unileÃo curso de graduaÇÃo em odontologia iara …

31
UNILEÃO CENTRO UNIVERSITÁRIO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA GEÍSA ARAÚJO NASCIMENTO ENDOCARDITE BACTERIANA E ODONTOLOGIA: HÁ EVIDÊNCIA DA ANTIBIOTICOPROFILAXIA NA PREVENÇÃO? - REVISÃO DE LITERATURA Juazeiro do Norte-CE 2018

Upload: others

Post on 31-Jul-2022

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

UNILEÃO

CENTRO UNIVERSITÁRIO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA

IARA GEÍSA ARAÚJO NASCIMENTO

ENDOCARDITE BACTERIANA E ODONTOLOGIA: HÁ EVIDÊNCIA DA

ANTIBIOTICOPROFILAXIA NA PREVENÇÃO? - REVISÃO DE LITERATURA

Juazeiro do Norte-CE

2018

Page 2: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

IARA GEÍSA ARAÚJO NASCIMENTO

ENDOCARDITE BACTERIANA E ODONTOLOGIA: HÁ EVIDÊNCIA DA

ANTIBIOTICOPROFILAXIA NA PREVENÇÃO? - REVISÃO DE LITERATURA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à

Coordenação do Curso de Graduação em

Odontologia do Centro Universitário Doutor Leão

Sampaio, como pré-requisito para obtenção do grau

de Bacharel.

Orientador: Prof. Esp. Eduardo Fernando Chaves

Moreno

Juazeiro do Norte-CE

2018

Page 3: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, em especial à minha mãe, Izaunira Lopes, e minha avó,

Izaura Lopes, pela luta incansável de nunca terem medido esforços para que eu pudesse

chegar até aqui, mesmo com todas as dificuldades, obrigada por terem sido meu apoio diário

e por me impulsionarem a ir sempre atrás dos meus objetivos. Ao meu namorado, Adil

Júnior, que desde o início dessa trajetória tem sido o maior exemplo de cumplicidade, me

incentivando a crescer, vivenciando comigo cada luta e cada vitória conquistada. Às minhas

amigas e futuras colegas de profissão: Iara Graziela, Yasmin Matos Iasmim Luna e Rayanne

Batista, pelas tantas horas de estudo, pelos sorrisos e lágrimas que juntas compartilhamos

nessa caminhada em busca do mesmo sonho. Minha eterna gratidão á todos vocês que

fizeram parte desse momento.

“Rendam graças ao Senhor, pois Ele é bom. E o seu amor dura para sempre.”

[1 Crônicas 16:34]

Page 4: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Esp. Eduardo Fernando Chaves Moreno, pelas orientações, ensinamentos e

paciência.

Á Profa. Dra.Vanessa de Carvalho Nilo Bitu, a quem serei eternamente grata por todo seu

apoio desde o início de minha trajetória acadêmica.

Page 5: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …
Page 6: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

RESUMO

A endocardite bacteriana é uma patologia que afeta as válvulas cardíacas com risco de morte

potencial, que ocorre em decorrência de uma bacteremia transitória. Tal doença requer

atenção especial na área da odontologia, pelo fato da cavidade bucal ser um ambiente que

abriga uma diversidade de microorganismos causadores dessa doença. A literatura relata que

algumas condutas dos Cirurgiões-Dentistas podem ser responsáveis para o seu

desenvolvimento em pacientes que possuem o risco da doença. A American Heart

Association(AHA), lançou mão de medidas preventivas a fim de minimizar esses riscos,

indicando o protocolo de profilaxia antibiótica prévia aos procedimentos que serão realizados

em pacientes com determinadas anormalidades cardíacas. É imprescindível que os

profissionais da odontologia possuam compreensão dos procedimentos de risco e quais

pacientes devem se submeter aantibioticoterapia previamente ao tratamento odontológico.

Tendo em vista que a profilaxia antibiótica é a medida preconizada para prevenção da

infecção, o objetivo desse estudo é analisar a literatura em relação a terapia profilática e seu

uso na odontologia, bem como sua efetividade.

Palavras-chave:Endocardite Bacteriana. Odontologia. Profilaxia.

Page 7: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

ABSTRACT

Bacterial endocarditis is a disease that affects the heart valves with potential risk of death,

which occurs as a result of a transient bacteremia. Such disease requires special attention in

the field of dentistry, since oral cavity is an environment that hosts a variety of micro-

organisms that cause this disease. The literature reports that some dentists conducts may be

responsible for its development in patientswith risk of the disease. The American Heart

Association (AHA) made use of preventive measures in order to minimise these risks,

indicating the Protocol of antibiotic prophylaxis prior to procedures that are performed in

patients with certain heart abnormalities. It is imperative that dentistry professionals are

awered of the risks procedures and which patients should undergo antibiotics prior to dental

treatment. Considering that the antibiotic prophylaxis is recommended for prevention of

infection, the aim of this study is to analyze the literature regarding prophylactic therapy and

its use in dentistry as well as it effectiveness.

Keyword:Bacterial Endocarditis. Dentistry.Prophylaxis.

Page 8: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Principais patógenos e sua prevalência em comparação entre válvulas nativas e

protéticas............................................................................................................................pag15

Tabela 2 - Pacientes mais suscetíveis à EB que necessitam de profilaxia antibiótica

preventiva antes das intervenções odontológicassegundo a AHA...................................pag 17

Tabela 3 – Profilaxia Antibióticapreconizada pela AHA................................................pag 18

Tabela4 – Resumo descritivo das características do estudos incluídos............................pag19

Page 9: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

LISTA DE SIGLAS

AHA...................American Heart Association(Associação Americana do Coração)

CD......................Cirurgião Dentista

EB.......................Endocardite Bacteriana

TAB ....................Tabela

Page 10: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 10

2 METODOLOGIA ................................................................................................................ 11

2.1 TIPO DE ESTUDO......................................................................................................... 11

2.2 COLETA DE DADOS .................................................................................................... 11

2.3 CRITERIOS DE ELEGIBILIDADE .............................................................................. 11

2.4 CRÍTERIOS DE INCLUSÃO ........................................................................................ 11

2.5 CRÍTERIOS DE EXCLUSÃO ....................................................................................... 11

2.6 FLUXOGRAMA ............................................................................................................ 12

3 REVISÃO DA LITERATURA........................................................................................... 13

3.1 DEFINIÇÃO ................................................................................................................... 13

3.2 MICROBIOTA ............................................................................................................... 14

3.3 SINAIS E SINTOMAS/ASPECTOS CLÍNICOS .......................................................... 15

3.4 CONDIÇÕES MÉDICAS DE RISCO............................................................................ 16

3.5 PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS DE RISCO E PROFILAXIA .................... 17

3.6 ETIOLOGIA\PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA .......................................................... 18

3.7 RESULTADOS............................................................................................................... 19

3.8 DISCUSSÃO .................................................................................................................. 23

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 27

Page 11: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

10

1 INTRODUÇÃO

A endocardite bacteriana (EB), é uma patologia em que agentes infecciosos (bactérias)

produzem lesões ao invadir as estruturas endocárdicas do coração. O conceito de bacteremia

se dá pela entrada de patógenos na corrente sanguínea, neste episódio, bactérias podem

colonizar tecidos cardíacos, levando a um quadro infeccioso e, consequentemente, o

desenvolvimento da EB, (NASCIMENTO et al., 2011).

A ocorrência desta infecção pode estar relacionadaa pacientes com condições

cardiovasculares alteradas e que foram submetidos a procedimentos odontológicos invasivos,

A EB ainda é considerada uma doença com risco de morte, com mortalidade significativa

(cerca de 20% dos casos). Alguns exemplos destes pacientes de risco são: pacientes

portadores de válvulas cardíacas protéticas, prolapso da válvula mitral com regugitação

valvar, doenças cardíacas congênitas, endocardite bacteriana prévia, disfunção valvar

adquirida, entre outros (NASCIMENTO et al., 2011). Como tentativa de previnir estes casos

que teriam origem bucal, há cerca de 60 anos, foi instuido um regime profilático antibiótico

para os pacientes considerados de alto risco, previamente a determinados procedimentos

dentários (PRENDERGAST, 2006).

Não cabe ao cirurgião-dentista (CD) diagnosticar e tratar as alterações cardiovasculares,

no entanto, ele deve ter conhecimento das condições cardíacas do paciente e após a anamnese

definir seu grau de risco para endocardite infecciosa (PALLASCH, 2003). Porém Nascimento

et al. (2011) complementa e ressalta que cabe não cirurgião-dentista realizar um rigoroso

levantamento da história médica dos seus pacientes, a fim de determinar de maneira

consciente os casos de indicação do regime profilático.

Justifica-se a realização desta pesquisa, esclarecer e integrar os conhecimentos sobre a

endocardite bacteriana com a odontologia, dada sua relevância clínica e visto que, um grande

número de pacientes provavelmente desenvolve a enfermidade após a realização de

procedimentos dentários, onde podemos observar uma taxa de cerca de 2,5 a 5 casos por 100

mil habitantes/ano (RODRIGUES, 2010).

Procuramos enfatizar a importância das condutas preventivas para que o cirurgião-dentista

possa atuar e desta maneira a minimizar a incidência da enfermidade. O estudo tem como

objetivo demonstrar a inter-relação entre a odontologia e a endocardite bacteriana, trazendo

conhecimentos sobre a patologia, enfatizando os meios de prevenção, além de avaliar o nível

de evidência da profilaxia antibiótica na prevenção da EB.

Page 12: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

11

2 METODOLOGIA

2.1 TIPO DE ESTUDO

Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica do tipo exploratória, definida

como aquela que é desenvolvida a partir de um material já elaborado, constutuído de artigos

cientifícos. As pesquisa exploratórias habitualmente tem caráter qualitativo (GIL,2008).

2.2 COLETA DE DADOS

As buscas foram realizadas nas seguintes bases de dados: PubMed, Google Acadêmico

e Bireme. Na busca inicial foram ultilizados os cruzamentos de palavras:

PubMed: Bacteremia AND Dental Extraction; Oral Bacteremia AND Surgery;

Bacteremia AND Tooth Extraction.

Google Acadêmico: Odontologia e endocardite; endocardite na clínica odontológica;

cirurgião dentista e endocardite.

Bireme: Endocarditis AND Prophylaxis; Endocarditis AND Dental Procedures.

2.3 CRITERIOS DE ELEGIBILIDADE

Foram selecionados todos os estudos encontrados que atendiam os critérios de

inclusão, desta forma artigos que correspodiam a nossa questão norteadora e que

apresentaram resultados relevantes para construção do referencial teórico.

2.4 CRÍTERIOS DE INCLUSÃO

Estudos disponibilizados originalmente e na íntegra, artigos que abordavam a temática

entre endocardite bacteriana e a área odontológica e nos idiomas português e inglês.

2.5 CRÍTERIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos após a leitura do resumo, os trabalhos que não correspondiam à

questão norteadora, e revisão de literatura.

Page 13: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

12

2.6 FLUXOGRAMA

Processo de seleção, inclusão e exclusão dos estudos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Estudos identificados através da pesquisa nas bases de dados (N=10.137)

PubMed

(N=1.119)

Bireme

(N= 4.466)

Google Acadêmico

N(=4.552)

Total de estudos após a primeira triagem (N= 290)

PubMed

(N=93)

Bireme

(N=85)

Google Acadêmico

(N=112)

Excluídos após leitura do título, duplicatas, não disponível na íntegra (N=225)

Estudos tirados para leitura

do resumo do texto(N= 205)

Excluídos após a leitura do resumo

(N=117)

Textos acessados

integralmente (N=88)

Excluídos após leitura dos artigos e

não corresponderam aos critérios de

inclusão:(N=39)

Número total de artigos incluídos no trabalho (N=49)

Exclusão dos estudos onde a metodologia não era bem definida e o título não condizia

com a proposta do tema (N= 9.417)

Page 14: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

13

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 DEFINIÇÃO

Como a própria nomenclatura nos sugere, o termo encocardite bacteriana(EB), se

refere à inflamação interna do endocárdio, originada por uma bacteremia

(BARROSO,CORTELA e MOTA, 2014). Estudos da literatura, nos afirmam que, na área

odontológica, as doenças periodontais como gengivite e periodontite, já possuem o potencial

de ser a porta de entrada para grandes infecções, entre elas está a endocardite bacteriana.

Romans e Appem (2009), comprovaram que, a presença de sangramento gengival pode

desencadear a doença, até mesmo através do uso de um simples jato de água para

higienização (NASCIMENTO,DOS ANJOS e MÁRIO,2012).

A endocardite, que é a infecção das estruturas endocárdicas, originada por uma

bacteremia local, estende o seu acometimento ao endocárdio valvar, e pode atingir outras

áreas do coração, como próteses valvares e endocárdio das comunicações interventriculares

(WAHLePALLASCH,2005).

Outros autores nos trazem o conceito de que a infecção ocorre mais comumente em

valvas cardíacas (nativas ou protéticas), podendo também originar-se através de um defeito

septal ventricular, em endocárdio lesionado por corpos estranhos ou ainda sobre dispositivos

cardíacos (KARCHMER, 2015).

A endocardite infecciosa geralmente se desenvolve em valvas cardíacas defeituosas,

quando o paciente possui antecedentes ou o histórico de cirurgias específicas no coração.

Embora exista essas predisposições para o início da infecções, a doença pode se manifestar

em pessoas sem tais características prévias (VINAGRE,SILVEIRA e NUNES,2010).

A doença é uma enfermidade relativamente rara, produzindo destruição da estrutura

endocárdica e endotélio ou de valvas cardíacas. Sua origem comumente é bacteriana, podendo

também ser causada por outros tipos de microorganismos, como por exemplo os fungos.

Apresenta-se de duas formas: aguda ou subaguda. A aguda origina-se em indivíduos com

corações sadios e intactos, decorrente da entrada direta na corrente sanguínea de grandes

quantidades de microorganismos. A subaguda, que possui maior interesse odontológico e do

cirurgião-dentista, origina-se pela entrada de microorganismos na corrente sanguínea nos

pacientes de risco que foram submetidos a algum procedimento dentário. Contendo uma

sintomatologia vaga e insidiosa, que inclui febre, perda de peso, debilidade, anorexia,

dispinéia, dores articulares e musculares progressivas, fraqueza facial e membros,

semelhantes ao acidente vascular cerebral, podendo acarretar em risco de um diagnóstico

Page 15: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

14

tardio. Ressalta-se que se trata de uma infecção muito grave, se não houver um adequado

tratamento, pode levar à morte. Seu tratamento envolve antibioticoterapia por um período de

até seis semanas, e cirurgia que remove a vegetação ou a implantação de valvas cardíacas

artificiais (ROCHA, 2010).

Outros autores complementam que na forma aguda, o paciente não apresenta

alterações cardíacas e o desenvolvimento da infecção é de forma silenciosa. Na subaguda,

como já foi abordado, o paciente apresenta maior risco a desenvolver a infecção. Portanto, a

realização de qualquer procedimento em pacientes que apresentam algumas situações de risco

carecem de maior atenção e cuidados. Para o surgimento da endocardite bacteriana na forma

subaguda é fator fundamental a lesão prévia das válvulas cardíacas. A lesão valvar pode ser

congênita, quando o paciente já possui tal condição, mas também pode ser provocada por

febre reumática. Pacientes que são portadores de lesões cardíacas prévias, possuem um

macanismo de defesa que não eliminam as bactérias que invadem seu organismo, instalando-

se sobre valvas cardíacas e provocando a endocardite bacteriana subaguda (DE DEUS, 1973;

STANLEY, ROBBINS e RAMZI, 2000).

A forma aguda manifesta-se com toxicidade mais acentuada, evoluindo de dias até

várias semanas para iniciar a destruição das valvulas e infecção metastática. A subaguda,

menos acentuada, evolui de semanas a meses, com toxicidade modesta, podendo raramente

causar infecções metastáticas (KARCHMER, 2006). Quando há patógenos de grande

virulência, a endocardite é classificada como forma aguda gerando quadro clínico exuberante

e complicações precoces. Na forma subaguda, geralmente os patógenos são de virulência

menor, consequentemente possuindo progressão mais lenta (VINAGRE,SILVEIRA e

NUNES,2010).

Geralmente, a subaguda possui microorganismos que fazem parte da microbiota

normal da cavidade oral, atacando principalmente valvas que sofreram alguma alteração de

forma insidiosa, com melhora do quadro através do uso de medicação antibiótica, levando a

um processo de fibrose e cicatrização (CHENG, 2008).

3.2 MICROBIOTA

Os microorganismos circulantes na corrente sanguínea nos dirão a gravidade do

quadro da infecção, pois estão diretamente relacionados. Levando-se em conta a elevada

quantidade de microorganismos presentes na cavidade oral, quando há ruptura da integridade

tecidual com ocorrência de sangramento, pode haver bacteremia transitória (LIMA, 2015).

Page 16: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

15

Os patógenos que estão mais relacionadas à endocardite são os estreptococos do grupo

viridans, que estão significativamente presentes na cavidade oral e que possuem uma maior

capacidade de aderir-se aos agregados plaquetários (VLESSISET et al., 1996). Todavia, a

mortalidade pode ocorrer em 50% a 70% dos casos, dependendo do agente etiológico.

Entretanto, o Enterococcus sp, que ataca tanto valvas cardíacas normais quanto as anormais,

deve ser lembrado em grupo etário que está acima de 60 anos e que necessitam de

manipulação genitourinária. Em pacientes usuários de medicações venosas, o Staphylococcus

aureus está presente em 25% dos casos. Outros, como pseudomonas e serratia, além dos

fungos, como a candida, também são prevalentes (KARCHMER,2006). Poderemos observar

mais detalhadamente na tabela 1.

TABELA 1-Principais patógenos e sua prevalência em comparação entre válvulas nativas e

protéticas.

Fonte: Silva, 2003.

3.3 SINAIS E SINTOMAS/ASPECTOS CLÍNICOS

Os sinais e sintomas da infecção podem ser negligenciados e, quando eles se tornam

evidentes, já passa a ser uma complicação do quadro e não por si só uma alteração

intracardíaca. Sabe-se que não cabe ao cirurgião-dentista diagnosticar doenças cardíacas,

entretanto, a identificação precoce de sinais e sintomas da doença poderá servir de alerta para

que o profissional encaminhe o mais rapidamente possível aquele paciente para avaliação com

o especialista (BRANCO,VOLPATO e ANDRADE, 2007).

Os principais sintomas podem ser uma simples febre, falta de ar, cansaço, perda de

apetite, dores no corpo e suores noturnos, podendo então progredir para uma sepse, que trata-

se de uma infecção generalizada e insuficiência cardíaca. O tempo para que o surgimento dos

VÁLVULA PROTÉTICA

Bactérias Válvula

Nativa

Cirurgia

<2 meses

Cirurgia

2m-12m

Cirurgia

>12 meses

Streptococcussp. 30 - 65% 1% 7 - 10% 30 - 33%

Staphylococcus aureus 25 - 40% 20 - 40% 10 - 15% 15 - 20%

Estafilococos coagulase (-) 3 - 8% 30 - 35% 30 - 35% 10 - 12%

Enterococos 3 - 17% 5 - 10% 10 - 15% 8 - 12%

Bacilo Gram (-) 4 - 10% 10 - 15% 2 - 4% 4 - 7%

Fungos 1 - 3% 5 - 10% 10 - 15% 1%

Grupo de HACEK* e cultura (-) 3 - 10% 3 - 7% 3 - 7% 3 - 8%

Outros 1 - 2% 6 - 7% 2 - 6% 2 - 8%

Page 17: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

16

sintomas é de aproximadamente duas semanas após a intervenção odontológica

(BARROSO,CORTELA e MOTA, 2014).

De acordo com a Sociedade Européia de Cardiologia, a fundamentação do diagnóstico

é baseada em situações de alta suspeita para a EB, com indicação imediata para avaliaçãode

ecocardiograma e possível assentimento hospitalar. Algumas situações que podemos

salientar:1- eventos de embolia de etiologia não identificada (infarto renal ou cerebral);

distinção de nova lesão valvar (sinais de regurgitação); 3- hematúria, moléstia renal; 4- sepse

de etiologia não identificada; 5- febre com associação à presença de prótese cardíaca ou

predisposições elevadas para EB, a uma arritmia ventricular, à hemocultura de caráter

positivo (de acordo com a identificaçãodomicroorganismo e sua tipologia para prótese valvar

ou valva nativa), às manifestações e alterações cutâneas, oftálmicas, infiltrados pulmonares

multifocais ou com evolução rápida, a um abscesso periférico, (espinhal, renal, esplênico) de

origem oculta, à intervenção diagnóstica recente e/ou terapêutica que possui capacidade de

resultar em bacteremia significante, entre outras situações. Para uma suspeita clínica baixa de

EB, destaca-se a presença de febre, caso estejam ausentes todos os sinais que foram

mencionados anteriormente (HORSTKOTTE et al., 2004).

Na forma aguda a febre desenvolve-se muito rapidamente, com episódios de fraqueza

e lassidão. Há também uma maior probabilidade de sopro cardíaco com a endocardite aguda

em decorrência do grande tamanho das vegetações, e frequentemente alteram-se à medida que

essas vegetações crescem e fragmentam-se. Pode ainda apresentar aumento de baço com

frequência maior na forma aguda do que na forma subaguda da doença (COTRAN et al.,

2010).

3.4 CONDIÇÕES MÉDICAS DE RISCO

O processo infeccioso que é encontrado na superfície do endocárdio e que engloba as

valvas cardíacas denominamos de EB. Alguns pacientes podem apresentar certas condições

cardíacas que os qualificam como de alto risco ao desenvolvimento desta

infecção(Apresentados na TAB2). Pensando nisso, devemos realizar uma anamnese

extremamente criteriosa a fim de coletar todo e qualquer dado que possa nos trazer relevância

clínica a respeito do paciente, uma vez que dessa forma podemos prevenir seu

desenvolvimento (ROCHA, 2010).

Page 18: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

17

TABELA 2- Pacientes mais suscetíveis à EB que necessitam de profilaxia antibiótica

preventiva antes das intervenções odontológicas segundo a AHA.

Pacientes portadores de válvulas cardíacas protéticas;

Histórico prévio de endocardite bacteriana;

Cianótica não tratada incluindo shunts e medidas

paliativas;

Reparada completamente por materiais protéticos

colocados por cirurgia ou cateterismo durante os

primeiros seis meses após o procedimento;

Com defeito residual no sítio ou adjacenteà prótese que

impede endotelização;

Transposição de grandes artérias e tetralogiadeFaliot.

Receptores de transplantes cardíacos que desenvolveram valvulopatia adquirida;

Febre reumática ;

Prolapso de valva mitral com regurgitação valvar e/ou espessamento dos folhetos valvares;

Cardiomiopatia hipertrófica;

Usuários de drogas ilícitas injetáveis que nem sempre são reconhecidas por omitirem este tipo

de informação.

Fonte: MARRA et al., 2009.

3.5 PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS DE RISCO E PROFILAXIA

Segundo a tabela apresentada pela AHA, pacientes considerados de alto risco, devem

receber a profilaxia antibiótica, previamente a “todos os procedimentos que envolva

manipulação de tecido gengival, ou da região periapical ou ainda perfuração da mucosa

bucal” (WILSON et al., 2007)

Nascimento et al. (2011) ainda corrobora e apresenta os tipos de procedimentos em

que são necessários a profilaxia, onde podemos encontrar: “cirurgia; raspagem; polimento e

alisamento radicular; colocação de implantes e reimplantes dentais; instrumentação

endodôntica ou paraendodôntica; colocação de bandas ortodonticas; preparos para próteses

subgengivais; anestesia intraligamentar e profilaxia ou implantes com sangramento

espontâneo.”

Doenças cardíacas congênitas:

Page 19: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

18

TABELA 3. Profilaxia Antibiótica preconizada pela AHA.

Tipo de Paciente Antibiótico

Psologia: dose única, 30 a 60 minutos antes

do procedimento

Adultos Crianças

Protocolo padrão

por via oral Amoxicilina 2g 50 mg/Kg

Alérgicos a

penicilinas

Cefalexina* 2g 50 mg/Kg

Clindamicina 600 mg 20 mg/Kg

Azitromicina ou

Claritromicina 500 mg 15 mg/Kg

Impossibilitados de

receber a

medicação por via

oral

Ampicilina OU 2g IM ou IV 50 mg/Kg IM ou IV

Cefazolina ou

Ceftriaxona 1g IM ou IV 50 mg/Kg IM ou IV

Alérgicos a

penicilinas e

impossibilitados de

receber a

medicação por via

oral

Cefazolina ou

Ceftriaxona 1g IM ou IV 50 mg/Kg IM ou IV

Clindamicina 600 mg IM ou IV 20 mg/Kg IM ou IV

*Risco de reação cruzada.

Fonte:BRANCO-DE-ALMEIDA et al., 2009.

3.6 ETIOLOGIA/PREVALÊNCIA E INCIDÊNCIA

Tendo como principal característica a vegetação em especial nas válvulas em um

aglomerado de bactérias, leucócitos, fribrina infectada, plaquetas, restos celulares e glóbulos

vermelhos, tem relação com fatores epidemiológicos específicos (SILVA, 2003). A EB antes

considerada fatal, atualmente se apresenta com o desenvolvimento da antibioticoterapia, ser

uma patologia estável, onde anualmente por cem mil, ocorrem cerca de 2,5 a 5 novos casos,

tendo predileção para o sexo masculino e dentro de uma faixa etária de 47 e 70 anos

(RODRIGUES, 2010).

Page 20: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

19

Uma das principais causas para o desenvolvimento de uma bacteremia sistêmica e que

levaria e EB, são as infecções de origem bucal, mais especificamente dentária. Segundo dados

da OMS(Organização Mundial de Saúde), cerca de 10% das mortes decorrentes da

endocardite bacteriana, em pessoas com problemas cardíacos provém de infecções

decorrentes da arcada dentária (BARROSO,CORTELA e MOTA, 2014).

No Brasil, os maiores dados encontram-se na faixa etária entre 11 e 30 anos, sendo

que a febre reumática é responsável pela maioria dos casos de endocardite infecciosa em

crianças, as cardiopatias congênitas predominam em pacientes menores que 10 anos de idade

(MARGOTTO e ROBERTO 2008).

Especialmente nos países onde a febre reumática tem baixos índices, a endocardite

bacteriana é mais rara nos pacientes pediátricos, sua recorrência é relativamente baixa,

variando de 1,9 a 6,2 casos anuais por 100 mil indivíduos (MACHADO, 2011).

3.7 RESULTADOS

TABELA 4. Resumo descritivo das características do estudos incluídos.

AUTOR ANO TIPO DE

ESTUDO RESULTADOS

LOCKHART

et al 2008

ENSAIO

CLÍNICO

Foram selecionados 600 pacientes, comparando

bacteremia após escovação; bacteremia após extração

dentária com amoxicilina(2 g 1 h); bacteremia após

extração dentária com placebo. Não houve diferenças

significativas entre os 3 grupos, porém a amoxicilina

reduziu significantemente as culturas positivas.

HALL et al 1993 ENSAIO

CLÍNICO

60 pacientes saudáveis foram randomizados para

receber placebo, penicilina V (2 g) ou amoxicilina (3 g)

1 hora antes da extração dentária. Não houve diferença

estatística entre os pacientes no grupo placebo,

penicilina V e amoxicilina em termos de incidência ou

magnitude de bacteremia.

ROUSE et al. 1997 ESTUDO DE

INTERVENÇÃO

De todos os antibióticos a eritromicina foi o menos

efetivo, pois obteve maior taxa de infecção.

Azitromicina ou claritromicina foi tão eficaz quanto a

amoxicilina, a clindamicina ou a eritromicina para a

Page 21: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

20

prevenção do S. Viridans na endocardite experimental

dessa pesquisa.

MOUGEOT

et al. 2015

ESTUDO DE

INTERVENÇAO

Embora a administração da profilaxia antibiótica com

amoxicilina seja recomendada pela Associação

Americana do Coração(AHA), estudos podem sugerir

que o protocolo ainda pode ser falho, pois sua ação para

algumas bactérias causadoras da endocardite se mostra

ineficaz.

ROBERTSet

al. 1997

ESTUDO DE

INTERVENÇÃO

Os pesquisadores concluíram com base nos resultados

que a profilaxia antibiótica para extrações dentárias,

pouco provável reduzirá a bacteremia. Todavia por

outro lado, o estudo deveria ser estendido para os outros

procedimentos.

LOCKHART

et al. 2009

ENSAIO

CLÍNICO

Foram avaliados 194 pacientes. Os participantes com

pontuação média de placa e cálculo de 2 ou mais

estavam em um aumento de 3,78 e 4,43 vezes ao risco

de desenvolver a bacteremia respectivamente. Constata-

se então que, melhoras na higiene bucal podem reduzir

o risco à EB.

BAHRANI-

MOUGEOT

et al.

2008 ENSAIO

CLÍNICO

Feitos os ensaios clínicos verificou-se que o

Streptococcussp foi o mais prevalente, e que a profilaxia

antibiótica reduz a carga bacteriana, mas parece ter

pouca influência sobre a proteobacteria(bactérias gram-

).

MAHARAJ et

al. 2012

ENSAIO

CLÍNICO

Cento e sessenta pacientes negros, 50 homens e 110

mulheres, entraram no estudo. Os quatro grupos foram

comparáveis em relação à idade e gênero. O estudo

mostrou que nenhum dos tratamentos preveniu a

bacteremia pós - extração e confirmou relatos anteriores

de que a bacteremia não é completamente eliminada

pelos antibióticos.

TOMAS et al. 2007 ENSAIO

CLÍNICO

Após a análise de 106 pacientes, concluiu -se que a

Clorexidina a 0,12% reduz a prevalência e duração de

bacteremia pós -extração .

DIZ DIOS et

al. 2016

ENSAIO

CLÍNICO

O estudo contemplou 221 pacientes. Houve uma

estatística redução significativa bacteremiapós -extração

Page 22: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

21

após 30 s, 15 min e 1 h com a administração de

amoxicilina e moxifloxacina, comparada com o grupo

de controle e grupo clindamicina.

MAHARAJ et

al. 2012

ENSAIO

CLÍNICO

Em um total de 2014 indivíduos, foram detectadas

culturas positivas em 30% dos pacientes após a

extração, 11% dos pacientes após escovação e 0% após

mastigação. A bacteremia não foi relacionada ao estado

de saúde bucal .

HALL et al. 1996 ENSAIO

CLÍNICO

Não houveram significantes diferenças estatísticas

encontradas entre a eritromicina e clindamicina.

HALL et al. 1996 ENSAIO

CLÍNICO

Este estudo foi realizado para investigar os efeitos da

administração profilática de cefaclor sobre bacteremia

após extração dentária. Nenhuma diferença na

incidência ou magnitude de bacteremia foi observada

quando os dois grupos de pacientes foram comparados.

SHANSON et

al. 1985

ENSAIO

CLÍNICO

Após comparação da Eritromicina com o Placebo,

obteve -se que a eritromicina reduz a prevalência de

bacteremia estreptocócica pós – extração.

CANNELL et

al. 1991

ENSAIO

CLÍNICO

Os resultados demonstraram que os antibióticos não

conseguiram impedir a sobrevivência na cultura de

sangue de várias estirpes de estreptococos até 24 horas

após a colheita do sangue. Recomenda-se que um

antibiótico alternativo para eritromicina ou josamicina

seja usado para obter profilaxia contra estreptococos em

pacientes com risco de endocardite infecciosa que são

alérgicos à penicilina.

AITKEN et al. 1995 ENSAIO

CLÍNICO

Os resultados mostraram níveis satisfatórios de

antibióticos no sangue para atividade contra

estreptococos orais. A clindamicinafoi ligeiramente

mais eficaz que a eritromicina na prevenção da

bacteremia por estreptococos pós-extração.

WAHLMANN

et al. 1999

ENSAIO

CLÍNICO

A cefuroxima (cefalosporina de 2 geração) é mais

segura termos de reações alérgicas e diminui a

bacteremia.

PIÑEIRO et

al. 2010

ENSAIO

CLÍNICO

O uso de profilaxia antibiótica para a prevenção de

infecções focais, como a endocardite bacteriana em

Page 23: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

22

pacientes “em risco” submetidos a implantes dentários

é, portanto, questionável. Embora a sua eficácia não

tenha sido confirmada estatisticamente, recomendamos

um enxaguatório oral.

LIMERES

POSSEet al. 2016 PESQUISA

Os ensaios clínicos mostram que mesmo não

erradicando totalmente, a amoxicilina diminui

fortemente a carga bacteriana pós extração dentária,

após estudos e associações feitas foi definido que com o

uso da profilaxia antibiótica, a bacteremia da EB foi

indetectável.

LOCKHART

et al. 2008 PESQUISA

O artigo compara o desenvolvimento da endocardite a

partir de uma simples escovação dentária em detrimento

de uma exodontia, e conclui que é inviável defender a

cobertura de antibióticos para a escovação, sugere-se

que um ensaio clínico controlado seja indicado para

resolver esta longa questão.

VAN DER

MEER et al. 1992

PESQUISA

CASO

CONTROLE

Feito uma comparação de estudos em pacientes com

risco à endocardite bacteriana observou-se que os

resultados encontrados em pacientes submetidos a

profilaxia pouco tiveram êxito em relação aos que não

tiveram a cobertura profilática, e ainda que os que não

desenvolveram a patologia não podem ser atribuídos

cem por cento ao efeito da profilaxia.

LÓPEZ-

CEDRÚN et

al.

2011 PESQUISA

Este estudo traz um comparação do desenvolvimento da

EB em pacientes submetidos a tratamento dentário

previamente a cirurgias cardíacas e dos que não fizeram,

e conclui que não há diferença significativa quanto aos

2 grupos.

KUMANA et

al. 1986 PESQUISA

Após pesquisa para avaliar a real etiologia das bactérias

daEB, os 15 isolados de estreptococos viridans que

causam endocardite usados no estudo, assumiram-se de

origem bucal.

Page 24: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

23

3.8 DISCUSSÃO

Dada a definição dos conceitos da patologia, tipos, bem como sua etiologia e dando

sequência ao presente estudo, aborda-se então a discussão a respeito do protocolo existente

atualmente para prevenção da EB, que é a profilaxia antibiótica, sua utilização na odontologia

e eficiência dos antibióticos que são administrados.

De acordo com Limeres Posse (2016) e Monaco (2009), em suas pesquisas, nos

trouxeram o conhecimento de que a profilaxia antibiótica preconizada pela Associação

Americana do Coração, reduz a carga microbiana existente na corrente sanguínea, e

consequentemente a diminuição do risco de colonização bacteriana nas estruturas internas do

endocárdio, onde Kumana et al. (1986), pode reforçar em seus estudos pois, após pesquisa

para identificar a real etiologia das bactérias da EB, os 15 isolados de estreptococos viridanos

que causam endocardite usados no estudo, assumiram-se que se originaram na boca, o que

reforça e assegura a administração da profilaxia antibiótica.

Lockhart et al.(2008), realizou estudos para comparação de bacteremia em três grupos,

tendo como melhor resultado, o grupo que recebeu 2 gramas de amoxicilina 1 hora antes do

procedimento como preconiza a AHA. Ainda no mesmo ano, mostrou-nos, a perspectiva de

que a higienização bucal possui a capacidade de redução do risco de EB, não proporcionando

condições ambientais favoráveis as infecções, podendo confirmar mais uma vez em seu

estudo de 2009, onde após avaliar 194 pacientes, os que obtiveram média de placa e cálculo

de 2 ou mais estavam em um aumento de 3,78 e 4,43 vezes ao risco de desenvolver a

bacteremia em relação aos demais indivíduos. Ressaltando que, melhoras na higiene oral

podem reduzir o risco à EB.

Shanson et al. (1985), comparou em sua pesquisa, o grupo que recebeu eritromicina

com grupo placebo, obtendo como resultado a redução de bacteremia pela eritromicina,

trazendo afirmação de que o antibiótico minimiza a prevelência de estreptococos. Em novos

ensaios clínicos Rouse et al.(1997), fez um estudo comparativo de antibióticos, e nos mostrou

que a amoxicilina se sobressai em relação em relação a outros antibióticos. A eritromicina,

obteve maior taxa de infecção após sua administração, comparada a amoxicilina,

claritromicina e azitromicina, sendo inefetivo como profilático para redução de bacteremia.

Em concordância, Aitkene e colaboradores (1995), também mostrou em sua pesquisa, a

eficácia da clindamicina em relação a eritromicina para prevenção da infecção. Demonstrando

Page 25: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

24

que a eritromicina em relação aos demais antibióticos, possui pouca efetividade como

fármaco profilático, e a amoxicilina o mais efetivo.

Cannell et al. (1991), demonstrou em seus estudos que os antibióticos não

conseguiram impedir ou erradicar a sobrevivência na cultura de sangue de várias estirpes de

estreptococos até 24 horas após a colheita do sangue, apenas conseguiram diminuir sua

população. Ainda através da perspectiva de sua pesquisa, recomenda que um antibiótico

alternativo para eritromicina ou josamicina seja usado para obter profilaxia contra

estreptococos em pacientes com risco de EB que são alérgicos à penicilina.

Tomas et al.(2007), após análise de pacientes submetidos a bochechos de clorexidina

0,12%, observou diminuição e duração da bacteremia pós-extracional, manifestando a ação do

fármaco para ultilização na redução da microbiota, no entanto o bochecho anteriormente

citado não substitui a profilaxia padrão.

Diz Dios et al. (2016), em seu estudo fez uso de amoxicilina e moxifloxacina,

diminuindo em magnitude a bacteremia pós exodontia, comparando-se ao grupos que

receberam clindamicina e grupo controle, apresentando assim, mais uma vez a eficácia da

amoxicilina na redução bacteriana.

Em contraposição, alguns autores discordam e afirmam em suas pesquisas que a

profilaxia antibiótica previamente aos procedimentos odontológicos não minimiza o risco de

instalação da doença, como posiciona Roberts et al. (1997) e Maharaj, Coovadia e

Vayej(2012), com base nos resultados de suas pesquisas, afirmam que é pouco provável que a

terapia profilática para procedimentos de exodontia reduzirá a bacteremia, no entanto, sugere-

se que os estudos estendam-se também para outros procedimentos, com investigação de

diversos outros fatores.

Van Der Meer et al.(1992) e Bahrani-Mougeot et al. (2008), constataram a prevalência

de streptococossp, enfatizando que mesmo com a atenuação da carga microbiana através da

terapia profilática, a mesma não favorecia a redução de bactérias gram negativas. Estudos

mais recentes de Mougeot et al. (2015), ainda discordaram da profilaxia preventiva,

ressaltando que, embora seja recomendada pela AHA, estudos podem demonstrar que sua

ação para algumas bactérias que desencadeam EB são inefetivas, sugerindo que o protocolo

preconizado seja falho e insuficiente.

Piñero et al. (2010), ressalta a ultilização da profilaxia antibiótica previamente a

colocação de implantes dentários em pacientes de risco, como forma de prevenção de

infecções focais, destacando-se a EB. No entanto questiona que a administração é de carater

duvidoso, pois a terapia ainda não é estatisticamente comprovada.

Page 26: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

25

Hall et al. (1993), Em sua pesquisa, comparou a diferença entre amoxicilina ou

penicilina V e placebo, não mostrando divergência entre os dois grupos estudados. Anos mais

tarde, 1996, efetuou outro estudo para investigação dos efeitos da terapia profilática para

exodontia, onde concluiu que não foi observada significância de bacteremia entre os grupos

comparados.

López-Cedrum et al. (2011), corrobora que, após compararo desenvolvimento da EB

em pacientes submetidos a tratamento dentário previamente a cirurgias cardíacas aos que não

foram submetidos, constatou que não há diferença significativa quanto aos dois grupos,

concluindo assim que a profilaxia antibiótica é ineficiente.

Embora a minoria dos estudos avaliados não tenham trazido resultados satisfatórios

em relação ao combate da bacteremia pela profilaxia antibiótica, a maioria dos estudos afirma

que a terapia está indicada e deve ser feita nos pacientes de risco, tendo em vista que essa é a

medida preconizada pela AHA e possui carater mundial.

Page 27: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

26

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização racional dos antibióticos é de suma importância na prática clínica do CD,

que deve possuir um adequado discernimento da avaliação do risco-benefício na utilização da

profilaxia antibiótica, já que esta não é isenta de adversidades como a seleção de micro-

organismos resistentes. Dessa maneira, é vital que se reconheça as situações em que está

indicada, levando em consideração uma diversidade de aspectos de maneira individualizada.

A maioria dos estudos avaliados relacionou o desenvolvimento da EB com

microorganismos provenientes da flora oral. Portanto, parece sensata a utilização da

antibioticoprofilaxia nos pacientes suscetíveis submetidos aos procedimentos odontológicos

elencados pela AHA.

A manutenção de uma boa higiene oral e o uso da antissepsia intra bucal com

clorexidina a 0,12%, antes dos procedimentos odontológicos, demonstraram-se eficazes na

redução dabacteremia. Entre os antibióticos, a Amoxicilina por via oral e a Ampicilina por via

intramuscularou endovenosa, demonstraram-se superiores na redução do risco de surgimento

da EB.

São necessários mais estudos para que se chegue a um consenso sobre a real eficácia

da antibioticoprofilaxia na prevenção da EB.

Page 28: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AITKEN,C.et al. Comparative efficacy of oral doses of clindamycin and erythromycin in the

prevention of bacteraemia. Br Dent J, v. 22, n. 1, p. 418-422, 1995.

BAHRANI-MOUGEOT F.K.et al. Diverse and novel oral bacterial species in blood following

dental procedures.J Clin. Microbiol, v. 46, n. 32, p. 2129, 2008.

BARROSO, M.G.; CORTELA, D.C.B.; MOTA, W.P. Endocardite Bacteriana: da Boca ao

Coração.Revista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina, v. 1, n. 02, 2014

BRANCO, F.P.; VOLPATO, M.C.; ANDRADE, E.D. Profilaxia da endocardite bacteriana na

clínica odontológica–o que mudou nos últimos anos. Rev Periodontia, v. 17, n. 3, p. 23-29,

2007.

BRANCO-DE-ALMEIDA L.S. et al. Profilaxia da endocardite infecciosa: recomendações

atuais da “ American Heart Association (AHA).R. Periodontia; v. 19, n. 4, p. 7-10, 2009.

CANNELL,H.et al. Failure of two macrolide antibiotics to prevent post-extraction

bacteraemia.BrDent J, v. 3, n. 1, p. 170:171, 1991.

CHENG T.O. Endocarditis prophylaxis in patients with mitral valve prolapse remains a

controversial issue despite the new American Heart Association guidelines. Int J Cardiol, v.

127, n. 2, p. 149-50, 2008.

COTRAN. Patologia Básica, 8 edição, ed. Elsevier, 2010

DE DEUS Q.D. Endocardite: Seleção de Casos para Tratamento dos Canais

Radiculares,1. ed, Belo Horizonte:liv. Odontométrica&jurídica, 1973, 301p.

DIZ DIOS,P. et al. Comparative efficacies of amoxicillin, clindamycin, and moxifloxacin in

prevention of bacteremia following dental extractions.AntimicrobAgentsChemother, v. 50,

n. 1, p. 2996-3002, 2016.

GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas SA, 2008.

HALL G.et al. Prophylactic administration of penicillins for endocarditis does not reduce the

incidence of postextraction bacteremia. Clin Infect Di, v. 17, n. 1, p. 188-94,1993.

HALL, G.;HEIMDAHL, A.;NORD, C.E. Effects of prophylactic administration of cefaclor

on transient bacteremia after dental extraction.Eur J ClinMicrobiol Infect Dis, v. 15, n. 9, p.

646-656, 1996b.

HALL,G.;NORD,C.E.;HEIMDAHL,A. Elimination of bacteraemia after dental extraction:

comparison of erythromycin and clindamycin for prophylaxis of infective

endocarditis.JAntimicrobChemother, v. 37, n. 1, p. 757-783, 1996a.

HORSTKOTTE, D.et al. Guidelines on prevention, diagnosis and treatment of infective

endocarditis executive summary: the Task Force on Infective Endocarditis of the European

Society of Cardiology. European Heart Journal, v. 25, n. 3, p. 267-276, 2004.

Page 29: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

28

KARCHMER, A.W. Endocarditeinfecciosa. In: BRAUNWALD, E., BONOW, R. O.,

LIBBY, P. et al. Tratado de doenças cardiovasculares. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2006,

p. 1633-55.

KARCHMER, A.W.Endoardite Infeciosa. In: KASPER D.L.; FAUCE,C.S.Doenças

Infecciosas de Harrison. Porto Alegre: AMGH Editora Ltda, 2015, cap. 20, p. 187.

KUMANA, C. R.et al. Chemoprophylaxis with oral amoxycillin against bacterial

endocarditis: when should second doses be administered after dentistry?. BrMed J (Clin Res

Ed), v. 293, n. 6561, p. 1532-1534, 1986.

LIMA, H.G.; LARA, V.S. Aspectos imunológicos da doença periodontal inflamatória:

Participação dos Mastócitos. Journal of Health Sciences, v. 15, n. 3, 2015.

LIMERES POSSE, J. et al. Intravenous amoxicillin/clavulanate for the prevention of

bacteraemia following dental procedures: a randomized clinical trial.Journal of

Antimicrobial Chemotherapy, v. 71, n. 7, p. 2022-2030, 2016.

LOCKHART, P.B. et al. Bacteremia associated with toothbrushing and dental

extraction.Circulation, v. 117, n. 24, p. 3118-3125, 2008.

LOCKHART,P.B.et al. Poor oral Hygieneas a risk factor for infective endocarditis-related

bacteremia.J Am Dent Assoc, v. 140, n. 44, p. 1238, 2009.

LÓPEZ-CEDRÚN, J.L. et al. Efficacy of amoxicillin treatment in preventing postoperative

complications in patients undergoing third molar surgery: a prospective, randomized, double-

blind controlled study.Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 69, n. 6, p. 5-14, 2011.

MACHADO, S.N.A.; Ribeiro. Cardiologia - Endocardite Infecciosa Campina Grande,2011.

MAHARAJ,B.;COOVADIA,Y.;VAYEJ,A.C. A comparative study of amoxicillin,

clindamycin and chlorhexidine in the prevention of post-extraction bacteraemia.Cardiovasc J

Afr, v. 23, n. 4, p. 491, 2012.

MARGOTTO, L.; ROBERTO, P. Cardiopatias Congênitas. Comunicação em Ciências da

Saúde. v. 22, p. 101, 2008.

MARRA, M.et al. Odontologia em pacientes portadores de dispositivos cardíacos eletrônicos

implantáveis (DCEI).Revista Latino-Americana de Marcapasso e Arritmia, v. 22, n. 3, p.

125-129, 2009.

MONACO, G.et al. Evaluation of antibiotic prophylaxis in reducing postoperative infection

after mandibular third molar extraction in young patients.Journal of Oral and Maxillofacial

Surgery, v. 67, n. 7, p. 1467-1472, 2009.

MOUGEOT, F.K.B.et al. Associations between bacteremia from oral sources and distant-site

infections: tooth brushing versus single tooth extraction. Oral surgery, oral medicine, oral

pathology and oral radiology, v. 119, n. 4, p. 430-435, 2015.

Page 30: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

29

NASCIMENTO, E.M.et al. Abordagem odontológica de pacientes com risco de endocardite:

um estudo de intervenção. Odonto, v. 19, n. 37, p. 107-116, 2011.

NASCIMENTO, E.R.; DOS ANJOS, N. F.; MÁRIO, H.L. Endocardite Bacteriana em

Odontologia: Doença e Profilaxia Medicamentosa.UningáReview, v. 12, n. 2, 2012.

PALLASCH, T.J. Antibiotic prophylaxis: problems in paradise. Dental Clinicsof North

America, v. 47, n. 4, p. 665-679, 2003.

PIÑEIRO, A.et al. Bacteraemia following dental implants placement.Clin Oral Implant.,v.

21, n. 1, p. 913-918,2010.

PRENDERGAST, B.D. The changing face of infective endocarditis. Heart, v. 92, n. 7, p.

879-885, 2006.

ROBERTS, G. J. et al. Dental bacteremia in children.Pediatric cardiology, v. 18, n. 1, p. 24-

27, 1997.

ROCHA, L.M.A.et al. Conhecimentos e condutas para prevenção da endocardite infecciosa

entre cirurgiões-dentistas e acadêmicos de odontologia. Revista Odontológica do Brasil

Central, v. 17, n. 44, 2010.

RODRIGUES JL. Endocardite Infecciosa: Conduta Preventiva de Cirurgiões Dentistas e

Acadêmicos de Odontologia. 2010. Monografia (Graduação em Odontologia). UFPB/CCS;

João Pessoa, 2010.

ROMANS, A.R.; APPEN, G.R. Bacteremia, a resultfrom oral irrigations in

subjectswhitgengivits.J. Periodontal, v. 42, n. 1, p. 757-760, 2009.

ROUSE, M.S. et al. Efficacy of azithromycin or clarithromycin for prophylaxis of viridans

group streptococcus experimental endocarditis. Antimicrobial agents and chemotherapy, v.

41, n. 8, p. 1673-1676, 1997.

SHANSON,D.C.et al. Erythromycin stearate, 1.5 g, for the oral prophylaxis of streptococcal

bacteraemia in patients undergoing dental extraction: efficacy and tolerance. J

AntimicrobChemother, v. 15, n. 1, p. 83-90, 1985.

SILVA,V.M.F.Q. Endocardite infecciosa, 2003. Disponível em:

<http://www.fmt.am.gov.br/manual/endocardite.htm>. Acesso em Setembro de 2017.

STANLEY L. ROBBINS, RAMZI S. COTRAN:PatologiaEstruta e Funcional, 6. ed.Rio de

Janiro: Guanabara Koogam, 2000, 867p.

TOMÁS, I. et al. Prevalence, durationandaetiologyofbacteraemiafollowing dental extractions.

Oral Dis, v. 13, n. 56, p. 62, 2007.

VAN DER MEER, J. T. M. et al. Efficacy of antibiotic prophylaxis for prevention of native-

valve endocarditis.The Lancet, v. 339, n. 8786, p. 135-139, 1992.

Page 31: UNILEÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA IARA …

30

VINAGRE, J.T.C.; SILVEIRA, R.L.; NUNES, C.B. Endocardite Infecciosa. e-Scientia, v. 2,

n. 2, 2010.

VLESSIS, A.A. et al. Infective endocarditis: ten-year review of medical and surgical

therapy.TheAnnalsofthoracicsurgery, v. 61, n. 4, p. 1217-1222, 1996.

WAHL, M.J.; PALLASCH, T.J. Dentistry and endocarditis. Current infectious disease

reports, v. 7, n. 4, p. 251-256, 2005.

WAHLMANN U. et al. Clinical and microbiological efficacy of single dose cefuroxime

prophylaxis for dental surgical procedures.Int J Antimicrob Agents, v. 12, n. 6, p. 253-256,

1999.

WILSON, W.et al. Prevention of infective endocarditis: guidelines from the American heart

association: a guideline from the American heart association rheumatic fever, endocarditis,

and Kawasaki disease committee, council on cardiovascular disease in the young, and the

council on clinical cardiology, council on cardiovascular surgery and anesthesia, and the

quality of care and outcomes research interdisciplinary working group. Circulation, v. 116, n.

15, p. 1736-1754, 2007.