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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI EM SÃO JOSÉ CURSO DE SEGURANÇA PÚBLICA LUCIANA HELENA DOS SANTOS ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO DOS OFICIAIS DA PMSC Florianópolis 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI EM SÃO JOSÉ

CURSO DE SEGURANÇA PÚBLICA

LUCIANA HELENA DOS SANTOS

ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO DOS OFICIAIS DA PMSC

Florianópolis 2006

LUCIANA HELENA DOS SANTOS

ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO DOS OFICIAIS DA PMSC

Trabalho de Conclusão de Curso - pesquisa

bibliográfica – documental - apresentado como requisito

parcial para obtenção do grau de Bacharel em

Segurança Pública da Universidade do Vale do Itajaí.

Professor Orientador: José Aroldo Schlichting.

Florianópolis

2006

LUCIANA HELENA DOS SANTOS

ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIOGRÁFICO DOS OFICIAIS DA PMSC

Este Trabalho de Conclusão de Estágio foi julgado adequado e aprovado em sua

forma final pela Coordenação do Curso de Segurança Pública da Universidade do

Vale do Itajaí, em 02 de outubro de 2006.

Professor MSC Moacir José Serpa Uni vali – CE Florianópolis Coordenador (a) do Curso

Banca Examinadora:

Prof (a) Especialista José Aroldo Schlichting.

Univali – CE Florianópolis Professor Orientador

Prof. MSC Hamilton Pacheco da Rosa

Univali – CE Florianópolis Membro

Cel. PM RR Paulo Roberto Fagundes de Freitas

Univali – CE Florianópolis Membro

Aos meus pais, ao meu filho, aos meus

amigos e a todos aqueles que acreditaram que

seria possível, e, acreditando, me ajudaram a

chegar até aqui. Essa vitória também é de

vocês!

Agradeço a Deus, pela vida e pelas oportunidades que

me proporcionou até aqui.

A minha família, por ter colaborado nos momentos mais

difíceis, e suportado comigo os espinhos da caminhada.

Aos meus amigos, por serem suporte para as

dificuldades e também incentivo e alegria.

A todos aqueles, que de uma forma ou de outra

contribuíram para a realização deste.

Aprendi que para chegar a qualquer lugar, é

preciso, antes de tudo, querer.

Amyr Klink

RESUMO

O presente trabalho busca apresentar um estudo sobre o Perfil Profissiográfico para os Oficiais da Policia Militar de Santa Catarina, e sua utilização na seleção de candidatos ao oficialato. O Perfil Profissiográfico, soma da descrição de cargos com a análise criteriosa das competências, habilidades e atitudes necessárias ao desempenho de determinado cargo ou função, é um instrumento útil a Gestão de Recursos Humanos, e mais efetivamente nos processos de recrutamento, seleção, formação e avaliação de profissionais. Normalmente elaborado por uma comissão multidisciplinar, na Polícia Militar de Santa Catarina a responsabilidade pela elaboração do Perfil Profissiográfico recai sobre o CESIEP, órgão integrante da Diretoria de Pessoal. Neste trabalho, procurou-se enfatizar a utilização do Perfil Profissiográfico no Recrutamento e Seleção de cadetes para o Curso de Oficiais, através do levantamento das atividades desenvolvidas pelos oficiais, bem como das características subjetivas relativas ao caráter e valores necessários ao bom exercício do oficialato. Para tanto, utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica e documental, determinando os conceitos de Gestão de Recursos humanos, como estes processos acontecem dentro da PMSC, à necessidade de elaboração de um novo perfil profissiográfico e as diretrizes determinadas no planejamento Estratégico da Corporação para os próximos 15 anos, bem como as diretrizes da Secretaria Nacional de Segurança Pública e legislação concernente.

Palavras-chave: Gestão de Recursos Humanos, Profissiologia, Seleção e

Recrutamento, Psicologia Organizacional.

ABSTRACT

The present work searchs to present a study on the Profissiographic Profile for the Officers of Military Police of Santa Catarina, and its use in the election of candidates to the official carrer. The Profissiographic Profile, adds of the description of positions with the criterious analysis of the abilities, necessary abilities and attitudes to the performance of determined position or function, the Management of Human resources is a useful instrument, and more effectively in the processes of conscription, election, formation and evaluation of professionals. Normally elaborated for a commission to multidiscipline, into the Military Policy of Santa Catarina the responsibility for the elaboration of the Profissiográfico Profile falls again on the CESIEP, integrant agency of the Direction of Staff. In this work, it was looked to emphasize the use of the Profissiográfico Profile in the Conscription and Election of cadets for the Course of Officers, through the survey of the activities developed for the officers, as well as of relative the subjective characteristics to the character and necessary values to the good exercise of the police office work. For in such a way, the documentary method of bibliographical research was used and, determining the concepts of Management of Human resources, as these processes happen inside of the PMSC, the necessity of elaboration of a new profissiographic profile and the lines of direction determined in the Strategical planning of the Corporation for next the 15 years, as well as the lines of direction of the National Secretariat of Public Security and concernent legislation.

Key-words: Management of Human resources, Profissiology, Election and

Conscription, Organizational Psychology.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

1.1 Apresentação Geral do Trabalho e Justificativa ..................................................11

1.2. Problema de pesquisa........................................................................................ 15

1.3 OBJETIVOS.............................................................................................................15

1.3.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................15

1.3.2Objetivos específicos ..................................................................................................15

1.4. Metodologia Utilizada....................................................................................................15

1.5 Apresentação Geral do Trabalho.........................................................................17

2. GESTAO DE RECURSOS HUMANOS..................................................................19

2.1 O que é gestão de Recursos Humanos?.............................................................20

2.2 A Policia Militar de Santa Catarina como Instituição.......................................... 28

2.3. A gestão de Recursos Humanos na PMSC....................................................... 33

2.4. Como é feita a Seleção para o quadro de oficiais na Policia Militar de Santa

Catarina..................................................................................................................... 37

3.PERFIL PROFISSIOGRÁFICO...............................................................................42

3.1 O que é o Perfil Profissiográfico? Para que serve? .............................................43

3.2. Aplicabilidade a Polícia Militar de Santa Catarina...............................................50

3.3.O perfil profissiográfico de 1990 e o Perfil Profissiográfico Atual....................... 53

4. ELEMENTOS PARA UM NOVO PERFIL PROFISSIOGRAFICO..........................64

4.1 Conceito de Competências, Habilidades e Atitudes.............................................68

4.2. Competências e Habilidades necessárias ao Oficial da PMSC........................ 70

5 CONSIDERAÇOES FINAIS................................................................................... 80

REFERENCIAS..........................................................................................................86

ANEXOS..................................................................................................................................91

ANEXO 1 - Perfil Profissiográfico utilizado na seleção de oficiais PM, de acordo com

DIAS (2002)................................................................................................................92

ANEXO 2 - Perfis Profissiográficos em uso pelo CESIEP........................................ 93

ANEXO 3 – Perfil Profissiográfico de 1990............................................................. 103

1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação Geral do Trabalho e Justificativa

O presente trabalho de pesquisa surgiu da necessidade de entender melhor

quais as competências, habilidades e atitudes envolvidas no bom desempenho das

funções de oficial da Policia Militar de Santa Catarina.

Os processos de seleção e formação de Recursos Humanos são

estrategicamente um dos pontos fundamentais para a vida de uma determinada

empresa ou organização. É através da seleção de recursos humanos que a empresa

garantirá a sua continuidade e principalmente, a sobrevivência no tempo. Segundo

Pontes (2001), um dos maiores desafios da administração de pessoas hoje é atrair e

manter talentos na empresa, e o desafio inicial diz respeito a identificar a pessoa

certa para a colocação certa, de forma que as pessoas possam contribuir com todo

seu potencial, criatividade e motivação para o alcance dos objetivos organizacionais.

Diz Chiavenatto (1999) que as organizações não existiriam sem as pessoas

que lhe fornecem vida, dinâmica, criatividade e racionalidade. É através das pessoas

que as organizações funcionam, e através delas que se mantém.

Ainda segundo Chiavenatto (2002), a sobrevivência e o sucesso de uma

organização dependem do desempenho e da competência das pessoas que dela

fazem parte. O desempenho organizacional estaria assim ligado diretamente ao

desempenho individual e coletivo. Assim sendo, torna-se fundamental que a

empresa tenha claros seus objetivos, principalmente no que tange a seleção,

recrutamento e formação de pessoal, já que é do desempenho destes profissionais

que dependem a sobrevivência e o sucesso de qualquer corporação, até mesmo a

policial militar. E não apenas a nível técnico, mas também emocional e psicológico.

E como definir esses objetivos? Nas empresas modernas, isso se dá

principalmente através do Planejamento de Recursos Humanos. Segundo Stoner

(1985), o planejamento de Recursos Humanos seria responsável por assegurar o

atendimento constante e apropriado das necessidades de pessoal da organização.

Para fazer este planejamento, seria essencial analisar fatores internos, como as

12

necessidades atuais e futuras de pessoal, vagas oriundas de ampliações,

aposentadorias, e contratações necessárias, bem como fatores externos, como o

mercado de trabalho.

Na Policia Militar de Santa Catarina, as modificações vivenciadas na

sociedade catarinense levaram a necessidade de elaboração de um novo

Planejamento Estratégico, que pudesse delinear as necessidades atuais e vindouras

da corporação, identificando a missão, visão e diretrizes estratégicas que nortearão

o rumo da instituição pelos próximos 20 anos. É este planejamento Estratégico, nas

palavras do Comandante Geral e dos oficiais que o redigiram, resposta as mudanças

políticas, econômico-sociais e tecnológicas que condicionam significativamente a

sobrevivência das instituições, inclusive a policial militar, que precisa

constantemente justificar sua existência perante a sociedade. É uma pressão

constante, originada principalmente na escassez de recursos estatais e na

competição movida por outras instituições com atividades correlatas.

Determinar quais são essas competências, habilidades e atitudes, além de

fornecer subsídios à atuação profissional dos egressos da Academia de Polícia

Militar da Trindade, possibilita que a seleção de cadetes, ou mesmo a formação

destes esteja voltada aos objetivos institucionais, garantindo maior qualidade no

desempenho da missão constitucional da qual a Polícia Militar está

constitucionalmente incumbida, bem como sua continuidade como instituição.

Alguns podem argumentar que essa é uma visão extremamente tecnicista da

formação de oficiais, que enfatiza um mecanicismo que não corresponde à realidade

dinâmica das relações humanas, mas neste projeto utilizamos como enfoque a idéia

de que todo processo educacional e administrativo de recursos humanos procura

atingir objetivos específicos, e que estes venham a refletir em ganhos corporativos.

Se a organização investe na seleção e formação de seus profissionais, espera um

lucro específico, que é o melhor desempenho possível deste profissional para

atender as demandas de operacionalidade e continuidade da instituição como um

todo.

Neste trabalho, buscamos ainda enfocar o levantamento dessas

características objetivas e subjetivas do exercício da função de oficial como objeto

13

do perfil profissiográfico, e a utilização deste ultimo como instrumento auxiliar a

seleção para o Curso de Formação de Oficiais da PMSC.

Como selecionar e formar um oficial para atender as necessidades da

atuação da Polícia Militar de Santa Catarina, de forma eficaz e eficiente?

Atualmente, a seleção se dá através de concurso Público realizado pela

ACAFE e Polícia Militar conjuntamente, e a formação se dá através do Curso de

Formação de Oficiais (ministrado pela Policia Militar, englobando as matérias

técnicas, considerado curso de formação superior pela portaria... do MEC) e

Bacharelado em Segurança Pública pela UNIVALI (com duração de 4 anos,

englobando as matérias de conhecimento geral, administrativas e jurídicas da gestão

em segurança pública). O currículo passa por modificações constantes, procurando

adaptar-se as demandas operacionais, fazendo com que praticamente cada turma

de oficiais formados tenha carga horária e currículos diferenciados, de acordo com

as demandas daquele momento.

Mas quais são os conhecimentos que possibilitariam ao oficial um exercício

eficiente da profissão policial militar, em qualquer das diversas áreas de atuação da

corporação? Existe um currículo mínimo previsto para o curso que possa abranger

todos os conhecimentos necessários? Quais competências, habilidades e atitudes

que deveriam ser desenvolvidas durante a formação, e quais deveriam estar

presentes já durante o processo de seleção?

Também se deve sopesar que existem diversos aspectos envolvidos na

elaboração de um perfil profissiográfico: aspectos técnicos, psicológicos, e

organizacionais, entre outros. Assim, seria impossível pensar a elaboração de um

novo perfil profissiográfico sem levar em conta os diversos aspectos envolvidos

nesse processo.

Buscando respostas a todas estas perguntas, que envolvem questões de

planejamento institucional, planejamento de ensino e administração de recursos

humanos, buscamos encontrar instrumentos que possibilitassem tanto à seleção,

quanto a formação do melhor oficial possível, aquele que melhor atendesse as

demandas tanto internas, de continuidade da instituição, quanto externas, relativas à

atuação policial militar. Pesquisamos então os métodos de seleção, e chegamos ao

perfil profissiográfico.

14

O perfil profissiográfico foi escolhido como uma das metodologias possíveis

na determinação técnica dessas competências. Serve de instrumento auxiliar tanto

na seleção de pessoal como na escolha dos conteúdos relevantes ao currículo de

formação de oficiais, em busca daquele oficial que se aproxime ao máximo dos

ideais determinados pelas necessidades da Corporação, em suas mais diversas

manifestações. Pode ser utilizado ainda como auxiliar a avaliação, já que a partir da

determinação das competências e habilidades necessárias, pode-se estabelecer

parâmetros claros para avaliação da atuação do oficial, se está de acordo com os

parâmetros pré definidos.

O Perfil Profissiográfico também foi o instrumento escolhido por que

representa mais do que a simples descrição de cargos e funções dentro da

organização; é também o levantamento de competências, habilidades e atitudes,

mensuradas objetivamente, com o fim de determinar qual o melhor indivíduo para

exercer determinada atividade, buscando a otimização do serviço prestado. Atende

assim aos requisitos de servir de instrumento tanto á seleção (já que determina

claramente quais as atividades serão desenvolvidas pelo candidato que for aprovado

e quais competências mínimas serão requisitos para seleção) como subsídio à

formação, na medida em que determina quais os aspectos mínimos a serem

abordados nas disciplinas dos cursos elencados. Além disso, é um dos

instrumentos utilizados para seleção e formação de diversas outras polícias do

Brasil, e uma das metas a serem alcançadas no atual planejamento Estratégico da

Policia Militar de Santa Catarina.

Voltando a Pontes (2001), temos os possíveis problemas da falta de

Planejamento de Recursos Humanos: a promoção de pessoas sem habilitação

necessária ao desempenho das novas funções acabará gerando um provável mau

desempenho; por outro lado, quando a única alternativa que se apresenta a

empresa é o recrutamento externo, pode haver uma desmotivação dos funcionários

que se vêem impossibilitados de ocupar vagas para as quais supostamente teriam

capacidade e maior conhecimento organizacional. Os processos de seleção são

falhos, e nem sempre bons currículos correspondem a desempenhos igualmente

espetaculares. A falta de conhecimento ou cultura organizacional também pode ser

um problema, se não houver uma inclusão planejada de Recursos Humanos.

15

1.2 Problema de pesquisa

Quais as competências, habilidades e atitudes necessárias a um oficial para

atender as expectativas da Polícia Militar e do Estado de Santa Catarina com

excelência?

Quais características devem estar presentes na seleção, e quais devem ser

desenvolvidas durante a formação para que o produto final seja um bom oficial?

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Estudar a necessidade de elaboração de um novo Perfil Profissiográfico para

os oficiais da Policia Militar de Santa Catarina, através do levantamento bibliográfico

e documental, bem como das características objetivas e subjetivas que norteariam a

construção desse perfil.

1.3.2 Objetivos Específicos

• Fazer um levantamento bibliográfico nas áreas de administração de Recursos

Humanos e Psicologia Organizacional sobre o que é o perfil profissiográfico,

quais os requisitos de sua elaboração e qual seu objetivo.

• Analisar brevemente os meios utilizados na Gestão de Recursos Humanos e

seleção de oficiais da PMSC

• Definir quais competências, habilidades e atitudes seriam de fundamental

importância na elaboração de um novo perfil profissiográfico para os oficiais

da Policia Militar de Santa Catarina. Essa definição será fundamentada

16

através de pesquisa bibliográfica e documental nas áreas de administração de

recursos humanos, psicologia organizacional, no atual Planejamento

Estratégico, na legislação, nas diretrizes da Secretaria Nacional de Segurança

Pública, e nos perfis profissiográficos hoje existentes na Corporação.

1.4 Metodologia Utilizada

Andrade (1989) define a pesquisa como o conjunto de procedimentos

sistemáticos, baseados no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções

para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos.

Para Fachin (2001), o método em pesquisas consiste na escolha dos

procedimentos sistemáticos mais adequados para a descrição e explicação do

estudo. O método então não pode ser fruto de escolha aleatória, mas baseado

principalmente na natureza do objeto e nos objetivos da pesquisa pretendida, para

que seja o mais adequado possível aos fins almejados.

Lakatos e Marconi (1991) definem método como o conjunto de atividades

sistemáticas e racionais que visam alcançar o objetivo de conhecimentos válidos e

verdadeiros com economia e segurança, através da determinação do caminho a ser

seguido, e da detecção dos erros, auxiliando assim as decisões do pesquisador.

Ainda segundo Lakatos e Marconi (1991), a pesquisa documental caracteriza-

se pela fonte da coleta de dados, que está restrita a documentos escritos ou não,

que são fontes primárias de informação. Por outro lado, a pesquisa bibliográfica,

chamada de fontes secundárias, abrange a bibliografia já tornada pública sobre o

assunto em tela, não restrita apenas a livros, revistas ou monografias e teses, mas

também material filmado ou dito sobre determinado assunto, abrangendo assim

entrevistas, programas de rádio ou qualquer outro material de qualquer meio de

comunicação, inclusive fitas de vídeo, DVDS, entrevistas gravadas (transcritas ou

não).

A presente pesquisa apresenta características exploratórias e descritivas,

buscando através da realização de pesquisa bibliográfica e documental alcançar

como resultado uma pesquisa aplicativa, que possa servir de suporte a novos

17

estudos sobre o tema e reformulações das diretrizes hoje utilizadas na seleção e

formação de Oficiais da PMSC.

Pretende-se apresentar o perfil profissiográfico como instrumento auxiliar na

seleção de oficiais na Policia Militar de Santa Catarina, bem como discutir como e

quais habilidades deveriam estar presentes na elaboração de um novo perfil

profissiográfico para o Oficial da PM, de acordo com a legislação existente e as

diretrizes apontadas no Planejamento Estratégico e definições da SENASP.

Essa definição será fundamentada através de pesquisa bibliográfica e

documental nas áreas de administração de recursos humanos, psicologia

organizacional, no atual Planejamento Estratégico, na legislação, nas diretrizes da

Secretaria Nacional de Segurança Pública, e nos perfis profissiográficos hoje

existentes na Corporação.

Para atingir estes objetivos, pretende-se utilizar fontes bibliográficas e

documentais. As fontes bibliográficas serão consultas a livros, dicionários, jornais,

entre outros, nas áreas de Administração, Psicologia, Gestão de Recursos Humanos

e Formação Profissional. Através das fontes bibliográficas elaborou-se todo o

arcabouço teórico do trabalho, bem como obteve - se argumentos para a análise

textual. Os documentos utilizados serão diretrizes e portarias, entre elas o

Planejamento Estratégico atual da Policia Militar de Santa Catarina, elaborado no

ano de 2005 e as diretrizes para formação de Policiais da Secretaria Nacional de

Segurança Pública (SENASP). Serão utilizados ainda Monografias produzidas por

oficiais da Corporação e os perfis profissiográficos de 1990 e o atualmente utilizado

pela corporação.

1.5 Apresentação Geral do Trabalho

O trabalho desenvolvido a seguir foi dividido em capítulos para melhor

entendimento do tema proposto.

No primeiro capítulo, encontra-se a introdução e a apresentação geral da

metodologia, objetivos e forma do trabalho desenvolvido.

No capítulo dois, se apresentará uma visão geral sobre a Gestão de Recursos

Humanos: o que é, para que serve, como funciona. Também procurar-se-á

18

estabelecer, em linhas gerais, um histórico da Policia Militar de Santa Catarina e

como funciona a Gestão de Recursos Humanos nesta instituição.

No capítulo seguinte, falaremos a respeito do Perfil profissiográfico: O que é o

perfil profissiográfico, de que forma pode ser utilizado na Seleção, avaliação e

recrutamento de Recursos Humanos, na seleção de currículos formativos, e no

planejamento organizacional de forma geral. Como se faz um perfil profissiográfico,

quais critérios devem ser levados em consideração. Abordaremos ainda os últimos

perfis profissiográficos elaborados para o oficial da PMSC, com especial ênfase no

perfil de 1990 e nos perfis atualmente utilizados pelo CESIEP.

No quarto capítulo, apresentaremos um resumo geral do que foi abordado

neste trabalho, bem como as características, habilidades e atitudes que, presentes

nos documentos e legislação pesquisados, seriam fundamentais na elaboração de

um perfil profissiográfico para os oficiais da PMSC.

No quinto e ultimo capítulo, apresentaremos de forma resumida as idéias

apresentadas neste trabalho, bem como as conclusões e apontamentos de

possibilidades de aplicação e ampliação dos estudos na área.

19

2 GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

Como já citado anteriormente, Chiavenatto (1999) afirma que as

organizações não existiriam sem as pessoas que lhe fornecem vida, dinâmica,

criatividade e racionalidade. É através das pessoas que as organizações

funcionam, e através delas que se mantém.

Os processos de seleção e formação de Recursos Humanos são

estrategicamente um dos pontos fundamentais para a vida de uma determinada

empresa ou organização. É através da seleção de recursos humanos que a

empresa garantirá a sua continuidade e principalmente, a sobrevivência no tempo.

Os conceitos de Recursos Humanos, recrutamento, seleção e formação de

pessoal nas empresas evoluíram junto com as concepções econômicas e

administrativas.

A partir daí, pode-se afirmar que é fundamental que a empresa tenha claros

seus objetivos, principalmente no tocante a seleção, recrutamento e formação de

pessoal, haja vista que é do desempenho destes profissionais que dependem a

sobrevivência e o sucesso de qualquer corporação, até mesmo a policial militar. E

não apenas a nível técnico, mas também emocional e psicológico. Assim sendo, é

necessário, para dar inicio a este trabalho, a definição do conceito de Gestão de

Recursos Humanos, bem como Planejamento de Recursos Humanos e quais as

estratégias envolvidas neste setor.

Ainda é preciso atentar que, Segundo Pontes (2001), um dos maiores

desafios da administração de pessoas hoje é atrair e manter talentos na empresa,

e o desafio inicial diz respeito a identificar a pessoa certa para a colocação certa,

de forma que as pessoas possam contribuir com todo seu potencial, criatividade e

motivação para o alcance dos objetivos organizacionais.

Neste capítulo, serão abordados os processos de Gestão de Recursos

Humanos na PMSC e, mais especificamente, a seleção de Oficiais para a

Corporação.

20

2.1 O que é gestão de Recursos Humanos?

A partir do momento em que os seres humanos passaram a se reunir em

grupos sociais, surgiu a necessidade de dividir as atividades necessárias à

sobrevivência desses grupos, surgindo a divisão social do trabalho.

Diz Medeiros (1999, p.11) que:

Nos últimos tempos, a área de recursos humanos tem evoluído bastante nas organizações, voltando os seus objetivos à busca incessante da produtividade. Para tanto, cabe aos profissionais que nela atuam a missão de interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação, não medindo esforços para que sejam alcançados de maneira adequada, trazendo assim, benefícios a própria organização.

Segundo Marras (2000), com o passar do tempo, o trabalho com finalidade

econômica levou ao surgimento da indústria, e com ela, a necessidade de

contabilizar a produtividade dos trabalhadores, as horas trabalhadas, etc., com fim

de regular pagamentos ou descontos. Surge a figura do supervisor, que seria o

primeiro administrador de Recursos Humanos, o responsável por ser um inflexível

seguidor das leis da empresa e normalmente, pelas demissões.

De acordo com Chiavenatto (1999), é a partir da Revolução industrial que

surge o atual conceito de trabalho, e foi no decorrer do século XX que o trabalho

recebeu a configuração que hoje está assumindo. No decorrer do século XX,

podemos visualizar três períodos distintos na forma organizacional do trabalho:

era industrial clássica, a era industrial neoclássica e a era da informação.

Na era industrial clássica, período compreendido da Revolução industrial

até meados da década de 1950, houve a intensificação do fenômeno da

industrialização em escala mundial e o surgimento de países desenvolvidos ou

industrializados. As empresas passaram a adotar o modelo de estrutura

organizacional burocrática e hierárquica. Neste período, os cargos eram

determinados de forma fixa com o objetivo de obter o máximo de eficiência do

trabalho. O trabalhador deveria ajustar-se ao máximo as determinantes do cargo,

para que o trabalho fosse o mais perfeito possível. A ideologia das organizações

21

era predominantemente conservadora, e os valores e tradições deveriam ser

mantidos.

Neste período, os órgãos de administração de pessoas dentro das

empresas eram responsáveis por supervisionar, controlar os trabalhadores e servir

de órgão de intermediação entre os órgãos superiores de chefia e a empresa.

No eficientismo proposto por Taylor, no inicio do século XX, o administrador

deveria exercer as funções de planejar, organizar, coordenar, comandar e

controlar as atividades produtivas. (Marras, 2000)

Neste sentido, a função de chefe de pessoal refletia a idéia de que o

trabalhador era somente um instrumento através do qual a empresa alcançaria

seus resultados. O chefe de pessoal deveria contabilizar as entradas, saídas,

regular as atividades, advertir, punir os faltosos.

Já na década de 20 esse perfil começou a sofrer modificações em função

do movimento das relações humanas, que preconizava que a eficiência poderia

ser mais bem alcançada pela eliminação dos conflitos e seus custos. O chefe de

pessoal deste período deveria acima de tudo preocupar-se com o individuo e com

suas necessidades.

De acordo com Marras (2000), na década de 40, o movimento das relações

humanas vai sendo substituído gradativamente pelo Behaviorismo, que buscava

dar fundamentação psicológica ao empirismo da escola anterior. Surgem assim os

primeiros estudos sobre liderança, autocratismo, democracia no trabalho e

motivação humana. Também surgem os primeiros estudos sobre o poder das

relações informais dentro da organização.

Segundo Chiavenatto (1999) entre as décadas de 50 e 90 do século XX a

velocidade das mudanças aumentou progressivamente, exigindo das

organizações uma adaptabilidade cada vez maior. A teoria clássica foi substituída

pela teoria neoclássica da administração, o modelo dito burocrático foi substituído

pela concepção estruturalista, a teoria das relações humanas cedeu lugar a teoria

comportamental. Ao longo deste processo, surgem ainda as teorias de sistemas e

da contingência. A visão linear e especializadora é substituída pela

22

multidisciplinaridade e uma visão mais sistêmica. O modelo burocrático é

seriamente questionado, pela morosidade que impossibilita o acompanhamento

adequado das mudanças sociais e econômicas que o rodeia. É na década de 50

que o chefe de recursos humanos é alçado a categoria de gerente e passa a ser

visto de forma interligada a área de ciências humanas, sendo que os

departamentos de recursos humanos passam a visualizar as pessoas como

recursos inteligentes e não apenas como fatores de produção. O RH ganha

importância, já que a concepção vigente passa a focar mais as pessoas do que o

controle destas, como fator determinante no sucesso de uma organização.

Assim, se inicialmente os chefes de pessoal (antes de 1950) preocupavam-

se exclusivamente com o controle da freqüência, os pagamentos, admissões e

demissões e o cumprimento das leis trabalhistas, o Gerente de Recursos

Humanos que atingiu o fim do milênio era responsável também pela medicina e

higiene, pelos processos de segurança no trabalho, pelo recrutamento e seleção

de pessoal, pela avaliação de desempenhos, pela qualidade de vida dos

empregados, pelo desenvolvimento organizacional e outros aspectos ligados à

estrutura organizacional. (Marras, 2000)

A partir do final da década de 90 do século XX até os dias atuais, estamos

vivendo um período que Chiavenatto (1999) define como Era da Informação. Esse

período seria caracterizado pelas mudanças rápidas e imprevisíveis, pelo uso da

tecnologia da informação, pela globalização da informação, da economia e da

competitividade. A informação passa a ser o fator mais importante nas relações, já

que, mais do que dinheiro, o que determina o sucesso ou fracasso de uma

organização é a capacidade de ter o conhecimento e usa-lo de forma adequada.

Neste contexto, tornar o conhecimento utilizável de forma produtiva é o maior

desafio gerencial. Os cargos e funções, rígidos na organização burocrática,

tornam-se cada vez mais flexíveis e constantemente redefinidos em função das

mudanças no ambiente e na tecnologia.

As pessoas e suas competências e habilidades passam a ser a base da

nova forma organizacional, e a administração de Recursos Humanos também

23

passa por uma reformulação, sendo agora denominada Gestão de Pessoas. Nesta

abordagem, segundo Chiavenatto (1999, p. 31) “(...) as pessoas deixam de ser

simples recursos (humanos) organizacionais para serem abordadas como seres

dotados de inteligência, personalidade, conhecimentos, habilidades, destrezas,

aspirações e percepções singulares. São os novos parceiros da organização.”.

A gestão de pessoas deve preocupar-se em educar, treinar, motivar e

liderar as pessoas que trabalham na organização, de forma a oferecer-lhes

possibilidades de inserção na cultura corporativa, de auto-realizaçao e de

assumirem atitudes empreendedoras.

Segundo Marras (2000), podemos identificar 5 fases na evolução do perfil

do profissional de RH: contábil (até 1930), Legal (de 1930 a 1950), Tecnicista (de

1950 a 1965) Administrativa (de 1965 a 1985) e por fim, Estratégica (de 1985 ate o

momento atual).

A partir do acima exposto, podemos concluir que, do mesmo modo como a

concepção do que seria a função das pessoas dentro da organização, e o papel

do gerente de recursos humanos vem mudando no decorrer da história, a

concepção atual da função de recursos humanos dentro da PMSC não se

restringe mais à idéia de supervisionar e controlar a produção, ou seja, os

números estatísticos relativos ao atendimento de ocorrências, mas também

motivar, valorizar o efetivo, bem como atuar na seleção recrutamento e políticas

de atendimento ao policial, para que ele sinta-se mais do que um funcionário

público, mas realmente engajado na cultura organizacional e atuante como

parceiro da corporação.

Mas como definir a gestão de pessoas, para os objetivos pretendidos neste

trabalho?

Segundo Medeiros (1999):

Administrar recursos humanos é diferente de administrar qualquer outro recurso empresarial, porque envolve algumas dificuldades específicas que se constituem em verdadeiros desafios. O grande desafio da Administração de Recursos Humanos (ARH) é abordar as pessoas como seres humanos e não simplesmente como recursos organizacionais.

24

Como já comentado anteriormente, Chiavenatto (2002) define que a

sobrevivência e o sucesso de uma organização dependem do desempenho e da

competência das pessoas que dela fazem parte. O desempenho organizacional

estaria assim ligado diretamente ao desempenho individual e coletivo. Neste

sentido, para que uma empresa alcance efetivamente seus objetivos, o foco inicial

deve estar voltado às pessoas que dela fazem parte.

O termo Gestão de pessoas simboliza o modo como se relacionam a

organização e as pessoas que dela fazem parte. A Gestão ou administração de

Recursos Humanos é, dentro daquilo que pretendemos enfocar neste trabalho, o

conjunto de decisões administrativas sobre provisão, treinamento,

desenvolvimento, motivação e manutenção de pessoal em determinada empresa

ou organização.

Ainda segundo Chiavenatto (1999, P.11):

A moderna gestão de pessoas consiste em várias atividades, como descrição e análise de cargos, planejamento de RH, recrutamento, seleção, orientação, e motivação das pessoas, avaliação do desempenho, remuneração, treinamento, e desenvolvimento, relações sindicais, segurança, saúde e bem estar, etc.

Assim, podemos dizer que numa primeira abordagem, a gestão de

Recursos Humanos é a parte da administração que trata do planejamento e da

metodologia para seleção, recrutamento e administração de pessoal na empresa.

Hoje se fala muito em Gestão estratégica de recursos humanos, que seria o

estudo de recursos humanos com a intenção de alcançar os melhores resultados

possíveis para a corporação, através das pessoas que trabalham nesse sistema.

Neste contexto, torna-se fundamental que a empresa tenha claros seus

objetivos, principalmente no que tange a seleção, recrutamento e formação de

pessoal, já que é do desempenho destes profissionais que dependem a

sobrevivência e o sucesso de qualquer corporação, até mesmo a policial militar. E

não apenas a nível técnico, mas também emocional e psicológico.

E como definir esses objetivos? Nas empresas modernas, isso se dá

principalmente através do Planejamento de Recursos Humanos. Segundo Stoner

25

(1985), o planejamento de Recursos Humanos seria responsável por assegurar o

atendimento constante e apropriado das necessidades de pessoal da organização.

Para fazer este planejamento, seria essencial analisar fatores internos, como as

necessidades atuais e futuras de pessoal, vagas oriundas de ampliações,

aposentadorias, e contratações necessárias, bem como fatores externos, como o

mercado de trabalho.

Dentro deste conceito, o planejamento de Recursos humanos pode ser

entendido como o subsistema da Gestão de Recursos Humanos responsável pelo

planejamento, recrutamento, seleção, treinamento e integração de Recursos

Humanos em determinada empresa.

É através do planejamento de Recursos Humanos que a gestão de

recursos humanos operacionaliza suas estratégias.

Assim sendo, o planejamento de RH, é definido por Stoner (1985) como:

O planejamento de Recursos Humanos visa a assegurar o atendimento constante e apropriado das necessidades de pessoal da organização. Este planejamento é feito com a análise de: 1) fatores internos, como as necessidades atuais e previstas de pessoal qualificado, vagas e ampliações e contratações departamentais e 2) fatores do ambiente externo, como o mercado de trabalho. Como resultado desta análise, elaboram-se planos para se dar os outros passo do processo de colocação de pessoal.

Assim, é na Gestão de Recursos Humanos, e mais especificamente no

Planejamento de Recursos Humanos que iremos procurar respostas para a

pergunta inicial deste trabalho: Quais são as habilidades, competências e atitudes

necessárias a um bom oficial da PMSC.

Voltando a Pontes (2001), temos que os possíveis problemas da falta de

Planejamento de Recursos Humanos: a promoção de pessoas sem habilitação

necessária ao desempenho das novas funções acabará gerando um provável mau

desempenho; por outro lado, quando a única alternativa que se apresenta a

empresa é o recrutamento externo, pode haver uma desmotivação dos

funcionários que se vêem impossibilitados de ocupar vagas para as quais

supostamente teriam capacidade e maior conhecimento organizacional. Os

processos de seleção são falhos, e nem sempre bons currículos correspondem a

26

desempenhos igualmente espetaculares. A falta de conhecimento ou cultura

organizacional também pode ser um problema, se não houver uma inclusão

planejada de Recursos Humanos.

Desta forma, para que qualquer organização consiga atingir seus objetivos,

é necessário que os esforços das pessoas estejam voltados para alcançar não

apenas seus objetivos individuais, mas também os objetivos corporativos. E que

estes objetivos estejam claros, tanto para quem seleciona os Recursos Humanos,

como para as pessoas que fazem parte da Organização, para que possam realizar

a contento suas obrigações. É neste enfoque que se empreendem esforços no

Planejamento Estratégico das empresas, onde estão determinados, em linhas

gerais, os objetivos, missão, visão da empresa e metas a serem alcançadas em

período de tempo definido.

Dentro das estratégias de Gestão de Recursos humanos, as mais

importantes são aquelas relativas ao recrutamento e seleção de pessoal, já que é

através destes processos que se agregam novos talentos a empresa. A diferença

básica entre recrutamento e seleção é que, enquanto que “ O recrutamento diz

respeito à formação de um grupo de candidatos a emprego, de acordo com o

plano de Recursos Humanos” (Stoner, 1985, p. 354), a seleção pode ser definida

por Chiavenatto (1999, P.) como:

(...) a escolha do homem certo para o cargo certo, ou, mais amplamente, entre os candidatos recrutados, aqueles mais adequados aos cargos existentes na organização, visando manter ou aumentar a eficiência e o desempenho do pessoal, bem como a eficácia da organização.

Assim, para exemplificar a idéia relacionada, poderíamos dizer que elaborar

um anúncio de jornal para preencher determinada vaga em uma empresa é um

processo de recrutamento: responderão ao anuncio aqueles candidatos

interessados na vaga. Já os procedimentos que a empresa adotará para escolher

entre os candidatos que se apresentarem aquele mais adequado ao exercício

profissional na empresa serão processos de seleção.

Segundo as doutrinas de administração consultadas, os métodos mais

comuns de seleção são os formulários de inscrição, os resumos de currículos, as

27

entrevistas, os testes de emprego e de qualificação e as verificações de

referencia.

Para determinar quais Competências, Habilidades e atitudes necessárias

ao exercício de determinada função ou cargo, a Gestão de Recursos Humanos

utiliza determinados métodos para colher informações a respeito do cargo a ser

preenchido. Estas informações podem ser colhidas basicamente de cinco formas

distintas: descrição e analise do cargo, técnica dos incidentes críticos, requisição

de pessoal, análise do cargo no mercado e hipóteses de trabalho.

A descrição e análise de cargos, apontado na bibliografia pesquisada como

um dos principais objetos de colheita de informações sobre o cargo, e também um

dos mais eficientes, é o levantamento de fatores como conteúdos do cargo e

requisitos exigidos de seu ocupante, para que possa ocupá-lo adequadamente.

Procura descrever não apenas os procedimentos e conhecimentos necessários ao

pretendente a vaga, mas também características psicológicas, emocionais e

subjetivas para que o exercício da função seja o mais adequado possível. É

através da descrição e análise de cargos que se determina o perfil profissiográfico

de determinado cargo ou função.

A descrição de cargos consiste basicamente na relação sucinta e objetiva

do que o ocupante de determinado cargo faz, como faz e por que, de forma

escrita. É um retrato simples do conteúdo e principais responsabilidades

relacionadas ao cargo. Já a analise de cargos diz respeito ao detalhamento do

que pode ser exigido do ocupante de determinado cargo, em termos de

conhecimentos, habilidades e capacidades para que possa desempenhar

adequadamente a função. Enquanto que a descrição de cargos procura relacionar

de forma objetiva quais as atribuições do ocupante do cargo, a análise de cargos

busca determinar condições mais subjetivas, ligadas aos requisitos mentais,

físicos e emocionais do sujeito que procura preencher o cargo.

Segundo Almeida (2004, p.54):

O perfil ideal do candidato e da vaga são instrumentos básicos para o planejamento de um processo seletivo. Sua elaboração permite uma definição do tipo de profissional que se deseja, e que se supõe poderá

28

contribuir para a organização. Além do mais, proporciona maior sistematização das atividades de captação e seleção, concorrendo para que se tenham resultados mais objetivos, já que as escolhas são realizadas com base em requisitos e critérios pré definidos, e não de forma aleatória.

Buscando encontrar instrumentos que possibilitassem tanto à seleção,

quanto a formação do melhor oficial possível, aquele que melhor atendesse as

demandas tanto internas, de continuidade da instituição, quanto externas, relativas

à atuação policial militar, pesquisamos então os métodos de seleção, como

selecionar o perfil mais adequado para preencher as vagas de oficial da PMSC da

forma mais eficiente e eficaz, e chegamos ao perfil profissiográfico, como

instrumento auxiliar na seleção. No segundo capítulo, trataremos mais

especificamente deste instrumento.

2.2 A Policia Militar de Santa Catarina como Insti tuição.

Segundo Marcineiro e Pacheco (2005) a história das Policias Militares no

Brasil inicia-se com a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808,

fugindo da invasão de Napoleão Bonaparte a Portugal. Dom João VI trouxe, na

ocasião, a Divisão Militar da Guarda Real de Policia, considerada o embrião da

Policia Militar do Rio de Janeiro. Ainda na época da Proclamação da

Independência do Brasil, em 1822, a missão confundia-se entre segurança pública

e defesa interna do país, e a Constituição do Império de 1824 não fazia menção à

segurança pública.

A primeira lei brasileira a tratar do assunto data de 1828, delegando as

câmaras municipais tudo o que diz respeito a policia. Somente em 1831, durante a

Regência do Padre Feijó é que seriam instados os governos provinciais a extinguir

os então existentes corpos municipais de voluntários e criar forças públicas

Estaduais.

Segundo dados encontrados na Home Page institucional, a Polícia Militar

de Santa Catarina foi criada quando o Brasil ainda era uma nação recém

independente de Portugal, em 1835. Criada por Feliciano Nunes Pires, então

29

presidente da Província, tinha por escopo substituir o Corpo Municipal de

Voluntários, considerado ineficiente, e tinha como missão inicial manter a

tranqüilidade pública, e tornar efetivas as ordens das autoridades públicas quando

assim fosse necessário.

De acordo com Pacheco (2001):

Com base na Lei Provincial nº. 16 de 12 de Agosto de 1834, que delegava competência às Assembléias Provinciais para legislar sobre a polícia, a Assembléia Legislativa Provincial de Santa Catarina extinguiu os Corpos de Guarda Municipais Voluntários e criou, através da Lei Provincial nº. 12, de 05 de Maio de 1835i, a Força Policial da Província de Santa Catarina, com jurisdição sobre a Vila de Nossa Senhora do Desterro, sendo subordinada ao Presidente da Província (Art. 1º)

Ainda segundo Pacheco (2001), no regulamento da Força Policial

aprovado pela Assembléia Legislativa em 1836, a missão determinada era ampla

e complexa, abrangendo desde o atendimento de incêndios até os infratores de

posturas municipais.

Segundo Rosa (2001):

A Lei nº. 12 de 05 de maio de 1835 estabelecia em seu artigo 1º que a Força Policial era composta de cidadãos brasileiros, e que constaria de um primeiro e um segundo Comandante, de um Cabo e oito Soldados de cavalaria, montados a sua custa, e de quatro Cabos, trinta e seis Soldados e um Corneta de Infantaria.

Pequena, atrasada em relação a outras regiões do país (notadamente as

regiões Sudeste e Nordeste), Desterro tinha fundamental importância como ponto

estratégico Militar, quando o comércio com o Sul era importante para o país.

Assim, em 5 de Maio de 1835, Feliciano Nunes Pires, então presidente da

Província, criou a Força Policial.

No início, a falta de efetivo e de verbas, fez com que a instituição

enfrentasse sérias dificuldades. Também houve uma grande variação na missão

desenvolvida, desde defender as comunidades próximas de ataques indígenas,

até atuar em apoio ao Exército na defesa territorial do Brasil durante a Guerra do

Paraguai e na questão do Contestado. Participou ainda da Revolução Farroupilha

30

(do lado Monarquista) e da Revolução Constitucionalista de 1932, quando, para

evitar a invasão da Ilha, retirou todas as tábuas da ponte Hercílio Luz.

Ainda em 1860 não havia um quartel próprio para a Força Pública. Somente

em 1888 é que o quartel foi transferido para a atual sede do Comando Geral. Com

a Proclamação da República, uma nova Lei Estadual (Lei Estadual 20, de 18 de

novembro) estabelece a Segurança Pública como missão da Força Pública,

mantendo a ordem e assegurando a execução das leis em todo território do

Estado. A Força Pública não atuava então na Defesa Interna.

Essa concepção de missão seria mantida até 1912, quando eclode no

Estado a Guerra do Contestado, passando a Força Pública a atuar na Defesa

Interna e na Segurança Nacional, como parte integrante do Exército, prestando

apoio a este, e passa a denominar-se neste período REGIMENTO DE

SEGURANÇA, adaptando a nomenclatura a das unidades do Exército. Em 1916,

com o fim da Guerra do Contestado, volta a denominar-se Força Pública.

Ainda de acordo com Rosa (2001), através da Lei nº. 1.137 de 30 de

Setembro de 1916, o Governador recebe autorização para a criação de uma

seção de bombeiros, adida à Força Pública, que viria a ser inaugurada em 1926,

com a denominação de 1ª Seção de Bombeiros. Com isso a Força Pública passa

a atuar também nas áreas de Defesa Civil e Defesa Pública.

Através de acordo firmado entre o Estado e a União, a Força Pública se

tornaria oficialmente, em 1917, Força Auxiliar e Reserva do Exercito, sendo que

em 1923, são adotados os regulamentos do Exército no que se refere à instrução

e ao combate.

Segundo Medeiros (1999, p. 31):

Em 1926, pela primeira vez, foram realizados os exames de seleção para os futuros integrantes da Corporação e dois anos após, com a reforma da Constituição e com a intervenção de seu Comandante, Pedro Lopes Vieira, foram ampliadas as garantias da instituição que passou a denominar-se Polícia Militar.

Uma curiosidade a respeito é que na Constituição Estadual de 1928,

conferiam-se poderes ao então Presidente do Estado para dissolver a Força

31

Pública, dando conta deste fato a Assembléia Legislativa, demonstrando que

nesse período a Polícia ainda não era considerada função essencial ao Estado

Catarinense.

Em 1930, a Polícia Militar atuou buscando impedir o avanço das tropas

revolucionárias de Vargas vindas do Rio Grande do Sul, tendo inclusive retirado

todas as tábuas do assoalho da Ponte Hercílio Luz, para impedir sua entrada na

Ilha. Em função disto, o Interventor nomeado impõe medidas repressivas, como a

redução do efetivo, reforma de oficiais e rebaixamento de praças.

Na Constituição Estadual de 1935, o governador recebia poderes para

dispor da Força Pública para atender as necessidades da administração e

manutenção da ordem, o que ampliava bastante as possibilidades de Emprego da

corporação pelo Governo. Era a primeira vez que a constituição tinha um titulo

dedicado exclusivamente à Segurança Pública, e definia claramente o que era a

Força Pública, como instituição militar permanente, obediente ao governador do

Estado, destinada à manutenção da ordem e segurança publicas. Neste contexto,

não atuaria na Defesa Nacional.

Na Constituição Estadual de 1947 foram citadas pela primeira vez, a nível

constitucional, a hierarquia e disciplina como valores basilares da Corporação.

Na Constituição Estadual de 1967, a Policia Militar volta a ser considerada

força auxiliar e reserva do Exercito, organizada de forma permanente e regular

com base na hierarquia e na disciplina, tendo por missão a manutenção da ordem

pública e da segurança interna do Estado.

Segundo Rosa (2004):

Após o período revolucionário, iniciado em 1964, a Polícia Militar estruturou-se internamente e sua organização voltou-se fundamentalmente para a Segurança Pública.

Durante as décadas de 70 até meados da década de 80, a missão das

polícias militares, incluindo a Policia Catarinense, pouco mudou, tendo atuado

também na repressão política durante o período de ditadura. Agiu assim muito

mais no campo da Segurança Nacional do que no cumprimento da Missão de

32

assegurar a Manutenção da Ordem Pública e Segurança Interna do Estado

previstas na Constituição.

A partir de 1985, outras atividades especializadas foram criadas, como a

Policia de Proteção Ambiental, o Radio Patrulhamento Aéreo e o Serviço de

Atendimento Pré Hospitalar, procurando atender a demanda da nova missão

estabelecida no Artigo 144 §§5 e 6 da Constituição da Republica Federativa do

Brasil de 1988:

Art. 144. A Segurança Publica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (...).

§5º - Ás Polícias Militares cabem a Polícia Ostensiva e a preservação da Ordem Pública; aos Corpos de Bombeiros Militares, além das atribuições definidas em Lei, incube a execução de atividades de Defesa Civil.

§ 6º - As Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, forças auxiliares e reservas do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias Civis aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (BRASIL: CRFB, 1988)

Segundo Rosa (2004), as ações de preservação da ordem pública de

competência da Polícia Militar não se restringem apenas ao policiamento

ostensivo ordinário, ou seja, aquele realizado no cotidiano pelos policiais, mas

também pela Defesa Externa e Interna do País em casos de guerra ou grave

perturbação da ordem, na condição de Força Auxiliar e Reserva do Exercito; Atua

ainda em ações de Defesa Civil, Defesa Ambiental e Defesa Pública e Policia de

Transito. Em resumo, pode-se dizer que cabe à Polícia Militar garantir a

integridade das pessoas e de seu patrimônio, com base nos fundamentos legais.

A hierarquia da polícia Militar, inspirada nos moldes do Exército Brasileiro,

obedece, em sua organização, ao decreto lei 667/69, no qual estão estabelecidas

sua competência, estrutura e organização. É também neste regulamento que se

estabelece o ingresso para o quadro de oficiais através de cursos de formação da

própria policia ou de outro Estado, bem como o controle e fiscalização da

instrução militar através do Ministério do Exército.

33

Partindo das Constituições Federal de 1988 e Estadual de 1989, podemos

definir que a Polícia Militar é hoje um órgão permanente, público, força auxiliar e

reserva do Exercito e organizado com base na hierarquia e disciplina

característicos das instituições militares. Em termos administrativos, sua estrutura

pode ser definida como burocrática e eminentemente conservadora. Tem por

missão a Segurança Pública, como preconizado no seu atual Planejamento

Estratégico (PMSC, 2005, p.18): “Proporcionar segurança ao cidadão,

preservando a ordem pública através de ações de polícia ostensiva, de forma

integrada com a sociedade, visando o exercício pleno da cidadania” e determinado

em lei: (BRASIL, CRFB, 1988).

Art. 144. A Segurança Publica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio (...).

§5º - Ás Polícias Militares cabem a Polícia Ostensiva e a preservação da Ordem Pública; aos Corpos de Bombeiros Militares, além das atribuições definidas em Lei, incube a execução de atividades de Defesa Civil.

§ 6º - As Policias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, forças auxiliares e reservas do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias Civis aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

É subordinada ao governador do Estado, tendo suas competências

definidas em Lei.

2.3 A gestão de Recursos Humanos na PMSC

Na Policia Militar de Santa Catarina, a Gestão de Recursos Humanos fica a

cargo da Diretoria de Pessoal, que, partindo de diretrizes gerais do Comando, bem

como do Planejamento Estratégico da Corporação, determinam os rumos da

seleção, recrutamento e administração de pessoal na Polícia Militar de Santa

Catarina.

34

A Diretoria de Pessoal é responsável por gerir as promoções,

transferências, férias, contagem de tempo de serviço, determinação do número de

vagas a ser preenchidas através de concurso, etc.

As atividades relativas à Gestão de Recursos Humanos na Policia Militar de

Santa Catarina são desenvolvidas através da Diretoria de Pessoal, reconhecida

como PM1, fazendo parte do Estado Maior da Corporação.

No artigo 18 da LOB encontramos a definição da Diretoria de Pessoal:

(Polícia Militar de Santa Catarina, 1983 (1)).

Art. 18 - A Diretoria de Pessoal é o órgão de direção setorial do sistema de pessoal incumbido do planejamento, execução, controle e fiscalização das atividades relacionadas com a classificação e movimentação de pessoal, inativos, cadastro e avaliação, direitos, deveres, incentivos, pessoal civil e recrutamento, bem como de assessoramento as Comissões de Promoções.

O recrutamento e seleção de oficiais se dá nos níveis interno e externo,

sendo possível tanto a um civil quanto a um praça da corporação concorrer as

vagas determinadas em edital, em igualdade de condições. Aqueles que já fazem

parte da corporação têm a vantagem de poderem concorrer à vaga em qualquer

idade, enquanto que os civis têm a idade limitada por edital.

De acordo com Medeiros (1999), foi a partir de 1959 que a Diretoria de

Instrução, encarregada tanto da formação quanto pelo gabinete psicotécnico e

pelos meios auxiliares de Instrução foi transformada em Centro de Recrutamento,

Seleção e Treinamento através da lei 2087 de 26 de agosto daquele ano.

Já em 1960 aquele órgão promoveu um Estágio Básico de informações

sobre o Exame Psicotécnico, sob orientação de um Oficial da Brigada Militar do

Rio Grande do Sul, do qual participaram oficiais subalternos, intermediários e

superiores da PMSC. Pode-se aferir daí que a preocupação com a seleção dos

candidatos a ingresso na Corporação não é uma preocupação recente.

Em 1962 extinguiu-se o CRST, criando-se junto à 4ª Seção do Estado

Maior uma Seção de Identificação através da Lei Estadual 2974 de 19/12/1962.

Criou-se também no mesmo ano o Regimento do Gabinete Psicotécnico e da

35

Seção de Identificação. Neste período, os oficiais eram formados nesta área fora

do Estado, sendo que o primeiro oficial formado como orientador profissional

formou-se na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Em 1967, o segundo

oficial seria formado no Curso de Especialização Psicotécnica Militar no Centro de

Estudos de Pessoal do Exército. A partir desta data, periodicamente oficiais foram

enviados para formação neste Centro de Estudos.

Em 1964, é criado o Departamento de Inclusão, Seleção Psicotécnica e

Identificação (DISPI), subordinado diretamente a Chefia do Estado Maior. Reuniu

a Seção de Identificação, a Seção de Inclusão e o Gabinete de Psicotécnico.

Em 1979, o DISPI deixou de ser subordinado a Chefia do Estado Maior

para subordinar-se a Diretoria de Pessoal, passando a chamar-se DP-5 (Centro de

Recrutamento), sendo constituída pela Seção de Psicotécnico, Seção de

Identificação e Seção de Expediente, através de regulamentações impostas pela

LOB - Lei de Organização Básica de 28 de fevereiro de 1979 e sua

regulamentação, no Decreto 7743 de 31 de maio de 1979.

Logo em seguida, no ano de 1983, recebe a denominação de Centro de

Psicologia, funcionando como apoio a Diretoria de Pessoal, e tendo por missão a

avaliação de personalidade, aptidão, interesse e nível mental dos candidatos ao

ingresso na PMSC e dos elementos já pertencentes à corporação, através do

acompanhamento psicológico institucional. Tal definição está esculpida no artigo

26 da Lei de Organização Básica, (Polícia Militar de Santa Catarina, 1983).

Art. 26 - O Centro de Psicologia e o órgão de apoio da Diretoria de Pessoal incumbido da avaliação de personalidade, aptidão, interesse e nível mental dos candidatos ao ingresso na Polícia Militar e dos elementos já pertencentes à Corporação, bem como do acompanhamento e atendimento psicológico aos integrantes da Polícia Militar.

Passa a ter então a seguinte estrutura básica: Chefia subchefia, assessoria

técnica, seção de avaliação de nível mental, seção de acompanhamento e

pesquisa, seção de expediente e estatística e seção de arquivo, através do

decreto 19237 de 14 de março daquele ano.

36

Em 1992 houve uma nova reorientação do Centro de Psicologia, sendo

este voltado para a pesquisa de Pessoal através de um núcleo de estágios para

estudantes da área. Passa a denominar-se então Centro de Seleção, Ingresso e

Estudos de Pessoal (CESIEP), sendo esta mudança oficializada a partir do

decreto 4374 de 24 de março de 1994.

Ainda segundo Medeiros (1999):

Atualmente, o CESIEP tem como principal objetivo, administrar o processo de seleção de recursos humanos para a Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, através do recrutamento (interno/externo), da seleção propriamente dita, da identificação e da admissão do pessoal efetivo da corporação, mediante o cadastramento dos candidatos classificados no SIRH – Sistema Integrado de Recursos Humanos.

A legislação especifica da Policia Militar enumera uma série de

características psicológicas e morais individuais que o militar deve possuir: honra

amor à verdade, respeitar a disciplina e a hierarquia, entre outras. A principio,

para elaboração de um perfil profissiográfico adequado ao desempenho adequado

das funções de oficial, essas características deveriam estar presentes, bem como

ser objeto de avaliação durante a formação. Além disso, existem conhecimentos

técnicos indispensáveis à formação do oficial, como saber atirar, entender de

técnicas policiais, etc.

37

2.4. Como é feita a Seleção para o quadro de oficia is na Policia

Militar de Santa Catarina

De acordo com Medeiros (1999, p. 31):

O processo de seleção de recursos humanos na Polícia Militar do Estado de Santa Catarina (PMSC) é desenvolvido pelo Centro de Seleção, Ingresso e Estudos de Pessoal (CESIEP), órgão de apoio da Diretoria de Pessoal (DP), criado pela Lei nº. 6.217 de 10 de fevereiro de 1983 (LOB), cuja responsabilidade é execução da política de provisão do efetivo, estabelecida pelo Comando Geral, com base nas necessidades de recursos humanos na Corporação. A provisão de recursos humanos na PMSC, envolvendo o aumento e o recompletamento do efetivo, ocorre pela autorização do Chefe do Poder Executivo, mediante proposta do Comandante Geral.

De acordo com o disposto no artigo 9º do Decreto Lei 667 de 02 de julho de

1969, o ingresso de oficiais nas Polícias Militares se dará através de cursos de

Formação de Oficiais da própria Polícia Militar ou de outro Estado. Já a

Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37 II estabelece que o acesso a

cargo ou emprego público depende de prévia aprovação em concurso público de

prova ou prova e títulos, de acordo com a complexidade do cargo ou emprego,

com exceção dos cargos nomeados para livre nomeação e exoneração. No caso

dos policiais militares, segundo a doutrina administrativa, depois de adquirida a

estabilidade, esses só podem ser excluídos da corporação depois do devido

processo legal.

Na Polícia Militar de Santa Catarina, para o preenchimento das vagas do

Curso de Formação de Oficiais, normalmente são usados um conjunto de

métodos, que ao final pretendem classificar aqueles mais aptos a cursar a

formação para serem os futuros oficiais da corporação. Os procedimentos de

seleção são coordenados por uma equipe de profissionais lotados no Centro de

Psicologia da Corporação. Segundo Dias (2002):

38

A Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, visando alcançar a heterogeneidade de candidatos para seleção e matrícula no Curso de Formação de Oficiais, procura levar em conta as diversidades regionais apresentadas no Estado, no que tange à colonização, cultura, economia e ao desenvolvimento social. Dessa forma, recruta seus candidatos nas várias cidades, tendo em vista que o Oficial PM deverá servir em qualquer dessas regiões, desde que haja nelas uma Organização Policial Militar (Quartel) e vaga em cargo correspondente ao seu posto, sempre objetivando a segurança pública da comunidade catarinense.

Diferentemente do que acontece com os praças da corporação, aonde a

inscrição normalmente é condicionada a região do Estado aonde pretende servir,

a inscrição para o CFO não determina o local aonde o futuro oficial vai trabalhar. A

escolha da cidade aonde os candidatos aprovados vão trabalhar após o Curso de

Formação de Oficiais se dá a partir de lista divulgada pela Diretoria de Pessoal,

sendo a preferência de escolha definida de acordo com a colocação obtida nos 4

anos de curso. Nos últimos anos, os aspirantes tem sido enviados

preferencialmente a cidades do interior do Estado, onde a demanda por comando

de policiamento tem sido maior, o que não impede que dentro de poucos anos

cada oficial esteja lotado na cidade mais de acordo com suas inclinações pessoais

e familiares.

Segundo Medeiros (1999), a abertura de vagas visa principalmente o

recompletamento, ou seja, o preenchimento de vagas decorrentes da saída de

pessoal por exclusões (que podem ser a pedido do oficial ou por motivos

disciplinares), pela passagem para reserva remunerada ou não remunerada ou

por reforma. Acontece ainda a abertura de vagas por aumento de efetivo, como

recentemente determinado pelo atual planejamento estratégico e nova LOB

proposta para a Corporação, que pretende dobrar o efetivo atualmente existente

nos próximos 15 anos.

A partir da definição do numero de vagas existentes, o Comandante Geral,

autorizado pelo Governador do Estado, autoriza o CESIEP a elaborar edital e

estabelecer as condições mediantes as quais serão realizados os processos de

seleção e inclusão de pessoal. Pronto o Edital, este é homologado pelo

Comandante Geral e publicado em Diário Oficial do Estado.

39

Nos últimos anos, com a participação da Universidade do Vale do Itajaí na

formação dos Cadetes como Bacharéis em Segurança Pública e como

participante no processo de seleção intelectual através do seu vestibular, a

divulgação do edital no Estado acaba se dando através promoção daquela

instituição. A divulgação se dá ainda com o apoio das organizações militares do

Estado e da Imprensa falada, Escrita e televisionada.

O recrutamento e seleção acontecem nos setores interno (sargentos, cabos

e soldados da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina) e externo (civis e

militares das Forças Armadas e Policiais Militares de outros Estados) da

corporação, sendo possível ao praça ascender à condição de cadete se for apto

no mesmo concurso publico a que são submetidos os civis. A única diferença diz

respeito ao requisito idade, que é estabelecida em edital para o público externo e

não tem limites para o público interno a partir do ano de 2005.

Neste processo seletivo, o candidato submete-se a prova de vestibular na

área jurídica da Universidade do Vale do Itajaí, teste físico, testes psicológicos,

entrevista pessoal e investigação social, além de exames médicos que visam

garantir a capacidade do candidato a exercer todas as atividades relativas à

Função de oficial da Polícia Militar. Deve ainda cumprir os requisitos estabelecidos

em edital, quais sejam: idade, altura, idoneidade comprovada. Observe-se que

neste processo seletivo, busca-se abranger a maior gama possível de testes que

possam atestar as competências não apenas intelectivas, mas também morais,

físicas, médicas e pessoais do candidato, buscando um modelo muito específico

de pessoa para o exercício da função de oficial, embora estas características não

estejam nomeadas no edital, e nem mesmo em documentos internos.

Para a Policia Militar de Santa Catarina, não basta à aprovação no

concurso Público para o exercício profissional: o aprovado deverá ainda submeter-

se a um Curso de Formação de Oficiais, realizado pela própria Corporação,

organizado em dois cursos distintos, mas indissociáveis: Curso de Formação de

Oficiais (englobando as matérias técnicas, considerado curso de formação

superior pela portaria... do MEC) e Bacharelado em Segurança Pública, realizado

40

em parceria com a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), com duração de 4

anos (englobando as matérias de conhecimento geral, administrativas e jurídicas

da gestão em segurança pública). Da parte da Policia Militar, é competência da

Diretoria de Instrução de Ensino (DIE), regular, planejar, coordenar, supervisionar

e avaliar os cursos de formação, através de Normas para o Planejamento e

Conduta de Ensino (NPCE). Da parte da UNIVALI, as decisões são de

responsabilidade da Coordenação do Curso, em conjunto com a pró reitoria de

ensino. O currículo passa por modificações constantes, procurando adaptar-se as

demandas operacionais, fazendo com que praticamente cada turma de oficiais

formados tenha carga horária e currículos diferenciados, de acordo com as

demandas daquele momento.

Após aprovado em concurso, o candidato a oficial torna-se cadete, ou seja:

Cadete matriculado é aquele apto a freqüentar regularmente o Curso de Formação de Oficiais (CFO) e o Curso de Segurança Pública, nível Bacharelado (CSPB) (ROSA, 2004, p. )

O cadete é considerado Praça Especial, ou seja, ainda não possui a

estabilidade conferida pelo Estatuto dos Policiais Militares aos Oficiais. Na

hierarquia da Corporação, encontra-se como cargo intermediário entre o Aspirante

a Oficial ( situação em que se encontrará logo após o término do Curso de

Formação) e o Sub Tenente ( maior graduação alcançada pelas Praças). É o

Oficial Estudante, aquele que, durante os quatro anos de Curso de Formação de

Oficiais, além de adquirir os conhecimentos técnicos necessários ao exercício da

atividade de gerenciamento da corporação, será constantemente avaliado em sua

adaptação ao currículo formal e informal.

Cabe aqui talvez fazer a diferenciação entre currículo formal e informal:

Enquanto que o primeiro diz respeito aos conteúdos curriculares, tal qual estão

elencados em programas de ensino e ementas, o segundo diz respeito aos

conhecimentos que são aprendidos transdisciplinarmente, nas práticas educativas

ou na convivência do meio acadêmico, sem que sejam necessariamente objetivo

de pautas educativas. Assim, a rotina rígida, típica dos quartéis, serve

subjetivamente a formação de pessoas organizadas, pontuais e com capacidade

41

de planejamento prévio de suas ações, embora este fato não seja discutido no

currículo das escolas de formação.

Segundo a Matriz Curricular Nacional para os Cursos de Formação em

Segurança Pública, proposta pela SENASP, (2005):

O termo ‘currículo’ não significa simplesmente o conjunto das disciplinas de um curso, ou o conjunto de conteúdos programáticos. Conforme orientação do documento ministerial vigente sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais, currículo significa a expressão de princípios e metas do projeto educativo que deve ser flexível, promover debates e reelaboração em sala de aula, a partir da interação entre os sujeitos do processo educativo”

Outra questão a ser observada é que as qualidades buscadas na seleção,

são muitas vezes diferentes daquelas esperadas ao fim da formação: basta

perceber que os testes físicos para seleção são de nível diferente daqueles

aplicados durante o curso, e dos parâmetros aplicados para a promoção de

oficiais, por exemplo. Pode-se concluir daí que determinadas características, que

devem estar presentes de forma incipiente na seleção, serão desenvolvidas

durante o curso, e outras não serão trabalhadas, ao menos no currículo formal.

Outro detalhe a ser observado é que, embora a finalidade inicial seja a

formação para o exercício profissional, existe uma preocupação institucional de

que os cursos oferecidos ao publico interno tenham equiparação aos cursos

correspondentes na área civil. A equiparação do Curso de Formação de Oficiais

ao nível de graduação foi resultado de um longo processo, que culminou com a

aprovação do parecer 215 do Conselho Federal de Educação em 4 de maio de

1983, que reconhece como cursos superiores os Cursos de Formação de Oficial.

das Policias Militares desde 1975.

3 Perfil profissiográfico

Buscando entender melhor quais as competências, habilidades e atitudes

envolvidas no bom desempenho das funções de oficial da Policia Militar de Santa

Catarina, pesquisamos os processos de Gestão de Recursos Humanos, e mais

especificamente aqueles ligados ao recrutamento e seleção de oficiais, e chegamos

ao Perfil Profissiográfico.

Determinar quais são essas competências, habilidades e atitudes, além de

fornecer subsídios à atuação profissional dos egressos da Academia de Polícia

Militar da Trindade, possibilita que a seleção de cadetes, ou mesmo a formação

destes esteja voltada aos objetivos institucionais, garantindo maior qualidade no

desempenho da missão a qual a Polícia Militar está constitucionalmente incumbida,

bem como sua continuidade como instituição.

O Perfil Profissiográfico foi escolhido como uma das metodologias possíveis

na determinação técnica dessas competências. Por que representa mais do que a

simples descrição de cargos e funções dentro da organização; é também o

levantamento de competências, habilidades e atitudes, mensuradas objetivamente,

com o fim de determinar qual o melhor indivíduo para exercer determinada atividade,

buscando a otimização do serviço prestado. Atende assim aos requisitos de servir de

instrumento auxiliar tanto á seleção (já que determina claramente quais as atividades

serão desenvolvidas pelo candidato que for aprovado e quais competências mínimas

serão requisitos para seleção) como subsidio a formação, na medida em que

determina quais o aspectos mínimos a serem abordados nas disciplinas dos cursos

elencados em busca daquele oficial que se aproxime ao máximo dos ideais

determinados pelas necessidades da Corporação, em suas mais diversas

manifestações. Pode ser ainda utilizado na determinação de critérios avaliativos, já

que, determinando claramente quais a atividades devem ser desenvolvidas e quais

as características esperadas do oficial que as desempenha, é fácil determinar se

está atendendo ou não os objetivos propostos.

43

Além disso, é um dos instrumentos utilizados para seleção e formação de

diversas outras polícias do Brasil, e uma das metas a serem alcançadas no atual

planejamento Estratégico da Policia Militar de Santa Catarina.

A soma dos dados obtidos na descrição e analise de cargos pode originar um

Perfil Profissiográfico. Mas o perfil profissiográfico por competências que propomos

vai bem além disso, buscando alcançar também características subjetivas

necessárias ao bom desempenho do oficialato. E é isso que se pretende descrever

neste capitulo.

3.1 O que é o Perfil Profissiográfico? Para que ser ve?

Com o desenvolvimento da Gestão de Pessoas, aparecem subáreas

específicas de conhecimento, responsáveis por estudar aspectos determinados da

Relação das pessoas com as organizações.

Dentro dos subsistemas existentes, escolhemos enfocar neste trabalho mais

especificamente aquele responsável pelo recrutamento e seleção de pessoal para a

organização, por entender que é no recrutamento e seleção de pessoas que a

empresa determina quais são os rumos futuros da organização como um todo.

Assim, faz-se necessário destacar alguns conceitos, iniciando pelo conceito

de Profissiografia, o ramo de específico que se preocupa com as aptidões

relacionadas ao trabalho humano. De acordo com VIEIRA (1997):

Uma das divisões da ergologia é a profissiografia. A profissiologia estuda, de um lado, a personalidade profissional do homem em sua relação com o trabalho, isto é, investiga as aptidões de qualquer espécie – físicas, psicológicas, morais – que intervém em toda atividade profissional; de outro lado, as formas e classes de profissões.

É na profissiologia (ou profissiografia) que vamos encontrar o instrumento que

pretendemos seja adotado como referencia para a seleção de oficiais, o perfil

profissiográfico.

O que é um Perfil Profissiográfico? Para Chiavenatto (1999), as informações

recebidas a respeito de um cargo e seus ocupantes é que dão origem a ficha ou

perfil profissiográfico, onde estariam elencados os atributos psicológicos e físicos

44

necessários ao desempenho satisfatório do ocupante do cargo em comento. Neste

sentido, a análise profissiográfica seria sinônimo da análise do trabalho.

O perfil profissiográfico, ou ficha profissiográfica, um dos elementos

subsidiários para a seleção e formação profissional, pode ser definido como:

A ficha profissiográfica é um resumo da análise pro fissiográfica. Em sentido amplo, análise profissiográfica é um sinôni mo de análise do trabalho. Em sentido mais restrito, é a pesquisa do s elementos componentes de um trabalho e de sua interação, com o objetivo de determinar as condições necessárias a um desempenho adequado (CHIAVENATTO, 1999, 1).

Não basta a simples descrição das características objetivas de um

determinado cargo para determinar qual o individuo mais adequado para preenchê-

lo: há que se levar em conta também aspectos subjetivos, como atitudes e

habilidades não técnicas, que podem influenciar definitivamente o individuo na

execução de suas atividades.

Para Carvalho e Nascimento (2004):

A ficha profissiográfica (resumo da análise profissiográfica), também denominada de ‘ficha de especificação’, é o produto das informações que são transmitidas pela análise de cargo, a requisição de empregados e outros instrumentos afins, caracterizando as aptidões, habilidades e os aspectos da personalidade necessários ao pleno exercício de um determinado cargo.

No anexo 1 veremos um exemplo de ficha profissiográfica demonstrado por

Dias (2002).

Se num primeiro momento da história da administração a gestão de recursos

humanos analisava apenas a função a ser exercida, e o trabalhador deveria

encaixar-se ao máximo nos atributos do cargo para garantir a maior eficiência

possível, a partir da metade do século passado estudos psicológicos vieram a provar

que, mais do que os requisitos técnicos, habilidades e tendências psicológicas e de

personalidade influenciariam muito na produtividade de determinado cargo ou

função.

O perfil profissiográfico, assim, surge como instrumento estratégico

fundamental na seleção de pessoal de uma organização, na medida em que

determina quais as características técnicas e subjetivas que deve possuir o

candidato para que atenda os objetivos do cargo a que se propõe e aos objetivos

corporativos.

45

Segundo Almeida (2004), existem diversas abordagens para a construção de

um perfil profissiográfico, e estas abordagens refletem estratégias alternativas para

levantar dados e informações complexas, formando uma imagem bastante

aproximada da organização e do contexto de trabalho a que se destina. Assim, o

perfil pode ter como foco principal o trabalho ou a cultura corporativa, como

exemplos.

Um perfil voltado a determinado cargo parte da premissa da pessoa certa no

lugar certo, e procura avaliar e selecionar o candidato de acordo com as atividades

inerentes ao cargo pleiteado. As informações contidas no perfil estarão diretamente

relacionadas com as características do cargo nos seus mais diversos aspectos,

como responsabilidades, principais atividades, ambiente de trabalho, etc. Esse perfil

é típico dos conceitos da Teoria Clássica da Administração, onde o fundamental

para a produtividade seria a adequação máxima do funcionário ao cargo pretendido.

A seleção deveria então buscar determinar qual o candidato mais adequado a

preencher determinada vaga.

Já um perfil com foco na cultura corporativa, procura identificar competências

profissionais e mesmo pessoais ligadas às características culturais da organização,

usando para isso de várias fontes. O planejamento estratégico é uma dessas fontes,

já que nele geralmente estão contidos dados relativos à missão, visão, valores da

organização, estratégias e políticas de Recursos Humanos. Mais do que a

adequação técnica, o empregado precisa identificar-se com a cultura corporativa,

assumir os valores da empresa para que seu trabalho seja produtivo.

Segundo Carvalho (1981, p.118) o estudo das diferentes cargos com o

objetivo de determinar quais aptidões seriam necessárias para seu bom

desempenho iniciou-se no fim do século XIX. A psicologia de então favorecia o

estudo de atos isolados, imaginando que, se cada tarefa fosse decomposta em atos

elementares, e estes estudados até a exaustão, seria possível determinar os tempos

e movimentos mais adequados para alcançar a eficiência máxima no desempenho

daquela função.

Ainda segundo a mesma autora, até 1930 a observação era o único recurso

utilizado no estudo dos tempos e movimentos, que atingiam não apenas a

psicologia, mas também os estudos de administração. Com o conjunto de dados

46

obtidos pela observação, inquéritos com os funcionários e experimentação,

elaboravam-se as fichas profissiográficas, que tinham a pretensão de reunir s

aspectos essenciais e aptidões imprescindíveis ao bom êxito naquele cargo. A partir

daí a ficha profissiográfica deixa de ser a mera descrição de tarefas para passar a

apresentar também características pessoais que o candidato deve possuir, sejam

psíquicas, morais ou mesmo psicológicas que poderiam influenciar no bom

desempenho profissional.

Independentemente da abordagem utilizada, existem alguns aspectos que

normalmente são comuns na elaboração de um perfil profissiográfico. São eles: perfil

do cargo, perfil de competências, perfil de performance. O perfil do Cargo seria a

descrição detalhada das atividades desenvolvidas em determinado cargo ou função,

através da análise detalhada do trabalho. O perfil de competências determinaria

quais conhecimentos e habilidades seriam necessários à execução das tarefas

elencadas no Perfil do Cargo. E por fim, o perfil de performance refere-se à

capacidade de utilizar os conhecimentos, habilidades e competências para o

exercício ótimo das funções pretendidas.

O mesmo Chiavenatto (2002) define que as informações recebidas a respeito

do cargo e de seus ocupantes podem ser reunidas numa ficha profissiográfica ou

perfil profissiográfico, que deveria conter os atributos psicológicos e físicos

necessários ao desempenho satisfatório do cargo considerado. A partir desta ficha, o

órgão poderia estabelecer melhor os critérios de seleção e as técnicas mais

adequadas também.

Na abordagem que pretendemos adotar, o perfil profissiográfico não é apenas

a descrição das especificações técnicas do cargo, mas segundo a teoria das

competências, também abordará as competências, habilidades e atitudes, que

ultrapassam o nível técnico e chegam ao nível comportamental.

Assim, o perfil profissiográfico, que procura resumir todas as informações

relativas ao desempenho de determinada função dentro da empresa, tanto serve

para determinar quais as competências, habilidades e atitudes requeridas para o

exercício profissional durante a seleção como serve para nortear os princípios da

formação profissional numa instituição como a PM, onde a formação para exercício

profissional é basicamente interna.

47

Se as características técnicas do cargo podem ser facilmente detectadas

através da observação e da pesquisa com os ocupantes do cargo e da sua chefia

imediata, os critérios subjetivos não podem ser facilmente mensurados. A partir daí,

pode-se questionar: como determinar quais as características subjetivas necessárias

ao exercício de determinado cargo, de forma técnica? As respostas vêm não apenas

da profissiologia, mas também da psicologia organizacional.

De acordo com Spector (2006, p.147) é a psicologia organizacional, através

de testes específicos, com critérios estatísticos e científicos comprovados que pode

indicar quais são esses quesitos subjetivos da profissiologia.

Os processos seletivos desenvolvidos pelos psicólogos organizacionais

funcionam melhor quando o universo de candidatos é maior. Como o objetivo da

seleção é contratar pessoas com a maior probabilidade possível de serem bem

sucedidas no desempenho de um cargo ou função, a abordagem puramente

subjetiva, baseada em entrevistas, nem sempre é a mais adequada. Sugere-se,

portanto a utilização de critérios científicos e estatísticos, de validade comprovada,

na seleção de pessoas para as organizações.

O primeiro passo seria definir qual o critério seria utilizado: é melhor contratar

um funcionário rápido ou um funcionário detalhista, com uma qualidade de trabalho

superior? Qual o perfil desejado pela empresa?

O segundo passo seria definir o fator de previsão, ou seja, o quanto

determinado critério pode influenciar no desempenho de determinada atividade. Ter

um amplo conhecimento do assunto é um bom fator de previsão para o desempenho

da tarefa de ensinar, embora não possa ser o único, já que o saber por si só não

garante que o selecionado saberá transmitir o conteúdo. Se trouxermos o exemplo

para a Polícia Militar, podemos imaginar que alguém que conhece bem a legislação

tem um indicador favorável ao exercício profissional, mas só isso não garante que

este individuo será um bom profissional: há que se levar em conta a maneira como o

individuo consegue mobilizar este conhecimento na sua atuação profissional.

Quanto mais exatos e variados forem os fatores de previsão utilizados na

seleção, maiores serão as chances do candidato escolhido apresentar um bom

desempenho no cargo determinado. O que ainda não garante que o candidato vai

corresponder totalmente às expectativas, já que qualquer teste mede

48

aproximadamente a potencialidade do candidato, e não exatamente aquilo que ele

pode realmente fazer ou deixar de fazer.

Para definir se determinado critério e determinado fator de previsão estão

diretamente relacionados, Spector (2006) afirma ser necessária à realização de um

estudo de validação, que seria a quantificação tanto do critério quanto do fator de

previsão num determinado grupo de funcionários, realizando-se um teste estatístico

para verificar se a relação entre eles é significativa ou não. Se o resultado for

positivo, pode-se entender que o fator de previsão é válido para aquele critério, e

pode ser usado para prever o possível desempenho do candidato que está sendo

submetido à seleção.

No estudo de validação o cargo e seus pré-requisitos são analisados de forma

criteriosa, usando para isso a descrição de cargos e a análise do trabalho.

Determinados os critérios para o cargo e selecionados os fatores de previsão, é feito

o estudo estatístico para determinar a validade destes e só a partir daí esses

critérios podem ser usados para o sistema de seleção.

Resumidamente, pode-se dizer que a análise do trabalho fornece informações

sobre tarefas e características necessárias ao desempenho de determinado cargo. A

partir daí, escolhe-se quais os critérios serão utilizados e quais os fatores de

previsão envolvidos. Faz-se então a validação dos fatores de previsão, através de

estudos estatísticos, e só então os critérios e fatores de validação escolhidos podem

ser usados para a seleção com certeza de que haverá uma determinada

previsibilidade entre o perfil traçado e o desempenho esperado do candidato.

Os fatores de previsão são utilizados na seleção de diversas maneiras. Uma

delas é a seleção pela transposição de obstáculos múltiplos: as provas procuram

estabelecer obstáculos que devem ser atravessados para que o candidato passe ao

próximo estágio. Assim, se considerarmos que para ser oficial o candidato deve ter

razoável capacidade de comunicação, uma das maneiras de avaliar os candidatos

seria a realização de exercícios de habilidades de comunicação, segundo os quais

os candidatos seriam avaliados e receberiam pontuação, tendo que obter uma

pontuação mínima para transpor o obstáculo e seguir no processo seletivo.

Outro método utilizado é a abordagem de regressão, que utiliza os pontos de

cada fator de previsão numa equação para estimar numericamente o critério. É

49

utilizado preferencialmente quando existem dois ou mais fatores de previsão,

associado ao uso de fatores de correlação e regressão múltiplas. Esse método

apresenta a desvantagem que a pontuação alta em um critério compensaria a

pontuação baixa em outro, enquanto que na abordagem por obstáculos, ao final

teríamos o candidato que obteve os melhores resultados em cada fator

isoladamente. Para evitar esse tipo de problema, pode-se aplicar os dois métodos

em fases distintas, garantindo assim que determinados fatores sejam avaliados

isoladamente e outros em conjunto.

Contudo, na Polícia Militar de Santa Catarina, a seleção através da psicologia

organizacional hoje está bastante limitada pelas restrições adotadas pelo Conselho

de Psicologia, que considera discriminatórias determinadas práticas na seleção,

seguindo as tendências de países industrializados. Neste sentido, várias vezes os

resultados dos testes psicotécnicos realizados vem sendo questionados na justiça,

alegando pouca cientificidade ou mesmo discriminação em suas avaliações.

Atualmente, procura-se fazer uma reavaliação do perfil profissiográfico existente, dos

critérios que vem sendo utilizados e principalmente dos testes a ser utilizados para

medir estes critérios.

Uma das questões que poderia aqui ser discutida é a limitação do numero de

vagas oferecidas para pessoas do sexo feminino na seleção para oficiais. Segundo

Spector (2006), pela teoria do Impacto Adverso, quando o coeficiente de seleção

para uma classe protegida é menor do que 80%, ou quatro quintos do total do grupo

com coeficiente mais alto, há uma discriminação que seria prejudicial ao próprio

processo seletivo. Isso não seria necessariamente ilegal, mas só seria aconselhável

nos casos em que houvesse um fator de previsão válido para o desempenho no

trabalho (prioritariamente no que tange ao desempenho da função).

Para amenizar este tipo de Impacto Adverso, pode ser adotada a

diferenciação de critérios em relação à classe protegida. Dentro dos métodos de

seleção utilizados pela PMSC, os testes de força física, por exemplo, diferenciam

homens e mulheres, para diminuir o impacto adverso, que causaria desvios muito

grandes no padrão de escolha feminino – provavelmente, só seriam admitidas

aquelas que tivessem um desempenho físico semelhante ao masculino, mas isso

por si só não garantiria bons resultados em outros quesitos necessários à seleção,

50

além de limitar demais o universo de candidatas à vaga para definição de outros

critérios igualmente importantes.

Critérios que causem impacto adverso só se justificam se a análise do

trabalho provar que as características testadas são necessárias ao desempenho da

função e os testes forem válidos.

No Brasil, é proibida qualquer forma de discriminação no tocante a salários,

exercício de função e critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado

civil, de acordo com o artigo 7º, inciso XXX da Constituição Federal. De forma geral,

os paises do mundo tendem a idéia de que a seleção de pessoas deve estar

baseada nas características pessoais que sejam estritamente relevantes no

desempenho do cargo. Neste sentido, é interessante que ao desenvolver um edital

de seleção, qualquer critério que fundamentadamente seja importante ao exercício

do oficialato na Polícia Militar, mas apresente impacto adverso no processo seletivo,

esteja claramente delimitado e fundamentado, evitando possíveis questionamentos

quanto a sua validade.

3.2 Aplicabilidade a Polícia Militar de Santa Catar ina

A Polícia Militar de Santa Catarina vem atravessando uma série de

mudanças, reflexos das mudanças sociais ocorridas nos últimos anos. Só para

exemplificar a amplitude dessas mudanças, tomamos como base o trabalho

desenvolvido por Martins (2001) que procura indicar, a partir dos critérios definidos

por Chiavenatto, cinco níveis de mudança ocorridas na Polícia Militar no período

compreendido entre 1995 e 2000. Essas mudanças seriam nos níveis físico,

tecnológico, comportamentais, culturais e lógicas. Ainda segundo o mesmo autor,

ocorreram cerca de 20 mudanças físicas principais (destacando especialmente a

construção do Centro de Material Bélico em Florianópolis e dos COPOMs de

Florianópolis e Joinville), 15 mudanças a nível tecnológico, (entre estas a

interligação das unidades por computador, a criação da rede interna da PM) 50

mudanças de nível lógico (aqui destacadas a implantação do PROERD e do

Programa de Qualidade Total) e 30 de nível comportamental/ cultural (destacadas o

51

convenio com universidades para a formação de oficiais, mudanças no plano de

remuneração com a implementação da hora extra).

Nos últimos cinco anos, talvez a mudança mais evidente tenha sido a

separação entre bombeiro e polícia militar, fazendo com que o efetivo diminuísse de

cerca de 15000 homens para pouco menos de 12000, sendo o efetivo atual, após os

recentes cursos de formação de soldados, sargentos e cadetes, de pouco mais de

11.000 homens, segundo dados da SENASP. Tal mudança implica não apenas a

diminuição das atividades exercidas anteriormente pela polícia, mas também

mudanças relativas à formação, a atuação especializada da PM em situações de

emergências, etc.

Conclui-se, a partir do anteriormente observado, que no curto período de

tempo analisado no trabalho do Ten.Cel. Martins, diversas foram as mudanças

ocorridas na Instituição, o que corrobora a idéia de que as mudanças estão

acontecendo em volume e velocidade cada vez maiores, e é preciso que as

organizações estejam em constante processo de reavaliação e mudança. Se

concordarmos inicialmente que as organizações dependem dos seus recursos

humanos, devemos entender que os processos de mudança devem se refletir na

mudança das exigências relativas ao potencial dos recursos humanos selecionados

e formados para gerir a corporação. (Martins, 2001)

Na PMSC, as especificidades das atividades desenvolvidas tornam

necessária a clareza de objetivos tanto na seleção quanto na formação de

profissionais, sob risco de se abalar a própria instituição policial militar, já que

profissionais não habilitados, ou incapazes de exercer profissionalmente com

excelência estariam colocando em risco não apenas a própria vida, mas o próprio

exercício da segurança pública pelo Estado. Outro motivo importante diz respeito à

credibilidade da instituição, haja vista que problemas na seleção ocorridos há pouco

tempo atrás, noticiados nos meios de comunicação, abalaram a imagem da

Corporação no meio civil, refletindo nos processos seletivos posteriores.

E como determinar quais os objetivos a serem alcançados pelo profissional,

senão pela análise das atividades desenvolvidas, e daquilo que a legislação

específica e doutrina entendem como fundamental ao exercício da segurança

pública pela instituição militar?

52

No Planejamento Estratégico elaborado no ano de 2005 por uma comissão

formada pelo comandante geral e grande parte da oficialidade, uma das diretrizes

elencadas foi à necessidade de elaboração de um novo perfil profissiográfico de

inclusão do oficial da Policia Militar de Santa Catarina, bem como de redefinir os

conteúdos curriculares e legislação de educação da instituição. (Policia Militar de

Santa Catarina, 2005).

A partir deste Planejamento Estratégico, aliado as diretrizes do SENASP para

a formação de oficiais e nas demandas da função de oficial no exercício dos mais

diversos cargos dentro da corporação, é que pretendemos traçar alguns

apontamentos para um novo perfil profissiográfico do oficial da Policia Militar de

Santa Catarina, capaz de nortear os processos de recrutamento, seleção e formação

destes profissionais para o exercício mais eficiente e eficaz possível de sua missão.

Drucker ((2003) entende que a descrição de cargos e as regras de trabalho

estão em decadência, já que o engessamento que a descrição detalhada de cada

função causaria aos empregados e a empresa seria prejudicial por impedir a

substituição de empregados chave). Em termos de Policia Militar, o oficial deveria

estar preparado para atuar em todas as funções administrativas da corporação,

desde administração de pelotões até funções de administração financeira ou

educacional das diretorias, o que na prática acaba não acontecendo, e existindo

oficiais que se tornam indispensáveis por sua especialização em determinados

setores, especialização essa conseguida por esforço próprio, e não por formação

interna. Hoje seria mais interessante um empregado mais flexível, capaz de atuar

bem em sua área, mas também ter visão de conjunto das finalidades da empresa. O

perfil profissiográfico então deveria contemplar não apenas os aspectos gerais de

formação do oficial, mas também as competências específicas e a capacidade de

ser flexível para atuar em diversas funções. Trata-se aqui de um conhecimento

subjetivo, e não apenas objetivo. E é por este motivo que este trabalho pretende

sugerir a elaboração de um perfil profissiográficos que contemple não apenas os

aspectos técnicos da descrição das funções dos cargos e funções exercidos pelos

oficiais da Polícia Militar, mas também as competências, habilidades e atitudes

esperáveis do profissional que exercerá essas atividades.

Para fins desta pesquisa, tivemos acesso ao Perfil Profissiográfico dos oficiais

foi elaborado pelo Cel. Paulo Roberto Fagundes de Freitas, em 1990, e as diretrizes

53

utilizadas hoje pelo CESIEP para a seleção de soldados e oficiais da PMSC

atualmente. Hoje, o mais recente perfil profissiográfico data de dezembro de 2005, e

foi baseado em modificações dos perfis anteriores, e está novamente sendo

reformulado, pela equipe do CESIEP com auxilio de uma equipe especializada da

Universidade de Brasília, expoente brasileiro neste tipo de trabalho.

O perfil de 1990 encontra-se bastante defasado em relação às demandas

profissionais do oficial, haja vista as mudanças institucionais ocorridas na instituição

e as mudanças ocorridas na própria sociedade a que a Policia Militar de Santa

Catarina atende. Ainda assim, por ser a fonte mais completa de dados a este

respeito que encontramos, faremos um resumo das características técnicas e

psicológicas lá encontradas. Em seguida, faremos um breve comentário das

características apontadas no perfil mais recente elaborado pelo CESIEP, abordando

as principais mudanças encontradas.

3.3 O perfil profissiográfico de 1990 e o Perfil Pr ofissiográfico

atual.

O perfil profissiográfico elaborado para o oficial da Polícia Militar, datado de

1990, segundo informações contidas no próprio documento, foi elaborado em

cumprimento de determinação da política do comando de então, estabelecida no

documento “Políticas e Diretrizes Setoriais”. Nas diretrizes, especificamente na

seção referente à Política de Pessoal, ficaria estabelecida a necessidade de

elaboração de um perfil Profissiográfico do policial militar, objetivando aumentar o

nível de produtividade da corporação, a eficiência e a eficácia dos recursos humanos

disponíveis, da mesma forma que a elaboração de um novo perfil profissiográfico

nos dias atuais está determinada nas diretrizes do Planejamento Estratégico da

Corporação.

Como meta da Política de Pessoal, o documento referido, segundo o Perfil

Profissiográfico de 1990, previa a constituição de uma equipe multidisciplinar para

elaboração do projeto do Perfil Profissiográfico do PM.

54

Também é citados como referencia os planejamentos referentes à instrução e

ensino, que em processo de permanente reavaliação estabeleciam como metas a

serem atingidas a melhoria da qualidade dos recursos humanos, o estabelecimento

de critérios avaliativos para o ensino e reformular currículos de formação e

aperfeiçoamento de oficiais e praças. Especificamente, um dos pontos relacionados

dizia respeito à capacitação dos oficiais para o desempenho de papeis

administrativos e de comando.

Em sua introdução, esclarece que com as modificações políticas,

econômicas e sociais da ultima década do século vinte que se iniciava, que

aconteciam de forma cada vez mais acelerada, acabavam por esbarrar em

comportamentos e princípios que não mudavam com a mesma rapidez. Da mesma

forma, o comodismo e a resistência ao novo, aliados a rotina, acabavam por

anestesiar o senso critico, fazendo com que a avaliação auto-critica e necessária ao

bom desempenho profissional ficasse embotada pelas dificuldades do dia a dia.

As dificuldades em torno da Segurança Pública estariam ligadas à carência

dos setores públicos de recursos humanos e materiais. Em termos materiais, seria

necessária uma melhor dotação orçamentária, de acordo com as necessidades da

corporação. Em relação aos recursos humanos, havia diversos pontos que deveriam

ser revistos, de forma a atualizar os procedimentos policiais que identificavam a

profissão junto à sociedade.

Cabe lembrar que no ano em que foi elaborado o referido documento, a

Constituição Federal de 1988 contava com pouco mais de dois anos, conquanto a

constituição estadual ainda tivesse apenas 1 ano de idade. Os conceitos de

preservação da Ordem pública, que determinava uma mudança conceitual na

missão da Polícia Militar ainda eram recentes e careciam de profundidade e

doutrinas compatíveis. Ainda assim, de forma mesmo visionária, os elaboradores do

perfil profissiográfico do ano de 1990 preocupavam-se com esta questão,

observando que “(...) a exigir novas posturas, nova mentalidade, nova visão dos

fatos, uma nova consciência profissional, capaz de proporcionar uma real eficácia

nos serviços e que se revele na identificação do trabalho Policial Militar dos anseios

comunitários.” (p. 06).

55

O mesmo documento, ainda em sua introdução, determina a necessidade de

investimento voltado aos recursos humanos da corporação, através de critérios

claros no recrutamento, seleção, formação, acompanhamento e desempenho dos

policiais militares, visando à profissionalização.

Diz o documento: “É fundamental que se identifique o que a Polícia Militar,

face às necessidades da sociedade, quer de seus componentes para o desempenho

de suas missões. Que potencial exigira dos candidatos ao ingresso em suas fileiras

em termos intelectuais, psicológico e moral? Que será dado em seus cursos, capaz

de bem qualificar seus componentes?” (p.07).

A criação do perfil profissiográfico, naquele momento, tinha por escopo

identificar o que precisaria realmente ser ensinado aos cadetes, criando condições

para que estes pudessem não apenas assimilar conhecimentos técnicos, mas

também assumir valores e princípios perfeitamente identificados com as missões,

funções, atividades que viriam a ser assumidas pelo futuro oficial.

Destaca o fato de a Polícia Militar ter uma missão ampla, determinada

constitucionalmente e extremamente próxima da sociedade em sua atividade, sendo

que as mudanças na primeira essencialmente se refletiam na demanda por

mudanças na segunda. Os componentes da Polícia Militar então deveriam estar

integrados a sociedade, entendendo perfeitamente a missão social da polícia para

que pudessem atentar aos anseios e necessidades populares, agindo com

autoridade e sem autoritarismo.

Culmina a introdução destacando que “O perfil Profissiográfico é o primeiro

passo na caminhada que pretende buscar uma formação que possa amalgamar com

equilíbrio, no espírito do policial militar, valores técnicos profissionais, valores

morais, valores éticos, e fundamentalmente valores humanos e sociais, que

permitam ao mesmo tempo desempenhar suas funções com segurança, com

respeitabilidade, integrado e relacionado com a sociedade; enfim, com

COMPETENCIA PROFISSIONAL.” (Policia Militar de Santa Catarina, 1990, p.08,

grifado no original). Pode-se aferir daí que, embora não estivesse conceitualmente

delimitado como no trabalho que este estudo propõe, o perfil de 1990 já não

representava a simples descrição de cargo, mas também a descrição de

características subjetivas, marcadamente os valores éticos, morais, humanos e

56

sociais que deveriam estar presentes no oficial para que pudesse bem desempenhar

suas funções. Ainda assim, tinha um caráter predominantemente tecnicista, baseado

na idéia que a gestão de recursos humanos deveria controlar ao máximo as

variáveis que pudessem interferir na produção em geral, mas com uma preocupação

humanística reforçada pelos testes comportamentais introduzidos a partir da década

de 50 na corporação.

O perfil profissiográfico continha fundamentos básicos gerais (que serviriam

para todos os policiais militares, englobando valores como o espírito de corpo, o

amor à carreira, o conhecimento da missão e do papel do policial militar, o espírito

de liderança e chefia). Num segundo momento, delimitava áreas especificas da

atuação do oficial, identificando detalhadamente, até o posto de capitão, o que o

mesmo poderia efetivamente vir a executar no cumprimento de suas tarefas. O

objetivo era que estes apontamentos pudessem em seguida definir as matérias

pertinentes a cada área e os assuntos a serem ministrados com vistas à definição do

currículo. Este ultimo deveria conter o PROMA (programa da matéria) e o PUD

(Plano de Unidade Didática), num embrião dos Planos de Ensino hoje entregues aos

alunos no inicio de cada semestre.

Essa iniciativa visava uma ordenação do ensino em função de complexidade,

buscando uma forma lógica e racional que pudesse conduzir o ensino sem que os

conteúdos ministrados fossem apresentados de forma precoce ou sem os

fundamentos básicos de unidade e continuidade. Também procurava eliminar a

duplicidade de assuntos em matérias afins, bem como o enxugamento da carga

horária, permitindo que o curso fosse realizado de forma mais proveitosa, abrindo

espaço para outras disciplinas consideradas necessárias e até então inexistentes, e

a eliminação daquelas consideras supérfluas.

Dentro dessa perspectiva, o roteiro do Perfil profissiográfico de 1990 foi assim

definido: Cargos, funções e tarefas distribuídas nas áreas operacional, Justiça

Militar, Administrativa, Assessorias Externas, Ensino e Instrução e Militar.

Instrumental utilizado. Caracterização dos ambiente físico e social. Requisitos

pessoais relacionados ao desempenho funcional. Documento que especificaria o

exercício profissional (atribuições). Projeção para o futuro.

57

Na área operacional, foram destacadas as seguintes funções: (POLÍCIA

MILITAR DE SANTA CATARINA, 1990).

• Comandante de tropa a nível de Companhia, podendo ser

desenvolvidas nas áreas de Choque, Transito, Radiopatrulha, Rodoviária, Florestal,

Guarda de Estabelecimentos Penais, Polícia Montada e Bombeiros (Cabe aqui

destacar que neste período o bombeiro ainda era parte integrante da PMSC)

• Oficial de Serviço no COPOM.

• Comandante de ações de Defesa Pública, Interna, Territorial e Civil.

• Oficial de Serviço Externo da OPM

• Oficial Supervisor do Policiamento.

Na área da Justiça Militar, foram destacadas as seguintes funções:

• Perito

• Encarregado do IPM

• Escrivão

• Membros do Conselho Especial de Justiça, Conselhos de Justiça e

Conselho Permanente de Justiça.

Na área administrativa, foram elencadas as seguintes funções: (POLÍCIA

MILITAR DE SANTA CATARINA, 1990).

• Diretoria de Apoio Logístico

• Chefe da seção de recebimento e distribuição de material bélico

• Chefe de seção de recebimento e distribuição de material de

intendência

• Chefe de manutenção de material bélico

• Chefe de manutenção de material de intendência

• Chefe da seção de transporte

• Diretoria de finanças, englobando: Chefe da DF-2.

• Diretoria de Pessoal, englobando Chefe das DP – 1, DP – 2, DP –

3, DP – 4, DP – 5 e DP – 7.

• PM2

• Relações Públicas (PM – 5)

• Ajudância Geral

• Chefe PM – 1

58

• Chefe do P-2

• Chefe do P – 3

• Chefe do P – 4

Aqui cabe definir o que são P1, P2, P3, P4 e P5.

A Polícia Militar, como estrutura organizacional hierárquica, conta, no seu

organograma com um Estado Maior, responsável por assessorar o comandante na

tomada de decisões a nível estratégico. Este Staff do comando estaria dividido em 6

funções básicas que na PM estão determinados como PM1, PM2, PM3, PM4, PM5 e

PM6, com atividades específicas, a saber: PM1, responsável pela gerencia de

recursos humanos/pessoas; PM2 responsável pelo setor de informação; PM3,

responsável pelo setor operacional; PM4, responsável direto pela Logística e

material; PM5, responsável pelas comunicações e relações públicas; e PM6,

responsável pelo Orçamento.

• Ajudante de unidade

• Comandante de Unidade desincorporada

• Comandante de Pelotão Destacado

• Comandante de Pelotão de Transito

Nas funções de Assessoria Externa, as seguintes funções: (POLÍCIA

MILITAR DE SANTA CATARINA, 1990).

• Assessoria Judiciária do Tribunal de Justiça

• Assessoria Militar da Secretaria de Segurança Pública

• Casa Militar

• Assessoria Militar da Assembléia Legislativa

• Assessoria Militar do Tribunal de Contas

Nas funções relativas à Instrução e Ensino, foram elencadas as seguintes

funções: (POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA, 1990).

• Instrutor nos cursos e estágios realizados nas frações operacionais e

CEPM em diversas habilitações e modalidades

• Instrutor nas diversas frações operacionais e de apoio e nos diversos

grupamentos

• Secretário de Curso/ Estágio nas frações operacionais

59

• Coordenador de Curso/ Estágio nas Unidades de Ensino e no

desempenho de funções administrativas de Ensino na DivE (CEPM)

• Auxiliar do P-3 e/ou Chefe do P – 3 nas frações Operacionais e de

apoio como responsável pela instrução.

Nas funções relativas à área militar, foram elencadas as funções:

• Cmt de Desfile, Cmt de Pelotão em desfile, Porta Bandeira, Cmdo

Cerimônias tipo ‘Funeral”, Instrutor de ordem unida

• Instrutor de Educação Física Militar

• O oficial e seu comportamento na sociedade. Oficial de Casa Militar e

Órgãos congêneres. Oficial de Relações Públicas. Oficial Subalterno e Capitão em

Unidades Operacionais.

• Coordenador do COPOM. Oficial de Comunicações – Programador

e/ou digitador.

• Instrutor de Legislação. Oficial de Dia. Fiscal de dia. Membro dos

Conselhos de Disciplina e Justificação. Encarregado de Sindicâncias e Inquéritos

técnicos. Oficial Cmt de Cia, bem como subalterno de unidades ou subunidade

operacional.

Em relação às atividades relacionadas, foram destacadas, no âmbito

operacional a execução, planejamento e comando do policiamento ostensivo

preventivo, de eventos esportivos e festividades, segurança física de instalações e

dignitários, policiamento de transito e rodoviário, segurança externa de

estabelecimentos penais do Estado, guarda e fiscalização das florestas e meio

ambiente, operações de rádio patrulha, policiamento montado, defesa de pontos

sensíveis, abordagem de pessoas, veículos, edificações. Deve ainda atuar em

situações de seqüestros, auxiliar a defesa Civil em missões complementares de

auxilio a população nos casos de situação de emergência e calamidade pública,

atuar na prevenção de incêndios, analisando projetos de segurança contra incêndios

e aplicando as sanções administrativas previstas em lei, assistência em caso de

acidentes empregar técnicas de operações ofensivas inquietação ou psicológicas,

executar plano de Segurança da OPM, planos de policiamento ostensivo para sub

áreas, plano de chamada e de barreiras na sub área., a realização de prisões em

flagrante, buscas e apreensões, a execução de mandados judiciais. Alem disso,

deveria conhecer bem os armamentos, viaturas e agentes químicos em uso na PM,

60

realizando manutenção até o primeiro escalão dos armamentos e utilizando-os em

ações repressivas utilizadas na PM. Deveria ainda atuar no combate a criminalidade,

pela identificação dos fatores individuais e sociais que a originam.

Pode observar-se a amplitude da missão operacional pela quantidade de

atividades elencadas, embora hoje algumas já não sejam realizadas pela PM

(notadamente aquelas relativas à prevenção de incêndio e fiscalização de planos

preventivos de incêndio de edifícios, hoje realizadas pelo Bombeiro Militar) e a

ausência de outras missões realizadas pela PM (como o radio patrulhamento aéreo,

operações táticas, etc.).

Cabe também aqui talvez o comentário que quase todas as ações acima

descritas realmente fazem parte das atividades realizadas pelo oficial PM até o posto

de capitão, mas que faltam alguns ingredientes bastante necessários, que são o

diferencial entre o simples executor de tarefas e o líder. Além de todas as atividades

descritas, o oficial operacional deve ter aguda percepção da realidade que o rodeia,

conhecimento não apenas das suas funções, mas também das condicionantes

sociais, políticas, econômicas e das determinantes legais que norteiam sua atuação.

Em relação às atividades na justiça militar elencadas, temos que seria de

responsabilidade do oficial atuar como perito em armas e viaturas, fazer IPMs, ser

escrivão em IPM, e ainda trabalhar no julgamento de oficiais, praças e deserção de

praças quando convocado a participar como membro de qualquer um dos Conselhos

Militares.

No âmbito administrativo, as atividades dos oficiais englobariam desde o

levantamento de custos de mercadorias e realização de procedimentos licitatórios, a

emissão de ordens de fornecimento, a manutenção dos registros relativos aos

recursos disponíveis e utilizados, o recebimento, distribuição e controle de material,

equipamento, material bélico, munições, bem como a execução, manutenção e

recuperação do armamento e recarga de munição da PM, movimentação de cargas,

transporte de mudanças, tropas e material bélico. O diretor de finanças deveria

elaborar o balancete mensal, conferir os convênios de radiopatrulha, conferir as

prestações de contas, fazer o imposto de renda da PM, analisar os processos de

licitação, as notas fiscais e serviços realizados, a mecanização dos empenhos,

acompanhar a execução orçamentária, elaborar empenhos. Já na Diretoria de

61

Pessoal, as atividades administrativas seriam relacionadas ao cadastro, avaliação,

direitos, deveres e benefícios do pessoal militar da ativa. Também atividades

relacionadas com movimentação, controle e efetivo e promoções, processamento e

despacho do expediente relativo à justiça e disciplina da corporação, cadastros,

avaliações, direitos, e controle dos Policiais Militares inativos. Planejamento,

processamento, orientação, controle do recrutamento, seleção e identificação do

pessoal civil e militar.

O chefe do PM – 7 deveria atuar em situações relativas à administração do

sistema de vencimentos da PM, elaboração da folha de pagamento e respectivas

alterações, atividades que hoje fazem parte da Diretoria de Pessoal.

O PM – 2 deveria produzir informações no campo da segurança pública e

segurança interna a nível estratégico.

O PM – 5 deveria atuar no planejamento e execução dos eventos sociais e

datas festivas da corporação, auxiliando o Chefe da PM – 5 para assuntos relativos

a relações públicas e comunicação social.

O chefe do PM – 3 é responsável pelo planejamento, execução e controle das

ações e operações, ensino e instrução da OPM. O P4 deve controlar e fiscalizar a

tesouraria e o almoxarifado, bem como as seções de material bélico e transportes.

Controlar o patrimônio da unidade e fazer aquisições.

O ajudante da unidade é responsável pela escrituração referente a

correspondência, ao arquivo e registro das alterações de oficiais, redigir

correspondências, subscrever certidões, manter atualizado o histórico da unidade,

receber toda a correspondência da unidade, protocolando-a e distribuindo-a de

acordo com o grau de sigilo que deva merecer, organizar documentação referente a

processos de insubmissão e deserção, receber a documentação diária interna,

mandar protocolar e levar ao sub comandante, organizar a documentação relativa ao

efetivo da unidade, as alterações relativas a subtenentes e sargentos da unidade.

Os comandantes de unidades desincorporadas devem efetuar a previsão de

todo o material necessário ao funcionamento do dia, como viaturas, combustíveis,

armamento, munições, equipamentos e outros. Também devem ordenar as

despesas da Cia, ser responsável por todos os serviços administrativos relativos ao

P1, P2, P3 E P4 e emitir os conceitos para promoção de oficiais e praças.

62

Comandante de pelotão destacado deve fazer os balancetes de

Radiopatrulha e convênios de transito, boletins de controle de ocorrências, elaborar

relatórios estatísticos referentes a efetivo, materiais e ocorrências, elaborar planos

de férias.

Por fim, o comandante de pelotão de transito deveria conferir o

preenchimento dos boletins de ocorrências em acidentes de transito e entrega-los as

partes interessadas, bem como encaminhar a relação das notificações de transito as

delegacias de policia.

No Anexo 3 deste trabalho encontra-se reprodução da tabela apresentada no

Perfil Profissiográfico de 1990.

O material mais recente, conseguido junto ao CESIEP, datado de dezembro

de 2005, é, diferentemente do Perfil profissiográfico de 1990, um esboço das

características psicológicas necessárias ao desempenho das funções de soldado,

sargento e oficial da PMSC, não detalhando as atividades a serem desenvolvidas de

forma específica. Assim, se o perfil de 1990 tinha uma visão predominantemente

técnica, os critérios estabelecidos no perfil atual são quase que exclusivamente

psicológicos e comportamentais, de difícil mensuração e validação, gerando diversos

questionamentos legais.

As características destacadas são avaliadas por padrões que vão desde a

ausência completa ao nível elevado, passando por exigências baixas e adequadas

de determinadas características. Assim, resumidamente, poderíamos dizer que para

um oficial da PMSC seria necessário um alto desempenho em termos de

autocontrole emocional, potencial de desenvolvimento cognitivo, potencial de

liderança, fluência verbal, responsabilidade, disciplina e organização. Seria

necessária a presença de níveis adequados de perseverança, coragem,

assertividade, ambição, criatividade, flexibilidade de conduta, sociabilidade,

iniciativa, disposição para o trabalho, resistência à frustração e autoconfiança.

Nos quesitos ansiedade, angústia e agressividade, o candidato a oficial

deveria ter desempenhos baixos, bem como ausência de impulsividade ou sinais

fóbicos. Cada uma dessas características está detalhada no perfil profissiográfico

constante do anexo 2 desse trabalho, de forma a especificar detalhadamente o que.

significa cada um dos termos utilizados.

63

Pode-se perceber, através da comparação entre os perfis profissiográficos

cedidos pelo CESIEP (anexo 2) de soldados, sargentos e oficiais, que enquanto que

o primeiro, como elemento de execução, não precisa alcançar níveis mentais tão

altos, e índices menores de sentido critico, liderança, meticulosidade, assertividade,

clareza mental em relação ao oficial, precisa ter também níveis mais elevados

de,autocontrole, disciplina, resistência a frustração e sociabilidade do que aqueles

esperados dos candidatos a oficial. Isso se deve principalmente pela diferença de

atividades e responsabilidades atribuídas dentro da Corporação a oficiais e praças.

Poder-se-ia dizer, sem medo de errar, que os perfis profissiográficos de

1990 e os atualmente utilizados pelo CESIEP se complementam, e com as

adaptações necessárias, seriam um bom ponto de partida na elaboração de um

Perfil Profissiográfico que servisse aos objetivos propostos neste trabalho.

O Curso de Formação de Oficiais teria por objetivo, inicialmente, formar o

oficial para exercer todas as atividades até o nível de Capitão. Ao alcançar o posto

de Capitão, o Oficial deveria realizar o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais – CAO,

que funcionaria a titulo de especialização em administração, fornecendo suporte ao

exercício das funções de Major e Tenente Coronel, e sendo requisito determinado

em lei para a promoção ao posto de Major. Mais tarde, ao chegar ao posto de

Tenente Coronel, o oficial submeter-se-ia ao Curso Superior de Policia, também a

título de Pós Graduação, para habilitá-lo a promoção ao posto de Coronel e atuar de

forma estratégica na Corporação. O que vemos na prática, porém, é que pelas

distorções no número de oficiais e vagas, muitos oficiais vêm a atuar em atividades

gerenciais ou estratégicas antes de terem alcançado a graduação necessária a

cursar o respectivo curso de Pos Graduação oferecidos pela Policia Militar. Há

também a dificuldade de que os Cursos de Aperfeiçoamento de Oficiais e Curso

Superior de Polícia até o presente momento não são oferecidos com regularidade,

dependendo, da mesma forma que o Curso de Formação de Oficiais, de autorização

governamental e liberação de recursos orçamentários para sua realização.

A partir destes fatos, podemos concluir que seria necessário então que o

cadete tivesse já durante o curso as primeiras noções de Administração e gestão

Estratégica, que seriam aperfeiçoadas pela realização dos Cursos oferecidos pela

Corporação, de forma a ter instrumentos para atuar em outros níveis gerenciais se

isso se fizesse necessário durante a carreira. E que os Cursos deveriam ser

64

oferecidos de forma regular, objetivando que a instituição sempre contasse com

oficiais formados e especializados no desempenho de cada cargo e função, evitando

quebras de continuidade na formação e prejuízos a toda a Política de Recursos

humanos da Corporação.

4 Elementos de um novo Perfil Profissiográfico

Voltando a pergunta inicial: quais seriam os conhecimentos que

possibilitariam ao oficial um exercício eficiente da profissão policial militar, em

qualquer das diversas áreas de atuação da corporação? Existe um currículo mínimo

previsto para o curso que possa abranger todos os conhecimentos necessários?

Quais competências, habilidades e atitudes que deveriam ser desenvolvidas durante

a formação, e quais deveriam estar presentes já durante o processo de seleção? E

como mensurar essas competências?

Como vimos nos capítulos anteriores, a Gestão de Recursos Humanos é um

ponto de importância fundamental a qualquer organização, na medida em que é este

setor o responsável por recrutar, selecionar, avaliar as pessoas que farão parte da

instituição e serão responsáveis pela continuidade da cultura corporativa e da

própria instituição como tal. Assim, um processo de seleção falho pode comprometer

o funcionamento da instituição e sua continuidade no tempo.

Segundo Carvalho e Nascimento (2004):

Todo procedimento de recrutar RH está baseado em informações oriundas da análise, descrição, avaliação e classificação do cargo a ser preenchido, aí incluído, obviamente, o aspecto salarial.

Também vimos que o Perfil Profissiográfico é um dos instrumentos utilizados

na Polícia Militar de Santa Catarina para direcionar a seleção de futuros oficiais,

determinando as características objetivas e subjetivas que devem estar presentes no

oficial para que possa desempenhar corretamente e de forma eficiente as atividades

exigidas pela corporação.

Determinadas as características objetivas e subjetivas envolvidas, a

psicologia organizacional tem métodos próprios de definir critérios e fatores de

validação, possibilitando assim que a seleção seja o mais próxima possível daquele

perfil desejado de oficial.

É preciso, contudo, ter em mente que os testes psicotécnicos realizados na

seleção são um retrato de determinado momento na vida do candidato.

Normalmente, apresenta um retrato da personalidade do individuo nos últimos 3

meses, e com validade por aproximadamente mais 3 meses – período em que

66

acontece razoável número de mudanças na vida de alguém, gerando perfil às vezes

muito diferente daquele diagnosticado na seleção.

Seria, pois necessária a constante reavaliação dos admitidos, para identificar

possíveis modificações de conduta capazes de prejudicar o aprendizado ou mesmo

o desempenho da função policial militar.

Além disso, seria necessário levar em conta não apenas características

psicológicas individuais, mas também as demandas legais – a missão da Policia

Militar nas Constituições Federal e Estadual, nos regulamentos utilizados hoje pela

corporação, a capacidade de adaptar-se a cultura corporativa. Haveria que se levar

em conta às determinações da SENASP e da Secretaria Estadual para formação de

oficiais. Que se analisar questões atuais, como a polêmica a respeito de

homossexuais nas forças militares, o uso do Exercito no policiamento de ruas, o

internato como instrumento de formação de cultura de grupo, currículo informal nos

cursos de formação. A rapidez com que as mudanças acontecem nos dias atuais,

faz com que os requisitos de seleção e formação devam ser constantemente

reavaliados, para que não fiquem defasados em relação às demandas sociais.

Analisando o aspecto externo a seleção, podemos afirmar que novos tempos

trazem consigo transformações sociais. E transformações sociais, via de regra,

trazem inovações para as instituições sociais. As demandas relativas à segurança

pública têm mudado constantemente, ao mesmo passo que a velocidade das

mudanças no contexto social e humano se acelera.

No Estado de Santa Catarina, os últimos 15 anos trouxeram significativas

mudanças: com uma estimativa de crescimento populacional de 1,9% ao ano, a

população atingiu o número aproximado de 5.866.568 habitantes no ano passado,

segundo estimativas do Censo 2005, dados obtidos através da internet.

Segundo dados da SENASP, Santa Catarina é um dos estados brasileiros

onde há uma relação razoável entre o número de oficiais por número de habitantes,

figurando com 486 habitantes por policial, embora o efetivo se encontre bastante

defasado em relação a outros períodos. Basta lembrar que no inicio da década de

oitenta a PMSC contava com quase 15000 homens, entre policiais e bombeiros

militares; já em 2003, quando da separação entre as duas instituições, havia cerca

de 13000 policiais, dos quais 2000 optaram por serem apenas bombeiros militares,

67

restando á PMSC um efetivo de pouco mais de 11.000 homens1, dos quais menos

de 1200 eram oficiais.

Embora seja senso comum que o numero de policiais por habitante não é

uma verdade absoluta em termos de efetividade do serviço policial, é necessário

refletir sobre as conseqüências de uma política de recursos humanos que não previu

a situação atual, em que quase 30% do efetivo estará indo para a reserva

remunerada dentro dos próximos 5 anos. Os policiais hoje em serviço estão entre os

dois extremos: uma parte a caminho da reserva, outra recém saída dos cursos de

formação, feitos em massa nos últimos anos para tentar resolver a situação da

diminuição do efetivo, sem que consiga entretanto suprir a demanda de policiais em

todo o Estado. Nas visitas realizadas em estágio, os comandantes de unidades

operacionais do litoral apresentaram aos cadetes dados relativos à falta de efetivo,

que hoje precisaria ser no mínimo o dobro do efetivo atual.

Ainda nas estatísticas da Secretaria Nacional de Segurança Pública,

descobre-se que Santa Catarina, diferentemente de outros Estados do Brasil, em

lugar de aumentar o número de policiais por habitante, vem diminuindo

consideravelmente o número de policiais em relação à população. Mesmo que isso

não reflita necessariamente uma queda no padrão de atendimento (haja vista as

inovações tecnológicas que permitem ao policial atender ocorrências com mais

efetividade e rapidez, além de alcançar resultados melhores), também reflete a falta

de investimento em seleção e formação profissional, ocorrida há alguns anos atrás,

que propiciou uma lacuna entre os policiais hoje em exercício, que apresentam

diferenças de 5 a 10 anos de formação. Isso vai gerar problemas quando estes

policiais forem para a reserva e não houver turmas subseqüentes para ocuparem

suas funções, no período adequado.

A SENASP determinou, no ano de 2005, a matriz curricular comum aos

cursos de formação de Segurança Pública. Segundo o site do SENASP: “Os

conteúdos formativos propostos, chamados “eixos articuladores” dão origem à

reflexão sobre o papel individual, social, histórico e político do profissional e das

instituições de segurança pública.”.

68

Na Policia Militar de Santa Catarina, as modificações vivenciadas na

sociedade catarinense levaram a necessidade de elaboração de um novo

Planejamento Estratégico, que pudesse delinear as necessidades atuais e vindouras

da corporação, identificando a missão, visão e diretrizes estratégicas que nortearão

o rumo da instituição pelos próximos 20 anos. É este planejamento Estratégico, nas

palavras do Comandante Geral e dos oficiais que o redigiram, resposta as mudanças

políticas, econômico sociais e tecnológicas que condicionam significativamente a

sobrevivência das instituições, inclusive a policial militar, que precisa

constantemente justificar sua existência perante a sociedade. É uma pressão

constante, originada principalmente na escassez de recursos estatais e na

competição movida por outras instituições com atividades correlatas.

Ainda no planejamento estratégico elaborado no ano de 2005 por uma

comissão formada pelo comandante geral e grande parte da oficialidade, uma das

diretrizes elencadas foi à necessidade de elaboração de um novo perfil

profissiográfico de inclusão do oficial da Policia Militar de Santa Catarina, bem como

de redefinir os conteúdos curriculares e legislação de educação da instituição.

É a partir deste Planejamento Estratégico, aliado as diretrizes do SENASP

para a formação de oficiais, das missões elencadas nas Constituições Federal e

Estadual, nas legislações em vigor na Corporação, nas características elencadas

nos perfis profissiográficos de 1990 e nos atualmente em utilização pelo CESIEP é

que pretendemos traçar alguns apontamentos de quais seriam as características

essenciais a um novo perfil profissiográfico do oficial da Policia Militar de Santa

Catarina, capaz de nortear os processos de recrutamento, seleção e formação

destes profissionais para o exercício mais eficiente e eficaz possível de sua missão.

4.1 Conceitos de Competências, Habilidades e Atitud es.

Segundo Deluiz (ano) o modelo de competências profissionais passa a ser

discutido e utilizado pelo mundo empresarial a partir da década de 80, a partir da

crise que se estabeleceu no capitalismo a partir da década de 70.

A adoção do modelo de competências no mundo do trabalho estaria

relacionada, assim, “ao uso, controle, formação e avaliação do desempenho da força

69

de trabalho diante das novas exigências postas pelo padrão de acumulação

capitalista flexível ou toyotista: competitividade, produtividade, agilidade,

racionalização de custos” (Deluiz, ano, p.).

Para atuar conforme as exigências de excelência determinadas pela

competitividade crescente do capitalismo pós moderno, as empresas procuram

identificar as competências essenciais do negócio e as necessárias a cada função. A

partir desta definição, determina-se quais são as competências dos trabalhadores

necessárias à organização.

Já segundo Carvalho (1981, p.118) o estudo das diferentes cargos com o

objetivo de determinar quais aptidões seriam necessárias para seu bom

desempenho iniciou-se no fim do século XIX. A psicologia de então favorecia o

estudo de atos isolados, imaginando que, se cada tarefa fosse decomposta em atos

elementares, e estes estudados até a exaustão, seria possível determinar os tempos

e movimentos mais adequados para alcançar a eficiência máxima no desempenho

daquela função.

Ainda segundo a mesma autora, até 1930 a observação era o único

recurso utilizado no estudo dos tempos e movimentos, que atingiam não apenas a

psicologia, mas também os estudos de administração. Com o conjunto de dados

obtidos pela observação, inquéritos com os funcionários e experimentação,

elaboravam-se as fichas profissiográficas, que tinham a pretensão de reunir s

aspectos essenciais e aptidões imprescindíveis ao bom êxito naquele cargo. A partir

daí a ficha profissiográfica deixa de ser a mera descrição de tarefas para passar a

apresentar também características pessoais que o candidato deve possuir, sejam

psíquicas, morais ou mesmo psicológicas que poderiam influenciar no bom

desempenho profissional.

Segundo Dutra (2002, p.127)

Competência, para alguns autores, significa o conjunto de qualificações que a pessoa tem para executar um trabalho com nível superior de performance. (...) Segundo esses autores a competência é o conjunto de qualificações (underlying characteristics) que permite que uma pessoa tenha performance superior em um trabalho ou situação. Essas competências podem ser previstas e estruturadas de modo a estabelecer um conjunto ideal de qualificações para que a pessoa desenvolva uma performance superior em seu trabalho.

70

Já na matriz curricular nacional para a formação de profissionais de

Segurança Pública, encontramos o conceito de competência definido como:

Competência é entendida como a capacidade de mobilizar saberes para agir nas diferentes situações da prática profissional, em que as reflexões antes, durante e após a ação estimulem a “autonomia intelectual”, traduzida por ALTET (1992) como a capacidade de “agir em situações diferentes, de gerir incertezas e poder enfrentar as mudanças no exercício de sua profissão”.

No referido documento, elenca-se como competência profissional essenciais

ao profissional da Segurança Publica competências em nível cognitivo, atitudinal e

operativa.

Estas competências teriam uma relação estreita com os eixos ético, legal e

técnico da formação policial. Assim, em relação aos conteúdos conceituais, haveria

uma estreita ligação com o Eixo Legal da Formação Policial, aonde se utilizariam

competências cognitivas (de conhecimento). Em relação aos conteúdos

procedimentais, haveria o Eixo Técnico, aonde o policial aprenderia competências e

habilidades operativas, aprendendo a atuar. Por fim, os conteúdos atitudinais seriam

interligados ao eixo Ético da Formação policial, aonde o aluno deveria desenvolver

atitudes e aprender a ser/conviver como policial.

Assim, na Matriz curricular, estão elencadas detalhadamente competências,

habilidades e atitudes que deveriam ser desenvolvidas durante a formação policial,

comuns a todas as Policias Militares dos Estados da União.

4.2 Competências e habilidades necessárias ao oficial P M

O que poderíamos afirmar então, hoje, a alguém que viesse perguntar quais

seriam as características, competências, habilidades e atitudes esperadas de um

oficial da Policia Militar de Santa Catarina?

No Exército, o RISG (Regulamento Interno e dos Serviços Gerais) procura

regular, com precisão, a atribuição de cada um dos cargos e funções exercidos por

oficiais e praças, atribuindo atividades específicas a cada um. Guardadas as devidas

proporções, alguns de seus ensinamentos poderiam ser aproveitados na elaboração

de uma regulamentação ou de um perfil profissiográfico para os oficiais da PM.

71

Dos regulamentos institucionais atualmente em uso, temos no Estatuto dos

Policiais Militares (lei 6218 de 10 de fevereiro de 1983) algumas características que

deveriam ser comuns a todos policiais militares no exercício de suas funções:

Art. 28 - São manifestações essenciais do valor Policial- militar:

I - o sentimento de servir a comunidade, traduzido pela vontade inabalável de cumprir o dever Policial-militar e pelo integral devotamento a manutenção da ordem pública mesmo com o risco da própria vida;

II - O civismo e o culto das tradições históricas; III - A fé na elevada missão da Policial-militar; IV - O espírito de corpo, orgulho do Policial-militar pela organização onde serve;

V - O amor à profissão Policial-militar e o entusiasmo com o que e exercida;

VI - O aprimoramento técnico-profissional.

Pode-se entender a partir daí que o valor do policial militar em geral passa

pelo sentimento pessoal de serviço, pelo orgulho pela missão, que deverá ser

cumprida mesmo que com o risco da própria vida. O culto as tradições e o civismo

também são aspectos basilares ao exercício das funções policiais militares.

Quanto à ética policial militar, o mesmo Estatuto aponta os seguintes

aspectos:

Art. 29 - O sentimento do dever, o pundonor Policial-militar e o decoro da classe impõem a cada um dos integrantes da Polícia Militar, conduta moral e profissional irrepreensível, com a observância dos seguintes preceitos de ética Policial-militar: I - Amor à verdade e a responsabilidade como fundamento da dignidade pessoal; II Exercer, com autoridade, eficiência e probidade as funções que lhe couberem em decorrência do cargo; III - Respeitar a dignidade de pessoa humana; IV - Cumprir e fazer cumprir as Leis, os regulamentos, as instruções e as ordens das autoridades competentes; V - Ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na apreciação do mérito dos subordinados; VI - Zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico, bem como pelos dos subordinados, tendo em vista o cumprimento da missão comum; VII - Empregar as suas energias em beneficio do serviço; VIII - Praticar a camaradagem e desenvolver permanentemente, o espírito de cooperação; IX - Ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua linguagem escrita e falada; X - Abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria sigilosa de qualquer natureza; XI - Acatar as autoridades civis; XII - Cumprir seus deveres de cidadão; XIII - Proceder de maneira ilibada na vida pública e na particular; XIV - Observar as normas da boa educação; XV - Garantir assistência moral e material ao seu lar e conduzir-

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se como chefe de família modelar; XVI - Conduzir-se, mesmo fora do serviço ou na inatividade, de modo que não sejam prejudicados os princípios da disciplina, do respeito e o decoro Policial-militar; XVII - Abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para obter facilidades pessoais de qualquer natureza ou para encaminhar negócios particulares ou de terceiros; . . XVIII - Abster-se o Policial-militar na inatividade do uso das designações hierárquicas quando: a) em atividade político-partidárias; b) em atividade comerciais; c) em atividade industriais; d) discutir ou provocar discussões pela imprensa a respeito de assuntos políticos ou Policial-militar-militares, excetuando-se os de natureza exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; e) no exercício de cargo ou Função de natureza civil mesmo que seja da Administração Pública. XIX - Zelar pelo bom nome da Polícia Militar e de cada um de seus integrantes, obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos de ética Policial-militar.

Resumidamente, com base no que foi descrito no artigo 29, poder-se-ia

dizer que o policial militar é alguém que cultiva o amor à verdade, a

responsabilidade, a camaradagem, a discrição, o respeito pelas autoridades civis,

militares e pelas instituições, procede de maneira ilibada e correta nas relações

profissionais e pessoais, é bem educado, reconhecido como alguém que sustenta

sua família e é modelo nas relações sociais. Deve respeitar os princípios da

hierarquia e disciplina mesmo quando na inatividade, e abster-se de participar de

atividades político partidárias, comerciais ou industriais. Não deve ainda falar em

nome da Polícia Militar, e se necessário for, faze-lo apenas de forma técnica e

devidamente autorizado, zelando pelo bom nome da corporação e de todos os

policiais militares.

No artigo 32 do Estatuto, encontram-se quais seriam os deveres dos

policiais militares:

Art. 32 - Os deveres Policial-militar-militares emanam de um conjunto de

vínculos racionais e morais, que ligam o Policial-militar ao Estado e ao

serviço, compreendendo, essencialmente:

I - Dedicação integral ao serviço Policial-militar e fidelidade à instituição a

que pertence, mesmo com o sacrifício da própria vida;

II - Culto aos símbolos nacionais;

III - Probidade e lealdade em todas as circunstâncias;

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IV - Disciplina e respeito à hierarquia;

V - Rigoroso cumprimento das obrigações e ordens;

VI - obrigações de tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.

Assim sendo, novamente se enfatizam a disciplina, a hierarquia, a completa

dedicação ao serviço, o culto aos símbolos nacionais, o rigoroso cumprimento de

obrigações e ordens e tratar o subordinado dignamente e com urbanidade.

Mas o que são a hierarquia e disciplina tantas vezes enfatizadas como

bases do comportamento policial militar? Para o Estatuto, hierarquia é definida no

artigo 14, §1º, conquanto a disciplina seja definida no artigo 14 §2:

Art. 14 §1º “A hierarquia Policial-militar é a ordenação de autoridade em níveis diferentes dentro da estrutura da Polícia Militar”. A ordenação se faz por postos ou graduações; e dentro de um mesmo posto ou graduação, se faz pela Antigüidade. O respeito à hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento a seqüência de autoridade. § 2º - Disciplina e a rigorosa observância e o acatamento integral das Leis, regulamentos, normas e Disposições que fundamentam o organismo Policial-militar e coordenam seu funcionamento regular e harmônio traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo.

Na Lei de Organização Básica da Policia Militar de Santa Catarina (Santa

Catarina, 1983, 1), também encontramos algumas referencias a competência da

policia militar, e extensivamente, a missão da qual estariam incumbidos os policiais

militares. Assim:

Art. 2º - Compete a Polícia Militar:

I - executar, com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas, o Policiamento ostensivo, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; II - atuar de maneira preventiva, como Força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível à perturbação da ordem; III - atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o eventual emprego das Forças Armadas; IV - atender a convocação do Governo Federal, em caso de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave subversão da ordem ou ameaça de sua irrupção, subordinando-se ao Grande Comando da Força Terrestre para emprego em suas atribuições específicas de Polícia Militar e como participante da defesa territorial; V - realizar o serviço de extinção de incêndio, simultaneamente com o de proteção e salvamento de vidas e materiais; VI - efetuar serviço de busca e salvamento, prestando socorros em casos de afogamento, inundação, desabamento, acidentes em geral e em caso de catástrofes ou de calamidades públicas; VII - atender, mediante solicitação ou requisição de ordem judiciária, o

74

fornecimento de força policial-militar, VIII - executar missões de honra, guarda e assistência Polícial-militar; IX. - prestar serviço de guarda nas sedes dos Poderes Estaduais e da Secretaria de Segurança e Informações; X - manter a Segurança externa dos estabelecimentos penais do Estado; XI - executar as atividades do Gabinete Militar do Governador do Estado, do Vice-Governador e da Secretaria de Segurança e Informações; XII - desenvolver outras atividades de natureza Polícial-militar.

A partir destas informações, podemos concluir que o policial militar, e

especificamente o oficial, que é o objetivo deste trabalho, deve ser capaz de

executar (e planejar) ações de policiamento ostensivo, com o objetivo de assegurar

o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública, e exercícios de poderes

constituídos, atuarem de maneira preventiva evitando a perturbação da ordem, servir

de força auxiliar e reserva do exercito nos casos de necessidade de defesa

territorial. Deve ainda ter a capacidade de desempenhar funções de guarda de

honra, prestar serviço de guarda na sede dos poderes, manter a segurança externa

de estabelecimentos penais, e desenvolver outras atividades de natureza policial

militar. Com a separação do Bombeiro Militar da Policia Militar, a prestação de

serviços de extinção de incêndio e de busca e salvamento deixaram de ser funções

diretas da PMSC, embora ainda possa atuar nestas em casos de necessidade.

No Regulamento Disciplinar da Policia Militar de Santa Catarina,

encontramos ainda outras indicações e definições de características indispensáveis

ao exercício da profissão policial militar:

Art. 2º - A camaradagem torna-se indispensável à formação e ao convívio da família policial-militar, cumprindo existir as melhores relações sociais entre os policiais-militares.

Parágrafo único - Incumbe aos superiores incentivar e manter a harmonia e a amizade entre seus subordinados.

Art. 3º - A civilidade é parte da Educação Policial Militar e como tal de interesse vital para a disciplina consciente. Importa ao superior tratar os subordinados, em geral, e os recrutas em particular, com urbanidade e justiça, interessando-se pelos seus problemas. Em contrapartida, o subordinado é obrigado a todas as provas de respeito e deferência para com seus superiores, de conformidade com os regulamentos policial-militar-militares.

Art. 5º - A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas e das Forças Auxiliares, por postos e graduações.

Parágrafo único - A ordenação dos postos e graduações na Polícia Militar se faz conforme preceitua o Estatuto dos Policiais-Militares.

75

Art. 6º - A disciplina policial-militar é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes do organismo policial-militar.

§ 1º - São manifestações essenciais de disciplina:

1) a correção de atitudes;

2) a obediência pronta às ordens dos superiores hierárquicos;

3) a dedicação integral ao serviço;

4) a colaboração espontânea à disciplina coletiva e à eficiência da instituição;

5) a consciência das responsabilidades;

6) a rigorosa observância das prescrições regulamentares.

§ 2º - A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos permanentemente pelos policiais-militares na ativa e na inatividade.

Aqui temos uma repetição do que o Estatuto preceitua a respeito da

hierarquia e disciplina, com o acréscimo de detalhes relativos a manifestações de

disciplina policial militar e sobre o que seria a camaradagem, também entendida

como essencial, juntamente com a hierarquia e a disciplina, para a execução das

atividades policiais militares.

É ainda no Regulamento Disciplinar que se encontra a definição de

transgressão disciplinar:

Art. 13 - São transgressões disciplinares:

1) todas as ações ou omissões contrárias à disciplina policial-militar especificadas no Anexo I do presente Regulamento;

2) todas as ações, omissões ou atos, não especificados na relação de transgressões do Anexo I citado, que afetem a honra pessoal, o pundonor policial-militar, o decoro da classe ou o sentimento do dever e outras prescrições contidas no Estatuto dos Policiais-Militares, leis e regulamentos, bem como aquelas praticadas contra regras e ordens de serviços estabelecidas por autoridades competentes.

Sabendo que todas as ações, omissões ou atos que atingem a honra pessoal,

o pundonor policial militar, o decoro da classe ou sentimento de dever são

transgressões disciplinares, entendemos que esses conceitos seriam fundamentais

na definição de um perfil profissiográfico para o oficial da PMSC, na medida em que

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o oficial deve ser, além de um excepcional policial militar, exemplo para a tropa que

comanda.

Na Constituição Federal, temos como missão das Policias Militares:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

(...)

V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.

(...)

§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

§ 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Brasil: Constituição da Republica Federativa do Brasil,

2006).

Já na Constituição Estadual, temos as seguintes definições relativas à

atuação da Policia Militar de Santa Catarina:

Art. 107 - A Policia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do Exército, organizada com base na hierarquia e na disciplina, subordinada ao Governador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, alem de outras atribuições estabelecidas em lei: I – exercer a polícia ostensiva relacionada com:

a) a preservação da ordem e da segurança pública; b) o radio patrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial; c) o patrulhamento rodoviário; d) a guarda e a fiscalização das florestas e dos mananciais; e) a guarda e a fiscalização do trânsito urbano; f) a polícia judiciária militar, nos termos de lei federal; g) a proteção do meio ambiente; h) a garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades públicas, especialmente da área fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural;

II – cooperar com órgãos de defesa civil; e.

III – atuar preventivamente como força de dissuasão e repressivamente como de restauração da ordem pública.

§ 1º A Polícia Militar:

I – é comandada por oficial da ativa do último posto da corporação; e

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II – disporá de quadro de pessoal civil para a execução de atividades administrativas, auxiliares de apoio e de manutenção.

§ 2º Os cargos não previstos nos quadros de organização da corporação poderão ser exercidos pelo pessoal da Polícia Militar, por nomeação do Governador do Estado. (Santa Catarina: Constituição Estadual, 1989).

No Planejamento Estratégico, temos que a Missão da PMSC é:

Proporcionar segurança ao cidadão, preservando a ordem pública através de ações de polícia ostensiva, de forma integrada com a sociedade, visando o exercício pleno da cidadania. (Polícia Militar de Santa Catarina, 2005).

E a visão da Policia Militar de Santa Catarina é

Ser reconhecida pela sociedade como instituição de excelência na área de segurança pública. ( Policia Militar de Santa Catarina, 2005)

Enquanto que a missão é uma declaração dos objetivos da organização,

determinando seus objetivos, publico alvo e as ações para isso, a visão representa

um objetivo comum a ser alcançado a curto prazo por todos aqueles que estão

envolvidos no processo organizacional. Assim, seria de fundamental importância que

o oficial tivesse consciência da visão e da missão, e pautasse suas ações dentro

destas diretrizes, acompanhando assim o planejamento estratégico da corporação.

Nas características elencadas no Perfil Profissiográfico de 1990 temos que

um bom oficial seria aquele capaz de desempenhar bem todas as funções exercidas

por um oficial da PMSC, que são variadas, desde a atuação fim, operacional, com o

planejamento e execução de policiamento de transito, ostensivo a pé, montado,

radio patrulhamento, rodoviário, etc.) funções de gerenciais de pessoal (relativas à

inserção de horas extras, controle de férias, licenças, concessão de elogios e

punições, etc.), funções de comando em diversos níveis (pelotão, companhia,

Guarnição Especial, Batalhões), funções de inteligência (atuando na investigação da

própria PM e também em ações preventivas de crimes), no Policiamento comunitário

(capacidade de organizar e gerir Conseg’s, de manter um relacionamento saudável e

amistoso com outras instancias do poder local e Estadual, ou seja, prefeituras,

organizações de bairro, poderes judiciário e legislativo municipal e estadual,

Ministério Público, Policia Civil, Policia Federal, entre outros). Ser capaz de instruir a

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tropa sob seu comando, nas áreas militares como tiro e Educação Física Militar,

Transito e Direito Penal, entre outras.

Também seria necessária a capacidade de transmitir e receber ordens,

conhecer os regulamentos militares e saber manter a hierarquia e disciplina. Agir de

forma correta e ilibada, para que seu exemplo de conduta fosse imagem na qual

deveriam se pautar os policiais militares sob seu comando. Não é a toa que na

Corporação costuma se dizer que a tropa é o espelho de seu comandante...

Já no perfil atual, aonde se analisam as características subjetivas do

exercício da profissão policial militar, temos que seria necessário ao oficial um índice

alto de organização, disciplina responsabilidade, fluência verbal, potencial de

liderança, potencial de desenvolvimento cognitivo e controle emocional. Também

deveria possuir níveis adequados (médios) de autoconfiança, resistência à

frustração, disposição para o trabalho, iniciativa, sociabilidade, flexibilidade de

conduta, criatividade, ambição, assertividade, coragem e perseverança. Por fim,

índices baixos de ansiedade, angústia, agressividade, e índices ausentes de sinais

fóbicos, e impulsividade.

Finalmente, nas diretrizes formativas do SENASP, encontramos que existe uma

matriz nacional para os cursos de Formação de policiais.

Segundo informações contidas na pagina da SENASP, temos que a matriz

curricular:

É um referencial nacional para as atividades de formação em Segurança Pública que fomenta a reflexão e orientação garantindo a coerência das políticas de melhoria da qualidade da Educação em Segurança Pública, bem como de desempenho profissional e institucional.

A elaboração desta matriz, a partir do núcleo comum recomendado pelo

Ministério da Justiça através da Secretaria Nacional de Segurança Pública, levou em

consideração 3 níveis diferenciados de conteúdos: conceituais, procedimentais e

atitudinais, o que possibilita uma analogia com aquelas competências, habilidades e

atitudes que pretendíamos determinar na elaboração de um novo perfil

profissiográfico.

Assim, antes da determinação especifica das matérias pertinentes a Matriz

Curricular Comum aos Cursos de Formação de Policiais, fez-se necessário o

levantamento das competências, habilidades e atitudes, que elementares ao perfil

79

profissiográfico usado na seleção de profissionais, também seria instrumento auxiliar

na elaboração de Currículos formativos e na avaliação dos formandos.

80

5 Considerações Finais

Nos capítulos anteriores, procuramos definir o que seria a Gestão de

Recursos Humanos, como ela aconteceria dentro da Policia Militar de Santa

Catarina, enfatizando especialmente o aspecto seleção de oficiais. Falamos a

respeito do Perfil Profissiográfico, sobre seus conceitos, possibilidades de utilização,

aplicabilidade a Policia Militar de Santa Catarina no que diz respeito à seleção de

oficiais e os perfis profissiográficos utilizados e em utilização pela Corporação. Por

fim, no capitulo anterior, discutimos o objetivo geral desse trabalho, que seria

entender quais são as competências, habilidades e atitudes necessárias ao bom

exercício do oficialato na corporação, com base nas determinações legais e das

diretrizes da SENASP e da própria PMSC a respeito.

Neste capítulo, apresentaremos resumidamente os resultados obtidos, sua

possível aplicabilidade a PMSC hoje e indicações para possíveis continuações desta

pesquisa.

Como já discutido anteriormente, a Gestão de Recursos Humanos é

considerada área estratégica em qualquer organização, pois é através dela que

ingressam elementos que darão vida e continuidade a organização. É através do

recrutamento e da seleção adequada de pessoal, que qualquer instituição garante a

continuidade da sua cultura organizacional no tempo e no espaço, seja uma

instituição com fins comerciais ou de prestação de serviços, como é a Policia Militar

e Santa Catarina.

O perfil profissiográfico é um dos instrumentos possíveis de se usar na

seleção, já que representa a soma da descrição de cargos com as características

pessoais e psicológicas necessárias ao desempenho de determinado cargo ou

função. Comumente elaborado por uma comissão multidisciplinar, além do

levantamento de dados a respeito do cargo ou função (que pode ser feito através de

pesquisas com os integrantes do cargo, com a chefia imediata, com os subordinados

e aqueles elementos externos a corporação que tem relacionamento direto com o

cargo ou função em estudo), há necessariamente que se analisar quesitos

81

subjetivos, como a capacidade de tomar decisões, iniciativa, responsabilidade, etc. –

quesitos estes a serem medidos com a ajuda de testes da psicologia organizacional.

Na Policia Militar de Santa Catarina, a Gestão de Recursos Humanos está

a cargo da Diretoria de pessoal, e a seleção de Recursos Humanos, está

especificamente relacionada ao CESIEP, que é o responsável pela aplicação dos

testes psicológicos e psicotécnicos aplicados aos candidatos ao oficialato. É o

CESIEP hoje o responsável pela elaboração do Perfil Profissiográfico de Oficiais e

Praças da Corporação, através de estudos e comissão multidisciplinar.

O perfil profissiográfico elaborado pelo Cel. Paulo Roberto Fagundes de

Freitas, com ênfase técnica, procurou determinar, da mesma forma que o RISG faz

no Exercito, todas as funções e cargos que poderiam ser assumidos pelo oficial da

PMSC, tendo assim, feito uma verdadeira descrição de cargos e funções da PMSC.

Utilizado durante muitos anos na Corporação como referencial tanto para a seleção

do perfil ideal de candidato ao oficialato, como para nortear as diretrizes formativas

do CFO, seria hoje considerado desatualizado, frente às mudanças estruturais

ocorridas na Polícia Militar (separação do Corpo de Bombeiros, criação de novas

atividades, como o Radio Patrulhamento Aéreo, ampliação do número de Comandos

Regionais da PM, entre outras).

Os perfis hoje utilizados pelo CESIEP têm como característica serem

voltados para características muito mais subjetivas do que objetivas, que, embora

possam ser medidas por testes psicológicos e psicotécnicos, tem prazo de validade

reduzido – estima-se que o prazo de validade de um exame psicotécnico possa

refletir os acontecimentos da vida de determinado individuo por um período de

aproximadamente 3 meses antes/ depois do teste, ou seja: seria necessária uma

reavaliação constante dos selecionados para aferir se continuam apresentando perfil

para o exercício profissional do oficialato.

Mesmo o perfil profissiográfico elaborado com todos os requisitos aqui

elencados, precisaria ser constantemente reavaliado quanto ao seu conteúdo e

aplicação, tendo em vista a rapidez com que hoje acontecem as mudanças internas

e externas a Corporação.

Também há que se levar em conta o questionamento da validade dos

testes de seleção, que tem sido uma constante nos concursos para seleção de

82

Recursos Humanos na PMSC. O próprio conselho de psicologia proíbe o uso de

alguns dos testes necessários a aferir as características determinadas nos perfis

profissiográficos atuais, gerando a necessidade de reformulação destes para os

próximos concursos. Então, não bastaria apenas determinar com exatidão quais as

características psicológicas seriam necessárias ao bom exercício do oficialato, mas

também saber se haveriam métodos para aferir essas capacidades autorizados e

comprovadamente científicos, evitando assim questionamentos que além de abalar a

credibilidade do processo seletivo, acabam por dificultar o processo de seleção por

excessivas intervenções legais.

Tais dificuldades fizeram com que o CESIEP hoje se encontre em

processo de reavaliação e elaboração de um novo perfil profissiográfico, com a

colaboração de especialistas da Universidade de Brasília.

Depois de tudo o que foi pesquisado, podemos concluir que para a

elaboração de um perfil profissiográfico que atingisse o objetivo de servir tanto de

instrumento auxiliar a seleção, como instrumento de avaliação e ainda subsidiar a

escolha de conteúdo dos currículos formativos, seria necessária a formação de uma

equipe multidisciplinar, que pudesse, além de pesquisar detalhadamente os cargos e

funções exercidas pelos oficiais PM, entrevistando seus ocupantes, subordinados e

superiores, determinações legais, etc., seria necessário também ter critérios

psicológicos com fatores de previsão e critérios de validade bem definidos para

evitar qualquer tipo de dúvida quanto a sua validade ou eficácia. Seria necessário

que o aluno estivesse sempre sobre constante reavaliação, durante todo o curso,

para ver se as competências elencadas estavam sendo desenvolvidas de acordo e

aplicadas, já durante a formação. E que o próprio perfil desenvolvido fosse

constantemente reavaliado, para acompanhar o ritmo acelerado de mudanças que

caracterizam a sociedade atual em vários aspectos, inclusive naqueles relativos às

demandas por Segurança Publica.

Segundo Silveira (2005) o risco de obsolescência das competências e

habilidades individuais, tanto no âmbito profissional quanto no âmbito pessoal, torna

necessário àqueles que pretendem estar inseridos na era do Conhecimento a busca

continua pelo desenvolvimento de novas habilidades, competências e

conhecimentos de forma continua e pró ativa. Assim, entendemos que este

trabalho, hoje finalizado, não representa, de forma alguma, o esgotamento do tema.

83

E por isso, deixamos sugestões para possíveis próximos temas de trabalho na

mesma área.

Entre estes temas, podemos elencar a necessidade de refazer o

levantamento detalhado de funções e cargos exercidos pelos oficiais PM, para uma

nova descrição de cargos e funções. A partir daí, poder-se-ia levantar novamente

quais habilidades técnicas e pessoais seriam necessárias ao bom desempenho

destas atividades, gerando uma análise profissiográfica.

Aliado as características elencadas nos regulamentos, diretrizes

estaduais e nacionais, etc., seria possível a criação de um novo perfil

profissiográfico, que reavaliado periodicamente, serviria de subsidio as funções já

elencadas anteriormente. Esse mesmo documento poderia servir de suporte ainda a

estruturação das grades curriculares do Curso de Formação de Oficiais, na medida

em que determinaria com exatidão quais os aspectos técnicos e eixos subjetivos a

serem trabalhados durante a formação. Também poderia servir de suporte a seleção

de cadetes, e, consequentemente, de padrão avaliativo periódico e constante

desses que ingressassem na Corporação, para que viessem a se tornarem

profissionais que correspondessem, da melhor forma possível, aos desígnios da

Corporação.

Sugerimos ainda que o perfil profissiográfico desenvolvido não fique

restrito ao circulo estratégico da Corporação, mas possa ser disponibilizado a todos

os oficiais e cadetes, para que tenham clareza do que consiste a missão e as

obrigações de cada cargo e função que possa porventura vir a exercer na

Corporação. Desta forma, o cadete e mesmo a Policia Militar poderiam direcionar a

formação para atender as necessidades das funções e cargos pretendidos.

Assim, se um cadete pretendesse trabalhar no Grupo de Radio

patrulhamento Aéreo, por exemplo, teria claramente definidos quais as atividades lá

desenvolvidas, quais os conhecimentos, habilidades e atitudes requeridas, quais os

postos e quantas vagas lá existentes, podendo assim dar ênfase já durante o curso

aqueles conhecimentos específicos ligados à área que escolheu. Por outro lado, a

Polícia Militar, tendo necessidade de um maior número de oficiais em atividades

operacionais, poderia voltar à formação de determinado grupo de cadetes com

ênfase naquelas disciplinas necessárias a atuação nas áreas relacionadas.

84

É preciso ter em mente que não se trata da diferenciação da formação no

Curso de Formação de Oficiais: todos os cadetes devem ser formados para atuação

em qualquer área da Corporação, o que não impede que sejam oferecidas matérias

optativas, voltadas diretamente para os interesses dos cadetes e da Corporação.

Outra questão a ser analisada é o fato de que hoje as funções e cargos

da Corporação não têm sido preenchidas de acordo com a LOB ou mesmo a

distribuição de cargos e funções para Batalhões e Diretorias. Isso se deve

principalmente por planos de inclusão falhos, em que a Policia Militar passou longos

períodos sem turmas de formação de praças e oficiais, e em outros períodos formou

turmas gigantescas, que acabaram trancando os quadros de promoção.

Como resposta paliativa a oficiais que já haviam permanecido no posto

por um tempo muito maior do que o interstício necessário, e sem perspectivas de vir

a ser promovidos, o governo Estadual, por meio de decreto, inseriu mais uma forma

de promoção, que seja, o dobro do tempo do interstício. Esse tipo de promoção,

aliada ao tempo, e não ao numero de vagas, causou distorções por que aqueles que

foram promovidos não passaram a realizar funções relativas ao posto hierárquico,

mas continuaram a exercer suas funções anteriores. Assim, tornou-se comum a

presença de capitães em funções operacionais, típicas de tenentes, majores e

tenentes coronéis em funções gerenciais, típicas de capitães e assim por diante.

Hoje, a Policia Militar de Santa Catarina tem um número maior de Coronéis do que

de Segundo – Tenentes! Isso vem a refletir na forma como a Corporação funciona

como um todo, e a formação também deve refletir essas distorções, preparando o

hoje cadete para assumir também funções gerenciais, embora a Corporação

disponha para isso do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais. Há que se pensar que,

tendo por base a experiência de anos anteriores, a existência e continuidade de

cursos de Formação e Aperfeiçoamento dependem também de fatores externos,

fatores estes que não podem influenciar na continuidade da prestação de qualidade

do Serviço de Segurança Pública.

Assim, é necessário que o futuro oficial, mesmo de forma superficial, tenha

as primeiras noções gerenciais e de gestão estratégica já no Curso de Formação de

Oficiais, e depois venha a se aperfeiçoar nelas, durante a carreira, no Curso de

Aperfeiçoamento.

85

É de suma importância também que haja uma continuidade nos Cursos de

Formação e Aperfeiçoamento de oficiais. Um dos caminhos para isso talvez seja a

transformação do Centro de Ensino da Polícia Militar numa Universidade

Corporativa, como sugerido por Silveira (2005) no livro Gestão do Conhecimento

para Segurança Publica e Defesa do Cidadão.

86

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