achar uma forma, isso varia de público, varia de áreas que se tá trabalhando, varia tudo.

(2º idéia): adestramento da pessoa;

D (3º idéia): a maneira varia;

A J Eu posso ler? Sim. A primeira parte... essa aqui

eu concordo. Na segunda, eu não entendi o que você quis dizer com modalidades de educação ambiental. Numa forma mais acadêmica, poderia chamar de metodologias de educação ambiental. Ah tá. A forma como a educação ambiental acontece. Eu discordo dessa segunda parte. O porque é o seguinte: a educação com certeza é e pode ser uma ferramenta para a conservação da natureza dentro do ecoturismo e deve ser, né? uma vez que quem trabalha com essas atividades tá trabalhando com pessoas, tá trabalhando dentro de áreas, geralmente, com grande relevância ecológica e ali há um potencial gigantesco para você trabalhar diversos temas, pegar seja na escalada, no rafting, vôo livre, em trilhas ou simplesmente uma recreação no rio, uma natação, enfim... mas as metodologias de educação desenvolvidas por essas atividades, na verdade existem sistematizadas dessas informações, só que elas são muito isoladas, não é que não se sabe, é tem uma coisa lá outra coisa num sei aonde. O que talvez não se conhece não é tanto as metodologias, mas é o status, eu acho, o status dessa atividade no ecoturismo, ou seja, como é que as pessoas hoje é... tão fazendo isso, ou se tão ou não tão mas, método tem, vários tipos de métodos diferentes e tem bastante material sistematizado, só que não concentrado, se encontra num local aqui, outro lá tal e tal... mas tem informação, mas agora o status disso dentro do ecoturismo hoje, realmente, eu num... pouco se sabe sobre o status. Há alguma forma específica de educação ambiental trabalhada com turistas aqui? Aqui é um meio que um centro de desenvolvimento até de metodologias, então a gente busca pegar métodos que já existem e adaptar e tentar criar novas. Então, aqui nós trabalhamos com palestras, por exemplo, palestras tanto aqui dentro de sala de

(1º idéia): educação é uma ferramenta para a conservação da natureza dentro do ecoturismo;

A (2º idéia): gigantesco potencial do ambiente natural;

A (3º idéia): as metodologias desenvolvidas são muito isoladas;

B (4º idéia): não se conhece o status dessa atividade no ecoturismo;

B

Educação ambiental formal;

C

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aula (auditório), como também em campo. A parte de jogos, atividades né? que envolvam as, por exemplo, questões sensoriais da pessoa... tato, audição, visão, observação, desenho – a parte artística – então, a parte de interpretação com ferramentas como flanelógrafo, é... fantoches, então, são instrumentos que nós utilizamos para poder passar a informação e fazer envolver as crianças, só que tem um porém, é dentro desse processo das unidades de conservação trabalham com educação ambiental com os turistas é muito difícil porque você não educa o turista, você sensibiliza ele porque ele vem uma vez aqui e vai embora, de repente nunca mais vai aparecer, então não posso falar que eu fiz uma educação. Educação é se eu tivesse um acompanhamento desse turista, ele viesse várias vezes aqui, tivesse um contato com a gente e tal. Mas, como são visitas pontuais a gente coloca que mais sensibiliza as pessoas com essas visitas pontuais do que realmente educa. Agora tem um projeto de extensão onde realmente a gente tá fazendo um trabalho mais contínuo e aí sim envolve um processo de educação, por exemplo, as escolas, onde você tá constantemente com os alunos, eles vem aqui fazem um monte de visitas aqui, fazem oito, dez visitas aqui, a gente faz saída de campo, vai a escola, dá palestras, faz atividades lá, aí faz vários tipos de atividades, aí sim dá pra realmente avaliar e ver a mudança e vê se isso tá sendo positivo ou negativo, o processo.

(5º idéia): trabalha a educação ambiental com palestras em sala ou em campo, jogos e atividades que envolvam as questões sensoriais;

A (6º idéia): o turista não é educado e sim sensibilizado;

A (7º idéia): processo educativo;

C

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184

10 ANEXOS

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ANEXO A Matriz de problemas do segmento de ecoturismo

Fonte: Barros II e La Penha (1994, p. 22)

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ANEXO B Ações estratégicas para o desenvolvimento do ecoturismo

Fonte: Barros II e La Penha (1994, p. 23)

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ANEXO C

Ação nº8 – Conscientização e informação do turista (BARROS II; LA PENHA, 1994, p.

30)

Objetivo

Divulgar aos turistas atividades inerentes ao produto ecoturístico e orientar a conduta

adequada nas áreas visitadas.

Estratégias

Informar aos turistas sobre práticas e comportamentos nocivos aos atrativos naturais e

culturais; (EMBRATUR-IBAMA)

Apoiar programas de educação ambiental formal, em todos os níveis, de maneira

interdisciplinar; (EMBRATUR-IBAMA)

Estabelecer ações abrangentes de divulgação do ecoturismo; (EMBRATUR-IBAMA)

Criar material informativo específico para as áreas de destino ecoturístico; (EMBRATUR-

IBAMA)

Utilizar os meios legais para coibir a propaganda enganosa; e (EMBRATUR)

Prestar esclarecimentos prévios sobre o comportamento do ecoturista em relação à

comunidade a ser visitada. (EMBRATUR-IBAMA)

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ANEXO D

Educação Ambiental não formal (BRASIL, 1999)

Art. 13º Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas voltadas à

sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação

na defesa da qualidade do meio ambiente.

Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará:

I – a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de

programas e campanhas educativas e de informações acerca de temas relacionados ao meio

ambiente;

II – a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-governamentais na

formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-

formal;

III – a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de

educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não-

governamentais;

IV – a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de

conservação;

V – a sensibilização ambiental dos agricultores;

VI – o ecoturismo.

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ANEXO E

Quadro do aprendizado seqüencial (CORNELL, 1997, p. 46-47)

ESTÁGIO 1 : Despertar o Entusiasmo ESTÁGIO 2 : Concentrar a atenção Qualidade: Divertimento e Vivacidade Qualidade: Receptividade Vantagens: • Desenvolve na criança o gosto de brincar; • Cria um ambiente de entusiasmo; • Um começo dinâmico estimula uma maior

receptividade; • Incentiva um alto grau de atenção e supera

a passividade; • Cria envolvimento; • Concentra a atenção (reduz problemas de

disciplina); • Estabelece uma aproximação com o líder

do grupo; • Cria uma boa dinâmica de grupo; • Proporciona direção e estrutura; • Prepara para as atividades mais sensíveis

dos estágios seguintes.

Vantagens: • Aumenta o nível de atenção; • Aumenta a percepção por meio da atenção

concentrada; • Canaliza de modo positivo o entusiasmo

gerado no Estágio 1; • Desenvolve habilidades perceptivas; • Tranqüiliza a mente; • Desenvolve receptividade para

experiências mais sensíveis com a natureza;

ESTÁGIO 3 : Dirigir a experiência ESTÁGIO 4 : Compartilhar a Inspiração Qualidade: Absorção Qualidade: Idealismo Vantagens: • Facilita o aprendizado por meio de

descobertas pessoais; • Proporciona compreensão direta,

experiencial e intuitiva; • Incentiva a admiração, a empatia e o

amor; • Desenvolve comprometimento pessoal

com os ideais ecológicos.

Vantagens: • Aclara e fortalece as experiências

pessoais; • Eleva o estado de espírito; • Introduz modelos inspiradores da vida de

outras pessoas; • Reforça o sentido de união entre os

participantes; • Aproxima o grupo; • Cria um ambiente de união e participação;• Fornece referências ao líder; • Oferece ao líder a possibilidade de

compartilhar a inspiração com um grupo receptivo.

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ANEXO F

Modelo de Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Adaptado a partir de Lefèvre e Lefèvre (2003, p. 47; 52-53; 55)

Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas

Legenda: ECH da IC = está em itálico ECH da AC = está sublinhado

Questão – Você recomendaria este pronto-socorro para um amigo seu ou para um parente que precisasse? Porque? Infor-

mantes Expressões Chave Idéias Centrais Ancoragem

1 De hipótese alguma. Porque eu achei uma negação o atendimento aí. Tinha uma moça aí passando mal, passando mal, que ela precisou ser desmaiada aí dentro para o pessoal correr e atender ela! Eu achei uma negação. Minha irmã disse que era ótimo. Eu não gostei. De quem não tem convênio hoje, pelo amor de Deus, sofre!

(1º idéia): não indicaria porque o atendimento é uma negação.

B (2º idéia): quem não tem convênio sofre.

A

Só o convênio garante o bom atendimento.

A

2 Só em último caso mesmo, porque eu trouxe até a minha filha aí no sábado, mas demorou para atender, não é? Aí eu... atenderam ela, aí depois eu fui embora também, porque é muito demorado aqui o atendimento, não é? Era um hospital bom, mas em outra parte, assim, de atendimento, é muito demorado. A pessoa, se tiver um caso assim, dele estiver morrendo, eles não está nem aí com isso. Espera a pessoa quase morrer para atender, não é? E não dá.

(1º idéia): só indicaria em último caso;

B

-

3 Não gostei. Passou medicamento para mim tomar a injeção, tudo, não tomei e vim embora para casa. Eu até, tem que passá, eu tenho minhas três filhas, se precisar eu trago aqui porque eu não tenho condição de pagar um convênio. Se precisar, eu trago aqui.

(1º idéia): não indicaria porque não foi adequadamente medicada;

B (2º idéia): leva para o PS porque não tem condições de pagar convênio;

A

Só o convênio garante o bom atendimento.

A

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DSC da idéia central B – não recomendaria porque é atendimento é ruim

EXPRESSÕES-CHAVE DSC 1- Porque eu achei uma negação o atendimento aí. Eu não gostei. 2 - Só em último caso mesmo, em outra parte, assim, de atendimento, é muito demorado. A pessoa, se tiver um caso assim, dele estiver morrendo, eles não está nem aí com isso. Espera a pessoa quase morrer para atender, não é? 3 - Não gostei. Passou medicamento para mim tomar a injeção, tudo, não tomei e vim embora para casa.

Não indicaria, só em último caso porque eu achei uma negação o atendimento. É muito demorado aqui o atendimento. Era um hospital bom, mas em outra parte, assim, de atendimento, é muito demorado. A pessoa, se tiver passando mal, estiver morrendo, eles não está nem aí com isso. Espera a pessoa quase morrer para atender, não é? No meu caso, passou um medicamento para mim tomar a injeção, tudo, não tomei e vim embora para casa.

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ANEXO G

Áreas Naturais Protegidas

Fonte: Magalhães (2001b, p. 35)

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ANEXO H

Unidades de Proteção Integral

Fonte: Magalhães (2001b, p. 41)

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ANEXO I

Unidades de Uso Sustentável

Fonte: Magalhães (2001b, p. 44)

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ANEXO J

Tabela preliminar das áreas protegidas em Santa Catarina (FATMA, 2004b)

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196

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO FEDERAIS

UC DE PROTEÇÃO INTEGRAL

INSTRUMENTO LEGAL DE CRIAÇÃO

MUNICÍPIO ÁREA (ha) TIPO DE VEGETAÇÃO

LAT/LONG RESPONSÁVEL PELA

ADMINISTRAÇÃO Parque Nacional

(PARNA) - - - -

Estação Ecológica (ESEC)

02- de Carijós(*) D. 94.656 de 20.07.87

Florianópolis 712,20 VRE e MA 27º28’00”S 48º30’00”W

Ibama

Reserva Biológica (REBIO)

13- Marinha do Arvoredo(*)

D. 099.142 de 12.03.90 Florianópolis (ilhas do Arvoredo, Deserta, Galés e Calhau de São Pedro e área marinha que as circunda, incluindo o município de Governador Celso Ramos)

17.600,00 FOD, águas e plataforma continental

27º17’00”S 48º22’00”W

Ibama

UC DE USO SUSTENTÁVEL

INSTRUMENTO LEGAL DE CRIAÇÃO

MUNICÍPIO ÁREA (ha) TIPO DE VEGETAÇÃO

LAT/LONG RESPONSÁVEL PELA

ADMINISTRAÇÃO Reserva Extrativista

(RESEX)

01- Marinha de Pirajubaé(*)

D. 533 de 20.05.92 e P. 078-N de 30.09.96

Florianópolis 1.444,00 MA (manguezal do Rio Tavares – 740,00ha e baixio a sua frente – 704,00ha)

27º39’14”S 48º31’55”W

Ibama

Área de Proteção Ambiental

(APA)

03- da Baleia Franca(*) D. de 14.09.2000, pub. No D.º 179 de 15.09.2000

Garopaba, Imbituba, Laguna, Jaguaruna e Içara (parte terrestre e mar territorial) e Florianópolis, Palhoça e Paulo Lopes (mar territorial e ilhas

156.100,00 MA, VRE, FOD, águas e plataforma continental.

(extr. N) 27º46’09”S 48º28’30”W (extr. S) 28º50’08”S

Ibama

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197

adjacentes) 49º08’05”W 14- de Anhatomirim (*)

D. 528 de 20.05.92 Governador Celso Ramos e Florianópolis (Baía Sul)

3.000,00 MA, VRE. FOD e águas jurisdicionais p/ proteção de uma população residente do boto Sotalia fluviatilis

27º24’14”S 48º3409W

Ibama

Floresta Nacional (FLONA)

- - - - - -

Área de Relevante Interesse Ecológico

(ARIE)

- - - - - -

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS

UC DE PROTEÇÃO

INTEGRAL INSTRUMENTO

LEGAL DE CRIAÇÃO

MUNICÍPIO ÁREA (ha) TIPO DE VEGETAÇÃO

LAT/LONG RESPONSÁVEL PELA

ADMINISTRAÇÃO Parque Estadual

01- da Serra do Tabuleiro(*)

D. 1.260 de 01.11.75 Águas Mornas, Florianópolis, Garopaba, Imaruí, Palhoça, Paulo Lopes, Santo Amaro da Imperatriz, São Bonifácio, São Martinho

87.405,00 MA, VRE, FOD, FOM, FN e CA

27º51’00”S 48º48’00”W

Fatma

Reserva Biológica (REBIO)

- - - - - -

Estação Ecológica (ESEC)

- - - - - -

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS

UC DE PROTEÇÃO

INTEGRAL INSTRUMENTO

LEGAL DE CRIAÇÃO

MUNICÍPIO ÁREA (ha) TIPO DE VEGETAÇÃO

LAT/LONG RESPONSÁVEL PELA

ADMINISTRAÇÃO

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Parque Natural Municipal

- - - - - -

Reserva Biológica (REBIO)

- - - - - -

UC DE USO SUSTENTÁVEL

INSTRUMENTO LEGAL DE CRIAÇÃO

MUNICÍPIO ÁREA (ha) TIPO DE VEGETAÇÃO

LAT/LONG RESPONSÁVEL PELA

ADMINISTRAÇÃO

Área de Relevante Interesse Ecológico

ARIE

- - - - - -

Área de Proteção Ambiental

APA

- - - - - -

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PARTICULARES

UC DE PROTEÇÃO

INTEGRAL

INSTRUMENTO LEGAL DE CRIAÇÃO

MUNICÍPIO ÁREA (ha) TIPO DE VEGETAÇÃO

LAT/LONG RESPONSÁVEL PELA

ADMINISTRAÇÃO

Reserva Particular do Patrimônio Natural

(RPPN) (No SEUC, no SNUC é de Uso Sustentável)

01- Morro das Aranhas (Costão do Santinho)(*)

P. 043/99-N Florianópolis 44,16 FOD e VRE (4) Costão do Santinho Empreendimentos Turísticos S.A.

08- Reserva Natural Menino Deus (Hospital de Caridade) (*)

P. 85/99 de 06.10.99 Florianópolis 17,00 FOD (4) Irmandade Senhor J. Passos e Hosp. de Caridade

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OUTRAS ÁREAS PROTEGIDAS NÃO ENQUADRADAS NO SNUC/SEUC

ÁREA PROTEGIDA INSTRUMENTO LEGAL

DE CRIAÇÃO MUNICÍPIO ÁREA (ha) TIPO DE

VEGETAÇÃO LAT/LONG RESPONSÁVEL

PELA ADMINISTRAÇÃO

Parque Municipal 01- da Galheta (PI) (*)

L. 3.455 de 16.08.90 D. 698 de 30.08.94, alterado pela L. 195/97

Florianópolis 149,30 VRE e FOD 27º35’00”S 48º25’10”W

Floram

02- da Lagoa do Peri (PI) (*)

L. 1.828 de 04.12.81 e D. 091 de 01.06.82 Tem Plano Diretor aprovado em 1981.

Florianópolis 2.030,00 FOD e VRE.(algs. áreas c/ pastag. e agricult. de subsistência)

27º44’30”S 48º32’10”W

Floram

03- da Lagoinha do Leste (PI) (*)

D. 153/87, L. 3.701 de 07.01.92, L. 5.500/99 publicado no Diário Oficial do Estado nº 16.215 de 26.07.99

Florianópolis 804,10 FOD e VRE 27º46’30”S 48º29’48”W

Floram

04- das Dunas da Lagoa da Conceição (PI) (*)

D. 1.261 de 23.05.75; D. 213 de 14.12.79; D. 231 de 16.09.88

Florianópolis 563,00 FOD e VRE. (dunas móveis, semi-fixas e fixas e sistema lagunar)

27º37’46”S 48º27’25”W

Floram

05- do Maciço da Costeira (PI) (*)

L. 4.605 de 11.01.95 D. 154 de 14.06.95

Florianópolis 1.456,53 FOD(maciço do centro-sul da Ilha de Santa Catarina. Protege mananciais de captação da Casan)

27º37’30”S 48º30’00”W

Floram

Parque Ecológico 18- Córrego Grande(*)

Proc. 3214/93-39 Florianópolis 21,30 Principalmente reflorest. com Eucalyptus e Pinus (Parque

(4) Floram

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Urbano) Reserva Ambiental - - - - - -

Parque Florestal 23- do Rio Vermelho (PI) (*)

D. 2.006 de 21.09.62; D. 10.056 de 21.08.74;e D. 994/74 (Está em processo de estudos coordenado pela SAR para enquadramento ao SNUC/SEUC)

Florianópolis 1.297,00 ou 1.110,00

Extensa VRE litorânea q/ une o Morro das Aranhas à Barra da Lagoa, formando uma diversidade de sistemas à parte, c/ áreas alagadas, MA próximo da orla da Lagoa da Conceição, maciços de vegetação nativa, dunas móveis, e extensa área de floresta plantada com exóticas, principalmente Pinus)

27º32’00”S 48º26’0”W

SAR, Epagri e Cidasc

Parque Botânico - - - - - - Parque Ambiental - - - - - -

Unidade de Conservação

Ambiental (UCAD)

28- Desterro (PI) (*) L.2193/85 Florianópolis 465,80 FOD (área mais elevada do relevo montanhoso, divisores de águas entre os distritos de Santo Antônio, Ratones e o

27º31’45”S 48º29’45”W

Ufsc

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Distrito Sede) Parque - - - - - -

29- da Luz(*) Florianópolis 3,74 (Tomb. Patrim. Histór. Municíp).

(4) Floram

Parque Rodoviário - - - - - - Reserva Ecológica - - - - - -

Horto Florestal - - - - - - 45- Canasvieiras(*) L. 0575 de 18.12.01 Florianópolis 170,00 Principalmente

reflorest. com Eucalyptus e Pinus. VRE

(4) SAR

Monumento Natural - - - - - - Terra Indígena

(Reserva Indígena) - - - - - -

ÁREA PROTEGIDA INSTRUMENTO LEGAL DE CRIAÇÃO

MUNICÍPIO ÁREA (ha) TIPO DE VEGETAÇÃO

LAT/LONG RESPONSÁVEL PELA

ADMINISTRAÇÃO Área de Preservação

Permanente (APP)

64- Manguezal do Itacorubi(*)

L. 1.851/82, Plano Diretor do Distrito Sede e L. Complementar 001/97

Florianópolis 150,00 MA (toda a área do manguezal) que pertence à Ufsc através do D. Presidencial nº 147/67

27º35’00”S 48º31’25”W

Floram/Ufsc

65- Manguezal da Tapera(*)

L. 2.193/95(Plano Diretor dos Balneários)

Florianópolis 52,20 MA(toda a área do manguezal)

27º41’30”S 48º33’29”W

Floram

67- Pontal da Daniela(*)

L. 5.091/97 Florianópolis 15,64 MA e VRE (4) Floram

Encostas da Ilha de Santa Catarina

L. 2.193/95, Plano Diretor dos Balneários e L. Complementar 001/97

Florianópolis 72.572,00 FOD (todas as encostas com declividade igual ou superior a 25o ou 46,6%,

(4) Floram

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recobertas ou não por vegetação, o sistema hidrográfico que forma as principais bacias de captação de água potável, a paisagem natural e a fauna.

Área Tombada 69- Região da Costa da Lagoa da Conceição(*)

D. 247 de 06.11.86 (Patrimônio Histórico e Natural do Município)

Florianópolis 967,50 FOD (tombamento da área histórica e natural da região da Costa da Lagoa)

27º33’30”S 48º28’30”W

Floram

70- Ilha do Campeche(*)

P. 270 de 18.07.00 Florianópolis 45,00 FOD 27º41’46”S 48º27’52”W

Iphan

71- Lagoinha Pequena(*)

D. 135 de 05.06.88, publicado no Diário Oficial do Estado nº 13470 de 09.06.88 (Patrimônio Natural e Paisagístico)

Florianópolis 35,50 VRE (Lagoinha e área de entorno de largura variável, considerada Área Verde de Lazer definida pelo Plano Diretor dos Balneários)

27º39’2”S 48º28’32”W

Floram

72- Lagoa da Chica(*)

D. 135 de 05.06.88, publicado no Diário Oficial do Estado nº 13470 de 09.06.88 (Patrimônio Histórico, Natural e Paisagístico)

Florianópolis 4,60 VRE (Lagoa e faixa de entorno de 50 metros de profundidade em relação ao seu leito sazonal)

27º41’36”S 48º29’30”W

Floram

73- Ponta do Sambaqui(*)

D. 216 de 16.09.85. O Plano Diretor dos

Florianópolis 0,92 Se caracteriza principalmente de

27º29’27”S 48º32’21”W

Floram

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Balneários definiu como de APP, atualmente se confirma como espaço de lazer.

frutíferas e a própria paisagem

74- Dunas do Campeche(*)

D. 112/85, publicado no Diário Oficial do Estado nº 12726 de 11.05.85 (Patrimônio Natural e Paisagístico do Município)

Florianópolis 121,00 VRE (dunas móveis, semi-fixas e fixas situadas ao longo da praia do Campeche. Compreende a área localiz. entre a comunid. do Rio Tavares até próx. as Areias do Campeche, situada ao sul da Lagoa da Chica)

27º40’30”S 48º28’30”W

Floram

75- Dunas do Pântano do Sul(*)

D. 112/85, publicado no Diário Oficial do Estado nº 12726 de 11.05.85 (Patrimônio Natural e Paisagístico do Município)

Florianópolis 24,20 VRE (dunas móveis, semi-fixas e fixas, situadas entre a praia do Pântano do Sul, a Estrada Municipal e o loteamento Balneário dos Açores)

27º46’44”S 48º31’44”W

Floram

76- Dunas do Santinho(*)

D. 112/85, publicado no Diário Oficial do Estado nº 12726 de 11.05.85 (Patrimônio Natural e Paisagístico do Município)

Florianópolis 91,50 VRE (Campo de dunas móveis, semi-fixas e fixas, situado ao longo da praia do Santinho até a praia dos Ingleses

27º27’00”S 48º22’04”W

Floram

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e paralela à Estrada Geral do Santinho, numa profundidade variável)

77- Dunas dos Ingleses(*)

D. 112/85, publicado no Diário Oficial do Estado nº 12726 de 11.05.85 (Patrimônio Natural e Paisagístico do Município)

Florianópolis 953,50 VRE (Campo de dunas móveis, semi-fixas e fixas, que se entendem da praia do Moçambique pela planície do Rio Vermelho até próximo à área urbanizada de Ingleses)

27º27’30”S 48º23’30”W

Floram

78- Restinga de Ponta das Canas(*)

D. 216 de 16.09.85 (Patrimônio Natural e Paisagístico do Município)

Florianópolis 21,50 VRE e MA 27º24’06”S 48º25’49”W

Floram

79- Dunas da Barra da Lagoa(*)

L. 3.771/92, publicado no Diário Oficial do Estado de 28.01.92

Florianópolis 6,6 VRE (dunas móveis e fixas de baixa latitude que formam o cordão litorâneo ao longo da Praia da Barra e que tem continuidade ao longo da Praia do Moçambique)

27o34’15”S 48o25’50”W

Floram

80- Dunas da Armação do Pântano do Sul(*)

D. 112/85, publicado no Diário Oficial do Estado nº 12726 de 11.05.85 (Patrimônio Natural e Paisagístico do

Florianópolis 5,90 VRE (dunas móveis, semi-fixas e fixas, situadas ao longo da praia)

27o44’30”S 48o30’55”W

Floram

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Município)

SIGLAS, REFERÊNCIAS E OUTRAS OBSERVAÇÕES *SIGLAS UTILIZADAS: UC - Unidade de Conservação (PI) Proteção Integral (*) consta em cartograma (#) requer confirmação de categoria de gestão P. – Portaria Proc. – Processo D. – Decreto L. – Lei Res. – Resolução FOD – Floresta Ombrófila Densa FOM – Floresta Ombrófila Mista FED – Floresta Estacional Decidual FN – Floresta Nebular CA – Campo VRE – Vegetação de Restinga MA – Manguezal (1) não consta instrumento legal de criação (2) não consta tamanho da área (3) para definir cobertura vegetal (4) para definir coordenadas geográficas. (5) não consta responsável pela administração ou proprietário * SIGLAS DAS INSTITUIÇÕES: Ajovacar (Associação de Agricultores José Valentim Cardoso) Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí) Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina SA) Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina) Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital – Florianópolis)

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Deinfra (Departamento Estadual de Infra-estrutura de Santa Catarina) Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) Faema (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Blumenau) Fatma (Fundação do Meio Ambiente do estado de Santa Catarina) Fcam (Fundação Cambirela de Meio Ambiente) Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis) Funai (Fundação Nacional do Índio) Fundema (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Joinville) HBR (Herbário Barbosa Rodrigues) Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) Jica (Associação de Cooperação Internacional do Japão) MEC (Ministério da Educação) Rffsa (Rede Ferroviária Federal SA) Samae (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto) SAR (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Agrícola e Política Rural) Ufsc (Universidade Federal de Santa Catarina). *FONTES CONSULTADAS: Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC) Fundação do Meio Ambiente – FATMA Unidades de Conservação no Brasil - Cadastramento e Vegetação - 1991/94 (IBAMA) Instrumentos Legais de Criação Formulários Encaminhados pela FATMA e preenchidos pelas prefeituras municipais de SC (2002) Prefeitura Municipal de Joinville – Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente (pesquisa internet) Prefeitura Municipal de Florianópolis (pesquisa internet) Relatório 98/99 e 00/01 - IBAMA/SC Unidades de Conservação e Áreas Protegidas da Ilha de Santa Catarina – CECCA – 1997 Consórcio Quiriri Diagnóstico Ambiental do Estado de Santa Catarina - 1999 (SDM) – Minuta Proposta de Reconhecimento ou Renovação do Título de Posto Avançado da RBMA - 2001 (Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica -

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CNRBMA). Sistema de Informação das Unidades de Conservação - Lista das UC´S Federais - IBAMA (pesquisa na internet) BDT (Base de Dados Tropical) - Unidades de Conservação das Zonas Costeira e Marinha do Brasil (pesquisa na internet) Comitê de Gestão da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí (pesquisa internet) Parques do Brasil (pesquisa internet) Fundação Nacional do Índio (pesquisa internet), IBGE. OBSERVAÇÃO: Os números na frente de cada Área Protegida corresponde ao número constante no Cartograma das Áreas Protegidas