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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR - CES IV IARA TORQUATO NIÑO CONHECIMENTOS, ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE DOCENTES DE ENFERMAGEM EM RELAÇÃO À FITOTERAPIA Biguaçu (SC) 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR - CES IV

IARA TORQUATO NIÑO

CONHECIMENTOS, ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE DOCENTE S DE

ENFERMAGEM EM RELAÇÃO À FITOTERAPIA

Biguaçu (SC)

2007

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IARA TORQUATO NIÑO

CONHECIMENTOS, ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE DOCENTE S DE

ENFERMAGEM EM RELAÇÃO À FITOTERAPIA

Monografia apresentada como requisito parcial para a

conclusão do curso de Graduação em Enfermagem da

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências da Saúde,

Campus Biguaçu.

Orientadora: Enfª. Profª. M.Sc. Teresa Cristina Gaio.

Biguaçu (SC)

2007

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CONHECIMENTOS, ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE DOCENTE S DE

ENFERMAGEM EM RELAÇÃO À FITOTERAPIA

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Enfª. Prof. M.Sc. Teresa Cristina Gaio

_____________________________________

Enfª. Prof. M.Sc. Maria Ligia dos Reis Bellaguarda

_____________________________________

Enfª. Prof. M.Sc. Maria Catarina da Rosa

Biguaçu (SC)

2007

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AGRADECIMENTOS

A Deus, nosso Criador, por iluminar meu caminho e me dar forças para seguir sempre em frente.

À minha mãe, cuja presença sinto hoje e sempre, porque foi o alicerce da minha vida.

Ao meu pai, quem despertou em mim o desejo de conhecer mais sobre os benefícios das plantas

medicinais.

Ao meu marido, amigo fiel e companheiro em todos os momentos de minha vida, obrigada pelo

incentivo e ajuda neste trabalho.

Aos meus filhos, David Andrés, Laura Letícia e Luisa, obrigada pelo amor e por compreender as

minhas ausências quando precisei me dedicar aos estudos.

À minha querida orientadora, por me ter valorizado como aluna, por me proporcionar liberdade

de criação e confiar no meu trabalho. Foi muito bom tê-la como orientadora e poder considerá-la

uma amiga.

À professora Catarina da Rosa, agradeço sua participação em minha banca. Não poderia deixar

de convidá-la, porque ela foi muito importante em minha vida acadêmica. Não esqueci os

momentos bons que passamos, quando das visitas domiciliares que realizamos.

À professora Lígia Bella Guarda, agradeço pela sua amizade e contribuição como membro da

banca. Também sua valiosa contribuição na coleta de dados deste trabalho.

Em fim, às professoras do curso de enfermagem, quero agradecer de coração o incentivo, carinho

e respeito que sempre me dispensaram.

Aos meus amigos do curso de enfermagem, Ana Carolina, Diego, Iracema, Janete, Rose,

Luciana, Marília, Roberta e Vanessa, obrigada pelo companheirismo, pelos momentos bons que

passamos juntos.

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Aos meus amigos da Vigilância Sanitária, pelo incentivo e amizade, me encorajando a prosseguir

na busca do meu ideal.

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CONHECIMENTOS, ATITUDES E COMPORTAMENTOS DE DOCENTE S DE

ENFERMAGEM EM RELAÇÃO À FITOTERAPIA

Resumo: No Brasil, as doenças são geralmente tratadas mediante alopatia, cabendo um pequeno

espaço à fitoterapia. Os motivos para isso são vários e surgiram, particularmente, a partir da

década de 1940: a opção das indústrias farmacêuticas pela produção de fármacos sintéticos; a

perda da capacidade, por parte dos médicos, em prescrever remédios manipulados a partir de

substâncias encontradas nas plantas. Assim como no Brasil, em outros lugares do mundo algumas

universidades estão envolvidas não somente com o ensino, mas também com a pesquisa e

desenvolvimento de recursos terapêuticos. Em função disso, o presente trabalho teve como

objetivo fazer uma avaliação dos conhecimentos, atitudes e comportamentos dos docentes de

Enfermagem da Univali em Biguaçu-SC, de forma a permitir um diagnóstico que permita definir

as necessidades e traçar estratégias de ação para criar as condições que consolidem a fitoterapia

nas áreas de ensino, pesquisa e extensão na universidade. Para fazer a coleta de dados foram

distribuídos questionários semi-estruturados a todos os 44 docentes do curso de Enfermagem da

Univali. A análise das respostas permitiu verificar que, embora os docentes tenham experiência

profissional bastante longa fora do magistério e moderada no ensino de enfermagem, carecem de

formação específica e experiência em fitoterapia. Em geral as percepções dos docentes estão

acordes com a realidade, quanto às características dos fitoterápicos e suas potencialidades.

Entretanto, se percebe que eles atribuem pouca importância ao ensino e pesquisa deste método

terapêutico, na contramão daquela que recebe há décadas em paises desenvolvidos e, mais

recentemente, por indústrias farmacêuticas multinacionais, que vêem na fitoterapia um negócio

lucrativo. O Brasil poderia ter acesso a essa riqueza se aproveitasse a sua biodiversidade, o saber

popular acerca das plantas e a sua infra-estrutura de pesquisa.

Palavras-chaves: plantas medicinais; ensino de enfermagem; conhecimentos, atitudes e prática

em saúde; etnofarmacologia.

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KNOWLEDGE, ATTITUDES AND BEHAVIORS OF NURSING TEACH ERS IN

RELATION TO PHYTOTHERAPY

Abstract: In Brazil, the illnesses generally are treated by means of allopathy and to a much lesser

extent by phytotherapy. The reasons for this appeared since the decade of 1940 and are various,

among them: the option of pharmaceutical companies for the production of synthetic drugs; the

loss of the capacity by medical doctors in prescribing remedies manipulated from substances

found in plants. As in Brazil, in other places of the world some universities are involved with

research and development of therapeutical resources. Because of this, the present work had as

objective to make an evaluation of the knowledge, attitudes and behaviors of nursing teachers at

Univali University in Santa Catarina, Brazil, in order to make a diagnosis that allows to

determine the needs and to trace strategic actions to create the conditions that consolidate

phytotherapy as an education and research activity in the university.To collect the data from 44

teachers of the Nursing Course in Univali, there were distributed semi-structured questionnaires

to all of them. Through the analysis of the answers it was possible to verify that, even the

teachers had a long professional experience and moderate teaching experience, they lack of

specific formation in phytotherapy. In general the perceptions of the teachers about phytotherapy

characteristics and potentialities reflect the reality. However, it was noticed that they give little

importance to research and education on phytotherapy, different from the importance that it has

received in developed countries on the last decades, particularly from pharmaceutical

multinational companies that consider phytotherapy a lucrative business. Brazil could have

access to that wealth if it takes advantage of its biodiversity, popular knowledge about plants and

research infrastructure.

Keywords: medicinal plants; nursing education; knowledge, attitudes and practices in health;

etnopharmacology.

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LISTA DE FIGURAS

Página

Figura 3.1 Categorias terapêuticas de fitomedicamentos na Europa.................................

Figura 6.1 Tempo de trabalho no Magistério.....................................................................

Figura 6.2 Tempo de trabalho fora do Magistério.............................................................

Figura 6.3 “Essa Portaria é benéfica, pois permitirá um maior acesso dos usuários a

outros métodos terapêuticos”....................................................................................

Figura 6.4 “A mesma Portaria não deveria ter colocado no mesmo leque terapias

alternativas tão diferentes”........................................................................................

Figura 6.5 “Essa Portaria não vai mudar substancialmente a realidade da saúde no

Brasil”.......................................................................................................................

Figura 6.6 “Para ampliar o uso dos fitoterápicos deveria ser feita uma divulgação

maior”........................................................................................................................

Figura 6.7 “A fitoterapia tem muito menos fundamentação científica que a alopatia”.....

Figura 6.8 “Os remédios fitoterápicos são de uso mais seguro, pois tem menos efeitos

colaterais que os alopáticos”.....................................................................................

Figura 6.9 “Muitos remédios alopáticos tem sido desenvolvidos a partir do estudo das

plantas medicinais”...................................................................................................

Figura 6.10 “O uso de plantas medicinais tem que ser melhor aproveitado no Brasil,

pois este possui grande biodiversidade”...................................................................

Figura 6.11 “É possível sintetizar drogas alopáticas mais poderosas que as

fitoterápicas”.............................................................................................................

Figura 6.12 “Com a estrutura de pesquisa atualmente existente no Brasil é possível

desenvolver remédios fitoterápicos”.........................................................................

Figura 6.13-“Na situação atual do Brasil, o desenvolvimento de remédios fitoterápicos

depende mais de ações do governo do que da iniciativa privada”............................

Figura 6.14 “Para o desenvolvimento de fitoterápicos é importante utilizar como base a

sabedoria popular”..................................................................................................

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Figura 6.15 “Na sabedoria popular em relação às propriedades e aplicações das plantas

há mais conceitos errados do que certos”.................................................................

Figura 6.16 “As empresas farmacêuticas (a nível mundial) investirão cada vez mais

recursos no desenvolvimento de fitoterápicos”........................................................

Figura 6.17 Uso pessoal da fitoterapia (no próprio respondente)......................................

Figura 6.18 Quanto o respondente indica a fitoterapia para sua família...........................

Figura 6.19 Quanto o respondente indica a fitoterapia para os seus alunos......................

Figura 6.20 Quanto o respondente indica a fitoterapia para seus pacientes (em caso de

tê-los)........................................................................................................................

Figura 6.21 Grau de uso da fitoterapia em países desenvolvidos......................................

Figura 6.22 Grau de uso da fitoterapia em países subdesenvolvidos................................

Figura 6.23 Grau de uso da fitoterapia no Brasil para tratamento de doenças crônicas....

Figura 6.24 Grau de uso da fitoterapia no Brasil para tratamento de doenças agudas......

Figura 6.25 Custo de desenvolvimento de novos remédios fitoterápicos (comparado

com o dos alopáticos)................................................................................................

Figura 6.26 Custo dos fitoterápicos para o usuário............................................................

Figura 6.27 Facilidade de estudar efeitos colaterais produzidos pelos fitoterápicos.........

Figura 6.28 Grau de toxicidade dos fitoterápicos..............................................................

Figura 6.29 Flexibilidade na dosagem dos fitoterápicos...................................................

Figura 6.30 Grau de divulgação para o usuário das indicações, posologia e contra-

indicações..................................................................................................................

Figura 6.31 Facilidade para promover o uso ampliado dos fitoterápicos por parte da

população de baixa renda..........................................................................................

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LISTA DE TABELAS Página Tabela 3.1 Espécies de plantas medicinais registradas nas farmacopéias e número total

de espécies utilizadas em alguns países.....................................................................

Tabela 3.2 Os doze países maiores exportadores de plantas medicinais............................

Tabela 3.3 Preço médio pago nos mercados de Nova York e Berlim por algumas

plantas medicinais.....................................................................................................

Tabela 3.4–Práticas Integrativas e Complementares utilizadas nos municípios e estados

brasileiros em 2006....................................................................................................

Tabela 6.1 Perfil dos respondentes.....................................................................................

Tabela 6.2 Áreas de atuação fora do magistério.................................................................

Tabela 6.3 Nível de formação dos respondentes................................................................

Tabela 6.4 Área do curso de mestrado (concluído ou em andamento)..............................

Tabela 6.5 Cursos de especialização realizados.................................................................

Tabela 6.6 Relação entre as categorias e seus correspondentes valores numéricos...........

Tabela 6.7 Categorias das respostas sobre custo do fitoterápico em relação ao alopático.

Tabela 6.8– Razões para acreditar que o uso dos fitoterápicos deveria ser intensificado..

Tabela 6.9 Formas propostas com o objetivo de intensificar o uso dos fitoterápicos........

Tabela 6.10 – Razões para incentivar o ensino da fitoterapia............................................

Tabela 6.11 Medidas consideradas mais eficazes para melhorar a saúde da população....

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABIFINA- Associação Brasileira da Indústria de Química Fina

ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CBA- Centro de Biotecnologia da Amazônia

CDB- Convenção sobre a Diversidade Biológica

CEME- Central de Medicamentos- CEME

COFEN- Conselho Federal de Enfermagem

CRM- Conselho Regional de Medicina

DSHEA- Dietary Suplements Health and Education Act

ESCOP- European Scientific Cooperative for Phytotherapy

EUA- Estados Unidos da América

FDA- Food and Drug Administration

IQA- Instituto de Química Agrícola

MT/MCA- Medicina Tradicional e Medicina Complementar/Alternativa

NBEs- New Biological Entities

NCEs- New Chemical Entities

OMPI- Organização Mundial da Propriedade Intelectual

OMS- Organização Mundial de Saúde

ONG- Organização Não Governamental

P&D- Pesquisa e Desenvolvimento

PNPIC- Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares

RENAME- Relação Nacional de Medicamentos Essenciais

SUS- Sistema Único de Saúde

TACs- Terapias Alternativas e Complementares

TRIPs- Trade-related Intellectual Property Rights

UE- União Européia

UFF- Universidade Federal Fluminense

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SUMÁRIO Página

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1

2 OBJETIVOS .................................................................................................................. 3

3 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................... 3.1 Histórico da fitoterapia e da farmacologia ............................................................ 3.2 Uso da Fitoterapia nos tempos modernos .............................................................

3.2.1 Uso da fitoterapia na Europa ........................................................................ 3.2.2 Uso da fitoterapia nos EUA ......................................................................... 3.2.3 Uso da fitoterapia no Brasil ......................................................................... 3.2.4 Uso da fitoterapia em países do oriente .......................................................

3.3 Características dos produtos fitoterápicos ............................................................ 3.3.1 Características farmacológicas e clínicas .................................................... 3.3.2 Controle de Qualidade .................................................................................

3.4 Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Fitoterápicos ...................................... 3.4.1 Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil ........................................................ 3.4.2 Fitoterápicos desenvolvidos no Brasil ......................................................... 3.4.2 Biodiversidade e Sustentabilidade ............................................................... 3.4.3 Etnobotânica e Bioprospeção ...................................................................... 3.4.3 Leis de patentes em Fitoterapia ...................................................................

3.5 Políticas Públicas relacionadas ao Uso da Fitoterapia ......................................... 3.5.1 Políticas Públicas na Europa ....................................................................... 3.5.2 Políticas Públicas nos EUA ......................................................................... 3.5.3 Políticas Públicas no Brasil .........................................................................

3.6 Formação dos profissionais de saúde em fitoterapia e TACs ............................... 3.6.1 Formação e atitudes dos profissionais no Brasil .........................................

3.7 Fontes de informação disponíveis sobre Fitoterapia ............................................ 3.8 Pesquisa em Enfermagem ....................................................................................

3.8.1 Método de coleta de dados .......................................................................... 3.8.2 Pré-teste ....................................................................................................... 3.8.3 Entrevistas versus questionários .................................................................. 3.8.4 Escalas ......................................................................................................... 3.8.5 Vantagens e desvantagens das escalas ........................................................ 3.8.6 Ética na pesquisa em enfermagem .............................................................. 3.8.7 Consentimento autorizado ...........................................................................

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4 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 41

5 METODOLOGIA ......................................................................................................... 46

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 6.1 Considerações gerais sobre as respostas. .............................................................. 6.2 Perfil pessoal e profissional dos respondentes ...................................................... 6.3 Respostas às questões 1.1 a 1.3 ............................................................................

49 49 50 54

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6.4 Respostas às questões 1.4 a 1.14 .......................................................................... 6.5 Respostas às questões 2.1 a 2.4 ............................................................................ 6.6 Respostas às questões 2.5 a 2.8 ............................................................................ 6.7 Respostas às questões 3.1 a 3.6 ............................................................................ 6.8 Respostas à questão No. 4. ................................................................................... 6.9 Respostas à questão No. 5. ................................................................................... 6.10 Respostas à questão No. 6 .................................................................................

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7 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 7.1 Relativas à Política de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no

SUS......................................................................................................................... 7.2 Quanto a aspetos gerais da fitoterapia em relação à alopatia: .............................. 7.3 Quanto à freqüência de uso, indicação e prescrição da fitoterapia por parte dos

docentes................................................................................................................. 7.4 Percepção sobre o nível de uso dos fitoterápicos no Brasil e no mundo.............. 7.5 Sobre algumas características específicas dos fitoterápicos em relação aos

alopáticos............................................................................................................... 7.6 O uso dos fitoterápicos deveria ser intensificado? .............................................. 7.7 O ensino da fitoterapia deveria ser incentivado nas faculdades? ......................... 7.8 Itens que os docentes consideram que dariam maior retorno do investimento, em

termos de melhoria da saúde da população...........................................................

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8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 94

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 96

10 APÊNDICES ............................................................................................................... Apêndice A- Questionário................................................................................................. Apêndice B- Termo de Consentimento..............................................................................

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1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da presença do homem na Terra, o mesmo teve a preocupação de se adaptar

ao meio ambiente. Da natureza tirava o seu sustento e os meios para curar suas doenças. O

conhecimento que foi adquirindo empiricamente passou por gerações até os nossos dias.

Entretanto, só foi no século XVIII que o uso de plantas como meio de cura foi objeto de estudo

científico, o que foi o cerne da moderna farmacologia.

Os medicamentos foram desenvolvidos como substitutos sintéticos dos princípios ativos

encontrados nas plantas. Algumas vantagens foram obtidas com isso, como a possibilidade de

tratar de forma mais eficaz doenças agudas de maior gravidade. Entretanto, são bastante

conhecidos e documentados os efeitos colaterais e contra indicações que as diversas drogas

alopáticas apresentam.

As plantas continuaram até nossos dias a serem usadas como auto-medicação na forma de

infusões, emplastos e chás, preparados e dosados conforme a sabedoria popular recomenda.

Também existem os remédios fitoterápicos, disponíveis em menor proporção comparados com os

alopáticos. Entretanto, de forma geral, tais fitoterápicos são usados exclusivamente para o

tratamento de doenças crônicas ou de doenças agudas de menor gravidade.

Existe atualmente um retorno ao uso intensivo das plantas medicinais, em várias vertentes. Com

os modernos métodos nos campos da biologia e da química, podem ser estudadas de forma mais

eficiente as propriedades das plantas, para aproveitar as informações obtidas no desenvolvimento

de drogas alopáticas mais eficazes e seguras. Por outro lado, começa a aumentar a

disponibilidade de fitoterápicos, produzidos por grandes empresas farmacêuticas, com maiores

recursos financeiros para investir em pesquisa e desenvolvimento.

Os órgãos governamentais reguladores do exercício da medicina também têm dado o aval ao uso

dos fitoterápicos. Por exemplo, mediante a Portaria No. 971 de 3/05/2006, o Ministério da Saúde

aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Entretanto, o uso

de fitoterápicos no Brasil ainda é pequeno quando comparado aos alopáticos, embora seja uma

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alternativa de grande potencial para ampliar o acesso da população à medicina, haja vista

características do pais como sua rica biodiversidade, o saber popular e a sua infra-estrutura de

pesquisa.

Os motivos dessa situação são vários, dentre eles: a) não foram criados os meios para garantir a

qualidade, segurança e eficácia dos fitoterápicos, com o aval dos órgãos de vigilância sanitária; b)

ainda é escassa a quantidade de monografias sobre plantas brasileiras, onde se descrevam suas

características, indicações, posologia e efeitos colaterais; c) falta incentivo para a formação e

educação permanente dos profissionais de saúde em fitoterapia, particularmente em cursos de

pós-graduação; d) faltam programas governamentais de financiamento para que a pesquisa em

fitoterapia− em sua grande maioria realizada nas universidades− se transforme em inovação

tecnológica aplicada na indústria;

Em relação aos dois últimos aspectos surge a seguinte questão norteadora desta pesquisa: “quais

são os conhecimentos, atitudes e comportamentos dos profissionais de ensino da saúde (neste

caso, os docentes do Curso de Enfermagem da Univali- Biguaçu) em relação ao uso da fitoterapia

como método terapêutico”. Esse diagnóstico dará subsídios para planejar e programar ações na

universidade que visem devolver à fitoterapia o importante papel que outrora teve na história da

medicina.

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2 OBJETIVOS

O objetivo geral é avaliar os conhecimentos, atitudes e comportamentos dos docentes do Curso

de Enfermagem da Univali- Biguaçu em relação ao uso dos fitoterápicos como método

terapêutico.

Os objetivos específicos foram:

- Avaliar o conhecimento científico dos docentes em relação às plantas medicinais.

- Conhecer o interesse dos docentes quanto ao uso terapêutico das plantas medicinais.

- Estabelecer a percepção e atitudes que os docentes têm em relação à fitoterapia.

- Verificar como os docentes utilizam para sí próprios e indicam o uso da fitoterapia na

família, na docência e no local de trabalho.

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3 REVISÃO DA LITERATURA

A seguir serão apresentados alguns aspectos teóricos que servirão de base para o planejamento da

metodologia e a análise dos resultados obtidos no presente trabalho.

3.1 Histórico da fitoterapia1 e da farmacologia

O tratamento de doenças com plantas medicinais está presente em várias culturas ao redor do

mundo. As mais antigas que se têm noticia foram achadas em túmulos pré-históricos datando de

60 mil anos atrás (VILLAS BÕAS, 2004).

Na Mesopotâmia, em tábuas que datam de 3000 a.C, foram encontradas diversas receitas e

referências a vários medicamentos de ervas, entre elas: heléboro, meimendor, mandrágora,

papoula, cânhamo, canela, salgueiro, figo, tâmara e mais outras 2350 plantas medicinais

(FERRO, 2006).

Na China, durante o império de Fu-Hsi (2900 a.C.), foram iniciados os estudos sobre plantas

medicinais2 e acupuntura. Na época de Shen Nung (2000 a.C), entre as 365 drogas mais usadas

estavam: podófilo, ruibarbo, ginseng, estramônio, cinamono e efedra (FERRO, 2006).

No século I, Dioscórides, famoso médico de Roma descreveu perto de 500 plantas medicinais,

bem como substâncias medicamentosas de origem animal e mineral, no seu tratado Da Matéria

Médica (FERRO, 2006).

Teofrasto (370-286 a.C.), chamado o pai da botânica deveria, mais apropriadamente, ser chamado

o pai da Farmacognosia. Filósofo e cientista, sucessor de Aristóteles na direção da escola de

1 A fitoterapia é a ciência que estuda a utilização dos produtos de origem vegetal com finalidade terapêutica, seja para prevenir, para atenuar ou para curar um estado patológico. 2 A OMS em 1978 estabeleceu o seguinte conceito para planta medicinal: “Planta medicinal é qualquer planta que, quando administrada sob alguma forma e por uma via no organismo animal, pode desencadear um efeito biológico” (CARVALHO, 2005).

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Atenas. Determinou aspectos farmacêuticos e farmacológicos da mirra, do incenso, a cássia, do

mentratro, da beladona e do timo (FERRO, 2006).

A farmácia—a botica—é uma criação dos árabes e acredita-se que a primeira de todas existiu em

Bagdá. Entre os farmacêuticos, Avicena (980-1037) era o mais conhecido e famoso. Influenciado

pela obra de Galeno (130-201 d.C.), produziu o seu Cânone da Medicina− cinco volumes sobre a

medicina grega e romana (FERRO, 2006).

A partir do início do século XIX, os medicamentos de origem vegetal começaram a ser estudados

de forma científica. A primeira vez em que métodos químicos e analíticos foram usados para

extrair o princípio ativo de uma planta medicinal foi para o isolamento da morfina a partir do

ópio (1803-1806). Com isso tornou-se possível realizar estudos farmacológicos e toxicológicos

sobre os efeitos da morfina em animais e humanos (SCHULTZ et al, 2000).

Poucos anos depois, Pelletier e Caventou isolaram a estricnina (1818) e a quinina (1820). Em

1828 Wohler foi o primeiro a conseguir uma síntese orgânica, a da uréia (FERRO, 2006).

Em 1729 Cristopher Marshall foi pioneiro na instalação de um estabelecimento farmacêutico nos

EUA. A partir de 1820 foram instaladas as primeiras indústrias de ervas medicinais nesse país

(FERRO, 2006).

Durante a Segunda Grande Guerra, no clima de desenvolvimento de novas práticas terapêuticas e

com a pressão de resolver problemas urgentes, as experiências de Pasteur e Fleming fizeram com

que, rapidamente, as indústrias farmacêuticas desenvolvessem métodos de produção em massa de

substâncias antimicrobianas (originadas de vegetais inferiores). Esta foi a era dos antibióticos

(FERRO, 2006).

Com o advento da química moderna e da industrialização, os princípios ativos das plantas foram

isolados, refinados e sintetizados, objetivando uma maior eficácia do produto concentrado para

atender à demanda em aumento progressivo. Enquanto isso, a planta que proporcionou a

consecução do princípio ativo sintético acabaria, invariavelmente, no esquecimento. O exemplo

mais típico é da árvore conhecida como salsão-chorão (Salix alba), da qual se extraía o ácido

salicílico, princípio alopático mundialmente conhecido por sua comprovada ação analgésica e

vasodilatadora (SILVA JR, 2003). Entretanto, como apontam SCHULTZ et al (2000), a partir de

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uma perspectiva histórica, é incorreto classificar a fitoterapia como um ramo especial ou

alternativo da medicina. De fato, uma parte significativa de todos os medicamentos usados

atualmente é derivada, direta ou indiretamente, de princípios ativos que foram isolados de

plantas.

No Brasil, a história dos medicamentos se confunde com a dos fitoterápicos, uma vez que ambas

começaram a se organizar através das primeiras boticas que foram instaladas pelos jesuítas em

Salvador, Olinda, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e São Luis. Somente em 1640 as boticas

foram autorizadas como estabelecimento comercial. As formulações medicamentosas eram

produzidas a partir das informações dos compêndios e farmacopéias europeus. As farmacopéias

publicadas em Portugal no século 18 já traziam formulações utilizando plantas brasileiras

(VILLAS BÕAS, 2004).

3.2 Uso da Fitoterapia nos tempos modernos

As origens de todos os fármacos comercializados no mundo são as seguintes: sintéticos 60%,

plantas 20%, microrganismos 11%, minerais 5% e animais 4% (SILVA JR, 2003).

Um 78% das drogas antibacterianas e 60% dos medicamentos antitumorais são derivados de

produtos naturais. Como exemplo temos as substâncias isoladas da planta Pervinca

(Catharanthus roseus) utilizadas, atualmente, no tratamento da leucemia infantil (CRUZ, 2000).

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que cerca de 80% da população

mundial faz uso de algum tipo de erva buscando alívio para sintomas dolorosos ou desagradáveis

(FERRO, 2006).

3.2.1 Uso da fitoterapia na Europa

A Europa responde por aproximadamente metade das vendas registradas de fitoterápicos no

mundo. Naquele continente, os medicamentos originados de plantas distribuem-se pelas

principais categorias terapêuticas conforme mostra a figura 3.1 (FERREIRA, 2005).

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Figura 3.1 Categorias terapêuticas de fitomedicamentos na Europa (FERREIRA, 2005).

A Alemanha é, de longe, o maior mercado mundial de fitoterápicos3, com vendas de US$ 3

bilhões, o que representa metade do mercado da União Européia (UE), com um consumo anual

por habitante de US$ 39. A França, com 26,5% do mercado da UE, vem em segundo lugar

(FERREIRA, 2005).

Em 1997 os fitomedicamentos compreendiam aproximadamente 5% de todas as prescrições do

sistema de saúde na Alemanha. Dois terços das prescrições se referiam a produtos elaborados

com uma única planta medicinal. Apenas cinco plantas medicinais eram responsáveis por 60%

dessas prescrições. Isso é surpreendente se considerarmos que a Comissão E da antiga Agência

Federal de Saúde Alemã avaliou o uso terapêutico de cerca de 400 plantas medicinais (no período

de 1982 a 1994) e recomendou aproximadamente 300 delas (SCHULTZ et al, 2000).

3.2.2 Uso da fitoterapia nos EUA

Entre as vinte drogas mais vendidas nos EUA em 1988, apenas sete não derivavam diretamente

de produtos naturais. Ainda assim, estes participaram em algum momento da história

farmacológica dessas sete drogas (SCHULTZ et al, 2000).

3 Fitoterápicos são medicamentos originados exclusivamente de material botânico integral ou seus extratos usados com o propósito de tratamento médico. Fitofármacos são substâncias medicamentosas isoladas de extratos de plantas, como a rutina e a pilocarpina (FERREIRA et al, 1998).

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Entretanto, como afirma FERREIRA (2005), nos EUA a fitoterapia é vista como uma medicina

complementar, o qual tem como razões raízes históricas a desinformação por parte dos médicos.

As grandes multinacionais farmacêuticas vêm adquirindo empresas produtoras de fitoterápicos.

3.2.3 Uso da fitoterapia no Brasil

O Brasil representa o décimo mercado farmacêutico mundial e importa fármacos e medicamentos

principalmente da Alemanha, Reino Unido e EUA. A balança comercial brasileira poderia ser

mais equilibrada se exportássemos, justamente, os tipos de fitomedicamentos e insumos

destinados à sua produção para países que têm a fitoterapia como principal escolha.

Paradoxalmente, o Brasil importa quase 100% da matéria-prima utilizada na produção de

fitoterápicos (CRUZ, 2000).

Em 1994 as vendas de medicamentos em farmácia somaram US$ 3831 milhões, sendo que 5,5%

desse valor correspondiam a produtos contendo exclusivamente princípios ativos de origem

vegetal (FERREIRA, 2005).

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica, o consumo de fármacos sintéticos no

Brasil cresce cerca de 16% ao ano, enquanto que os fitoterápicos cresce cerca de 20% ao ano

(SILVA JR, 2003).

Cerca de 84% dos fármacos utilizados pelos brasileiros para a produção de medicamentos são

importados e 78% da produção brasileira tem origem em empresas multinacionais (SILVA JR,

2003).

Até a década de 1940, o país acompanhou o crescimento internacional da indústria farmacêutica,

com os laboratórios nacionais desenvolvendo e produzindo uma linha própria de produtos com

qualidade similar à dos demais países, centrando a maioria da produção de medicamentos nos

remédios populares derivados do reino vegetal (Lucchesi, apud FERNANDES, 2004). Entretanto,

iniciou-se, nas décadas seguintes, uma profunda dependência do Brasil em relação aos países de

industrialização mais avançada, caracterizando-se esse setor, no país, pela reprodução de

fórmulas medicamentosas já conhecidas (já que o Brasil não reconhecia o direito de patentes para

produtos farmacêuticos) e utilização de materiais importados para a produção de produtos

terapêuticos (FERNANDES, 2004).

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Essas mudanças no setor químico industrial redirecionaram, também, a formação de vários

profissionais da área médica ligados ao conhecimento, produção e utilização dos princípios

ativos, principalmente de origem vegetal, pois os medicamentos chegavam ao Brasil praticamente

prontos. A maioria desses profissionais passou a desconhecer a composição e os princípios de

manipulação do medicamento, pois bastava ter conhecimentos sobre a ação terapêutica do

composto. Passou-se a valorizar o propagandista, que, em geral, era um farmacêutico que

divulgava o medicamento através do conteúdo da bula e de folhetos de marketing. Os médicos,

em sua maioria, passaram a reconhecer o medicamento como um composto pronto, sendo

incapazes, pela própria formação, de compor uma fórmula medicamentosa, principalmente

quando se tratava de produtos naturais manipuláveis (FERNANDES, 2004).

3.2.4 Uso da fitoterapia em países do oriente

Os países do oriente, especialmente a China e a Índia, são considerados paradigmas mundiais na

área de fitoterapia, seja por tradição milenar, número de espécies utilizadas e pesquisas geradas.

Na Índia, onde 80% da população faz uso corrente das plantas medicinais, existem 6732

fitofarmácias. Entre as plantas mais pesquisadas e procuradas pela população destaca-se a

ipecacuanha (Psychotria ipecacuanha), de origem brasileira (SILVA JR, 2003).

3.3 Características dos produtos fitoterápicos

Além dos seus ingredientes ativos principais, os fitomedicamentos contêm componentes

secundários que podem modificar os efeitos dos ingredientes principais, por exemplo,

influenciando sua estabilidade ou biodisponibilidade (SCHULTZ et al, 2000).

Uma vez que mais de três quartos do peso seco da maioria das plantas medicinais consiste em

polímeros que formam a estrutura da planta, mais de 80% dos fitoterápicos atualmente em uso

são produzidos a partir de extratos. Relativamente poucos produtos são fabricados a partir de

sucos frescos das plantas ou de destilados (SCHULTZ et al, 2000).

3.3.1 Características farmacológicas e clínicas

Historicamente, as plantas medicinais foram objeto de estudo de uma área denominada

Farmacognosia− termo idealizado por Seydler em 1815 para designar um dos ramos da

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farmacologia que estuda as drogas ou bases medicamentosas de origem natural, que podem ser

utilizadas como matéria-prima no preparo de medicamentos (FERRO, 2006).

Segundo SCHULTZ et al (2000), quando consideramos que a história da fitoterapia atravessa

mais de 2000 anos, é razoável assumir que muitas das plantas medicinais usadas durante aquele

período não apenas têm ações específicas como também estão livres de efeitos colaterais

perigosos. Caso contrário, elas não teriam sido passadas adiante com tanta confiança através de

tantas épocas e culturas. Por outro lado, segundo esses mesmos autores, algumas plantas

apresentam efeitos tóxicos quando usadas acima de certa dosagem que, por vezes, é muito

limitada. Ao problema da dosagem vem se juntar a grande variação quantitativa e qualitativa que

ocorre no material vegetal não processado.

A maioria dos produtos da fitoterapia tradicional é elaborada a partir de diversas plantas

medicinais. Isso dificulta a sua avaliação de um modo científico, pois, com poucas exceções, não

é possível tirar conclusões sobre os efeitos aditivos ou potencializantes de seus constituintes

individuais com base em estudos clínicos comparativos (SCHULTZ et al, 2000).

A automedicação tem sido uma prática comum e pouco recomendável, tanto no uso de alopáticos

sintéticos como de plantas medicinais. Por serem consideradas produtos “naturais”, as espécies

medicinais tem sido utilizadas de forma abusiva e indiscriminada, apesar de que muitas delas são

desconhecidas nos aspectos botânico, fotoquímico e farmacológico. Mesmo algumas espécies

tradicionalmente utilizadas há centenas de anos com objetivo medicinal ou consumidas como

alimento podem ter efeito adverso no organismo, principalmente quando ingeridas em grande

quantidade e por tempo prolongado. Por isso algumas não devem ser utilizadas e outras, quando

utilizadas, devem sê-lo sob acompanhamento médico. Podem-se citar, como exemplo, os

seguintes efeitos (SILVA JR, 2003):

• Hepatotóxicas: confrei, cambará, sassafrás, flor-das-almas.

• Irritantes gastrintestinais: jurubeba, ipeca, caruru-de cacho, arnica.

• Neurotóxicas: trombeteira, erva-de-santa-maria, losna.

• Drásticas (que podem causar diarréias graves em altas doses): tajujá, ruibarbo, melão-de-são-caetano, sene.

• Dermotóxicas: arnica montana, folhas de figo, mama-de-cadela, cardo-mexicano, aveloz.

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• Fatais: espirradeira, mamona, flor-das-almas, babosa-de-pau, canforeira, aremone.

3.3.2 Controle de Qualidade

Esta é uma preocupação bastante antiga. Por exemplo, apesar da habilidade profissional e da

integridade dos farmacêuticos que atuavam nos EUA no século XIX, percebeu-se que raramente

se conseguia que duas preparações de remédios com princípios ativos de vegetais, embora

produzidas por processos idênticos, apresentassem a mesma intensidade de ação. Por isto, a partir

de 1879, Albert Brown Lyon começou a desenvolver métodos e processos (físicos, químicos,

biológicos, farmacológicos) visando a padronização de medicamentos de origem vegetal

(FERRO, 2006).

Para obter produtos fitoterápicos de qualidade, há que controlar a variação de concentração dos

princípios ativos, a qual é determinada por uma série de fatores, dentre eles: as características

genéticas, condições de cultivo (altitude, latitude, temperatura, luminosidade, solo, manejo

cultural), partes da planta utilizadas, época de colheita, métodos de secagem e armazenamento,

além de adulterações ou substituições (SILVA JR, 2003).

Quanto ao melhoramento genético, para citar um exemplo, sua aplicação ao guaco (Mikania

glomerata) e a artemísia (Artemisia annua) permitiram obter plantas com teores 5 vezes maiores

de cumarina e 10 vezes maiores de artemisina, respectivamente. Para se evitarem eventuais

segregações e perda de qualidade genética original, as cultivares de plantas medicinais e

aromáticas são obtidas a partir de linhagens estéreis e por técnicas de clonagem (SILVA JR,

2003).

Os principais itens de controle de qualidade aplicados quando da comercialização das plantas

medicinais são os seguintes (SILVA JR, 2003):

a) Exame macroscópico.

- Embalagem ou container.

- Características organolécticas (cor, textura, sabor e odor).

- Materiais estranhos: areia, pedra, fragmentos de insetos, poeira, excrementos e plantas

adulterantes.

b) Exame microscópico, visando confirmar a identidade da espécie da planta.

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c) Testes químicos, com o objetivo de qualificar e/ou quantificar os metabólitos secundários

responsáveis pela atividade da planta. As técnicas mais comuns baseiam-se na análise

cromatográfica.

d) Avaliação quantitativa do fotoquímico bioativo.

e) Determinação do teor de cinza, que permite avaliar o grau de contaminação das amostras

com resíduos de solo ou areia.

f) Detecção de radioatividade: resíduos de elemento radiativos (plutônio, césio 137,

estrôncio 90 e iodo 130), devido a procedimentos de esterilização microbiana de

plantas, a produtos intermediários e de embalagem, além da contaminação oriunda do

solo e da atmosfera.

g) Detecção de pesticidas (rodenticidas, herbicidas, inseticidas, fungicidas, nematicidas,

acaricidas e fumigantes).

h) Detecção de metais pesados (chumbo, arsênio, cádmio, cromo, mercúrio, níquel, tálio e

bário), produzidos, por exemplo, por resíduos industriais (líquidos, gasosos e sólidos).

i) Determinação microbiológica: para identificação e quantificação de fungos, bactérias

Gram negativas e enterobactérias.

j) Determinação da atividade hemolítica: algumas espécies contêm saponinas, as quais

podem lisar os eritrócitos.

k) Detecção de aflotoxinas B1, B2, G1 e G2.

3.4 Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Fitoterápicos

Nos anos recentes a indústria farmacêutica mundial tem sofrido intensa pressão por parte dos

governos dos países industrializados, preocupados com os custos de seus sistemas de saúde. Em

particular, os EUA, cujos gastos com saúde chegaram a 14% do PNB em 1994, vêm forçando

uma redução dos preços dos medicamentos (FERREIRA, 2005).

Soma-se a isto o aumento dos custos de inovação. O custo médio da pesquisa e desenvolvimento

(P&D) de um novo medicamento passou de US$ 1,5- 2,0 milhões no período 1956-1962 para em

torno de US$ 100 milhões em 1985, valor que no início da década de 90 teria mais do que

dobrado. As despesas em P&D como percentagem do faturamente passaram de algo como 10%

nos anos 60 e 70 para um valor acima de 15% nos anos 80 (FERREIRA, 2005).

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O efeito combinado dos gastos crescentes com pesquisa e desenvolvimento e a diminuição das

margens de lucro vêm estimulando as fusões e incorporações na indústria farmacêutica, a partir

da década de 80. Isso gera empresas gigantescas, com enorme capacidade de investimento em

P&D, tornando ainda mais difícil a participação nesse mercado de países como o Brasil

(FERREIRA, 2005).

A inovação depende de vários fatores, mas sem o apoio do Estado, na forma de políticas

explícitas, ela não ocorre. Em 1841, surgiu na Alemanha o Sistema Nacional de Economia

Política, através do qual se protegiam as novas indústrias, bem como adotava uma série de

providências voltadas para acelerar e tornar viável a industrialização e o crescimento econômico.

Com a preocupação principal de não ficar atrás da Inglaterra, o governo alemão desenvolveu um

sistema de ensino e aperfeiçoamento técnico considerado um dos melhores do mundo, que

permitiu superar à Inglaterra na competição das tecnologias e das inovações, sobre a premissa de

que não existem indústrias que não se relacionem com as ciências básicas (VILLAS BÕAS,

2004).

List, então ministro da economia, promoveu a importação de tecnologias necessárias ao seu

projeto, levando à Alemanha engenheiros e mecânicos britânicos, responsáveis pelas inovações,

chave na tecnologia de máquinas e ferramentas. Este fato possibilitou a construção de máquinas

de precisão para todas as indústrias alemãs (VILLAS BÕAS, 2004).

Pelo contrário, a ausência do Estado no processo de desenvolvimento deixa livre o caminho para

o capital numa concepção absolutamente liberal, o que eleva o risco da privatização da ciência,

tendo sérias conseqüências sociais, como acontece, por exemplo, com as doenças que não dão

lucro, atualmente denominadas “doenças negligenciadas”. A ciência perde assim sua

neutralidade, caso o Estado não amplie e garanta o investimento nas universidades (VILLAS

BÕAS, 2004).

Embora a química orgânica através da síntese conseguiu produzir muitas substancias bioativas e

as técnicas combinatórias expandiram o número de compostos disponíveis para teste, ainda

permanece relativamente alto o número de produtos naturais e seus derivados entre as drogas

mais vendidas no mundo e o interesse por esta fonte voltou a crescer com a expectativa de

diminuir os custos de P&D (VILLAS BÕAS, 2004).

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A percepção do método de “screening” (triagem) de extratos vegetais como ultrapassado− como

se julgava após a revolução provocada nos sistemas de P&D baseados na síntese orgânica, na

química combinatória, e, até mesmo, na genômica− vêm se revelando precipitada e decorre da

compreensão de que a biotecnologia não está em condições de competir com a natureza na

formulação de moléculas com atividade terapêutica (VILLAS BÕAS, 2004).

Assim sendo, nos últimos dois anos, a quantidade das chamadas novas entidades biológicas (do

inglês, new biological entities, NBEs) aumentou, estabelecendo uma proporção de um para três

em relação às novas entidades químicas (new chemical entities, NCEs). Além disso, o

aparecimento de uma nova droga de origem vegetal em 1999, a Arglabina, provocou grande

impacto na terapia efetiva de alguns tipos de câncer de difícil intervenção, assinalando a

importância de se resgatar a prospecção de moléculas de origem vegetal (VILLAS BÕAS, 2004).

3.4.1 Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil

O governo brasileiro no inicio do século 20 privilegiou o controle das doenças transmissíveis

através da criação e implementação de institutos de pesquisa e produção de imunoterápicos, se

afastando do desenvolvimento e da produção industrial de medicamentos, que deixaram de fazer

parte das políticas de saúde governamentais (VILLAS BÕAS, 2004).

Os centros de pesquisa se consolidaram a partir da década de 1960 e implementaram cursos de

pós-graduação com desenvolvimento de amplas linhas de investigação científica mantidas pelo

Estado. Enquanto isso, a indústria farmacêutica nacional, que poderia possibilitar a absorção de

parte desse conhecimento na produção de terapêuticos, foi, ao longo do século XX,

desestruturada e constituída por um conjunto de empresas multinacionais. Estas, implantando

uma linha de produtos sintéticos, elaborados originalmente fora do país, favoreceram o

desinteresse tanto pelo uso da terapêutica natural como pela produção nacional de insumos e

medicamentos de origem vegetal. Por causa disso, embora tenha havido até hoje crescimento

acentuado da pesquisa científica, este ocorreu desarticulado do setor produtivo farmacêutico

(FERNANDES, 2004).

O Brasil possui a maior base universitária e técnica das Américas, excluindo os EUA. Há uma

inegável capacitação científica nas áreas de química de produtos naturais e de farmacologia, que

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permite o desenvolvimento de fitofármacos. As outras áreas afins como medicina, botânica,

farmácia e engenharias, estão igualmente bem qualificadas e em número adequado. Por outro

lado, em função dos altos custos de desenvolvimento, quase sempre são as multinacionais as que

conseguem desenvolver novos produtos farmacêuticos. Muitas patentes que deram origem a

medicamentos hoje comercializados por empresas multinacionais tiveram origem em

universidades brasileiras, através de pesquisas financiadas pelo governo brasileiro (FERREIRA,

2005).

O Brasil é um dos poucos países que possui uma rede oficial de laboratórios farmacêuticos, cuja

principal finalidade é prover medicamentos ao SUS, nos três níveis de atenção. São 17

laboratórios ligados ao Ministério da Saúde, Forças Armadas, governos estaduais e

universidades. Estima-se que a produção desses laboratórios é responsável por,

aproximadamente, 75% das unidades dispensadas no âmbito do SUS, demonstrando, assim, o seu

papel relevante na política de saúde do País (CRUZ, 2000). A seguir são relatadas as experiências

na pesquisa em farmacologia de várias instituições governamentais.

a) Instituto de Química Agrícola- IQA

Atrelada inicialmente à química agrícola, a fitoquímica brasileira tem sua trajetória articulada ao

desenvolvimento do IQA, no período compreendido entre 1940 e 1960. Essa instituição foi

responsável tanto pela produção de pesquisa científica e introdução de novas técnicas, como pela

divulgação de conhecimentos no país, recebendo técnicos de outros estados do Brasil, a fim de

capacitá-los em várias áreas de estudos afins, inclusive a de plantas medicinais. A partir da

década de 1940, o IQA começou a desenvolver pesquisas sobre a química de plantas

(fitoquímica) com a introdução de técnicas e de equipamentos modernos incorporados a partir

dos contatos estabelecidos com os laboratórios de outros países, através de estágios de

pesquisadores brasileiros e do estabelecimento de pesquisadores estrangeiros no Brasil. Com a

reestruturação do Ministério da Agricultura, em 1962, a área de pesquisas em plantas medicinais

foi desativada, para dar ênfase à pesquisa aplicada à produtividade agrícola, como ocorre

atualmente na Embrapa (FERNANDES, 2004).

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b) Central de Medicamentos- CEME

Na década de 1970, a orientação nacionalista dos governos militares propiciou, no setor químico-

farmacêutico especificamente, a criação de vários órgãos, como é o caso da CEME que passou, a

partir de 1976, a financiar também estudos sobre plantas medicinais em várias universidades

públicas e instituições de pesquisa ( FERNANDES, 2004).

O Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais na CEME foi iniciado em 1983, com o

objetivo de desenvolver terapêutica com embasamento científico, a partir da determinação do

valor farmacológico de preparações de uso popular à base de plantas medicinais. Sua estratégia

de ação consistiu em submeter os fitoterápicos oriundos do conhecimento popular a uma série de

testes farmacológicos, toxicológicos, pré-clínicos, para confirmar, ou não, as propriedades

terapêuticas a eles atribuídas. As preparações que recebessem a confirmação da ação

medicamentosa, de eficiência terapêutica e de ausência de efeitos prejudiciais estariam aptas a se

integrarem à Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, RENAME (VILLAS BÕAS, 2004).

A CEME foi extinta em 1997, na mesma data em que se realizava o I Seminário Nordestino de

plantas Medicinais, em Recife. Ao longo de seus 20 anos de existência, ela criou capacitação e

organizou a infra-estrutura científica e tecnológica necessária para o desenvolvimento de

pesquisa de produtos fitoterápicos (VILLAS BÕAS, 2004).

De acordo com FERREIRA (2000), estima-se que US$ 100 milhões foram aplicados no Brasil

nos últimos 10 anos em pesquisa científica relacionada a produtos naturais e, apesar disso,

nenhum medicamento baseado em plantas medicinais foi desenvolvido no país pelo setor público.

Nem mesmo a CEME/MS, que pesquisou 72 plantas, chegou a qualquer medicamento

fitoterápico.

c) Instituto Fiocruz

Na área da saúde brasileira, a Fiocruz, com mais de um século de história, destaca-se como uma

instituição de referência, reconhecida mundialmente como um dos maiores potenciais da América

Latina, atuando em áreas distintas e complementares que abrangem a pesquisa, a formação de

recursos humanos, centros de referência em diversas linhas de investigação e formulação de

políticas e modelos, agregando ainda a experiência de industrialização de medicamentos e

vacinas, utilizados maciçamente nos programas nacionais de saúde (VILLAS BÕAS, 2004).

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Segundo VILLAS BÕAS (2004), apesar da abrangência e complexidade de sua organização, a

Fiocruz, nas últimas décadas, poderia ter avançado mais no desenvolvimento tecnológico em

saúde, não fosse uma série de fatores que vão desde a ausência de mecanismos para o

estabelecimento de prioridades, a insuficiência de recursos financeiros, insatisfatória integração,

precariedade dos mecanismos de planejamento, gerenciamento, avaliação dos resultados das

pesquisas, até a pouca familiaridade com o sistema de propriedade intelectual por parte dos

envolvidos no processo.

VILLAS BÕAS (2004) afirma que na gestão de Eloan Pinheiros (de 1993 a 2002) à frente de Far-

Manguinhos o desenvolvimento de fitoderivados ganhou importância, para deixarem de ser

tratados como recursos alternativos e ganharem enfoque acadêmico-científico. No processo de

elaboração da metodologia de desenvolvimento tecnológico, concluiu-se que a validação de um

fitoterápico, por exemplo, deverá seguir absolutamente todos os passos do desenvolvimento de

um medicamento sintético. Além disto, extratos e substâncias isoladas de plantas que ocorrem na

natureza podem apresentar vantagens em relação à questão patentária, de acordo com o artigo 10

da Lei 9279/96.

d) Centro de Biotecnologia da Amazônia- CBA

O CBA, criado no final de 2002, no distrito industrial de Manaus, como uma iniciativa conjunta

da comunidade científica, do setor privado e dos governos federal e estaduais da região

amazônica, para comandar uma rede nacional de laboratórios e grupos de pesquisadores que vão

se dedicar a pesquisas sobre a biodiversidade amazônica, com prioridades nas áreas de

cosméticos, fármacos, fitoterápicos e extratos (FERRO, 2006).

3.4.2 Fitoterápicos desenvolvidos no Brasil

Quanto a produtos fitoterápicos totalmente desenvolvidos com tecnologia brasileira, há poucos

exemplos, de data recente.

O laboratório Aché lançou ao mercado o produto Acheflam, um antiinflamatório em forma de

pomada desenvolvido com os princípios ativos da erva baleeira (Cordia verbenacea). Esta é uma

planta nativa da Mata Atlântica, cujas propriedades são conhecidas dos índios caiçaras, que a

utilizam a planta toda, misturada a álcool e água, para combater as dores (FÁVARO, 2005).

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Os pesquisadores do Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas

(CPQBA) da Unicamp analisaram o óleo da planta no cromatógrafo, e descobriram que é

composto de 40 substâncias. Definiram como substância marcadora do princípio ativo o alfa-

humulento. Agora, a equipe do CPQBA tem um contrato com o laboratório Aché para fornecer

120 litros de óleo essencial de planta por ano. Para produzir um litro de óleo são necessários 800

quilos da erva (FÁVARO, 2005).

Para Melillo, da CPQBA, a pesquisa financiada pelo laboratório Aché é uma inovação. Primeiro,

porque é investimento da iniciativa privada em pesquisa acadêmica, o que ainda não é comum no

Brasil, embora seja fórmula de sucesso nos EUA e Europa. Segundo, porque foi uma das

pouquíssimas vezes que um medicamento feito de uma planta brasileira cumpriu todas as

exigência da ANVISA e pôde, com o aval da instituição, receber a patente e a liberação para ser

comercializado (FÁVARO, 2005).

O laboratório Herbarium registrou na ANVISA um gel transparente para tratamento tópico de

herpes labial, feito a partir de um estrato de unha-de-gato (Uncaria tormentosa). A planta

amazônica, tradicionalmente conhecida por sua ação antiinflamatória, analgésica e imuno-

estimulante, já foi submetida a testes clínicos e mostrou eficácia semelhante à do Aciclovir,

tradicional tratamento tópico contra herpes. O estudo clínico foi realizado no Centro de Pesquisas

Clínicas da Universidade Federal Fluminense (UFF) com 70 pacientes (FÁVARO, 2005).

3.4.3 Biodiversidade e Sustentabilidade

Estima-se em 600 mil a quantidade de espécies vegetais que existem no mundo. Dessas, foram

classificadas 365 mil (sendo 60 mil brasileiras). Do total de plantas classificadas, 35 mil são

utilizadas na medicina popular e 1100 têm sido estudadas cientificamente. A tabela 3.1 apresenta

o número de espécies de plantas registradas nas farmacopéias de diversos países (SILVA JR,

2003).

A ciência já confirmou a atividade farmacológica e biológica de várias espécies utilizadas

popularmente, desmistificou algumas e encontrou outras propriedades não registradas pelo

conhecimento popular (SILVA JR, 2003).

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Tabela 3.1 Espécies de plantas medicinais registradas nas farmacopéias e número total de espécies utilizadas em alguns países (SILVA JR, 2003).

Países Número de espécies Total usado Constando na farmacopéia Indonésia 7557 180 China 5136 124 África do Sul 3500 EUA 1288 92 França 843 Espanha 628 Brasil 332

A mata tropical reúne dois terços da diversidade biológica mundial. Alcalóides vegetais são

encontrados predominantemente em espécies tropicais, servindo como um mecanismo de defesa

contra herbívoros em geral (SILVA JR, 2003).

O Brasil, com cerca de 10% de toda a flora mundial, apesar de ter proporcionado à humanidade

produtos com propriedades extraordinárias, como os curares, a emetina, a pilocarpina e outros,

continua a ser um país com muitas potencialidades, também neste campo, considerando-se que

menos de 1% das espécies vegetais brasileiras foram analisadas sob o ponto de vista químico e

farmacológico (FERRO, 2006).

Quanto ao comércio de plantas medicinais, chama a atenção o fato de que os preços médios de

exportação dos países desenvolvidos são muito maiores que os dos países subdesenvolvidos. Para

citar um exemplo (SILVA JR, 2003), temos o caso da Alemanha, que exporta anualmente 14400

toneladas a preço médio de US$ 4,76/kg, enquanto o preço médio de exportação de outros países

está abaixo de US$ 2,00/kg (veja a tabela 3.2). A Alemanha importa anualmente 40 mil toneladas

de plantas, sendo que ao redor de 80% são de origem silvestre, ou seja, obtidas por extrativismo.

Conforme SILVA JR (2003), o valor venal das plantas medicinais e aromáticas é, em média,

melhor que a maioria dos produtos agrícolas convencionais, sendo, portanto, uma atividade de

alta densidade econômica, como mostra a tabela 3.3.

Cerca de 4 a 6 kg de matéria seca de plantas ditas “invasoras” (sete-sangria, mastruço, picão,

marcela, erva-de-santa-maria, mentrasto) equivalem, em preço, a uma saca de milho de 60 kg.

Mas, enquanto que um produtor de camomila recebe US$ 4 a 6/kg de flor seca, o consumidor

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final pagará de US$ 50 a 118 pela mesma quantidade do produto embalado em sachês (SILVA

JR, 2003).

Tabela 3.2 Os doze países maiores exportadores de plantas medicinais (SILVA JR, 2003).

País Volume (ton)

Valor (US$ 1000)

Preço médio (US$/kg)

China 121900 264500 2,17 Índia 32600 45950 1,41 Alemanha 14400 68500 4,76 Singapura 13200 54000 4,09 Egito 111250 12350 1,10 Chile 11200 23500 2,10 EUA 10150 35700 3,52 Bulgária 7800 11000 1,41 Marrocos 6850 12850 1,88 México 6300 9300 1,48 Paquistão 4800 3300 0,69 França 4700 25300 5,60

Tabela 3.3 Preços médios pagos nos mercados de Nova York e Berlim por algumas plantas medicinais (SILVA JR, 2003).

Espécie Preço (US$/kg)

Espécie Preço (US$/kg)

Alecrim 10 Ginseng 598 Alfazema 30 Hipérico 15 Arruda 14 Ipê-roxo 15 Babosa 22 Losna 13 Camomila 22 Louro 20 Canela 41 Poejo 13 Cânfora 88 Sálvia 24 Dente-de-leão 25 Tanchagem 15 Erva-santa 23 Tomilho 14 Funcho 10 Valeriana 16

Além do uso fitoterápico, as indústrias de perfumes, cosméticos e alimentos têm utilizado uma

grande variedade de essências e óleos essenciais oriundos de plantas, cuja taxa de crescimento

anual de comercio tem sido da ordem de 6% na área de perfumes, 8% na área alimentar e 7,5%

na área de óleos essenciais (SILVA JR, 2003).

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3.4.4 Etnobotânica4 e Bioprospeção

O aproveitamento da biodiversidade e das tradições por povos colonizadores ocorre desde tempos

muito remotos.

Foi provavelmente no decurso das viagens de Dioscórides (no rasto dos exércitos romanos) pela

Espanha, África do Sul e Síria que ele conheceu um grande número de substâncias. Ele era um

verdadeiro naturalista e um observador rigoroso e, como tal, estudou os fundamentos científicos

das tradições (FERRO, 2006).

Quanto às riquezas da flora do Brasil:

- A primeira referência sobre plantas medicinais brasileiras foi feita por Pero Vaz de

Caminha (da esquadra de Pedro Álvares Cabral) em sua carta ao rei D. Manuel, datada de 1500.

Nela descreve sobre a beleza de nossa flora e cita algumas com propriedades medicinais

(FERRO, 2006).

- A ipecacuanha, uma das primeiras plantas descritas pelos portugueses, começou a ser

usada na Europa em 1672 (FERRO, 2006).

- O interesse pela flora medicinal por parte dos jesuítas sempre foi marcante. Em 1776

compilaram mais de 200 receitas e fórmulas de plantas medicinais nas diversas patologias

(FERRO, 2006).

- Entre 1803 e 1829 o médico naturalista alemão Georg Heinrich von Langsdorff percorreu

o país e enviou para a Rússia mais de 100 mil espécies da flora tropical (FERRO, 2006).

- Entre 1817 e 1820, os alemães Johann Baptiste von Spix e Kal Friedrich von Phillipp

Martius (botânicos naturalistas) estudaram profundamente a flora e fauna brasileiras, descobrindo

muitas espécies novas e descrevendo-as em mais de dez livros. Voltaram à Europa com cerca de

9000 espécimes de plantas e animais, que formaram a base do Museu de História Natural de

Munique (FERRO, 2006).

4 Etnobotânica é a ciência, ligada à botânica e à antropologia, que estuda as interações entre pessoas e

plantas em sistemas dinâmicos. Também consiste no estudo das aplicações e dos usos tradicionais dos vegetais pelo homem. É uma ciência multidisciplinar que envolve botânicos, antropólogos, farmacólogos, médicos, engenheiros.

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Em 1929 foi lançada a primeira edição da Farmacopéia dos Estados Unidos do Brasil, de autoria

de Rodolfo Albino Dias da Silva− que estudou a flora medicinal brasileira e introduziu a

farmacognosia no pais−, incluindo mais de 280 monografias de plantas (FERRO, 2006).

Países como a China, a Coréia do Norte, o Japão e outros têm feito um esforço significativo na

investigação de fármacos de uso tradicional, o que tem conduzido a resultados de alto interesse

sob o ponto de vista terapêutico e evitado a perda dessas informações (FERRO, 2006).

Hoje em dia, equipes ligadas à grande indústria dos medicamentos e constituídas por

botânicos, farmacognosistas e farmacologistas procedem, em muitas regiões do globo, mas,

sobretudo nas tropicais e subtropicais, a um esforço sistemático de coleta e estudo de espécies

usadas na medicina popular, através de estudos etnobotânicos (FERRO, 2006).

Em maio de 2000 a BioAmazônia (Associação Brasileira para o Uso Sustentável da

Biodiversidade da Amazônia), braço operacional do Probem (Programa Brasileiro de Ecologia

Molecular para Uso Sustentável da Biodiversidade da Amazônia) do Ministério da Ciência e

Tecnologia, assinou um Acordo de Cooperação Técnica com a multinacional Novartis Pharma

AG, sediada na Suíça. O acordo prevê que a Novartis terá, nos próximos dez anos, a

exclusividade na prospecção e comercialização de drogas e produtos farmacêuticos oriundos de

microrganismos e plantas da Amazônia Legal (JOLY, 2000).

Na época, surgiram opiniões muito díspares na comunidade científica. Enquanto que alguns

consideravam a oportunidade imperdível, pois “finalmente estaríamos transformando o jargão ´a

biodiversidade é a maior riqueza de nosso país´ em dólares”, outros consideravam o valor do

acordo, cerca de US$ 3 milhões em três anos, fora o 1% dos eventuais royalties, muito baixo. Um

terceiro grupo se alinhou com as ONGs, parte do Conselho Técnico-científico da própria

BioAmazônia e o Ministério do Meio Ambiente, no repúdio ao acordo (JOLY, 2000).

Segundo o autor da nota (JOLY, 2000), é imprescindível que se inicie a bioprospecção da biota

brasileira, pois é através dos benefícios advindos de sua exploração sustentável que mudaremos

nosso modelo econômico. A conservação da natureza deixará de ser vista como um obstáculo

para o desenvolvimento e passará a ser o sustentáculo de um novo paradigma, que associa o uso

sustentável dos recursos naturais com a melhoria da qualidade de vida da humanidade. Até a

assinatura da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), em 1992, o acesso aos recursos

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genéticos era livre, pois a biodiversidade era considerada um patrimônio da humanidade. Com a

CDB, os países signatários passaram a ter direitos sobre seus recursos biológicos e o dever de

zelar pela sua conservação e utilização sustentável.

Conforme aponta VILLAS BÕAS (2004), atualmente as estratégias no desenvolvimento de

medicamentos estão mudando, criando novas oportunidades para os países como Brasil, onde se

encontra grande parte da biodiversidade mundial. Entretanto, existem novas circunstancias que

devem ser levadas em consideração, como a necessidade de seguir a CDB, conforme a qual o

material deve ser coletado por grupos formalmente autorizados ou por firmas especializadas, que

trabalham integradas com produtores de medicamentos ou cosméticos.

Segundo VOGT (2003), depois que o Brasil passou, em 1994, a ser signatário do TRIP (Trade-

Related Intellectual Property Rights, ou Direitos de Propriedade Intelectual no Comércio),

incluindo-se, assim, no concerto das nações comprometidas com o reconhecimento e o respeito

das regras e normas internacionais que regem a propriedade intelectual e as patentes, esse

desequilibro entre as ciências e as tecnologias da biodiversidade tornou-se ainda mais dramático.

De um lado, pela falta de cultura e de estrutura próprias da pesquisa voltada para aplicação com

fins industriais e comerciais e, de outro, pela necessidade, tornada, então, ainda mais urgente, de

legislar com competência, eficiência e eficácia para proteger o rico patrimônio genético do pais.

O país ainda é pouco competitivo na indústria de fármacos, para a qual a nossa rica

biodiversidade poderia ser uma fonte de riqueza econômica e social impar no mundo. Por outro

lado, aquilo que não temos conseguido fazer é, contudo, objeto da avidez inovativa dos mercados

e, como temos hoje legislação especifica para a proteção desse patrimônio, corre solto o

fenômeno da biopirataria5. Embora a intenção seja a de proteger o patrimônio genético nacional,

regular a exploração dos recursos biológicos, fiscalizar a bioprospeção e, desse modo oferecer

condições reais para a justa distribuição dos benefícios advindo desses processos, essa legislação

sufoca a possibilidade do conhecimento da biodiversidade pelos cientistas brasileiros. Isto é, para

impedir o saque, a medida engessou a pesquisa brasileira (VOGT, 2003).

5 O chefe da seção de Recursos Genéticos, Biotecnologia e Conhecimentos tradicionais Associados, da

Organização Mundial da Propriedade Intelectual OMPI, em Genebra, Nuno Pires de Carvalho, prefere chamar esta prática de “biogrilagem”, pois ela não fere as leis do país de origem da empresa que a está praticando (VOGT, 2003).

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3.4.5 Leis de patentes em Fitoterapia

O processo que desencadeou a regulamentação das patentes na área químico-farmacêutica

iniciou-se em 1988, a pedido da indústria farmacêutica norte-americana, que exigia a aprovação

da lei sob ameaça de imposição de sanções comerciais aos produtos de exportação do Brasil para

os Estados Unidos ( FERNANDES, 2004).

Na época, em nota de jornal, o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Química

Fina (Abifina), comparou o Brasil com a Coréia do Sul, que, segundo ele, foi “convencida” pelos

EUA a conceder patentes, o que provocou uma freada brusca no processo de desenvolvimento da

indústria química que vinha se dando naquele país. Chamou atenção, ainda, para o fato de que

esse setor industrial na Inglaterra e Estados Unidos só evoluiu quando deixou de respeitar as

patentes, principalmente alemãs, durante as duas guerras mundiais (FERNANDES, 2004).

Eduardo Martins, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, ressaltava em 1993 que outros países

como Japão, Itália e Suíça, antes de reconhecerem patentes, desenvolveram um projeto de

capacitação científica e tecnológica, que os habilitou a se tornarem exportadores e não

importadores de conhecimento ( FERNANDES, 2004).

Segundo VILLAS BÕAS (2004), uma análise detalhada do sistema internacional de patentes

estabelecido em 1983, mostra claramente as vantagens obtidas pelos países que como a

Alemanha, Suíça, Reino Unido, Itálica, Espanha, Japão, França e Canadá desenvolveram e

internacionalizaram suas indústrias farmacêuticas sem patentes ou com sistemas de patentes mais

flexíveis.

Acerca da “Lei de Patentes e da Propriedade Industrial”, surgiram várias questões. Uma delas diz

respeito à propriedade intelectual e ao domínio público do conhecimento científico. Outra diz

respeito à complexa e difícil relação que se estabelece no Brasil entre a indústria farmacêutica e a

universidade, no que tange à produção de tecnologia. Caso vislumbre nos resultados de suas

pesquisas a possibilidade de patenteamento do produto investigado, o pesquisador, para

conquistar o direito de patente, fica impossibilitado legalmente de publicar seus resultados ou

apresentá-los em eventos científicos. Tal medida traz para ele problemas de legitimação e

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reconhecimento acadêmicos, além de dificuldades ante as agências de fomento à pesquisa

(FERNANDES, 2004).

Relacionado com os aspectos mencionados, FERNANDES (2004) cita episódios esclarecedores.

Um é o que ocorreu com o professor Otto Gottlieb, que havia isolado vários constituintes

químicos de plantas e publicado os estudos que, posteriormente, foram objetos de patentes de

grupos no exterior. Outro é o do professor Carlini, que, antes da aprovação da Lei de Patentes,

estudou a ação da espinheira santa contra a úlcera de estômago. Na tentativa de patenteamento

internacional o professor deparou-se com um grande aparato burocrático e necessidade de

financiamento para custear os volumosos gastos, o que não conseguiu junto à Finep nem à

universidade. Como havia sido publicada, a descoberta foi patenteada pelo Japão e vendida à

Alemanha, França e outros países.

Conforme IZIQUE (2003), apesar das medidas de proteção previstas na Medida Provisória No.

2.186-16 de agosto de 2001, sobre o acesso ao patrimônio genético e o conhecimento tradicional

associado, o Brasil segue exposto às ações de biopirataria. Um caso emblemático é o que ocorreu

com o cupuaçu (Theobroma grandiflorum), uma árvore da mesma família do cacau, cuja semente

é fonte de alimento na Amazônia. Essa planta ficou no centro de uma polêmica envolvendo

organizações não governamentais (ONGs), produtores do Acre, a Embrapa, o Itamaraty e a

gigante japonesas Asahi Foods Co. Ltd. Tudo começou quando a Amazonlink, uma ONG que

apóia produtores locais na comercialização de derivados de cupuaçu, como geléias e bombons, se

preparava para fechar um contrato de venda com uma empresa na Alemanha, no final de 2002.

No final dos entendimentos, os funcionários da empresa alemã disseram que o negócio só se

consumaria se o nome cupuaçu não aparecesse no produto, já que a marca cupuaçu estava

registrada na União Européia pela Asahi Foods desde 2001.

Como explica Nuno Carvalho, da OMPI, o problema pode estar no registro da palavra cupuaçu

como marca para designar produtos derivados dessa fruta, que vai contra o requisito da

registrabilidade de marcas. Seria a mesma coisa que registrar as palavras laranja, mamão ou

banana (IZIQUE, 2003).

O cupuaçu não é o único caso com patente suspeita no exterior. A Rocher Ives Biolog Vegetales,

por exemplo, registrou na França, Japão, União Européia e Estados Unidos a patente de uma

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composição cosmética e farmacêutica à base de andiroba (Carapa guianensis), árvore cujas

sementes têm propriedades insetífugas e medicinais. A japonesa Morita Masaru também já

patenteou no Japão um agente repelente para formigas e insetos que utiliza o óleo da fruta de

andiroba (IZIQUE, 2003).

A copaíba (Copaifera sp), conhecida como o antibiótico da mata, tem patente mundial registrada

pela Technico-Flor, para uso em composição cosmética e alimentar. A Aveda Corp. patenteou,

nos Estados Unidos, um método de colorir cabelos ou pestanas que contém pigmentos e resinas

da copaíba. O químico inglês Conrad Gorinsky obteve patentes na Europa, Estados Unidos e

Canadá, sobre compostos de plantas medicinais usados pelos uapixanas, na região da fronteira

entre Roraima e Guiana. Segundo relato de pesquisadores, os uapixanas usam as plantas tipir

(Ocotea rodioei) e cunani (Clibadium sylvestre) para as mesmas finalidades patenteadas por

Gorinsky. Ele descobriu e isolou as moléculas responsáveis pelas aplicações ensinadas há muitas

gerações de uapixanas. Por exemplo, no caso do bibiru ou tipir, há referência específica quanto

ao ato de mascar a castanha da árvore do coração-verde, como forma elementar de contracepção

(IZIQUE, 2003).

3.5 Políticas Públicas relacionadas ao Uso da Fitoterapia

Segundo a OMS, 80% da população dos países em desenvolvimento se utiliza de terapias

tradicionais, e destas, 85% se utiliza de fitoterápicos, atingindo grande expansão e popularidade,

apesar dos grandes avanços da medicina, inacessível à grande maioria da população do planeta.

Assim, o uso de medicamentos fitoterápicos com finalidade profilática, curativa ou paliativa, ou

ainda para fins de diagnóstico, passou a ser oficialmente reconhecido pela OMS em 1978, quando

passou a recomendar a difusão ampla, a nível mundial, e a realização de pesquisas necessárias

para um maior embasamento no uso das plantas medicinais (FERRO, 2006).

No final da década de 70, a OMS criou o Programa de Medicina Tradicional. Desde então, em

vários comunicados e resoluções, a OMS expressa o seu compromisso em incentivar os Estados-

membros a formularem e implementarem políticas públicas para uso racional e integrado da

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Medicina Tradicional e Medicina Complementar/Alternativa (MT/MCA)6, bem como para o

desenvolvimento de estudos científicos para melhor conhecimento de sua segurança, eficácia e

qualidade (BRASIL, 2006).

3.5.1 Políticas Públicas na Europa

O resgate do uso de plantas medicinais, liderado pela Alemanha e difundido por toda a Europa,

classifica a fitoterapia como um sistema racional, baseado em evidências, se diferenciando assim

de outras práticas, ainda que reconhecidas pela OMS, que não são constituídas nas mesmas bases

de evidências científicas (VILLAS BÕAS, 2004).

A estratégia européia passa por um trabalho em rede de centros de pesquisa em fitoterapia de

diversos países, para o desenvolvimento de monografias de autorização com fins de registro.

Várias monografias já estão em uso, tendo sido aprovadas pela União Européia. Nelas se define o

uso das plantas medicinais nas categorias de suplementos (alimentares ou nutricionais), produtos

de venda livre (over the counter, OTC) ou produtos de prescrição, chamados éticos no Brasil

(VILLAS BÕAS, 2004).

Hoje, para manter o status de medicamento, as plantas têm que ser testadas em relação à sua

qualidade, eficácia e segurança, e aprovadas pelos organismos reguladores antes de obterem seus

registros. Após o registro, os fitoterápicos são amplamente prescritos por médicos atualizados nas

faculdades de medicina ou em cursos de especialização em terapias naturais. Na Alemanha cerca

de 50% dos médicos prescrevem fitoterápicos (VILLAS BÕAS, 2004).

Atualmente na Europa o pensamento dominante é que existem doenças e situações agudas que

ainda não podem ser tratadas com plantas medicinais. Por outro lado, existem várias outras

situações em que a qualidade de vida pode ser melhorada pelo uso destes produtos naturais. Em

6 Segundo TROVO (2003), alguns autores agrupam as terapias alternativas/complementares em:

- Terapias físicas, como acupuntura, moxabustão, shiatsu (e outras massagens), do-in, cristais. - Hidroterapia- como hidroterapia (não especificada), banhos, vaporização e sauna. - Fitoterapia- fitoterapia (não especificada), ervas medicinais, florais. - Nutrição- nutrição alternativa (não especificada), terapêutica nutricional ortomolecular. - Terapias mentais e espirituais- meditação, relaxamento psicomuscular, cromoterapia, toque

terapêutico, visualização, Reiki; - Terapia de exercícios individuais- biodança, vitalização.

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muitos casos, para os que sofreram com efeitos colaterais provenientes das drogas químicas, os

fitoterápicos passaram a representar uma opção viável (VILLAS BÕAS, 2004).

3.5.2 Políticas Públicas nos EUA

Enquanto a cultura européia lidava há séculos com o conhecimento próprio, amplamente

reforçado com o das suas colônias, sobre o poder terapêutico das plantas medicinais, nos EUA, a

adoção absoluta do paradigma da síntese química no desenvolvimento de novos medicamentos o

colocou à margem da fitoterapia. Este caminho foi reforçado pela crença da auto-suficiência da

P&D na busca de novas moléculas. Desta forma, as bases para o mercado de fitoterápicos só

vieram a ser estabelecidas como resultado da enorme pressão da própria sociedade civil, que os

considerava fundamentais para a saúde, através de um Ato do Congresso americano, o Dietary

Supplements Health and Education Act (DSHEA), em 1994. A partir de então, os fabricantes de

produtos fitoterápicos, nutracêuticos e suplementos contendo vitaminas e minerais foram

autorizados a produzi-los e comercializá-los livremente, ficando desobrigados dos testes

rigorosos impostos aos fármacos e medicamentos (VILLAS BÕAS, 2004).

Por causa disso, desde essa data vêm se intensificando as exigências da industria de

medicamentos, articuladas com seus parceiros, para que a FDA (Food and Drug Administration)

exerça seu papel de autoridade sanitária. Esta demanda normativa mobilizou as instituições de

pesquisa e referência americanas que, finalmente, passaram a realizar estudos para determinar a

eficácia e segurança dos fitoterápicos (VILLAS BÕAS, 2004).

3.5.3 Políticas Públicas no Brasil

No Brasil, a legitimação e a institucionalização das TACs nas práticas de atenção à saúde

iniciaram-se a partir da década de 80, principalmente, após a criação do SUS. Com a

descentralização e a participação popular, os estados e municípios ganharam maior autonomia na

definição de suas políticas e ações em saúde, vindo a implantar as experiências pioneiras

(BRASIL, 2006).

Por exemplo, a Lei no 13.717 de 8 de janeiro de 2004, do Município de São Paulo que dispõe

sobre a implantação das “Terapias Naturais” na Secretaria Municipal de Saúde no seu artigo 2o

institui que “para o exercício da função, os profissionais habilitados a exercer terapias naturais

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citadas no artigo 1o deverão estar inscritos nos respectivos órgãos de classe existentes no

Município, Estado ou País”. Conforme indica AKIYAMA (2004), isso pressupõe que existam

profissionais habilitados e órgãos de classe. A mídia, também atenta ao assunto, procurou a classe

médica para comentar essas providências: “CRM critica a lei municipal de terapias naturais” diz

uma manchete da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo em 2004, “tais técnicas”, continua a

matéria, “além de jamais terem tido sua eficiência cientificamente comprovada, não são

reconhecidas oficialmente”. Ainda segundo a reportagem, o presidente do Conselho Regional de

Medicina de São Paulo entende que “essas terapias não oferecem atendimento de saúde

adequado, podendo haver prejuízo para a saúde da população”, e que “os médicos não podem

nem aplicá-las, nem recomendá-las, visto que não têm o aval científico dos conselhos de

medicina, não podendo exercer uma prática para a qual não foi treinado”.

A partir da década de 1980, o Ministério da Saúde aprovou diversas resoluções, portarias e

relatórios com ênfase na questão das plantas medicinais, entre os quais a Portaria No. 212, de

setembro de 1981, que define o estudo das plantas medicinais como uma das prioridades de

investigação clínica. Em 2001 o Ministério da Saúde editou a Proposta de Política Nacional de

Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos, registrando em suas diretrizes (VILLAS

BÕAS, 2004):

1- Estabelecer a Relação Nacional de Medicamentos Fitoterápicos para a atenção básica.

2- Estimular a produção nacional de medicamentos fitoterápicos conforme critérios

técnico-científicos.

3- Estabelecer uma política de formação, capacitação e qualificação de recursos humanos

para o uso racional de medicamentos fitoterápicos.

4- Incentivar a pesquisa e desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos, priorizando a

biodiversidade do país.

5- Resgatar, valorizar, embasar cientificamente e validar o conhecimento, a produção e o

uso popular de plantas medicinais e organizar banco de dados contendo informações

sobre projetos realizados nessa área no pais.

6- Intensificar a aplicação da regulamentação sanitária aos medicamentos fitoterápicos.

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Em 1997, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), através da Resolução No. 197,

estabeleceu e reconheceu as Terapias Alternativas como especialidade e/ou qualificação do

profissional de Enfermagem, considerando que “as terapias alternativas (acupuntura, Iridologia,

Fitoterapia, Reflexologia, Quiropraxia, Massoterapia, dentre outras), são práticas oriundas, em

sua maioria, de culturas orientais, onde são exercidas ou executadas por práticos treinados

assistematicamente e repassadas de geração em geração, não estando vinculados a qualquer

categoria profissional”. Para receber a titulação prevista, o profissional de Enfermagem deverá ter

concluído e sido aprovado em curso reconhecido por instituição de ensino ou entidade congênere,

com uma carga horária mínima de 360 horas (COFEN No. 197).

Segundo TROVO (2003), no Brasil, antes mesmo de seu reconhecimento como especialização,

47 enfermeiros já atuavam utilizando as TAC no tratamento de seus pacientes em 1993.

A construção do Programa Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS

iniciou-se a partir do atendimento das diretrizes e recomendações de várias Conferências

Nacionais de Saúde e às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Ministério

da Saúde, visando conhecer as experiências que já vinham sendo desenvolvidas na rede pública

de muitos municípios, fez em 2004 um diagnóstico por meio de questionário enviado a todos os

gestores municipais e estaduais de saúde. Do total de 5560 questionários enviados, 1340 foram

respondidos e devolvidos. Os resultados mostraram a estruturação de algumas dessas práticas

integrativas e complementares em 232 municípios, dentre essas 19 capitais, num total de 26

estados. Na tabela 3.4 são mostrados os percentuais de aplicação das práticas por tipo de

modalidade (BRASIL, 2006).

Tabela 3.4–Práticas Integrativas e Complementares utilizadas nos municípios e estados brasileiros em 2006 (BRASIL, 2006).

Modalidade % Práticas complementares (Reiki, Lian-gong, Tai-chi-chuan, auto-massagem, Do-in, Shiatsu, Yoga, Shantala, Tui-na, Lien-chi)

62,9

Fitoterapia 50,0 Homeopatia 35,8 Acupuntura 34,9 Medicina Antroposófica 1,7

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Na época, somente 6,52% dos estados e/ou municípios tinham lei ou Ato Institucional dispondo

sobre a criação de serviços em Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Enquanto que

apenas 9,6% dos municípios forneciam medicamentos homeopáticos via farmácia pública de

manipulação, um percentual muito maior (35,5%) forneciam medicamentos fitoterápicos por essa

via (BRASIL, 2006).

Em fevereiro de 2006 o documento final da PNPIC foi aprovado por unanimidade pelo Conselho

Nacional de Saúde, e publicado na forma das Portarias Ministeriais No. 971 de 03/05/2006, na

qual consta que “esta política atende, sobretudo, à necessidade de se conhecer, apoiar, incorporar

e implementar experiências que já vinham sendo desenvolvidas na rede pública de muitos

municípios, entre as quais destacam-se aquelas no âmbito da Medicina Tradicional Chinesa-

Acupuntura, da Homeopatia, da Fitoterapia, da Medicina Antroposófica e do Termalismo-

Crenoterapia” (BRASIL, 2006).

Em 2000 foi editada a Resolução RDC No. 17 da recém criada Agencia Nacional de Vigilância

Sanitária (ANVISA), onde foram redefinidas as condições fundamentais para o registro de

fitoterápicos (incluindo os importados) junto ao sistema de vigilância sanitária. Foram tomados

como base principal os trabalhos da Comissão “E” da Alemanha, as monografias da OMS de

1988 e da Cooperação Científica Européia (ESCOP) de 1997 (FERRO, 2006).

Segundo VILLAS BÕAS (2004), para obtenção de registro na ANVISA é feita uma pontuação

que valoriza a literatura internacional enquanto os medicamentos tradicionais brasileiros são

minimamente contemplados. Assim, pelos critérios estabelecidos, a maioria das plantas aceita

como tradicional, está constituída de plantas estrangeiras, exóticas ou ruderais, trazidas pelos

colonizadores europeus, quando tradicionais deveriam ser as plantas apresentadas pela cultura

popular brasileira que tenham demonstrado indicações terapêuticas.

3.6 Formação dos profissionais de saúde em fitoterapia e TACs

Na Alemanha, existe um projeto de integração da naturopatia na pesquisa e no ensino médico

universitário. O curso opcional para os estudantes de medicina inclui aulas sobre os fundamentos

básicos e as pesquisas desenvolvidas em acupuntura, terapia manual, nutrição, homeopatia,

hidroterapia e fitoterapia (TEIXEIRA et al, 2004).

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Em Taiwan e no Japão existem propostas para integrar a medicina ocidental à medicina oriental

(medicina chinesa) a partir do ensino médico fundamental, acreditando-se que um sistema de

cuidados médicos unificado possa diminuir os custos gerais com a saúde.

Segundo TEIXEIRA et al (2004) num levantamento realizado com a população americana foi

constatado que mais de 60% dos pacientes que usavam TACs não relatava esse fato aos seus

médicos. A maioria da classe médica não está apta a responder perguntas ou orientar seus

pacientes quanto ao uso de Terapias Alternativas no que tange aos mecanismos de ação,

indicações terapêuticas, interações medicamentosas e efeitos adversos.

Em levantamento recente nos EUA, foram enviados questionários para 123 diretores de cursos de

Terapias Alternativas de 74 escolas médicas. Verificou-se que os tópicos mais freqüentemente

ensinados são acupuntura (76,7%), fitoterapia (69,9%), meditação e relaxamento (65,8%),

espiritualismo/religião/oração (64,4%), quiropraxia (60,3%), homeopatia (57,5%) e

nutrição/dietas (50,7%). Apesar de alguns receberem mais tempo de instrução, a carga horária

média é de duas horas-aula por tópico. A grande maioria dos cursos tem como objetivo principal

ensinar conceitos gerais das Terapias Alternativas (61,6%), e poucos enfatizam as evidências

científicas numa avaliação crítica da efetividade das mesmas (17,8%) ou oferecem treinamento

prático no uso de práticas específicas (177%) (TEIXEIRA et al, 2004).

3.6.1 Formação e atitudes dos profissionais no Brasil

Para se ter uma idéia da pouca divulgação das terapias alternativas/complementares, no Brasil,

apesar da homeopatia e a acupuntura serem reconhecidas como especialidades médicas, situação

privilegiada perante o cenário mundial, em poucas faculdades de medicina brasileiras elas fazem

parte do currículo acadêmico, sendo oferecidas, principalmente, na forma de disciplinas optativas

(TROVO, 2003).

Segundo AKIYAMA (2004), embora essas técnicas tenham sido avalizadas pelo governo,

existem ainda pouquíssimas faculdades no Brasil aptas para dar uma formação adequada aos

profissionais que irão atuar em várias áreas da naturologia. No site do INEP é possível constatar

que o curso mais antigo é o da Unisul, em Palhoça-SC, criado em 1997 e reconhecido pelo

Ministério da Educação em 2002. Os outros dois cursos disponíveis no país são os da

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Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo capital (criado em 2002), e o do Centro

Universitário Monteserrat, em Santos-SP (criado em 2004), sendo que este último tem um caráter

tecnológico e uma curta duração, de apenas 2 anos.

Através de uma enquete realizada com 178 estudantes de enfermagem de duas instituições de

ensino, TROVO et al (2003) constataram que a Terapia Alternativa/Complementar mais

conhecida por eles era a terapia floral (por 62,0%), talvez devido a que na escola pública há um

curso de especialização e na escola privada conta com consulta de enfermagem em regime

ambulatorial, nessa área. Outra técnica bastante mencionada foi a acupuntura (58%). Um

percentual menor de estudantes relatou conhecer a homeopatia (31%) e outras técnicas como a

cromoterapia, musicoterapia e fitoterapia (aproximadamente 20%). Segundo esses autores, é

interessante notar que a principal justificativa apresentada pelos acadêmicos para indicação das

TACs está baseada na crença sobre sua eficácia e na experiência pessoal (o chamado senso

comum). Nenhum aluno mencionou o caráter científico das TAC, o que deveria ser para esses

futuros profissionais o motivo principal para a indicação das mesmas.

Ao serem questionados acerca do modo como ficaram conhecendo as TACs, diversas fontes

foram mencionadas (em alguns casos mais de uma por aluno); 30% referiram tê-las conhecido

através de livros, revistas e TV; 27% através de amigos e familiares; 22% durante a disciplina de

“Terapias Alternativas” e 12% em outras situações na faculdade (TROVO, 2003).

BARBOSA et al (2001) entrevistaram alunos da Faculdade de Medicina e do Instituto de

Patologia Tropical de Saúde Pública (IPTESP) da Universidade Federal de Goiás, UFG. Muitos

entrevistados negaram fazer uso pessoal de Terapias Alternativas de saúde, enquanto outros

admitiram que as tinham utilizado em algum momento. Entre estes, as terapias mais citadas

foram os chás medicinais, a homeopatia e a massagem japonesa.

Alguns dos entrevistados percebem certas Terapias Alternativas com um processo de enganação

ou um placebo. Outros nem as conhecem. Dentre as terapias alternativas que, segundo os alunos,

se enquadram nessa percepção de descrédito foram citadas a cromoterapia, os florais de Bach e a

fitoterapia. Entretanto, algumas terapias foram melhor consideradas, dentre elas, a homeopatia, a

acupuntura, a piscoterapia, a medicina ortomolecular e a musicoterapia.

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Quando indagados sobre quais terapias alternativas eles indicariam como médicos, após sua

formação, alguns afirmaram que não indicariam nenhuma. Outros disseram que rejeitariam todas

aquelas terapias que não considerem os mecanismos fisiopatológicos das doenças (BARBOSA, et

al 2001).

NUÑEZ (2003) entrevistou todas as 18 enfermeiras das 9 Unidades de Saúde do DA-71 Santo

Amaro. Verificou-se que elas freqüentaram um total de 27 cursos de especialização, nenhum dos

quais em terapias alternativas/complementares.

Quanto ao modo como as enfermeiras percebem e reagem frente às TACs (NUÑEZ, 2003):

• 89% acreditam nas TAC.

• 44,4% têm experiência com TAC.

• Uma parcela reduzida (22,2%) delas conhece as leis sobre TAC.

• Somente uma delas conhecia cursos sobre TAC, pois fez um curso de 20 h nessa área

durante a graduação.

• Quanto à aplicação em si próprias, mas da metade (55,5%) deixou de responder esta

questão, o que mostra, talvez, uma certa resistência em aceitar e adotar estas práticas.

De forma similar, a maioria delas não respondeu a questões relativas à indicação das

TAC para seus familiares (66,7%) e usuários (83,3%). Oito das enfermeiras (ou seja,

44,4%) mencionaram usar elas próprias algumas TAC, dentre as quais: meditação, chás

de ervas, acupuntura, do-in, florais de Bach, homeopatia, dietoterapia (NUÑEZ, 2003).

A maioria das entrevistadas (83,3%) relataram dificuldades para exercer as TAC, relacionadas

em quatro grupos (NUÑEZ, 2003):

• Quanto a recursos físicos e humanos da unidade de saúde: espaço físico restrito,

escassez de enfermeiras para demanda de pacientes na unidade, falta de credibilidade

nas TACs;

• Capacitação: escassez de material escrito, de pesquisa e audio-visual, falta de cursos e

reciclagem, e desconhecimento dos profissionais de saúde;

• Equipe de trabalho: não aceitação da prática pela chefia, médicos e enfermeiros.

Necessidade de ter aprovação da diretoria. Falta de contribuição, pouca disponibilidade

de tempo

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• Quanto aos usuários/clientes da unidade de saúde: falta de conscientização e divulgação

para a população em geral, baixa compreensão, pouca crença, associação das TAC com

fenômenos sobrenaturais.

3.7 Fontes de informação disponíveis sobre Fitoterapia

Importante esforço para a avaliação crítica da informação (química, farmacológica, toxicológica e

clínica) tem sido realizado por algumas organizações, tais como a Comissão E do Ministério da

Saúde Alemã, que determinou critérios e têm publicado monografias de umas 500 drogas

vegetais. Em 66% delas figura algum tipo de contra-indicação ou efeito secundário e, destas, em

30% considera-se que não há suficientes evidências de sua eficácia (CARVALHO, 2005).

Por sua vez, na Europa, cabe destacar a comissão ESCOP (European Scientific Co-operative on

Phytotherapy), que coordena esforços a nível internacional, que tem publicado umas 50

monografias de drogas vegetais. Finalmente, também a Organização Mundial da Saúde está

publicando monografias com informações muito interessantes em relação à eficácia, segurança e

controle de determinadas espécies vegetais. Até o momento a OMS editou um segundo volume,

com um total de 58 monografias (CARVALHO, 2005).

Por outro lado, milhares de publicações populares sobre plantas medicinais invadem o mercado

mundial, trazendo, invariavelmente, informações superficiais sobre alguns aspectos da botânica,

propriedades etnoterapêuticas e forma de uso. Só no Brasil são cerca de 135 livros e opúsculos

publicados. Um bom número de publicações populares confunde os leitores e outras

desinformam, ao veicularem informações empíricas, truncadas, incompletas e com desenhos ou

fotos pouco nítidas (SILVA JR, 2003).

3.8 Pesquisa em Enfermagem

Em relação aos métodos de pesquisa em enfermagem, serão descritos conceitos e recomendações

que constam no livro de POLIT e HUNGLER (1995) sobre o tema.

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3.8.1 Método de coleta de dados

Dentre os vários tipos de instrumentos para coleta de dados, um dos que permite avaliar mais

objetivamente o objeto de estudo são os formulários de perguntas. Estes podem ser estruturados

ou não estruturados. Em um instrumento totalmente estruturado, solicita-se aos sujeitos que

respondam exatamente às mesmas perguntas e exatamente na mesma ordem, sendo que eles

recebem o mesmo conjunto de opções para suas respostas.

Aquelas perguntas em que as alternativas de resposta são trazidas pelo pesquisador são

conhecidas como perguntas fechadas ou perguntas com alternativas fixas.

As alternativas podem variar desde um simples sim ou não até manifestações completas de

opinião. O propósito do uso de perguntas com um nível tão elevado de estrutura é o de garantir a

comparabilidade das respostas, vindo a facilitar a análise.

No entanto, muitas entrevistas estruturadas incluem também algumas perguntas aberto-fechadas

que permitem aos sujeitos responder com suas próprias palavras.

Tanto as perguntas aberto-fechadas como as fechadas apresentam pontos fortes e fracos. As

fechadas são de construção mais difícil, embora sejam de mais fácil análise. Quanto às aberto-

fechadas, sua análise demanda tempo, sendo mais difícil e subjetiva.

Uma desvantagem das perguntas fechadas é que elas são, por vezes, superficiais. As aberto-

fechadas permitem uma perspectiva mais enriquecedora e completa, em relação ao tópico de

interesse, no caso de respondentes verbalmente expressivos e colaboradores. Finalmente, alguns

respondentes fazem objeção a serem forçados a escolher, dentre as alternativas, as que não

reflitam, com precisão, suas opiniões (POLIT e HUNGLER, 1995).

3.8.2 Pré-teste

Feito o esboço do instrumento, ele é revisado, de forma crítica, por outros que saibam como

elaborar instrumentos e conheçam a área principal de estudo. Ele precisa passar por um pré-teste,

com uma pequena amostra de respondentes, sendo então revisado, se houver necessidade.

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3.8.3 Entrevistas versus questionários

Em relação às entrevistas, os questionários apresentam as seguintes vantagens (POLIT e

HUNGLER, 1995):

- Questionários têm um custo muito menor e requerem menos tempo e energia para

administrar.

- Questionários oferecem a possibilidade do anonimato total, que pode ser fundamental na

obtenção de informações sobre comportamentos socialmente inaceitáveis (por exemplo,

abuso de crianças).

- A ausência de um entrevistador garante não haver tendenciosidade nas respostas que

reflitam a reação do respondente ao entrevistador, e não às perguntas em si.

Os elementos positivos de uma entrevista ultrapassam, em muito, os dos questionários. São os

seguintes:

- A taxa de resposta tende a ser elevada, nas entrevistas pessoais.

- Muitas pessoas simplesmente não conseguem preencher um questionário (p.ex, crianças

pequenas, cegos).

- As entrevistas prestam-se menos a uma interpretação errônea, por parte dos respondentes,

devido à presença do entrevistador para determinar se as perguntas foram entendidas de

maneira correta.

- Os entrevistadores conseguem produzir informações adicionais através da observação.

3.8.4 Escalas

Uma escala é um instrumento planejado para conferir um escore numérico aos sujeitos,

colocando-os em um continuum no que diz respeito a atributos mensurados, tal como uma

balança utilizada para medir o peso das pessoas. Seu propósito é a discriminação quantitativa de

pessoas com atitudes, receios, motivações, percepções, traços de personalidade e necessidades

diferentes.

A seguir são descritos dois tipos de escala bastante utilizados (POLIT e HUNGLER, 1995):

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a) Escala Likert

Muitas técnicas sofisticadas de classificação por escala foram elaboradas para a mensuração de

atitudes. A mais comum dessas técnicas é a criada pelo psicólogo Rensis Likert, que consiste em

vários enunciados declarativos (por vezes, chamados de itens) que expressam um ponto de vista

sobre um tópico. Solicita-se aos respondentes que indiquem em que grau concordam com a

opinião expressa pelo enunciado, ou se dela discordam. São recomendados dez ou mais

enunciados para uma boa escala Likert.

Após a administração dessa escala aos sujeitos, as respostas precisam ser submetidas a um

escore. O que costuma ocorrer é elas serem graduadas de uma forma tal que a concordância com

os enunciados positivos e a discordância dos enunciados negativos recebam um escore superior.

A computação de tais escores faz surgir a escala de classificação somatória.

b) Diferencial Semântico (DS)

Com esse diferencial, solicita-se ao respondente dar uma nota a um determinado conceito (p.ex,

enfermagem primária, enfermagem por equipe), por meio de uma série de adjetivos bipolares,

tais como bom/ruim, eficiente/ineficiente, importante/não importante, forte/fraco. Pede-se aos

respondentes que coloquem uma marca de verificação em um local adequado, em uma escala

com sete pontos que vai de um extremo da dimensão ao outro.

Muitos estados e traços sócio-psicológicos interessam às pessoas envolvidas em pesquisas em

enfermagem clínica, tendo sido elaboradas muitas escalas para mensurá-los. A lista a seguir

sugere a amplitude dos constructos que foram mensurados pela escala de auto- relato: ansiedade,

imagem corporal, enfrentamento, depressão, crenças sobre saúde, esperança, sofrimento, estado

de ânimo, dor e estresse.

3.8.5 Vantagens e desvantagens das escalas

As escalas permitem aos pesquisadores a quantificação eficiente de gradações sutis, no poder ou

na intensidade das características individuais. Uma boa escala pode ser útil às comparações de

grupo (p.ex, comparação dos níveis de estresse de pacientes submetidos a uma cirurgia, antes e

após a mesma) e à elaboração de comparações individuais (previsão de que o paciente X não irá

necessitar de tanto apoio emocional quanto o paciente Y, devido aos escores em uma escala de

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enfrentamento). As escalas podem ser administradas verbalmente ou por escrito, sendo,

conseqüentemente, adequadas ao uso com a maioria das pessoas (POLIT e HUNGLER, 1995).

As escalas são suscetíveis a vários problemas comuns, sendo que o que causa maior incômodo é

o conhecido como tendenciosidade no conjunto de respostas. As tendências mais comuns incluem

(POLIT e HUNGLER, 1995):

- Tendenciosidade de desejo social no conjunto de respostas, que diz respeito à tendência de

algumas pessoas de interpretarem mal suas atitudes, fornecendo respostas coerentes com

as visões sociais dominantes.

- Tendência exagerada no conjunto de respostas, que resulta do fato de algumas pessoas

sempre expressarem suas atitudes em termos de alternativas extremadas de respostas, ao

passo que outros, caracteristicamente, endossam alternativas intermediárias.

- Tendência à aquiescência no conjunto de respostas, que diz respeito à tendência de certas

pessoas a concordarem com as afirmações, independente de seu conteúdo. Na literatura de

pesquisa, essas pessoas são conhecidas como os que dizem sim. Um problema menos

comum é a tendência oposta de outros, os que dizem não.

Essas tendenciosidades podem ser reduzidas através de estratégias como o contrabalanceamento

de enunciados de caráter positivo e negativo, a elaboração de perguntas mais sensíveis, a criação

de uma atmosfera permissiva, sem julgamentos, e a garantia da confidencialidade das respostas.

3.8.6 Ética na pesquisa em enfermagem

Quando os sujeitos de investigações científicas são indivíduos, precisa-se ter muito cuidado para

assegurar que seus direitos estão protegidos. O princípio ético mais estreitamente relacionado

com este trabalho é o “princípio de respeito à dignidade humana”, que abrange dois tipos de

direito principais (POLIT e HUNGLER, 1995):

a) Direito à autodeterminação.

O princípio da autodeterminação significa que os sujeitos têm o direito de decidir,

voluntariamente, se querem ou não participar de um estudo, sem o risco de sujeitar-se a

penalidades ou a tratamentos que venham a prejudicá-los. Isso significa, ainda, que os sujeitos

têm o direito de decidir, a qualquer momento, encerrar sua participação, recusar-se a dar

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informações ou solicitar esclarecimentos acerca do propósito do estudo ou de perguntas

específicas.

b) Direito à revelação completa.

A decisão de uma pessoa acerca de sua participação em um estudo não pode ser tomada sem

revelação total, o que significa que o pesquisador deve descrever, em seu todo, a natureza do

estudo, o direito dos sujeitos a recusar a participação, as responsabilidades do pesquisador e os

prováveis riscos e benefícios advindos (POLIT e HUNGLER, 1995).

O direito à autodeterminação e à revelação completa constituem dois elementos importantes, nos

quais baseia-se o consentimento autorizado.

3.8.7 Consentimento autorizado

Sujeitos potenciais, totalmente informados acerca da natureza da pesquisa, das exigências que

lhes serão feitas e dos potenciais custos e benefícios, encontram-se em posição de tomar decisões

abalizadas quanto à participação ou não.

Em muitos casos, os pesquisadores documentam o processo de consentimento autorizado,

fazendo com que os sujeitos assinem um formulário de consentimento, que inclui (POLIT e

HUNGLER, 1995):

- O fato de que os dados oferecidos pelos sujeitos ou deles obtidos serão usados em um

estudo científico.

- O propósito do estudo.

- O tipo de dados coletados.

- A natureza e a extensão do compromisso temporal dos sujeitos.

- Os procedimentos a serem seguidos, na coleta dos dados da pesquisa.

- A maneira pela qual os sujeitos foram selecionados.

- Desconfortos físicos e emocionais potenciais, ou efeitos colaterais.

- Uma descrição da natureza voluntária da participação e do direito a recusar-se, a qualquer

momento, sem penalidades.

- Uma garantia de que a privacidade do sujeito será protegida, em todos os momentos.

- Os nomes das pessoas a serem contatadas para informações ou queixas acerca do estudo.

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4 REFERENCIAL TEÓRICO

A etnografia, método utilizado por antropólogos, focaliza a cultura de um grupo de pessoas. Um

pressuposto subjacente do etnógrafo é o de que todo grupamento de indivíduos, finalmente, cria

uma cultura que orienta a visão de mundo dos seus membros e a forma pela qual eles estruturam

suas experiências. A meta do etnógrafo é aprender, a partir dos membros de um grupo cultural, a

compreender sua visão de mundo, tal como eles a definem.

Muitos pesquisadores em enfermagem fazem estudos etnográficos. De fato, Leininger criou a

expressão “pesquisa em etno-enfermagem”, que define como o estudo e a análise de visões,

crenças e práticas de pessoas da localidade ou nativas, sobre comportamentos de cuidados de

enfermagem e processos de culturas especificadas (POLIT e HUNGLER, 1995).

A idéia da Enfermagem Transcultural, a Teoria do Cuidado Transcultural e a preservação do

cuidado como essência da enfermagem foram desenvolvidos por Leininger a partir da metade dos

anos 50. Nessa época, enquanto trabalhava com crianças perturbadas num hospício ela percebeu

que algumas das necessidades de cuidados de enfermagem das crianças mudavam conforme elas

fossem de origem africana, judia, germânica ou anglo-americana. Ela sentiu um choque cultural e

sentiu-se impotente para ajudar adequadamente a essas crianças. Ela verificou que as enfermeiras

confiavam excessivamente nas explicações biofísicas e psicológicas, sem estar conscientes de

como a cultura pode influenciar a enfermagem e o cuidado. Ela constatou que o comportamento

das crianças tinha bases na sua cultura, o que influenciava sua saúde mental. Por isso procurou

respostas na antropologia, o que foi para ela uma descoberta. A partir dos conhecimentos

adquiridos formulou sua Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Transcultural

(LEININGER, 1991).

Segundo Leininger, as enfermeiras não somente requerem uma visão holística “bio-psico-socio-

cultural”, mas também uma visão comparativa das diferenças e similaridades culturais, entanto

que elas trabalham com pessoas em diferentes contextos ambientais. Importantes amplas

dimensões que requerem ser consideradas pelas enfermeiras para ter uma visão holística

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completa incluem: visão-do-mundo; estado biofísico; orientação religiosa (ou espiritual);

fenômenos culturais materiais e não-materiais; o ambiente político, econômico, legal,

educacional, tecnológico e físico; o idioma; as práticas de cuidados populares e profissionais.

Algumas das premissas da Teoria do Cuidado Transcultural são (LEININGER, 1991):

- O Cuidado é a essência da enfermagem e seu foco distintivo, dominante, central e

unificador.

- O Cuidado é essencial para o bem-estar, saúde, cura, crescimento, sobrevivência e para

sobrepor deficiências ou a morte.

- O cuidado Cultural é o meio holístico mais completo para conhecer, explicar, interpretar e

prever os fenômenos do cuidado de enfermagem, de modo a guiar as práticas de cuidado

em enfermagem.

- O Cuidado é essencial para a cura, pois não existe cura sem o cuidado.

- Os conceitos, significados, expressões, padrões, processos e formas de cuidado são

diferentes (diversos) e similares (universais) nas culturas de todo o mundo.

- Os valores, crenças e práticas do cuidado Cultural são influenciadas e têm de estar

encaixadas no contexto de visão-de-mundo, parentesco (social), idioma, religião (ou

espiritualidade), política (legal), educacional, econômico, tecnológico, etno-histórico e

ambiental de uma cultura em particular.

- Um cuidado de enfermagem coerente culturalmente ou benéfico pode somente ocorrer

quando o individuo, grupo, família, comunidade ou os valores, expressões ou padrões de

cuidado na cultura são usados adequadamente e em formas significativas pela enfermeira.

Segundo LEININGER (1991), dado que os principais métodos utilizados para estudar a teoria do

Cuidado Cultural têm estado dentro do modelo qualitativo usando o método de etno-enfermagem,

as definições orientativas são mais adequadas que as definições operacionais usadas nos modelos

quantitativos. Assim sendo, as seguintes definições orientativas são usadas como guias para

estudar o domínio ou áreas freqüentemente relacionadas com a teoria:

- Cuidado (substantivo “Care”) refere-se a fenômenos abstratos e concretos relacionados

com ajudar, suportar ou possibilitar experiências ou comportamentos satisfazendo

necessidades evidentes ou antecipadas que permitam melhorar ou aliviar a condição

humana ou o modo de vida.

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- Cuidado (Gerúndio “Caring”) refere-se a ações ou atividades tendentes a ajudar, suportar

ou possibilitar que outros indivíduos ou grupos com necessidades evidentes ou

antecipadas de ter uma melhoria da condição humana ou modo de vida, ou de enfrentar a

morte.

- Cultura refere-se aos valores, crenças, normas e modos de vida aprendidos,

compartilhados e transmitidos de um grupo em particular, que guiam seus modos de

pensar, decisões e ações de uma forma padronizada.

- Cuidado Cultural refere-se aos valores, crenças e modos de vida padronizados que foram

subjetivamente e objetivamente aprendidos e transmitidos, e que ajudam, suportam,

facilitam ou permitem que outro individuo ou grupo mantenha seu bem-estar, saúde, para

melhorar sua condição humana e modo de vida, ou lide com a doença, deficiência ou

morte.

- Enfermagem refere-se à profissão e disciplina aprendida de forma humanística e

científica, que é enfocada nos fenômenos e atividades do cuidado humano, para ajudar,

suportar, facilitar ou possibilitar que indivíduos ou grupos mantenham ou recuperem seu

bem-estar (ou saúde) em forma benéfica e significativa culturalmente, ou ajudem às

pessoas a enfrentar deficiências ou a morte.

- Visão-de-mundo refere-se ao modo em que as pessoas tendem a enxergar o mundo ou seu

universo, para formar uma imagem ou uma postura de valores acerca de sua vida e do

mundo que as rodeia.

- Contexto ambiental refere-se à totalidade de um evento ou situação ou a experiências

específicas que dão significado às expressões e interpretações humanas, e às interações

sociais, em particular aos cenários físicos, ecológicos, sócio-políticos e/ou culturais.

- Sistema de cuidado profissional refere-se aos conhecimentos e habilidades relacionados

com o cuidado profissional, saúde, doença e bem-estar, que são formalmente ensinados,

apreendidos, e transmitidos formalmente e que prevalecem nas instituições profissionais,

em geral com pessoal multidisciplinar para servir aos consumidores.

- Saúde refere-se ao estado de bem-estar que é definido, avaliado e praticado culturalmente,

e que reflete a habilidade dos indivíduos (ou grupos) de realizar suas atividades diárias de

forma culturalmente expressa, benéfica e padronizada.

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- Preservação ou manutenção do cuidado cultural refere-se às ações e decisões

profissionais assistenciais, que servem para dar ajuda, suporte, facilitar ou possibilitar que

pessoas de uma determinada cultura retenham ou preservem valores de cuidado

relevantes, de modo que eles possam manter seu bem-estar, se recuperar de doenças, ou

enfrentar deficiências ou a morte.

- Acomodação ou negociação do cuidado cultural refere-se às ações e decisões

profissionais assistenciais, que servem para dar ajuda, suporte, facilitar ou possibilitar que

pessoas de uma determinada cultura se adaptem a ou negociem com outras, para ter

benefícios ou satisfazer suas necessidades de saúde com os provedores de cuidado

profissional.

- Re-padronização ou reestruturação do cuidado cultural refere-se às ações e decisões

profissionais assistenciais, que servem para dar ajuda, suporte, facilitar ou possibilitar que

os clientes reorganizem, mudem ou modifiquem intensamente seus modos-de-vida para

padrões de cuidado da saúde novos, diferentes e benéficos, sempre respeitando os valores

e crenças culturais dos clientes e ainda provendo um modo-de-vida benéfico ou mais

saudável que o anterior, sendo tais câmbios estabelecidos em comum acordo com os

clientes.

- Cuidado (de enfermagem) coerente com a cultura refere-se às ações e decisões baseadas

no conhecimento, que servem para ajuda, suportar, facilitar ou possibilitar, que são

realizadas de forma a se ajustar aos valores, crenças e modos-de-vida culturais de um

individuo, grupo ou instituição, de modo a prover ou suportar serviços significativos,

benéficos que satisfaçam o cuidado à saúde ou bem-estar.

Conforme foi visto em vários itens anteriores deste capítulo (particularmente o 3.1, sobre a

história da fitoterapia), o uso das plantas medicinais foi ampliado a partir da época em que a da

etnobotánica foi exercida por cientistas envolvidos em expedições botânicas exploratórias em

várias colônias, a mando dos governos de países conquistadores.

A partir do surgimento da pesquisa científica em plantas medicinais, a etnobotânica teve um novo

impulso e, mais recentemente, sua importância foi revigorada devido a que constitui um meio

eficaz e lucrativo de realizar pesquisa e desenvolvimento de fármacos, mais acessível aos grandes

grupos farmacêuticos.

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45

O uso das plantas medicinais está ainda muito enraizado na cultura popular (até porque há

dificuldades no acesso da população aos remédios alopáticos), de modo que a fitoterapia pode ser

trabalhada como uma forma de cuidado de enfermagem coerente com a cultura do usuário,

conforme os conceitos elaborados por Leininger.

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46

5 METODOLOGIA

Para atingir os objetivos propostos foi realizado um estudo abrangendo todos os 44 docentes do

Curso de Enfermagem da Univali, campus Biguaçu- SC, mediante questionários que foram

entregues aos 44 docentes, para seu preenchimento sem ingerência do pesquisador.

Para facilitar a comparação das respostas e a execução da análise estatística, preferiu-se fazer a

coleta de dados mediante um questionário do tipo estruturado (apresentado no apêndice A), com

um tempo de resposta estimado entre 15 a 20 minutos, isto é, suficientemente curto para não

desencorajar a participação.

A maior parte das perguntas foi do tipo fechada, com respostas em 5 categorias segundo a escala

de Lickert. As categorias foram de vários tipos:

- Categorias entre “concordância total” e “discordância total” com uma certa afirmação.

- Categorias quantitativas (5 valores percentuais).

- Categorias semi-quantitativas (comparação entre características de fitoterápicos e

alopáticos variando entre “muito menor” e “muito maior”).

O uso de questões fechadas visou permitir a análise das respostas não só de forma qualitativa,

mas também quantitativa, através de tratamento estatístico com o objetivo de correlacionar as

variáveis dependentes (atitudes, comportamentos, expectativas) com as variáveis preditoras

(formação acadêmica, experiência).

Para evitar a tendência à aquiescência (isto é, tendência a concordar com afirmações,

independentemente do conteúdo), as questões fechadas foram elaboradas em termos positivos e

negativos em relação à fitoterapia e distribuídas nos grupos de questões em forma aleatória.

Por outro lado, também foram formuladas questões abertas, para permitir que os respondentes

manifestassem sua opinião em suas próprias palavras, de modo a enriquecer com novas visões e

percepções este estudo.

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47

A seguir são descritos os objetivos dos vários grupos de questões (veja o apêndice A):

a) Dados pessoais, incluindo faixa etária, experiência no magistério e fora dele, formação

acadêmica. Com o objetivo de correlacioná-los com as respostas às diversas questões

relacionadas com a fitoterapia.

b) Questões 1.1 a 1.3, que consistiram em opiniões acerca da Portaria No. 971 do Ministério

da Saúde relativa à PNPIC. Tinham por objetivo avaliar o grau de conhecimento dos docentes

acerca do teor da Portaria e as suas expectativas quanto aos efeitos potenciais da mesma.

c) Questões 1.4 a 1.14, sobre algumas características dos fitoterápicos (em geral, mediante

comparação com os alopáticos). Tinham por objetivo analisar o conhecimento acerca do papel

atual e potencial das plantas medicinais na farmacologia e no uso direto como alternativa

terapêutica.

d) Questões 2.1 a 2.4, para conhecer a freqüência de uso da fitoterapia por parte dos

respondentes, e a freqüência com que indicam a fitoterapia nos ambientes familiar, docente e de

trabalho.

e) Questões 2.5 a 2.8, para conhecer a percepção dos respondentes acerca do nível de uso

dos fitoterápicos em países desenvolvidos e subdesenvolvidos e, particularmente, no Brasil.

f) Questões 3.1 a 3.6, para conhecer a percepção acerca do custo dos fitoterápicos, as

questões de segurança (efeitos colaterais, toxicidade) e a disponibilidade de informações (quanto

a indicações e posologia).

g) Questão 4, para saber a opinião dos respondentes sobre a conveniência ou não de

intensificar o uso dos fitoterápicos e as formas de consegui-lo.

h) Questão 5, para saber a opinião acerca da conveniência de promover o ensino da

fitoterapia nas faculdades de Ciências da Saúde.

i) Questão 6, para saber quais ações governamentais os respondentes consideram mais

eficazes para melhorar a saúde da população.

Junto com o questionário foi entregue um Termo de Consentimento para ser assinado pelo

respondente (veja o texto no apêndice B). Como se pode observar, dito Termo tem explicitado o

direito à autodeterminação (isto é, o direito a se recusar a responder o questionário, total ou

parcialmente) e o direito à revelação completa (sobre os objetivos do estudo e as

responsabilidades do pesquisador).

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48

Quanto ao aspecto ético da pesquisa, foi tomado o cuidado de manter a confidencialidade dos

dados colhidos. A metodologia, incluindo o questionário e o Termo de Consentimento, foi

submetida previamente à Comissão de Ética em Pesquisa da Univali, e aprovada pela mesma.

Com o intuito de não atrasar o andamento da pesquisa, no início de dezembro de 2006 foram

entregues em mãos aos docentes 27 dos 44 questionários. O resto foi entregue em fevereiro de

2007, assim que teve inicio o período letivo na Univali. Em função disso e do fato de que a

amostra de respondentes era relativamente pequena, não foi realizado pré-teste com alguns dos

respondentes.

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49

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entregues aos 44 docentes do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIVALI em

Biguaçu os questionários da pesquisa, acompanhados dos termos de consentimento e de uma

carta explicando os objetivos da pesquisa. De forma espontânea responderam 16 docentes.

Como este número era relativamente pequeno para configurar uma amostra significativa, foram

entregues aos 28 docentes que não haviam respondido novas cópias do questionário e uma carta

solicitando a colaboração no processo de coleta de dados. Destes docentes foram recebidos 10

questionários respondidos, perfazendo um total de 26, o que representa 59,0% dos 44 docentes do

curso.

No processo de análise, em primeira instância foi dado um código numérico a cada docente, para

poder trabalhar as informações colhidas sem fazer relação direta com a identidade dos

respondentes.

A seguir será feita uma apresentação detalhada dos resultados e suas respectivas análises.

6.1 Considerações gerais sobre as respostas.

Em geral os docentes responderam em forma integral o questionário, isto é, não deixaram de

responder nenhuma das questões. Entretanto, houve algumas questões que de forma mais

freqüente deixaram de ser respondidas, sendo que os motivos cogitados para tal serão

apresentados por ocasião da análise dos mesmos.

As respostas em geral não apresentaram uma distribuição estatística do tipo normal, razão pela

qual não podem ser descritas de forma simples usando o valor médio e o desvio padrão. Então,

uma forma viável de apresentar graficamente os resultados é através de diagramas de barras, que

permitem visualizar facilmente o tipo de distribuição dos mesmos (bi-modal, uni-modal) e suas

características.

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50

6.2 Perfil pessoal e profissional dos respondentes

Na tabela 6.1 são apresentados dados processados, de modo a conhecer o perfil de idade dos

respondentes. Observa-se que a maioria (60% dos 25 que responderam) tem entre 36 e 45 anos e

32% tem 46 anos ou mais.

Tabela 6.1 Perfil dos respondentes

Idade Qtde %

26 a 35 2 8,0

36 a 45 15 60,0

46 ou mais 8 32,0

Nas figuras 6.1 e 6.2 são apresentados os anos de trabalho no magistério e fora do magistério,

respectivamente. Na figura 6.1 observa-se que uma parcela significativa tem tempo de magistério

entre 4 e 5 anos. O valor médio de tempo é de 6,0 anos. O docente com mais tempo tem 11 anos.

Isso contrasta com o tempo de experiência fora do magistério (veja a figura 6.2). Uma grande

parte dos respondentes tem entre 19 e 22 anos. O tempo médio de experiência é de 18,5 anos.

Somente um respondente carece de experiência fora do magistério.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 120

1

2

3

4

5

Fre

qüên

cia

Tempo no Magistério (anos) Figura 6.1 Tempo de trabalho no Magistério.

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51

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 300

1

2

3

4

5

6F

reqü

ênci

a

Tempo de trabalho fora do Magistério (anos)

Figura 6.2 Tempo de trabalho fora do Magistério.

Quanto à área de atuação fora do magistério (veja a tabela 6.2):

• 3 não responderam a questão.

• A maioria trabalhou em saúde coletiva ou em saúde em enfermagem.

Tabela 6.2 Áreas de atuação fora do magistério.

Área atuação fora do magistério Soma

Não informada 3

Saúde coletiva 5

Saúde em enfermagem 5

Hospitalar 2

Hospitalar/ ambulatorial 1

Clínica médica 2

Gerenciamento de enfermagem 1

Enfermagem obstetricial 1

Obstetrícia 1

Assistência de enfermagem 1

Saúde da mulher, criança e adolescente 1

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Quanto ao nível de formação (veja a tabela 6.3), dos 25 que responderam esta questão:

• A grande maioria (72%) concluiu o curso de Mestrado.

• 4% está cursando mestrado, de modo que no prazo máximo de 2 anos se espera que

76% dos respondentes tem nível de mestrado.

• 4% dos respondentes concluiu o doutorado e 8% está cursando doutorado.

Tabela 6.3 Nível de formação dos respondentes.

Nível de formação: Qtde % respo

Mestrado- cursando 1 4

Mestrado- concluído 18 72

Doutorado- cursando 2 8

Doutorado- concluído 1 4

Quanto à área do curso de mestrado (veja a tabela 6.4):

• Muitos docentes deixaram de responder (6, ou seja 28,6%).

• A área mais freqüente foi a de Enfermagem (33,3%).

• Áreas de freqüência média foram Saúde Pública e Assistência de Enfermagem (cada

uma com 9,5%).

Tabela 6.4 Área do curso de mestrado (concluído ou em andamento)

Área Qtde % respo

Não informada 6 28,6

Enfermagem 7 33,3

Saúde pública 2 9,5

Assistência de enfermagem 2 9,5

Enfermagem- filosofia, saúde e sociedade 1 4,8

Neurociência e comportamento 1 4,8

Saúde da família. Assistência de enfermagem 1 4,8

Saúde da família e gestão do trabalho 1 4,8

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Dos docentes que afirmaram ter concluído ou estar cursando doutorado, somente um informou a

área de conhecimento: esse docente está realizando seu doutorado em Farmacologia.

Na tabela 6.5 são descritos os cursos de especialização realizados (pedia-se para informar os dois

mais importantes, na opinião do respondente), 7 docentes realizaram cursos em áreas de saúde

coletiva, 11 docentes fizeram cursos relacionados com administração e gerência, 6 docentes

fizeram cursos relacionados com pedagogia, 3 sobre enfermagem obstétrica. Os cursos realizados

em terapias alternativas/ complementares foram: acupuntura (2 docentes) e fitoterapia (1

docente).

Tabela 6.5 Cursos de especialização realizados

Cursos de especialização Soma Não informado 1 Saúde pública 4 Saúde da família 2 Saúde coletiva 1 Recursos humanos 2 Administração hospitalar 2 Gestão em enfermagem 1 Administração em enfermagem 1 Gerenciamento de Materiais hospitalares 1 Gestão empresarial 1 Administração de centros de enfermagem 1 Projetos assistenciais em enfermagem 1 Administração de serviços de saúde 1 Metodologia de ensino na enfermagem 1 Pedagogia na área de Saúde 1 Formação didático pedagógica 1 Metodologia de ensino 1 Pedagogia de curso profissionalizante 1 Pedagogia 1 Enfermagem obstétrica 3 Terapia intensiva 2 Acupuntura 2 Enfermagem do trabalho 1 Fitoterapia 1 Epidemiologia 1 Violência doméstica 1 Gerontologia 1

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6.3 Respostas às questões 1.1 a 1.3

Estas questões dizem respeito à Portaria No. 971 do Ministério da Saúde, de 3/05/2006, que se

refere à aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS

(PNPIC).

A categorização das respostas era dada em cinco níveis: desde discorda totalmente até concorda

totalmente. Para facilitar a elaboração dos gráficos e o cálculo de um valor médio, às categorias

foram dados os valores numéricos indicados na tabela 6.6.

Tabela 6.6 Relação entre as categorias e seus correspondentes valores numéricos

Categoria da resposta Valor

CT- Concordo totalmente 2

CP- Concordo parcialmente 1

NN- Nem concordo nem discordo 0

DP- Discordo parcialmente -1

DT- Discordo totalmente -2

Questão 1.1- Essa Portaria é benéfica, pois permitirá um maior acesso dos usuários a outros métodos terapêuticos

A resposta foi quase unânime em relação a esta afirmação (veja a figura 6.3): quase todos

concordam totalmente com ela. O valor médio calculado é de +1,77, o que é muito próximo a

uma concordância total.

Questão 1.2- A mesma Portaria não deveria ter colocado no mesmo leque terapias alternativas tão diferentes

As posições em relação a esta afirmação estiveram bastante divididas (veja a figura 6.4):

• 8 responderam não concordar nem discordar.

• 7 discordaram totalmente.

• O valor médio calculado é -0,27, o que significa uma discordância leve.

As causas de que um número significativo de respondentes não tenha expressado uma opinião

podem ser várias. Uma delas é o fato de que a Portaria é relativamente recente e, como resultado,

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não é conhecida por muitos dos profissionais de saúde. Outra é de a Portaria teve pouca

divulgação na mídia, diferente do que ocorre com outras leis do governo que geram mais

expectativas nos cidadãos ou que os atingem de uma forma mais direta e palpável (como é o caso

recente da prorrogação da CPMF). Uma terceira é que os docentes tenham divergências quanto à

conveniência de ter colocado junto práticas terapêuticas mais aceitas pela classe médica (como

acupuntura e homeopatia) e outras consideradas pouco científicas.

-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.1

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.3 “Essa Portaria é benéfica, pois permitirá um maior acesso dos usuários a outros métodos terapêuticos”.

-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.2

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.4 “A mesma Portaria não deveria ter colocado no mesmo leque terapias alternativas tão diferentes”.

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Questão 1.3- Essa Portaria não vai mudar substancialmente a realidade da saúde no Brasil

Embora menos respondentes (4) tenham deixado de dar sua opinião do que à questão anterior,

neste caso também as opiniões são divididas (veja a figura 6.5). O valor médio calculado é +0,04,

o que significa que, em média, o nível de concordância é similar ao de discordância.

Enquanto que alguns pensam que essa Portaria vai mudar substancialmente a realidade da saúde

no Brasil, uma quantidade similar acredita que isso não vai ocorrer. Essa visão pode ser um

ceticismo acerca da eficácia das políticas do governo, em geral, ou uma constatação das

dificuldades de implementar políticas de saúde que atendam as necessidades da população?

6.4 Respostas às questões 1.4 a 1.14

Estas questões dizem respeito a aspectos gerais sobre a fitoterapia em relação à alopatia.

Questão 1.4- Para ampliar o uso dos fitoterápicos deveria ser feita uma divulgação maior

A resposta a esta questão foi quase unânime (veja a figura 6.6): a maioria concorda com esta

afirmação. Sem dúvida a divulgação é um recurso útil e necessário para aumentar o uso dos

fitoterápicos, a semelhança do que ocorre com os alopáticos, em que os laboratórios

farmacêuticos despendam grande vulto de recursos em propaganda. Só que no caso dos

fitoterápicos, a divulgação seria no sentido de informar e educar, para o uso consciente desses

recursos terapêuticos.

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-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.3

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.5 “Essa Portaria não vai mudar substancialmente a realidade da saúde no Brasil”.

-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.4

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.6 “Para ampliar o uso dos fitoterápicos deveria ser feita uma divulgação maior”.

Questão 1.5- A fitoterapia tem muito menos fundamentação científica que a alopatia.

As opiniões acerca desta afirmação estão muito divididas (veja a figura 6.7):

• 4 docentes não concordam nem discordam. Isso deixa duas opções: ou eles acreditam

que as duas terapias tem nível similar de fundamentação científica ou não tem uma

opinião formada sobre o assunto.

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• É maior o número de docentes que discorda totalmente (8) do que concorda

totalmente (apenas 2). O valor médio calculado é -0,23, o que significa um leve grau

de discordância (isto é, a favor da fitoterapia).

• A quantidade de docentes que concorda (seja parcial ou totalmente) com esta

afirmação é expressiva: 10 (ou seja, 38,5%). Se a fitoterapia tem esse baixo nível de

credibilidade ante os profissionais da saúde, como se pode pretender implementar

disciplinas num curso de graduação em enfermagem ou, mais ainda, cursos de

especialização para enfermeiras. Não basta que os profissionais que lecionam

disciplinas nestas áreas tenham conhecimento, experiência e comprometimento, mas é

preciso que seus colegas compartilhem dessa visão. Isso porque, assim como as

disciplinas não são “estanques” (isto é, não tem o começo e fim em si mesmas), a

pesquisa e desenvolvimento em fitoterapia (assim como outras áreas da saúde)

envolve trabalho multidisciplinar, de várias áreas da medicina, enfermagem, biologia,

química, agronomia, etc.

Acerca da fundamentação científica da fitoterapia, basta consultar alguns itens da revisão

bibliográfica em que foi demonstrada tal característica, como os itens 3.1 (histórico da

fitoterapia) e 3.4 (pesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos).

-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.5

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.7 “A fitoterapia tem muito menos fundamentação científica que a alopatia”.

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Questão 1.6- Os remédios fitoterápicos são de uso mais seguro, pois tem menos efeitos colaterais que os alopáticos

As posições acerca desta afirmação (figura 6.8) contrastam com a anterior: enquanto que muitos

docentes concordam parcialmente (14) ou totalmente (1), poucos deles discordam. Isso significa

que, embora acreditem que a fitoterapia tenha menor fundamentação científica que a alopatia

(como responderam à questão 1.5), consideram que ela tem menos efeitos colateriais. Essa

resposta só poderia ser justificada se baseada no senso comum (por tradições ou crenças).

Por outro lado, assim como na questão anterior, 4 docentes não concordam nem discordam com a

afirmação. Neste caso, essa resposta pode-se justificar por alguns problemas que tendem a

apresentar os fitoterápicos, relacionados com a concentração (em função das características

específicas da planta de onde foram extraídos), com a dosagem, e com a multiplicidade de

princípios ativos contidos numa mesma planta.

Isso deixa duas opções: ou eles acreditam que as duas terapias têm nível similar de

fundamentação científica ou não tem uma opinião formada sobre o assunto.

Conforme a afirmação de VILLAS BÕAS (2004) citada no item 3.6.1 da revisão bibliográfica,

em alguns casos a fitoterapia tem-se mostrado uma alternativa mais adequada que os alopáticos,

por apresentar menos efeitos colaterais.

-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.6

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>> Figura 6.8 “Os remédios fitoterápicos são de uso mais seguro, pois tem menos efeitos colaterais

que os alopáticos”.

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Questão 1.7- Muitos remédios alopáticos tem sido desenvolvidos a partir do estudo das plantas medicinais

A opinião em relação a esta afirmação foi unânime (veja a figura 6.9). Todos os docentes

concordam, seja totalmente (23) ou parcialmente (3). Isso demonstra que eles conhecem o papel

fundamental que as plantas têm tido e continuam tendo no desenvolvimento dos fármacos (como

discutido nos itens 3.1 e 3.4, este último citando o uso das plantas como método de triagem de

novas moléculas bioativas).

-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.7

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.9 “Muitos remédios alopáticos tem sido desenvolvidos a partir do estudo das plantas medicinais”.

Questão 1.8- O uso de plantas medicinais tem que ser melhor aproveitado no Brasil, pois este possui grande biodiversidade.

Sobre esta afirmação houve forte concordância, como era de se esperar. Isso, em primeira

instância, como corolário da afirmação anterior sobre o papel das plantas no desenvolvimento dos

remédios alopáticos. Também pelo fato de que vários remédios alopáticos patenteados em países

do Primeiro Mundo foram desenvolvidos com base no estudo de plantas brasileiras. Às vezes até

utilizando as informações divulgadas como resultado de trabalhos de pesquisadores brasileiros,

financiados pelo governo. Outras através da biopirataria (ou, melhor, biogrilagem) de nossos

recursos naturais, direcionada pelo conhecimento popular e tradições, como descrito nos itens

3.5.4 e 3.5.5, este último sobre a aplicação das leis de patentes no campo da fioterapia.

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Entretanto, ocorreu que um docente não concorda nem discorda e outro concorda, mas

parcialmente (veja a figura 6.10).

-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.8

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.10 “O uso de plantas medicinais tem que ser melhor aproveitado no Brasil, pois este possui grande biodiversidade”.

Questão 1.9- É possível sintetizar drogas alopáticas mais poderosas que as fitoterápicas

Uma grande parte dos respondentes (9, o que corresponde a 34,6%) não concorda nem discorda

desta afirmação, como mostra a figura 6.11. Pela forma em que foi formulada a frase, se o

respondente tivesse conhecimento sobre a característica abordada, não haveria como ficar neutro.

Portanto, esse tipo de resposta transparece desconhecimento.

De fato, para citar um exemplo, em alguns alopáticos desenvolvidos com base nos princípios

ativos de plantas, os similares sintéticos estão em altas concentrações, de modo que para ter efeito

similar com um fitoterápico, seria necessário o uso de uma grande quantidade de material

vegetal.

Portanto, a resposta mais plausível seria concordar com a afirmação (o que fizeram 12 dos

docentes), do que discordar dela (o que fizeram 5 dos docentes).

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-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.9

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>> Figura 6.11 “É possível sintetizar drogas alopáticas mais poderosas que as fitoterápicas”.

Questão 1.10- Com a estrutura de pesquisa atualmente existente no Brasil é possível desenvolver remédios fitoterápicos

A maior parte dos docentes concorda (10 totalmente e 9 parcialmente), conforme pode ser

observado na figura 6.12. Isto está acorde com a realidade, pois no Brasil existem condições para

fazer pesquisa e desenvolvimento de fitoterápicos. De fato, há quase 200 grupos de pesquisa

cadastrados no CNPq, que envolvem profissionais das várias áreas necessárias para essa

atividade. O que falta, principalmente, é o estabelecimento de políticas públicas de incentivo à

inovação tecnológica e o investimento da indústria farmacêutica. Como em outros setores da

economia, a indústria farmacêutica, dominada por oligopólios, prefere concentrar os seus centros

de pesquisa nos países desenvolvidos.

Por outro lado, 4 dos docentes (15,4%) nem discordam nem concordam com esta afirmação. A

opinião sobre essa afirmação não admite esse tipo de resposta, a menos que haja

desconhecimento sobre o tema.

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-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.10

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>> Figura 6.12 “Com a estrutura de pesquisa atualmente existente no Brasil é possível desenvolver

remédios fitoterápicos”.

Questão 1.11- Na situação atual do Brasil, o desenvolvimento de remédios fitoterápicos depende mais de ações do governo do que da iniciativa privada

Na figura 6.13 pode ser observado que:

• A maioria dos respondentes concorda com a afirmação (13 parcialmente e 8

totalmente, perfazendo um total de 80,8%). Várias são as formas de que o governo

dispõe para incentivar o uso de fitoterápicos. Uma delas é de aumentar a facilidade de

acesso mediante mudanças nas políticas e legislação, a exemplo do que foi feito

mediante a Portaria No. 971 do Ministério da Saúde. Outra é promover a inovação

tecnológica em fitoterapia através dos órgãos de fomento à pesquisa. Outra é investir

recursos no desenvolvimento e fabricação de fitoterápicos por um órgão do governo, a

exemplo do que a extinta CEME fazia.

• Por outro lado, 4 dos respondentes (15,4%) não concordam nem discordam com esta

afirmação. Isto, em função da forma como foi formulada a frase, admite várias

interpretações: ou os respondentes se abstêm de emitir juízo a respeito (por

desconhecimento ou por ter dúvidas a respeito), ou consideram que são igualmente

importantes as ações do governo e da iniciativa privada.

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64

-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.11

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>> Figura 6.13-“Na situação atual do Brasil, o desenvolvimento de remédios fitoterápicos depende

mais de ações do governo do que da iniciativa privada”.

Questão 1.12- Para o desenvolvimento de fitoterápicos é importante utilizar como base a sabedoria popular

Na figura 6.14 pode-se observar que:

• Acorde com os fatos, a maior parte dos respondentes manifestou que concorda com a

afirmação (13 parcialmente e 6 totalmente, perfazendo um total de 73,1%).

• 2 dos respondentes (7,7%) nem discordam nem concordam com esta afirmação.

• Uma parcela ainda maior de respondentes discorda desta afirmação (3 totalmente e 2

parcialmente).

Para estes docentes isso significa que no desenvolvimento dos fitoterápicos a sabedoria popular

deve ser totalmente deixada de lado, pois ela não tem valor algum. Mesmo que essa sabedoria,

que antigamente era uma tradição passada oralmente de geração em geração e mais tarde foi

sendo descrita em livros, tenha sido o fruto de centenas ou até milhares de anos de

experimentação. Isso seria desconhecer a validade da etnobotânica, que tem sido até usada por

laboratórios farmacêuticos estrangeiros para adquirir conhecimento sobre as plantas com a

população nativa.

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-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.12

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.14 “Para o desenvolvimento de fitoterápicos é importante utilizar como base a sabedoria popular”.

Questão 1.13- Na sabedoria popular em relação às propriedades e aplicações das plantas há mais conceitos errados do que certos

As manifestações em relação a esta afirmação não são coerentes com aquela da questão anterior

(6.12), como mostra a figura 6.15. Enquanto que a maioria afirma que para o desenvolvimento

dos fitoterápicos é importante utilizar como base a sabedoria popular, as opiniões quanto à

validade da sabedoria popular são divididas:

• 7 dos respondentes (26,9%) não discordam nem concordam com esta afirmação. Isso

admite duas possibilidades: os que responderam desta forma consideram que a

quantidade de acertos e de erros na sabedoria popular sejam similares, ou,

simplesmente, não se consideram aptos a responder esta questão.

• Chama a atenção também a acentuada simetria nas respostas. As quantidades de

respondentes que concordam (total e parcialmente) são similares às que concordam.

Isso resulta em um valor médio calculado de -0,19, o que significa uma leve

discordância.

Verifica-se com isso que, se por um lado a sabedoria popular é valorizada por alguns, outros a

vêm com descrédito. Certamente o charlatanismo praticado por alguns deve ter ajudado a formar

esta última opinião.

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-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.13F

reqü

ênci

a

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.15 “Na sabedoria popular em relação às propriedades e aplicações das plantas há mais conceitos errados do que certos”.

Questão 1.14- As empresas farmacêuticas (a nível mundial) investirão cada vez mais recursos no desenvolvimento de fitoterápicos.

Na figura 6.16 pode-se observar que:

• Uma parcela significativa dos respondentes (7, ou seja, 26,9%), não discorda nem

concorda com esta afirmação. Como a afirmação não admite meios-termos, isso

significa que os que responderam assim não se sentem capazes de emitir um juízo.

• Parcela majoritária dos respondentes concorda com a afirmação (9 parcialmente e 6

totalmente, perfazendo um total de 57,7%), o que coincide com os fatos. Várias

companhias farmacêuticas outrora dedicadas exclusivamente ao desenvolvimento e

produção de remédios alopáticos estão adquirindo companhias de fitoterápicos. Para

citar um exemplo, no Brasil nos últimos anos o aumento no volume de fitoterápicos

comercializados tem sido maior que o dos alopáticos, como afirma SILVA JR (2003),

segundo citação que consta no item 3.3.3.

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-2 -1 0 1 202468

101214161820222426

Questão 1.14

Fre

qüên

cia

<<Discorda Concorda>>

Figura 6.16 “As empresas farmacêuticas (a nível mundial) investirão cada vez mais recursos no desenvolvimento de fitoterápicos”.

6.5 Respostas às questões 2.1 a 2.4

Estas questões tratam do grau de uso, indicação e prescrição de fitoterápicos por parte dos

respondentes.

Questão 2.1 Uso pessoal (em mim mesmo)

Na figura 6.17 é possível observar que:

• 2 docentes (ou seja 7,7% dos 26 que responderam), afirmaram nunca usar

fitoterápicos.

• Por outro lado, a grande maioria afirma ter usado, particularmente em 25% das

ocasiões (11 docentes, ou seja 42,3% deles) e 50% das ocasiões (8 docentes, ou seja

30,8% deles).

• Apenas 1 docente afirmou usar a fitoterapia em 100% das ocasiões em que necessita

de medicação.

Calculando uma média ponderada, os docentes usam a fitoterapia em 41,3% das ocasiões.

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68

0 25 50 75 10002468

101214161820222426

Questão 2.1F

reqü

ênci

a

Percentagem Figura 6.17 Uso pessoal da fitoterapia (no próprio respondente).

Questão 2.2 Indico para a minha família

A tendência das respostas a esta questão é similar à da anterior, como era de esperar. Entretanto,

ocorreu que mais docentes afirmaram que indicam com bastante freqüência os fitoterápicos para

suas famílias (veja a figura 6.18). Por exemplo:

• 5 (ou seja, 19,2% deles) afirmaram que indicam 75% das ocasiões.

• 4 afirmaram que indicam 100% das ocasiões. Não parece ter sentido este resultado

haja vista que, conforme consta nas respostas à questão anterior, apenas 1 docente usa

em si próprio a fitoterapia em 100% das ocasiões.

Calculando uma média ponderada, os docentes indicam a fitoterapia às suas famílias em 48,1%

das ocasiões.

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69

0 25 50 75 10002468

101214161820222426

Questão 2.2F

reqü

ênci

a

Percentagem

Figura 6.18 Quanto o respondente indica a fitoterapia para sua família.

Questão 2.3 Indico para os meus alunos

Um dos docentes não respondeu a esta questão. Dos 25 que responderam (veja a figura 6.19):

• 8 (ou seja, 32,0%) afirmaram que nunca indicaram a fitoterapia aos seus alunos.

• 11 (ou seja, 44,0%) afirmaram que indicam a fitoterapia 25% das ocasiões (quando

comparada com as indicações da alopatia).

Esse baixo nível de indicação da fitoterapia pode ter várias causas. Uma dela pode ser a falta de

oportunidade que os docentes têm para fazer isso, pois durante o curso de enfermagem na Univali

a disciplina sobre o tema é optativa e tem apenas 30 horas-aula. Outra pode ser que, pela falta de

estudos científicos que correlacionem as propriedades terapêuticas da grande maioria das plantas

com a fisiopatologia das doenças, nas disciplinas em que são abordados os tratamentos

terapêuticos não há como introduzir o tema do uso da fitoterapia, além do pouco interesse

científico-acadêmico da área de Enfermagem pelo tema.

Calculando uma média ponderada, os docentes indicam a fitoterapia aos seus alunos em 27,0%

das ocasiões.

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70

0 25 50 75 10002468

101214161820222426

Questão 2.3

Fre

qüên

cia

Percentagem Figura 6.19 Quanto o respondente indica a fitoterapia para os seus alunos.

Questão 2.4 Indico para os meus pacientes (se os tenho)

Esta questão era opcional, pois só podia ser respondida em caso de que o docente lidasse com

pacientes em ambiente de trabalho fora do magistério. Assim sendo, 3 docentes deixaram de

responder, sem expor as razões (faltou deixar no questionário um espaço para convidar o docente

a se manifestar a esse respeito).

Dos 23 que responderam, a grande maioria afirmou que indica pouco ou nunca os fitoterápicos

(veja a figura 6.20):

• 8 docentes (ou seja, 34,8 dos que responderam) afirmaram nunca indicar a fitoterapia.

• 11 (ou seja, 47,8% deles) afirmaram indicar a fitoterapia 25% das vezes.

Calculando uma média ponderada entre os docentes que responderam, eles indicam a fitoterapia

aos seus pacientes em 26,1% das ocasiões.

A enfermagem ainda carece de um maior envolvimento com o uso das Terapias

Complementares como, neste caso, a fitoterapia.

Também entendemos que os atuais docentes não tiveram em sua formação acadêmica da

época o incentivo à pesquisa e uso de plantas medicinais.

Percebemos uma diferença entre o que os docentes usam de fitoterapia para si e suas

famílias (mais de 40%) e para seus alunos e pacientes (26%).

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71

0 25 50 75 10002468

101214161820222426

Questão 2.4F

reqü

ênci

a

Percentagem

Figura 6.20 Quanto o respondente indica a fitoterapia para seus pacientes (em caso de tê-los).

6.6 Respostas às questões 2.5 a 2.8

Estas questões dizem respeito ao conhecimento e percepção dos docentes em relação ao nível de

uso de fitoterápicos no Brasil e no mundo.

Questão 2.5- Uso em países desenvolvidos

Deste grupo de questões, esta foi a que deixou de ser respondida por uma maior quantidade de

docentes (8 deles, ou seja, 30,8% dos 26). Isso transparece a falta de informação que se tem sobre

o grau de desenvolvimento e de uso que tem sido alcançado em países desenvolvidos,

notadamente alguns da Europa.

Dos 18 docentes que responderam (veja a figura 6.21):

• 3 (ou seja, 16,7%) acreditam que a fitoterapia não é usada em países desenvolvidos.

• uma grande parcela (7, ou seja, 38,9%) acredita que a fitoterapia é usada em 50% das

ocasiões.

Calculando uma média ponderada entre os docentes que responderam, eles acreditam que a

fitoterapia é utilizada nos países desenvolvidos em 41,7% das ocasiões.

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72

0 25 50 75 10002468

101214161820222426

Questão 2.5

Fre

qüên

cia

Percentagem

Figura 6.21 Grau de uso da fitoterapia em países desenvolvidos.

Questão 2.6- Uso em países subdesenvolvidos

Apesar de que esta pergunta trata do uso da fitoterapia em países subdesenvolvidos (do qual

Brasil faz parte) e de que as duas perguntas seguintes (2.7 e 2.8) tratam especificamente do

Brasil, elas deixaram de ser respondidas por muitos docentes. Especificamente esta não foi

respondida por 6 docentes (o que representa 23,1% do total), como se pode observar na figura

6.22. Isso, certamente, é devido à falta de divulgação dos fitoterápicos na mídia, em contraste

com o marketing intenso que é feito dos remédios alopáticos.

Dos 20 docentes que responderam:

• 3 (ou seja, 15,0%) acreditam que a fitoterapia nunca é usada é usada em países

subdesenvolvidos, o que de nenhuma forma reflete a realidade.

• A maior parte (11, ou seja 55,0%) acredita que a fitoterapia é usada em 25% das

ocasiões.

Calculando uma média ponderada entre os docentes que responderam, eles acreditam que a

fitoterapia é utilizada nos países subdesenvolvidos em 33,8% das ocasiões. Essa média é menor

que a correspondente à questão anterior (uso em países desenvolvidos). Faltaria saber se essas

respostas refletem verdadeiramente o pensamento dos docentes, ou se alguma aleatoriedade nas

respostas gerou essa situação.

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73

0 25 50 75 10002468

101214161820222426

Questão 2.6

Fre

qüên

cia

Percentagem

Figura 6.22 Grau de uso da fitoterapia em países subdesenvolvidos.

Questão 2.7- Uso no Brasil para tratamento de doenças crônicas

Na figura 6.23 é possível observar que, dos 21 docentes que responderam:

• 4 docentes (ou seja 19,0%) acreditam que a fitoterapia nunca é utilizada no Brasil para

tratamento de doenças crônicas. Essa afirmação é totalmente contrária à realidade.

• A maioria dos docentes (9, ou seja, 42,9% deles) acredita que a fitoterapia é utilizada

em 25% das ocasiões.

Calculando uma média ponderada entre os docentes que responderam, eles acreditam que a

fitoterapia é utilizada no Brasil em 33,3% das ocasiões para o tratamento de doenças crônicas.

Questão 2.8- Uso no Brasil para tratamento de doenças agudas.

Conforme mostrado na figura 6.24, dos 21 docentes que responderam:

• 8 docentes (ou seja 31,8%) acreditam que a fitoterapia nunca é utilizada no Brasil para

tratamento de doenças agudas, o que não condiz com a realidade.

• A maioria dos docentes (10, ou seja, 47,6% deles) acredita que a fitoterapia é utilizada

em 25% das ocasiões.

Calculando uma média ponderada entre os docentes que responderam, eles acreditam que a

fitoterapia é utilizada no Brasil em 19,0% das ocasiões para o tratamento de doenças agudas, ou

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74

seja, uma média menor que aquela estimada para o tratamento de doenças crônicas (33,0%), o

que está de acordo com os usos que atualmente se dá à fitoterapia.

0 25 50 75 10002468

101214161820222426

Questão 2.7

Fre

qüên

cia

Percentagem

Figura 6.23 Grau de uso da fitoterapia no Brasil para tratamento de doenças crônicas.

0 25 50 75 10002468

101214161820222426

Questão 2.8

Fre

qüên

cia

Percentagem

Figura 6.24 Grau de uso da fitoterapia no Brasil para tratamento de doenças agudas.

6.7 Respostas às questões 3.1 a 3.6

Estas questões tratam sobre características específicas de fitoterápicos em relação a alopáticos.

As categorias dadas às respostas estão indicadas na tabela 6.7.

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Tabela 6.7 Categorias das respostas sobre custo do fitoterápico em relação ao alopático.

Símbolo Significado

<< Muito menor

< Menor

= Igual

> Maior

>> Muito maior

Como essas categorias são subjetivas (por exemplo, não se está definindo quanto maior ou quanto

menor, em percentual), não puderam ser quantificadas as respostas nem calculado um valor

médio.

Questão 3.1- Custo de desenvolvimento de novos remédios (fitoterápicos vs. alopáticos)

Deste grupo de questões, esta é a que deixou de ser respondida por mais docentes (2, o que

representa 7,7% do total de 26). As outras (3.2 a 3.7 não foram respondidas por 1 docente,

nominalmente sempre o mesmo).

Dos 24 docentes que responderam (veja a figura 6.25):

• Uma parcela considerável acredita que o custo de desenvolvimento dos fitoterápicos é

muito menor (8, ou seja 33,3%) ou menor (9, ou seja 37,5%).

• Somente 1 docente acredita que o custo de desenvolvimento dos fitoterápicos é maior.

Questão 3.2- Custo para o usuário

Dos 25 docentes que responderam (veja a figura 6.26):

• Uma parcela considerável acredita que o custo dos fitoterápicos para o usuário é

menor (13, ou seja 52,0%) ou muito menor (9, ou seja 36,0%).

• Somente 1 docente acredita que o custo dos fitoterápicos para o usuário é maior.

Se isto é ainda uma realidade, pode deixar de sê-lo, haja vista o surgimento de grandes

laboratórios farmacêuticos investindo em fitoterápicos e no patenteamento das aplicações

tradicionais dos princípios ativos de nossa flora. Vale lembrar como no lançamento dos

medicamentos genéricos estes representavam uma opção muito mais barata. Hoje as

multinacionais também passaram a investir neste mercado, por ser muito lucrativo.

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<< < = > >>02468

101214161820222426

Questão 3.1F

reqü

ênci

a

Figura 6.25 Custo de desenvolvimento de novos remédios fitoterápicos (comparado com o dos alopáticos).

<< < = > >>02468

101214161820222426

Questão 3.2

Fre

qüên

cia

Figura 6.26 Custo dos fitoterápicos para o usuário.

Questão 3.3- Facilidade de estudar efeitos colaterais

Entre os 25 docentes que responderam, as opiniões estão bastante divididas (veja a figura 6.27).

Entretanto, alguns aspectos são mais preponderantes:

• A maioria dos docentes (13, ou seja, 52,0%) acredita que os fitoterápicos apresentam

o mesmo grau de facilidade que os alopáticos para estudar os efeitos colaterais.

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• Outra parcela importante acredita que a facilidade é maior (6, ou seja 25,0%) ou muito

maior (3, ou seja, 12,0%).

Isso contrasta com a realidade. Para fazer um estudo clínico sobre os efeitos dos fitoterápicos

uma condição mais difícil de ser cumprida que para os fitoterápicos é aquela relacionada com a

concentração dos princípios ativos, haja vista que ela depende de vários fatores, como o tipo

específico de planta da qual foram extraídos, as condições em que a mesma se desenvolveu, de

onde foram extraídas as porções aproveitadas e como elas foram armazenadas, etc. Além disso,

em muitos fitoterápicos há um conjunto de princípios ativos, que podem agir não só em forma

aditiva, mas em forma sinérgica.

No caso dos alopáticos, há uma maior facilidade para escolher e controlar as características das

moléculas produzidas sinteticamente. Isso tem sido aproveitado mais recentemente para as

técnicas conhecidas como química combinatória.

<< < = > >>02468

101214161820222426

Questão 3.3

Fre

qüên

cia

Figura 6.27 Facilidade de estudar efeitos colaterais produzidos pelos fitoterápicos.

Questão 3.4- Grau de toxicidade

Dos 25 docentes que responderam (como mostrado na figura 6.28):

• A ampla maioria acredita que o grau de toxicidade é igual (9, ou seja, 36,0%), menor

(6, ou seja, 24,0%) ou muito menor (8, ou seja, 32,0%).

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• Somente 2 docentes (8,0%) acreditam que os fitoterápicos são mais tóxicos que os

alopáticos.

Como consta no item 3.4.1, segundo SCHULTZ et al (2000), algumas plantas apresentam efeitos

tóxicos quando usadas acima de certa dosagem e ao problema da dosagem vem se juntar a grande

variação quantitativa e qualitativa que ocorre no material vegetal não processado.

<< < = > >>02468

101214161820222426

Questão 3.4

Fre

qüên

cia

Figura 6.28 Grau de toxicidade dos fitoterápicos.

Questão 3.5- Flexibilidade na dosagem

As respostas a esta questão são coerentes com aquelas da anterior. Dos 25 docentes que

responderam (veja a figura 6.29):

• A ampla maioria acredita que a flexibilidade na dosagem é igual (7, ou seja, 28,0%),

maior (8, ou seja, 32,0%) ou muito maior (5, ou seja, 20,0%).

• Por outro lado, 4 docentes (16,0%) acreditam que a flexibilidade na dosagem dos

fitoterápicos é menor e 1 (ou seja, 4,0%) acredita que é muito menor.

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79

<< < = > >>02468

101214161820222426

Questão 3.5

Fre

qüên

cia

Figura 6.29 Flexibilidade na dosagem dos fitoterápicos.

Questão 3.6- Grau de divulgação para o usuário das indicações, posologia e contra-indicações

Dos 25 docentes que responderam (conforme mostrado na figura 6.30):

• A ampla maioria acredita que a divulgação é menor (10, ou seja, 40,0%) ou muito

menor (5, ou seja, 20,0%).

• 5 docentes (ou seja, 20,0%) acredita que o grau de divulgação é similar.

• Poucos docentes acreditam que a divulgação é maior (4, ou seja, 16,0%) ou muito

maior (1, ou seja, 4,0%).

Essas opiniões condizem com a realidade, haja vista que, diferentemente dos alopáticos, no

desenvolvimento dos fitoterápicos não tem sido feitos em forma intensiva estudos clínicos, não

pelo mérito que tenham esse tipo de produtos, mas por várias razões que foram expostas no

capítulo de revisão. Assim sendo, ainda é limitada a capacidade de fornecer ao usuário

informações sobre indicações, posologia e contra-indicações.

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80

<< < = > >>02468

101214161820222426

Questão 3.6

Fre

qüên

cia

Figura 6.30 Grau de divulgação para o usuário das indicações, posologia e contra-indicações.

Questão 3.7- Facilidade para promover o uso ampliado por população de baixa renda

Entre os 25 docentes que responderam, as opiniões estão divididas, com uma leve tendência a

responder positivamente a essa questão (veja a figura 6.31). Agrupando os resultados pode-se

constatar que:

• Uma maior parcela opina que a facilidade para promover o uso pela população de

baixa renda é maior, 8 (ou seja, 32,0%) responderam que é muito maior e 7 (ou seja,

28,0%) que é maior. Isso totaliza 70,0% docentes, contra 28,0% que responderam que

a facilidade e menor ou muito menor.

• 8 docentes (ou seja, 32,0%) responderam que é muito maior.

• 7 (ou seja, 28,0%) que é maior.

Isso totaliza 70,0% docentes, contra 28,0% que responderam que a facilidade é menor ou muito

menor.

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81

<< < = > >>02468

101214161820222426

Questão 3.7

Fre

qüên

cia

Figura 6.31 Facilidade para promover o uso ampliado dos fitoterápicos por parte da população de baixa renda.

6.8 Respostas à questão No. 4.

Para a pergunta: “Acredita que o uso dos fitoterápicos deveria ser intensificado?”, aos 25

docentes que responderam o fizeram afirmativamente.

Quanto às razões dadas para acreditar nisso, estão mostradas na tabela 6.8:

• 9 dos respondentes (36%) acreditam na eficácia dos fitoterápicos.

• 6 (24%) consideram que tem menor custo que os alopáticos.

• 5 (20%) consideram que são mais acessíveis.

• 5 (20%) consideram que tem menos efeitos colaterais.

Quatro responderam “promover o uso nas instituições de saúde públicas”. Esta resposta não é

apropriada para a pergunta No. 4, mas seria uma opção válida para a pergunta No. 5 e, por isso,

será incluída como resposta a esta última.

Quanto às formas propostas para intensificar o uso dos fitoterápicos (veja a tabela 6.9), 4

docentes deixaram de responder. Dos 22 que responderam, as propostas isoladas mais freqüentes

foram, em sua ordem:

• Uma melhor divulgação (8 respondentes, o que corresponde a 36,4%).

• Formação (8 respondentes, o que corresponde a 36,4%).

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As ações de governo também tiveram peso alto, assim:

• Promover o uso nas instituições de saúde públicas, 5 (ou seja, 22,7%)

• Através de políticas governamentais e leis, 2 (ou seja, 9,1%).

• Institucionalizar o uso, formalizar programas, 1 (ou seja, 4,6%).

• Ampliar o uso nos postos de saúde, 1.

Isso soma 9 respostas, ou seja 40,9% dos respondentes.

O investimento em educação e pesquisa foi considerado muito importante:

• 6 (ou seja, 27,3%) propuseram a formação dos profissionais.

• 3 (ou seja, 13,6%) propuseram maior incentivo à pesquisa.

• 2 (ou seja, 9,1%) propuseram ações educativas e aulas nas escolas.

Isso soma 11 respondentes, ou seja 50,0% do total.

Uma das respostas (“chás, concentrados, tinturas”), dada por 3 dos docentes, não é apropriada

para a pergunta e, portanto, não foi considerada.

Tabela 6.8– Razões para acreditar que o uso dos fitoterápicos deveria ser intensificado

Sem resposta 2

Boa opção de tratamento, são eficazes 9

Menor custo que os alopáticos 6

Mais acessível 5

Menos efeitos colaterais 5

Boa aceitação popular 3

Pela importância dos mesmos na vida das pessoas 1

O usuário tem direito a utilizar outras formas de tratamento 1

Depende da forma como será pesquisado e difundido o seu uso 1

Promover o uso nas instituições de saúde públicas * 4 * Esta resposta não é apropriada para a questão 4. Entretanto, será considerada como válida para a questão No. 5

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Tabela 6.9 Ações propostas com o objetivo de intensificar o uso dos fitoterápicos:

Sem resposta 4

Melhor divulgação 8

Formação dos profissionais 6

Promover o uso nas instituições de saúde públicas 5

Maior incentivo à pesquisa 3

Através de políticas governamentais e leis 2

Institucionalizar o uso, formalizar programas 1

Ampliar uso nos postos de saúde 1

Através de ações educativas (como foi feito com o planejamento familiar e a amamentação) 1

Aulas nas escolas de 1o e 2 o graus 1

Criação de hortas comunitárias 1

Desenvolver nos indivíduos a confiança na cura pela fitoterapia 1

Estímulo maior à produção 1

Chás, concentrados, tinturas * 3

* Esta resposta não é apropriada para esta questão.

6.9 Respostas à questão No. 5.

Todos os 26 docentes opinam que o ensino da fitoterapia deve ser incentivado nas faculdades.

Isso contrasta com outras respostas negativas em relação à fitoterapia, como aquelas em que os

docentes manifestam que usam pouco a fitoterapia para tratar de sua saúde e que a indicam pouco

a seus familiares e alunos (questões 2.2 a 2.3), ou como a resposta à questão 2.5, em que os

docentes afirmam que a fitoterapia é pouco usada nos países desenvolvidos. Por outro lado, a

demanda pela inclusão das disciplinas relacionadas com a fitoterapia no currículo de

Enfermagem seria justificada por acreditarem que o custo de desenvolvimento dos fitoterápicos é

menor que o dos alopáticos (questão 3.2) e a necessidade de desenvolver a fitoterapia com uma

maior fundamentação científica.

Quanto às razões para incentivar o ensino de fitoterapia (veja a tabela 6.10), 2 docentes deixaram

de opinar. Os 24 que opinaram o fizeram da seguinte forma:

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• 10 (ou seja, 41,7%) deram como razão a de ampliar o conhecimento por parte dos

profissionais. Adicionalmente, 2 docentes (8,3%) se manifestaram quanto à liberdade

de escolha do profissional pela melhor terapia.

Foram dadas também como razões várias relacionadas com o aumento do uso (10 docentes se

manifestaram nesse sentido, ou seja 41,7%):

• 5 docentes (ou seja, 20,8%) deram como razão a possibilidade de ampliação do uso.

• 3 docentes (ou seja, 12,5%) acreditam que com o ensino nas faculdades os

fitoterápicos terão maior divulgação.

• 2 docentes (ou seja, 8,3%) acreditam que isso criará nas pessoas maior confiança no

uso.

Quanto ao embasamento científico que seria dado à fitoterapia, se manifestaram os seguintes

docentes:

• 2 (ou seja, 8,3%) dizendo que isso incentivaria as pesquisas.

• 1 (ou seja, 4,2%) dizendo que dessa forma a fitoterapia seria aplicada com maior

fundamentação científica.

Outros docentes (5 em total, ou seja 20,8%) deram como justificativa as propriedades inerentes

aos fitoterápicos:

• 2 (ou seja, 8,3%) disseram que os fitoterápicos são de mais fácil acesso, menor custo e

eficazes.

• 1 disse que benefícios biológicos e farmacêuticos são maiores que os dos alopáticos.

• 1 citou que os fitoterápicos são adequados para a resolução de problemas de saúde na

atenção básica (e, portanto, são mais efetivos).

• 1 manifestou que os fitoterápicos apresentam resolutividade em alguns casos.

Além disso, 3 docentes (12,5% dos que responderam) citaram como justificativa a diversificação

das opções de tratamento para os clientes.

Junto com as respostas, 1 docente fez menção da importância em considerar a influência dos

laboratórios farmacêuticos.

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Tabela 6.10 – Razões para incentivar o ensino da fitoterapia.

Sem resposta. 2

Para ampliar o conhecimento pelos profissionais 10

Para ampliar o seu uso 5

Para dar maior divulgação 3

Criar nas pessoas mais confiança no seu uso 2

Para diversificar as opções de tratamento para os clientes 3

Para incentivar as pesquisas 2

Para que os profissionais possam optar pela melhor terapia 2

Para que seja aplicada com fundamentação científica 1

Porque são de mais fácil acesso, menor custo e eficazes 2

Benefícios biológicos e farmacêuticos maiores que os alopáticos 1

Resolução de problemas de saúde na atenção básica (mais efetivo) 1

Resolutividade em alguns casos 1

Nota: é importante considerar a influência dos laboratórios farmacêuticos 1 * Os docentes podiam dar mais de uma razão. Por isso o total de respostas ultrapassa 26.

6.10 Respostas à questão No. 6

Na questão 6 era pedido aos docentes para fazer um “ranking” (de 1 a 5, por ordem decrescente

de importância) dos itens que dariam maior retorno do investimento em termos de melhoria da

saúde da população. Esperava-se que os docentes assinalassem apenas 5 itens dos 9 apresentados.

Entretanto, só 1 dos docentes respondeu dessa maneira. O resto deu valores (de 1 a 5) a todos os

9 itens. Por causa disso, foi calculado um ranking médio com os valores dados a cada um dos 9

itens (veja a tabela 6.11).

Pode ser observado que nenhum dos itens esteve perto do no 1 no ranking. Isto significa que não

há unanimidade na escolha do item mais votado como no 1. Os itens melhor classificados foram,

em sua ordem:

• Promover a educação para a prática da medicina preventiva.

• Apoiar a agricultura, para dar maior acesso a alimentos.

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• Melhorar a renda da população.

• Melhorar o saneamento básico.

Contrasta o fato de que, enquanto se percebe como importante a educação da população para ela

mesmo praticar a medicina preventiva, não se considera tão eficaz o investimento na formação de

médicos e enfermeiras.

A baixa eficácia atribuída ao investimento em hospitais públicos pode ser até justificada, embora

eles sejam para muitos brasileiros a única opção para tratar de suas doenças mais graves.

É de ressaltar também o fato de que a medida que foi considerada menos eficaz foi investir na

produção de remédios alopáticos genéricos pelo SUS. Essa foi uma medida defendida por

governos anteriores, e divulgada como uma conquista importante com grande efeito na redução

do custo da saúde para a população. Ao que parece essa opinião não é compartilhada pelos

docentes. Para ter subsídios objetivos para emitir uma opinião seria importante comparar o preço

dos remédios comercializados tradicionalmente e seus concorrentes recentes, os genéricos e os

similares. Essa comparação deveria ser feita não só na época em que foram lançados os

programas correspondentes, mas também ao longo dos anos, para conhecer sua evolução.

Tabela 6.11 Medidas consideradas mais eficazes para melhorar a saúde da população

Item Ranking médio

Promover a educação da população, para que pratique medicina preventiva

2,31

Apoiar a agricultura, para dar maior acesso da população a alimentos 2,50

Melhorar a renda da população, mediante a geração de empregos 2,50

Melhorar o saneamento básico 2,54

Investir na Pesquisa e Desenvolvimento de fitoterápicos 2,77

Promover o uso ampliado de terapias alternativas 2,92

Investir na formação dos médicos e enfermeiras nas universidades 2,92

Aumentar os recursos para hospitais públicos 3,23

Investir na produção de remédios alopáticos genéricos, pelo SUS 3,50

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7 CONCLUSÕES

Com base na análise dos dados coletados através de questionários, podem ser formuladas as

seguintes conclusões:

7.1 Relativas à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no

SUS.

- A maioria absoluta dos docentes acredita que esta Portaria é benéfica, no sentido de permitir um

maior acesso dos usuários a outros métodos terapêuticos diferentes da medicina convencional

(alopática).

- Por outro lado, há grandes divergências quanto ao fato de terem sido avalizadas na mesma

Portaria as diferentes terapias alternativas.

- Quanto às mudanças na realidade da saúde que a PNPIC vai trazer, os docentes têm opiniões

muito diversas: a parcela que acredita em mudanças é similar à que acredita que tudo vai

continuar igual.

7.2 Quanto a aspetos gerais da fitoterapia em relação à alopatia:

- A maioria absoluta (96,1%) opina que para ampliar o uso dos fitoterápicos é preciso fazer uma

maior divulgação.

- Em relação ao embasamento científico da fitoterapia, existe muita divergência nas opiniões dos

docentes. Uma parte expressiva (38,5%) acredita que a fitoterapia tem menor embasamento

científico que a alopatia. Ante essa situação, ficam comprometidas as ações com as que se

pretenda implementar o ensino da fitoterapia na Univali, haja vista a descrença de alguns dos

docentes, que necessariamente teriam que participar, em conjunto, do processo de ensino e

pesquisa em fitoterapia.

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- A maioria dos docentes acredita que os fitoterápicos são de uso mais seguro que os alopáticos.

Por outro lado, 26,9% discorda dessa opinião e 15,4% se mostra neutro. Quer dizer, acredita-se

na maior segurança dos fitoterápicos, mesmo achando que a fitoterapia não tem suficiente

embasamento científico. Para aqueles docentes que não deram essas 2 respostas coerentes, a

explicação pode ser a de que sua opinião foi originada no senso comum.

- Os docentes foram unânimes ao afirmar que muitos remédios alopáticos tem sido desenvolvidos

a partir do estudo das plantas medicinais, o que atesta seu conhecimento da evolução histórica da

farmacologia.

- Os docentes também foram unânimes ao afirmar que o uso de plantas medicinais tem que ser

melhor aproveitado no Brasil, pois este possui grande biodiversidade. O país está perdendo uma

grande oportunidade de converter em riquezas suas reservas naturais e suas tradições, deixando

que indústrias multinacionais pratiquem a biogrilagem.

- Quanto à possibilidade de sintetizar drogas alopáticas mais poderosas que as fitoterápicas, há

muita divergência de opiniões. Ao mesmo tempo, uma parcela significativa dos docentes (34,6%)

mostra-se neutro ante essa afirmativa.

- Quanto à estrutura de pesquisa atualmente existente no Brasil, os docentes em geral concordam

em que com ela é possível desenvolver remédios fitoterápicos. De fato, existem centenas de

grupos de pesquisa, de cunho multidisciplinar, atuando nas diversas áreas relacionadas com a

fitoterapia, porém, por falta de investimento e entrosamento da indústria farmacêutica

(constituida quase exclusivamente por multinacionais), as pesquisas dificilmente chegam a seu

objetivo final: gerar um produto comercializável.

- A maioria dos docentes (80,8%) acredita que o desenvolvimento de fitoterápicos no Brasil

depende mais de ações do governo do que da iniciativa privada. Certamente são precisas ações

coordenadas, não só no âmbito das políticas e legislação, mas também dos incentivos à pesquisa

científica e desenvolvimento tecnológico.

- A maior parte dos docentes (73,1%) opina que para o desenvolvimento de fitoterápicos é

importante utilizar como base a sabedoria popular.

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- Quanto ao crédito que se pode dar à sabedoria popular, as opiniões são muito divergentes. Uma

parcela significativa (30,8%) dos docentes manifestou uma opinião incoerente com a anterior, ao

afirmar que na sabedoria popular sobre as propriedades e aplicações das plantas há mais

conceitos errados do que certos. Não é isso o que têm comprovado os inúmeros cientistas que

desde a época da colônia têm estudado as aplicações terapêuticas de nossa flora se baseando no

conhecimento dos habitantes nativos. Não é isso o que pensam empresas como a Novartis, que

recentemente adquiriu (embora mediante um pagamento irrisório) os direitos exclusivos de

praticar a bioprospeção na Amazônia.

- A maioria dos docentes (57,7%) acredita que as empresas farmacêuticas investirão cada vez

mais recursos no desenvolvimento de fitoterápicos, o que coincide com a realidade.

7.3 Quanto à freqüência de uso, indicação e prescrição da fitoterapia por parte dos

docentes.

- A média de uso pessoal é alta (41,3%). Apenas dois docentes (7,7%) afirmaram nunca usar a

fitoterapia.

- A média de indicação aos seus familiares também é alta (48.1%). Sendo maior que o uso

pessoal, indicando que os docentes acreditam e indicam os fitoterápicos à sua família.

A indicação a outros, fora do círculo familiar, é significativamente menor, assim:

- 27,0% das ocasiões, indicam a fitoterapia aos seus alunos. Isto pode ser o resultado da falta de

embasamento científico para falar sobre o tema profissionalmente (no curso atual há uma

disciplina de fitoterapia, optativa, com duração de 30 horas-aula), e as dificuldades em descrever

aspectos como os mecanismos de ação dos princípios ativos das plantas, dosagem e contra-

indicações impedindo a relação do uso de plantas medicinais em diversas situações terapêuticas.

- 26,1% das ocasiões, indicam a fitoterapia aos seus pacientes. Esta situação (assim como a

anterior) pode estar associada à formação acadêmica dos docentes, na qual não houve incentivo à

pesquisa e uso das plantas medicinais.

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7.4 Percepção sobre o nível de uso dos fitoterápicos no Brasil e no mundo.

As questões relativas a este aspecto foram aquelas que deixaram de ser respondidas por um

número maior de docentes, o qual indica desconhecimento sobre o assunto.

- Os docentes acreditam que nos países desenvolvidos a fitoterapia, em média, é usada em 41,7%

das ocasiões. Chama a atenção que 16,7% dos docentes acreditam que a fitoterapia nunca é usada

nos países desenvolvidos quando, na realidade, a indústria farmacêutica de países como a

Alemanha tem investido em pesquisa e desenvolvimento deste recurso terapêutico, e o mesmo

goza de crédito na classe médica.

- Quanto ao uso em países subdesenvolvidos, os docentes responderam que em média ocorre em

33,8% das ocasiões. Esse valor é menor que aquele mencionado em relação aos países

desenvolvidos, o qual não parece ser coerente.

- Quanto às médias estimadas de uso no Brasil, foram: 33,3% para tratar de doenças crônicas e

19,0% para doenças agudas 19,0% dos docentes afirmam que no Brasil a fitoterapia nunca é

usada, o qual é um contra-senso, haja vista que a própria PNPIC foi estabelecida como uma

resposta às práticas que vinham ocorrendo numa quantidade significativa de municípios

relacionadas com o uso não só da fitoterapia, mas também de outras terapias alternativas e

complementares.

Observamos que a percepção dos docentes enfermeiros sobre o uso dos fitoterápicos no Brasil e

no mundo não está dentro da realidade, pois a cada ano aumenta o investimento e uso de

fitoterápicos pela população mundial. Sabemos que as revistas científicas da área médica e de

enfermagem têm poucos artigos e pesquisas sobre o tema, o que dificulta o acesso dos

enfermeiros à informação.

7.5 Sobre algumas características específicas dos fitoterápicos em relação aos alopáticos.

- Quanto ao custo de desenvolvimento de novos remédios fitoterápicos, a maioria dos docentes

(70,8%) acredita que é menor que o dos alopáticos, e 25,0% acreditam que são iguais.

- Uma parcela ainda maior (88,0%) acredita que o custo dos fitoterápicos para o usuário é menor

que o dos alopáticos.

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- Aproximadamente a metade dos docentes (52,0%) acredita que o grau de facilidade no estudo

dos efeitos colaterais é similar nos fitoterápicos e nos alopáticos. Outra parcela significativa

(37,0%) acredita que é mais fácil estudar este aspecto nos fitoterápicos.

- A maioria dos docentes (57,0%) acredita que o grau de toxicidade dos fitoterápicos é menor e

36,0% acredita que é igual ao dos alopáticos.

- Quanto à flexibilidade na dosagem, há uma maior divergência de opiniões quando comparada

com a resposta à questão anterior. Aproximadamente a metade dos docentes (52,0%) acredita que

é maior nos fitoterápicos e 28,0% acredita que é igual.

- Quanto ao grau de divulgação para o usuário sobre as indicações, posologia e contra-indicações,

há muita divergência de opiniões. De qualquer modo, a maioria (60,0%) acredita que a

divulgação é menor e 20,0% acredita que é similar. Essa é a realidade, que será revertida a

medida que a indústria farmacêutica investir mais em testes clínicos, a exemplo do que ocorre

com os alopáticos.

- 60% dos docentes acreditam que é mais fácil promover o uso ampliado pela população de baixa

renda dos fitoterápicos do que dos alopáticos; 12% acreditam que o grau de facilidade é similar.

Hoje percebemos que a procura maior pelos produtos industrializados de plantas medicinais são

de grupos de classe social privilegiada, que buscam a melhor qualidade de vida.

7.6 O uso dos fitoterápicos deveria ser intensificado?

Todos os respondentes responderam que sim, dando as seguintes razões:

- 36% acreditam na eficácia e 20% acredita na maior segurança dos fitoterápicos.

- 24% consideram que os fitoterápicos têm menor custo e 20% consideram que têm maior

acessibilidade que os alopáticos.

Quanto às formas de intensificar o uso dos fitoterápicos, os docentes deram sugestões que podem

ser agrupadas da seguinte forma:

- Investir em educação e pesquisa (50,0% dos docentes), seja na formação de profissionais,

maior incentivo à pesquisa, ações educativas em escolas.

- Dar maior divulgação (36,4% dos docentes).

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- Empreender ações de governo (40,9% dos docentes), tais como a promoção do uso em

instituições de saúde públicas, políticas governamentais, institucionalização do uso e

formalização de programas, ampliação do uso nos postos de saúde.

7.7 O ensino da fitoterapia deveria ser incentivado nas faculdades?

Todos os docentes opinam que sim, embora, ao responder questões anteriores, tenham informado

que usam pouco (em si mesmos) e indicam pouco a seus familiares, alunos e pacientes a

fitoterapia. Por outro lado, há a crença nas benesses da fitoterapia, embora nem sempre associada

à percepção de que a fitoterapia tem fundamentação científica.

Quanto às razões para incentivar o ensino da fitoterapia:

• 41,7% deram como razão a de ampliar o conhecimento dos profissionais.

• 41,7% deram razões relacionadas com o aumento do uso resultante disso.

• 20,8% deram como justificativa propriedades que consideram inerentes aos

fitoterápicos, como baixo custo e alta eficácia.

• 12,5% deram razões relacionadas com o aumento na pesquisa e fundamentação

científica.

• 12,5% deram como motivo a possibilidade de diversificar as opções de tratamento das

doenças.

7.8 Itens que os docentes consideram que dariam maior retorno do investimento, em termos

de melhoria da saúde da população.

Dos itens elencados na pergunta, os que tiveram melhor “ranking” (numa escala de 1 a 5) foram

aqueles relacionados com a medicina preventiva, como:

• Promover a educação da população, para que pratique a medicina preventiva (2,31)

• Apoiar a agricultura, para dar maior acesso aos alimentos (2,50).

• Melhorar a renda, mediante a geração de empregos (2,50).

• Melhorar o saneamento básico (2,54).

Contrasta o fato de que, enquanto se percebe como importante educar a população, não se

considera tão eficaz o investimento na formação de médicos e enfermeiras (2,92).

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A baixa eficácia atribuída ao investimento em hospitais públicos (3,23) pode ser o resultado do

ceticismo em relação à qualidade das ações de governo.

É de ressaltar que a medida considerada menos eficaz foi a de investir na produção de remédios

alopáticos genéricos (3,50).

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8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi percebido pouco ânimo de colaboração para o fornecimento de informações a esta pesquisa

por parte de muitos dos docentes do Curso de Enfermagem da Univali: de forma espontânea

responderam apenas 16 das 44 docentes. Numa segunda tentativa, em que foi solicitada por

escrito a colaboração, mais dez responderam. Entretanto, é compreensível que o percentual de

questionários não respondidos tenha sido de 40¨%, haja vista que os docentes, em sua ampla

maioria, têm atividades fora da Univali, tanto no campo do magistério como no exercício direto

da Enfermagem.

Por outro lado, apesar de existir capacidade técnica para levar adiante tarefas relacionadas com a

pesquisa e ensino em áreas correlatas à fitoterapia, aquela constatação demonstra que a

implementação de atividades ligadas à fitoterapia na Univali será difícil, pois se trata de trabalho

multidisciplinar, em que todas as pessoas envolvidas devem compartilhar uma mesma visão, estar

comprometidas e dedicar esforços para atingir as metas propostas.

Infelizmente o Brasil está, novamente, perdendo o bonde da história. Deixa de transformar em

riqueza a sua rica biodiversidade e suas tradições, deixa de criar alternativas de tratamento para

sua população, particularmente a mais carente. Enquanto isso, empresas multinacionais usam de

todos os meios de persuasão e de pressão para mudar as políticas do Brasil, para negociar acordos

benéficos a elas, que garantirão seus lucros por muitos anos, mediante a prática da biopirataria, o

saque de nossas riquezas e força de trabalho, numa forma de neo-colonialismo infame.

Não podemos ficar impávidos e deixar de cumprir nosso papel como profissionais da

enfermagem. Nossa conscientização, com fundamento científico e não meramente por crenças,

deve ser seguida pela ação. Cada um de nós deve aportar seu “grão de areia”.

Este trabalho teve como objetivo fazer um diagnóstico do que pensam e como agem os docentes

de enfermagem. Embora a pesquisa tenha sido realizada exclusivamente intra-muros, pelos

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relatos de outros autores verificamos que ela simplesmente retrata um pensamento e forma de

agir que permeiam os quatro cantos do Brasil.

O governo já deu um passo para promover a ampliação do uso da fitoterapia e outras TACs,

como resposta às políticas recomendadas pela OMS, aos apelos surgidos em várias Conferências

de Saúde e as práticas desenvolvidas de forma autônoma em vários municípios espalhados pelo

Brasil. Entretanto, para que a fitoterapia se torne uma alternativa efetivamente disponível, são

necessários programas governamentais com forte investimento na formação de recursos humanos

e na pesquisa em fitoterapia, haja vista que não se deve permitir que essa iniciativa seja tomada

exclusivamente por grupos econômicos privados.

É na academia que está grande parte do poder de transformação dessa realidade. Através da

criação e ampliação das disciplinas relacionadas com a pesquisa, desenvolvimento e aplicação

dos fitoterápicos. Ao mudar nossas atitudes, aprimorar nossa percepção e trabalhar nas áreas

correlatas à fitoterapia, estaremos em condições de cobrar do governo ações mais completas e

eficazes e divulgar para a população um conhecimento mais embasado acerca dos benefícios que

podem derivar do uso das plantas medicinais.

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10- APÊNDICES

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Apêndice A- QUESTIONÁRIO Código do respondente: _______

Data: ___________ Dados pessoais Sexo: [ ] M [ ] F Idade: [ ] 26 a 35 [ ] 36 a 45 [ ] 46 ou mais Tempo de atuação no Magistério Superior [ ] anos Tempo de atuação profissional fora do Magistério [ ] anos. Área: ________________ Formação Acadêmica: [ ] Graduação, em _______________________________ [ ] Mestrado, em ________________________________ [ ] Doutorado, em _______________________________ [ ] Cursos de especialização (liste as áreas dos 2 principais):

_____________________________ _____________________________

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- A Portaria No. 971 do Ministério da Saúde, de 3/05/2006, refere-se à aprovação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS, que avaliza o uso de técnicas da Medicina Complementar/Alternativa, especificamente a homeopatia, acupuntura e a fitoterapia, e aprova sua disponibilização através do SUS. Assinale com X a opção que reflita melhor sua opinião: (CT= concordo totalmente; CP= concordo parcialmente; NN= nem concordo nem discordo; DP= discordo parcialmente; DT= discordo totalmente:

CT CP NN DP DT 1.1 Essa Portaria é benéfica, pois permitirá um maior

acesso dos usuários a outros métodos terapêuticos

1.2 A mesma Portaria não deveria ter colocado no mesmo leque terapias alternativas tão diferentes

1.3 Essa Portaria não vai mudar substancialmente a realidade da saúde no Brasil

1.4 Para ampliar o uso dos fitoterápicos deveria ser feita uma divulgação maior

1.5 A fitoterapia tem muito menos fundamentação científica que a alopatia.

1.6 Os remédios fitoterápicos são de uso mais seguro, pois tem menos efeitos colaterais que os alopáticos

1.7 Muitos remédios alopáticos tem sido desenvolvidos a partir do estudo das plantas medicinais

1.8 O uso de plantas medicinais tem que ser melhor aproveitado no Brasil, pois este possui grande biodiversidade.

1.9 É possível sintetizar drogas alopáticas mais poderosas que as fitoterápicas

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1.10 Com a estrutura de pesquisa atualmente existente no Brasil é possível desenvolver remédios fitoterápicos

CT CP NN DP DT 1.11 Na situação atual do Brasil, o desenvolvimento de

remédios fitoterápicos depende mais de ações do governo do que da iniciativa privada

1.12 Para o desenvolvimento de fitoterápicos é importante utilizar como base a sabedoria popular

1.13 Na sabedoria popular em relação às propriedades e aplicações das plantas há mais conceitos errados do que certos

1.14 As empresas farmacêuticas (a nível mundial) investirão cada vez mais recursos no desenvolvimento de fitoterápicos

Situação atual dos remédios fitoterápicos versus alopáticos

Freqüência 0% 25% 50% 75% 100% 2.1 Uso pessoal (em mim mesmo) 2.2 Indico para minha família 2.3 Indico aos meus alunos 2.4 Indico aos meus pacientes (se os tenho). 2.5 Uso em países desenvolvidos 2.6 Uso em países subdesenvolvidos 2.7 Uso no Brasil para tratamento doenças crônicas 2.8 Uso no Brasil para tratamento doenças agudas

Características de fitoterápicos versus alopáticos (<< muito menor; < menor; = igual; > maior; >> muito maior)

<< < = > >> 3.1 Custo de desenvolvimento de novos remédios 3.2 Custo para o usuário 3.2 Facilidade de estudar efeitos colaterais 3.3 Grau de toxicidade 3.4 Flexibilidade na dosagem 3.5 Grau de divulgação para o usuário das indicações,

posologia e contra-indicações

3.6 Facilidade de promover o uso ampliado por população de baixa renda

4- Você acredita que o uso dos fitoterápicos deveria ser intensificado [ ] Não [ ] Sim

Por quê? _____________________________________________________________________

Em caso positivo, descreva formas de fazê-lo: _______________________________________

_____________________________________________________________________________

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5- O ensino da fitoterapia deveria ser promovido com mais profundidade nas faculdades de Ciências da Saúde? [ ] Não [ ] Sim

Por quê? _____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________ 6- Por cada real investido pelo governo brasileiro nos seguintes itens, qual dará um maior retorno em termos de melhoria da saúde da população? Faça um ranking de 1 a 5 (1=maior, 5=menor):

[ ] Investir na produção de remédios alopáticos genéricos, para fornecimento através do SUS [ ] Promover o uso ampliado de terapias alternativas [ ] Investir na Pesquisa e Desenvolvimento de fitoterápicos [ ] Apoiar a agricultura, para dar um maior acesso da população a alimentos [ ] Promover a educação da população, para que pratique a medicina preventiva [ ] Melhorar o saneamento básico [ ] Melhorar a renda da população, mediante a geração de empregos [ ] Aumentar os recursos para hospitais públicos [ ] Investir na formação dos médicos e enfermeiras nas universidades

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Apêndice B- TERMO DE CONSENTIMENTO

Ao responder e devolver este questionário estou dando meu consentimento para que os dados

sejam usados por Iara Torquato Niño, aluna do Curso de Enfermagem da Univali- Biguaçu,

dentro da pesquisa que adianta sobre as experiências, conhecimentos, atitudes e expectativas dos

docentes da Univali campus de Biguaçu, em relação ao uso de fitoterápicos. Esse estudo dará

subsídios para avaliar a necessidade de implementar com maior profundidade o ensino da

fitoterapia em dito curso, e a forma de fazê-lo adequadamente.

Compreendo que as perguntas estão relacionadas com minha formação profissional, minha

experiência pessoal e profissional, grau de conhecimento, atitudes e expectativas em relação ao

uso da fitoterapia.

Entendo que fui selecionado(a) para participar deste estudo, porque sou docente do Curso de

Enfermagem e, como tal, uma pessoa com alto grau de conhecimento e de percepção da realidade

da saúde e do ensino de enfermagem no Brasil.

A resposta a este questionário é livre. Estou ciente de que posso deixar de responder a qualquer

pergunta específica, por qualquer motivo.

A supracitada aluna se compromete a não dar a conhecer minhas respostas a ninguém, além das

pessoas diretamente envolvidas na pesquisa, e a preservar minha identidade mediante a adoção de

um código numérico, de forma que o relatório de estudo elaborado a partir das respostas aos

questionários jamais permitirá minha identificação.

Compreendo que os resultados desta pesquisa serão dados a mim, caso eu os solicite, e que a

Profa. Tereza Cristina Gaio da Silva é a orientadora deste estudo de modo que, em caso de

dúvidas sobre o estudo ou sobre meus direitos como participante, posso me dirigir à mesma.

________________________________ _____________________________ Loca/ Data Assinatura do respondente

_____________________________ _____________________________ Assinatura da aluna Nome do respondente Iara Torquato Niño