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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ANDRESSA DANIELE ALBANO Itajaí, maio de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

ANDRESSA DANIELE ALBANO

Itajaí, maio de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

ANDRESSA DANIELE ALBANO

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientador: Professor Leôncio Paulo da Costa Neto

Itajaí, maio de 2008

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AGRADECIMENTO

Em primeiro lugar, agradeço ao meu Deus,

que até aqui me ajudou; aos meus pais e

irmão, Claudiceia, Jair e Junior, pelo apoio e

confiança depositados. Ao meu marido

Marcio, pelo amor, companheirismo,

compreensão e paciência em todo

momento. E também, não posso esquecer

das minhas amigas, Natalia, Daiane, Daniela,

Célia, Juliana, e Jéssica, pelo carinho,

compreensão, pelos sorrisos e lágrimas

compartilhados todos estes anos juntas.

Amo todos vocês.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia ao meu Deus que é

fiel em tudo na minha vida; aos meus pais e

irmão, Claudiceia, Jair e Junior, que sempre

estiveram ao meu lado, me concedendo

ânimo para continuar e conquistar algo

muito importante que é o conhecimento. E

também, dedico a uma pessoa muito

especial em minha vida, que o meu marido

Marcio, cujo amor, compreensão, paciência

e persistência me impulsionam a continuar

lutando para crescer.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí, maio de 2008.

Andressa Daniele Albano. Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Andressa Daniele

Albano , sob o título “Empréstimos Bancários a Luz do Código Defesa do

Consumidor”, foi submetida em junho de 2008 à banca examinadora

composta pelo seguinte professore: Luiz Fernando Molleri.

Itajaí, junho de 2008.

Leôncio Paulo da Costa Neto Orientador e Presidente da Banca

Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ii

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BACEN Banco Central do Brasil

CDC Código de Defesa do Consumidor

CC Código Civil

CPC Código de Processo Civil

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

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iii

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Empréstimos

É indicado para exprimir toda espécie de cedência de uma coisa ou bem, para

que outrem a use ou dela se utilize, com a obrigação de restituí-la, na forma

indicada, quando a pedir o seu dono ou quando terminar o prazo de concessão.

Juros

Exprime propriamente os interesses ou lucros, que a pessoa tira da inversão de

seus capitais ou dinheiros, ou que recebe do devedor, como paga ou

compensação, pela demora no pagamento do que lhe é devido.

Contrato

Trata-se espécie de negócio jurídico plurilateral, aquele que cria norma jurídica

entre as partes que o firmaram.

Contrato Bancário

É negócio jurídico, do gênero por adesão, nos quais uma das partes deverá ser

empresa autorizada ao exercício de atividades próprias de bancos, sem que

tenha, pois, necessariamente, a qualidade de banqueiro.

Contrato de Empréstimo Bancário

É negócio jurídico bancário, com a finalidade de fornecer um crédito.

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iv

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................... VII

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... I

CAPÍTULO 1 ........................................................................................................... 3

OS CONTRATOS ..................................................................................................... 3

1.1 HISTÓRICO DOS CONTRATOS ......................................................................... 3

1.2 O CONCEITO, PRESSUPOSTOS E REQUISITOS ESSENCIAIS DOS CONTRATOS ................................................................................................................................ 5

1.2.1 CONCEITO DOS CONTRATOS ..................................................................... 5

1.2.2 PRESSUPOSTOS DO CONTRATO ................................................................... 8

1.2.3 REQUISITOS ESSENCIAIS ............................................................................... 9

1.3 OS PRINCÍPIOS NORTEADORES ..................................................................... 10

1.3.1 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE ............................................... 10

1.3.2 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA ................................... 12

1.3.3 PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO ............................................................ 14

1.3.4 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE ............................................................ 15

1.3.4.1 TEORIA DA IMPREVISÃO .......................................................................... 17

1.3.5 PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS ............................................... 18

1.3.6 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ ................................................................................ 20

1.4 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS .................................................................... 22

1.4.1 PERÍODO DAS NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU FASE DE PUNTAÇÃO 24

1.4.2 PROPOSTA ................................................................................................... 24

1.4.3 ACEITAÇÃO ................................................................................................ 25

1.4.4 MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO .......................................... 26

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v

1.4.5 LUGAR DA CELEBRAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO CONTRATUAL ........ 27

1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS ............................................................. 28

1.5.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À OBRIGAÇÃO .............................................. 28

1.5.1.1 Unilaterais ............................................................................................... 29

1.5.1.2 Bilateral ou Sinalágmático ..................................................................... 29

1.5.2 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS BENEFÍCIOS E VANTAGENS .................. 30

1.5.2.1 Contratos Gratuitos ou Benéficos .......................................................... 30

1.5.2.2 Contratos Onerosos ................................................................................ 30

1.5.3 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO EQUILÍBRIO DAS OBRIGAÇÕES .............. 31

1.5.3.1 Contratos Comutativos .......................................................................... 31

1.5.3.2 Contratos Aleatórios ............................................................................... 32

1.5.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO A ESPONTANEIDADE ..................................... 32

1.5.4.1 Contratos Paritários ................................................................................. 33

1.5.4.2 Contratos de Adesão ............................................................................. 33

CAPÍTULO 2 .......................................................................................................... 35

CONTRATOS BANCÁRIOS ................................................................................... 35

2.1 CONCEITOS E GENERALIDADES .................................................................... 35

2.2 EMPRESTIMOS BANCÁRIOS - ESPÉCIES ........................................................ 36

2.2.1 DESCONTOS BANCÁRIOS .......................................................................... 37

2.2.2 ABERTURA DE CRÉDITO ............................................................................... 39

2.2.3 CONTRATOS DE FINANCIAMENTO ............................................................ 41

2.2.4 ANTECIPAÇÃO ........................................................................................... 42

2.2.5 CARTÕES DE CRÉDITO ................................................................................ 43

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vi

CAPÍTULO 3 .......................................................................................................... 45

EMPRÉSTIMOS E JUROS BANCÁRIOS A LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ...................................................................................................... 45

3.1 EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ..................................................................................................... 45

3.1.1 PONDERAÇÕES SOBE A ADIN Nº 2591, DOS BANCOS ............................ 50

3.1.2 REQUISITOS PARA FORMAÇAO DOS CONTRATOS BANCÁRIOS À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ............................................................ 53

3.2 JUROS NOS CONTRATOS BANCÁRIOS ......................................................... 56

3.2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS JUROS .......................................................... 56

3.2.2 CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS BANCÁRIOS ............................................... 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 64

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .................................................................... 68

ANEXO 1 - DECISÃO DA ADIN 2591 ................................................................. 72

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vii

RESUMO

Este trabalho teve o objetivo de demonstrar os

aspectos doutrinários e jurisprudenciais, onde afirmam a aplicabilidade do

Código de Defesa do Consumidor aos contratos de empréstimos

bancários.

A pesquisa busca a ampliação acerca do tema, de

extrema importância para a sociedade que a cada dia mais utiliza este

serviço dos bancos, com isso, garantir os direitos do consumidor, quanto

aos contratos de empréstimos bancários, para que este esteja atento aos

termos muitas vezes abusivos que as instituições financeiras induzem o

consumidor a aceitar.

Ainda, através desta pesquisa, o objetivo também é

expor a possibilidade da capitalização dos juros nos contratos de

empréstimos bancários.

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1

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objetivo o estudo

quanto à visão e a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor

aos contratos de empréstimos bancários.

Seus objetivos são pesquisar a formação dos

contratos bancários, em específico os contratos de empréstimo, sua

forma, a capitalização dos juros nele incumbida e a aplicabilidade do

Código de Defesa do Consumidor; visando a realização de uma

monografia para obtenção do Título de Bacharel em Direito -

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Importante ressaltar, desde já, que o trabalho de

monografia não tem o objetivo de esgotar o tema, mas trata-se apenas

de uma pesquisa bibliográfica, com o intuito de apresentar aspectos

legais, doutrinários e jurisprudenciais referente ao assunto abordado.

Portanto, inicia-se, no primeiro Capítulo, abordando

acerca dos contratos em geral, apresentando a sua evolução histórica,

conceituação, sujeitos da relação, principais requisitos, formação e

classificação dos contratos.

No segundo Capítulo, trata dos conceitos e

generalidades dos contratos bancários, dando foco aos contratos de

crédito (empréstimos), tais como: empréstimos bancários, abertura de

crédito, cartão de crédito, financiamento, entre outros.

Por fim, no terceiro capítulo, versa sobre os contratos

de empréstimos bancários a luz do Código de Defesa do Consumidor,

seus requisitos para formação. Além de breve abordagem da evolução

histórica dos juros e a sua capitalização nos contratos de empréstimos

bancários.

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2

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das

reflexões sobre os contratos de empréstimos bancários conforme o

Código de Defesa do Consumidor.

Para a presente monografia foram levantadas as

seguintes hipóteses:

1) É possível à aplicabilidade do CDC nos contratos

de empréstimos bancários.

2)É cabível a capitalização dos juros aos contratos

de empréstimos bancários.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que,

na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de

Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos

Resultados expresso na presente Monografia é composto na base

lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente1, da Categoria2, do Conceito Operacional3 e da

Pesquisa Bibliográfica4.

1 “explicitação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitado o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa". PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 241.

2 “palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia". PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 229.

3 “definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas”. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 229.

4 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais”.PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica, cit.. especialmente p. 240.

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3

CAPÍTULO 1

OS CONTRATOS .

1.1 HISTÓRICO DOS CONTRATOS.

No século XIX, a ciência jurídica tinha como base a

autonomia da vontade. A teoria daquela época estava focada na

vontade como fonte única para a constituição e legitimação dos

direitos e obrigações oriundos da relação jurídica contratual. 5

Neste sentido expõe Gonçalves6:

A idéia de um contrato com predominância da

autonomia da vontade, em que as partes discutem

livremente as suas condições em situação de igualdade,

deve-se aos conceitos traçados para o contrato nos

códigos francês e alemão.

O que formava um contrato, no século XIX, era a

autonomia da vontade das partes. As normas jurídicas referentes aos

contratos serviam para assegurar e proteger a vontade dos

contraentes.

5 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. Pg. 51. 6 GONÇALVEZ, Carlos Roberto. Direito das obrigações. Pg. 4.

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4

Marques7 quanto à tutela jurídica define que:

A tutela jurídica limita-se a possibilitar a estruturação pelos

indivíduos destas relações jurídicas próprias, assegurando

uma teórica autonomia, igualdade e liberdade no

momento de contratar, e desconsiderando por completo

a situação econômica e social dos contraentes.

Para que se chegasse a este denominador, muitos

acontecimentos e teóricos influenciaram conforme afirma Marques8:

[...] a definição do grande sistematizador do século XIX,

Friedrich Karl von Savigny, segundo a qual o contrato é a

reunião de dois ou mais indivíduos para uma declaração

de vontade em consenso, através da qual se define a

relação jurídica entre estes [...].

[...] na teoria do direito, a concepção clássica de

contrato está diretamente ligada à doutrina da

autonomia da vontade e ao seu reflexo mais importante,

qual seja o dogma da liberdade contratual.

[...] a função da ciência do direito será a de proteger a

vontade criadora e de assegurar a realização dos efeitos

queridos pelas partes contratantes.

A concepção clássica de contrato é o resultado

histórico da evolução teórica do direito após a Idade Média, bem

como do desenvolvimento político e social entre o século XVIII e XIX, e

da Revolução Francesa com o liberalismo econômico.

7 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. Pg. 51. 8 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. Pg. 54.

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5

1.2 CONCEITO, PRESSUPOSTOS E REQUISITOS ESSENCIAIS DOS

CONTRATOS.

1.2.1. CONCEITO DOS CONTRATOS.

Contrato é definido como acordo de vontades,

onde o objetivo é o interesse particular, sendo assim, Diniz9 afirma que:

O contrato constitui uma espécie de negócio jurídico, de

natureza bilateral ou plurilateral, dependendo, para sua

formação, do encontro da vontade das partes, por ser

ato regulamentador de interesses privados. Deveras, a

essência do negócio jurídico é a auto-regulamentação

dos interesses particulares, reconhecida pela ordem

jurídica, que lhe dá força criativa. Num contrato, as

partes contratantes acordam que se deve conduzir de

determinado modo, uma em face da outra, combinado

seus interesses, constituindo, modificando ou extinguindo

obrigações. [...] Seu fundamento é a vontade humana,

desde que atue conforme a ordem jurídica.

Na definição de contratos, pode-se perceber a real

efetivação das teorias estudadas.

9 DINIZ, Maria Helena Diniz. Curso de direito civil brasileiro. Pg. 23 e 24.

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Bittar10 assim conceitua contrato:

Contrato é, assim, o acordo de vontades, por meio do

qual se estabelecem ou se extinguem relações jurídicas

de cunho patrimonial. Objetiva, pois, pelo congresso de

vontades (ou consenso) das partes, a disciplina dos

interesses recíprocos em relação a negócios jurídicos

suscetíveis de ordenação por esse modo.

Milhoemes e Alves11 definem contrato da seguinte forma:

O contrato é um negócio jurídico por meio do qual se

cria, modifica, resguarda, transfere ou extingue

obrigações. [...] Através do contrato, em que duas ou

mais pessoas manifestam sua vontade sobre

determinado objeto, o homem cuida de seus interesses,

satisfaz suas necessidades, no constante movimento de

atos que é a vida social.

Rodrigues12 da mesma forma ensina que, os

contratos são negócios jurídicos decorrentes de acordo entre mais de

uma vontade, caracterizando-se como espécie do gênero negócio

jurídico.

O contrato, espécie de negócio jurídico bilateral ou

plurilateral, pode ser caracterizado como aquele que cria norma

10 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg.09. 11 MILHOEMENS, Jônatas e ALVES, Geraldo Magela. Manual prático dos contratos. Pg. 06. 12 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. Pg.09.

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jurídica entre as partes que o realizaram, tendo em vista que estas

decidiram por si só, como e quando deve agir uma relação à outra13.

Diniz14 continua afirmando que:

É o negócio jurídico por excelência, onde o consenso de

vontade dirige-se para um determinado fim. É ato jurídico

vinculante, que criará ou modificará direito e obrigações

para as partes contraentes, sendo tanto o ato como os

seus efeitos permitidos e, em princípio, protegidos pelo

direito.

A doutrina é unânime quando afirma que o contrato

depende da vontade e do interesse dos indivíduos, e que também não

pode ser esquecido que este é um instrumento que gera obrigações.

Da mesma forma afirma Sampaio15:

Modernamente, entende-se por contrato o negócio

jurídico (espécie de ato jurídico) bilateral que tem por

finalidade gerar obrigações entre as partes. Sob esse

aspecto, portanto, o acordo de vontades a que chegam

as partes tem objetivo certo, efeito este antevisto pelas

partes (intuitu negocia) que se consubstancia na criação,

modificação ou extinção de direitos.

13 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg.24. 14 MARQUES, Claudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. Pg. 50 e 51. 15 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg.18.

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1.2.2 PRESSUPOSTOS DOS CONTRATOS.

O contrato é ato jurídico bilateral, e são estes os

pressupostos: vontade exprimida através de declaração; ser o objeto

idôneo e lícito; a forma; a capacidade e legitimidade dos contraentes.

O que diferencia os contratos é a vontade de duas ou mais partes, que

são opostas, mas se conciliam através do ato de acordo, ou melhor, do

pacto efetuado. 16

Explicam Milhomens e Alves17:

Como ato jurídico, o contrato requer agente capaz,

objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei. A

capacidade do agente, define-a o novo Código Civil

(arts. 1º e segs.). A licitude do objeto deriva do fato ter

sustentação em lei ou não infringir norma de direito ou

bons costumes. A formalidade em geral se dispensa, às

vezes, porém, é imposta como condição de validade, ou

de existência. Os atos mais importantes (casamento,

venda de imóvel) praticam-se por escrito, mediante

escritura pública.

O contrato é formado pelos seguintes pressupostos,

1) capacidade das partes: quando o indivíduo é apto para se

comprometer com obrigações e adquirir deveres; 2) objeto lícito

possível e determinado: o objeto deve estar de acordo com a moral, à

ordem pública e aos bons costumes e também o objeto deve ser certo,

de acordo com o fim almejado pelas partes; e 3) forma prescrita e não

defesa em lei: a forma do contrato deve estar de acordo com as 16 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. Pg.13-14. 17MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Gerado Magela. Manual prático dos contratos. Pg.7

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normas jurídicas e muito importante é a vontade das partes declaradas

neste instrumento jurídico18.

1.2.3 REQUISITOS ESSENCIAIS.

Quanto aos requisitos essenciais para a formação

dos contratos são: a) vontade expressa entre as partes; b) objeto lícito e

possível; c) forma prescrita em lei. Neste sentido Milhomens e Alves19

explicam da seguinte forma:

A obrigatoriedade do contrato tem por fundamento, no

direito moderno, o mútuo consenso. O acordo das

vontades, logo depois de declaradas, tem valor de lei

entre as partes contratantes, e impõem os mesmos

preceitos coativos que esta impõe, queiram ou não

queiram os defensores da teoria da decadência da

soberania do contrato.

Rodrigues 20 é mais sucinto, quando afirma que os

elementos ou requisitos essenciais para a validade do contrato são:

vontade exteriorizada através de declaração, objeto idôneo e

obediência à forma.

Já para Sampaio21, os contratos por serem

efetivados através da vontade e com a possibilidade de serem

18 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg. 25-26. 19 MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Geraldo Magela. Manual prático dos contratos. Pg. 11. 20 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. Pg.13. 21 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg. 26-27

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expressos ou tácitos, se diferenciam dos demais atos jurídicos. Observa-

se ainda que o motivo ou a causa do contrato não é considerado o

elemento essencial para o legislador, pois a causa se confunde com o

objeto. Sendo assim, se a causa for ilícita vicia o ato, com isso o objeto

caminhará para ilicitude.

1.3 OS PRINCÍPIOS NORTEADORES.

Os princípios no ramo do Direito são essenciais em

qualquer área desta ciência. Sendo assim, serão explanados logo

abaixo os princípios norteadores para a formação dos contratos, que

são: autonomia da vontade, consensualismo, obrigatoriedade,

relatividade de efeitos e boa-fé.

1.3.1 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DE VONTADE.

Referente ao que ensina Bittar22, o princípio da

autonomia da vontade é o alicerce do direito contratual. Este

determina as partes através da liberdade natural e possue o poder de

declarar sua vontade de efetivar um pacto, referente aos seus

interesses. Entede-se ainda como auto regulamentação de interesses

privados, ou seja, as partes condicionam regras para suas relações.

Entretanto, com a liberdade contratual, definem com quem irão formar

seu contrato, através de relações com as suas devidas regras, seus

conteúdos, condições, peculiaridades, a forma, etc, mas sempre em

consonância com a lei, pois esta servirá como regra supletiva para as

22 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg. 32-33

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normas determinadas pelas partes. Com o crescimento da sociedade, o

dirigismo estatal limita a liberdade contratual, impondo suas regras,

disciplina o contexto de alguns tipos de contratos, e também intervêm

em outras ações.

Segue no mesmo entendimento Rodrigues23:

O princípio da autonomia da vontade consiste na

prerrogativa conferida aos indivíduos de criarem relações

na órbita do direito, desde que se submetam às regras

impostas pela lei e que seus fins coincidam com o

interesse geral, ou não o contradigam. Desse modo,

qualquer pessoa capaz pode, pela manifestação de sua

vontade, tendo objeto lícito, criar relações a que a lei

empresta validade.

Os fatores sociais, políticos e econômicos são

essenciais para a formação do princípio da autonomia da vontade

para Sette24, que denomina este princípio como o princípio da

autonômica privada:

A liberdade (expressão do individualismo), como valor

jurídico, é, pois, o fundamento primeiro do princípio da

autonomia privada, principalmente na sua concepção

liberal, em que a vontade é a fonte de todas as

obrigações, devendo o indivíduo estar livre de qualquer

coação e restrição para manifestá-la, criando,

modificando ou extinguindo relações jurídicas. [...] a

autonomia privada consiste na esfera de liberdade que é

facultada a uma pessoa no âmbito do ordenamento

jurídico e considerada a função social do contrato de

23 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. Pg.15 24 SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito dos contratos: seus princípios fundamentais sob a ótica do código civil de 2002. Pg. 99-107 (grifo do Autor)

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reger-se por suas próprias normas jurídicas (leis),

estabelecidas por meio de um negócio jurídico. [...]

Para Sampaio25, com o princípio acima citado as

partes exteriorizam a liberdade contratual, tendo assim, o poder de

criar, modificar e extinguir direitos protegidos pela lei. Porém, este

princípio da autonomia da vontade encontra limites no princípio da

supremacia da ordem pública.

1.3.2 PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA.

Segundo Milhomens e Alves26, a evolução da

sociedade, e o desenvolvimento da indústria e do comércio, trouxeram

o dirigismo estatal, ou seja, o Estado começou a intervir na economia, e

conseqüentemente nas relações dos indivíduos. Os contratos passaram

a obter novas figuras jurídicas, como por exemplo, o contrato de

adesão, no qual as partes são obrigadas a formalizar um contrato sem

que esteja definida sua real vontade.

Segue na mesma linha de raciocínio Rodrigues27:

Todavia essa liberdade concedida ao indivíduo, de

contratar o que entender, encontrou sempre limitação

na idéia de ordem pública, pois cada vez que o interesse

individual colide com o da sociedade, é o desta última

que deve prevalecer. [...] A idéia de ordem pública é

constituída por aquele conjunto de interesses jurídicos e 25 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg.18-19. 26MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Gerado Magela. Manual prático dos contratos. Pg. 25. 27 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. Pg.16.

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morais que incumbe à sociedade preservar. Por

conseguinte, os princípios de ordem pública não podem

ser alterados por convenção entre os particulares.

Sampaio28, sobre o princípio da supremacia da

ordem pública, assim se posiciona:

Esse princípio vem impor limites ao da autônima da

vontade. Isto é, as partes são livres para, por intermédio

de convenções, buscar os fins que lhes aprouverem,

desde que tais estipulações na contrariem a moral, a

ordem pública e os bons costumes. Limita-se, aqui, a

autonomia dos contratantes em nome de um interesse

maior, de ordem pública (interesses essenciais ao Estado

e à sociedade). Pode-se dizer, portanto, que a liberdade

de contratar encontra limites, por exemplo, nas leis de

ordem pública que estabelecem a liberdade e a

igualdade entre os cidadãos, a liberdade de trabalho, do

comércio e da indústria; que vedam o anatocismo ou

limitam a taxa de juros. [...] Justifica-se, assim, uma maior

intervenção do estado nos negócios privados, de sorte a

proteger o contratante que se encontra em situação de

desigualdade em relação ao outro. Deixa-se de lado,

portanto, a pura visão de igualdade formal entre as

partes, que, por sua vez, legitimava o prestígio, de forma

quase absoluta, ao princípio da autonomia da vontade.

28 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg.19-20.

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1.3.3 PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO.

Para o princípio do consensualismo, o contrato só

será perfeito se houver acordo entre as partes, ou seja, os mesmos

objetivos sem esquecer seus interesses. Desta forma Sampaio29, explica:

Adotado modernamente, o princípio do consensualismo

é aquele segundo o qual os contratos se aperfeiçoam,

como regra, com o simples acordo de vontades.[...]

Evidente que nem sempre prevalece tal princípio.

Dependendo da natureza e da importância dos efeitos

queridos pelas partes, há contratos que, para se

aperfeiçoarem, dependem de solenidade especial ou

determinado rito, como são os contratos solenes e os

reais (estes dependem, para seu aperfeiçoamento, da

entrega da coisa de um contratante ao outro).

Para o princípio do consensualismo o simples fato de

as partes seguirem para um único alvo para a declaração de suas

vontades, considera-se o contrato perfeito e válido, sem esquecer dos

interesses envolvidos. Entretanto, com a evolução da sociedade, foi

necessária a criação de novas regras com relação à forma, pois a

vontade das partes expressada oralmente se tornou um simples

mecanismo de sustentação de posições30.

Sette31 corrobora este posicionamento:

O princípio do consensualismo é a liberdade quanto à

forma que devem revestir os negócios jurídicos e, em

29 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg. 20 30 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg. 34. 31 SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito dos contratos: seus princípios fundamentais sob a ótica do código civil de 2002. Pg. 107-109 (grifo do Autor)

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especial, os contratos. Caracteriza-se por bastar o

consenso das partes para a formação do contrato –

consensus obligat - , ou seja, para que nasçam as normas

individuais. [...] No Direito Positivo Brasileiro, consagrou-se

o consensualismo, ao se prescrever no art. 107, do

Código Civil de 2002, que “a validade da declaração de

vontade não dependerá de forma especial, senão

quando a lei expressamente a exigir”. [...] Mas

atualmente, o formalismo vem ganhando força,

ressurgindo das cinzas, às vezes por imposição legal (para

tutelar as partes contratualmente mais fracas, pois o

contrato é visto como um fato econômico-social), e

outras por necessidade de se privilegiar a segurança

jurídica

1.3.4 PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE.

O princípio da obrigatoriedade caracteriza que para

a formação do contrato, devem-se seguir as normas impostas pela lei,

do contrário não terá validade, assegurando os limites para conclusão

do contrato e garantindo a igualdade das partes.

Com relação ao princípio da obrigatoriedade,

Bittar32, posiciona-se da seguinte maneira:

O princípio da obrigatoriedade dos contratos (ou da

intangibilidade), que deriva da máxima pacta sunt

servanda, impõe às partes o adimplemento. [...] A idéia

ética de honra à palavra dada embasa também a

formulação em causa, em razão da segurança

necessária ao comércio jurídico. [...] Diz-se que é

imutável, ou intangível, o contrato em seu conteúdo,

32 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg.34-35.

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conferindo-se-lhe o condão de irretratabilidade, a

subjugar as partes à execução nos termos fixados no

acordo. Com isso, uma vez estipulado seu conteúdo, não

se pode aceitar modificação, senão excepcionalmente,

pela mesma vontade das partes em consonância com

requisitos e com formalidades próprias [...], ditadas,

ademais, pelo próprio desenvolvimento das relações e

da modificação das condições das partes. [...] Mas o

desequilíbrio nas posições, defluente de forças externas

ditadas pela própria evolução social, impôs a admissão

da revisão judicial de contratos, à luz da teoria da

imprevisão [...].

Para Sampaio33o princípio da obrigatoriedade dos

contratos é a própria lei entre as partes que o realizaram, sendo assim,

cláusulas nele formuladas devem ser devidamente cumpridas. Deste

princípio surge a segurança entre as relações contratuais, pois impede a

retratação ou revogação unilateral dos contraentes, no entanto, são

impostos limites para a manutenção do contrato, principalmente, pela

teoria da imprevisão.

Sette 34conceitua o princípio da obrigatoriedade da

seguinte forma:

O contrato, como já visto, é fonte produtora de Direito,

do qual nascem normas jurídicas. [...] Porém, as normas

individuais são concretas e individuais (uma vez que

nascem do exercício da autonomia privada), ou seja, as

próprias partes regulam suas relações privadas, criando

normas, às quais se vincularão. [...] É evidente, pois, que

da autonomia privada decorre, por si só, a força

obrigatória dos contratos. Dela nasce a obrigação das

33 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg. 21. 34 SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito dos contratos: seus princípios fundamentais sob a ótica do código civil de 2002. Pg. 104-107.

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partes cumprirem as normas individuais que julgaram

conveniente criar, mas desde que estejam de acordo

com o ordenamento jurídico e com a função social do

contrato. Portanto, o princípio da obrigatoriedade dos

contratos tem fundamento no exercício da autonomia

privada, do qual decorrem normas a que as partes

vinculam-se, por imperativas que são.

Neste sentido Rodrigues35, ensina que o princípio da

obrigatoriedade ou força vinculante das convenções, define-se

quando há a efetivação dos contratos de acordo com os requisitos de

validade, obrigatórios entre os contratantes. Tais requisitos serão a lei

privada entre as partes do contrato e assim como a norma jurídica

legislativa, e sua alteração só poderá ser efetivada com outra avença.

Contudo, com a evolução dos fatores econômicos e sociais, o

legislador passou a intervir nas relações de formação contratual, com o

objetivo de amenizar as desigualdades entre as partes. Sendo assim,

foram criadas normas de ordem pública que impõem limites à liberdade

de contratar.

1.3.4.1 TEORIA DA IMPREVISÃO.

A teoria da imprevisão surgiu da cláusula *rebus sic

stantibus conforme Sampaio36, ou seja, o vínculo contratual se mantém

enquanto as condições ao tempo do contrato forem as mesmas do

início da sua efetivação. Esta teoria consiste também, na possibilidade

35 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. Pg. 17-19. *mesmo estado de coisas 36 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg..21.

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de revisão contratual, desde que verificada a mudança das condições,

com isso pode gerar efeito liberatório da obrigação.

Milhomens e Alves37 definem a teoria da imprevisão

da seguinte forma:

Participa desse intervencionismo a teoria da imprevisão,

imaginada em conseqüência da primeira guerra mundial

(1914-1918), e que afetou a economia dos contratos. [...]

Baseada na imprevisibilidade, na mudança radical das

condições contemporâneas do contrato; na esperança

de que continuassem (rebus sic stantibyus), o Poder

Judiciário é invocado para rever o contrato, liberar o

devedor da reconhecida onerosidade contratual que o

poderia levar à insolvência ou a miséria.

1.3.5 PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS.

O princípio da relatividade dos efeitos afirma que, os

efeitos do contrato se manifestaram somente entre as partes não

atingindo a terceiros.

Sette38 define o princípio da relatividade dos efeitos

assim:

Do princípio da autonomia privada que se traduz na

esfera de liberdade do indivíduo de criar normas para

regular suas relações privadas, resulta, para as partes, a

obrigatoriedade no cumprimento do que restou

estipulado. A vinculação, no entanto, só atingirá as

37 MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Gerado Magela. Manual prático dos contratos. Pg. 25. 38 SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito dos contratos: seus princípios fundamentais sob a ótica do código civil de 2002. Pg. 109-110.

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partes do contrato e não terceiros; porque a norma

contratual é concreta e individual, sendo criada para

reger a esfera particular dos sujeitos da relação jurídica

contratual. [...] Entretanto, nenhum direito é absoluto e o

contrato pode excepcionalmente produzir efeitos na

esfera jurídica alheia, como é o caso da estipulação em

favor de terceiro e do fideicomisso inter vivos. Também

terceiros podem opor-se ao contrato, quando sejam por

eles prejudicados (a fraude contra terceiros é exemplo

clássico desta hipótese), mas, ainda assim, é resultante

mais da aplicação do princípio da boa fé do que,

propriamente da autonomia privada e da relatividade

dos efeitos do contrato.

Rodrigues39 da mesma forma ensina:

O segundo princípio – o da relatividade das convenções

– contém a idéia de que os efeitos do contrato só se

manifestam entre as partes, não aproveitando nem

prejudicando terceiros. O que, aliás, é lógico. Como o

vínculo contratual emana da vontade das partes, é

natural que terceiros não possam ficar atados a uma

relação jurídica que lhes não foi imposta pela lei nem

derivou de seu querer. Por conseguinte, tal princípio

representa um elemento de segurança, a garantir que

ninguém ficará preso a uma convenção, a menos que a

lei determine, ou a própria pessoa o delibere.

Assim, o princípio da relatividade dos efeitos dos

contratos estabelece que os efeitos do pacto firmado somente serão

válidos àqueles que o criaram, não sujeitando terceiros alheios à

situação contratual. Contudo, como os demais princípios, este também

não é absoluto, comportando algumas exceções, das quais pode-se

39 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. Pg.17.

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citar a estipulação em favor de terceiro e o contrato coletivo de

trabalho.40

1.3.6 PRINCÍPIO DA BOA-FÉ.

Dentre os princípios com influência moral, está o

princípio da boa fé, o qual determina que as partes da relação

contratual devem agir com lealdade e confiança recíprocas que a

relação lhes imputa. Sendo assim, as partes devem formar sua relação

contratual e agir com fidelidade de acordo com os padrões éticos41.

Para Rodrigues42 citando Silveira que compartilha

deste entendimento, a boa fé pode ter duas formas de interpretação:

Não são poucos os estudiosos que apontam duas

maneiras como várias legislações encaram a boa-fé.

Uma maneira objetiva, que se poderia chamar de boa-fé

lealdade, e outra subjetiva, que se poderia chamar de

boa-fé crença. No primeiro caso se cogita daquele dever

de lealdade genericamente imposto aos homens; no

segundo, na boa-fé crença, da persuasão, ou seja, do

convencimento que está agindo de maneira correta.

Neste sentido Milhomens e Alves afirmam que um

dos principais alicerces do Direito Contratual é o princípio da boa-fé.

Também utilizado para interpretação dos contratos, possue dois

40 SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: contratos. Pg. 24. 41 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg. 36. 42 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.Pg.62.

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sentidos: a boa-fé subjetiva, ou seja, é aquela em que há divergência

entre o sentido literal das cláusulas e a real intenção da interpretação, a

boa-fé objetiva, aquela que define a conduta moral dos indivíduos da

relação contratual, desde a formação, cumprimento de extinção

contratual. Ainda, encontra fundamento no Novo Código Civil, disposto

no art. 422 - os contraentes são obrigados a agir em conformidade com

os princípios da probidade e boa-fé. Assim, a boa-fé é exigida e ao

mesmo tempo presumida, enquanto que a má-fé é estritamente

punida, age ainda como saneadora de defeitos e vícios, sendo muito

utilizada nas decisões jurisdicionais.43

Corrobora Sette44, com relação à importância do

princípio da boa fé e sua divisão;

O valor jurídico do bem comum consiste, assim, na

convivência pacífica entre as pessoas de uma

determinada sociedade, em que estas deverão agir

sempre com lealdade e confiança recíprocas, sem

interesse de causar prejuízos a outras pessoas (terceiros

ou partes da relação contratual). Manifesta-se no campo

do Direito Contratual como princípio da boa-fé, que,

portanto, é seu corolário. [...] A boa-fé pode ser dividida

em subjetiva e objetiva. A objetiva é aquela que diz

respeito a elementos objetivos da conduta humana,

determina como as pessoas devem agir (são normas de

conduta); por sua vez, a boa-fé subjetiva é um estado de

ignorância sobre situações suscetíveis de prejudicar

terceiros (é contrário da má-fé), consiste em convicções

internas.

43 MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Gerado Magela. Manual prático dos contratos. Pg. 27-29 44 SETTE, André Luiz Menezes Azevedo. Direito dos contratos: seus princípios fundamentais sob a ótica do código civil de 2002. Pg. 115-125.

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1.4 FORMAÇÃO DOS CONTRATOS.

Conforme Rodrigues a formação contratual ocorre

quando há um acordo de duas declarações. Pode-se encontrar esta

característica quando o policitante ou proponente expõe uma

proposta e o oblato, que é a pessoa a quem foi oferecido à proposta,

aceita tal acordo45.

Bittar46 divide a formação contratual em três fases:

Por diversas fases espraia-se o ciclo vital dos contratos,

em sua exteriorização, que podem ser distribuídas em

três: a de formação, ou de geração; a de conclusão,

perfazimento, ou consecução; a de execução ou de

cumprimento. A fase de geração é aquela em que as

partes, em função da prévia disposição negocial,de

qualquer uma (pessoa estabelecida, profissional

autônomo, ou proponente), ou de contatos pelos meios

possíveis, agem para a realização do negócio, inclusive

praticando atos tendentes à celebração do ajuste. É a

fase em que as partes atuam para alcançar o consenso,

ou seja, o próprio contrato. Aproximam-se as partes; mas

negociam; tomam-se providências; praticam-se ações

destinadas a atingir-se a constituição do acordo de

vontades em torno do negócio visado. A fase de

consecução (ainda denominada constituição) é aquela

em que se estabelece o vínculo entre as partes, diante

da existência do congresso de vontades. As declarações

negociadas encontram-se, conjugam-se, integram-se, 41 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.Pg.68. 46 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg.61.

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formando, pois, contrato. [...] A fase de cumprimento, ou

execução, é a em que, defende o ajuste, as partes

atuam na realização das obrigações instituídas, para a

satisfação dos interesses recíprocos regulamentado no

contrato. Pratica-se então, as diferentes ações exigidas

pela natureza e pela estrutura do negócio efetivado.

Diniz afirma que, para que ocorra a formação dos

contratos deve-se obter acordo de vontades entre as partes ou o

consentimento. Este não é apenas um requisito para que o contrato

seja válido, mas também um pressuposto para que possa ser efetivado,

e se não tiver consenso entre ambos, não haverá vínculo contratual47.

A formação dos contratos se divide em vários

períodos, dos quais serão ressaltados os seguintes: negociações

preliminares ou fase de puntação; a proposta ou policitação;

aceitação; momento da conclusão do contrato e do lugar da

celebração do contrato.

1.4.1 PERÍODO DAS NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU

FASE DE PUNTAÇÃO.

Rodrigues48 define este momento da seguinte forma:

Forma-se o contrato pelo encontro concordante de duas

declarações receptícias. Isso ocorre, portanto, quando a 47 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg. 43. 48 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.Pg. 68-69.

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proposta emanada do proponente (também chamado

policitante)é aceita pela pessoa a quem foi dirigida , isto

é, o oblato. [...] Trata-se de um período em todo o caso

de uma faze de negociações preliminares, de um

período pré-contratual. [...] O início da faze de puntação

revela o propósito de contratar e cria, naturalmente, no

espírito dos futuros contratantes, uma expectativa

legítima de vir a concluir um negócio.

Nesta fase, as partes não expressam sua vontade,

com isso não há vinculação entre elas, sendo assim, podem desistir do

negócio ou efetivá-lo nas próximas fazes, sem correr o risco de perdas e

danos.

Diniz, afirma que neste período é efetivado o

contrato preliminar e este é dividido em unilateral e bilateral onde o

primeiro ocorre quando ambas as partes interessadas aceitarem o que

é proposto, mas apenas uma delas terá deveres; já no segundo há

obrigações para ambos, cada um terá direito de cobrar do outro o

cumprimento do conteúdo contratual, e com isso definido o contrato49.

1.4.2 PROPOSTA.

A proposta forma ato jurídico unilateral, pois o

policitante apresenta ao oblato suas condições para o contrato e o

49 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg.51 e 52.

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convida a efetivá-lo conforme as condições apresentadas e este último

aceita ou não50.

Bittar51 define “proposta contratual” da seguinte

forma:

A proposta é, pois, declaração de vontade negocial

emitida para a obtenção de aceitação de outrem, com

a qual se alcança o contrato. Não existindo os requisitos

legais é mera comunicação ou indicação.

Sendo assim, concluí-se que a proposta de contrato,

para ter validade deve apresentar requisitos legais e declaração de

vontade das partes, do contrário é mera informação.

1.4.3 ACEITAÇÃO.

A aceitação no contrato expressa a vontade das

partes para a formação contratual, sendo assim é pré-requisito para sua

conclusão.

Diniz52 explica aceitação assim:

50 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.Pg. 70. 51 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg. 64. 52 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg. 60.

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Havendo deliberação de contratar, a proposta dirigir-se-

á a uma pessoa identificada ou a qualquer um do

público que se apresente como aceitante, tendo

condições de efetivar o ato negocial ofertado. A

aceitação da proposta por parte do solicitado é o fecho

do ciclo consensual [...]. [...] A aceitação é o

complemento da policitação. Tanto a oferta como a

aceitação são necessárias para a conclusão do ato

negocial, por representarem o reflexo da vontade dos

contraentes.

Já Rodrigues define aceitação da seguinte mareira:

“A aceitação consiste na formulação da vontade concordante do

oblato, feita dentro do prazo e envolvendo adesão integral à proposta

recebida” 53.

1.4.4 MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO.

O contrato se efetiva no momento em que as partes

aceitam o que foi acordado, e a partir daí, se tornam responsáveis

pelas perdas e danos. A efetivação dá-se entre: a) partes presentes,

quando as partes aceitam o acordo e efetivam no mesmo momento o

contrato; b) partes ausentes, que se explique através de duas teorias:

teoria da informação ou cognição e a teoria da agnição ou

declaração. A primeira afirma que só no momento em que houver uma

resposta do oblato de aceitação por escrito é que se dá a conclusão

do contrato, e na segunda teoria define que para a conclusão do

contrato é necessário o envio do próprio documento de contrato 53 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade.Pg. 72.

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assinado pelo oblato. Esta definição, chamada de subteoria da

expedição, e também de subteoria da declaração propriamente dita

em que apenas uma carta ou telegrama enviado à parte que fez a

proposta efetive o negócio54.

Neste mesmo sentido Bittar55 enfatiza:

Considera-se concluído o contrato com o consenso entre

as partes, declarado em consonância com o

ordenamento jurídico. Completa-se, pois, com o

congresso das declarações negociais, em torno da figura

contratual almejada e obediente ao regime jurídico que

as regula (que, não havendo, caracteriza o dissenso). É,

pois, a convergência das declarações negociais de

vontade, legitimamente emitidas, no sentido do modelo

contratual visado, que perfaz o ajuste, cumprindo

determinar-se, em concreto, o momento da integração.

1.4.5 LUGAR DA CELEBRAÇÃO DO NEGÓCIO

JURÍDICO CONTRATUAL.

Conforme o artigo 435 do Código Civil, o negócio

jurídico contratual terá sua celebração no local onde foi proposto, ou

seja, onde a proposta foi apresentada e conhecida56.

54 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg.67 e 68. 55 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg.67-68. 56 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg. 70.

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Na mesma linha de pensamento, Bittar57 entende

com relação ao lugar da celebração do negócio jurídico contratual, o

seguinte:

O lugar da celebração do contrato, se não houver

proposta, é aquele em que as partes atingem o

consenso, declinando-o no instrumento correspondente.

Existindo proposta, reputar-se-á celebrado na praça em

que for apresentado (art. 435).

1.5 CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS.

Os contratos são classificados de várias formas, mas

neste trabalho serão ressaltadas as classificações mais importantes para

o tema em foco e melhor entendimento dos capítulos que virão.

As principais classificações são: quanto às

obrigações contratuais, unilaterais e bilaterais; quanto aos benefícios e

vantagens, oneroso ou gratuitos/benéficos; quanto ao equilíbrio das

obrigações, comutativos e aleatórios; e por último, quanto à

espontaneidade, paritários e de adesão.

1.5.1 CLASSIFICAÇÃO QUANTO À OBRIGAÇÃO.

Esta classificação se divide em contratos unilaterais e

bilaterais.

57 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg. 72.

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O contrato unilateral caracteriza obrigação para

apenas uma das partes e o contrato bilateral a obrigação é para

ambas as partes.

1.5.1.1 UNILATERAIS.

Bittar58 entende contrato unilateral assim: “Contratos

unilaterais são aqueles em que existem obrigações somente para uma

das partes, ficando a outra como credor”.

Azevedo59 cita um exemplo de contrato unilateral:

Daí, posso dizer que, nos contratos unilaterais, somente

uma das partes tem obrigação, como acontece no

mútuo, em que, realizado o empréstimo, por exemplo, de

uma soma em dinheiro, nasce tão-somente a obrigação

do mutuário, que recebeu a soma emprestada, de

devolvê-la ao mutuante, em prestador da mesma.

1.5.1.2 BILATERAL OU SINALAGMÁTICO.

Monteiro60 define contratos bilaterais:

Contratos bilaterais são aqueles que criam obrigações

para ambas as partes e essas obrigações são recíprocas;

58 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg. 84. 59 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral dos contratos típicos e atípicos. Pg. 85. 60 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. Pg. 23.

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30

cada uma das partes fica adstrita a uma prestação (ultro

citroque obligatio).

1.5.2 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS BENEFÍCIOS E

VANTAGENS.

Quanto aos benefícios, os contratos podem ser:

contratos gratuitos ou benéficos e contratos onerosos.

1.5.2.1 Contratos Gratuitos ou Benéficos.

Para Gonçalvez61, contratos gratuitos ou benéficos

são aqueles em que apenas uma das partes obtém benefício ou

vantagem, e para outra parte há apenas, obrigação e sacrifício.

1.5.2.2. CONTRATOS ONEROSOS .

Continuando a conceituar, agora contratos

onerosos, Gonçalvez62 define que, estes contratos ambas as partes

61 GONÇALVEZ, Carlos Roberto. Direito das obrigações. Pg. 27. 62 GONÇALVEZ, Carlos Roberto. Direito das obrigações. Pg. 27.

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adquirem benefício ou proveito, mas para isso, ambas também tem

obrigações e sacrifícios.

Bittar63 explica contrato oneroso como segue:

“Onerosos são os que apresentam proveitos para todos os contratantes,

podendo as vantagens referir-se ao próprio interessado ou a outrem”.

1.5.3 CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO EQUILÍBRIO DAS

OBRIGAÇÕES.

Quanto à classificação do equilíbrio das

obrigações, divide-se em: contratos comutativos, ou seja, as partes já

sabem o que irão ganhar ou perder; e contratos aleatórios, onde as

partes tem um futuro incerto, dependem de um acontecimento que

pode gerar perda ou lucro.

1.5.3.1 CONTRATOS COMUTATIVOS.

Explana o doutrinador Azevedo64 sobre contratos

comutativos:

Nos comutativos, existe equivalência de prestações, ou

seja, as partes contratantes, logo ao nascer do contrato,

sabem o que vão ganhar e o que vão perder, têm a

previsibilidade de seus interesses contratuais;[...]

63 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg.87. 64 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral dos contratos típicos e atípicos. Pg.90.

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32

Nos contratos comutativos já está definido o que

cada um irá ganhar e perder, não há risco como o contrato aleatório, é

algo certo e já estipulado65.

1.5.3.2 CONTRATOS ALEATÓRIOS.

Segundo Monteiro66 contratos aleatórios são

conceituados da seguinte maneira:

É aleatório o contrato em que as prestações de uma ou

de ambas as partes são incertas, porque sua quantidade

ou extensão está na dependência de um fato futuro e

imprevisível e pode redundar numa perda, em vez de

lucro.

1.5.4 CLASSIFICAÇÃO QUANTO A ESPONTANEIDADE.

Esta última classificação exposta é dividida em

contratos paritários e de adesão, ambos devem seguir a norma jurídica,

mas há uma diferença: para o primeiro ambas as partes discutem o

conteúdo do contrato; mas já para o segundo apenas uma decide o

teor do contrato e a outra não tem o direito de opinar sobre

elaboração das cláusulas.

65 GONÇALVEZ, Carlos Roberto. Direito das obrigações. Pg.50 66 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. Pg.29.

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33

1.5.4.1 CONTRATOS PARITÁRIOS.

O contrato paritário é formado depois de discutidas

todas as cláusulas e interesses, para que esteja tudo em comum acordo

e condizendo com o que a ordem pública e a lei definem67.

Diniz68 define este tipo de contrato da seguinte

forma:

Os contratos paritários são aqueles em que as partes

interessadas, colocada em pé de igualdade, ante o

princípio da autonomia da vontade, discutem, na fase

da puntuazine, os termos do ato negocial, eliminando os

pontos divergentes mediante transigência mútua. Nesses

contratos há manifestação livre e coincidente de duas ou

mais vontades. Deveras, os interessados livremente se

vinculam, discutindo amplamente e fixando as cláusulas

ou as condições que regerão a relação contratual.

1.5.4.2 CONTRATOS DE ADESÃO.

Azevedo69 é bem conciso, quando afirma que o

contrato de adesão é um contrato em que uma das partes organiza as

67 BITTAR, Carlos Alberto. Direitos dos contratos e dos atos unilaterais. Pg. 89. 68 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg. 93. 69 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral dos contratos típicos e atípicos. Pg.92.

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34

cláusulas e a outra parte não tem condições de modificá-las e não tem

a possibilidade de discuti -las.

Neste mesmo sentido Diniz70 define:

Os contratos de adesão constituem uma oposição à

idéia de contrato paritário, por inexistir a liberdade de

convenção, visto que excluem a possibilidade de

qualquer debate e transigência entre as partes, uma vez

que um dos contratantes se limita a aceitar as cláusulas e

condições previamente redigidas e impressas pelo outro.

70 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg.93.

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35

CAPÍTULO 2

CONTRATOS BANCÁRIOS.

2.1 CONCEITOS E GENERALIDADES.

Para a formação de um contrato bancário deve

haver uma pessoa jurídica com função bancária, utilizando as

características de um contrato de adesão para sua formalização,

seguindo as normas jurídicas, conforme entendimento dos

doutrinadores abaixo citados.

DA LUZ71, define contratos bancários da seguinte

forma:

Para definir o que seja um contrato bancário apelamos

para o conceito firmado por Garrigues, segundo o qual é

um negócio jurídico “concluído por um Banco no

desenvolvimento de sua atividade profissional e para a

consecução de seus próprios fins econômicos”. É uma

definição concisa, precisa, elegante e capaz de se

manter sempre atualizada, sofram as instituições

financeiras as alterações que haja mister.

O contrato bancário é negócio jurídico formado por

uma pessoa jurídica, autorizada para exercer a função bancária, sem a

71 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg. 25.

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necessidade de ter a característica de banqueiro, com o gênero de

contrato de adesão72.

Oliveira73 expõe que:

[...] devemos expor que os contratos bancários são os

negócios jurídicos que têm como uma das partes uma

empresa autorizada a exercer atividades próprias dos

bancos. O banco não pode funcionar sem a Carta

Patente obtida da autoridade competente,

permanecendo seu funcionamento subordinado à

fiscalização e controle de órgãos próprios do Poder

Público.

2.2 EMPRESTIMOS BANCÁRIOS - ESPÉCIES.

O contrato bancário, também conhecido como

financiamento, é definido como negócio jurídico bancário, com a

finalidade de fornecer um crédito74.

Milhomens e Alves75definem empréstimo bancário

da seguinte maneira:

Denomina-se empréstimo à operação bancária de

entrega de dinheiro a terceiro, a juros, mediante cláusula

72MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Gerado Magela. Manual prático dos contratos. Pg.197. 73 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Código de defesa do consumidor e os contratos bancários. Pg. 34-35. 74 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg.112. 75 MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Gerado Magela.Manual prático dos contratos.Pg. 198.

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37

que preveja a devolução da quantia, corrigida no prazo

ajustado.

Já Mazzafera76 entende da seguinte forma:

O mútuo bancário é um empréstimo em dinheiro que

será devolvido da mesma quantidade assumida

acrescida dos juros. [...] O art. 586 do Código Civil no diz

que: “O mútuo é empréstimo de coisas fungíveis. O

mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele

recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e

quantidade”.

Diniz define que, contrato de empréstimo é aquele

em que a instituição financeira fornece uma quantia em dinheiro, com

a condição que lhe seja devolvido em certo prazo, com a cobrança de

juros. Este crédito é concedido ao cliente através da confiança que o

banco o deposita77.

2.2.1 DESCONTO BANCÁRIO.

Juridicamente, o desconto bancário está ligado à

dedução ou abatimento que vem dos títulos mercantis, como por

exemplo cheque, a nota promissória, a letra de câmbio e a duplicata.

76 MAZZAFERA, Luiz Braz.Curso de direito empresarial. Pg. 317.(grifo do autor) 77 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Pg.694.

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Também pode se definir como os juros e taxas exigíveis no

adiantamento do valor cobrado no título78.

Definem Milhoemens e Alves79:

É o contrato através que determinada pessoa

recebe do banco importância certa, a juros,

responsabilizando-se pela solvência do título de

crédito, não vencido, de emissão própria ou de

terceiro, transferido na operação.

Há o desconto bancário quando, o título bancário

de um portador é pago com antecedência pelo banco e estão inclusos

neste valor os juros e comissões. Assim, este título é repassado ao banco

através do endosso, sendo este então, coobrigado80.

Na mesma linha de pensamento DA LUZ81 define o

contrato bancário de Desconto:

O desconto é uma opção financeira que consiste

singelamente na obtenção de capital mediante cessão

ao Banco de títulos de crédito sacados contra terceiros,

em que é favorecido o descontatário, garantindo este,

por pacto de resgate, seu pagamento, obrigação que se

traduz em recompra em caso de inadimplemento do

sacado. Na prestação da soma, os interesses do Banco

são deduzidos previamente.

78 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos de crédito bancário. Pg. 81. 79MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Gerado Magela. Manual prático dos contratos. Pg.198. 80 MAZZAFERA, Luiz Braz.Curso de direito empresarial. Pg. 316. 81 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg.153.

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2.2.2 ABERTURA DE CRÉDITO.

A abertura de crédito é um contrato fornecido pelo

banco que dispõe para o cliente uma certa quantia em dinheiro, no

qual ele pode utilizar a qualquer tempo, dependendo dos prazos

acordados, com a cobrança de juros e correção sobre o valor usado

ou não, é o que explica Mazzarefa82:

Pelo contrato de abertura de crédito o banco coloca à

disposição do cliente determinada importância em

dinheiro por prazo determinado ou indeterminado

cobrando-lhe os juros e encargos bancários

correspondentes, mesmo na eventualidade do crédito

não ter sido usado, pois que o banco é obrigado a

manter a quantia à ordem do creditado. Essa

importância poderá então ser ou não usada e, se usada,

poderá ser parcial ou totalmente.

Na abertura de crédito é disponibilizado ao cliente

dinheiro, bens ou serviços, através do financiamento, pelo período

definido entre as partes, ou seja, o banco concede um valor para o

cliente, mas ele vai ter que pagar em um período definido o que deve

ao primeiro com juros83.

Neste mesmo sentido Milhomens e Alves84 expõem:

Designa o contrato através do qual o banco,

denominado creditador, coloca à disposição do cliente,

82 MAZZAFERA, Luiz Braz.Curso de direito empresarial. Pg. 315. 83 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg.131. 84MILHOMENS, Jônatas; ALVES, Gerado Magela. Manual prático dos contratos. Pg.198

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dito creditado, ou de terceiro, por prazo determinado ou

não, um valor limitado, que poderá ser utilizado total ou

parcialmente.

A abertura de crédito é um contrato onde o banco

é obrigado a fornecer para o cliente, uma quantia em dinheiro, para

utilizá-la em prazo certo ou indeterminado, conforme termos

contratuais, podendo ele usar total ou parcialmente este crédito. No

entanto, a quantia deverá ser devolvida, conforme a forma estipulada

no contrato, com juros e comissões85.

RIZZARDO86 conceitua da seguinte forma Contrato

de Abertura Crédito:

Constitui esta figura a promessa do banco em conceder

um determinado empréstimo, colocando-o à disposição

na conta do interessado no momento em que precisar.

No sentido técnico, envolve a obrigação do banqueiro

em manter à disposição do creditado certa soma de

dinheiro, por um período de tempo fixado ou

indeterminado, com a faculdade de o próprio creditado

utilizar tal quantia segundo as necessidade e

modalidades convencionadas ou de uso.

85 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Pg.696. 86 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos de crédito bancário. Pg. 52.

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2.2.3 CONTRATOS DE FINANCIAMENTO.

O financiamento é uma forma de fornecimento de

crédito para o cliente, para que com este ele possa comprar

determinado bem. Neste sentido Diniz87 conceitua contrato de

financiamento da seguinte forma:

Financiamento ou adiantamento é a operação bancária

pela qual o banco antecipa numerário sobre crédito que

o cliente (pessoa física ou jurídica) possa ter, com o

escopo de emprestar-lhe certa soma, proporcionando-

lhe recursos necessários para realizar certo negócio ou

empreendimento, reservando-se o direito de receber de

devedores do financiado os créditos seu em seu nome ou

na condição de seu representante, e sem prejuízo das

ações que contra ele conserva até a liquidação final.

Gonçalves afirma que contrato de financiamento

bancário é uma subespécie de abertura de crédito, onde a instituição

financeira concede ao consumidor certa quantia em dinheiro

necessária para a concessão de um empreendimento, através da

cessão ou caução de crédito ou outras garantias. Este é chamado de

crédito direto ao consumidor, que terá como principal garantia a

alienação fiduciária do bem da transação88.

87DINIZ. Maria Helena. Curso de direito civil: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. Pg. 703. 88 GONÇALVES,Carlor Roberto. Direito civil brasileiro. Pg. 649.

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Quanto a definição dos contratos de financiamento

bancário afirma Da Luz 89o que segue:

O empréstimo de dinheiro é o conhecido mútuo, instituo

de direito comum, chamado mútuo feneratício,

caracterizado pela onerosidade do contrato. É de todos

os tipos de financiamento o mais difundido e, força disso,

o mais popular. É aquele ao qual tem acesso a maior

quantidade de pessoas de todas as classes sociais e

econômicas.

2.2.4 ANTECIPAÇÃO.

Para contrato de antecipação bancária, a

definição de Mazzafera90 é esta:

A antecipação bancária consiste num negócio jurídico –

bancário onde o banco adianta ao seu cliente

determinada soma em dinheiro em face da uma

garantia real consistente em títulos, mercadorias ou

direitos.

Ocorre a antecipação quando o banco mediante

uma garantia real, em títulos, mercadoria ou documentos que os

representem, concede ao cliente certo valor91.

89 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg. 116. 90 MAZZAFERA, Luiz Braz.Curso de direito empresarial. Pg.319. (grifo do autor). 91 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos de crédito bancário. Pg.94.

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Para Da Luz92, antecipação bancária é definida

assim:

A antecipação bancária é um negócio jurídico

financeiro, no qual o antecipante empresta certa soma

em dinheiro ao antecipado, contra – entrega de garantia

real. Nela há uma relação percentual rigorosa entre o

valor adiantado e o bem garantidor.

2.2.5 CARTÕES DE CRÉDITO.

Segundo Da Luz93:

[...] o cartão de crédito é um sistema operacional de

credenciamento dirigido ao consumo, que reúne clientes

do emitente, constituídos por comerciantes e

consumidores. Visa manter uma clientela cativa,

fortalecendo o conglomerado financeiro ao qual é

filiado, oferecendo em troca qualificado serviço de

segurança e desregulamentação do crédito.

O cartão de crédito é a forma mais prática, segura e

garantida para o pagamento de bens ou serviços necessitados pelo

consumidor a qualquer momento que este precisar. O uso deste

mecanismo bancário estabelece uma serie de outros contratos, entre o

emissor e o proprietário do cartão; entre o emissor e o vendedor e

92 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg.147. 93 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg. 241.

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44

também as normas estabelecidas entre o vendedor e o proprietário do

cartão no momento em que há a compra e a venda94.

Mazzafera95 define contrato de cartão de crédito da

seguinte maneira:

Trata-se de um contrato de adesão, oneroso, comutativo

e misto, inominado, de abertura de crédito e de

prestação de serviço. O vendedor, sob contrato, pagará

à administradora um percentual sobre as vendas e o

usuário pagará à ela uma taxa anual, parcelada, de

manutenção. O usuário receberá a tempo determinado

o balanço de seus gastos para seu controle a fim de ser

pago ou enquadrá – lo dentro do limite que lhe foi dado

com a ocorrência de juros, etc

94 MAZZAFERA, Luiz Braz.Curso de direito empresarial. Pg.347. 95 MAZZAFERA, Luiz Braz.Curso de direito empresarial. Pg.349.

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CAPÍTULO 3

3. EMPRÉSTIMOS E JUROS BANCÁRIOS A LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR.

3.1 EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS A LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR.

Após muitas divergências, a doutrina e a

jurisprudência brasileiras firmaram-se no sentido de aplicar o Código de

Defesa do Consumidor aos contratos de empréstimos e quaisquer outros

serviços bancários. Neste sentido, Wambier citado por Oliveira96,

leciona:

[...] em abordagem aos serviços e contratos bancários,

leciona: "O CDC é de clareza ímpar ao estabelecer que

os serviços bancários estão abrangidos pelo sistema de

proteção do consumidor. Os contrato bancários não

fogem a essa incidência, na medida em que se refiram a

pactos celebrados entre o banco, como fornecedor de

recursos, e o usuário, como consumidor, ou seja, efetivo

destinatário final- econômico ( e não apenas destinatário

fático ) do dinheiro tomada na instituição financeira.

Acerca do tema, colacionam-se alguns julgados a

respeito, senão observe-se:

96 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. O direito do consumidor e os bancos. http://jus 2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2741&p=5. Acesso em 20.04.2008.

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AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO DE ABERTURA DE

CRÉDITO. CDC. APLICABILIDADE. CAPITALIZAÇÃO

MENSAL. IMPOSSIBILIDADE. CUMULAÇÃO DA COMISSÃO

DE PERMANÊNCIA COM JUROS REMUNERATÓRIOS.

IMPOSSIBILIDADE. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. ART. 21 DO

CPC. FIXAÇÃO DO QUANTUM EM FASE DE LIQUIDAÇÃO.-

Aplica-se o CDC aos contratos bancários.- É defesa a

capitalização mensal dos juros, mesmo que

convencionada. Incide o preceito do Art. 4º do Decreto

n. 22.626/33, redação não revogada pela Lei n. 4.595/64.

- É lícita a cobrança de comissão de permanência no

período da inadimplência, desde que não cumulada

com a correção monetária (Súmula 30), nem com juros

remuneratórios, calculada pela taxa média de mercado,

apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do

contrato (Súmulas 294 e 296). - Configurada a

sucumbência recíproca, aplicável o Art. 21 do CPC. A

redistribuição da verba honorária reserva-se à liquidação

da sentença97.

AÇÃO REVISIONAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO -

SFH. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

APLICABILIDADE. AMORTIZAÇÃO. REAJUSTE PRÉVIO.

CABIMENTO. RESTITUIÇÃO EM DOBRO. DÉBITO OBJETO DE

DEMANDA. INVIABILIDADE. TABELA PRICE.

CAPITALIZAÇÃO. VERIFICAÇÃO. SÚMULAS 5 E 7 DO

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ANATOCISMO. VEDAÇÃO.

SUSPENSÃO. EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL. POSSIBILIDADE.

TR. UTILIZAÇÃO. LEGALIDADE98.

97 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 2004/0023119-7. Ministro Humberto Gomes de Barros. Data do Julgamento: 28/09/04. Disponível em: http://www.stj.gov.br. Acessado em: 14/05/08. 98 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça Recurso Especial nº 2005/0093462-1. Ministro Castro Filho. Data do Julgamento: 27/03/07. Disponível em: http://www.stj.gov.br. Acessado em: 14/05/08.

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47

Casado cita Nery Junior, que defende a

importância do Código de Defesa do Consumidor para constituição

dos contratos bancários, com ênfase para o tema em foco -

empréstimos bancários. Ele afirma que na formação dos contratos

bancários o Código de Defesa do Consumidor vai além da tradição do

direito privado, onde seu alicerce está firmado no liberalismo das

históricas codificações européias do século XIX, para que o princípio da

intangibilidade no conteúdo do contrato seja relativo para sua

formação, modificando assim, a regra milenar pelo brocardo pacto sunt

servanda e com isso, dar foco ao princípio da conservação dos

contratos, conforme artigo 6º inciso V do CDC. Refere-se, ainda, ao

princípio fundamental para a formação do contrato de consumo, que

é o princípio da boa-fé, indicado no artigo 4º, caput e inciso III, e artigo

51 inciso IV, da lei em pauta; conforme o artigo 30 é dever do

fornecedor apresentar a declaração de vontade, que é o próprio

contrato, se tiver veiculado oferta, apresentação ou publicidade99.

O autor100 acima citado ainda complementa que:

[...] estabelecer a execução específica da oferta como

regra (arts. 35, n. I, e 84, § 1º.), deixando a resolução em

perdas e danos da obrigação inadimplida como

expediente subsidiário, a critério exclusivo do consumidor

(arts. 35, n. III, e 84 § 1º.), apenas para dar alguns dos

mais significativos exemplos da inovação e modificação

das regras privatísticas até então vigentes para a reação

de consumo, normas essas revisitadas pelo sistema do

CDC.

99 CASADO, Márcio Mello. Proteção do consumidor de crédito bancário e financeiro. Pg. 39. 100 CASADO, Márcio Mello. Proteção do consumidor de crédito bancário e financeiro. Pg. 39.

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Segundo Ramos e Ramos, o Ministério Público, no

ano de 1996, decidiu que não é atribuição privativa do Banco Central

do Brasil a fiscalização das operações bancárias, mas sim, também, do

Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, para controlar os

abusos realizados pelas instituições financeiras, pois este órgão visa os

interesses do consumidor. Sendo assim, o Código de Defesa do

Consumidor é aplicado aos contratos bancários, com finalidade de

proteger os interesses do consumidor, pois os contratos firmados pelos

bancos têm as características de um contrato de adesão, onde o

contratante não tem o direito de discutir as cláusulas contratuais,

porque é característica das instituições financeiras imprimirem os

contratos com letras minúsculas. Com isso, a parte contratante não tem

condições de ler o que o contrato realmente expõe101.

Para Oliveira102, quando cita o Desembargador do

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Semy Glanz, em uma palestra de

Responsabilidade Civil das Instituições Financeiras pela Má Concessão

de Crédito afirma que:

Os bancos têm responsabilidade profissional e, como

prestadores de serviços, são regidos pelas regras do

Código de Defesa do Consumidor, que consagra a

responsabilidade objetiva, ou seja, sem culpa. Os bancos,

ao conceder crédito, devem não só informar-se e exigir

as cabíveis garantias, como informar aos clientes dos

riscos e limites e, se a concessão de crédito pode causar

riscos a terceiros, conforme os empreendimentos dos

clientes devem medir cuidadosamente as

conseqüências, pois passam a responder não só

101 RAMOS, Paulo Angelin. RAMOS, Mirian Montenegro. Juros nos contratos bancários. Pg. 134. 102 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Código de Defesa do Consumidor e os contratos bancários. Pg. 46.

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49

contratualmente, perante o cliente, mas também

extracontratualmente perante terceiros.

Corrobora com este pensamento Pcinin103:

[...] é o CDC o direito do consumidor institucionalizado, a

materialização de princípios instituídos desde o início do

século XX. Sendo os contratos bancários o exemplo mais

puro das relações negociais massificadas e o mais típico

dos contratos de adesão, o Direito do Consumidor que se

caracteriza como um Direito especial destinado a corrigir

os chamados "efeitos perversos" da sociedade de

consumo os inclui no artigo que define fornecedor. [...]

Em 26 de julho de 2001, foi publicada a Resolução 2.878

do BACEN que dispõe sobre procedimentos a serem

observados pelas instituições financeiras e demais

instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central

do Brasil na contratação de operações e na prestação

de serviços aos clientes e ao público em geral. O fato de

tal resolução ser intitulada Código de Defesa do Cliente

Bancário, não exime as instituições financeiras de serem

vistas como fornecedores em uma relação de consumo,

nem os clientes de empréstimos bancários de serem

consumidores nessa relação. Inclusive, reforça a tese de

que existe abuso por parte do Poder Executivo que insiste

em colocar os bancos em patamar privilegiado e

intocável, o que é inaceitável.

Sendo assim, o Código de Defesa do Consumidor é

e deve ser aplicado aos contratos bancários, com o objetivo de

103 PCININ, Cláudia Goldner. Juros bancários: a legalidade das taxas de juros praticados pelos bancos perante norma constitucional limitadora. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3562&p=1. Acessado em 20.04.2008.

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50

proteger o consumidor, pois quando este vai assinar algum contrato

bancário, está vulnerável as cláusulas abusivas ou obscuras.

3.1.1 PONDERAÇÕES SOBRE A ADIN Nº. 2591, DOS BANCOS.

A Confederação Nacional do Sistema Financeiro –

CONSIF ajuizou no dia 26 de dezembro de 2001, uma Ação Direta de

Inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal.

Os requerentes tentaram afastar a aplicabilidade do

Código de Defesa do Consumidor aos contratos bancários, afirmando

que há inconstitucionalidade expressa no artigo no art. 3º, § 2º da Lei

ordinária nº 8.078/90 e inconstitucionalidade material disposta no artigo

192, caput e inciso II e IV, da Constituição Federal, conforme

interpretação da ADIN nº 4, e também afirma que houve violação do

artigo 5º, LIV da Carta Magna.

Quanto à aplicabilidade do Código de Defesa do

Consumidor aos contratos bancários, Nery Junior104 afirma:

Todas as operações e contratos bancários se encontram

sob o regime jurídico do CDC. Não só os serviços

bancários, expressamente previsto no CDC, art. 3º § 2º,

mas qualquer outra atividade, dado que o banco é

sociedade anônima, reconhecida sua atividade como

sendo de comércio, por expressa determinação do

Código Comercial em seu Artigo 119. Assim, as atividades

bancárias são de comércio, e o comerciante é

fornecedor conforme prevê o caput do Código de

Defesa do Consumidor no artigo 3º. Por ser comerciante,

o banco é, sempre fornecedor de produtos e serviços.

104 NERY JUNIOR, Nelson. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. Pg. 475

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A fundamentação principal da ADIN 2591, ajuizada

pela CONSIF, era no artigo 192, caput e incisos II e IV, da CF, o qual,

conforme citado acima, este dispositivo afirma que somente a lei

complementar poderia regular a organização, o funcionamento e

atribuições das instituições financeiras, sendo elas públicas ou privadas.

O artigo 192 caput e incisos II e IV da Constituição

Federal, dispõe o que segue:

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de

forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País

e a servir aos interesses da coletividade, será regulado

em lei complementar, que disporá, inclusive, sobre:

...

II – autorização e funcionamento dos estabelecimentos

de seguro, previdência e capitalização, como do órgão

fiscalizador e do órgão oficial ressegurador;

...

IV – a organização, o funcionamento e as atribuições do

Banco Central e demais instituições financeiras públicas e

privadas(...).

Com a revogação de todos os incisos e alteração

do caput, o artigo 192 da Constituição Federal, realizada pela a

emenda constitucional nº. 40 de 2003, ficou assim a nova redação:

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de

forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País

e a servir aos interesses da coletividade, em todas as

partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de

crédito, será regulado por leis complementares que

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52

disporão, inclusive, sobre a participação do capital

estrangeiro nas instituições que o integram.

A nova redação afirma que o sistema financeiro

nacional será regulamentado por lei complementar, mas nota-se que

não há mais norma programática expressa.

Importante ressaltar, que o objetivo do CDC é

somente proteger o consumidor dos abusos de fornecedores, sendo

que não há conflitos entre as normas que regulam o sistema nacional e

o CDC.

Para finalizar, a decisão da ADIN*, quanto à

aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, proferida no dia

07/06/2006 foi a seguinte105 :

EMENTA: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 5o,

XXXII, DA CB/88. ART. 170, V, DA CB/88. INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS. SUJEIÇÃO DELAS AO CÓDIGO DE DEFESA

DO CONSUMIDOR, EXCLUÍDAS DE SUA ABRANGÊNCIA A

DEFINIÇÃO DO CUSTO DAS OPERAÇÕES ATIVAS E A

REMUNERAÇÃO DAS OPERAÇÕES PASSIVAS PRATICADAS

NA EXPLORAÇÃO DA INTERMEDIAÇÃO DE DINHEIRO NA

ECONOMIA [ART. 3º, § 2º, DO CDC]. MOEDA E TAXA DE

JUROS. DEVER-PODER DO BANCO CENTRAL DO BRASIL.

SUJEIÇÃO AO CÓDIGO CIVIL.

*segue anexo à decisão da ADIN na integra. 105 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação direta de inconstitucionalidade – ADIN : 2591. Ministro Carlos Velloso. Data do Julgamento: 07/06/06. Disponível em: http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp. Acessado em: 20/05/08.

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53

A decisão do STF de ratificar a aplicabilidade do Código

de Defesa do Consumidor nos contratos bancários, assegura ao consumidor a

proteção dos abusos possíveis praticados pelas instituições financeiras,

3.1.2. REQUISITOS PARA FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

BANCÁRIO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.

Observa-se com os entendimentos acima citados

que o Código de Defesa do Consumidor rege sim os contratos

bancários, pois este é um contrato de adesão, conforme artigo 4º do

Código, onde caracteriza os princípios da boa – fé e o equilíbrio entre

as partes; ainda no mesmo artigo fala sobre a vulnerabilidade no seu

inciso I:

Art. 4. A Política Nacional das Relações de Consumo tem

por objetivo o atendimento das necessidades dos

consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e

segurança, a proteção de seus interesse econômicos, a

melhoria da sua qualidade de vida, bem como a

transparência e harmonia das relações de consumo,

atendidos os seguintes princípios:

I-reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no

mercado de consumo;

[...]

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54

Referente aos princípios relacionados no Código de

Defesa do Consumidor, Pcinin106 afirma que:

Os dois grandes princípios embasadores do CDC são os

do equilíbrio entre as partes (não igualdade) e o da boa-

fé (art. 4º do Código). A presunção de vulnerabilidade

(art. 4º, I do Código) prevalece em todos os contratos

bancários e baseia-se na realidade fática de

superioridade econômica e técnica que possuem os

bancos em relação à maioria dos seus clientes. O

flagrante desequilíbrio entre as partes exige a

intervenção estatal legislativa e judicial. Daí porque as

operações bancárias no mercado foram consideradas

pela doutrina e jurisprudência brasileiras como

submetidas às normas e ao novo espírito do Código

Consumerista.

Para a formação dos contratos bancários,

conforme o que impõe o Código de Defesa do Consumidor deve haver

equilíbrio entre as partes e também a boa-fé. Neste sentido Oliveira107

afirma que:

Modernamente, o contrato não é mais visto como algo

estático e individual, mas como algo dinâmico e social,

necessário para o comércio jurídico e satisfação de

interesses legítimos. Com essa nova perspectiva realiza-se

o princípio pacta sunt servanda e abre-se espaço para a

justiça contratual, a tutela da confiança e a boa-fé. O

contrato, então, deve ser o instrumento de necessidades

106 PCININ, Cláudia Goldner. Juros bancários: a legalidade das taxas de juros praticaddas pelos bancos perante norma constitucional limitadora. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3562&p=1. Acessado em 20.04.2008. 107 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a normatização de defesa do consumidor. Pg.147.

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55

individuais e coletivas, não para a supremacia de um

contratante sobre o outro ou para que essa enriqueça as

custas daquele. A expressão alemã Treu und Glauben

resume de forma muito apropriada qual o

comportamento que se espera das partes no contrato.

Assim, Casado afirma que o princípio da boa-fé é

essencial para a formação dos contratos bancários, pois este tem a

função de limitar o exercício abusivo que é imposto pelo direito

subjetivo das instituições financeiras na formação do contrato. Por sua

vez, o princípio do equilíbrio contratual está ligado ao da boa-fé para a

formação dos contratos bancários, pois ele tem a função de evitar as

cláusulas abusivas excessivamente onerosas ao consumidor108.

Quanto aos princípios para a formação dos

contratos bancários Martsung109 dispõe que:

[...] o CDC, cuidando da proteção contratual,

especialmente no art. 51, onde trata das cláusulas

abusivas, menciona o princípio da boa-fé e esboça, com

caráter imperativo, para as relações contratuais, a

necessidade de “equidade contratual, “justo equilíbrio

entre direitos e obrigações das partes”, noções que nos

levam a entender como abusivas as estipulações de

taxas de juros desproporcionais, com desequilíbrio

tamanho entre remuneração dos depósitos e o valor

cobrado pelos financiamentos.

108 CASADO, Márco Mello. Proteção do consumidor de crédito bancário e financeiro. Pg. 42, 147. 109 Martsung, C.R. Alencar. Aplicabilidade do código de defesa do consumidor aos contratos bancários e a posição do STJ e STF. http://www.praticanet.com/clientes/idaj/arquivos _11_1.doc. Acessado em 22.05.2008

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Sendo assim, oberva-se que os princípios impostos

pelo Código de Defesa do Consumidor, são totalmente contra os juros

cobrados excessivamente onerosos para o consumidor, defende sim, o

equilíbrio para a formação do contrato, a igualdade entre as partes e

principalmente a boa-fé, buscando os interesses do consumidor.

3.2. JUROS NOS CONTRATOS BANCÁRIOS.

3.2.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS JUROS.

Já na antiguidade os juros eram utilizados para

compensar o uso do dinheiro de outrem, mas as teorias da época eram

contra esta prática. Afirmavam que esta cobrança de juros para a

concessão de empréstimo era exploração, e o empréstimo deveria ser

feito por amizade ou caridade, pois neste período o empréstimo era

usado apenas para consumo110.

Com a evolução tecnológica, a finalidade do

capital adquirido no empréstimo passou a ser usado para a produção.

Com isso as teorias mudaram quanto aos juros, e se tornaram

necessários para garantir lucros e não correr o risco de não ser

reembolsado. O Código Civil de 1916 pregava a cobrança de juros

livres, desde que acordado entre as partes, como forma de fomentar a

economia da época e a circulação do capital. Então foi estipulado

que se a cobrança de juros fosse superior a 12% ao ano seria

considerado crime de usura, conforme definição da Lei de Usura,

110 TEIXEIRA, Ricardo Dolacio. Limitação de juros nos contratos bancários. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6963 . Acessado dia 22.05.2008

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decreto nº. 22.623/33. Esta norma foi obedecida pelos brasileiros até o

ano de 1964, quando ocorreu o golpe militar. Neste período foi criada a

Lei 4.5951/64 – Lei de Reforma Bancária – que autorizou as instituições

financeiras a cobrarem juros acima do limite legal111.

O Supremo Tribunal Federal em 1977 editou a

súmula 596, concedendo total autonomia aos bancos, quanto à

estipulação de juros para seus serviços, excluindo as instituições

financeiras das disposições regidas pela Lei de Usura. Com a

Constituição de 1988, houve uma nova tentativa de limitar as taxas de

juros, conforme artigo 192, § 3º, afirmando que o percentual utilizado

deveria ser o de 12% ao ano, e esta norma é utilizada até os tempos

atuais112.

Quanto a evolução histórica dos juros Da Luz113

resume que:

O art. 253 do Código Comercial estabelece a proibição

de que se contem juros de juros, excetuando-se a

acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em

conta corrente de ano a ano, proibição confirmada pelo

art. 4º do Decreto n. 22.626, de 7 de abril de 1933, e

Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal. Posteriormente,

a Súmula 596 do pretório excelso, apreciando a sujeição

das instituições financeira à Lei de Usura, liberou-as

apenas ao art. 1º e seus parágrafos do aludido decreto

111 TEIXEIRA, Ricardo Dolacio. Limitação de juros nos contratos bancários. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6963 . Acessado dia 22.05.2008 112 TEIXEIRA, Ricardo Dolacio. Limitação de juros nos contratos bancários. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6963 . Acessado dia 22.05.2008. 113 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg. 118.

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dos arts. 3º, VI, IX, XII, 17 E 18 da Lei n. 4.595, de 31 de

dezembro de 1964.

Conforme o doutrinador acima citado, para a

questão em foco, na década de 90 o artigo que limita os juros nos

contratos bancários, é o artigo 192 da Carta Magna, onde afirma que

as taxas de juros reais são no máximo de 12% ao ano, considerando

crime de usura a infringência da regra limitadora. Após decisões dos

Tribunais, foi definido que compete privativamente ao Conselho

Monetário Nacional, conforme o artigo 4º, IX da Lei 4.595/64, limitar as

taxas e juros, e todo o tipo de remuneração proveniente de serviços

bancários ou financeiros114.

Corrobora Casado quando afirma que a

Constituição Federal do Brasil de 1988, no seu artigo 192 caput, vai de

acordo aos interesses previstos no artigo 4º da Lei 4.595/64, quando

afirma que: “Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo

diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República: IX- Limitar, sempre

que necessário, as taxas e juros, descontos comissões e qualquer outra

forma de remuneração de operações e serviços bancários ou

financeiros [...]”. E também vai de acordo com o objetivo da Lei 1.52/51

(Lei de Usura), que veda o exercício abusivo da onerosidade115.

114 DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios jurídicos bancários. Pg.120-121. 115 CASADO, Márco Mello. Proteção do consumidor de crédito bancário e financeiro. Pg.74-75.

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59

3.2.2. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS BANCÁRIOS.

Há muitas discussões judiciais quanto à prática de

capitalização de juros bancários, a respeito de sua legalidade e

aplicabilidade, Ramos e Ramos116 afirmam que:

A capitalização de juros, mesmo mensal, é admitida

somente em relação às cédulas de crédito rural (Dec. –

lei 167/67, art. 5º), às de crédito industrial (Dec. –lei 413/69,

art. 5º) e às de crédito comercial (Lei 6.480/80, art. 5º),

consoante orientação jurisprudencial predominante no

egrégio Superior Tribunal de Justiça, sendo possível a

capitalização mensal dos juros, quando pactuada, nos

financiamentos regidos pela dita legislação especial.

Corrobora o Superior Tribunal de Justiça117, na sua

decisão que segue:

JUROS. FINANCIAMENTO BANCÁRIO ATRAVÉS DE MERO

CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO. IMPOSSIBILIDAE DA

CAPITALIZAÇÃO MENSAL. O Superior Tribunal de Justiça,

após período inicial de divergência, adotou

entendimento permissivo da capitalização mensal dos

juros, mas isso em existindo expresso dispositivo de lei que

a admita, como para os créditos rurais o art. 5º do Dec.–

lei 167/67, para os créditos industriais o art. 5º do Dec. –lei

413/69, e para os créditos comerciais o art. 5º da Lei

6.480/80. A não ser assim, vige a Súmula 121 do Superior

Tribunal Federal , não revogada pela Súmula 596 do

116 RAMOS, Paulo Angelin. RAMOS, Mirian Montenegro Angelin. Juros nos contratos bancários. Pg. 108. 117 RAMOS, Paulo Angelin. RAMOS, Mirian Montenegro Angelin. Juros nos contratos bancários. Pg.105. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 28.509-8-RS, 4ª Turma. Ministro Athos Carneiro, j. em 15.12. 1992.

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60

mesmo pretório (RTJ, 124/616). Recurso especial não

conhecido.

Quanto à capitalização dos juros aos contratos

bancários, Casado118 tem a seguinte definição:

Vedava o Decreto 22.626/33, em seu art. 4º., a contagem

de juros sobre juros, não se compreendendo esta

proibição a acumulação de juros vencidos aos saldos

líquidos em conta corrente de ano a ano. Como

resultado da interpretação dos tribunais a este dispositivo,

foi editado o Enunciado 121 da Súmula do Supremo

Tribunal Federal, cujo texto é o seguinte:”É vedada a

capitalização de juros, ainda que expressamente

convencionada”. Combinando o texto da lei com o

enunciado da súmula temos que é vedada a

denominada capitalização composta dos juros. [...]

capitalização composta, ou seja, aquela onda a taxa de

juros incide sobre o capital inicial, acrescido dos juros

cumulados até o período anterior [...].

Para Pcinin a capitalização dos juros somente é

possível em casos previstos expressamente em lei, sendo assim é

permitida a cobrança de juros sobre juros nos seguintes casos: a) de

títulos de crédito à exportação (Lei nº 6.313/75); b) de crédito rural

(Decreto-lei nº 167/67); c) de crédito industrial (Decreto-lei nº 413/69); d)

de crédito comercial (Lei nº 6.840/80). Para os contratos de empréstimos

118 CASADO, Márcio Mello. Proteção do consumidor de crédito bancário e financeiro.

Pg. 123.

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61

bancários e abertura de conta corrente com cheque especial não

cabe este tipo de cobrança119.

Corrobora o Supremo Tribunal Federal120 na sua

Jurisprudência:

No caso de contrato de empréstimo contraído junto a

Instituição Financeira, a taxa de juros remuneratórios não

está sujeita ao limite estabelecido pela Lei de Usura

(Decreto n. 22.626/33). A capitalização dos juros somente

é permitida nos contratos previstos em lei, entre eles as

cédulas e notas de créditos rurais, industriais e comerciais,

mas não para o contrato de mútuo bancário.

Precedentes.

CONTRATO BANCÁRIO. TAXA DE JUROS. LIMITAÇÃO.

ABUSIVIDADE. NÃO-OCORRÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO.

CABIMENTO. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. COBRANÇA.

ADMISSIBILIDADE. CADASTRO DE INADIMPLENTES.

INSCRIÇÃO. POSSIBILIDADE.

I - Embora incidente o diploma consumerista nos

contratos bancários, os juros pactuados em limite superior

a 12% ao ano não são considerados abusivos, exceto

quando comprovado que discrepantes em relação à

taxa de mercado, após vencida a obrigação.

II - A capitalização mensal dos juros é admissível quando

pactuada e desde que haja legislação específica que a

autorize.

119 PCININ, Cláudia Goldner. Juros bancários: a legalidade das taxas de juros praticadas pelos bancos perante norma constitucional limitadora.

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=356&p=1. Acessado dia 20.04.2008. 120 ÁRIES, Elisângela Ferandez. A revisão judicial dos juros bancários sob a égide do código de defesa do consumidor. http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1797 (STJ, 3ª T., Resp 184.958/RS, Rel Min. Waldemar Zvieiter Dj de 01.02.99).

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III - Vencido o prazo para pagamento da dívida, admite-

se a cobrança de omissão de permanência. A taxa,

porém, será a média do mercado, apurada pelo Banco

Central do Brasil, desde que limitada ao percentual do

contrato, não se permitindo cumulação com juros

remuneratórios ou moratórios, correção monetária ou

multa contratual.

IV - Cumpridas as formalidades legais, é lícita a inscrição

do nome do devedor inadimplente nos cadastros de

proteção ao crédito. Recurso improvido121.

Há também o seguinte entendimento proferido por

Leite122:

O art. 591 do CC permite a capitalização anual dos juros

no mútuo de fins econômicos desde que expressamente

pactuada. Os juros mensais serão separados do capital e

nele inseridos apenas ao término de cada ano, quando

houver previsão de capitalização no contrato. Destarte,

caberá capitalização, para a inclusão dos juros vencidos

depois de um ano capital, rendendo-se juros no ano

subseqüente. Subentende-se anual o período para

qualquer norma especial que permita a capitalização

dos juros. De acordo com o STJ a capitalização de juros é

possível nos contratos de mútuo bancário desde que

celebrados a partir de 31 de março de 2000, a data da

publicação da Medida Provisória 1.963/2000, reeditada

sob n. 2.170-36/2001 cujo art. 5º autoriza o procedimento.

Excepcionalmente, a súmula 93 do TSF permite a

cobrança de juros sobre juros por períodos menores, pela

vontade dos contratantes quando da emissão de cédula 121 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial nº 2008/0024341-3. Ministro Sidnei Beneti. Data do Julgamento: 15/04/2008. Disponível em: http://www.stj.gov.br. Acessado em: 24.05.08. 122 LEITE, Gisele. Sobre Juros e contratos de empréstimo. http://jusvi.com/artigos28414/2. Acessado no dia 25/05/08.

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de crédito industrial ou comercial, respectivamente, Dec-

Lei 167/67, Dec-Lei 413/69, Lei 6.480/80 permitindo a

capitalização semestral.

O artigo 591 do Código Civil – atual, dispõe sobre a

aplicação dos juros para os contratos de empréstimo:

Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos,

presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de

redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o

art. 406, permitida a capitalização anual.

Então, entende-se que a capitalização dos juros nos

contratos de empréstimos pode ser realizada anualmente desde que

esteja expresso no contrato.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização desta pesquisa, chega-se a

algumas considerações acerca do tema proposto.

Todavia, a presente investigação bibliográfica e

jurisprudencial, é apenas o início de um estudo que deve ser

aprofundado, pois é notória a importância dos contratos de

empréstimos bancários, que frequentemente, vêm sendo utilizados por

todos os segmentos da sociedade.

Nesse sentido, a presente monografia não procurou

esgotar todo o tema relativo à aplicabilidade do código de defesa do

consumidor aos contratos de empréstimos bancários. No entanto,

afastaram-se alguns assuntos, outrora listados no corpo do trabalho,

porém, sem aprofundamentos, tais afastamentos não influenciavam

diretamente na construção a que se buscou.

Assim, dentre outros assuntos citados na pesquisa,

entendeu-se que contrato bancário é negócio jurídico formado por

uma pessoa jurídica, autorizada para exercer a função bancária, sem a

necessidade de ter a característica de banqueiro, com o gênero de

contrato de adesão.

Há diversos contratos bancários que fornecem

crédito ao consumidor, como: cartão de crédito; abertura de crédito;

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financiamento; descontos; antecipação, e o contrato foco desta

pesquisa que o contrato de empréstimos bancários.

Contrato de empréstimo bancário é definido como

negócio jurídico bancário, com a finalidade de fornecer crédito para

outrem, com prazo certo e determinado, com a cobrança de juros.

Para a formação dos contratos bancários, deve-se

obedecer a certos princípios previstos no artigo 4º e inciso I, que são: 1)

a boa – fé; 2)o equilíbrio entre as partes e 3) vulnerabilidade. Um

princípio está ligado ao outro, pois é necessário que haja boa-fé na

propositura do contrato para haver equilíbrio, com isso, não tornar o

consumidor vulnerável a abusividade que a instituição financeira pode

efetuar no ato da efetivação do contrato, não esquecendo também

de buscar a da igualdade entre as partes e o interesse do consumidor.

O contrato de empréstimo bancário é um contrato

de consumo, no qual a instituição financeira, ou seja, fornecedor,

dispõe o serviço para o consumidor e este o adquire, cumprindo neste

ato o que dispõe o artigo 3º §2º da Lei 8.078 de 1990. Sendo assim,

instituição financeira é sujeito da relação e o objeto é o crédito

fornecido ao consumidor, se enquadrando as exigências legais.

Diante deste fato, é possível verificar os requisitos

apresentados no Código de Defesa do Consumidor para a formação

de uma relação de consumo, ou seja, presentes o consumidor,

fornecedor e produto; ou serviço oferecido.

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Sendo assim, é notório que o Código de Defesa do

Consumidor pode e deve ser aplicado aos contratos de empréstimos

bancários, para afastar do consumidor a vulnerabilidade e aos abusos

possivelmente efetivados pelos bancos através dos termos contratuais e

juros exorbitantes.

Nota-se que os bancos, com a ADIN 2591, tentaram

impedir à aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, sendo

este a defesa dos interesses dos consumidores, que não tem o intuito de

inadimplir contra o banco, mas em certos casos se deparam com

contratos que não se extinguem, por causa das cláusulas abusivas

impostas pela instituição financeira.

Destaca-se, a capitalização dos juros aos contratos

de empréstimos bancários, onde as decisões do STJ e as correntes

doutrinárias afirmam que só haverá nos contratos previstos em lei, que

são: a) títulos de crédito à exportação (Lei nº 6.313/75); b) crédito rural

(Decreto-lei nº 167/67); c) crédito industrial (Decreto-lei nº 413/69); d) de

crédito comercial (Lei nº 6.840/80).

O artigo 591 do Código Civil, afirma que é cabível a

capitalização de juros para os contratos de empréstimos bancários,

desde que acordado entre as partes.

O STJ decidiu que para os contratos de empréstimos

bancários celebrados a partir do dia em que foi publicado a Medida

Provisória 1.963 de 31 de março de 2000, seria permitida a capitalização

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dos juros, e com reedição desta medida sob o nº. 2.170-36/2001 cujo art.

5º autoriza o procedimento.

Quanto as hipóteses relacionadas na introdução

deste trabalho, cabe destacar que estas confirmam-se em todos os

aspectos contidos nelas, vejamos:

1) É possível à aplicabilidade do CDC nos contratos

de empréstimos bancários? Sim. Conforme artigo 3º

§ 2º do Código de Defesa do Consumidor e 192 da

Constituição Federal.

2) É cabível a capitalização dos juros aos contratos

de empréstimos bancários? Sim. Conforme artigo 591

do Código Civil, desde que acordado entre as

partes.

Por fim, concluí-se que o tema relativo aos pontos

controvertidos acerca dos “Empréstimos Bancários a Luz do Código de

Defesa do Consumidor” é instigante, sendo importante para a

sociedade, por este motivo este tema não pode ser deixado de lado,

mas sim continuar com as pesquisas, pois as tendências atuais

demonstram que esta modalidade de contrato bancário só tende a

crescer por todos os seguimentos da sociedade (pessoa jurídica ou

física).

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ANEXO 1.

DECISÃO DA ADIN 2591

ADI 2591 / DF - DISTRITO FEDERAL

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO

Relator(a) p/ Acórdão: Min. EROS GRAU

Julgamento: 07/06/2006

Órgão Julgador: Tribunal Pleno

Publicação

DJ 29-09-2006 PP-00031

EMENT VOL-02249-02 PP-00142

Parte(s)

REQTE. : CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO SISTEMA FINANCEIRO - CONSIF

ADVDOS. : IVES GANDRA S. MARTINS E OUTROS

REQDO. : PRESIDENTE DA REPÚBLICA

REQDO. : CONGRESSO NACIONAL

Ementa

EMENTA: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 5o, XXXII, DA CB/88. ART.

170, V, DA CB/88. INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. SUJEIÇÃO DELAS AO CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR, EXCLUÍDAS DE SUA ABRANGÊNCIA A DEFINIÇÃO DO

CUSTO DAS OPERAÇÕES ATIVAS E A REMUNERAÇÃO DAS OPERAÇÕES PASSIVAS

PRATICADAS NA EXPLORAÇÃO DA INTERMEDIAÇÃO DE DINHEIRO NA

ECONOMIA [ART. 3º, § 2º, DO CDC]. MOEDA E TAXA DE JUROS. DEVER-PODER DO

BANCO CENTRAL DO BRASIL. SUJEIÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. 1. As instituições

financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas

veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor. 2. "Consumidor", para os

efeitos do Código de Defesa do Consumidor, é toda pessoa física ou jurídica

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que utiliza, como destinatário final, atividade bancária, financeira e de crédito.

3. O preceito veiculado pelo art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor

deve ser interpretado em coerência com a Constituição, o que importa em

que o custo das operações ativas e a remuneração das operações passivas

praticadas por instituições financeiras na exploração da intermediação de

dinheiro na economia estejam excluídas da sua abrangência. 4. Ao Conselho

Monetário Nacional incumbe a fixação, desde a perspectiva

macroeconômica, da taxa base de juros praticável no mercado financeiro. 5.

O Banco Central do Brasil está vinculado pelo dever-poder de fiscalizar as

instituições financeiras, em especial na estipulação contratual das taxas de

juros por elas praticadas no desempenho da intermediação de dinheiro na

economia. 6. Ação direta julgada improcedente, afastando-se a exegese que

submete às normas do Código de Defesa do Consumidor [Lei n. 8.078/90] a

definição do custo das operações ativas e da remuneração das operações

passivas praticadas por instituições financeiras no desempenho da

intermediação de dinheiro na economia, sem prejuízo do controle, pelo Banco

Central do Brasil, e do controle e revisão, pelo Poder Judiciário, nos termos do

disposto no Código Civil, em cada caso, de eventual abusividade,

onerosidade excessiva ou outras distorções na composição contratual da taxa

de juros. ART. 192, DA CB/88. NORMA-OBJETIVO. EXIGÊNCIA DE LEI

COMPLEMENTAR EXCLUSIVAMENTE PARA A REGULAMENTAÇÃO DO SISTEMA

FINANCEIRO. 7. O preceito veiculado pelo art. 192 da Constituição do Brasil

consubstancia norma-objetivo que estabelece os fins a serem perseguidos

pelo sistema financeiro nacional, a promoção do desenvolvimento equilibrado

do País e a realização dos interesses da coletividade. 8. A exigência de lei

complementar veiculada pelo art. 192 da Constituição abrange

exclusivamente a regulamentação da estrutura do sistema financeiro.

CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL. ART. 4º, VIII, DA LEI N. 4.595/64.

CAPACIDADE NORMATIVA ATINENTE À CONSTITUIÇÃO, FUNCIONAMENTO E

FISCALIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. ILEGALIDADE DE RESOLUÇÕES

QUE EXCEDEM ESSA MATÉRIA. 9. O Conselho Monetário Nacional é titular de

capacidade normativa --- a chamada capacidade normativa de conjuntura -

-- no exercício da qual lhe incumbe regular, além da constituição e

fiscalização, o funcionamento das instituições financeiras, isto é, o

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desempenho de suas atividades no plano do sistema financeiro. 10. Tudo o

quanto exceda esse desempenho não pode ser objeto de regulação por ato

normativo produzido pelo Conselho Monetário Nacional. 11. A produção de

atos normativos pelo Conselho Monetário Nacional, quando não respeitem ao

funcionamento das instituições financeiras, é abusiva, consubstanciando

afronta à legalidade.

Decisão : Após o voto do Senhor Ministro Carlos Velloso, Relator, emprestando

ao § 2º do artigo 3º da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, interpretação

conforme a Carta da República, para excluir da incidência a taxa dos juros

reais nas operações bancárias, ou a sua fixação em 12% (doze por cento) ao

ano, e do voto do Senhor Ministro Néri da Silveira, julgando improcedente o

pedido formulado na inicial, solicitou vista o Senhor Ministro Nelson Jobim.

Falaram, pela Confederação Nacional do Sistema Financeiro - CONSIF, o

Professor Ives Gandra da Silva Martins, e, pela Advocacia-Geral da União, o Dr.

Walter do Carmo Barletta. Presidência do Senhor Ministro Marco Aurélio.

Plenário, 17.4.2002.

Decisão: Renovado o pedido de vista do Senhor Ministro Nelson Jobim,

justificadamente, nos termos do § 1º do artigo 1º da Resolução nº 278, de 15

de dezembro de 2003. Presidência do Senhor Ministro Maurício Corrêa.

Plenário, 28.04.2004.

Decisão: Preliminarmente, o Tribunal, por unanimidade, indeferiu o

requerimento do IDEC-Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Ausente,

justificadamente, nesta preliminar, o Senhor Ministro Celso de Mello. O Tribunal,

por maioria, entendeu não estar prejudicada a ação, vencidos os Senhores

Ministros Sepúlveda Pertence, Eros Grau e Carlos Britto. Após o voto do Senhor

Ministro Nelson Jobim (Presidente), que acompanhava o voto do relator pela

procedência parcial da ação, para dar interpretação conforme a

Constituição, e do voto do Senhor Ministro Néri da Silveira, que a julgava

improcedente, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Eros Grau. Ausente,

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justificadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Plenário,

22.02.2006.

Decisão: Após o voto-vista do Senhor Ministro Eros Grau, que julgava

improcedente a ação, no que foi acompanhado pelos Senhores Ministros

Joaquim Barbosa, Carlos Britto e Sepúlveda Pertence, este último em

antecipação, pediu vista dos autos o Senhor Ministro Cezar Peluso. Não

participa do julgamento o Senhor Ministro Ricardo Lewandowski por suceder

ao Senhor Ministro Carlos Velloso que já proferiu voto. Ausente,

justificadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Gilmar Mendes.

Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie. Plenário, 04.05.2006.

Decisão: Prosseguindo no julgamento, o Tribunal, por maioria, julgou

improcedente a ação direta, vencido parcialmente o Senhor Ministro

Carlos Velloso (Relator), no que foi acompanhado pelo Senhor Ministro

Nelson Jobim. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Redigirá o

acórdão o Senhor Ministro Eros Grau. Ausente, justificadamente, neste

julgamento, o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Não participou da

votação o Senhor Ministro Ricardo Lewandowski por suceder ao Senhor

Ministro Carlos Velloso, Relator do presente feito. Plenário, 07.06.2006.